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Esquadrão Imortal – Borussia Dortmund 1962-1966

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Em pé: Willi Multhaup (técnico), Alfred “Aki” Schmidt, Rudi Assauer, Wolfgang Paul, Lothar Emmerich, Wilhelm Sturm e Siegfried Held. Agachados: Reinhard “Stan” Libuda, Theodor Redder, Hans Tilkowski, Gerhard Cyliax e Dieter Kurrat.

 

Grandes feitos: Campeão da Recopa da UEFA (1965-1966), Campeão do Campeonato Alemão (1963) e Campeão da Copa da Alemanha (1964-1965). Foi o primeiro clube alemão da história a vencer um título continental.

Time-base: Hans Tilkowski (Bernhard Wessel); Gerhard Cyliax (Lothar Geisler), Wolfgang Paul (Wilhelm Burgsmüller) e Theodor Redder (Helmut Bracht); Rudi Assauer (Hermann Straschitz) e Dieter Kurrat; Stan Libuda (Reinhold Wosab), Wilhelm Sturm (Jürgen Schütz), Siegfried Held (Friedhelm Konietzka), Alfred “Aki” Schmidt e Lothar Emmerich (Franz Brungs). Técnicos: Hermann Eppenhoff (1962-1965) e Willi Multhaup (1965-1966).

 

“Os pioneiros de Dortmund”

Por Guilherme Diniz

De todos os clubes alemães campeões europeus, um deles se gaba até hoje por ser o responsável pela abertura de portas restritas aos times do país até 1966: o Borussia Dortmund. A equipe amarela e negra conseguiu fazer história muito antes do super Bayern de Beckenbauer ou do Hamburgo de Magath e Hrubesch ao sagrar-se campeã da Recopa da UEFA, o segundo principal torneio europeu durante muitas décadas, atrás apenas da Liga dos Campeões. O troféu celebrado em solo britânico e em cima de um favorito Liverpool-ING, do técnico Bill Shankly, fez do Borussia o primeiro clube alemão a vencer um torneio da UEFA em todos os tempos, além de ter sido o auge da primeira grande era do clube aurinegro, que deu à sua fanática torcida títulos marcantes graças ao futebol de talentos feitos em casa e ídolos como Kurrat, Libuda, Held, Aki Schmidt, Emmerich entre outros. Competitivo, calculista e sem temer adversário algum, o Borussia Dortmund encheu de orgulho sua cidade e entrou de vez para o rol de grandes equipes alemãs na época, além de ter sido a última a vencer o Campeonato Alemão antes da Era Bundesliga. É hora de relembrar.

 

Em prol da força nacional

Celebração em 1957: o Borussia buscava novos voos naquele começo de anos 60.
Celebração em 1957: o Borussia buscava novos voos naquele começo de anos 60.

 

Mesmo com o título mundial conquistado pela Seleção Alemã na Copa de 1954, o futebol do país ainda não tinha conseguido grandes saltos com seus clubes até a segunda metade dos anos 60. Em 1960, o Eintracht Frankfurt bem que tentou vencer a Liga dos Campeões da UEFA, mas sucumbiu na final diante da máquina do Real Madrid de Puskás e Di Stéfano (em um jogo que você pode ler mais clicando aqui).

Depois disso, só em 1965 que um clube germânico conseguiu disputar mais uma final continental – o 1860 München, que acabou perdendo para o West Ham-ING a final da Recopa da UEFA. Muitos questionavam a competitividade do futebol alemão e se o título mundial de 1954 não havia sido um “acidente” diante daqueles fatos e números tão decepcionantes contra equipes da Espanha, Portugal, Itália e Inglaterra, por exemplo. Mas o Borussia Dortmund iria enterrar de vez as críticas e a falta de confiança dos alemães naquela década de 60.

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Após vencer seus primeiros títulos nacionais (sem contar a Oberliga West, competição existente entre 1947 e 1963 que reunia os principais clubes do estado mais populoso do país, North Rhine-Westphalia, que abrigava clubes como o Borussia, o Schalke 04, o Fortuna Düsseldorf, o Alemannia Aachen entre outros) nas temporadas 1955-1956 e 1956-1957, o Borussia Dortmund entrou na década de 60 disposto a entrar de vez no rol de grandes clubes do país. Para isso, a equipe concentrou suas ações nas categorias de base e em jogadores que pudessem render frutos em um curto espaço de tempo. E o trabalho começou a dar resultado rapidamente quando atletas como Kurrat, Burgsmüller, Redder, Sturm, Wolfgang Paul, Alfred Schmidt, Konietzka, Schütz e Emmerich, todos das divisões de base do clube aurinegro, cravaram seus espaços no time titular e encheram a torcida de boas esperanças.

