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Olímpico de Roma – Bellissimo della Capitale

Olímpico de Roma

 

Por Guilherme Diniz

 

Nome: Stadio Olimpico

Localização: Roma, Itália

Inauguração: 17 de maio de 1953

Partida Inaugural: Itália 0x3 Hungria, 17 de maio de 1953

Primeiro gol: Nándor Hidegkuti, da Hungria, no jogo Itália 0x3 Hungria 

Proprietário: Comitê Olímpico Nacional Italiano

Capacidade: 70.634 pessoas

Recorde de público: algumas fontes citam 80.000 pessoas no jogo Itália 0x3 Hungria, 17 de maio de 1953. Mas o recorde é de um show realizado em 06 de junho de 1998 do cantor Claudio Baglioni, com cerca de 100 mil pessoas, mas contando o público no gramado e nas arquibancadas.

 

Do outro lado do Rio Tibre, bem ao norte do coração de Roma, ele se destaca entre as construções do Foro Itálico, erguido ali durante as décadas de 1920 e 1930. Ele nasceu modesto, mas foi ganhando dimensões e remodelações que alcançaram imponência no final da década de 1950 para abrigar os Jogos Olímpicos de 1960. Os anos se passaram e ele virou um dos mais tradicionais palcos do futebol não só da Itália, mas de toda a Europa. Foi nele que Azzurra venceu sua primeira e única Eurocopa, em 1968. Foi nele que a Alemanha venceu a Eurocopa de 1980 e a Copa do Mundo de 1990. Foi nele que o lendário Independiente de Bochini e Bertoni venceu seu primeiro título mundial, em 1973. Foi nele que o Liverpool venceu duas Ligas dos Campeões da UEFA, em 1977 e 1984, assim como a Juventus, em 1996, e o Barcelona, em 2009.

E é nele que os apaixonados de Lazio e Roma temperam as arquibancadas com muita fumaça, paixão e cores em dia de clássico. O Estádio Olímpico de Roma é um dos mais importantes palcos do futebol mundial e dono de importantes e marcantes histórias. Relativamente novo perto de outros estádios tradicionais, ele resiste às remodelações e aos “raios arenatizadores” por manter sua estrutura de estádio clássico, algo cada vez mais difícil de se ver no Velho Continente. É hora de conhecer melhor o Bellissimo della Capitale.

 

Do Cipressi ao Centomila

O Cipressi, nos anos 1940.

 

 

Antes de se tornar o que é hoje, o Estádio Olímpico teve alguns projetos antecessores que remetem lá aos anos 1920. Tudo começou em 1927, quando o arquiteto Enrico Del Debbio desenhou o Foro Itálico, que na época ainda era conhecido como Foro Mussolini, em alusão ao ditador italiano Benito Mussolini. O Foro seria um complexo esportivo com a Academia de Educação Física – hoje o Palazzo H -, o Stadio dei Marmi, dedicado principalmente ao atletismo e com as icônicas 60 esculturas de atletas de 4 metros cada em volta das arquibancadas, e o Stadio dei Cipressi, este para a prática de futebol, inaugurado parcialmente em 1932 com um anel de arquibancadas encostado ao Monte Mário. Ainda acanhado, o Cipressi permaneceu desse jeito até 1937, quando um novo anel de arquibancadas começou a ser construído, mas as obras tiveram que ser interrompidas em 1940 por conta do agravamento da Segunda Guerra Mundial.

O Stadio dei Marmi e, à esquerda, o Olímpico.

 

 

Somente 10 anos depois, em 1950, que o estádio voltou a ser foco da administração do governo e novas obras foram iniciadas com o intuito de tornar o local apto para receber 100 mil pessoas (algo que acabou não acontecendo por questões estruturais e de segurança) – por isso o estádio passou a ser chamado de Stadio dei Centomila -, já com intuito de ele ser o palco principal dos Jogos Olímpicos de 1960, que teriam como sede a cidade de Roma. O novo projeto teve como principal nome o engenheiro Carlo Roccatelli, do Conselho Superior de Obras Públicas, e assessoria do arquiteto Cesare Valle. Em 1951, com a morte de Roccatelli, as obras passaram a ser dirigidas pelo arquiteto Annibale Vitellozzi. Os trabalhos foram acelerados e o estádio tomou forma em 1953, com os assentos das arquibancadas de madeira substituídos por pedra em verde claro e sem cobertura, apenas uma pequena na Tribuna do Monte Mário para abrigar as salas de imprensa.

