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Esquadrão Imortal – Sevilla 2013-2016

O time de 2014 – Em pé: Beto, Mbia, Carriço, Pareja, Fazio e Rakitic. Agachados: Vitolo, Bacca, Moreno, Coke e Reyes. Foto: Getty images.

 

Grandes feitos: Tricampeão da Liga Europa da UEFA (2013-2014, 2014-2015 e 2015-2016). Tornou-se o primeiro (e até hoje único) clube a vencer por três vezes consecutivas a Liga Europa, o primeiro (e até hoje único) pentacampeão da história do torneio e o primeiro (e até hoje único) clube a ter o direito de utilizar o emblema com cinco troféus em sua camisa.

Time-base: Beto (Sergio Rico / David Soria); Coke (Aleix Vidal / Mariano), Pareja (Adil Rami / Kolodziejczak), Daniel Carriço (Federico Fazio) e Alberto Moreno (Fernando Navarro / Escudero / Trémoulinas); José Antonio Reyes, Krychowiak (Vicente Iborra), Mbia (N’Zonzi / Michael Krohn-Dehli) e Vitolo (Marko Marin / Konoplyanka); Éver Banega (Rakitic / Denis Suárez); Carlos Bacca (Gameiro / Fernando Llorente). Técnico: Unai Emery.

 

“Apaixonados pela Europa”

Por Guilherme Diniz

Vencer uma competição continental é uma tarefa árdua, para pouquíssimos clubes. É preciso planejamento, elenco, craques, uma dose de sorte e outros tantos ingredientes. Mais difícil ainda é vencer em um continente onde os clubes possuem orçamentos monstruosos e jogadores dos mais altos níveis: a Europa. Agora, imagine vencer uma competição europeia por mais de uma vez em sequência? Oras, aí já é algo quase impossível. Falando em Liga dos Campeões da UEFA, após alguns domínios nos anos 50, 60 e 70, o inesquecível Milan de 1989-1990 foi o único clube em 27 anos a levantar o mais badalado troféu do Velho Continente por duas vezes seguidas. Isso mesmo. Quase três décadas se passaram até o Real Madrid de Cristiano Ronaldo e companhia vencer a competição em 2016 e 2017. Na Liga Europa, assim chamada desde 2009 em substituição à Copa da UEFA, o grupo de campeões consecutivos é ainda mais exclusivo. O primeiro foi o Real, nos anos 80. Depois, veio o Sevilla, em 2006 e 2007.

E, na segunda década dos anos 2000, eis que o mesmo Sevilla começou a escrever uma história impressionante de absolutismo. Em 2014, eles foram campeões. Em 2015, bicampeões. Em 2016, tricampeões. Um. dois. Três troféus. Desde os anos 70 que não se via uma hegemonia tão grande em uma competição europeia como aquela. O esquadrão espanhol tinha paixão pela Liga Europa. Na verdade, amor puro. Nenhum clube sabia jogá-la e vencê-la tão bem como o time da Andaluzia. E, mais do que isso, os rojiblancos souberam se reinventar a cada temporada mesmo com a perda de seus principais jogadores. Eles golearam. Superaram adversários gigantes. Eliminaram o rival Betis no primeiro Dérbi da Andaluzia “europeu” da história. Contornaram uma partida tensa e dramática que só terminou nos pênaltis na final de 2014. Levaram um susto, mas viraram a decisão de 2015. E, no capítulo final, viraram mais um jogo e derrotaram o titã Liverpool, que nem com sua mística camisa conseguiu derrotar o maior soberano da história da Liga Europa. Ou seria “Liga Sevilla”? É hora de relembrar.

 

Depois da bonança vem a reconstrução

Após celebrar seu centenário de maneira fantástica entre 2005 e 2007, quando venceu um bicampeonato da Copa da UEFA, uma Supercopa da UEFA em cima do Barcelona de Ronaldinho, uma Copa do Rei, uma Supercopa da Espanha e alcançar um terceiro lugar em La Liga de 2006-2007 com um grande time composto por Palop, Daniel Alves, Javi Navarro, Adriano, Puerta, Jesús Navas, Renato, Luís Fabiano, Kanouté, Saviola entre outros (leia mais clicando aqui!), o Sevilla passou por uma natural entressafra no começo da segunda década do século e perdeu os grandes nomes daquela era brilhante.

Na temporada 2012-2013, a equipe começou a sentir a falta de bons jogadores e amargava uma indigesta 12ª posição no Campeonato Espanhol em meados de janeiro de 2013 que acabou culminando com a saída do técnico Míchel. Para seu lugar, o clube da Andaluzia contratou o basco Unai Emery, que vinha de trabalhos no Valencia e no Spartak Moscow. Ele conseguiu evitar um possível descenso do time, manteve o Sevilla na elite (o clube terminou na 9ª colocação) e chegou até as semifinais da Copa do Rei, quando foi eliminado pelo futuro campeão Atlético de Madrid (leia mais clicando aqui).  

Unai Emery, novo técnico do Sevilla em 2013.

 

A diretoria iniciou a temporada 2013-2014 precisando urgentemente de capital para reformular o time e sanar dívidas. Com isso, foram vendidos Negredo, Jesús Navas, Antonio Luna, Luis Alberto (espanhol, não é o zagueiro brasileiro), José Campaña e Gary Medel. Todos renderam aproximadamente 56,5 milhões de euros aos cofres do clube, que pôde contratar novos nomes para o elenco, com destaque para o atacante colombiano Carlos Bacca (ex-Club Brugge, por sete milhões de euros), o também atacante Kévin Gameiro (francês, ex-PSG, por dez milhões de euros), o atacante Vitolo (espanhol, ex-Las Palmas) e os empréstimos do volante e defensor camaronês Stéphane Mbia, vindo do Queens Park Rangers, e do defensor português Daniel Carriço, ex-Reading.

Não foram muitos reforços, mas seriam pontuais graças ao olhar clínico em ver talentos com alto custo-benefício do diretor de futebol Ramón Rodríguez Verdejo, mais conhecido como Monchi, que desde 2000 trazia ao clube jogadores quase a custo zero como Daniel Alves, Júlio Baptista, Jesús Navas, Keita, Reyes, Sergio Ramos (revelado nas “canteras” do Sevilla) e Rakitic, isso só para citar alguns.

Monchi, o grande responsável pelas contratações (e vendas) do Sevilla na época.

 

Os reforços serviram para o técnico Emery criar um time mais forte ofensivamente com os bons nomes que já estavam no escrete sevilhano como Fernando Navarro, Ivan Rakitic, José Antonio Reyes, Alberto Moreno e Coke. Emery nomeou o croata Rakitic como capitão do time e deu ao talentoso meio-campista a liberdade para ser o grande maestro das ações. Com ele em campo, o Sevilla tinha um diferencial e poderia causar problemas aos grandes rivais tanto na Espanha quanto na Liga Europa, competição que o time iria disputar desde a longínqua terceira fase de qualificação, que daria uma vaga no play-off para só depois ganhar uma vaga na fase de grupos. Emery fez da competição a grande vedete da temporada. Os torneios nacionais serviriam para entrosar o time e dar embalo para os compromissos continentais. Era hora de voltar aos trilhos e aos holofotes.

 

Esquentando os motores

Rakitic, craque do time na temporada 2013-2014.

 

Após participar de um torneio amistoso na América do Sul e vencer a Universidad de Chile por 2 a 0, o Barcelona-EQU por 3 a 1 e empatar em 1 a 1 com o Atlético Nacional-COL, os espanhóis voltaram para casa e tiveram como primeiro compromisso a terceira fase classificatória da Liga Europa, na qual enfrentou o desconhecido Mladost Podgorica, de Montenegro. O primeiro gol num jogo oficial da temporada foi do colombiano Carlos Bacca, que abriu o caminho para a boa vitória de 3 a 0 sobre os montenegrinos. Na volta, o time andaluz aplicou sonoros 6 a 1 no rival e se classificou com tranquilidade para o play-off.

O adversário seguinte foi o Slask Wroclaw-POL, que levou 4 a 1 na ida, em Sevilha (dois gols de Marin, um de Rakitic e um de Gameiro) e 5 a 0 na volta, na Polônia (dois gols de Bacca, um de Rakitic, um de Jairo e outro de Perotti). Pronto. O Sevilla estava classificado para a fase de grupos. Ela começaria no dia 19 de setembro para a equipe, mas o Campeonato Espanhol já estava a pleno vapor e o time ainda não tinha se encontrado: eram duas derrotas e dois empates em quatro jogos.

Só na sexta rodada que os rojiblancos venceriam a primeira: 4 a 1 sobre o Rayo Vallecano, em casa. Dali em diante foram mais dois empates e duas vitórias até a desastrosa derrota de 7 a 3 para o Real Madrid, fora de casa, com show de Cristiano Ronaldo. Após aquele resultado, muitos já descartavam o Sevilla no top 5 do campeonato. Na Copa do Rei, a história foi decepcionante: eliminação logo no primeiro compromisso diante do Racing Santander.