A primeira mostra do que aquele time poderia fazer aconteceu na temporada 1960-1961, quando o Borussia chegou à final do Campeonato Alemão, mas perdeu para o Nuremberg. Após a perda do título, o austríaco Max Merkel deu lugar ao alemão Hermann Eppenhoff no comando técnico do clube na temporada 1961-1962. Eppenhoff concedeu ainda mais espaço para os jovens do time entre os onze titulares e trabalhou bastante a ofensividade e o foco nos principais torneios. Se o grito de “é campeão” não era ecoado pelas bandas de Dortmund desde 1957, havia boas chances de ele voltar à moda em 1962-1963…

 

Os últimos campeões

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Com um time equilibrado no setor defensivo e prolífico no setor ofensivo, o Borussia Dortmund conseguiu uma vaga no Campeonato Alemão de 1963 graças ao vice-campeonato da Oberliga do oeste. Naquela época, a competição nacional ainda obedecia ao antigo formato anual com os participantes originários das Oberligas (campeonatos regionais) do oeste, sul, norte, sudoeste e da capital do país. As nove equipes classificadas disputariam o título divididas em dois grupos de quatro times (um time iria ser eliminado em um play-off entre os vice-campeões do sul e do norte), com os campeões de cada grupo classificados para a grande final.

O Borussia Dortmund esteve ao lado de 1860 München, Borussia Neunkirchen e Hamburgo, no Grupo 2, e mostrou poder de reação após perder a partida de estreia contra o 1860 München por 3 a 2, fora de casa, e manteve-se invicta nos outros cinco duelos. Em maio de 1963, os aurinegros empataram em 0 a 0 com o xará de Neunkirchen e emendaram quatro vitórias seguidas na sequência: 3 a 2 (em casa) e 1 a 0 (fora) no Hamburgo, 5 a 2 no Borussia Neunkirchen (fora) e 4 a 0 no 1860 München (em casa).

Konietzka (à dir.), um dos principais artilheiros do Borussia naquele começo de anos 60.
Konietzka (à dir.), um dos principais artilheiros do Borussia naquele começo de anos 60.

 

Na final, disputada em 29 de junho de 1963, os aurinegros enfrentaram o Köln do ótimo zagueiro Schnellinger e venceram por 3 a 1, com gols de Kurrat, Wosab e Schmidt, resultado que deu ao Borussia Dortmund seu terceiro título nacional na história. Aquele foi o último Campeonato Alemão disputado nos moldes antigos – a partir da temporada 1963-1964, a Federação Alemã iniciaria a famosa Bundesliga, em vigor até hoje. O título deu ao Borussia uma vaga na Liga dos Campeões da UEFA da temporada seguinte e, em agosto de 1963, o clube disputou a final da Copa da Alemanha de 1962-1963 após superar os desafios das três fases iniciais e entrou como favorito diante do Hamburgo. Mas os rivais dos aurinegros tinham o “Panzer” Uwe Seeler, que marcou os três gols da vitória por 3 a 0 que deu o título aos “dinossauros”.

 

Perto da final

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Disputando a Liga dos Campeões pela terceira vez, o Borussia Dortmund queria provar que era o melhor time alemão da época e capaz de fazer bonito em solo continental. Na primeira fase da competição, a equipe despachou o Lyn-NOR com uma vitória por 4 a 2 (dois gols de Wosab, um de Emmerich e outro de Schmidt) na ida, fora de casa, e outra por 3 a 1 (dois gols de Konietzka e um de Cyliax), em casa. Nas oitavas de final, os alemães enfrentaram o poderoso Benfica-POR de Eusébio e perderam o primeiro jogo, em Lisboa, por 2 a 1. Mas, na volta, o Stadion Rote Erde, em Dortmund, viu um show aurinegro: 5 a 0, com três gols de Brungs, um de Konietzka e outro de Wosab, sendo três desses gols marcados em apenas quatro minutos, dos 33´aos 37 do primeiro tempo.