Olímpico de Roma
O Centomila nos anos 1950. Note como as arquibancadas nas duas curvas eram distantes do gramado.

 

 
Vista aérea do estádio na década de 1950.

 

 
Puskás e Boniperti antes do duelo entre Hungria e Itália em 1953.

 

 

O chamado Stadio dei Centomila foi inaugurado em 17 de maio de 1953, em amistoso disputado pela seleção da Itália e a lendária Hungria dos Mágicos Magiares Puskás, Kocsis, Hidegkuti e companhia. Os húngaros estragaram a festa italiana e venceram por 3 a 0, com o primeiro gol da história do estádio anotado por Hidegkuti. Alguns anos depois, em 1958, aconteceu a primeira volta olímpica no estádio, quando a Lazio venceu a Fiorentina por 1 a 0 e conquistou sua primeira Copa da Itália.

 

Enfim, Olímpico

O Olímpico no dia da cerimônia de abertura dos Jogos de 1960.

 

 

Em 1960, o Centomila foi renomeado oficialmente como Estádio Olímpico e se tornou palco da abertura, encerramento e provas de atletismo das Olimpíadas de Roma – os principais jogos de futebol foram realizados no Estádio Flaminio. Com a eliminação dos lugares em pé durante os Jogos, a capacidade foi reduzida para 65 mil pessoas, mas isso em nada diminuiu a beleza do estádio, que fez jus ao nome com uma cenografia impressionante e contornos clássicos tanto por dentro quanto por fora, além de um grande placar eletrônico.

A principal característica do Olímpico na época era sua baixa elevação do solo, semelhante aos estádios imaginados por Enrico Del Debbio em seu plano no Foro Itálico. Tal característica foi resultado da sublevação parcial do campo, aproveitando a forma natural do terreno à sua volta, proporcionando um ambiente envolvente e um impacto visual agradável. Essa baixa elevação possibilitava a algumas pessoas verem inclusive alguns jogos do alto de algumas vias ao redor do local e também do Monte Mário. A única crítica ao estádio ao longo dos anos foi o distanciamento excessivo das curvas do campo por conta da pista de atletismo. Por falar em atletismo, o estádio virou referência exatamente nesse quesito e sediou vários campeonatos da modalidade, além de ser até hoje o palco oficial da Golden Gala, tradicional meeting da Liga de Ouro do Atletismo.

 

As grandes finais e nova reforma

O capitão Facchetti ergue a Euro.

 

 

Ao longo dos anos, o estádio Olímpico entrou de vez no cotidiano do futebol italiano e passou a receber constantemente os jogos de Lazio e Roma pelos torneios locais, além de abrigar o famoso Derby della Capitale. Mesmo longe do centro romano, o acesso é fácil graças às linhas de bonde e ônibus que passam pelo local e nunca foram empecilho para os aficionados chegarem ao estádio. Cada torcida “pegou para si” uma parte do Olímpico e fez dela sua “propriedade”: a Curva Sud é predominante da organizada da Roma, enquanto a Curva Nord é predominante da Lazio.

Vista aérea do Olímpico: mesmo longe do centro histórico, é fácil chegar ao estádio.

 

 
Torcida da Roma faz a festa na Curva Sud…

 

 
… Enquanto a da Lazio domina a Curva Nord.

 

 

Após as Olimpíadas, o Estádio Olímpico recebeu a final da Eurocopa de 1968. E a ocasião não poderia ser melhor: a Itália foi a campeã pela primeira vez após empatar em 1 a 1 com a Iugoslávia no primeiro jogo, diante de quase 69 mil pessoas, e vencer o replay por 2 a 0, com gols de Luigi Riva e Anastasi. Em 1973, o estádio foi palco do primeiro título mundial do Independiente-ARG, que derrotou a Juventus-ITA por 1 a 0 na final. Em 1977, foi a vez do estádio abrigar pela primeira vez uma final de Liga dos Campeões da UEFA, no duelo entre o Liverpool de Bob Paisley e o Borussia Mönchengladbach de Udo Lattek, diante de 52.078 pessoas. Os ingleses venceram por 3 a 1 e conquistaram a primeira Velhinha Orelhuda de sua história.

Bertoni e Bochini com a taça do Mundial de 1973.

 

 
Borussia e Liverpool durante a final europeia de 1977.

