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Craque Imortal – Pepe

Nascimento: 25 de fevereiro de 1935, em Santos, SP, Brasil.

Posições: Ponta-Esquerda e Atacante

Clube: Santos-BRA (1954-1969). 

Principais títulos por clube: 2 Mundiais Interclubes (1962 e 1963), 2 Copas Libertadores da América (1962 e 1963), 1 Recopa dos Campeões Mundiais (1968), 1 Supercopa Sul-Americana dos Campeões Mundiais (1968), 5 Taças Brasil (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965), 1 Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968), 4 Torneios Rio-SP (1959, 1963, 1964 e 1966) e 11 Campeonatos Paulistas (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968 e 1969) pelo Santos.

Principais títulos por seleção: 2 Copas do Mundo da FIFA (1958 e 1962) pelo Brasil.

Principais títulos individuais e Artilharias:

Artilheiro do Torneio Rio-SP: 1961 (9 gols)

Artilheiro do Mundial Interclubes: 1963 (2 gols)

Prêmio Belfort Duarte: 1966

Eleito para o Time dos Sonhos do Santos do Imortais: 2021

2º Maior Artilheiro da história do Santos: 403 gols em 741 jogos

Maior vencedor da história do Campeonato Paulista: 11 títulos

Jogador que mais venceu títulos pelo Santos: 27 troféus, um a mais do que Pelé

 

“O Canhão da Vila”

Por Guilherme Diniz

 

Ele é o maior artilheiro “humano” da história do Santos, já que “Pelé não conta, pois veio de Saturno…”. Foram 403 gols em 741 partidas pelo time paulista. Aliás, a camisa do Santos foi a única de clube que ele vestiu em toda carreira. A outra camisa diferente foi a da seleção, que honrou em 40 jogos e marcou 27 gols. Por 15 anos, ele foi um dos maiores pontas-esquerdas do futebol não só brasileiro, mas mundial. Brilhou exatamente em todo o período mais glorioso da história do Santos. Tinha chutes poderosos que alcançavam facilmente os 122 km por hora (daí o apelido de “Canhão da Vila”), uma inteligência tática notável e muita disciplina – jamais foi expulso na carreira. E ganhou ainda as Copas de 1958 e 1962 com o Brasil e é o recordista de títulos do Campeonato Paulista com 13 canecos, sendo 11 como jogador do Santos e dois como técnico (um pelo Santos, em 1973, e outro pela Inter de Limeira, em 1986).

José Macia, mais conhecido como Pepe, foi um dos responsáveis, ao lado de Pelé e Coutinho, em transformar o Santos no clube de maior pontaria do planeta e dificilmente passar um jogo sem marcar pelo menos dois gols no rival. Craque fora de série, Pepe esbanjou talento pelo Peixe e tornou o alvinegro conhecido nos quatro cantos do mundo, além de ser decisivo e jamais deixar o clube em apuros. É hora de relembrar essa lenda do nosso futebol.

 

Peão? Quero futebol!

Pepe com a faixa de campeão paulista de 1955.

 

Filho dos imigrantes espanhóis vindos da Galícia José Macía Vega e Clotilde Arias Yáñez, Pepe nasceu em Santos, em uma segunda-feira de Carnaval, em uma casa na rua João Pessoa, curiosamente a mesma onde um tal Santos Futebol Clube havia sido fundado 23 anos antes. No mesmo ano do nascimento de Pepe, 1935, o Peixe conquistou seu primeiro Campeonato Paulista, quando derrotou o Corinthians no jogo decisivo por 2 a 0, gols de Raul e a lenda Araken Patuska. Tais particularidades já ajudaram a criar uma ligação uterina de Pepe com o Peixe, paixão que se revelou precocemente na infância do garoto, que cresceu ouvindo as histórias do time praiano e se interessava mais pela bola do que por outros brinquedos.

 

“Eu era fissurado em futebol já com quatro anos. Nunca fui muito de rodar peão, nem de empinar papagaio, como a gente chamava a pipa na minha época. No Natal, a garotada ganhava peteca e carrinho, mas meu pai trazia umas três bolas de borracha para mim. Todas coloridas. Eu ficava todo feliz e sempre esperava ganhar de presente mais bolas para chutar”.  – Pepe, em entrevista ao site oficial da CBF, 16 de julho de 2020.

