Grande feito: 5ª colocada na Copa do Mundo da FIFA de 2014. Conseguiu a melhor colocação da seleção na história das Copas.
Time-base: Ospina; Juan Camilo Zúñiga, Cristián Zapata, Mario Yepes e Pablo Armero; Abel Aguilar (Fredy Guarín), Carlos Sánchez, Juan Cuadrado e James Rodríguez; Teófilo Gutiérrez e Jackson Martínez (Radamel Falcao / Carlos Bacca / Víctor Ibarbo / Juan Quintero). Técnico: José Pékerman.
“Los Cafeteros Dorados – Parte 2”
Por Guilherme Diniz
Junho de 2011. Em uma pífia 54ª posição no ranking da FIFA, a pior de sua história, a seleção colombiana não tinha qualquer esperança de sucesso no curto prazo. E, para piorar, as Eliminatórias para a Copa do Mundo batiam à porta e o torcedor temia que o time ficasse de fora como ficou dos Mundiais de 2002, 2006 e 2010. Cada vez mais as lembranças da Generación Dorada dos anos 1990, de Rincón, Valderrama, Asprilla e companhia eram mais distantes, as fotos iam ficando mais velhas, as imagens, mais chuviscadas. Será que nunca mais a seleção cafetera voltaria a brilhar? Foi então que um técnico especialista em comandar jovens talentos chegou para reconstruir por completo aquele time. José Pékerman conseguiu reunir os principais talentos do país em uma só seleção e classificou a Colômbia para uma Copa do Mundo depois de mais de uma década de ausência. E, no Brasil, a equipe cafetera fez uma campanha marcante, a melhor da história do país em Mundiais, que só terminou diante do anfitrião. Mesmo sem títulos, aquela seleção fez uma nova leva de torcedores aprender a torcer pela seleção e saudar nomes como Ospina, Yepes, Cuadrado, James Rodríguez, Téo Gutierrez e Radamel Falcao, este um craque que fez uma falta danada na Copa. É hora de relembrar a parte 2 dos cafeteros dorados.
Sumário
Reconstruir é preciso
Após a demissão do técnico Leonel Álvarez, em 2011, a federação colombiana buscava um treinador que pudesse dar um novo rumo à equipe já com foco total nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014, que teria um importante fator benéfico à equipe: o Brasil, como anfitrião, não iria disputar as Eliminatórias, algo que já deixava uma vaga extra para as seleções concorrentes. Depois de sondar Gerardo Martino, que recusou a proposta dos colombianos, o nome escolhido foi o do também argentino José Pékerman, que estava desde 2009 sem clube e tinha bons trabalhos no comando de seleções de base com dois títulos sul-americanos pela Argentina em 1997 e 1999 e também três Mundiais Sub-20 pela albiceleste em 1995, 1997 e 2001. Como a Colômbia tinha em sua maioria nomes jovens e que vinham se destacando em seus clubes, a escolha de Pékerman foi acertada e teve efeito quase que imediato.
Ele assumiu em janeiro de 2012 e venceu seus primeiros compromissos: 2 a 0 sobre o México, em amistoso disputado em Miami (EUA), e 1 a 0 sobre o Peru, este já pelas Eliminatórias, campanha que ainda era ruim com uma vitória (2 a 1 sobre a Bolívia), um empate (1 a 1 com a Venezuela) e uma derrota (2 a 1 para a Argentina) nos jogos anteriores à gestão de Pékerman. O início do argentino no comando teve algumas críticas quanto ao estilo de jogo dos colombianos, abusando das bolas longas ao invés dos passes mais curtos e jogadas pelo meio. Porém, aos poucos, o treinador foi encaixando o time e unindo as estrelas de maneira plena. Nomes como Ospina (goleiro), Yepes (zagueiro), Armero (lateral), Carlos Sánchez (volante), Cuadrado (meia), James Rodríguez (meia) e Radamel Falcao (atacante) viraram absolutos no esquema tático por seus bons momentos em clubes.
