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Esquadrão Imortal – Palmeiras 1972-1974

Palmeiras 1972-1974
Em pé: Eurico, Leão, Luís Pereira, Alfredo, Dudu e Zeca. Agachados: Edu Bala, Leivinha, César, Ademir da Guia e Nei.
 

Grandes feitos: Bicampeão Brasileiro (1972 e 1973) e Bicampeão Paulista (1972 e 1974).

Time base: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu, Ademir da Guia e Leivinha (Ronaldo); Edu Bala, César Maluco e Nei. Técnico: Osvaldo Brandão.

 

“Ensinando a jogar bola – parte 2”

Por Guilherme Diniz

Na década de 60, o Palmeiras montou uma equipe que só não foi mais brilhante e hegemônica pelo “simples” fato de ter de concorrer com o Santos de Pelé. Mesmo assim, o alviverde que ganhou o apelido de Academia faturou duas Taças Brasil (1960 e 1967), um Rio-SP (1965), dois Robertões (1967 e 1969) e um Paulista (1966), tudo graças à magia e talento de craques como Baldochi, Tupãzinho, Djalma Santos, Ademir Pantera e dois jovens que teriam a incumbência de liderar a segunda versão da Academia, na década de 70: Ademir da Guia e Dudu, que mais pareciam a mesma pessoa tamanha sintonia que tinham. Com a dupla em campo e novos craques como Leão, Luís Pereira, Leivinha, Edu Bala e César Maluco, o Verdão deu as cartas novamente no futebol paulista e brasileiro, dessa vez sem rivais à altura, e ganhou um bicampeonato do recém-criado Campeonato Brasileiro, em 1972 e 1973, e dois Paulistas, em 1972 e 1974, com direito a manter o rival Corinthians mais alguns anos na fila de títulos e “colocar pra correr” Rivellino na decisão do Paulista de 74. É hora de relembrar as façanhas de um time telepático, entrosado e que tinha nada mais nada menos que cinco dos onze jogadores que mais vestiram a camisa alviverde na história em campo.

Saem craques, entram craques

Leão, um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro.

 

 

Depois de uma década maravilhosa, o Palmeiras via o início dos anos 70 com bons olhos. Mesmo com a aposentadoria e/ou saída de símbolos de uma geração de ouro, a equipe continuaria forte com a entrada em cena de novos protagonistas, tão bons (ou melhores) quanto os jogadores dos anos 60. No gol, um jovem com jeito de veterano, Emerson Leão, simplesmente um virtuose debaixo das traves, com uma segurança absoluta, reflexos incríveis e praticamente um paredão. Na zaga, a estrela seria Luís Pereira, considerado o melhor zagueiro da história do clube, viril, clássico e ainda eficiente nas subidas ao ataque.

Do meio para frente, Leivinha, meia rápido, preciso nos passes e muito bom de cabeça; Edu Bala, rápido como o apelido que ganhou e com um fôlego invejável; Nei, malabarista com a bola nos pés e exímio nos passes e cruzamentos; e um matador nato: César, que ganhou a alcunha de “Maluco” por seu jeitão em campo e fora dele. Junto a essas novas figuras, dois ex-membros da Academia dos anos 60 comandariam o melhor meio de campo da história alviverde: Dudu e Ademir da Guia, cerebrais, elegantes, goleadores, preciosos na marcação, simbiose pura! Juntos, disputaram 519 jogos pelo Palmeiras, um recorde. No banco, Oswaldo Brandão, um dos grandes técnicos do nosso futebol, que tinha em mãos um elenco formidável, titulares que dificilmente deixavam o campo. Era hora de voltar a brilhar, mas dessa vez como protagonista maior. E sem um “certo Pelé” para rivalizar…

 

O ano maravilha

Dudu e Ademir da Guia: lendas alviverdes.