Foi um espetáculo de eficiência ofensiva do time alemão, que mostrou muito entrosamento e uma crescente evolução técnica e tática sob o comando do técnico Eppenhoff. Nas quartas de final, a equipe viajou até Praga, na Tchecoslováquia, para enfrentar o Dukla Praga, e não se intimidou com os torcedores no estádio Juliska e aplicou uma sonora goleada de 4 a 0, com dois gols de Wosab, um de Konietzka e um de Brungs. Na volta, os tchecos fizeram 3 a 1, mas o placar agregado de 5 a 3 classificou os alemães para uma inédita semifinal.

Entre os quatro melhores do continente e com a moral lá em cima, a equipe de Dortmund só pensava na final. Mas, antes do último degrau, era preciso enfrentar a Internazionale-ITA de Helenio Herrera, Sandro Mazzola, Facchetti, Burgnich, Corso, Jair e Luís Suárez. Na ida, em solo alemão, a Inter abriu o placar com Mazzola, mas o artilheiro Brungs virou ainda no primeiro tempo para 2 a 1. Corso empatou na sequência e o placar em 2 a 2 foi o melhor dos mundos para a equipe italiana. Em Milão, os mais de 76 mil torcedores nerazurri empurraram a Inter rumo à vitória por 2 a 0, resultado que colocou os italianos na final – a Inter seria campeã diante do Real Madrid-ESP. Embora tenha sido eliminado, o Borussia recebeu muitos elogios da imprensa e mostrou um futebol de alto nível jogando tanto em casa quanto fora dela.

Na Bundesliga, os aurinegros terminaram na 4ª posição e tiveram o segundo melhor ataque do torneio – 73 gols em 30 jogos, cinco a menos do que o campeão, o Köln. O destaque foi o atacante Konietzka, que marcou 20 gols, seguido de Emmerich, com 16. Outro fato marcante daquela temporada foi a impiedosa goledada de 9 a 3 do time pra cima do Kaiserlautern, na partida com maior quantidade de gols de todo o campeonato.

 

A primeira copa

Erich Leist e Achim Melcher, do Borussia Neunkirchen, e Konietzka, do Dortmund, na temporada 1964-1965.
Erich Leist e Achim Melcher, do Borussia Neunkirchen, e Konietzka, do Dortmund, na temporada 1964-1965.

 

Após uma temporada em branco, o Borussia voltou a celebrar um título em 1964-1965. E um titulo inédito: a Copa da Alemanha. Durante a campanha, o time aurinegro teve que fazer viagens complicadas até Münster, Berlim e Braunschweig para eliminar os anfitriões nas três fases iniciais. Na semifinal, duelo cheio de expectativa contra o Nuremberg, mas a massa aurinegra vibrou como nunca no Rote Erde com a vitória por 4 a 2, com dois gols de Konietzka, um de Emmerich e outro de Wosab. Outra vez favorito, o Borussia fez valer a experiência adquirida nos últimos anos e não deixou o oba-oba se apoderar de suas chances de título contra o Alemannia Aachen.

Em Hannover, mesmo palco do revés na Copa da Alemanha de 1963, a equipe deu a volta por cima e venceu por 2 a 0, com um gol do capitão Schmidt, aos 10´, e outro de Emmerich, aos 18´, ambos no primeiro tempo. Ao apito do árbitro, a fanática torcida de Dortmund celebrou a conquista inédita e uma vaga na Recopa da UEFA da temporada seguinte, o segundo torneio mais importante do continente. Era a chance de tentar um inédito troféu para o futebol alemão.

Os jogadores do Borussia na decisão da Copa da Alemanha de 1965.
Os jogadores do Borussia na decisão da Copa da Alemanha de 1965.

 

No campeonato nacional, o Borussia ficou na terceira posição, teve o segundo melhor ataque do torneio (67 gols em 30 jogos), e viu Konietzka balançar as redes 22 vezes (ele foi o vice-artilheiro), com Franz Brungs na segunda posição entre os goleadores do time, com 14 gols.

 

Reforços e o caminho da Recopa

Os "Gêmeos Terríveis" Emmerich e Held, dupla que fez história para o Borussia na conquista da Recopa.
Os “Gêmeos Terríveis” Emmerich e Held, dupla que fez história para o Borussia na conquista da Recopa.