A equipe alternava o clássico 4-4-2 com um 4-2-2-2, tendo uma característica bastante ofensiva e que resultava em muitos gols. Depois do triunfo sobre o Peru, a equipe perdeu para o Equador, fora de casa, mas deu a volta por cima em grande estilo: goleada de 4 a 0 sobre o Uruguai, então campeão continental, com gols de Falcao, Gutiérrez (2) e Zúñiga. Na sequência, a equipe encarou a seleção chilena (ainda sem Jorge Sampaoli), no estádio Monumental, e voltou a dar show: 3 a 1, com gols de James Rodríguez, Falcao e Gutiérrez. Embalados, os cafeteros venceram o Paraguai por 2 a 0, em casa (dois gols de Falcao) e, dias depois, derrotaram a seleção de Camarões por 3 a 0, em amistoso disputado em Barranquilla. Para encerrar a temporada, a equipe empatou um amistoso contra o Brasil em 1 a 1 e fechou a temporada na 5ª colocação do ranking da FIFA, um salto espetacular em pouco mais de um ano da trágica 54ª colocação!
Vaga garantida e o drama do Tigre
Em 2013, a Colômbia seguiu com a boa fase em vitória por 4 a 1 sobre Guatemala, em amistoso disputado nos EUA, e enfiou 5 a 0 na Bolívia no retorno das Eliminatórias. No final de março, a derrota por 1 a 0 para a Venezuela, fora de casa, interrompeu a sequência de sete jogos de invencibilidade do time, mas os colombianos emendaram mais quatro jogos sem perder após empate sem gols com a Argentina em Buenos Aires, vitória sobre o Peru (2 a 0), e a Sérvia (1 a 0, amistoso) e o Equador (1 a 0). Muito perto da vaga, a equipe só precisava empatar com o Uruguai na partida seguinte das Eliminatórias para confirmar a vaga, porém, os comandados de Pékerman acabaram perdendo por 2 a 0 em Montevidéu e a decisão ficou para a penúltima rodada, contra o Chile, em casa.
Com o estádio Metropolitano de Barranquilla lotado, a torcida esperava uma vitória para lavar a alma e colocar a Colômbia de volta a uma Copa do Mundo depois de 16 anos. Mas um filme de terror passou pelo gramado da casa cafetera quando Vidal, de pênalti, e Alexis Sánchez, duas vezes, fizeram os gols dos 3 a 0 do Chile – já comandado por Jorge Sampaoli – que transformaram o sonho da vaga em pesadelo. E isso tudo em 29 minutos de jogo! Porém, o técnico Pékerman mudou o time no intervalo e viu uma outra Colômbia. Aos 69’, Gutiérrez descontou. Aos 74’, Falcao, de pênalti, fez o segundo. E, aos 83’, o mesmo Falcao marcou, em novo pênalti, o gol do empate em 3 a 3 que classificou a Colômbia para a Copa do Mundo.
Na última rodada, a vitória sobre o Paraguai por 2 a 1, fora de casa (dois gols de Yepes), deu à Colômbia a vice-liderança geral das Eliminatórias, na melhor campanha da seleção em toda a história das qualificações para um Mundial. Os cafeteros somaram 30 pontos, com nove vitórias, três empates, quatro derrotas, 27 gols marcados e 13 gols sofridos (melhor defesa) em 16 jogos. A Argentina foi a líder, o Chile avançou em 3º lugar e o Equador se classificou em 4º. O Uruguai foi para a repescagem e se garantiu no Mundial depois de derrotar a Jordânia. Com 9 gols, Radamel Falcao foi o artilheiro da seleção nas Eliminatórias, seguido de Teófilo Gutiérrez, com seis gols.
Depois da vaga, a seleção entrou na contagem regressiva para o Mundial e na torcida para que nenhuma estrela se contundisse. Acontece que, já em janeiro de 2014, Radamel Falcao, então jogador do Monaco, enfrentava o Chasselay, da Quarta Divisão Francesa, em partida pela Copa da França. O colombiano abriu o placar da vitória por 3 a 0, mas teve de ser substituído ainda aos 41’ do primeiro tempo após ser atingido pelo zagueiro Soner Ertek. Passada a partida, veio a notícia que ninguém queria ouvir: rompimento do ligamento anterior cruzado do joelho esquerdo. Tempo de recuperação: pelo menos seis meses.