 

 

Em 1972, depois de já demonstrar grande poder de fogo nos anos anteriores, o Palmeiras foi com tudo em busca da dobradinha Brasileiro / Paulista. O primeiro torneio disputado no ano foi o estadual, com o São Paulo como grande rival. Em um torneio longo, de turno e returno por pontos corridos, prevaleceu o equilíbrio e o entrosamento do Palmeiras, que conquistou o caneco de maneira invicta com 15 vitórias e sete empates em 22 jogos. Naquele torneio, o time já dava mostras do quão difícil seria vazar o goleiro Leão: em 22 jogos o goleiro alviverde levou apenas oito gols! O ataque palmeirense também foi eficiente e marcou 33 vezes, o melhor da competição. Com o caneco estadual na bagagem, o time foi com tudo em busca do Campeonato Brasileiro, criado no ano anterior e que teve como primeiro campeão o Atlético-MG.

O Brasileirão foi disputado num complexo sistema de disputa, com três fases e uma partida final, onde um empate favorecia o time de melhor campanha. Na primeira fase, o Palmeiras ficou na primeira colocação no grupo B, com grandes exibições tanto em casa quanto fora, com destaque para as vitórias sobre Fluminense (1 a 0), Atlético-MG (3 a 0) e Grêmio (1 a 0), todas longe de São Paulo. O time perdeu para Corinthians e Santos ambos por 1 a 0, mas isso não abalou os comandados de Brandão, que continuaram firmes em busca do título. Na segunda fase, o time alviverde se classificou depois de vencer América-RJ por 3 a 1 e Coritiba por 3 a 0, e perder para o São Paulo por 2 a 0. Como tinha melhor campanha, a equipe foi para a fase final.

Nas semis, o time colocou o regulamento embaixo do braço e conquistou o título, com empates em 1 a 1 contra o Internacional e 0 a 0 contra o forte Botafogo de Jairzinho. Pela primeira vez, o Palmeiras era campeão do Campeonato Brasileiro, título que se somava às outras conquistas nacionais da equipe na década de 60. A campanha foi digna de campeão: 30 jogos, 16 vitórias, 10 empates e apenas quatro derrotas, com 46 gols marcados e 19 sofridos. Juntando todos os jogos do ano, o Palmeiras conseguia a proeza de levar apenas 44 gols em 80 partidas, graças não só à zaga eficiente, mas principalmente ao sóbrio Leão. Se contarmos apenas jogos do Paulista e Brasileiro, o time levou somente 27 gols em 55 jogos! Uma enormidade, como foi o ano para o alviverde, multicampeão e o time a ser batido dali pra frente.

 

Nova façanha nacional

Em 1973, o Palmeiras não conseguiu o bicampeonato estadual, que ficou com Santos e Portuguesa após a célebre trapalhada do árbitro Armando Marques, que não contou direito o número de cobranças de pênalti batidas pelas equipes na final do torneio (!). Mas, se em São Paulo o Verdão não conseguiu manter a hegemonia, no Brasil ela foi consolidada. Em mais um campeonato inchado, com 40 equipes e várias fases de disputa, o Palmeiras sobrou de novo. No primeiro turno, liderança verde com 18 vitórias, sete empates e três derrotas em 28 jogos, com 34 gols marcados e 11 sofridos. Na fase seguinte, nove jogos, cinco vitórias e quatro empates, com 15 gols marcados e só um sofrido.

Sem rivais, o time foi para o quadrangular final em vantagem, mas não deu sopa para o azar. O time derrotou o Cruzeiro de Nelinho, Perfumo, Piazza, Zé Carlos, Palhinha e Dirceu Lopes em pleno Mineirão por 1 a 0, gol de Edu Bala. Na partida seguinte, vitória em casa por 2 a 1 (gols de Ronaldo e Luís Pereira) contra o Internacional de Cláudio, Figueroa, Vacaria, Valdomiro, Falcão e Escurinho. No jogo decisivo, um empate contra o São Paulo de Waldir Peres, Forlán, Chicão, Pedro Rocha e Terto dava o bicampeonato ao Palmeiras. E foi o que aconteceu. A equipe foi absoluta novamente na defesa, não deu espaços ao rival e o 0 a 0 garantiu ao Verdão mais um título nacional. A equipe conseguia uma campanha ainda melhor que na temporada anterior: 25 vitórias, 12 empates e três derrotas em 40 jogos, com 52 gols marcados e 13 sofridos. O Brasil era verde. E a Academia consolidava sua segunda geração, com os toques de bola refinados, a velocidade, a cadência quando necessário e o ferrolho na zaga. Jogar contra o Palmeiras naquela época era um desafio e tanto. Vencê-lo, mais difícil ainda. Marcar um gol? Só se Leão deixasse…