Por outro lado, o Sevilla caiu em um grupo relativamente fácil na Liga Europa e passou bem pelos rivais Slovan Liberec-RCH, Freiburg-ALE e Estoril-POR. No turno, vitórias sobre os portugueses (2 a 1), fora de casa, sobre os alemães (2 a 0), em casa, e sequência de três empates com checos (1 a 1), fora e em casa, e portugueses (1 a 1), em casa. Na última rodada, a vitória por 2 a 0 sobre o Freiburg classificou os espanhóis para a fase de mata-mata com 12 pontos, três vitórias e três empates em seis jogos. A caminhada europeia ajudou a entrosar mais o time e fez com que os andaluzes iniciassem uma sequência de oito jogos sem derrotas entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, incluindo uma goleada de 4 a 0 sobre o rival Betis, em casa, com gols de Bacca, Mbia, Vitolo e Iborra. Curiosamente, aquela sapecada colocou o time de Emery na quinta colocação do campeonato. A torcida via com bons olhos os próximos compromissos do clube. Principalmente na Liga Europa, a grande cobiça rojiblanca.

 

O triunfo histórico

Reyes celebra: vitória sobre o rival na Liga Europa. Foto: AFP / Getty.

 

Na fase de 16 avos de final, o Sevilla enfrentou os eslovenos do Maribor e empatou em 2 a 2 o primeiro duelo, fora de casa. Na volta, Reyes e Gameiro fizeram os gols da classificação e do triunfo por 2 a 1. Nas oitavas, a torcida se entusiasmou quando viu o rival seguinte: Real Betis. Sim, o grande adversário da Andaluzia. Seria o primeiro derby europeu da história entre a dupla. As torcidas ficaram simplesmente em polvorosa com o peso histórico do confronto. Para esse duelo, o técnico Emery decidiu fazer uma mudança no time e escalou o goleiro Beto – então titular nos jogos de La Liga – no lugar de Varas – titular durante a Liga Europa.

A ideia do treinador era que o arqueiro português, por estar mais acostumado com os rivais espanhóis, ajudasse com a experiência obtida “em casa” também na competição continental. No entanto, na partida de ida, no Ramón Sánchez Pizjuán simplesmente tomado por mais de 35 mil pessoas, os supersticiosos certamente questionaram a escolha do técnico. Em casa, o Sevilla levou um baque e perdeu por 2 a 0, com um gol marcado por um jogador com Sevilla no nome (Salva Sevilla. Acredite!). Mesmo com mais posse de bola, jogando em casa e um elenco melhor no papel, o time de Emery saiu derrotado. Beto não teve culpa nos gols e foi mantido para a partida seguinte. Mas a questão era: como reverter aquele placar na casa do rival, que receberia quase 50 mil pessoas? Oras, jogando futebol!

Com mais posse, futebol ofensivo, rápido e ótima partida coletiva – além de boas atuações de Marko Marin e Gameiro -, o Sevilla devolveu o placar da ida, com gols de Reyes e Bacca, um em cada tempo, e o jogo acabou indo para a prorrogação, e, depois, pênaltis. Nas cobranças, melhor para o Sevilla, que demonstrou controle de nervos e venceu por 4 a 3. Os rojiblancos venciam o primeiro derby da Andaluzia continental da história! Nunca a noite de Sevilha foi tão longa… E nunca uma vitória embalou tanto um time como aquela.

Já no returno de La Liga, a equipe chegou ao sexto triunfo consecutivo seis dias depois da classificação com uma vitória maiúscula de virada por 2 a 1 sobre o Real Madrid, em casa, com dois gols de Carlos Bacca e mais uma ótima atuação de Rakitic, que deu chapéu em Pepe, assistência para Bacca no segundo gol (foi a décima do meio-campista no campeonato à época) além de comandar as atuações do time. A equipe seguiu firme na quinta colocação na tabela e sacramentou tal posição no fim das contas, com 18 vitórias, nove empates, 11 derrotas, 69 gols marcados (quarto melhor ataque) e 52 sofridos. Gameiro, com 15 gols, foi o artilheiro do time na competição, seguido de Bacca, com 14, e Rakitic, com 12.

 

Na raça, na final!

Mbia (centro) comemora: gol salvador contra o Valencia!

 

Após vencer o Betis, o Sevilla encarou o Porto-POR. No primeiro duelo, em Portugal, Mangala fez o gol solitário da vitória portista por 1 a 0. Na volta, em Sevilha, o time da casa deu show. Logo aos cinco minutos, Rakitic, de pênalti, fez 1 a 0. Aos 26’, Vitolo aproveitou a deixa de Bacca e só tocou para o gol. Três minutos depois, Bacca fez 3 a 0. No segundo tempo, mesmo com um a menos, o Sevilla fez o quarto com Gameiro, e Quaresma descontou tardiamente para o Porto já nos acréscimos: 4 a 1. O Sevilla estava na semifinal!

O rival seguinte seria mais um vindo da Espanha: o Valencia, campeão em 2003-2004 (leia mais clicando aqui) e em busca do bicampeonato (vale lembrar que o Valencia venceu duas Copas das Cidades com Feiras, a predecessora da Copa da UEFA, nos anos 60). Conhecedor de algumas características do clube, afinal, ele foi treinador do Valencia entre 2008 e 2012, Unai Emery mandou a campo no primeiro jogo, em Sevilha, um time muito rápido nos contragolpes e foi beneficiado por isso. Com gols de Mbia e Bacca, o Sevilla venceu por 2 a 0 e foi para o jogo de volta com uma boa vantagem. Porém, os torcedores rojiblancos viveram momentos de pânico no Mestalla.

Mbia cabeceia…

 

… E o Sevilla comemora: na final! Fotos: AFP / Getty Images.

 

Irreconhecível, o Sevilla simplesmente deitou na vantagem que havia construído e deixou o Valencia dominar as ações desde o início do jogo. Feghouli, aos 14’, fez 1 a 0 para os donos da casa. Minutos depois, uma cabeçada fulminante de Jonas bateu no travessão, nas costas de Beto, e entrou: 2 a 0. Na segunda etapa, Mathieu fez 3 a 0 e explodiu o Mestalla, que via a classificação dos morcegos para a final ser sacramentada com justiça. Porém, você sabe como é o futebol… Quando menos se espera, quando todos já cantam vitória, nos últimos segundos, algo pode acontecer. Dito e feito. Nos acréscimos, aos 49’, numa bola alçada na área, Fazio desviou e Mbia mandou a bola para o gol. Silêncio do lado valenciano. Alegria imensurável do lado sevilhano. Com o 3 a 3 no agregado, os rojiblancos estavam na final graças ao gol marcado fora. Era hora de tentar o tri em Turim. Mas seria preciso derrotar um rival angustiado e sedento por um título continental que ele não via desde os anos 60: o Benfica.

 

A mais suada!

No dia 14 de maio de 2014, Turim vestiu as cores do Benfica e do Sevilla para a decisão da Liga Europa, disputada no Juventus Stadium com quase 40 mil pessoas. Em campo, dois objetivos distintos em jogo: do lado do Sevilla, a busca pelo tricampeonato da Liga Europa e a igualdade histórica em número de títulos com Juventus, Internazionale e Liverpool, até então os únicos a vencer o torneio por três vezes. Do lado português, mais do que um título inédito, a vitória valeria o fim de uma maldição. Peraí, que história é essa?! Sim, vamos voltar no tempo.

No começo dos anos 60, após o Benfica vencer o bicampeonato da Liga dos Campeões da UEFA (leia mais clicando aqui), o então técnico do clube, Béla Guttmann (leia mais sobre o “feiticeiro” clicando aqui!), pediu um aumento de salário ao clube português, que negou. Pois o húngaro lançou a seguinte pérola:

Nem nos próximos 100 anos uma equipe portuguesa será campeã europeia e o Benfica não voltará a ser campeão europeu sem mim”.

A tal profecia se cumpriu pela metade, pois o Porto, que é uma equipe portuguesa, conquistou dois títulos da Liga dos Campeões e outros dois da Copa da UEFA / Liga Europa. Em compensação o Benfica… perdeu simplesmente todas as finais europeias que disputou desde aquela frase catastrófica – cinco finais de Liga dos Campeões, uma de Copa da UEFA e uma da Liga Europa, justamente na temporada anterior, em 2013, para o Chelsea-ING. Já eram impressionantes 51 anos de jejum.

O Sevilla de 2014: Rakitic era o maestro das ações ofensivas de um time forte e muito equilibrado.

 

Ou seja, aquela final valia muito, mas muito para ambas as equipes. E, por causa disso, ninguém quis errar, nem arriscar, e o placar permaneceu intacto durante os 90 minutos e também na prorrogação. Bacca, a grande esperança de gols dos andaluzes, parou na marcação, assim como Rakitic, que não conseguiu fazer aflorar seu talento com os companheiros presos entre os rivais. Foi então que, na marca da cal, o goleiro Beto, tão importante no tempo normal com suas defesas, provou ter estrela. Ele defendeu dois chutes e garantiu o 4 a 2 que deu ao Sevilla o tri da Liga Europa – e manteve a tal da maldição de Guttmann pelas bandas do Benfica.