 

 

Curiosamente, foi no Olímpico que o Liverpool começou sua mais laureada era de glórias e também foi nele que ele atingiu o ápice. Em 1984, uma nova final europeia foi realizada no estádio – com 69.693 pessoas – e o Liverpool venceu de novo, mas dessa vez a dona da casa, a forte Roma de Falcão, após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar e vitória nos pênaltis por 4 a 2. Um pouco antes, em 1980, o estádio viu a conquista da segunda Eurocopa da Alemanha, que derrotou a Bélgica por 2 a 1 e faturou o troféu continental.

Hrubesch, imbatível pelo alto, foi o nome da decisão da Euro de 1980 com dois gols.

 

 
Di Bartolomei e Graeme Souness na final da UCL de 1984. (Photo by Bob Thomas/Getty Images).

 

 
 

 

No final da década de 1980, o Olímpico passou por uma nova remodelação tendo em vista a Copa do Mundo de 1990. Com a participação do arquiteto Annibale Vitellozzi, o estádio teve que ser quase todo demolido para a construção de arquibancadas mais modernas de concreto armado e uma grande cobertura em volta de todo o estádio produzida em fibra de vidro revestida em PTFE. Os assentos antes de pedra foram substituídos por novos de plástico, sem encosto. Os telões construídos para os Jogos de Atletismo de 1987 foram recolocados dentro das curvas de arquibancadas. Falando nelas, as curvas, antes criticadas, foram aproximadas do gramado em cerca de nove metros, beneficiando a visualização dos jogos de futebol. As obras duraram três anos e deram ao Olímpico a capacidade para 82 mil pessoas, tornando o estádio o segundo maior da Itália, atrás apenas do San Siro na época.

O Olímpico durante as reformas para a Copa, em 1989.

 

 
O Olímpico já pronto em 31 de maio de 1990. Foto: GERARD MALIE/AFP via Getty Images.

 

 
Matthäus e Maradona entram em campo para a final de 1990. Deu Alemanha.

 

 

Na Copa, o Olímpico sediou os três jogos da Itália na fase de grupos e também a vitória da Azzurra por 2 a 0 sobre o Uruguai nas oitavas de final. A Nazionale acabou eliminada pela Argentina nas semifinais e não conseguiu lutar pelo tetra em Roma. Quem fez a festa na decisão foi mais uma vez a Alemanha, que bateu a Argentina por 1 a 0 e celebrou mais uma grande conquista no Estádio Olímpico, a exemplo do título da Euro de 1980. O público médio do Olímpico naquela Copa foi de 73 mil pessoas. Na final, o público foi de 73.603 pessoas.

 

Do susto às festas

A Copa do Mundo ajudou a popularizar ainda mais o Olímpico e tornou o estádio um dos mais famosos da Europa. O problema é que ser o centro dos holofotes acabou trazendo más pessoas querendo se aproveitar do local. Isso aconteceu em 31 de outubro de 1993, quando a Cosa Nostra, da máfia italiana, organizou uma tentativa de carro-bomba no estádio durante uma partida entre Lazio e Udinese, como represália às investidas do governo contra a organização criminosa. O veículo deveria explodir perto de várias viaturas da polícia que faziam a patrulha da partida, mas um problema no acionamento do controle remoto frustrou os mafiosos e os explosivos não foram detonados. Esse foi um dos muitos atentados que aconteceram na Itália entre 1992 e 1993 com o intuito de atacar obras de artes, monumentos públicos, magistrados e pessoas que eram contra a Cosa Nostra. Tais ações deixaram 21 mortos e 117 feridos.

Após esse susto, o estádio Olímpico seguiu recebendo grandes jogos e finais. Naquele mesmo ano de 1993, por exemplo, o estádio sediou o alucinante Roma 5×2 Torino, pelo segundo jogo da final da Copa da Itália. Mesmo com a goleada, a equipe da casa acabou com o vice pelo fato de o Torino ter vencido o duelo da ida, em Turim, por 3 a 0. Em 1996, recebendo sua terceira final de Liga dos Campeões da UEFA, o Olímpico viu a festa da Juventus campeã da Europa após derrotar o Ajax nos pênaltis. Em junho de 1998, foi registrado o recorde de público do estádio, mas não em uma partida de futebol: foi quando 100 mil pessoas assistiram ao show de Claudio Baglioni, um dos cantores mais famosos da Itália na época, com fãs tanto nas arquibancadas quanto no gramado.

Festa da Juve em 1996.

 

 
Claudio Baglioni no épico show de 1998.