 

Saboroso Paulista

Em 1974, o Palmeiras viu o Vasco de Roberto Dinamite conquistar o Brasileirão e ruir o sonho do tri, que viria somente no longínquo ano de 1993. Mas a cereja do bolo da segunda Academia estava guardada para o Campeonato Paulista, mais precisamente para o dia 22 de dezembro daquele ano, na grande final do torneio. Antes de ir para a final, o Palmeiras fez apenas um turno regular, ficando na quinta colocação. O Corinthians, líder, já estava garantido na decisão. No returno, o Verdão mostrou força, conseguiu a liderança e a vaga, com oito vitórias e cinco empates em 13 jogos. A final seria em dois jogos, ambos no Morumbi. Na primeira partida, empate em 1 a 1. A volta, com mando do Corinthians, seria o cenário perfeito para o time alvinegro pôr fim ao jejum de 20 anos sem um caneco: seriam mais de 120 mil corintianos contra apenas 10 mil palmeirenses. O Timão estava em melhor fase e com grandes jogadores como Vaguinho, Zé Maria e o astro Rivellino. Mas quem iria fazer a festa era a minoria alviverde…

O jogo foi emblemático. Depois de um primeiro tempo morno, o segundo foi cheio de histórias. A primeira foi o lance capital que decretou a saída de Rivellino do Corinthians. Após uma dividida com Luís Pereira, o craque corintiano pediu falta e o juiz não deu. Uma foto tirada no exato momento em que o zagueiro palmeirense consola Rivellino causou a ira da torcida alvinegra, bem como da diretoria, que acharam que o meia havia pipocado.

 

 

Na sequência do lance, a bola sobrou para Ronaldo, o reserva de luxo do Palmeiras, estufar as redes: Corinthians 0x1 Palmeiras. O Morumbi se calou. E os 10 mil palmeirenses enlouqueceram. Visivelmente abalado, o time alvinegro não teve forças para reverter o placar, que se manteve intacto até o apito do árbitro: Palmeiras campeão paulista de 1974. E Corinthians mais um ano na fila…

 

O fim e o jejum

Depois do título de 1974, o Palmeiras só ganharia um novo Paulista, em 1976, e depois viveria um longo jejum de canecos até 1993, quando o alviverde voltou a encantar graças ao dinheiro da Parmalat. A Academia fechou as portas naquela noite de 22 de dezembro de 1974, quando calou um Morumbi todo corintiano e levantou a taça estadual de maneira categórica, com a força e imponência características daquele grande time que, assim como na década de 60, não jogava bola: ensinava a jogar, com toques, jogadas de efeito, gols plásticos e um gênio em campo: Ademir da Guia, O Divino. E a alma de um Palmeiras imortal.

 

Os personagens:

Leão: depois de Oberdan, nos anos 40 e 50, o Palmeiras voltou a ter um goleiro fantástico: Leão. Com muita personalidade, reflexos apurados, e com apenas 20, 21 anos nas costas, o goleiro fechou o gol palmeirense de 1969 até 1978. É um dos maiores da história do clube em todos os tempos e o segundo na lista dos que mais vestiram a camisa alviverde: 617 partidas. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Eurico: fazia o básico com extrema eficiência: boa marcação e bons cruzamentos. Jogou 467 partidas pelo clube.

Luís Pereira: zagueiraço, sem dúvida um dos maiores da história do Palmeiras. Tinha técnica, marcava como um leão, não dava espaços para os atacantes rivais e ainda marcava seus golzinhos nas investidas ao ataque, 35 gols para ser mais exato em 558 partidas e 11 anos de Palmeiras, outro no “Top 10” dos que mais jogaram pelo clube, na 6ª posição.