O título consagrou o futebol de Rakitic, o ótimo trabalho de recuperação do técnico Emery a partir de janeiro e a boa forma de Bacca, eleito pela mídia espanhola a melhor contratação da temporada e o melhor jogador sul-americano do ano de 2014 em La Liga. Na caminhada europeia, o Sevilla disputou 19 jogos, venceu 11, empatou cinco e perdeu apenas três, com 40 gols marcados e 16 sofridos. Gameiro, com cinco gols, foi o artilheiro do time na competição (na artilharia geral, são excluídos os gols marcados nas fases classificatórias e nos play offs. Contando as outras fases, Bacca seria o artilheiro com sete gols – quatro na fase principal e três nas preliminares). Emery destacou o adversário e seus jogadores após o jogo:

 

“O Benfica foi – como nós – um digno finalista. O jogo foi bastante truncado, e na parte final eles pressionaram mais um pouco. Dava para ver o cansaço existente, as mazelas físicas. Se há uma coisa que aprendemos a fazer, foi sofrer. Os jogadores estavam preparados para isso”. – Unai Emery, em entrevista ao site da UEFA, 14 de maio de 2014.

 

Enfim, o Sevilla voltava ao cenário europeu depois de sete anos. Mas aquela fama estava apenas começando…

 

Saídas, reforços e vice

Unai Emery. Foto: AFP / Getty Images.

 

Com o iminente sucesso e exposição, o Sevilla viu três grandes destaques do time saírem da Andaluzia no começo da temporada 2014-2015. Rakitic foi contratado pelo Barcelona-ESP por 18 milhões de euros, Fazio foi jogar no Tottenham-ING por oito milhões de libras, Alberto Moreno fechou com o Liverpool-ING por 12 milhões de libras, e Marko Marin voltou ao Chelsea. Com mais uma boa leva de dinheiro em caixa – outra vez as tacadas de Monchi foram certeiras e lucrativas -, o Sevilla foi às compras e trouxe novos e pontuais nomes. Entre eles, destaque para Éver Banega, argentino ex-Valencia que chegou (por cerca de dois milhões de euros) para assumir a posição que era de Rakitic; o polonês Grzegorz Krychowiak (ex-Reims, ao custo de 4,5 milhões de euros), que veio para compor o meio de campo; o lateral-direito Aleix Vidal (ex-Almería, ao custo de 3,5 milhões de euros); e o meio-campista espanhol Denis Suárez, emprestado pelo Barcelona, que veio como parte do acordo envolvendo Rakitic.

Com os novos jogadores, Emery conseguiria montar uma equipe mais forte do que a temporada anterior. Vidal, polivalente, poderia jogar tanto na lateral direita quanto na ponta-direita, caso Reyes não pudesse atuar. No meio, Banega não tinha o mesmo talento que Rakitic na criação, mas possuía visão, bom passe e chegava bem na grande área, além de poder atuar como segundo volante. Na frente, Bacca continuaria o matador, ainda mais maduro e voltando para ajudar na marcação.

Mas o grande reforço foi no meio de campo. O polonês Krychowiak seria, assim como Bacca foi em 2013-2014, a grande contratação do Sevilla naquela temporada com um futebol de presença física, marcado por ótimos passes e boas ligações com o ataque, qualidades fundamentais no esquema do técnico Emery. O primeiro teste do time não foi bom, pois terminou com derrota por 2 a 0 na final da Supercopa da UEFA diante do Real. Porém, a temporada mostraria uma nova face daquele Sevilla: a de um time devastador em casa e muito perigoso fora dela.

 

Na força da Andaluzia

Foto: EPA/Jose Manuel Vidal

 

Ao contrário da temporada anterior, o Sevilla começou muito bem o Campeonato Espanhol, e, após empatar em 1 a 1 com o Valencia, na estreia, venceu quatro jogos seguidos e cravou seu lugar na parte de cima da tabela. A equipe tropeçou só na sexta rodada, fora de casa, diante do Atlético de Madrid, mas se recuperou e venceu mais três jogos seguidos. Com um ataque fulminante comandado pelo goleador Bacca, a equipe terminou o primeiro turno na quinta posição, buscando uma vaga na Liga dos Campeões. No returno, o time embalou e ficou dez jogos sem perder, com destaque para o empate em 2 a 2 com o Barça do trio MSN, quando os catalães abriram 2 a 0 (gols de Messi e Neymar), mas os sevilhanos foram atrás do empate com gols de Banega e Gameiro. Com essa sequência, o Sevilla acumulou incríveis 34 jogos sem derrota em jogos oficiais em casa. A última equipe que havia vencido os rojiblancos fora o Betis, nas oitavas da Liga Europa, lá em março de 2014.

No entanto, a escrita foi derrubada no dia 02 de maio de 2015, quando o Real Madrid venceu o time de Emery no Ramón Sánchez Pizjuán por 3 a 2, com três gols de Cristiano Ronaldo. Nos três jogos finais da temporada nacional, o Sevilla empatou com o Celta, fora, e venceu Almería (em casa) e Málaga (fora), resultados que consolidaram a 5ª colocação do time e uma campanha bem melhor que a de 2013-2014: 38 jogos, 23 vitórias, sete empates, oito derrotas, 71 gols marcados, 45 sofridos e 76 pontos ganhos. Em casa, o Sevilla venceu 13, empatou cinco e perdeu apenas um. Fora, venceu dez, empatou dois e perdeu sete. Carlos Bacca foi o artilheiro do time e o 5º no campeonato com 20 gols em 37 jogos. Ainda no âmbito nacional, o Sevilla chegou até as quartas de final da Copa do Rei, onde acabou eliminado pelo Espanyol. Mas o que o time da Andaluzia fez de histórico, mesmo, foi no âmbito internacional…

 

Caminho mais curto

Suárez, do Sevilla, vibra no jogo contra o Rijeka. Foto: AFP / Getty Images.

 

Ao contrário de 2013-2014, o Sevilla começou a Liga Europa de 2014-2015 já na fase de grupos, qualificado no Grupo G, ao lado do holandês Feyenoord, do croata Rijeka e do belga Standard Liège. O primeiro desafio foi contra o Feyenoord, em casa, e o time espanhol venceu por 2 a 0, gols de Krychowiak e Mbia. Nos dois jogos seguintes, ambos fora de casa, empates contra Rijeka (2 a 2, com um gol salvador de Mbia nos acréscimos do segundo tempo) e Standard Liège (0 a 0). No returno, os rojiblancos venceram os belgas em casa por 3 a 1, perderam a primeira (que também seria a única!) para o Feyenoord (2 a 0, fora) e venceram o Rijeka por 1 a 0, em casa, com um gol do jovem Suárez e se classificaram em segundo lugar no grupo, um ponto atrás do Feyenoord.

No mata-mata, o primeiro adversário dos espanhóis foi o Borussia Mönchengladbach-ALE, cheio de tradição no torneio com os dois troféus conquistados com o timaço dos anos 70 (leia mais clicando aqui). Porém, o time de Emery não se importou com a história dos alemães e venceu os dois jogos. Na ida, em Sevilha, Iborra fez o gol do triunfo por 1 a 0. Na volta, em um Borussia Park com mais de 45 mil pessoas, Bacca abriu o placar logo aos oito minutos, mas Xhaka empatou. Vitolo, aos 26’, fez 2 a 1 Sevilla, até que Thorgan Hazard – irmão mais novo do famoso Eden Hazard – empatou de novo para os alemães.

No segundo tempo, o Sevilla mostrou frieza, esperteza em aproveitar os espaços deixados pelo rival com um a menos e fez mais um, com Vitolo. O 3 a 2 deu ao time espanhol a classificação para as oitavas de final. Nela, a equipe da Andaluzia teve pela frente um rival doméstico, o Villarreal, a exemplo do que acontecera na temporada anterior. Sem dar brechas para o azar, o Sevilla tratou de liquidar a fatura logo no primeiro jogo, fora de casa, quando Vitolo, com um minuto de jogo, e Mbia, aos 26’, abriram 2 a 0 na primeira etapa. Aos 3’ do segundo tempo, o Villarreal empatou, mas dois minutos depois, Gameiro fez 3 a 1 e deixou o time rojiblanco mais tranquilo para a volta. Em casa, o Sevilla fez 2 a 1 e se garantiu nas quartas, em um jogo que teve Carriço alcançando 44 jogos de Liga Europa na carreira.

Bacca, artilheiro do time, celebra contra o Zenit. Foto: AFP / Getty Images.

 

Na etapa seguinte, mais um ex-campeão cruzou o caminho dos espanhóis: o Zenit-RUS, que havia eliminado o PSV-HOL e o Torino-ITA. Na ida, no Ramón Sánchez Pizjuán, os russos saíram na frente no primeiro tempo e dificultaram bastante as coisas, mas o Sevilla dominou as ações, atacou sem parar o rival e encontrou seus gols na segunda etapa. Emery colocou Bacca e Suárez no jogo nos lugares de Gameiro e Coke, respectivamente, e foi justamente a dupla de frente que decidiu o jogo. O colombiano, de cabeça, empatou, aos 28’. E, aos 43’, Suárez foi mais uma vez talismã e fez um golaço de primeira que selou a vitória por 2 a 1 e a vantagem do empate na partida de volta, na Rússia.

