Nascimento: 24 de julho de 1938, em Piracicaba, SP, Brasil.
Posição: Atacante
Clubes: XV de Piracicaba-BRA (1954-1956), Palmeiras-BRA (1956-1958), Milan-ITA (1958-1965), Napoli-ITA (1965-1972), Juventus-ITA (1972-1976), Toronto Italia-CAN (1976), Chiasso-SUI (1976-1979) e Mendrisio-SUI (1979-1980).
Principais títulos por clubes: 1 Liga dos Campeões da UEFA (1962-1963) e 2 Campeonatos Italianos (1958-1959 e 1961-1962) pelo Milan.
2 Campeonatos Italianos (1972-1973 e 1974-1975) pela Juventus.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (1958) pelo Brasil.
Principais títulos individuais e Artilharias:
Artilheiro da Liga dos Campeões da UEFA: 1962-1963 (14 gols)
Artilheiro do Campeonato Italiano: 1961-1962 (22 gols)
4º Maior Artilheiro da História do Campeonato Italiano: 216 gols em 459 jogos
4º Maior Artilheiro em uma só temporada na história da Copa dos Campeões (atual Liga dos Campeões da UEFA): 14 gols em 1962-1963
Um dos poucos jogadores a marcar cinco gols em um só jogo de Copa dos Campeões: nos 8 a 0 sobre o Union Luxembourg, em 1962-1963
Golden Foot: 2019
Eleito para o Hall da Fama do Milan
“Muito mais que o Mazzola Brasileiro”
Por Guilherme Diniz
Nos anos 1940, o futebol italiano foi arrebatado por um jogador excepcional que brilhou com a camisa do Torino, pentacampeão nacional e um dos maiores esquadrões do século XX: Valentino Mazzola. Pouco mais de uma década depois, um jogador brasileiro começou a marcar gols em profusão no interior paulista até ser contratado pelo Palmeiras. Por lá, seguiu com médias altas, bem como seu futebol. Certo dia, um dirigente do Verdão viu esse tal jogador e ficou estupefato com a semelhança dele com Valentino Mazzola. Instantaneamente, passou a chamar o jovem de Mazzola. Parecia muito peso para um garoto ostentar a alcunha de uma lenda. Mas ele tinha bola para isso. José João Altafini, mais conhecido como Altafini, foi um dos mais prolíficos atacantes dos anos 1950 e 1960 e brilhou majoritariamente no futebol italiano, onde foi titânico com a camisa do Milan e fez uma devastação de gols jamais vista na época da Copa dos Campeões da Europa – atual UCL – quando marcou 14 gols na campanha do primeiro título continental dos rossoneri. Campeão do mundo com a seleção brasileira em 1958, Altafini vestiu também a camisa da Itália, o que privou o craque de ser bicampeão do mundo em 1962. É hora de relembrar.
Sumário
Um novo Mazzola
Filho do casal de italianos Gioacchino Altafini e Maria Marchesoni, Mazzola nasceu no interior de São Paulo, em julho de 1938, justamente ano do bicampeonato da Itália na Copa do Mundo da FIFA. O garoto cresceu ouvindo as histórias daquela seleção e, claro, do Grande Torino, bem como do trágico acidente de Superga de 1949. No começo da década de 1950, passou a jogar nas categorias de base do Atlético Piracicabano até conseguir uma vaga no XV de Piracicaba. Centroavante goleador e ótimo nos deslocamentos, Altafini chamava atenção pela ótima inteligência tática e permaneceu até os 17 anos no XV. Em 1956, foi contratado pelo Palmeiras, mas só faria sua estreia oficial no Paulistão de 1957. E foi com estilo: cinco gols na vitória por 5 a 2 sobre o Noroeste. Enfim, o Verdão tinha esperança de retomar o caminho das glórias, afinal, a equipe não vencia nada desde a Copa Rio de 1951.
Foi no Palmeiras que Altafini virou Mazzola aqui no Brasil por conta da impressionante semelhança física com Valentino Mazzola, algo percebido por um dirigente do time alviverde, que batizou o jovem de Mazzola a partir dali. Com isso, raramente Altafini seria chamado pelo nome original no Brasil, apenas pelo apelido. Uma semana depois de sua estreia devastadora pelo Palmeiras, o atacante foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira e já passou a figurar no radar para o Mundial de 1958, principalmente por ter marcado um gol nos 3 a 0 sobre Portugal, em amistoso disputado no Pacaembu. Tempo depois, ele ajudou o Brasil a vencer a Copa Roca de 1957 diante da Argentina, ao marcar um dos gols nos 2 a 0 sobre os hermanos (o outro foi de Pelé), no Pacaembu.
