Nascimento: 20 de dezembro de 1980, em Stepney, Londres, Inglaterra.
Posição: Lateral-Esquerdo
Clubes: Arsenal-ING (1999-2006), Crystal Palace-ING (2000-empréstimo), Chelsea-ING (2006-2014), Roma-ITA (2014-2016), LA Galaxy-EUA (2016-2018) e Derby County-ING (2019).
Principais títulos por clubes: 2 Campeonatos Ingleses (2001-2002 e 2003-2004), 3 Copas da Inglaterra (2001-2002, 2002-2003 e 2004-2005) e 2 Supercopas da Inglaterra (2002 e 2004) pelo Arsenal.
1 Liga dos Campeões da UEFA (2011-2012), 1 Liga Europa da UEFA (2012-2013), 1 Campeonato Inglês (2009-2010), 4 Copas da Inglaterra (2006-2007, 2008-2009, 2009-2010 e 2011-2012) e 1 Supercopa da Inglaterra (2009) pelo Chelsea.
Principais títulos individuais:
Eleito para o Time do Ano da PFA: 2002-2003, 2003-2004, 2004-2005, 2010-2011
Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2004
Eleito para o Time do Ano da UEFA: 2004 e 2010
Eleito o Jogador do Ano da Inglaterra: 2010
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês: 2024
Jogador com mais títulos na história da Copa da Inglaterra: 7 troféus
“Referência na Esquerda”
Por Guilherme Diniz
Preciso no apoio ao ataque, perfeito na defesa com desarmes fantásticos e muito dedicado. Ele não precisava receber instruções dos técnicos em demasia. Ele sabia o que fazer e como fazer. Sempre evoluiu. E, com muita regularidade, se transformou em um dos maiores laterais-esquerdos de sua geração. Ashley Cole foi uma referência no Arsenal, onde colecionou títulos e virou ídolo da torcida até se transferir, em 2006, para o Chelsea, o que custou uma perda de popularidade por grande parte dos torcedores. Mesmo assim, seu desempenho está marcado para sempre entre os Gunners. Com a camisa azul do clube de Stamford Bridge, seguiu levantando troféus e melhorou ainda mais sua condição de lateral que desarmava e protegia a defesa, além de servir o ataque com velocidade, passes e cruzamentos perfeitos. O craque foi presença constante, também, na seleção inglesa, pela qual disputou as Copas de 2002, 2006 e 2010 e acumulou 107 jogos disputados (é um dos 10 jogadores com mais partidas na história do English Team). É hora de relembrar a carreira dessa lenda inglesa.
O início em Highbury
Cole aprendeu desde cedo que a vida não seria fácil, mesmo nascendo em uma cidade como Londres. Seu pai, Ron Callender, deixou a família quando Cole ainda era criança e se mudou para a Austrália. Com isso, Cole e seu irmão, Matthew, foram criados pela mãe, Sue, e estudaram na Bow School, na região da Tower Bridge. Cole sempre demonstrou enorme gratidão pelos sacrifícios que sua mãe teve para criá-lo e disse certa vez que “ela ensinou: viver não é fácil e é preciso sempre seguir em busca dos sonhos”. Na adolescência, Cole já demonstrava aptidão para o futebol, mas só foi conseguir uma vaga em um clube londrino perto dos 18 anos, quando foi aprovado nas categorias de base do Arsenal, seu clube de infância.
Ashley Cole fez sua estreia em 1999, na Copa da Liga Inglesa, contra o Middlesbrough. Em fevereiro de 2000, o jovem assinou seu primeiro contrato e, no mesmo ano, foi emprestado ao Crystal Palace para ganhar experiência, já que o titular da posição na época era o brasileiro Sylvinho. Mas, na temporada 2000-2001, Sylvinho sofreu uma grave lesão e Cole ganhou a oportunidade que precisava para demonstrar seu futebol. O técnico Arsène Wenger tratou de lapidar o jovem e percebeu que ele tinha muita técnica nos passes e cruzamentos, grande visão de jogo e velocidade para atacar e voltar para defender.
Adepto do futebol ofensivo, Wenger tinha em Cole a peça necessária para buscar títulos e ter muita qualidade no setor esquerdo do campo. Na época 2000-2001, o inglês disputou 33 jogos pelos Gunners e aumentou a conta para 40 partidas em 2001-2002, ano de seu primeiro título da Premier League – na campanha, ele disputou 29 partidas, marcou dois gols e deu quatro assistências – e também do título da Copa da Inglaterra. Cole foi um dos principais jogadores do futebol inglês no ano e brilhou ao lado do timaço do Arsenal que tinha duas linhas de quatro com Lauren, Campbell, Adams e Cole; Wiltord, Parlour, Vieira e Ljungberg, e a dupla de ataque Bergkamp e Henry.