Naquela partida, ficou claro que Bacca não podia ficar fora do time titular, por mais que Emery quisesse poupar seus atletas. Gameiro era bom, mas o colombiano vivia uma fase fantástica e prolífica. Além dele, Reyes foi capitão e mostrou sua experiência com grandes passes, visão de jogo e muita qualidade para as ações do time em campo. Lá em São Petersburgo, os rojiblancos empataram em 2 a 2 (com mais um gol de Bacca e outro de Gameiro) e alcançaram a semifinal.

Vidal destroçou a Fiorentina na semifinal! Foto: AFP / Getty Images.

 

No último desafio antes da final, os torcedores do Sevilla ficaram apreensivos com a Fiorentina-ITA, rival do time. É que a Viola vinha de vitórias categóricas contra o Tottenham Hotspur-ING, Roma-ITA e Dynamo de Kiev-UCR. No entanto, o campeão mostrou sua força logo no primeiro duelo, em casa. Com atuações formidáveis dos laterais Vidal e Trémoulinas, que apoiaram constantemente o ataque, e o meio de campo impecável como sempre com Mbia cheio de fôlego e Krychowiak ganhando todas as disputas, o Sevilla atropelou os italianos: 3 a 0, com dois gols de Vidal e um de Gameiro.

Foi um jogo marcante do time espanhol, ainda mais pela força da torcida no caldeirão da Andaluzia, que já dava ao time o nono triunfo consecutivo em casa em jogos europeus. Na volta, Bacca e Carriço fizeram os gols da vitória por 2 a 0, ainda no primeiro tempo, e selaram um incontestável 5 a 0 no agregado que colocou o Sevilla em mais uma decisão da Liga Europa. Era a quarta final em apenas dez anos, algo surpreendente se tratando de torneios continentais na Europa. Mas todo cuidado era pouco, pois eles teriam um rival curioso e ao mesmo tempo perigoso pela frente: o Dnipro Dnipropetrovsk, da Ucrânia.

 

Varsóvia, a casa do tetra

O estádio Nacional de Varsóvia, na Polônia, recebeu 45 mil pessoas para a final da Liga Europa de 2014-2015. Olhando os dois times finalistas, era mais do que claro que o Sevilla levava todo o favoritismo para si e as preferências em todos os prognósticos de futebol da época. Era o atual campeão, tinha um time letal nas jogadas ofensivas, sabia muito bem como disputar aquela competição e estava invicto no mata-mata, com sete vitórias e um empate. Mas a zebra Dnipro havia eliminado o Ajax-HOL e sua camisa pesadíssima nas oitavas e o Napoli-ITA na semifinal. Não era pouca coisa. E eles provaram que não era mesmo quando abriram o placar da decisão aos sete minutos, com Kalinic.

Mas ainda tinha muito jogo pela frente. E todo o ataque do Sevilla em campo. Rápido, organizado e cheio de munição para um bombardeio incessante, o Sevilla atacou sem dó o rival até chegar ao empate com Krychowiak, aos 28’. Apenas três minutos depois, as estrelas de dois craques do time apareceram. Reyes, soberbo, deu um lindo passe para Bacca, que limpou com categoria o goleiro e marcou um golaço: 2 a 1. Os ucranianos não se deram por vencidos, e, aos 44’, Rotan, de falta, fez 2 a 2. Que jogo! Quanta energia!

O time de 2015 era mais experiente, coeso e teve em Bacca seu principal ponto de referência no ataque, além de um meio de campo muito forte. Dos três times, este foi o que teve o maior aproveitamento de pontos: 65%.

 

Na segunda etapa, o ritmo diminuiu um pouco, mas a partida continuou ótima. O problema é que o Dnipro começou a recuar, recuar… E isso não se faz em uma final. Ainda mais de Liga Europa contra o time que mais sabe jogá-la. Aos 28’, Bacca recebeu de Vitolo e marcou um gol fácil, típico de pelada de fim de semana: 3 a 2. Tempo depois, quase fez o quarto, mas o goleiro Boyko evitou o pior para os azuis. Nos minutos seguintes, o time espanhol se segurou e esperou o apito do árbitro para celebrar seu segundo bicampeonato consecutivo da Liga Europa, a quarta taça no torneio e o recorde de se tornar o primeiro clube tetracampeão. Foram 15 jogos, 11 vitórias, três empates, uma única derrota, 29 gols marcados e 14 gols sofridos.

 

Era um momento histórico para os rojiblancos, que igualavam o feito do grande time de Juande Ramos lá de 2006/2007. Unai Emery havia montado um escrete muito organizado, com jogadores aplicados taticamente e que compunham um dos melhores times da Europa. E Carlos Bacca, com seus dois gols, se consagrava de vez como um dos maiores e mais decisivos ídolos do Sevilla. O artilheiro marcou sete gols na Liga Europa e foi o grande goleador do time, atrás apenas de Alan (Salzburg-AUT) e Lukaku (Everton-ING), com oito gols cada. Além disso, Bacca foi o artilheiro do clube na temporada com 28 gols, seguido de Gameiro, com 16, e Iborra e Vitolo, com nove cada. O caneco deu ao Sevilla uma vaga na Liga dos Campeões da UEFA de 2015-2016. Mas a dúvida era a seguinte: será que aquele time iria se acostumar a ficar longe de sua querida Liga Europa depois duas temporadas de namoro?

 

Nova (velha) reconstrução

Mais uma vez o Sevilla fez caixa com os jogadores que se destacaram na ótima caminhada de 2014-2015 e movimentou o mercado de transferências na temporada 2015-2016. Bacca, o ídolo e artilheiro, foi vendido ao Milan-ITA por cerca de 30 milhões de euros. Vidal acertou sua ida ao Barcelona-ESP por 17 milhões de euros. Mbia e Navarro deixaram o clube a custo zero ao final de seus contratos e Suárez retornou ao Barcelona após o fim de seu empréstimo.

Para suprir as ausências dos principais nomes da época passada, a diretoria contratou o meio-campista N’Zonzi (ex-Stoke City-ING, por oito milhões de euros); o lateral-direito Mariano (ex-Bordeaux-FRA, por 3,5 milhões de euros); o zagueiro Adil Ramil (ex-Milan-ITA, por 3,5 milhões de euros); o lateral-esquerdo Escudero (ex-Getafe-ESP, por três milhões de euros) e três jogadores a custo zero: Fernando Llorente (atacante), Michal Krohn-Dehli (meio-campista) e Konoplyanka (destaque do Dnipro, para a ponta esquerda).

Naquele amplo leque de contratações, a grande decepção ficaria por conta do atacante Immobile, ex-Borussia Dortmund, que chegou por 11 milhões de euros (contratação mais cara do Sevilla naquela temporada) e não fez nada de bom nos meses em que jogou na Andaluzia. Foram 15 jogos, quatro gols e saída já em janeiro de 2016, quando foi emprestado ao Torino-ITA.

Emery teve que reorganizar mais uma vez o time e colocou Gameiro como atacante isolado na frente, com Iborra, Reyes e Vitolo nas ações ofensivas pelo meio e o teste de Krohn-Dehli e Banega mais recuados em alguns jogos, além de Krychowiak como volante e também como zagueiro quando necessário. No setor defensivo, Coke e Trémoulinas assumiram as laterais, enquanto Kolodziejczak e Rami formaram a dupla de zaga.

Emery era fiel ao seu estilo de priorizar o coletivo, de nunca deixar o time tão dependente de um só jogador e de tentar definir um jogo em jogadas cirúrgicas, sem a constante troca de passes característica de muitos times da Europa – prova disso é que na maioria das vezes o Sevilla tinha menos posse do que os rivais, até mesmo jogando sob seus domínios. O técnico basco tinha a Liga dos Campeões como grande vedete da temporada. Mas, antes, seus comandados participariam de um jogo histórico.

 

Supercopa alucinante

Daniel Alves é acompanhado de perto por Vitolo e Reyes (à direita, ao fundo).

 

Para abrir a temporada, o Sevilla enfrentou o Barcelona na final da Supercopa da UEFA, em Tbilisi, Geórgia. Seria um grande teste do novo time de Emery. E realmente foi. Naquele dia, o continente viu um jogo alucinante, vibrante, mágico. Foram nove gols. Golaços. E uma reação dos rojiblancos simplesmente inesquecível. Com apenas três minutos, Banega cobrou uma falta com categoria e fez 1 a 0 Sevilla. Na sequência, Messi também quis mostrar que sabia bater falta com estilo e empatou: 1 a 1. Aos 16’, Messi cobrou outra falta com perfeição e virou. Aos 44’, Rafinha fez 3 a 1. No começo da segunda etapa, Suárez fez 4 a 1 e transformou a decisão em uma goleada catalã. Mas o Sevilla não iria deixar barato.