 

 

Alguns anos depois, em 2008, o estádio passou por novas melhorias a fim de se adequar às normas de segurança da UEFA. Foram feitas reformas nos vestiários, nas salas de imprensa, instalação de novos assentos em todas as arquibancadas, novos painéis em LED de alta definição e redução da capacidade para pouco mais de 70 mil pessoas. A grande estreia dessas inovações aconteceu já em 2009, quando o estádio sediou outra final de Liga dos Campeões da UEFA e viu o Barcelona de Guardiola começar sua lenda com o título europeu sobre o Manchester United após vitória por 2 a 0.

 

Festa do Barça em 2009.

 

 
Totti, um dos grandes craques que passaram pelo Olímpico, tira selfie após um gol contra a Lazio.

 

 

Naquele final de anos 2000, a partir de 2007-2008, o Olímpico foi escolhido pela Federação Italiana de Futebol como palco oficial da final da Copa da Itália. Na virada da década, o estádio passou a ser utilizado constantemente pela seleção italiana de Rugby em jogos do Six Nations Championship, em especial no ano de 2013. Além do Rugby, o Olímpico é uma escolha natural para grandes shows. Veja abaixo alguns dos artistas e bandas que já se apresentaram no estádio:

  • Miles Davis (1991)
  • Elton John (1992)
  • Santana (1996)
  • Tina Turner (1996)
  • Backstreet Boys (1999)
  • Sting (2001)
  • The Cure (2002)
  • R.E.M. (2005)
  • U2 (2005, 2010 e 2017)
  • Depeche Mode (2006, 2009, 2013 e 2017)
  • Madonna (2006, 2008 e 2012)
  • Iron Maiden (2007)
  • Muse (2013 e 2019)
  • Pearl Jam (2018)
  • Beyoncé e Jay-Z (2018)
  • Ed Sheeran (2019)

 

Um ícone sempre atual

Com nota máxima de classificação da UEFA (4 estrelas) e uma história recheada de grandes jogos e muita paixão envolvendo Lazio e Roma, o estádio Olímpico é um dos poucos grandes estádios da Europa que ainda resiste com seu formato clássico, jus ao nome e fora da rota das arenas que segue em voga no continente (e no mundo) há pelo menos 20 anos. Uma das sedes da Eurocopa de 2020, o Olímpico é um patrimônio de Roma e de importância incalculável para o esporte do país. Firme ao tempo, à guerra, às remodelações e até a bombas, ele de fato possui aura e mística próprias. E seguirá assim por muito tempo.

 

Curiosidades:

– Desde que virou a sede oficial da final da Copa da Itália, 13 decisões já aconteceram no Olímpico (só na temporada 2020-2021 que o estádio não abrigou a final por conta dos preparativos para a Eurocopa). A primeira campeã dessa nova era foi a Roma, em 2007-2008, com vitória por 2 a 1 sobre a Internazionale. A maior campeã desde então é a Juventus, com quatro títulos (2014-2015, 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018), seguida de Lazio e Napoli, ambos com três conquistas;

– O maior público em uma final de Copa da Itália nesse período aconteceu na temporada 2015-2016, quando 78.628 pessoas viram a vitória da Juventus sobre o Milan por 1 a 0;

– O Olímpico viu uma histórica final entre Lazio e Roma na Copa da Itália de 2012-2013. Deu Lazio: vitória por 1 a 0 e título para os celestes no Derby della Capitale;

Festa da Lazio na Copa da Itália de 2013.

 

 

– Ao contrário do que muitos pensam, o Olímpico não é a casa oficial da seleção italiana. Ele recebe pouquíssimos jogos da Azzurra – de 2010 até 2020, por exemplo, foram apenas quatro! A Federação costuma mandar os jogos da Nazionale para diversos estádios pelo país, em especial o Artemio Franchi, em Florença;

– Ver o mapa de Roma e a distância do Olímpico para o centro histórico pode desencorajar muita gente a visitar o estádio, mas ele é de fácil acesso pelas linhas de bonde e ônibus da cidade. O trajeto é rápido e vale muito a pena! Nós já visitamos e garantimos! 🙂

– Além do estádio, vale a pena visitar os monumentos ao redor do Olímpico, com destaque para o palácio do Comitê Olímpico Italiano e o Stadio dei Marmi. Dedique um tempo também para ver todo o Foro Itálico e também o Coliseu Quadrado, no EUR, um bairro que nem parece Roma de tão diferente.

 

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