Em 2001, Ashley Cole ainda recebeu suas primeiras convocações para a Seleção da Inglaterra, na época comandada por Sven-Göran Eriksson, e foi direto para o time titular graças às suas qualidades ofensivas e também defensivas. Com uma ascensão meteórica, Ashley Cole já era um dos mais talentosos laterais do mundo. E tal condição só iria aumentar nas temporadas seguintes.
Primeira Copa e mais títulos
Em 2002, Ashley Cole foi titular absoluto da ótima seleção inglesa que viajou até o Oriente em busca do bicampeonato da Copa do Mundo da FIFA. A equipe tinha grandes estrelas como Seaman, Campbell, Ferdinand, Scholes, Beckham, Michael Owen e, claro, Ashley Cole. O English Team superou o “grupo da morte”, que tinha Argentina, Nigéria e Suécia, e se classificou em segundo lugar. Nas oitavas, a equipe venceu a Dinamarca por 3 a 0 e, nas quartas, fez um jogaço contra o Brasil. Owen abriu o placar, mas Rivaldo empatou ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa, Ronaldinho virou, e o Brasil venceu por 2 a 1.
A derrota foi muito dolorida na carreira de Cole, mas o lateral voltou suas atenções para o Arsenal e ajudou os Gunners a se transformarem em um dos maiores times do mundo com a conquista da Premier League de 2003-2004, conquistada de maneira invicta, algo inédito na era moderna da competição e façanha até hoje jamais igualada. Cole deu quatro assistências em 32 jogos disputados e foi mais uma vez um dos melhores da competição. Em 2003, ele venceu ainda mais uma Copa da Inglaterra, e repetiu a dose na época 2004-2005.
Em 2004, o craque disputou a Eurocopa pela Inglaterra e, mais uma vez, ajudou o time a chegar até a fase final de uma grande competição. No entanto, o English Team foi vítima de Felipão assim como em 2002, e acabou eliminado por Portugal nas quartas de final após 2 a 2 no tempo regulamentar e vitória portuguesa por 6 a 5 nos pênaltis – Cole converteu sua cobrança. O lateral foi eleito para o All-Star Team daquele torneio e só confirmou sua condição de um dos melhores laterais-esquerdos do mundo na época.
Decepções e a polêmica saída
Com uma média de 47 jogos disputados por temporada desde 2003, Ashley Cole tinha grandes expectativas para a temporada 2005-2006, na qual o Arsenal queria lutar pelo título inédito da Liga dos Campeões da UEFA. Mas o que era para ser uma época de brilho do craque foi de decepção. Ele acabou sofrendo três lesões: primeiro, fraturou um osso do pé em outubro de 2005. Depois, uma contratura na coxa, em janeiro de 2006. E, por último, em fevereiro de 2006, lesionou o tornozelo esquerdo. Com isso, Ashley Cole acabou disputando apenas 15 partidas – o francês Gaël Clichy acabou substituindo o inglês em boa parte da temporada.
Ashley Cole acabou retornando na reta final da temporada e teve tempo de disputar a final da Liga dos Campeões da UEFA, mas o Arsenal acabou derrotado pelo Barcelona de Ronaldinho por 2 a 1, arruinando o sonho do inglês de vencer sua primeira Velhinha Orelhuda na época. Ainda em 2006, o lateral disputou mais uma Copa do Mundo e, de novo, viu a Inglaterra ser vítima de Felipão, que eliminou o English team do torneio nas quartas de final com a vitória de Portugal por 3 a 1 nos pênaltis.
Na temporada 2006-2007, muitos diziam que o Real Madrid poderia tirar Ashley Cole do Arsenal, como futuro substituto de Roberto Carlos no setor – o brasileiro iria deixar os merengues em 2007. Porém, quem acabou entrando na disputa pelo inglês foi o Chelsea-ING, rival do Arsenal em Londres. O clube azul fez uma reunião com Ashley Cole em meados de janeiro de 2005 sem o consentimento do Arsenal, algo que gerou uma multa de 100 mil libras ao jogador, posteriormente reduzida para 75 mil. O então técnico do Chelsea, José Mourinho, o agente de Cole, Jonathan Barnett, e os cartolas Peter Kenyon e Pini Zahavi também estavam presentes na reunião. A Premier League multou Mourinho, o Chelsea e suspendeu o agende Barnett de suas funções por 18 meses.