 

Para a temporada 1965-1966, o Borussia perdeu o atacante Konietzka para o 1860 München, e o goleador Brungs para o Nuremberg, mas a diretoria trouxe dois reforços que se mostrariam essenciais para o clube no decorrer da década: o atacante Reinhard Libuda, famoso por seus dribles, e o polivalente ofensivo Sigfried Held. Além deles, o técnico Willi Multhaup, campeão alemão pelo Werder Bremen em 1964-1965, assumiu o comando no lugar de Eppenhoff e arquitetou um time ainda mais equilibrado e com mais liberdade para Emmerich chegar ao ataque e mostrar suas qualidades. No Campeonato Alemão, a equipe passou perto do título e ficou com o vice, três pontos atrás do 1860 München, mas teve Emmerich como artilheiro máximo do torneio com 31 gols. No entanto, o grande foco do time não era ser campeão alemão. Era vencer a Recopa da UEFA.

Naquela temporada, o torneio continental aplicaria pela primeira vez a regra de gols marcados fora, a exemplo do que acontecia na Liga dos Campeões. Mas o Borussia nem precisou se preocupar com isso na primeira fase, quando enfrentou o fraco Floriana, de Malta, e venceu por 13 a 1 no placar agregado. Na fase seguinte, vitória por 3 a 0, em casa, sobre o CSKA Sofia-BUL, e derrota por 4 a 2 na volta, revés que não eliminou os alemães justamente pelo critério de gols marcados fora. Nas quartas de final, a equipe encarou o Atlético de Madrid-ESP de Luis Aragonés e Enrique Collar e conseguiu segurar um empate em 1 a 1 no duelo de ida, na Espanha. Na volta, em solo germânico, Emmerich marcou o gol da vitória por 1 a 0 que colocou o Borussia na semifinal. Nela, a equipe encarou o detentor do título, o West Ham-ING, de Bobby Moore, Geoff Hurst e Martin Peters.

Na ida, no estádio Boleyn Ground, os alemães saíram atrás do marcador, mas mostraram sangue frio para virar o jogo com dois gols seguidos de Emmerich já no final do jogo. O grande triunfo embalou o time, que jogou com tranquilidade a partida de volta, em casa, e venceu por 3 a 1, com mais dois gols de Emmerich e outro de Cyliax. Pela primeira vez em sua história, o Borussia Dortmund estava em uma final continental. Mas o desafio não seria nada fácil: encarar o Liverpool-ING do lendário técnico Bill Shankly e de jogadores como Ian Callaghan, Roger Hunt, Ian St. John e Tommy Smith.

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A glória épica

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Não bastasse ter que enfrentar o Liverpool, tido como favorito ao título, o Borussia teria que jogar a final no estádio Hampden Park, em solo britânico e com expectativa de público superior a 100 mil pessoas. Mas, numa providencial ajudinha divina, uma chuva torrencial caiu em Glasgow às vésperas da partida e afugentou as milhares de pessoas que planejavam ir à decisão. Com isso, o jogo teve pouco mais de 41 mil pessoas e esfriou uma pressão maior da torcida vermelha sobre os alemães.

Após um primeiro tempo com poucas chances e os times sofrendo com o campo pesado, foi o Borussia quem abriu o placar com Held, aos 16´do 2º tempo, quando o atacante aproveitou um passe perfeito de Kurrat, que roubou a bola de Gordon Milne no campo de defesa e lançou o camisa 9 do Borussia em profundidade, que tocou para Emmerich na esquerda e este devolveu para a bela conclusão de Held: 1 a 0. O gol acordou o Liverpool, que ficou ainda mais dominante na partida e conseguiu o empate sete minutos depois. Os Reds tentavam a virada, mas o Borussia se mostrava muito seguro na defesa e esfriava as investidas dos ingleses. Ao término do tempo regulamentar, a decisão foi para a prorrogação – pela primeira vez na história da Recopa.

O gol de Libuda: a história era escrita nas cores amarela e preta.
O gol de Libuda: a história era escrita nas cores amarela e preta.

 

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No tempo extra, o Liverpool teve as melhores chances no primeiro tempo, mas desperdiçou ambas. Na segunda etapa, eis que aconteceu o grande momento do jogo – e que permanece na memória de qualquer fanático do Borussia. Após uma cobrança de falta rápida, Aki Schmidt lançou para o ataque e a bola caiu nos pés de Held, que percebeu uma nova lacuna entre os defensores do Liverpool. Antes que pudesse concluir a gol, Held foi interceptado pelo goleiro Lawrence, que se atirou nos pés do alemão e conseguiu afastar o perigo. Mas, na sobra, a bola sobrou para Libuda, que viu o gol vazio e decidiu chutar de primeira.