Embora os médicos dissessem que poderia ter até 60% de chances de o atacante se recuperar a tempo, ele realmente não conseguiu por se tratar de uma lesão muito séria que poderia se agravar caso não fosse bem feita. E, com isso, a Colômbia perdeu sua principal referência de ataque e grande estrela mundial. Era inegável que El Tigre ia desequilibrar na Copa. Bastava ver seus números nos últimos anos jogando pelo Porto campeão da Liga Europa de 2010-2011 e também pelo Atlético de Madrid campeão da Liga Europa de 2012-2013. Mesmo assim, a equipe ainda era forte e tida como uma das possíveis candidatas a ir longe na Copa, como salientou o ídolo Carlos Valderrama.
“Eles podem ser melhores (do que a geração dos anos 1990). Eles começaram mais jovens do que nós, veteranos. Lembro que fui para a Europa com 26 anos e James (Rodríguez) tem 21 agora e foi para a Europa ainda mais jovem. O mesmo aconteceu com Falcao, (Juan Camilo) Zúñiga e (Pablo) Armero. Esta geração pode ser melhor”, disse El Pibe à ADN em 2014.
Sem Falcao, a Colômbia realizou cinco amistosos e não perdeu. Com personalidade e bom futebol, o time superou a Bélgica (2 a 0), empatou com Holanda (0 a 0), Tunísia (1 a 1) e Senegal (2 a 2) e venceu a Jordânia por 3 a 0 no último compromisso antes da Copa. Em junho, Pékerman anunciou a lista dos seguintes convocados:
Goleiros: 1 – David Ospina – Nice (França), 12 – Camilo Vargas – Santa Fe (Colômbia) e 22 – Faryd Mondragón – Deportivo Cali (Colômbia);
Defensores: 2 – Cristián Zapata – Milan (Itália), 3 – Mario Yepes – Atalanta (Itália), 4 – Santiago Arias – PSV Eindhoven (Holanda), 7 – Pablo Armero – Napoli (Itália), 16 – Éder Álvarez Balanta – River Plate (Argentina), 18 – Juan Camilo Zúñiga – Napoli (Itália) e 23 – Carlos Valdés – San Lorenzo (Argentina);
Meio-campistas: 5 – Carlos Carbonero – River Plate (Argentina), 6 – Carlos Sánchez – Elche (Espanha), 8 – Abel Aguilar – Toulouse (França), 10 – James Rodríguez – Monaco (Mônaco),
11 – Juan Guillermo Cuadrado – Fiorentina (Itália), 13 – Fredy Guarín – Internazionale (Itália), 14 – Víctor Ibarbo – Cagliari (Itália), 15 – Alexander Mejía – Atlético Nacional (Colômbia) e 20 – Juan Fernando Quintero – Porto (Portugal);
Atacantes: 9 – Teófilo Gutiérrez – River Plate (Argentina), 17 – Carlos Bacca – Sevilla (Espanha), 19 – Adrián Ramos – Hertha Berlin (Alemanha) e 21 – Jackson Martínez – Porto (Portugal).
Mesmo sem Falcao, o grupo que Pékerman levou ao Brasil era muito bom, com jogadores velozes e habilidosos, laterais que apoiavam bem e um meio de campo que sabia agilizar a saída de bola. No ataque, Gutiérrez, Martínez e Bacca eram os mais destacados e sabiam como romper as zagas rivais. Mas o grande nome do time era mesmo James Rodríguez, meia incisivo, que chutava bem de média e longa distâncias, dava passes precisos e tinha uma visão de jogo privilegiada. Vivendo a melhor fase da carreira, o camisa 10 estava pronto para conduzir a seleção o mais longe possível.
Shows dos invictos!