Alfredo: quando Luís Pereira subia ao ataque, era Alfredo quem segurava a bronca lá atrás. Tinha muita raça, mas não tanta técnica quanto seu companheiro de zaga. Esteve no grupo do Brasil que disputou a Copa do Mundo de 1974, como reserva do próprio Luís Pereira.

Zeca: outro de longa data do clube, Zeca jogou 12 anos e 389 jogos com o manto alviverde, sendo o dono da lateral-esquerda da equipe de 1969 até 1977.

Dudu: era o “irmão gêmeo” de Ademir no meio de campo do Palmeiras. Disputou 519 jogos ao lado do companheiro em uma das maiores duplas que o futebol brasileiro já viu. Eram sintonizados, entrosados e um completava o outro. Dudu era a preciosidade na marcação e em segurar os rivais para que Ademir brilhasse com sua classe, dribles e muitos gols. É o terceiro na lista dos que mais atuaram pelo alviverde: 609 jogos, 12 anos, 9 títulos conquistados e idolatria eterna da torcida.

Ademir da Guia: filho do Divino Mestre, Domingos da Guia, Ademir herdou do pai o apelido estonteante que significava com clareza o seu futebol de craque. Foi o dono da camisa 10 do Palmeiras por 15 anos e 901 jogos. É o terceiro maior artilheiro da história do clube com 153 gols e o que mais atuou também. É considerado o maior ídolo da história palmeirense (ou seria Marcos?) e um dos craques mais completos que passou pelo Palestra, com passes precisos, gols maravilhosos, visão de jogo impecável e a capacidade de jogar pelo time, em qualquer situação. Um imortal da bola que só não brilhou na seleção brasileira. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Leivinha: meia cerebral e muito eficiente, habilidoso, ótimo no cabeceio e essencial para o esquema de ataque daquele Palmeiras vencedor. Jogou no clube de 1971 até 1975 e foi um dos grandes nas conquistas nacionais e estaduais de 1972, 1973 e 1974.

Ronaldo: como os titulares quase nunca saiam de campo ou sofriam de contusões, o ótimo Ronaldo tinha que esquentar o banco. Mas, quando entrava, mantinha a eficiência do time com seus gols, principalmente os decisivos, sendo o mais importante deles o do título paulista de 1974, contra o Corinthians e seus mais de 110 mil torcedores.

Edu Bala: não ganhou o apelido por acaso. Edu Bala era rápido demais, voava em campo pelas linhas de fundo e dava passes açucarados para César e Ademir, além de marcar seus gols também.

César Maluco: era carismático, tinha raça, xodó da torcida e um goleador nato. César Maluco é o segundo maior artilheiro da história do Palmeiras com 180 gols marcados. Polêmico, sempre se metia em confusões e não levava desaforo para casa. Peça chave para o brilho do time alviverde de 1967 até 1974.

Nei: pela ponta esquerda, Nei tocava o terror com seus dribles, muita velocidade e cruzamentos precisos, além de gols, claro. É o 9º na história com mais jogos pelo clube: 488 partidas.

Osvaldo Brandão (Técnico): um dos maiores treinadores do futebol brasileiro, Brandão comandou com pulso firme, estratégias precisas para cada jogo e muita motivação o grande Palmeiras bicampeão brasileiro e paulista de 1972 até 1974. Curiosamente, depois de acabar com o Corinthians na final do Paulista de 1974, foi ele quem tirou o alvinegro da fila em 1977. Foi e é até hoje um ícone do Palmeiras.

 

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Comentários encerrados

12 Comentários

  1. Boa tarde, nesta final emblemática de 1974 algum time tinha vantagem de empate ou se houvesse empates seria decidido nos penaltis? sou corinthiano e na época tinha tres anos e nem imaginava gostar de futebol, mas vivi minha infancia e adolescencia ouvindo meu pai que é corinthiano falando deste jogo. Grande Abraço!

Esquadrão Imortal – Atlético-PR 2001

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