No entanto, o chute do atacante foi alto, por cobertura, com uma sutileza digna dos grandes craques. A bola voou o céu escocês, foi em direção ao gol, tocou na trave, no zagueiro Yeats e entrou nas redes inglesas: golaço! E com toques de bizarrice e (muita) sorte de Libuda. Faltando treze minutos para o fim, o Liverpool partiu para o desespero e não conseguiu reverter o placar.

A festa pelas ruas alemãs.
A festa pelas ruas alemãs.

 

O 2 a 1 deu a vitória e o título ao Borussia Dortmund, que fez história ao se tornar o primeiro clube alemão a levantar uma taça continental. Foi a consagração do trabalho iniciado lá no começo da década e a prova de que a Alemanha podia, sim, ter clubes campeões em solo europeu. Como não poderia deixar de ser, os ingleses não engoliram a derrota e o técnico Bill Shankly criticou duramente os alemães ao dizer que o seu Liverpool “foi espancado por um grupo de homens assustados” e que “eles (Borussia) não tinham nenhum plano de ataque real, mas conseguiram vencer e eu sou muito sincero quando digo que eles foram a pior equipe que enfrentamos na competição”.

O curioso é que ele não assumiu a derrota e a falta de competência de seu time em vencer um jogo com 120 minutos de bola rolando. Nem a inteligência tática do técnico Multhaup, que armou um sólido sistema defensivo e explorou os contra-ataques de maneira plena e viu seus defensores roubarem várias bolas dos atacantes do Liverpool. O Borussia pode não ter jogado bonito, mas foi letal na parte tática e no entendimento de que aquele jogo valia campeonato e precisava ser vencido de qualquer maneira.

O time campeão da Recopa: força pelas pontas e eficiência nos contra-ataques foram as grandes armas do time.
O time campeão da Recopa: força pelas pontas e eficiência nos contra-ataques foram as grandes armas do Borussia.

 

À espera dos anos 1990

A inédita e histórica conquista continental catapultou vários jogadores do Borussia à Seleção Alemã que disputou a Copa do Mundo de 1966 e chegou ao vice-campeonato. Dos 22 convocados e presentes ao Mundial da Inglaterra, quatro eram do Borussia (o goleiro Tilkowski, os atacantes Held e Emmerich e o defensor Wolfgang Paul), sendo que três deles (Tilkowski, Held e Emmerich) foram titulares ao lado de estrelas como Beckenbauer, Schnellinger, Overath e Seeler.

O clube foi o maior contribuinte em número de atletas à equipe alemã e comprovou mais do que nunca que era o principal time do país na época. No entanto, o inevitável desmanche pelo qual a equipe passou nos anos seguintes culminou com uma considerável queda de rendimento e um período negro na história do clube aurinegro, que só voltaria a celebrar grandes feitos nos anos 90, quando faturou sua primeira Liga dos Campeões e até um Mundial Interclubes, um esquadrão já relembrado aqui.

Só nos anos 90 que o Borussia iria voltar a celebrar grandes títulos - como a Liga dos Campeões de 1996-1997.
Só nos anos 90 que o Borussia iria voltar a celebrar grandes títulos – como a Liga dos Campeões de 1996-1997.

 

A torcida do Borussia tem até hoje a conquista continental de 1966 como uma das preferidas entre as taças já levantadas pelos capitães aurinegros. Afinal, foi ela que colocou o clube num patamar diferenciado dos rivais e mostrou o caminho a ser seguido por vários outros clubes nas décadas seguintes. Para vencer um título continental, era preciso ter concentração, trabalhar as categorias de base, ter bons atacantes, um sólido sistema defensivo e, claro, sorte. Características presentes em todos os times alemães campeões continentais. E a aura do Borussia Dortmund que iniciou essa trajetória de ouro. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Hans Tilkowski: eleito o melhor jogador alemão em 1965, o goleiro chegou ao Borussia em 1963 e assumiu rapidamente a condição de titular. Com grandes defesas e notável senso de colocação, Tilkowski foi o principal guarda-metas da Alemanha nos anos 60 e titular absoluto da seleção até a ascensão do jovem Sepp Maier. O camisa 1 jogou de 1963 até 1967 no Borussia até encerrar a carreira no Eintracht Frankfurt, em 1970. Disputou 39 jogos pela Seleção Alemã e foi titular na Copa do Mundo de 1966, na qual ficou com o vice-campeonato.