A Colômbia estava no Grupo C da Copa, ao lado de Costa do Marfim, Grécia e Japão, e tinha totais condições de avançar sem grandes sustos para as oitavas de final. A estreia foi no Mineirão diante dos gregos e o time de Pékerman se impôs desde o início para abrir o placar logo aos 5’, com Pablo Armero, conhecido dos brasileiros pelos tempos de Palmeiras. Na comemoração, claro, o lateral dançou o “Armeration”, em alusão a uma música muito famosa em 2010 chamada “Rebolation”, do grupo Parangolé. O gol logo no começo do jogo deu tranquilidade aos cafeteros, que não sofreram grandes sustos no primeiro tempo. Na segunda etapa, Aguilar desviou um escanteio e Gutiérrez fez 2 a 0. Nos acréscimos, Cuadrado deu de calcanhar para James Rodríguez, que marcou o gol que fechou a ótima vitória colombiana por 3 a 0.
Nesse jogo contra os gregos, Pékerman usou uma escalação com James mais centralizado, deixando Ibarbo na ponta-esquerda e Gutiérrez sozinho na frente. Cuadrado, pela ponta-direita, fez um grande jogo e o meio de campo demonstrou muita segurança. Na partida seguinte, os colombianos encararam a Costa do Marfim, o mais complicado adversário naquela fase. Os africanos tinham nomes experientes como Zokora, Bamba, Yaya Touré, Gervinho e ainda Salomou Kalou e Didier Drogba (estes dois últimos no banco de reservas). Após um primeiro tempo travado e sem gols, a Colômbia abriu o placar aos 19’, quando Cuadrado cobrou escanteio na cabeça de James Rodríguez. Seis minutos depois, Quintero, que havia entrado no lugar de Ibarbo, marcou o segundo gol. Costa do Marfim ainda descontou com Gervinho, aos 28’, mas o placar de 2 a 1 garantiu a Colômbia na etapa seguinte por antecipação.
No último jogo do grupo, os cafeteros enfrentaram o Japão e deram show. Cuadrado fez o primeiro, de pênalti, aos 17’. Okazaki, aos 45’+1’, empatou, mas Jackson Martínez fez 2 a 1 no comecinho da segunda etapa. O mesmo Martínez anotou o terceiro, em outro passe de James Rodríguez, e o camisa 10 fechou a conta aos 45’ para completar sua partidaça: 4 a 1. Naquele jogo, a Colômbia ainda prestou uma homenagem ao veterano goleiro Mondragón, que entrou faltando cinco minutos para o fim do jogo e se tornou o mais velho jogador a disputar uma partida de Copa do Mundo na história com 43 anos e três dias, superando o recorde anterior do camaronês Roger Milla, que jogou a Copa de 1994 aos 42 anos. Foi um dia de festa que sacramentou a melhor campanha colombiana em uma fase de grupos de Mundial – 100% de aproveitamento – e que fez da Colômbia uma das candidatas a surpreender na etapa final da Copa. De quebra, James Rodríguez foi eleito pela FIFA o melhor jogador da primeira fase do Mundial!
O recital de James
Para continuar o sonho de se classificar para uma etapa de quartas de final de Copa pela primeira vez, a Colômbia teria que derrubar um gigante em um palco emblemático: o Uruguai, no Maracanã. Era a segunda vez na história que os dois times iriam se enfrentar em uma Copa, repetindo o duelo na fase de grupos do Mundial de 1962, vencido pela Celeste por 2 a 1. O Uruguai queria o tricampeonato jogando justamente no país onde venceu o bi, lá em 1950, no Maracanazo. E os torcedores uruguaios levavam fé na volta do “fantasma”. Porém, quem jogou e mostrou força naquele dia 28 de junho de 2014 foi a Colômbia. E seu camisa 10, James Rodríguez.
O meia fez uma partida sublime, daquelas para ficar guardada na memória de qualquer torcedor. E essa atuação mágica teve, aos 28’ do primeiro tempo, a marca da eternidade. O colombiano recebeu na entrada da área de Aguilar, ajeitou no peito com uma categoria impressionante e, sem deixar a redonda cair, chutou forte. A bola fez curva, bateu no travessão e entrou no gol de Muslera: 1 a 0. GOLAÇO! Aliás, mais do que um gol, foi “O Gol” da temporada, vencedor do Prêmio Puskás!