Cinco minutos depois, Reyes aproveitou uma bobeada da zaga e diminuiu. Aos 27’, Gameiro, de pênalti, fez 4 a 3. E, aos 36’, Konoplyanka empatou um jogo tido como perdido: 4 a 4. Oito gols. Em uma final. Era algo raríssimo de se ver na Europa. E mais raro ainda era ver o Barcelona levar quatro gols num jogo! Com força e personalidade, o Sevilla mostrava que iria brigar muito naquela temporada. Ao apito final, o duelo foi para a prorrogação, onde brilhou a estrela de Pedro, que “achou” um gol após grande defesa de Beto em chute de Messi e fez o tento do triunfo catalão por 5 a 4. Os rojiblancos terminaram com o vice, mas a partida desempenhada na Geórgia foi digna de aplausos. A torcida podia esperar muito para aquela temporada.

 

Algoz dos gigantes em uma La Liga inconstante

Com a Liga dos Campeões na pauta, o Sevilla não levou muito a sério o Campeonato Espanhol, e, ao contrário da temporada anterior, fez uma campanha ruim. Aliás, péssima, se analisarmos o time que ele tinha e o balanço geral após as 38 rodadas. Foram 14 vitórias, dez empates e 14 derrotas, com apenas 51 gols marcados e 50 gols sofridos. Em casa, o time venceu 14 jogos, perdeu quatro e empatou um. Mas o pior ficou nos compromissos longe do Ramón Sánchez Pizjuán. Foram dez derrotas, nove empates e… Nenhuma vitória! Os rojiblancos foram irreconhecíveis. Ninguém entendeu. No começo do campeonato, foram cinco rodadas sem vencer. E, nas nove rodadas finais, uma vitória, um empate e sete derrotas. Tal desempenho deixou o Sevilla apenas na 7ª colocação.

Os únicos bons momentos foram no primeiro turno, quando a equipe recebeu os gigantes Barcelona e Real Madrid em seus domínios. No dia 04 de outubro de 2015, os andaluzes venceram os catalães por 2 a 1, com grande atuação do goleiro Sergio Rico, cria das bases que ganhava cada vez mais chances no time titular, de Gameiro, ótimo nas triangulações do ataque, e do meio-campista Krohn-Dehli, autor de um dos gols. Um mês depois, foi a vez do Real Madrid tomar três gols dos andaluzes e perder por 3 a 2, num jogo que poderia ser 4, 5 ou até 6 a 2 para o time de Emery tamanho o volume de jogo dos donos da casa.

Na outra competição nacional, a Copa do Rei, os andaluzes chegaram até a final, com destaque para as vitórias sobre o rival Betis nas oitavas de final por 2 a 0, fora de casa, e um histórico 4 a 0, em casa. Na decisão, os rojiblancos enfrentaram o Barcelona, e, após empate sem gols no tempo normal, os catalães venceram por 2 a 0, com gols de Jordi Alba e Neymar. Aquele foi o último jogo da temporada rojiblanca. A torcida até pensou que poderia gritar é campeão de novo, mas o título escapou por pouco. Mas o que chamava atenção é que muitos dos que estiveram no Vicente Calderón naquele dia 22 de maio estavam meio roucos. Parecia que grande parte daquela gente havia feito grandes esforços com as cordas vocais… Por que será? Oras, efeitos decorrentes de um evento ocorrido quatro dias antes, lá na Suíça. É hora de descobrir qual foi…

 

Eles não aguentaram a separação

A falta de constância no Campeonato Espanhol foi, além das perdas de grandes jogadores no time titular, a concorrência com a Liga dos Campeões da UEFA. O Sevilla estava qualificado no complicado Grupo D, ao lado de Juventus-ITA, Manchester City-ING e Borussia Mönchengladbach-ALE. A grande máxima do time seria vencer obrigatoriamente os três jogos em casa e arrancar pelo menos três pontos dos outros três duelos fora da Andaluzia para sonhar com uma vaga nas oitavas. Na estreia, em casa, contra os alemães, a torcida se encheu de esperança quando viu Gameiro, Banega e Konoplyanka anotarem os gols da goleada de 3 a 0 dos espanhóis. Porém, a partir dali, tudo ruiu. Contra Juventus e City, ambos fora de casa, derrotas por 2 a 0 e 2 a 1, respectivamente. Contra os ingleses foi a mais doída por ter sido de virada, com gol contra de Rami e o gol da vitória inglesa, de De Bruyne, marcado já nos acréscimos do segundo tempo. Foi um ponto precioso perdido no apagar das luzes.

No quarto jogo, em casa, era preciso uma vitória a qualquer custo diante do mesmo City para manter viva a chance de classificação. Mas os rojiblancos fizeram um primeiro tempo desastroso e perderam por 3 a 1. A última esperança seria contra o Borussia, fora. Em vão. Derrota por 4 a 2. Só para cumprir tabela, os espanhóis venceram a Juventus por 1 a 0, em casa, e se despediram da Liga em terceiro lugar. No entanto, a vitória sobre os italianos não foi apenas uma vitória. Ela, somada à derrota dos alemães para o City, rendeu uma vaga, adivinhe, no mata-mata da Liga Europa! Sim, os rojiblancos poderiam voltar aos braços de sua amada. Chega de sofrência. Chega de musiquinha “the chaaaaaaaampiooooons!!”. Eles queriam a sobriedade de sua amada. Eram mais afeitos ao vermelho e dourado semelhante aos próprios deles. Eles estavam com saudades. E, com o desastre que era a campanha no Campeonato Espanhol, não havia dúvidas: a Liga Europa era o grande objetivo a partir daquele dia 08 de dezembro de 2015.

 

Como é bom estar de volta!

Em fevereiro de 2016, o Sevilla estreou na Liga Europa contra o Molde, da Noruega, em casa. E, com dois gols de Llorente e um de Gameiro, os bicampeões venceram por 3 a 0. Na volta, a derrota por 1 a 0 não atrapalhou a nova caminhada continental dos sevilhanos. Nas oitavas, a equipe fez uma espécie de “reconhecimento” do gramado do estádio St. Jakob-Park, na Basileia, Suíça, para o duelo contra o Basel. Afinal, seria naquele mesmo local a decisão da Liga Europa de 2016. O jogo terminou empatado sem gols e possibilitou ao Sevilla uma vitória simples na partida de volta, em casa, para sacramentar a vaga. Mas o time de Emery liquidou qualquer perigo com um 3 a 0 inapelável, com dois gols de Gameiro e um de Rami.

Era hora das quartas de final. E, se algum torcedor sevilhano acreditava em destino, ele rapidamente sorriu quando viu o adversário seguinte: o Athletic Bilbao. Pela terceira temporada consecutiva o time da Andaluzia enfrentava um rival doméstico no mata-mata da Liga Europa. Nas oitavas de 2014-2015, foi o Villarreal. Nas oitavas de 2013-2014, o Betis, e nas semis daquela mesma, o Valencia. E em todas o Sevilla saiu vencedor. Isso tudo sem contar a edição de 2006-2007, quando os rojiblancos eliminaram o Osasuna, nas semis, e bateram o Espanyol na final. Era muita coincidência!

No primeiro duelo contra os bascos, no San Mamés, Aduriz abriu o placar para o Athletic no comecinho do segundo tempo, mas Kolodziejczak e Iborra fizeram os gols da virada do Sevilla por 2 a 1. Na partida de volta, Aduriz, de novo, abriu o placar para os bascos no segundo tempo e Gameiro empatou dois minutos depois. Porém, o Athletic não se deu por vencido e chegou ao segundo gol com García, faltando dez minutos para o fim. O resultado forçou a prorrogação e os pênaltis.

Gameiro (à direita), artilheiro do Sevilla na Liga Europa de 2015-2016. Foto: ANDER GILLENEA/AFP/Getty Images)

 

Ali, no dia 14 de abril de 2016, terminava a invencibilidade do Sevilla em casa pela Liga Europa de 11 jogos. O time não perdia em seus domínios desde o revés para o Betis lá em março de 2014. Nas penalidades, os batedores foram perfeitos até brilhar a estrela do goleiro Soria, que defendeu a cobrança de Beñat Etxebarria, garantiu o 5 a 4 para o Sevilla e colocou o time espanhol nas semifinais. O rival seguinte foi o Shakhtar Donetsk, com o primeiro jogo na Ucrânia. Vitolo, um dos principais destaques do time naquela temporada, mostrou suas qualidades logo aos seis minutos, quando arrancou pela direita, marcou um lindo gol e fez 1 a 0. Os ucranianos reagiram e viraram ainda no primeiro tempo, mas Gameiro, a oito minutos do fim, empatou. Na volta, Gameiro, duas vezes, e Mariano – num lindo gol de fora da área -, fizeram os tentos da vitória por 3 a 1 que colocou o Sevilla na terceira final seguida da Liga Europa.

O time de 2016 foi mais frágil na defesa, mas teve grande poder de fogo com Mariano, Coke, Gameiro e Vitolo.