Bernhard Wessel: cria das bases, foi titular absoluto no gol do Borussia no começo dos anos 60 até perder a vaga para Tilkowski. Ágil, fez grandes partidas e brilhou na conquista do Campeonato Alemão de 1963.

Gerhard Cyliax: lateral-direito muito eficiente no ataque, foi crucial para o desempenho ofensivo do Borussia naqueles anos 60 com seus passes e sua presença no campo de ataque. Marcava vários gols e virou ídolo da torcida no período em que jogou no clube, entre 1959 e 1968, este o ano em que encerrou a carreira. Tinha muita força e esbanjava velocidade. Podia atuar, também, na lateral-esquerda.

Lothar Geisler: após uma breve passagem pelo Bochum, chegou ao Borussia em 1960 para atuar em várias partidas como titular do setor defensivo com eficiência e comprometimento. Disputou mais de 115 partidas de campeonato nacional pelo clube.

Wolfgang Paul: com quase 1,90m de altura, Paul foi um dos principais líderes do Borussia naquela época e capitão do time na conquista da Recopa da UEFA. Ótimo nos desarmes, na visão de jogo e na marcação, podia atuar tanto na zaga como no meio de campo. Cria das bases, jogou por uma década no Borussia e encerrou a carreira precocemente, em 1971, por causa de contusões. Foram mais de 200 jogos pelo clube na carreira.

Wilhelm Burgsmüller: foram mais de 240 jogos pelo Borussia, seu único clube na carreira, entre 1952 e 1964, e a idolatria da torcida graças ao seu amor pelas cores do time e notável regularidade. Atuava como zagueiro central ou mais aberto pela direita, como um lateral mais recuado.

Theodor Redder: lateral-esquerdo e zagueiro, foi um dos principais jogadores do time naquela época e um dos pilares do sistema defensivo do time. Tinha qualidade nos passes e muita segurança, além de ser forte no mano-a-mano com os rivais. .

Helmut Bracht: outro ídolo da torcida, o defensor marcou época no Borussia nos anos 50 e 60 com ótimas partidas e enorme entrega dentro de campo. Foi um dos jogadores mais regulares da equipe na época e jogou até 1964 em Dortmund, a tempo de vencer o Campeonato Alemão de 1963.

Rudi Assauer: embora fosse um fumante compulsivo, Assauer se garantia em campo com eficiência nos passes e na marcação, além de dar boa cobertura à zaga. Jogou de 1964 até 1970 no Borussia e foi fundamental para os títulos da Recopa e da Copa da Alemanha no período.

Hermann Straschitz: volante de força e esporádicas aparições no ataque, chegou ao Borussia em 1964 e levantou o título da Copa da Alemanha já em 1965. Foi titular em vários jogos, mas perdeu espaço com a saída do técnico Eppenhoff e deixou o clube em 1966 para jogar no Hannover 96.

Dieter Kurrat: ajudava a defesa com sua velocidade, fôlego e desarmes e também dava suporte ao meio de campo com passes precisos e ótimos lançamentos. Foi titular em grande parte dos anos 60 e disputou mais de 300 jogos com a camisa do clube aurinegro em 14 anos de Borussia. Na final da Recopa, foi um dos destaques e teve participação em um dos gols da vitória por 2 a 1 sobre o Liverpool.

Stan Libuda: legítimo ponta-direita com muita qualidade nos dribles, Libuda fez história no Borussia não só pelas virtudes demonstradas entre 1965 e 1968, período em que esteve no clube, mas também pelo gol antológico que marcou na final da Recopa contra o Liverpool. Virou ídolo instantâneo e foi convocado para a Seleção Alemã em 23 oportunidades. Não era artilheiro, mas sim garçom dos atacantes.

Reinhold Wosab: ao lado de Emmerich e Konietzka, fez uma ótima linha de frente no ataque do time campeão alemão de 1963 e da Copa da Alemanha em 1965. Muito habilidoso e com grande senso de colocação, marcou 74 gols em 227 jogos do Campeonato Alemão entre 1963 e 1971. Polivalente, podia atuar tanto no setor ofensivo como mais recuado no meio de campo.

Wilhelm Sturm: meio-campista que ajudava o ataque com passes e tabelinhas e também contribuía na marcação, Sturm jogou de 1961 até 1971 no Borussia e disputou mais de 230 jogos pelo clube. Fez grandes partidas e foi crucial para os títulos do período.