Veja o golaço:
Sem criatividade e sem Luis Suárez (suspenso pela FIFA após a pitoresca mordida em Chiellini, na fase de grupos), o Uruguai não conseguia superar o talento do time de Pékerman, muito organizado, com mais posse de bola (63%) e muito rápido nos contra-ataques. No segundo tempo, Armero cruzou da esquerda, a bola sobrou para Cuadrado, que ajeitou para James Rodríguez marcar mais um: 2 a 0. E 5º gol do camisa 10 na Copa! O Uruguai padeceu depois daquele gol e não foi nem uma caricatura do time brilhante da Copa de 2010 e campeão da América de 2011. Ao apito do árbitro Björn Kuipers, a Colômbia se classificou para as quartas de final. O sonho ainda estava vivo. E, pela primeira vez, a seleção cafetera era uma das 8 melhores do planeta.
Faltou pouco
O adversário da Colômbia nas quartas era o anfitrião Brasil, que havia suado sangue para se classificar diante do Chile de Sampaoli, nas oitavas – só passou nos pênaltis, e sofrendo muito na prorrogação. A Colômbia era mais talentosa que aquele pífio timeco brasileiro, mas teria que enfrentar a torcida praticamente toda contra, a arbitragem em tempos sem VAR e ter confiança e personalidade para tentar vencer. Antes do duelo, o técnico Pékerman comentou sobre o time canarinho.
“O Brasil é pentacampeão, todos admiram os seus jogadores, os seus treinadores e o seu estilo de jogo. Os nossos atletas estão felizes de poderem enfrentar o Brasil. Sabemos que será muito difícil, é um rival de altíssimo nível. Mas estamos preparados para aproveitar essa partida. […] A história e a tradição têm peso. Mas isso não quer dizer que alguém vai ganhar pelo que passou antes. Acho que o segredo é não pensar em situações anteriores, tem de olhar pra frente. Para a Colômbia cada jogo é um novo desafio, não podemos pensar no que já passou. Não podemos começar achando que o jogo tem um favorito. É preciso enfrentar o Brasil como todos os outros adversários”.
Algo que deixava os colombianos confiantes era o retrospecto de Pékerman contra times do Brasil nos tempos em que comandava as seleções de base da Argentina, com quatro títulos sobre os brasileiros dos cinco títulos que venceu entre 1995 e 2001 – dois Mundiais e dois sulamericanos. Quando a bola rolou no Castelão, em Fortaleza, os temores dos colombianos contra a arbitragem tomaram forma pela falta de ação do árbitro Carlos Velasco. O zagueiro David Luiz fez várias faltas em James Rodríguez (pelo menos seis) e não foi advertido em nenhum momento com cartão. O jogo foi muito violento, com o recorde de faltas naquela edição de Copa – 54, sendo 31 do Brasil e 23 da Colômbia.
Mesmo diante de tantas faltas, apenas quatro cartões amarelos foram mostrados – Júlio César e Thiago Silva, do Brasil, e Mario Yepes e James Rodríguez, da Colômbia. Além disso, um lance que ficou marcado naquele jogo foi a famosa falta do lateral Zúñiga em cima de Neymar, na qual o colombiano foi com o joelho nas costas do brasileiro e ocasionou uma fratura na vértebra que tirou o atacante do Mundial. E Zúñiga não levou nenhum cartão…
Com a bola rolando, Thiago Silva abriu o placar para o Brasil, aos 7’ do primeiro tempo. Na segunda etapa, o capitão colombiano Mario Yepes empatou, mas o gol foi anulado por impedimento – controverso. David Luiz, em golaço de falta, deixou o time da casa em vantagem. James Rodríguez, cobrando pênalti, deu esperança à Colômbia, mas o placar de 2 a 1 colocou o Brasil na semifinal, na qual enfrentou a Alemanha e tomou aquela sarrafada que todo mundo conhece.
A eliminação doeu demais para os colombianos, principalmente por causa da péssima arbitragem e o gol anulado de Yepes que poderia mudar o cenário da partida em um momento crucial. “As equipes queriam ganhar o jogo, mas o Brasil marcou, ficamos em desvantagem no marcador e isso não tinha acontecido antes”, disse Pékerman na coletiva após a partida. “Para nós, a força e o desejo não foram suficientes”, completou o treinador.
