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Craque Imortal – Abedi Pelé

Abedi Pelé

 

Nascimento: 05 de Novembro de 1964, em Kibi, Gana.

Posições: Meia e atacante

Clubes: Real Tamale United-GAN (1980-1982 e 1985), Al Sadd-CAT (1982-1983), Zürich-SUI (1983-1984), Dragons de I´Quémé-BEN (1984), Chamois Niortais-FRA (1986-1987), Mulhouse-FRA (1987), Olympique de Marselha-FRA (1987-1988 e 1990-1993), Lille-FRA (1988-1990), Lyon-FRA (1993-1994), Torino-ITA (1994-1996), 1860 München-ALE (1996-1998) e Al Ain-EAU (1998-2000).

Principais títulos por clubes: 1 Copa Príncipe do Catar (1983) pelo Al Sadd.

1 Liga dos Campeões da UEFA (1992-1993) e 3 Campeonatos Franceses (1990-1991, 1991-1992 e 1992-1993 – revogado) pelo Olympique de Marselha.

1 Copa do Presidente dos Emirados Árabes Unidos (1998-1999) pelo Al Ain.

Principal título por seleção: 1 Copa das Nações Africanas (1982) por Gana.

 

Principais títulos individuais:

Order of the Volta (maior honraria civil de Gana): 1996

Jogador Africano do Ano: 1991, 1992 e 1993

3º Maior Jogador Africano do Século XX pela IFFHS

Bola de Ouro da Copa Africana de Nações: 1992

Jogador do Ano eleito pela BBC: 1992

Jogador Ganense do Ano: 1993

Melhor Jogador Estrangeiro do futebol italiano: 1995-1996

FIFA 100: 2004

 

 

“O maior dos Black Stars”

Por Guilherme Diniz

Os “Estrelas Negras”, como são conhecidos os jogadores da Seleção de Gana, já conquistaram uma série de títulos ao longo das décadas e transformaram o país em uma potência futebolística da África. Mas foi só a partir dos anos 80 que um jogador em especial ajudou a popularizar como nunca a imagem de Gana com um futebol inteligente, técnico, cheio de artimanhas e que jamais foi igualado ou superado por qualquer outro ganês. Abedi Ayew, mais conhecido como Abedi Pelé, carregou por mais de duas décadas o apelido do maior jogador da história pelas maravilhas que fazia com a bola na adolescência e, também, na fase adulta.

Cerebral e velocíssimo, Abedi marcou época não só em seu país, mas também no futebol europeu, onde conquistou títulos marcantes com a camisa do Olympique de Marselha e foi fundamental para o primeiro – e até hoje único – troféu da Liga dos Campeões conquistado por um time do futebol francês, em 1993, na decisão contra o poderoso Milan-ITA. Seu desempenho no Velho Continente o transformou em celebridade e abriu as portas para os inúmeros africanos que invadiram a Europa a partir da segunda metade dos anos 90. Tricampeão do prêmio de Melhor Jogador Africano do Mundo de maneira consecutiva, Abedi Pelé conseguiu entrar no rol de imortais com um futebol maravilhoso que o colocou na trindade dos maiores craques da África no século XX: Weah-Milla-Abedi Pelé. É hora de relembrar.

 

Precoce como Pelé

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Nascido em uma pequena vila de Kibi, no sul de Gana, Abedi não teve regalias em sua infância sob chão de terra vermelha e com quase nenhum recurso básico de tecnologia, como TV ou luzes nas ruas. Uma das distrações nos momentos em que não estava estudando na escola primária Dome Anglican, em Accra, era a bola e, com ela, Abedi só não fazia chover com um chamativo repertório de dribles, chutes e gols. Não demorou muito para que os mais velhos e que tinham acompanhado o futebol dos anos 60 e 70 de alguma maneira o chamasse de “Pelé” por causa do porte físico, das arrancadas e da força com que partia para cima dos adversários.