Campeão do mundo
Embora não tenha conquistado títulos pelo Palmeiras, Altafini conseguiu marcar seu nome no clube com jogos acima da média, muitos gols decisivos e grandes atuações. Em 1958, por exemplo, anotou dois no lendário Santos 7×6 Palmeiras, um dos jogos mais malucos do futebol brasileiro, além de acumular médias notáveis de gols – 0,74 gol por jogo, uma das maiores do clube. Ele anotou 90 gols em 126 jogos pelo alviverde e começou a despertar o interesse de vários clubes, principalmente após fazer parte do elenco do Brasil na Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
A Copa de Mazzola, então com 19 anos, começou da melhor maneira possível: ele foi titular e marcou dois gols no triunfo sobre a Áustria por 3 a 0. Porém, o atacante se lesionou no jogo seguinte e só retornou nas quartas de final, contra País de Gales, ocasião na qual ele foi decisivo ao dar o passe para Pelé anotar o gol da vitória. Nas semis, o craque acabou substituído por Vavá, que seguiu no time até a final, ajudando o Brasil a derrotar a Suécia por 5 a 2 e ficar com a primeira Copa do Mundo de sua história. Aquele foi, também, o primeiro título da carreira de Altafini, que começava da melhor maneira possível sua trajetória no esporte. Em entrevista ao UOL Esporte, em 2008, Mazzola comentou sobre aquela conquista.
“Todos eram amigos no grupo. Era um ambiente alegre e, por mais difícil que seja de acreditar, ninguém tinha problema com ninguém lá dentro. Como tinha apenas 19 anos, ficava perto dos mais novos, como o Pelé, que tinha 17. Mesmo assim, todos eram unidos. O Djalma Santos era um grande amigo também, e sempre ouvia muito o Nilton Santos, muito mais experiente”.
Sobre perder a vaga na equipe titular, ele não se abateu. “Sou uma pessoa com pés no chão. Depois de fazer os dois gols, estava satisfeito com o que estava rendendo. Na verdade, acabei torcendo o tornozelo e não estava 100% para jogar. Não era tão fácil se recuperar como hoje. Por isso, não joguei tão bem com a Inglaterra e depois do empate o Feola precisou revisar o time. Por isso ele colocou o Vavá”.
“Voltei a jogar contra o País de Gales e acho que foi minha melhor atuação. Fiz um gol de bicicleta muito bonito, que foi anulado pelo juiz de maneira errada. Apesar disso, fui o primeiro a considerar que o Vavá estava com condições melhores e era mais experiente. Ele entrou muito bem e isso foi fundamental para a conquista da Copa do Mundo. Quem poderia garantir que se eu continuasse o Brasil seria campeão?”
Mazzola “vira” Altafini
Com a visibilidade adquirida na Copa, Mazzola chamou a atenção de alguns clube do exterior, principalmente da Itália. O primeiro deles foi a Roma, que quase levou o atacante para a Cidade Eterna, mas quem contratou o brasileiro foi o Milan, por 25 milhões de cruzeiros, um valor recorde na época. Para se ter uma ideia, com esse montante, o Palmeiras conseguiu contratar jogadores como Djalma Santos, Julinho Botelho, Valdir, Chinesinho, Romeiro e Zequinha, que formaram a base da Primeira Academia do clube que brilhou no cenário nacional em toda a década de 1960 e foi um dos poucos times a duelar contra o Santos de Pelé e companhia.
Em solo italiano, Mazzola deixou de ser chamado pelo apelido e virou Altafini. E, logo em sua primeira temporada, o brasileiro mostrou que tinha identidade própria e marcou assombrosos 28 gols em 32 jogos, ajudando o Milan a vencer o Campeonato Italiano de 1958-1959, a primeira taça de clubes do jogador na carreira. De quebra, foi o jogador que mais vezes marcou pelo Milan em um campeonato com 18 equipes. Altafini era o centroavante do esquema tático rossonero e formava um trio de ataque ao lado de Carlo Galli e Giancarlo Danova. Aquele Milan ainda tinha lendas como o zagueiro Cesare Maldini – pai de Paolo Maldini – o goleiro Lorenzo Buffon – primo em segundo grau do avô de Gigi Buffon – e os meio-campistas Nils Liedholm e Juan Schiaffino. Além dos gols pela Série A, Altafini marcou também quatro gols na Copa da Itália, contabilizando 32 gols em 36 jogos naquela temporada.