A Colômbia deixou o Mundial após cinco jogos, quatro vitórias, uma derrota, 12 gols marcados e apenas quatro sofridos e terminou na 5ª colocação. James Rodríguez, com 6 gols, foi o artilheiro, Chuteira de Ouro da Copa e integrou o All-Star Team, enquanto Cuadrado foi o líder em assistências (4 passes para gols). A Colômbia ganhou ainda o Troféu Fair Play da Copa do Mundo. Na volta para casa, os colombianos foram recebidos com muita festa por milhares de pessoas após a melhor campanha da história da seleção em um Mundial.
Na expectativa por tempos melhores
Pékerman seguiu no comando da seleção nos anos seguintes, mas a seleção não manteve o nível demonstrado em 2013 e 2014. Na edição da Copa América de 2015, a Colômbia fez uma campanha ruim e caiu nas quartas de final. Em 2016, na Copa América Centenário, melhorou, mas caiu na semifinal diante do campeão Chile e teve que se contentar com o 3º lugar. A equipe voltou a se classificar para uma Copa em 2018, mas caiu nas oitavas de final, nos pênaltis, diante da Inglaterra, encerrando a era Pékerman. Os cafeteros entraram em crise depois disso e não se classificaram para o Mundial do Catar em 2022. Com isso, a torcida espera que uma nova geração de atletas possa repetir os feitos do time de 2014, que conseguiu algo que nem os craques dos anos 1990 conseguiram. Uma seleção imortal.
Os personagens:
Ospina: convocado para a seleção desde 2007, Ospina virou uma referência no time cafetero e titular absoluto daquele período. Alternava grandes jogos com alguns apenas regulares. Mesmo não tão alto – tem 1,83m – se posicionava bem e demonstrava agilidade e reflexos apurados. Além disso, tinha qualidade na saída de bola e conseguia se virar com os pés. Tem 127 jogos pela seleção na carreira, um recorde.
Juan Camilo Zúñiga: vilão de muitos brasileiros por causa do fatídico lance com Neymar, o lateral sempre foi muito eficiente no setor defensivo e na marcação, além de iniciar boas jogadas de ataque. Começou a carreira no Atlético Nacional e depois vestiu a camisa de diversos clubes do futebol italiano, em especial do Napoli. Após a Copa, Zúñiga enviou uma carta com um pedido de desculpas para Neymar, aceita pelo brasileiro. O lateral perdeu espaço na seleção nos anos seguintes e disputou seu último jogo pela equipe em 2015.
Cristián Zapata: com quase 1,90m de altura, o zagueiro marcou época na seleção e foi um dos principais defensores colombianos do período. Marcador implacável, ótimo no jogo aéreo e com bom senso de posicionamento, fez uma cultuada dupla de zaga com Yepes. Depois de começar a carreira no Deportivo Cali, fez carreira principalmente no Milan, onde atuou de 2013 até 2019. Disputou 58 jogos e marcou dois gols pela seleção entre 2007 e 2019.
Mario Yepes: com 102 jogos e seis gols (é o 5º com mais jogos na história da seleção), foi capitão da Colômbia entre 2008 e 2014 e se consagrou como um dos principais zagueiros não só da Colômbia, mas também do futebol europeu. Exímio marcador, ótimo nos desarmes e no jogo aéreo, Yepes foi absoluto na seleção na época e também nos clubes que jogou – em especial River Plate, Nantes e PSG.
Pablo Armero: muito querido da torcida do Palmeiras, o lateral jogou na seleção de 2008 até 2017 e era muito forte no apoio ofensivo, nos cruzamentos e passes, além de marcar seus gols de vez em quando. Disputou 68 jogos pela seleção e marcou dois gols.
Abel Aguilar: fez uma boa dupla no meio de campo com Carlos Sánchez e ajudava a cobrir os espaços para dar mais liberdade aos pontas e a James. Foi presença constante na seleção de 2004 até 2018, disputando 71 jogos e marcando sete gols.