O apelido pegou e Abedi incorporou o Pelé ao seu nome de jogador quando chegou ao time de juniores do Real Tamale United, em 1978, clube onde iniciaria sua carreira como profissional já em 1980. Com muita habilidade e a inteligência para armar o jogo e servir os companheiros, Abedi virou rapidamente um dos jogadores mais comentados em seu país e figura constante no time titular do Tamale. Em 1981, o jogador foi convocado pela primeira vez à seleção e, em 1982, figurou entre os escolhidos do técnico Charles Kumi Gyamfi para a disputa da Copa Africana de Nações de 1982, disputada na Líbia.

E, com apenas 18 anos, Abedi Pelé ajudou sua seleção a conquistar pela 4ª vez o título continental após dois empates e uma vitória na fase de grupos, vitória por 3 a 2 sobre a Argélia na semifinal e triunfo nos pênaltis por 7 a 6 após empate em 1 a 1 no tempo normal contra a Líbia. Abedi não foi titular em todos os jogos, mas mostrou seu talento nas vezes em que entrou e chamou a atenção do Al Sadd, do Catar, clube para onde ele se mudou logo após a conquista do título africano. Foi a partir de sua estadia em Doha que Abedi começou a peregrinar por vários clubes e países, com passagens pela Suíça, Benin e volta à Gana em 1985. Mas seria em 1986 que ele descobriria o lugar onde sua história mudaria para sempre: a França.

 

Grandes jogos e preconceito

Abedi Pelé

Abedi começou sua trajetória no futebol francês vestindo a camisa do Chamois Niortais, pequenino clube de Niort, oeste da França. Vestindo a camisa azul e branca, o craque foi um dos destaques da ótima campanha na Ligue 2 que colocou o time na primeira divisão após 24 vitórias, sete empates e três derrotas em 34 jogos. Abedi disputou 34 partidas na temporada e anotou 14 gols, desempenho que o levou ao Mulhouse, em 1987, onde ele ficou pouquíssimo tempo até ganhar uma chance no Olympique de Marselha, primeiro clube grande na carreira do jogador. Mas, o que era para ser o início de uma nova era se transformou em decepção para Abedi Pelé. Por ser africano, o ganês sofreu boicotes e preconceitos de vários atletas do OM, atitudes deploráveis que levaram o jogador a deixar o clube já em 1988, após disputar menos de 20 jogos. O assunto foi comentado por Abedi anos depois:

“Eu comecei a jogar e três semanas depois eu chamei meu agente e disse que gostaria de mudar de clube porque não me aceitavam por lá. Toda vez que eu pegava na bola e efetuava algum passe ou lançamento, alguns cuspiam no gramado e diziam coisas do tipo ´volte de onde você veio, volte para o mato!´”. Abedi Pelé, em entrevista à CNN, 06 de junho de 2013.

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Após o caso repugnante, Abedi Pelé trocou o Olympique pelo Lille e conseguiu exibir seu melhor futebol sem problemas raciais ou panelinhas de grupos. Jogando como um legítimo camisa 10, o ganês esbanjou categoria e ajudou o Lille a ficar na 8ª posição do campeonato nacional de 1988-1989 e a fazer do belga Erwin Vandenbergh o artilheiro do time com 14 gols marcados. Contra seu ex-clube, Abedi Pelé fez uma partida marcante naquela temporada, marcou um golaço de falta e deixou a zaga rival tonta com seu futebol de pura classe.

Na temporada seguinte, Abedi disputou 37 jogos e mostrou um enorme amadurecimento com amplo controle de bola, cadência e visão de jogo. O Olympique de Marselha, multicampeão na época, percebeu tudo aquilo e fez questão de trazer de volta o craque já para a temporada 1990-1991. Após várias ligações do presidente Bernard Tapie, Abedi aceitou voltar mais por causa das palavras de sua mulher, que disse a ele na época para “ir lá e provar que você é o melhor”. E os torcedores do OM iriam ter vários motivos para acreditar nisso nos três anos seguintes.

