Por Guilherme Diniz
Primeiro clube europeu a vencer todos os principais torneios da UEFA, lá nos anos 1980, a Juventus pode até ter má sorte em seu histórico de decisões continentais, mas o assunto muda quando falamos de Mundial Interclubes. Nas três finais que disputou, a Velha Senhora levantou o caneco em duas. E ambas contra clubes argentinos. Relembre a seguir!
Sumário
Mundial Interclubes de 1985 – ⭐ Juventus 2×2 Argentinos Juniors-ARG (Juventus 4×2 Argentinos Juniors nos pênaltis)

Após duas derrotas em finais de UCL – 1973, para o Ajax, e 1983, para o Hamburgo -, a Juventus conseguiu sua primeira Velhinha Orelhuda em 1985, mas de maneira amarga: foi na fatídica Tragédia de Heysel, quando 39 torcedores morreram na maior tragédia futebolística em torneios da UEFA da história. Com um gol de pênalti de Michel Platini, a Juve derrotou o Liverpool por 1 a 0 e gabaritou todos os torneios da UEFA na época: Liga dos Campeões, Recopa da UEFA e Copa da UEFA, façanha que rendeu uma placa especial ao clube de Turim. A conquista era o ápice de um esquadrão emblemático comandado por Giovanni Trapattoni, base da seleção italiana campeã do mundo em 1982.
Mas ainda faltava um troféu para a equipe ter em sua galeria todas as taças possíveis: o Mundial Interclubes, competição que escapou das mãos da bianconeri em 1973, quando disputou na condição de vice-campeã contra o Independiente e perdeu por 1 a 0 mesmo jogando na Itália. Mais de 10 anos depois, a Juve teria pela frente outro clube argentino: o Argentinos Juniors, campeão da Copa Libertadores de 1985 e que contava com um elenco fortíssimo, com o goleiro Vidallé, a dupla de zaga formada por Pavoni e Olguín, o meio de campo com Commisso, Batista e Videla e o ataque com Castro, Borghi e Ereros.

Embora a Juve fosse favorita, o Argentinos Juniors tinha um estilo de jogo técnico, sem as clássicas botinadas dos times dos anos 1970. E, para o bem do futebol, o estádio Nacional de Tóquio viu, naquele dia 08 de dezembro de 1985, uma das melhores e mais vistosas partidas interclubes da história – e considerada por muitos como a melhor final do Mundial entre 1980 e 2004, período em que ele foi disputado em solo japonês. A bola foi tratada com extrema elegância e jogadas plásticas foram vistas de baciada pelos mais de 60 mil torcedores no estádio e por milhões ao redor do planeta.
A temida e favorita Juventus suava para recuperar a bola diante de um adversário argentino que não batia e nem fazia corpo mole. Longe disso: jogava o puro futebol. Prova disso foi o primeiro gol do jogo, marcado por Ereros, aos 10´do segundo tempo, com um toque por cobertura após ótima triangulação do ataque. O golaço obrigou a Juventus a atacar e a Velha Senhora empatou com Platini, de pênalti, oito minutos depois. Na sequência, Platini recebeu na entrada da área uma sobra de escanteio e, com o peito, levantou a redonda. Com o pé direito, fintou pelo alto dois marcadores, levou para a esquerda e emendou um belo voleio sem deixar a bola cai para fazer um golaço. Porém, o tento foi anulado pela arbitragem – que alegou impedimento no lance, pois na época não existia o chamado “impedimento passivo” no futebol.
Não importava se um atacante em posição irregular não participasse da jogada, a infração era marcada – e foi justamente isso o que aconteceu em Tóquio. Aldo Serena estava ligeiramente adiantado na hora do passe de Bonini e, mesmo sem interferir na jogada de Platini, o gol foi anulado. Inconformado, o francês deitou no gramado e fez pose de deboche, em um dos momentos mais icônicos dos Mundiais.


Aproveitando o momento, o Argentinos seguiu ofensivo e marcou mais um lindo gol, com Castro, aos 30´, num chutaço praticamente sem ângulo. Mas a Juventus era boa demais, e Michael Laudrup empatou sete minutos depois, driblando o goleiro Vidallé e chutando também sem ângulo. Com o fim do tempo regulamentar, a partida foi para a prorrogação, mas o placar permaneceu mesmo em 2 a 2. Era o equilíbrio puro e a prova de que aquele jogo não poderia ter um só vencedor. Seria uma judiação ver Juventus ou Argentinos com o vice-campeonato.
Mas, como no futebol não existe compaixão, a equipe italiana venceu, nos pênaltis, por 4 a 2, e ficou com seu primeiro título mundial. Ao final da decisão, o mundo inteiro aplaudiu a atuação do Argentinos Juniors, que mostrou um futebol primoroso. Scirea e Cabrini, ambos da Juventus, se tornaram naquele dia os primeiros atletas a vencerem todos os principais torneios de clubes existentes na época (assim como o técnico Trapattoni), além de terem no currículo a Copa do Mundo de 1982.
Mundial Interclubes de 1996 – ⭐⭐ Juventus 1×0 River Plate-ARG