 

Estava sacramentada a mística do Sevilla. Nenhum clube sabia jogar o torneio como ele. Nenhum clube se impunha tanto no torneio como ele. Porém, de todas as finais disputadas, o time andaluz teria seu mais difícil desafio naquela quinta final. Ele iria enfrentar um time tricampeão do torneio, com três vitórias nas três finais disputadas e uma camisa de dar medo: o Liverpool-ING. Se quisesse ser penta, o Sevilla teria que derrubar um dos maiores titãs do continente.

 

Os reis incontestáveis

Coke celebra: capitão marcou dois gols na finalíssima!

 

Dois meses após o “reconhecimento” do gramado so St. Jakob-Park, o Sevilla voltou à Basileia no dia 18 de maio de 2016, dessa vez para pisar com afinco naquela arena suíça. Era hora de decidir mais um título de Liga Europa. O mais difícil, na teoria, contra o Liverpool, pentacampeão da Liga dos Campeões da UEFA, tricampeão da própria Liga Europa / Copa da UEFA. Os ingleses vinham fortes, desde a fase de grupos e eliminando pelo caminho dois fortíssimos concorrentes: o rival Manchester United, nas oitavas, e o Borussia Dortmund-ALE, nas quartas, este com uma vitória eletrizante por 4 a 3 em Anfield Road num jogo espetacular.

Com o moral lá em cima, os Reds queriam o título para coroar o trabalho de Firmino, Philippe Coutinho, Kolo Touré, Sturridge e companhia. E tal trabalho parece que seria mesmo coroado quando o inglês Sturridge, aos 35’ do primeiro tempo, marcou um lindo gol de trivela para o Liverpool e fez 1 a 0. O Sevilla sentiu o baque. Nos minutos seguintes, só deu Liverpool, que teria feito o segundo, com Lovren, se Sturridge não estivesse impedido no lance. Ou quando um cruzamento cortou toda a área espanhola sem nenhum dos três vermelhos por lá aproveitar. O juiz apitou o fim do primeiro tempo.

Mas, aos 17 segundos da segunda etapa, o Sevilla começou a engolir o Liverpool. A provar o bicampeão que era e quem é que mandava naquela competição. Alberto Moreno, curiosamente o lateral-esquerdo do título lá de 2014, falhou ao cabecear uma bola nos pés do brasileiro Mariano. O lateral sevilhano avançou, deu entre as pernas do mesmo Alberto Moreno, e cruzou para Gameiro, o homem gol daquela temporada, empatar o jogo: 1 a 1. Que golaço! E que momento para colocar fogo no jogo! Gameiro quase virou após uma cobrança de lateral. Mas, aos 19’, Vitolo tabelou com Banega, deu entre as pernas de Lovren e percebeu a chegada do capitão Coke, que encheu o pé para fazer o gol da virada: 2 a 1. Era um bombardeio andaluz nos ingleses! Apenas seis minutos depois, Coke recebeu um “passe” de Coutinho dentro da área, e, livre, marcou o terceiro: 3 a 1.

O Liverpool poderia fazer alterações, invocar o sobrenatural de Istambul, a chama da virada contra o Borussia, enfim, todos os astros possíveis. Nada surtiria efeito. Ganhar daquele Sevilla na Liga Europa era impossível. Quando o árbitro sueco Jonas Eriksson apitou o final do jogo, o grito de campeão foi o mesmo ouvido há três temporadas: icampeóóón! O Sevilla se tornava o primeiro clube tricampeão consecutivo da Liga Europa e o primeiro penta da competição.

E mais: era o primeiro clube tricampeão consecutivo de torneios da UEFA desde o Liverpool dos anos 70, campeão da Copa da UEFA de 1975-1976 e bicampeão da Liga dos Campeões em 1976-1977 e 1977-1978 (leia mais clicando aqui). Foram necessárias quatro décadas (!) para algo desse porte acontecer de novo. E acontecia, ali, na Basileia.

Era um feito histórico. Incrível. Impressionante. O Sevilla escrevia seu nome para sempre nos livros, enciclopédias e revistas sobre futebol. Era a consagração de um time que se reinventou, que soube suprir as saídas de grandes jogadores ano após ano para seguir vencendo. Foi a epopeia louvável de um clube que soube valorizar como ninguém uma competição continental, sempre com campeões alternados e apenas dois bicampeões na história: o Real Madrid dos anos 80 e o próprio Sevilla em 2006 e 2007.

A Liga Europa tinha importância. Sempre teve. Grandes esquadrões a venceram. Só para citar alguns, além dos já mencionados neste texto: o Napoli de Maradona e Careca. A Internazionale de Zenga, Bergomi, Matthäus, Brehme, Klinsmann e Serena. O Ajax de Blind, Winter e Bergkamp, que seria o embrião do time campeão europeu e mundial em 1995. A Internazionale de Ronaldo Fenômeno. Era muita história. E o Sevilla soube entender tudo isso para valorizar o torneio e vencê-lo uma vez. Duas vezes. Três vezes seguidas. Ninguém poderia apostar algo daquela dimensão, nem mesmo as famosas casas de apostas com bônus  poderiam prever um tricampeonato rojiblanco. Na campanha do tri, o Sevilla disputou nove jogos, venceu cinco, empatou dois e perdeu dois, com 17 gols marcados e oito sofridos. Gameiro foi o artilheiro do time com seis gols. Emery sintetizou todo aquele trabalho após o jogo:

 

“O Liverpool estava no topo no primeiro tempo e poderia ter nos vencido. Tínhamos que fazer algo no intervalo. O Liverpool tem um grande time e se estabeleceu rapidamente na partida. Tivemos que ter fé em nós mesmos. Precisamos nos sentir como se estivéssemos em nosso estádio. E a torcida foi incrível. Eles deram o máximo e nos sentimos protegidos. Amamos esta competição. É a nossa competição”.Unai Emery, técnico do Sevilla, em entrevista ao site da UEFA, 18 de maio de 2016.

 

Já o jornal Estadio Deportivo, de Sevilha (ESP), foi categórico:

 

“O Liverpool conquistou cinco Ligas dos Campeões e três Copas da UEFA, mas teve pela frente o rei e senhor desta competição. A equipa do Sevilla conhece este troféu melhor do que ninguém e ambicionava-o mais do que ninguém”.

 

No Marca (ESP), o destaque foi: “Não restam dúvidas que jogar uma final da Liga Europa com uma camisa qualquer é bem diferente de fazê-lo envergando as cores do Sevilla. O velho troféu sorri sempre que os andaluzes entram em campo”.

 

 

 

A prova daquela devoção e daquele amor seria estampada na camisa do clube já na temporada seguinte: o badge único com o número 5, simbolizando os títulos da equipe, a exemplo do que ocorre na Liga dos Campeões. Os espanhóis são os únicos a ostentar tal honraria. Como conquistá-la? Vencendo três vezes seguidas a Liga Europa ou cinco vezes no total. Bem, na dúvida, eles cumpriram as duas obrigações…

 

Uma história quase insuperável

O badge na camisa do Sevilla (à esquerda) com as cinco taças da Liga Europa.

 

Após o fim da epopeia do tricampeonato, o Sevilla perdeu o grande arquiteto daquela façanha: Unai Emery, seduzido pelo bilionário PSG. Jorge Sampaoli assumiu o comando do time e não soube manter o romance da equipe com as glórias. Na Supercopa da UEFA, derrota por 3 a 2 para o Real Madrid-ESP. Na Supercopa da Espanha, revés diante do Barcelona. Em La Liga, campanha bem melhor que na temporada anterior e 4ª colocação no torneio. Na Copa do Rei, eliminação nas oitavas. E, na Liga dos Campeões da UEFA, o time se classificou em segundo no Grupo H, mas caiu logo nas oitavas diante do surpreendente Leicester City-ING (leia mais clicando aqui).

A torcida pensou, lá no fundo: por que se classificar para cair tão cedo? Por que não ficar em terceiro e avançar para o mata-mata da Liga Europa? É, Sampaoli não quis saber de namoro. Chegava ao fim a história de glórias do Sevilla na competição embalada durante três temporadas por castanholas, pelo flamenco, pela sedução. Por um time que chamou a Europa para bailar por todas las noches, hasta la próxima mañana. Uma história de amor que dificilmente será igualada, quiçá superada. Um Sevilla imortal.

 

Os personagens:

 

Beto: o goleiro português chegou à Espanha em 2013, por empréstimo, mas suas boas atuações condicionaram sua permanência até 2015 na Andaluzia. Ele deixou Javi Varas no banco e foi titular em boa parte de La Liga de 2013-2014 e assumiu a titularidade no mata-mata da Liga Europa naquela mesma temporada, quando provou ter estrela ao defender dois chutes na decisão por pênaltis contra o Benfica e garantir o título continental. Beto acabou perdendo a titularidade por causa de lesões e com as evoluções de Sergio Rico e David Soria, passando para a reserva em boa parte das temporadas 2014-2015 e 2015-2016. Na sequência, se transferiu para o Sporting. Disputou quase 100 jogos pelo Sevilla nos três anos em que esteve por lá.