 

Deslumbrante e campeão

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A ida definitiva ao Olympique em 1990 foi na mesma época em que Abedi se tornava capitão de sua seleção. Maduro e acostumado ao futebol europeu, ele era uma unanimidade em Gana e sempre figurava no time titular da equipe em partidas amistosas, competitivas e nas Eliminatórias para a Copa. Infelizmente, o craque jamais iria disputar o maior torneio do futebol mundial e acabou repetindo craques como George Best e George Weah, que também foram imortais e nunca jogaram uma partida sequer de Copa do Mundo. Pelo OM, que contava com um esquadrão competitivo e repleto de estrelas, Abedi teve a chance de levantar pela primeira vez um grande título por clubes – o Campeonato Francês de 1990-1991, que veio após 22 vitórias, 11 empates e apenas cinco derrotas em 38 jogos. Cérebro do ataque dos azuis, Abedi ajudou Jean-Pierre Papin a se tornar mais uma vez o artilheiro do torneio, com 23 gols, e virou uma referência para as bolas paradas e tabelas que confundiam os adversários.

Foi na temporada 1990-1991 que Abedi disputou pela primeira vez a Liga dos Campeões da UEFA. E, assim como quando disputou sua primeira Copa Africana de Nações, ele foi longe. Na primeira fase, os franceses eliminaram o Dinamo Tirana-ALB, passaram pelo Lech Poznán-POL na segunda fase e despacharam o poderoso Milan-ITA nas quartas de final. Na semifinal, Abedi mostrou seu poder de decisão e marcou gols nos dois duelos contra o Spartak Moscow-URSS, um na vitória por 3 a 1 na partida de ida, em Moscou, e outro (muito bonito, num chutaço indefensável) no triunfo por 2 a 1 na volta, em Marselha.

Na decisão, disputada no estádio San Nicola, em Bari-ITA, o OM não conseguiu furar a forte defesa do Estrela Vermelha-IUG e caiu nos pênaltis após derrota por 5 a 3. O revés continental deixou os franceses – e Abedi – extremamente decepcionados pelo fato de a equipe ter eliminado o Milan pelo caminho e pelo título poder simbolizar o auge de um esquadrão que não tinha adversários jogando em casa.

Abedi Pelé

Na temporada 1991-1992, Abedi Pelé provou estar em uma ótima fase ao se tornar o segundo maior artilheiro do OM na conquista de mais um Campeonato Francês, com 12 gols marcados, e o melhor e principal jogador da Copa Africana de Nações de 1992. No torneio continental, o craque conduziu com maestria sua querida Gana até a final. Na fase de grupos, foi dele o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Zaire que embalou o time a seguir em frente e vencer o Egito, no duelo seguinte, por 1 a 0. Nas quartas de final, Abedi marcou um de seus gols mais famosos, o da vitória por 2 a 1 sobre o Congo, quando ganhou uma disputa de bola no canto esquerdo, saiu em velocidade, gingou pra cima do marcador na entrada da área e fuzilou o goleiro.

Na semifinal, contra a Nigéria, Abedi marcou mais um na vitória por 2 a 1 e fez Gana entrar como favorita no duelo contra Costa do Marfim. Ela seria e com certeza venceria, mas Abedi Pelé não jogou por estar suspenso e viu seu time empatar sem gols no tempo normal e perder nos pênaltis por 11 a 10. Como consolação, o craque foi eleito o melhor jogador do torneio e o melhor da África pelo segundo ano consecutivo. Faltava pouco para o auge. E ele chegaria na temporada 1992-1993.

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O Estrela Negra conquista a Europa

Abedi Pelé passando por Maldini (à esq.): craque foi o melhor em campo na final da Liga dos Campeões de 1993.
Abedi Pelé passando por Maldini (à esq.): craque foi o melhor em campo na final da Liga dos Campeões de 1993.

 

Após cair precocemente na Liga dos Campeões da temporada anterior, o OM fez história na edição de 1992-1993. Nas fases iniciais, a equipe despachou o Glentoran-IRN (8 a 0 no placar agregado, com um gol de Abedi na vitória por 3 a 0 em casa) e o Dinamo Bucaresti-ROM. Na fase de grupos, os franceses ficaram na liderança no Grupo A e se classificaram para a final após três vitórias e três empates em seis jogos. Abedi marcou mais dois gols (um no empate em 1 a 1 com o CSKA Moscow-RUS, na Rússia, e outro na vitória por 6 a 0 sobre os russos, em Marselha) e foi um dos responsáveis pela ótima campanha do clube francês. Na decisão, os azuis tiveram pela frente o Milan, que vinha de uma campanha avassaladora (10 jogos, 10 vitórias, 23 gols marcados e apenas um gol sofrido), mas que não causava medo algum nos franceses, afinal, os italianos já haviam sido derrotados em 1991. E foram novamente naquela decisão de 26 de maio de 1993, no belíssimo estádio Olímpico de Munique-ALE.