Na época seguinte, o brasileiro destroçou a rival Internazionale com quatro gols marcados na vitória por 5 a 3 do Milan no Derby della Madonnina, e caiu de vez nas graças da torcida. Rápido, com chutes poderosos e sempre bem colocado, Altafini já era um dos mais prestigiados atacantes do futebol europeu na época. Em 1960, voltou a brilhar em um jogo grande ao marcar dois gols em uma vitória do Milan sobre a Juventus do Trio Mágico por 4 a 3 em plena Turim. E, na temporada seguinte (1961-1962), marcou quatro gols nos 5 a 1 do Milan sobre a Juventus, no San Siro, um dos resultados que ajudaram o Milan a vencer outro Scudetto, com cinco pontos de vantagem sobre a Internazionale. Com 22 gols, ele foi artilheiro do Campeonato Italiano, ao lado de Aurelio Milani.
Em 1961, Altafini passou a ser convocado para a seleção da Itália por ter parentes italianos e porque na época era difícil atletas do exterior jogarem pela seleção brasileira. Ele passou a jogar pela Azzurra e disputou a Copa do Mundo de 1962 pela equipe europeia. Mesmo com ele, a Itália não foi longe e Altafini teve que ver pela TV o Brasil ser bicampeão mundial.
“Naquele tempo, o Brasil não chamava quem jogava no exterior. Ninguém. Eu estava no exterior e não seria chamado. Eu, com 23, 24 anos, ficaria muito chateado se perdesse um Mundial. Não fui eu que deixei o Brasil. Foi o Brasil que me deixou”, disse Altafini, anos depois, em entrevista ao Lance!.
Altafini acabou criticado pela imprensa italiana após o Mundial por não ter sido tão eficiente e ter cedido a posse de bola muito facilmente aos rivais. A Itália empatou sem gols contra a Alemanha, na estreia, perdeu por 2 a 0 para o Chile na Batalha de Santiago e só venceu a Suíça, no último jogo, por 3 a 0, resultado que eliminou a Azzurra na primeira fase. Mas Altafini não se importou com aquela fase vestindo o manto azul – foram seis jogos e cinco gols. Ele responderia, em campo, de maneira categórica e inesquecível.
O herói da primeira glória europeia do Milan
Na temporada 1962-1963, Altafini viveu provavelmente sua melhor fase na carreira. Com o faro de gol implacável, técnica no auge e causando sérios problemas às zagas rivais com sua constante movimentação, o brasileiro ajudou o Milan a vencer sua primeira Copa dos Campeões da Europa, troféu que o clube perseguia desde os anos 1950. Mas Altafini não foi apenas uma figura como outra qualquer. Ele foi “O” grande jogador do time naquela competição ao marcar impressionantes 14 gols em apenas nove jogos, um recorde que só foi superado no século XXI por Cristiano Ronaldo, que anotou 17 gols em 2013-2014, 16 gols em 2015-2016 e 15 gols em 2017-2018. Além de CR7, quem também superou a marca de 14 gols foi Robert Lewandowski, com 15 gols em 2019-2020, e Karim Benzema, com 15 gols em 2021-2022. Lionel Messi “só” conseguiu igualar Altafini, com 14 gols em 2011-2012.
A trajetória do Milan naquela Copa dos Campeões começou diante do frágil Union Luxembourg-LUX, derrotado por 8 a 0 em Milão e 6 a 0 em Luxemburgo. Altafini marcou cinco gols na ida e três gols na volta. Na etapa seguinte, o time italiano eliminou o Ipswich Town-ING com um triunfo por 3 a 0 na ida, em Milão, e derrota por 2 a 1 na volta. Nas quartas, o Milan encarou o Galatasaray-TUR e Altafini deixou sua marca na vitória por 3 a 1 do duelo de ida, em Istambul, e marcou mais três gols nos 5 a 0 da volta. Nas semis, os italianos tiveram pela frente o surpreendente Dundee United-ESC e venceram por 5 a 1 o duelo de ida, perdendo por apenas 1 a 0 na volta.
Na grande final, em Wembley, o Milan enfrentou o super Benfica, bicampeão europeu e querendo o tricampeonato consecutivo. Só que Altafini deixou o melhor exatamente para aquela ocasião e, se havia passado em branco nas semis, o brasileiro tratou de marcar os dois gols da vitória de virada por 2 a 1 que deu ao Milan sua primeira taça europeia. O primeiro gol foi ao seu estilo, recebendo na entrada da área e fuzilando o goleiro português. O segundo foi em um contra-ataque mortal, no qual ele saiu em disparada sozinho e chutou na saída do goleiro, fechando o placar e a marca de 14 gols naquela Copa dos Campeões. Ele marcou 31 gols em 46 jogos na temporada e foi o 11º melhor jogador da Europa na premiação do Ballon d’Or.