 

Foi na infância que José Macia ganhou o apelido de Pepe, forma carinhosa que os espanhóis usam para se referir a alguém com o nome de José, e, aos 7 anos, já jogava nos times de várzea da cidade e de São Vicente, para onde se mudou na época. Após gastar a bola em equipes menores, Pepe chamou a atenção de um goleiro que defendia o São Vicente AC e o infantil do Santos, que o convidou para fazer um teste no Peixe em 1951. Naquele mesmo ano, o jovem pisou o gramado da Vila Belmiro pela primeira vez e, após alguns testes, foi aprovado instantaneamente pelo técnico Salu. Com 16 anos, Pepe já demonstrava uma inteligência tática acima da média e, acima de tudo, um chute fortíssimo de perna esquerda que devastava qualquer defesa. 

Pelé, Pepe e Coutinho: estrelas de uma era de ouro.

 

Nos juvenis, Pepe ganhou vários títulos até conseguir uma vaga na equipe principal a partir de 1954, quando o alvinegro passou a ser comandado pelo técnico Lula. E foi o visionário treinador quem percebeu o talento que Pepe tinha e o quanto ele seria essencial para o alvinegro. Após debutar no revés para o Fluminense por 2 a 1, em 1954, Pepe seguiu aparecendo no time principal até alcançar sua primeira glória já em 1955: ele foi o autor do gol do título do Campeonato Paulista do Santos, o primeiro desde o caneco lá de 1935, ano do nascimento de Pepe. O atacante marcou 10 gols na competição e o gol do título veio na vitória por 2 a 1 sobre o Taubaté, na Vila Belmiro. Naquele ano, o Santos tinha a linha de frente formada por Tite (também conhecido como Titoca, tio-avô do ex-lateral-esquerdo do Santos nos anos 2000 e 2010, Léo), Juan José Negri, Del Vecchio, Álvaro e Pepe. No ano seguinte, Pepe começou a jogar ao lado de um garoto habilidoso e fenomenal: Pelé. E, a partir dali, sua carreira jamais seria a mesma. 

 

Esquentando os motores e a primeira Copa

Com Pelé ao seu lado, além de Pagão, Dorval e Jair Rosa Pinto, Pepe fez do Santos um dos times mais fortes do país naquele final de anos 1950. Em 1956, o craque faturou mais um Campeonato Paulista, no qual anotou 10 gols. Em 1958, venceu o tricampeonato e foi o vice-artilheiro do torneio com 31 gols, atrás apenas do extraterrestre Pelé, que marcou naquele ano absurdos 58 gols. O Santos anotou, em 38 jogos, 143 gols naquela campanha pirotécnica. Naquele ano, o Peixe protagonizou ainda o épico Santos 7×6 Palmeiras, válido pelo Torneio Rio-SP, duelo debaixo de chuva no Pacaembu que entrou para a história como uma das partidas mais eletrizantes do futebol brasileiro. Pepe, claro, fez a festa e marcou três gols naquele jogo, dois deles no finalzinho, para decretar o triunfo memorável. Em entrevista ao Estadão, Pepe comentou sobre aquela partida.

 

“O técnico do Palmeiras era o Oswaldo Brandão, que resolveu colocar o Valdemar Carabina, um zagueiro alto e forte, na direita, para me marcar. Fiz um salseiro pela esquerda, foi o maior clássico entre Santos e Palmeiras. Terminou 7 a 6 para o Santos e eu fiz três gols”.

 

No mesmo ano de 1958, Pepe já era figura constante na seleção brasileira e esperava ser o titular do Brasil na Copa do Mundo da Suécia. No entanto, o craque acabou sofrendo uma lesão às vésperas do Mundial e não conseguiu se recuperar a tempo. Porém, a comissão técnica confiou no craque e levou o atacante para o torneio. Mesmo sem jogar, Pepe acompanhou a trajetória do time canarinho e foi um dos campeões do mundo naquele ano. Quem substituiu o craque foi outra lenda: Zagallo, que fez uma Copa sensacional e ajudou demais a seleção na caminhada do título inédito. 

 

“Em 1958, antes de ir à Suécia (anfitriã na Copa), nós jogamos dois jogos na Itália e machuquei o tornozelo direito. Uma semana depois ia começar a Copa e eu só fazendo tratamento com gelo e não ficava bom. O Zagallo entrou e a Seleção ganhou a Copa”.Pepe, em entrevista ao portal Terra, 06 de janeiro de 2024.