Fredy Guarín: com muita técnica, velocidade, dribles, cruzamentos e presença constante no ataque, Guarín foi o principal motor do grande Porto multicampeão de 2010-2011 e acabou ganhando espaço na seleção de Pékerman, embora não tivesse tantos jogos como titular por conta da boa fase de Sánchez e Aguilar. Na Copa, começou jogando a partida contra o Japão e o duelo contra o Brasil.
Carlos Sánchez: capaz de atuar como volante e também mais recuado como zagueiro, foi um dos preferidos do técnico Pékerman para dar combate no meio e garantir a segurança defensiva que o time cafetero demonstrou em boa parte daquele ciclo. Muito forte, ganhou o apelido de La Roca (a rocha). Exímio marcador, foi um dos destaques da Colômbia na Copa e saiu do Mundial muito valorizado. Foram 88 jogos pela seleção na carreira – 8º na lista dos que mais vestiram o manto cafetero.
Juan Cuadrado: driblador, rápido, criativo e com ótima visão de jogo, Cuadrado se transformou em um dos principais jogadores colombianos dos anos 2010. Jogando pelo lado direito, fez jogos marcantes e foi uma das principais armas do time na Copa. Deu quatro assistências no Mundial e foi o elo necessário para James brilhar. Com 115 jogos e 11 gols, é o segundo jogador com mais jogos na história da Colômbia. Se destacou majoritariamente pela Juventus entre 2015 e 2023.
James Rodríguez: “¡Yo soy colombiano, me llame de James Rodríguez!”. Quem não conhecia o meia antes do Mundial de 2014, acabou conhecendo depois da Copa espetacular que ele fez em terras brasileiras. Mesmo sem levar o título, o camisa 10 cravou seu nome na história ao marcar seis gols em cinco jogos, ser o artilheiro e Chuteira de Ouro da Copa. Ele fez gols em TODOS os jogos da Colômbia: um em cada partida da fase de grupos, dois na vitória por 2 a 1 sobre o Uruguai – um deles uma pintura que ganhou o Prêmio Puskás de gol mais bonito do ano – e outro na derrota para o Brasil, nas quartas de final, por 2 a 1. Tido como sucessor direto do lendário Carlos Valderrama, Rodríguez entrou para o All-Star Team da Copa e foi uma estrela de seu país naquele ano de ouro para sua carreira. Antes, já havia feito grandes jogos pelo Porto e também pelo Monaco.
Com grande visão de jogo, agilidade, passes precisos e faro de gol apurado, o camisa 10 era o meia dos sonhos naquela Colômbia e podia jogar tanto mais centralizado quanto aberto pela esquerda, além de fazer o papel de segundo atacante algumas vezes. Viveu o melhor ano da carreira naquela temporada e, após a Copa, foi jogar no Real Madrid, onde acabou não brilhando tanto pela falta de espaço diante dos vários atletas de meio de campo que o time tinha na época. Jogou também pelo Bayern, Everton, Al-Rayyan, Olympiacos e São Paulo. James tem 90 jogos e 26 gols pela Colômbia. É o 2º maior artilheiro da história da seleção e o 7º na lista de jogadores que mais vestiram a camisa da Colômbia.
Teófilo Gutiérrez: o atacante do River Plate viveu um grande ano em 2014, quando foi eleito o melhor jogador das Américas pelo El País. Embora não tenha sido o goleador do time na Copa, fez bons jogos e era o centroavante da equipe, atraindo a marcação para a chegada de James e dos ponteiros Cuadrado e Ibarbo. Ele é o 7º maior artilheiro da história da seleção colombiana com 15 gols em 51 jogos.
Jackson Martínez: o atacante começou no banco e ganhou sua chance no duelo contra o Japão, quando Pékerman escalou um time praticamente reserva. Martínez aproveitou e marcou dois gols na vitória por 4 a 1 que deu o 100% de aproveitamento aos cafeteros na primeira fase. Contra o Uruguai, o camisa 21 foi titular mais uma vez, mas acabou perdendo a vaga na partida contra o Brasil. Em 40 jogos pela seleção, marcou 9 gols.