Mudança de ares no Napoli
Ainda em 1963, Altafini disputou o Mundial Interclubes com o Milan e teve pela frente o Santos. Na ida, em Milão, o time italiano venceu os brasileiros por 4 a 2 e viajou ao Brasil com a vantagem do empate. Altafini abriu o placar no Maracanã tomado por mais de 132 mil pessoas (!), e Bruno Mora fez 2 a 0. Só que o Santos foi pra cima no segundo tempo e virou para 4 a 2, em show de Pepe, forçando o terceiro jogo, também no Maracanã. Dois dias depois, Altafini não conseguiu superar a zaga santista e Dalmo marcou o único gol do triunfo por 1 a 0 do Peixe, que levantou naquele ano o bicampeonato mundial.
Altafini permaneceu no Milan até 1965, quando acabou contratado pelo Napoli, que aproveitou as desavenças do brasileiro com Amarildo e Ferrario no elenco rossonero. Vestindo o manto azul, Altafini jogou ao lado da lenda argentina Omar Sívori e fez jogos marcantes, ajudando o time napolitano a ficar com o vice-campeonato italiano de 1967-1968, quando ele marcou 13 gols em 29 jogos. Altafini jogou no Napoli por sete anos, mas não levantou títulos. Em 1967, ele se popularizou entre os torcedores após marcar um gol de bicicleta no empate de 2 a 2 diante do Torino e ensinar aos italianos o que era um “golaço”. A palavra entrou direto para o vocabulário dos napolitanos.
Vestindo bianconeri e aposentadoria
Em 1972, Altafini, já com 34 anos, se transferiu para a Juventus, juntamente com o goleiro Dino Zoff. Por conta da idade, o brasileiro não foi titular absoluto, mas entrava em vários jogos, preferencialmente no segundo tempo, e ajudou bastante a equipe de Turim com sua experiência e leitura de jogo. E foi assim que ele fez parte do time que venceu os títulos italianos de 1972-1973 e 1974-1975. Na primeira campanha, o atacante marcou 9 gols em 23 jogos, um deles crucial para a trajetória do título, na última rodada, quando empatou o jogo contra a Roma e, na sequência, viu Cuccureddu virar. O triunfo deu o caneco à Velha Senhora. Naquela mesma temporada, ele ainda marcou gols importantes na trajetória da Juventus na Copa dos Campeões, incluindo dois nos 3 a 1 sobre o Derby County-ING, nas semifinais.
A Juve foi para a final, mas teve a ingrata missão de enfrentar o super Ajax de Cruyff, que venceu por 1 a 0 e ficou com o tricampeonato consecutivo. Altafini jogou, mas não conseguiu balançar as redes do goleiro Stuy. Tempo depois, na campanha do título italiano de 1975, Altafini marcou 8 gols em 20 jogos, um deles em um triunfo fundamental sobre o Napoli, seu ex-clube, por 2 a 1, minutos depois de entrar em campo, aos 88’.
Aos 38 anos, Altafini deixou a Juventus e o Calcio em 1976 com números marcantes, entre eles o de igualar a marca de Giuseppe Meazza com 216 gols na Série A, feito conseguido em 459 jogos disputados. Ele foi durante muito tempo o jogador estrangeiro com mais jogos na elite do Calcio até ser superado por Javier Zanetti. Altafini ainda vestiu brevemente as camisas do Toronto Italia-CAN, Chiasso-SUI e Mendrisio-SUI, até se aposentar de vez em 1980, aos 42 anos e depois de 25 anos como jogador profissional.
Depois de se aposentar, Altafini virou comentarista esportivo na Itália, país onde passou a viver, e escreveu dois livros: “Incredibile amici! Il mio manuale del calcio”, com Pierluigi Pardo, e “Futebol e alegria. Personaggi, fatti, aneddoti del mio calcio”, este com Maurizio Barberis. Ele também emprestou sua voz, em língua italiana, ao jogo Pro Evolution Soccer 2009. Com números marcantes, títulos memoráveis e faro de gol apurado, Altafini foi sem dúvida um dos maiores atacantes dos anos 1960 e 1970 e provou sua própria identidade. Seja no Brasil, seja na Itália. Um craque imortal.
Números de destaque:
Disputou 126 jogos e marcou 90 gols pelo Palmeiras.
Disputou 246 jogos e marcou 161 gols pelo Milan.
Disputou 234 jogos e marcou 97 gols pelo Napoli.
Disputou 119 jogos e marcou 37 gols pela Juventus.
Disputou 8 jogos e marcou 4 gols pela seleção do Brasil.
Disputou 6 jogos e marcou 5 gols pela seleção da Itália.
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.