 

Um ano depois, em 1959, Pepe ajudou o Santos a vencer o Torneio Rio-SP e, em 1960, faturou outro Paulistão. Já consagrado como um dos principais atacantes do país, o craque foi artilheiro do Rio-SP de 1961 com 9 gols e só não acumulava mais artilharias por causa, claro, de Pelé. Além dos gols e passes, Pepe ainda era especialista em cobranças de falta, nas quais mandava petardos quase indefensáveis e que chegavam a derrubar jogadores na barreira. 

 

Era de ouro

Pelé, Zito e Pepe. Foto: Acervo / Santos FC.

 

No final da década de 1950 e grande parte da década de 1960, Pepe e seu Santos colecionaram títulos marcantes e exibições de gala em todo o planeta. Em uma das excursões do Peixe, inclusive, Pepe aproveitou para visitar seus familiares na Espanha, em 1959, quando o Santos disputou o Torneio Tereza Herrera, em Corunha. Ele foi a Mandín, na região da Galícia, e conheceu sua avó materna, que estava prestes a completar 90 anos. “Meus parentes estavam me esperando e todo o povo da região me recebeu como um herói. Desde a chegada até a hora de ir, me saudavam das portas”, comentou o craque anos depois. 

Foto: Acervo / CBF

 

Depois de vencer a Taça Brasil de 1961, o Peixe se classificou para a Copa Libertadores da América, torneio que havia começado em 1960 e tinha o temido Peñarol-URU como bicampeão na época. Na competição continental, o Santos conseguiu acabar com o reinado dos uruguaios e foi campeão após três jogos contra os aurinegros nas finais. No primeiro jogo, em Montevidéu, o Santos venceu por 2 a 1. No segundo, na Vila, os uruguaios venceram por 3 a 2. A partida de desempate foi disputada na Argentina e o Peixe venceu por 3 a 0. Pepe não marcou nas finais, mas foi essencial nos passes e nas aberturas de espaços na zaga rival. No mesmo ano, o craque foi para mais uma Copa do Mundo, no Chile, mas de novo não conseguiu jogar. “Em 1962 foi o joelho, tive uma torção e o treinador (Aymoré Moreira) preferiu escalar um jogador 100% e Zagallo entrou. Fui bicampeão mundial sem jogar”, comentou Pepe. 

O time do Santos campeão da Libertadores de 1962. Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro Ramos. Agachados: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

Mas, se Pepe não conseguiu brilhar no bimundial do Brasil, ele teve sua participação no bimundial do Santos. Em 1962, o Santos venceu o Benfica-POR na final do Mundial Interclubes e Pepe anotou o gol da vitória por 5 a 2 em pleno Estádio da Luz, em jogo que até hoje é tido como a maior apresentação do Santos em todos os tempos. Pelé marcou três gols e Coutinho fez outro. Ainda em 1962, Pepe marcou dois gols na vitória por 4 a 3 sobre o Botafogo de Garrincha no primeiro jogo da final da Taça Brasil e anotou outro nos 5 a 0 do terceiro duelo, que selou o título do alvinegro praiano.

Pelé e Pepe.

 

Em fase esplendorosa, Pepe seguiu decisivo em 1963. Marcou mais dois gols na vitória por 6 a 0 do Santos sobre o Bahia, no primeiro jogo da final da Taça Brasil, e marcou dois gols de falta na vitória sobre o Milan-ITA, por 4 a 2, no segundo jogo da final do Mundial Interclubes e que provocou a partida desempate, vencida pelo Santos por 1 a 0 (gol de Dalmo). Com isso, Pepe marcou nas duas finais dos Mundiais vencidos pelo Santos e entrou para o grupo dos bicampeões mundiais pela seleção e por clube.

 

Ainda em 1963, Pepe marcou um gol de falta em cima do lendário goleiro Gordon Banks em pleno estádio de Wembley, em amistoso da seleção diante da Inglaterra. O jogo terminou empatado em 1 a 1 e, para Pepe, aquele foi a partida mais memorável dele com a amarelinha. Ele marcou 27 gols em 40 jogos.

 

“A Inglaterra era muito forte jogando em Wembley e eles tinham o Gordon Banks, que foi considerado o melhor goleiro do mundo de todos os tempos. A gente estava perdendo de 1 a 0 e, quase no final do jogo, eu fiz o gol de empate cobrando uma falta. Eu fiquei muito feliz por ter vencido o Gordon Banks. Na época, ele deu uma entrevista dizendo que nem viu a bola passar. Ali eu fiz valer a fama de chutador”, comentou Pepe ao site da CBF.