Após anos de jejum na UCL, a Juventus recuperou a coroa no continente em 1996, quando reuniu um novo esquadrão dos sonhos, comandado dessa vez por Marcello Lippi. A Velha Senhora levantou o principal troféu da Europa em cima do poderoso Ajax da época, campeão em 1995 e lutando pelo bicampeonato consecutivo. Antes de chegar à decisão, a Juve foi líder de seu grupo e, no mata-mata, despachou o Real Madrid e o surpreendente Nantes-FRA nas semifinais. Na final, a Juventus jogou na Itália, no Estádio Olímpico de Roma, e abriu o placar com Ravanelli, aos 12’. No final da primeira etapa, Litmanen empatou para o Ajax. A partida acabou indo para os pênaltis e a Juve venceu por 4 a 2, consagrando o timaço de Peruzzi, Ferrara, Deschamps, Jugovic, Ravanelli, Vialli e o jovem Del Piero.
Para a sequência da temporada 1996-1997, a Juventus renovou seu elenco e se reforçou com as contratações de Zinédine Zidane, Alen Boksic, Paolo Montero, Mark Iuliano e Christian Vieri, enquanto Vialli, Ravanelli, Vierchowod e Paulo Sousa deixaram o plantel bianconeri. No Mundial, a Juventus teve pela frente o River Plate-ARG, campeão da Libertadores de 1996 após derrotar o América de Cali-COL por 2 a 0 na final. Comandado por Ramón Díaz, o River tinha uma equipe muito forte, com destaque para Burgos, Celso Ayala, Altamirano, Matías Almeyda, Ariel Ortega e uma letal dupla de ataque formada por Enzo Francescoli e Hernán Crespo, este autor dos dois gols da final continental.
Assim como a Juventus, o River perdeu peças importantes de seu elenco para o futebol europeu como Matías Almeyda e Hernán Crespo, mas jovens como Marcelo Gallardo, Julio Cruz e Juan Pablo Sorín (que havia integrado o elenco da Juventus campeã europeia meses antes) ganharam chances na equipe principal. Sorín, aliás, voltou ao River naquele mesmo ano de 1996 e teve tempo de ganhar a Libertadores, conseguindo a proeza de vencer tanto a UCL quanto a Libertadores na mesma temporada.

A decisão do Mundial de 1996 teria uma particularidade: Zidane iria enfrentar seu grande ídolo Francescoli, craque que brilhou no futebol francês nos anos 1980 e inspirou Zidane a batizar seu filho com o mesmo nome do uruguaio (Enzo). Quando a bola rolou, o jogo foi parelho, com o River bem postado na defesa e dificultando as ações dos italianos, embora não conseguisse levar grandes perigos ao gol de Peruzzi. Do lado bianconeri, Boksic teve as melhores chances – pelo menos três bem claras -, mas desperdiçou. Os argentinos responderam em um lance de Ortega, que acertou o travessão e quase abriu o placar.
No segundo tempo, o jogo ficou mais nervoso, mas a Juventus tinha Del Piero. Aos 36’, Di Livio cobrou escanteio na área e o camisa 10 conseguiu escapar da marcação para receber na segunda trave e fuzilar de perna direita para abrir o marcador: 1 a 0. Na base do desespero, o River foi para o tudo ou nada, mas não conseguiu vencer o sólido sistema defensivo da Juventus, que tinha Ferrara e Montero na zaga, Deschamps centralizado e os laterais Torricelli e Porrini. A Juve ainda desperdiçou boas ocasiões de fazer o segundo e matar a partida. No entanto, nem precisou: o 1 a 0 selou o segundo título mundial da equipe de Turim.


Curiosamente, aquele foi o último grande título internacional da Velha Senhora. Nos anos seguintes, a bianconeri seguiu competitiva, empilhou craques, mas fracassou em todas as finais que disputou: foi vice-campeã das UCLs de 1997 (derrota para o Borussia Dortmund), 1998 (derrota para o Real Madrid), 2003 (derrota para o rival Milan), 2015 (derrota para o Barcelona) e 2017 (derrota para o Real Madrid), o que fez dela a maior vice-campeã da história da Liga dos Campeões da UEFA com 7 vices.
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