Aos 43´do primeiro tempo, Abedi Pelé cobrou com perfeição e de perna esquerda o escanteio que culminou com o gol de Boli, de cabeça, tento que foi comemorado com o time inteiro indo em direção ao ganês. O placar em 1 a 0 permaneceu intacto até o final e o OM se tornou pela primeira vez campeão europeu. De quebra, o clube era o primeiro (e até hoje único) clube francês a levantar o mais importante troféu da Europa.

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Uma pena que após o título um escândalo de manipulação de resultados no Campeonato Francês envolvendo o OM e seu presidente, Bernard Tapie, tenha manchado uma conquista tão marcante dos azuis de Marselha. As consequências das falcatruas foram: banimento do time da Liga dos Campeões da temporada seguinte, cassação do título francês de 1992-1993 e rebaixamento do clube para a segunda divisão. Era o fim e uma era de ouro que jamais voltaria às bandas de Marselha. E o fim do ciclo de Abedi Pelé com a camisa do OM. Ao término da temporada, o craque ganês foi tricampeão do prêmio de melhor jogador africano do ano e foi jogar no Lyon-FRA.

 

Craque global

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O título europeu aumentou ainda mais a fama de Abedi Pelé no futebol internacional e fez o craque ser escalado em diversos “Best XI” da FIFA que disputaram amistosos naquele decorrer de anos 90. Além disso, o jogador seguiu atuando em alto nível pelo Lyon e, depois, pelo Torino-ITA, onde foi o principal destaque de um time frágil que acabou rebaixado na temporada 1995-1996. Em 1996, o jogador voltou a brilhar com a camisa de Gana em uma Copa Africana e marcou gols em todos os três jogos da equipe na fase de grupos (um na vitória por 2 a 1 sobre a Costa do Marfim, um nos 2 a 1 sobre a Tunísia e outro nos 2 a 0 sobre Moçambique).

No mata-mata, Gana passou pelo Zaire (1 a 0), mas, na semifinal, a África do Sul fez 3 a 0 nos Estrelas Negras e se classificou para a final, interrompendo a caminhada de Abedi Pelé rumo ao bicampeonato continental. Em 1998, o craque disputou sua última Copa Africana, mas Gana não passou da primeira fase. Naquele mesmo ano, o jogador, aos 35 anos, se aposentou da seleção após 67 jogos e 33 gols marcados. Entre 1996 e 2000, Abedi jogou no 1860 München-ALE e no Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos, onde encerrou a carreira com títulos e mais honrarias de melhor jogador estrangeiro.

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“Pelés” eternos

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Após se aposentar, Abedi Pelé seguiu no meio futebolístico como embaixador do futebol de Gana, mentor de projetos de caridade e responsável por lançar jovens promessas no futebol no Nania, clube que fundou em Gana. O ex-atleta é figura constante em vários eventos do esporte no mundo e, em 2004, foi o único ganês nomeado por Pelé como um dos melhores jogadores do século XX ainda vivos no FIFA 100, lista que celebrou o centenário da entidade. A homenagem e lembrança do Pelé brasileiro ao Pelé de Gana foram mais do que merecidas e devidas a um jogador que deslumbrou plateias e foi o precursor para que tantos jogadores africanos conseguissem espaço e brilho no futebol europeu. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

Disputou 67 jogos e marcou 33 gols por Gana.

 

Leia mais sobre o grande Olympique de Marselha da virada dos anos 80 e início dos anos 90 aqui no Imortais!

Olympique de Marselha 1988-1993

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

    • Olá Danilo! Pelo que jogou e por tudo o que representou, George Weah pode ser considerado o melhor, na minha opinião. No entanto, é impossível cravar exatamente pelo fato de os três jogarem em posições distintas e terem estilos diferentes. Se os três fossem meias, por exemplo, seria mais fácil. Abs!

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