Após a temporada 2005-2006, Ashley Cole acabou deixando mesmo o Arsenal e foi jogar no Chelsea, saindo pelas portas dos fundos dos Gunners. A torcida nunca perdoou o craque, que foi chamado de “Cashley Cole” na época. O lateral foi para Stamford Bridge por um valor de 5 milhões de libras e o Chelsea ainda cedeu William Gallas ao rival como parte do acordo.
No primeiro encontro entre Arsenal e Chelsea naquela temporada, a torcida do Arsenal produziu milhares de notas de 20 libras com o rosto de Cole e várias menções ao empresário do jogador, ao “banco da Rússia”, pelo fato de o Chelsea ser de Roman Abramovich na época, entre outras peculiaridades. A partida, disputada na casa dos Blues, terminou empatada em 1 a 1. No returno, na casa do Arsenal, Cole não jogou por causa de uma grave lesão no joelho que o tirou dos gramados por quatro meses e evitou naquele momento mais tenso o primeiro reencontro com a torcida dos Gunners. A boa notícia foi mais um título da Copa da Inglaterra, conquistada após vitória por 1 a 0 sobre o Manchester United na decisão.
Volta por cima e a sonhada UCL
Após superar a lesão, Cole passou a assumir de maneira mais regular a lateral-esquerda do Chelsea, mesmo com a saída de José Mourinho para treinar a Internazionale a partir de 2008. Com mais força defensiva do que em seus tempos de Arsenal devido ao estilo de jogo do Chelsea, Cole evoluiu e ficou ainda mais completo. Além de ajudar na criação de jogadas ofensivas, ele fechava muito bem o lado esquerdo e era um marcador implacável que conseguia duelar com os grandes atacantes da Premier League da época. Na temporada 2007-2008, o craque foi referência no Chelsea de Avram Grant e disputou mais uma decisão de Liga dos Campeões. No entanto, os Blues acabaram derrotados pelo Manchester United nos pênaltis por 6 a 5, após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar. Cole converteu seu pênalti, mas Terry e Anelka erraram.
Se o título europeu teimava em escapar, Ashley Cole seguia vencendo competições nacionais. Além da Copa da Inglaterra de 2007, ele venceu a Premier League de 2009-2010 e mais três Copas da Inglaterra entre 2008 e 2010, o que fez dele o jogador com maior número de títulos na história do torneio – 7 taças. Na temporada 2010-2011, Cole disputou todas as 38 partidas do Chelsea na Premier League e chegou ao ápice técnico de sua trajetória no clube azul. Ele foi eleito, inclusive, para o Time do Ano da PFA após seis anos de ausência. Em 2010, foi eleito ainda para o Time do Ano da UEFA, confirmando sua alcunha de um dos maiores laterais-esquerdos do mundo. Ainda em 2010, Cole disputou sua terceira e última Copa do Mundo, mas a Inglaterra não foi longe e caiu já nas oitavas de final diante da Alemanha.
Mas foi na temporada 2011-2012 que o lateral, enfim, conquistou sua sonhada Velhinha Orelhuda. Ele esteve em 12 dos 13 jogos do Chelsea na campanha da UCL. Na épica semifinal contra o Barcelona, favorito ao título, o craque tirou em cima da linha um gol certo dos blaugranas no primeiro jogo, em Stamford Bridge, e manteve a vitória por 1 a 0 que deu a vantagem do empate para a volta, no Camp Nou. Nele, o Chelsea arrancou um empate em 2 a 2 e carimbou a vaga na decisão, na qual os Blues derrotaram o poderoso Bayern München em plena Allianz Arena nos pênaltis por 4 a 3 após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar.
Cole mais uma vez converteu sua cobrança em uma disputa na marca da cal e foi muito elogiado por seu desempenho na final ao cobrir os espaços e bloquear vários avanços do holandês Arjen Robben. Anos depois, em entrevista ao Champions Journal (UEFA), ele comentou sobre como a experiência da final de 2008 ajudou ele e o Chelsea a superar um rival tão poderoso.