Sergio Rico: cria das bases do Sevilla, o goleiro assumiu a titularidade na temporada 2014-2015 após uma lesão de Beto. Com isso, atuou em 21 jogos de La Liga e em 11 da Liga Europa. Continuou absoluto na temporada seguinte, perdendo apenas alguns jogos da reta final para David Soria.

David Soria: alto, com ombros largos e esguio, tinha todas as qualidades para ser um bom goleiro, mas decepções nas categorias de base do Real Madrid e no futebol inglês quase fizeram o espanhol abandonar a carreira. O Sevilla o acolheu em 2013, e, dois anos depois, começou a atuar no time titular, se revezando com Rico. Assumiu a titularidade da equipe na reta final da temporada 2015-2016 e contribuiu para o título europeu daquela época, com grandes defesas na decisão contra o Liverpool e no duelo contra o Athletic Bilbao, nas quartas de final.

Coke: lateral-direito e também ponta-direita, Jorge Andújar Moreno foi um dos grandes nomes daquela era e fundamental para as conquistas continentais dos andaluzes. Jogou de 2011 até 2016 na equipe e foi titular em grande parte dos jogos em La Liga e também na Liga Europa. Na temporada 2014-2015, perdeu espaço na lateral-direita com a chegada de Vidal, mas recuperou o posto na temporada seguinte e atuou na maioria das vezes no meio de campo, como um ponta pelo lado direito. Foi nessa posição que ele surpreendeu o Liverpool e marcou dois gols na história final de 2016, na qual ele foi o capitão do time tricampeão. Foram mais de 170 jogos e 15 gols com a camisa vermelha e branca durante os cinco anos em que esteve em Sevilha.

Aleix Vidal: polivalente pelo lado direito, o espanhol ficou apenas a temporada 2014-2015 no Sevilla, mas o suficiente para marcar seu nome na história do clube com grandes atuações, passes e gols, como os dois contra a Fiorentina, na semifinal da Liga Europa. Foram 47 jogos e seis gols na temporada. Na seguinte, acabou despertando o interesse do Barcelona.

Mariano: após brilhar no Fluminense campeão brasileiro de 2010 (leia mais clicando aqui), o lateral brasileiro foi para a Europa e atuou pelo Bordeaux-FRA de 2011 até 2015, pelo qual venceu uma Copa da França em 2012-2013. Na temporada 2015-2016, foi para o Sevilla a fim de suprir a saída de Vidal. Aos poucos, conseguiu marcar seu espaço e possibilitou ao técnico Emery escalá-lo junto a Coke, que foi deslocado para o meio. Pela lateral, Mariano fez grandes jogos, aplicou seus característicos dribles e foi fundamental na reta final da Liga Europa. Foi um dos destaques na final contra o Liverpool.

Pareja: o zagueiro chegou em 2013 e foi titular em grande parte da temporada 2013-2014, quando fez dupla de zaga com o compatriota Fazio e também com o espanhol Carriço. Sofreu uma lesão na temporada seguinte que o tirou de combate por vários jogos. Disputou mais de 110 jogos pelo clube e se destacava pela marcação e posicionamento.

Adil Rami: foram 46 jogos na temporada de seu debute, 2015-2016, e titularidade plena no esquema do técnico Emery. Com 1,90m de altura, se destacava no jogo aéreo e se posicionava muito bem. É convocado desde 2010 para a seleção francesa. Deixou o Sevilla em 2017 para jogar no Olympique de Marselha.

Kolodziejczak: após passagens pelo Lyon e pelo Nice, o francês chegou em 2014 ao Sevilla e atuou em 32 jogos do clube, quase sempre como zagueiro. Ele podia atuar, também, como lateral-esquerdo e até como volante. Ágil, fez bons jogos e atuou mais na temporada 2015-2016, quando disputou 29 jogos em La Liga e outros 13 nas competições da UEFA, pela Liga dos Campeões e na Liga Europa.

Daniel Carriço: outro jogador polivalente do elenco, o português atuou como volante e também com zagueiro naquela caminhada do tri. Foi titular em boa parte das campanhas vitoriosas com muita regularidade e liderança. Disputou as três finais vencidas pelos espanhóis. Pelo Sevilla, alcançou a marca na carreira de mais de 45 jogos disputados na Liga Europa. Disputou mais de 110 jogos pelos rojiblancos.

Federico Fazio: o zagueiro argentino chegou em 2007 ao Sevilla, bem no fim da primeira fase de ouro do clube. Ficou até 2014 e atuou em 41 jogos na temporada 2013-2014, incluindo 13 da campanha do título da Liga Europa. Com quase dois metros de altura, se destacava nas jogadas de corpo a corpo e na marcação.

Alberto Moreno: outra cria das bases, o lateral-esquerdo começou no Sevilla em 2012 e assumiu a titularidade no mesmo ano. Com a chegada do técnico Emery, foi titular absoluto na temporada 2013-2014 e disputou 44 jogos, sendo 14 na campanha do título da Liga Europa. Muito eficiente na defesa, apoiava bem o ataque com bons passes e cruzamentos. Despertou a atenção do Liverpool em 2014, e, por ironia do destino, enfrentou o Sevilla na final da Liga Europa de 2016. Moreno falhou em um dos gols e viu seu ex-time ser campeão. Deve ter dado uma saudade…

Fernando Navarro: cria do Barça, o defensor chegou ao Sevilla em 2008 e ficou até 2015. No começo, atuou como lateral-esquerdo, passando posteriormente para zagueiro. Era firme na marcação, mas exagerava algumas vezes e levava muitos cartões amarelos. Na era Emery, foi mais assíduo na temporada 2013-2014, quando atuou em 24 jogos de La Liga e 13 na Liga Europa, mas foi reserva em boa parte do tempo, entrando no decorrer dos jogos. Sem espaço, deixou o clube em 2015 para jogar no Deportivo La Coruña, mas não antes de ter a honra de erguer o troféu do bicampeonato em 2015.

Escudero: o lateral-esquerdo chegou em 2015 para ser uma das opções para o técnico Emery nas várias competições que teria pela frente. Embora fosse a segunda escolha na maioria das vezes, conseguiu espaço em vários jogos e atuou como titular na reta final da temporada, incluindo na decisão da Liga Europa de 2016.

Trémoulinas: o lateral francês chegou em 2014 ao Sevilla e assumiu a titularidade da ala esquerda com regularidade, velocidade e bons passes. Ganhou convocações para a seleção francesa no tempo em que esteve com a camisa rojiblanca. Jogou até 2017 no clube espanhol.

José Antonio Reyes: cria do Sevilla, jogou por lá até 2004, depois passou por Arsenal, Real Madrid, Atlético de Madrid, Benfica até voltar ao clube da Andaluzia em 2012. Polivalente no setor do meio de campo, foi um dos principais jogadores do time no período com seus toques clássicos, passes precisos, grande visão de jogo e gols. Capitaneou o time na temporada 2014-2015 e foi simplesmente impecável durante aquela trajetória histórica. Embora tenha perdido os jogos decisivos da Liga Europa da temporada 2015-2016 por causa de uma cirurgia no apêndice, Reyes se tornou, com aquela taça, o recordista em títulos da Liga Europa com cinco troféus: dois pelo Atlético de Madrid em 2010 e 2012 e os três pelo Sevilla. Deixou o clube em 2016 após mais de 150 jogos e 15 gols. Na primeira passagem, foram 96 jogos e 25 gols. Faleceu de maneira trágica aos 35 anos, em 2019, após um acidente de carro.

Krychowiak: o volante polonês foi uma das grandes revelações do futebol europeu nos anos 2010 e despontou de vez sob o comando de Unai Emery no Sevilla a partir de 2014. Com partidas impecáveis, bom domínio de bola, marcação implacável e passes precisos, foi o grande motor do meio de campo na ótima temporada rojiblanca de 2014-2015, quando o time da Andaluzia brilhou na Liga Europa e fez uma boa campanha em La Liga. Com suas qualidades, Krychowiak podia atuar, também, como zagueiro. Foram 48 jogos na temporada de seu debute e mais 42 na temporada 2015-2016. Deixou o clube junto com Unai Emery para jogar no PSG, mas não repetiu o bom futebol e foi para a Inglaterra. É presença constante na seleção polonesa desde 2008.

Vicente Iborra: chegou em 2013 ao Sevilla e se transformou em um dos principais jogadores do setor ofensivo do time, quando Emery deslocou o jogador para atuar como meia armador principalmente na temporada 2014-2015. O resultado foram sete gols em 26 jogos de La Liga e outros dois na Liga Europa. Habilidoso, Iborra tinha facilidade para chegar ao ataque por ter sido centroavante no começo de carreira, no Levante. Foi, durante toda aquela era, o 12º jogador do time, uma substituição “obrigatória” no decorrer das partidas, isso sem contar os jogos em que começou como titular. Disputou 173 jogos e marcou 30 gols pelo clube. Foi para o Leicester City em 2017.