Radamel Falcao: rápido, letal, incansável, oportunista, decisivo. Radamel Falcao García vivia uma fase esplendorosa naquela época e foi o principal artilheiro do país em 2013 e nos clubes que passou – Porto e Atlético de Madrid. A lesão que sofreu o privou de disputar uma Copa em alto nível e é de se imaginar como teria sido o desempenho da equipe se ele estivesse em campo. Imagine só o ataque com Falcao, James, Gutiérrez e Cuadrado? Com certeza a Colômbia venceria o Brasil e poderia dar uma canseira na Alemanha na semifinal. Radamel Falcao é o maior artilheiro da história da seleção com 36 gols em 104 jogos.
Carlos Bacca: vivendo grande fase pelo Sevilla multicampeão da Liga Europa, o atacante acabou preterido naquela seleção por causa da boa fase de Gutiérrez, mas poderia ter feito uma dupla interessante com o compatriota. Ele é o 6º maior artilheiro da história da Colômbia com 16 gols em 52 jogos.
Víctor Ibarbo: ponta-esquerda muito rápido e com boa visão de jogo, foi outro muito utilizado pelo técnico Pékerman naquele período. Não tinha faro artilheiro, mas sim de ajudar na construção de jogadas, passes e lançamentos.
Juan Quintero: com 21 anos na época, o meia era uma grata revelação do país na época e teve algumas chances no time principal naquele ciclo. Com qualidade nos passes e força nos chutes, acabou tendo mais chances nos anos seguintes. Brilhou no River Plate campeão da Libertadores de 2018.
José Pékerman (Técnico): ficou marcado para sempre por ter recolocado a Colômbia nos holofotes do futebol mundial e ter conduzido com maestria uma das seleções mais legais de se ver naquele biênio 2013-2014. Explorando a velocidade e talento dos jovens como sempre fez, o argentino conduziu a Colômbia até uma fase de quartas de final e poderia ter ido mais longe se tivesse Falcao ou mesmo ousado mais no segundo tempo contra o Brasil. Não conseguiu manter o nível nos anos seguintes, mas ainda sim disputou outra Copa em 2018 e só caiu nos pênaltis para a forte Inglaterra daquela temporada. Pékerman acumulou entre 2012 e 2018 um total de 78 jogos, com 43 vitórias, 20 empates e apenas 15 derrotas, com 127 gols marcados e 56 sofridos.
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Bom, Imortais, digo que você fez bonito ao fazer esse texto sobre essa Colômbia 2014, que tinha ótimos jogadores e foi muito bem comandada pelo José Pékerman.
Pessoalmente, acho que os colombianos não derrotaram aquele Brasil (medonho, ai!) por falta de sorte: teve a ausência do Falcao, tomaram gol cedo do Thiago Silva, o juiz anulou o gol do Yepes, David Luiz conseguiu ampliar e James diminuiu um pouco tarde. Enfim, não deu para os Cafeteros!
Essa Generación merecia ter sua história estendida, mas a sorte não sorriu para ela nos anos seguintes. Enfim, é coisa do futebol. Abraço, Imortais!
Verdade, eles mereciam sorte melhor naquela Copa. E a ausência do Radamel Falcao pesou muito no desempenho ofensivo e nas alternativas extras para o duelo contra o Brasil. Seria outro jogo, certamente. Mas, acontece, como você bem disse. Obrigado! Abraço! 🙂
Parabens pelo post guilherme antes de pegar o brasil a colombia era a melhor equipe da copa jogando bem e marcando belos gols mas ai como diria nelson rodrigues apareceu o sobrenatural de almeida no caminho pois a colombia levou dois gols de bola parada e no unico jogo que saiu atras nao conseguiu virar.sinceramente ate hoje eu nao entendo como eles perderam para o rabisco que era o brasil mas foi mais medo de moer o que sobrava do brasil do que merito nosso.
Obrigado, Everton! 🙂
E até seria melhor que eles tivessem passado pelo Brasil. Primeiro, porque a Colômbia merecia ter ido mais longe, merecia pelo menos ter ficado entre as quatro melhores do mundo. Segundo, porque eu acho que a Alemanha os venceria… mas nunca por 7 x 1. Essa vergonha os colombianos não passariam.
Mas que bom que aquela seleção foi eternizada no site. Mereciam mesmo.