“Olhando para trás, sentimos que deveríamos ter vencido aquele jogo em 2008 nos pênaltis – estávamos a um chute de distância e o núcleo ainda estava lá. Petr Čech, que estava ficando mais velho; Frank Lampard, que estava ficando mais velho; Didier Drogba, que estava ficando mais velho; eu, ficando mais velho… Não sabíamos que jogaríamos a temporada após a final, porque não sabíamos se ficaríamos ou não. Seria nossa última oportunidade de vencer? Eu passei por tantas batalhas e passei por tanta coisa com esses garotos, aquele núcleo que mencionei, então eu queria ajudar a criar história para o Chelsea e, claro, tentar terminar um legado pessoal para mim no Chelsea – com minha segunda família, para ser honesto. Estávamos todos animados”.
Sobre a conquista, ele comentou: “O maior sentimento foi alívio. Sempre que você ganha um troféu, seja a Premier League, a FA Cup, a Europa League, você fica aliviado por superar aquele obstáculo final para realmente comemorar com seu time. Com a Champions League, estar entre não apenas os melhores times, mas os melhores jogadores individuais, jogadores de classe mundial que a ganharam, agora fazer parte disso, fazer parte daquele grupo, isso é especial. A principal coisa que nunca esquecerei seriam os discursos – aquele sentimento de família no vestiário depois, [com] Didier Drogba fazendo um discurso emocionante, Roman [Abramovich] no vestiário e todos lá encantados por Robbie Di Matteo e [o assistente técnico] Eddie Newton que entraram e mudaram o ambiente e recuperaram nossa mentalidade, recuperaram nossa confiança. Sim, você segura o troféu, você o tem, e então são as outras memórias em termos dessa conexão emocional com seus companheiros de equipe”. – Ashley Cole, em entrevista ao Champions Journal.
Mais troféus, mudança de ares e aposentadoria
Na temporada 2012-2013, Ashley Cole, com 32 anos, quebrou um recorde pessoal de jogos disputados por clube na carreira e atingiu a marca de 51 partidas disputadas (!). Naquela época, ele ajudou o Chelsea a vencer mais um torneio continental: a Liga Europa da UEFA, quando os Blues venceram o Benfica por 2 a 1 na final. Ainda em 2013, disputou sua 100ª partida pela Inglaterra, na vitória por 2 a 1 sobre o Brasil, em Wembley. No ano seguinte, porém, ao ficar de fora da Copa do Mundo, Ashley Cole anunciou sua aposentadoria do English Team após 107 jogos. Foi nessa época, também, que ele começou a perder espaço no Chelsea por conta da ascensão de Azpilicueta.
Com contrato prestes a expirar, ele decidiu não renovar com os Blues e aceitou o desafio de jogar na Roma, onde permaneceu de 2014 até 2016, mas sem conseguir manter o nível de antes e disputando apenas 16 jogos. Em 2016, o inglês foi jogar no LA Galaxy e já encaminhava seu fim de carreira. Em solo estadunidense, Cole disputou uma média de 30 jogos por temporada, mas não levantou títulos. Ele chegou a ser capitão do time em 2018, mas deixou os EUA para encerrar a carreira no Derby County, comandado pelo ex-companheiro de Chelsea, Frank Lampard. Cole disputou 12 partidas – 9 delas pelo Championship – e pendurou as chuteiras oficialmente em agosto de 2019, aos 38 anos.
Logo após deixar os gramados, o inglês decidiu virar treinador e passou a treinar equipes de base, além de acompanhar Frank Lampard no Derby e no Everton. Ele integrou ainda a equipe técnica do Birmingham City até ser contratado pela FA para compor a equipe técnica interina da seleção inglesa, ajudando o técnico interino Lee Carsley. Com títulos, grandes jogos e muita regularidade, Ashley Cole pode não ter tido a mesma grife que outros laterais de sua época, mas foi indiscutivelmente um dos maiores laterais-esquerdos do mundo e referência em grandes esquadrões do Arsenal, do Chelsea e, mesmo sem títulos, da Inglaterra.
Números de destaque:
Disputou 228 jogos, marcou 9 gols e deu 22 assistências pelo Arsenal.
Disputou 337 jogos, marcou 7 gols e deu 37 assistências pelo Chelsea.
Disputou 94 jogos, marcou 3 gols e deu 11 assistências pelo LA Galaxy.
Disputou 107 jogos e deu 7 assistências pela seleção da Inglaterra.Disputou 701 jogos, marcou 21 gols e deu 72 assistências em sua carreira de clubes.
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