Jürgen Schütz: meia com enorme faro artilheiro, fez ao lado de Konietzka uma notável parceria de ataque no começo dos anos 60 que ajudou o Borussia a vencer o título nacional de 1963 e disputar a final da Copa da Alemanha do mesmo ano. Foi artilheiro das Oberligas de 1960 (31 gols), 1961 (27 gols) e 1963 (25 gols), todas pelo Borussia. Marcou 113 gols em 186 jogos de liga nacional pelo Borussia.

Siegfried Held: atuava como meia ou atacante e cumpria as duas funções com extrema técnica e qualidade. Muito inteligente e preciso nos arremates, foi um dos principais jogadores alemães de seu tempo e presença assídua na Seleção Alemã entre 1966 e 1973. Foi um dos destaques na Recopa de 1966 e marcou um dos gols do título. Foram 44 gols em 230 jogos de campeonato nacional pelo Borussia.

Friedhelm Konietzka: foi um dos mais brilhantes atacantes da Alemanha nos anos 60 e muito injustiçado na seleção, pela qual disputou apenas nove jogos entre 1962 e 1965 por culpa de Sepp Herberger, que dizia que ele era “inconstante demais”. Ninguém sabia em que mundo o treinador da equipe alemã vivia, pois Konietzka foi o principal atacante do Borussia entre 1958 e 1965 e responsável pelos gols que ajudaram a equipe a celebrar o título nacional de 1963 e da Copa da Alemanha de 1965. O atacante foi o vice-artilheiro do Campeonato Alemão duas vezes (1964, com 20 gols, e 1965, com 22 gols) e anotou 145 gols em 191 jogos com a camisa do Borussia. Konietzka brilhou também no 1860 München, onde venceu o Campeonato Alemão de 1965-1966.

Alfred “Aki” Schmidt: foram 276 jogos, 67 gols e atuações de gala no meio de campo e ataque do Borussia por mais de uma década. Alfred Schmidt virou ídolo da torcida do Borussia pelo amor que tinha pelo clube e pela habilidade com a bola nos pés, além da visão de jogo e da eficiência que esbanjava em praticamente todos os jogos. Schmidt foi um dos principais líderes da equipe entre 1956 e 1968 e capitão em diversas oportunidades. Pela seleção, disputou 25 jogos e marcou oito gols.

Lothar Emmerich: outro ícone do futebol do Borussia, jogou de 1960 até 1969 na equipe e fez partidas memoráveis no ataque aurinegro. Foi o primeiro jogador na história do clube a ser artilheiro do Campeonato Alemão, em 1965-1966, com 31 gols, e repetiu o feito na temporada seguinte, com 28. Sob o comando do técnico Multhaup, viveu seu melhor momento atuando com mais liberdade pela esquerda e mostrando enorme faro de gol, que teve momentos de brilho, também, na conquista da Recopa. Foram 248 jogos e 146 gols com a camisa do Borussia. Pela seleção, disputou cinco jogos e marcou dois gols, um deles na Copa de 1966.

Franz Brungs: jogou pouco no Borussia (apenas dois anos), mas o suficiente para deixar sua marca de artilheiro e ajudar a equipe a vencer a Copa da Alemanha de 1965. Disputou 54 jogos e marcou 23 gols pelo clube. Se destacou, também, no Nuremberg e no Borussia Mönchengladbach.

Hermann Eppenhoff e Willi Multhaup (Técnicos): ambos tiveram enorme peso na história do Borussia por entrosarem um elenco quase todo formado em casa e levá-lo ao caminho das glórias. Eppenhoff deu ao Borussia força ofensiva e extraiu o máximo de seus atacantes para conquistar um título nacional e uma inédita Copa da Alemanha. Já Multhaup soube encontrar o melhor futebol de Emmerich para levantar uma histórica Recopa, além de trabalhar bastante a parte tática e os erros dos adversários com competitividade e muita inteligência.

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Comentários encerrados

3 Comentários

  1. valeu Guilherme era esse o post que eu tinha mente, parecia que os alemães menosprezavam alguns craques como no Brasil casos de Libuda, Schaffer e Rahn mesmo fazendo historia tem muita gente na Alemanha que os subestimam até os dias de hoje.

Esquadrão Imortal – Manchester United 1965-1969

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