Mbia: volante muito eficiente e com vocação ofensiva, Mbia chegou em 2013 e foi um verdadeiro talismã do Sevilla nas campanhas vitoriosas do time até 2015. Rápido, ágil e com bons passes, o camaronês ganhou a titularidade e foi fundamental nos esquemas táticos do técnico Emery. Marcou cinco gols na temporada 2013-2014 (dois na Liga Europa) e sete na temporada 2014-2015 (mais três na Liga Europa). É capitão de Camarões desde 2014 e já disputou as Olimpíadas de 2008, duas Copas Africanas de Nações e as Copas do Mundo de 2010 e 2014.

N’Zonzi: chegou em 2015 para substituir Mbia e cumpriu seu papel no meio de campo. Alto, com bons passes e tranquilidade na retenção da bola, o francês cravou seu espaço no time e disputou 46 jogos na temporada 2015-2016. Na Liga Europa, foi essencial na conquista do título ao formar uma ótima dupla com Krychowiak.

Michael Krohn-Dehli: o dinamarquês chegou em 2015 e fez bons jogos como volante no esquema do técnico Emery até sofrer uma lesão que o tirou de combate justamente nos jogos finais da temporada. Ainda sim, foi um dos grandes nomes do time participando de 47 jogos. Saiu em 2018 para jogar no Deportivo La Coruña.

Vitolo: o meia chegou em 2013 ao Sevilla e foi logo elevado ao time titular pelo técnico Emery. Talentoso e muito técnico, pode atuar tanto pelo lado esquerdo como também pela direita, fazendo uma linha mais ofensiva e compondo, quando necessário, uma mais recuada. Driblador, recebia muitas faltas e ajudava o time nas bolas paradas. Chegou à seleção espanhola com seu futebol e recebeu, entre 2015 e 2017, 12 convocações. De 2013 até 2017 foram 170 jogos e 27 gols com a camisa rojiblanca, além da eterna gratidão da torcida.

Marko Marin: o habilidoso e rápido meia alemão jogou apenas a temporada 2013-2014 no Sevilla, mas foi brilhante em campo e atuou em 30 partidas, com destaque para as 12 em que esteve no time na Liga Europa, competição onde ele marcou dois gols. Após o empréstimo junto ao Chelsea, voltou à Londres com a medalha de campeão da Liga Europa de 2013-2014, que se juntou a que ele já havia vencido com o próprio Chelsea na temporada anterior.

Konoplyanka: os dirigentes do Sevilla ficaram encantados com o futebol impetuoso apresentado pelo ucraniano na Liga Europa de 2014-2015 e esperaram o término da competição – e o Sevilla bater o clube do meia, o Dnipro -, para levar o jovem à Andaluzia. Seu debute foi justo na final da Supercopa da UEFA de 2015, contra o Barcelona, e ele foi logo marcando um gol no jogaço que terminou com vitória catalã por 5 a 4. Naquela temporada, o ucraniano foi titular em vários jogos e atuou de maneira mais constante no Campeonato Espanhol. No total, foram 52 jogos e oito gols pelo time naquela temporada. Se a taça escapou com o Dnipro em 2015, o meia venceu o troféu com o Sevilla em 2016.

Éver Banega: após o título europeu de 2014, a torcida do Sevilla ficou carente com a saída de Rakitic. Porém, o argentino Banega conseguiu suprir a ausência do croata com muito talento, regularidade, visão de jogo, passes precisos e gols. Banega foi o grande armador do time nas temporadas 2014-2015 e 2015-2016, disputou 91 jogos e marcou 12 gols, além de ter sido o melhor em campo na final da Liga Europa de 2015 contra o Dnipro. Tinha a capacidade de atuar, também, como volante mais recuado, relembrando seus tempos de Boca Juniors, em 2007. Pela Seleção Argentina, tem mais de 50 convocações e cinco gols.

Rakitic: o talentosíssimo croata chegou ao Sevilla em 2011, e, na temporada 2013-2014, assumiu a braçadeira de capitão para liderar o time em uma arrancada fantástica que terminou com o título da Liga Europa. Com jogos sensacionais, talento, visão de jogo, lançamentos, tabelinhas, dribles, assistências e gols, ganhou rapidamente a idolatria da torcida e a atenção de todo o continente. Ganhou vários prêmios individuais, ergueu a taça da Liga Europa após a final contra o Benfica e foi contratado pelo Barcelona já em 2014. Pelo Sevilla, foram 149 jogos, 34 gols e 38 assistências. Na campanha do título continental de 2014, só ficou de fora de um dos 19 jogos do Sevilla. Além disso, marcou três gols. Em La Liga, deu dez assistências em duas temporadas seguidas, 2012-2013 e 2013-2014. Marcou 12 gols na temporada 2013-2014.

Denis Suárez: o jovem meio-campista chegou por empréstimo ao Sevilla em 2014 e conseguiu mostrar seu talento em 47 jogos do time na temporada, sendo 31 em La Liga e nove na Liga Europa. Rápido, com ótimo passe e boa visão de jogo, foi uma peça importante do técnico Emery e marcou seis gols, entre eles três na campanha do título continental.

Carlos Bacca: o colombiano foi uma das maiores e mais certeiras contratações do Sevilla da história e justificou cada centavo gasto por seu futebol com gols, grandes atuações e partidas memoráveis que o catapultaram ao status de ídolo do clube. Oportunista, sempre muito bem colocado e goleador, Bacca marcou 14 gols em La Liga logo em sua primeira temporada e subiu para 20 a contagem na temporada seguinte. Foi o artilheiro do time em ambas as épocas em que esteve pela Andaluzia e marcou dois gols na decisão da Liga Europa de 2015, além de converter seu pênalti na final de 2014. Foram 108 jogos e 49 gols pelos rojiblancos. Em 2015, foi vendido ao Milan por 30 milhões de euros, mais que o triplo do que custou ao clube espanhol.

Gameiro: forte, habilidoso, muito bom finalizador e identificado com a torcida. Ah, e tricampeão da Liga Europa. Assim foi o francês Kévin Gameiro em sua passagem pela Andaluzia, entre 2013 e 2016. Fez uma dupla memorável com Bacca no ataque e assumiu o protagonismo quando o colombiano foi embora, em 2015, assumindo a artilharia do time com 29 gols em 52 jogos na temporada 2015-2016, incluindo oito no mata-mata da Liga Europa. Atuando mais avançado, como centroavante, mostrou seu lado prolífico e encheu a torcida de alegria com gols decisivos e bonitos. Foram 145 jogos, 67 gols e 15 assistências pelo Sevilla.

Fernando Llorente: o já rodado atacante chegou ao Sevilla em 2015, mas não conseguiu ganhar a vaga no time titular de Gameiro e foi sempre uma opção para o decorrer dos jogos. Disputou 36 jogos e marcou sete gols. Depois de perder a Liga Europa de 2012 pelo Athletic Bilbao e a Liga dos Campeões de 2015 pela Juventus, enfim, venceu um título continental de clubes com a camisa rojiblanca em 2016. No mesmo ano, foi jogar no futebol inglês.

Unai Emery (Técnico): remenda dali, muda daqui, coloca aquele ali, tira um, troca o outro, muda o foco… A vida de Emery no Sevilla parece ter sido fácil quando vemos os três reluzentes títulos da Liga Europa conquistados, mas é de se venerar o trabalho do basco sob o comando de um clube que teimou em vender seus principais jogadores a cada término de temporada. Quando Rakitic saiu, Emery transformou um clássico volante (Banega) em armador. Quando Vidal esquentou os motores na direita, Emery teve que voltar o “bom e velho” Coke até deslocar Mariano e inserir Coke mais à frente. No gol, usou Beto, Soria e Rico sem quase ninguém perceber. No ataque, quando tudo parecia perdido quando Bacca foi vendido, eis que Gameiro virou centroavante nato e até mais goleador do que o próprio colombiano. Isso tudo sem contar as mudanças na zaga, no meio e nos deslocamentos de jogadores, mas sempre no seu esquema preferido: o 4-2-3-1. Foi árduo, mas Emery fez história com um tricampeonato impressionante e ao transformar o Sevilla em um dos maiores times do continente. Um esquadrão que se reinventou e que soube valorizar uma competição como ela devia. Sua melhor temporada no Sevilla foi, sem dúvida, a de 2014-2015, quando venceu 39 jogos, empatou 10 e perdeu apenas 11 em 60 disputados, num aproveitamento de 65%. No total de sua trajetória pela Andaluzia, de 2013 até 2016, foram 205 jogos, 106 vitórias, 45 empates e 54 derrotas, aproveitamento de quase 52%. Após seu trabalho na Espanha, foi chamado para treinar o PSG.

Rumores à época diziam na época que a Liga Europa iria ser renomeada e ter até seu logotipo restilizado por causa da hegemonia do Sevilla…

 

Números de destaque

As campanhas do Sevilla no tricampeonato:

 

2013-2014

J V E D GM GS
19 11 5 3 40 16

 

2014-2015

J V E D GM GS
15 11 3 1 29 14

 

2015-2016

J V E D GM GS
9 5 2 2 17 8

 

Total

J V E D GM GS
43 31 10 6 86 38

 

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