 

Veja o gol, a partir do minuto 2:55:

 

Um fato em destaque é que Pepe sempre foi fiel ao Santos e, mesmo recebendo propostas milionárias de clubes da Europa na época – entre eles o Barcelona – ele nunca aceitou deixar a Vila. O craque se transformou em um dos raros exemplos de jogador que vestiu apenas uma camisa e dedicou 15 anos de sua trajetória ao alvinegro praiano.

 

Últimos anos e vencedor com a prancheta

A partir de 1965, Pepe começou a se revezar no ataque do Peixe com os jovens que vinham surgindo no Santos, entre eles Abel e Edu, ambos grandes ídolos do clube. Em 1967, o craque venceu o prestigiado troféu Belfort Duarte, que era dado ao atleta que permanecesse 10 anos ou 200 jogos sem ser expulso. E Pepe cumpriu com tais requisitos, provando sua esportividade e lealdade em campo. Ao final de sua carreira, ele acumulou mais de 740 jogos sem jamais ter sido expulso, um feito memorável e raríssimo. Ele seguiu jogando até 1969 no Santos, quando se despediu dos gramados em março daquele ano, na vitória do Santos sobre o América-SP por 2 a 1. Em maio, ele ganhou uma despedida de gala na Vila, com direito a volta olímpica e placa comemorativa. 

 

Apaixonado pelo Santos e pelo futebol, Pepe não quis deixar o esporte e já foi comandar as categorias de base do clube. Em 1972, assumiu o comando técnico do time principal e, provando ser pé-quente e competente também com a prancheta, venceu o Campeonato Paulista pelo Peixe já em 1973. Ele ainda teve passagens por outros clubes nos anos seguintes e, entre seus principais títulos, destaque para o Campeonato Brasileiro de 1986 pelo São Paulo, comandado o esquadrão dos Menudos do Morumbi, e o Campeonato Paulista de 1986 pela Inter de Limeira, um dos maiores feitos de um clube do interior paulista na história da competição e diante do Palmeiras.

Pepe, técnico da Inter, com a faixa de campeão paulista.

 

Após ser campeão brasileiro da Série B pelo Athletico Paranaense em 1995, Pepe dirigiu alguns clubes até se aposentar em 2005. Desde então, ele segue em sua querida cidade de Santos sempre bem humorado, ávido e pronto para contar histórias e vivências de seus tempos de craque. Em 2012, lançou o livro “Bombas de Alegria, meio século de memórias do Canhão da Vila” (Realejo Edições), no qual conta suas histórias no futebol. Sua biografia foi lançada em 2015, escrita por Gisa Macia, sua filha e jornalista. Ídolo do Peixe e lenda do futebol brasileiro, Pepe é um dos mais vitoriosos e prolíficos atacantes de todos os tempos. Um craque imortal.

Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, em foto de 2008. Imortais do Santos e do futebol. Foto: Fernando Pilatos / Gazeta Press.

 

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Historias tem muitas vou falar de duas.a primeira quando o santos em 67 estava em nova iorque e o time de futebol americano ny giants queria contratar o pepe apenas para que ele chutasse a bola o mais longe possivel kkk.outra no catar o pepe treinou outro pep o guardiola em fim de carreira e terminando o contrato guardiola teria dito que iria ser treinador e faria seus times jogarem o futebol que o santos dos anos 60 eo brasil de 70 e 82 jogaram.e ai guilherme voce acha que o guardiola conseguiu kkkkk.

  2. Parabens de novo guilherme voce acaba de fazer justica a um injusticado ao colocar nos imortais o maior ponta esquerda da historia.incrivel como se fala pouco do espanhol sendo que ele tem 4 mundiais camisa 11 que mais fez gols no mundo tem meio gol por jogo no santos e ganhou 27 titulos oficiais no peixe(se contar tudo deve ter ganho uns 80 kkk).enfim ele tinha tudo como velocidade dribles curtos cruzamentos perfeitos senso tatico fazia gols olimpicos e nas faltas e penaltis quase matava os goleiros com chutes absurdos de 120 por hora.e o maior craque e goleador do santos(pele nao vale kkk).

Olímpico de Roma – Bellissimo della Capitale

Esquadrão Imortal – Athletic Bilbao 1982-1984