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Jogos Eternos – River Plate 2×2 San Lorenzo 2008

San Lorenzo de Almagro's Bergessio celebrates after scoring his team's first goal against river Plate during their Copa Libertadores soccer match in Buenos Aires

Data: 08 de maio de 2008

O que estava em jogo: uma vaga nas quartas de final da Copa Libertadores da América de 2008.

Local: Estádio Monumental Antonio Vespucio Liberti, em Buenos Aires, Argentina

Juiz: Sergio Pezzotta (ARG)

Público: 57.000 pessoas

Os Times:

Clube Atlético River Plate: Juan Pablo Carrizo; Paulo Ferrari, Gustavo Cabral, Eduardo Tuzzio e Cristian Villagra (Alexis Sánchez); Augusto Fernández (Mauro Rosales), Oscar Ahumada, Matías Abelairas e Diego Buonanotte; Radamel Falcao García e Sebastián “Loco” Abreu. Técnico: Diego Simeone.

Clube Atlético San Lorenzo de Almagro: Agustín Orión; Hernán Adrián González, Sebastián Méndez (Gastón Aguirre), Jonathan Bottinelli e Diego Placente; Diego Rivero, Juan Manuel Torres, Walter Acevedo (Pablo Alvarado) e Andrés D´Alessandro; Néstor Andrés Silvera e Gonzalo Bergessio. Técnico: Ramón Díaz.

Placar: River Plate 2×2 San Lorenzo (Gols: Abelairas-RIV, aos 11’do 1º T; Abreu-RIV, de pênalti, aos 16´, e Bergessio-SLO, aos 24´e aos 28´do 2º T). Expulsos: Rivero-SLO, aos 41´do 1º T; Bottinelli-SLO, aos 13´e Tuzzio-RIV, aos 46´do 2º T.

“A vitória de Lorenzo na Batalha de Núñez”

Por Guilherme Diniz

Já corria o segundo tempo. Mais de 23 minutos. Os “millonarios” de Núñez faziam a festa de seus 57 mil torcedores no Monumental com um 2 a 0 no placar. O adversário já estava praticamente morto. E com nove homens em campo. A vantagem da turma do River Plate era enorme. A desvantagem dos de Lorenzo ainda maior. Só um milagre poderia colocar o time azul e grená de volta à partida. E ele aconteceu. Duas vezes. Em apenas quatro minutos, dois gols. Empate. 2 a 2. Nove homens empatavam um jogo virtualmente perdido. A pequena hincha do San Lorenzo presente na casa do River pulsava sem parar. E não havia jogador no mundo depois dos 30´do segundo tempo capaz de vazar a meta dos de Lorenzo. Eles estavam de corpo fechado. Abençoados. E com a vaga nas quartas de final da Copa Libertadores assegurada.

Em 08 de maio de 2008, o futebol argentino e sul-americano assistiu a uma partida épica que ganhou seu lugar cativo entre os capítulos de superação e do imponderável do esporte. Com nove homens, jogando fora de casa e no limite físico, o San Lorenzo conseguiu empatar um jogo perdido contra o River Plate e se classificar de maneira heroica na Libertadores daquele ano. O resultado foi imensamente celebrado pela torcida azul e grená e marcou o início da iminente queda do River no cenário continental e nacional (além de resgatar a célebre fama de “Gallinas” do time do Monumental…). É hora de relembrar.

 

Pré-jogo

No primeiro jogo das oitavas, a festa foi do San Lorenzo.
No primeiro jogo das oitavas, a festa foi do San Lorenzo.

 

Eternos rivais, River Plate e San Lorenzo se encontraram logo nas oitavas de final da Copa Libertadores de 2008 não só para disputar uma vaga na próxima fase, mas também por ter o saboroso gosto de eliminar um rival na principal competição do continente. Na primeira fase, o San Lorenzo fez uma boa campanha no Grupo 1 e avançou na segunda posição, atrás do Cruzeiro-BRA e à frente de Caracas-VEN e Real Potosí-BOL. O “Ciclón” venceu três jogos, empatou um e perdeu dois, com oito gols marcados e sete sofridos.  Comandado pelo técnico Ramón Díaz, a equipe vinha no embalo do título do Clausura de 2007 e tinha alguns bons jogadores no elenco como o goleiro Orión, o meia D´Alessandro e os atacantes Silvera e Bergessio. Já o River procurava se reerguer depois de quatro temporadas ruins e cheias de eliminações traumáticas em torneios continentais. Comandado por Diego Simeone e com uma boa linha de frente formada por Buonanotte, Falcao García e Loco Abreu, a equipe de Nuñéz se classificou em primeiro no Grupo 5 da Libertadores com quatro vitórias e duas derrotas em seis jogos, com 14 gols marcados e oito sofridos.

No primeiro jogo entre os dois times, na casa do San Lorenzo, os azuis e grenás venceram por 2 a 1 (gols de Silvera e González) e podiam até empatar no Monumental para se classificar. Em Nuñéz, o River havia mostrado muita força e tido como imbatível. Já o San Lorenzo vinha de quatro vitórias seguidas na temporada e certo de que poderia sair do território hostil do inimigo com a vaga. Porém, o duelo da volta não seria muito confortável para a equipe de Almagro.

 

Primeiro tempo – tudo errado

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No dia do jogo, a temperatura no Monumental era a mais alta possível com a imensa festa da torcida do River, que enchia o estádio de fumaça e papeis picados, além de demonstrar apoio total ao seu clube de coração. Nos primeiros dez minutos de jogo, o San Lorenzo mostrou inteligência e calma ao manter a bola no campo de ataque e tocá-la com precisão, forçando o rival a abusar do chutão para frente e tirar a redonda de qualquer maneira de seu campo. No entanto, aos 9´, Abreu marcou o primeiro gol do River, mas o tento foi anulado equivocadamente pela arbitragem por impedimento. A torcida, claro, ficou indignada, mas o River tratou de fazer justiça com os próprios pés dois minutos depois.

Em cobrança de falta de Abelairas para a área azul e grená, Falcao García atrapalhou o goleiro Orión com uma “cortina” e o River abriu o placar no Monumental: 1 a 0. O gol abalou o toque de bola da equipe de Almagro, que passou a demonstrar muito nervosismo e pouca objetividade. Já o River era preguiçoso e não conseguia se inflamar em busca de mais e mais gols mesmo com o apoio maciço de sua torcida, que berrava sem parar com os tradicionais cânticos argentinos. O jogo foi ganhando mais tensão com jogadas ríspidas, trocas de “elogios” e muita disputa. Tanta pressão subiu à cabeça do goleiro Orión e do jogador Rivero, ambos do San Lorenzo. O primeiro levou cartão amarelo, aos 18´, e o segundo levou um amarelo, aos 14´, e um vermelho, aos 41´, após duas faltas duras. Com um a menos e um ambiente todo desfavorável, o San Lorenzo já temia pelo pior na segunda etapa.

Os times em campo: no 11 contra 11, o River se saiu melhor. No 9 contra 11, o San Lorenzo conseguiu aproveitar os espaços no setor direito da zaga do rival e marcou os gols da salvação.
Os times em campo: no 11 contra 11, o River se saiu melhor. No 9 contra 11, o San Lorenzo conseguiu aproveitar os espaços no setor direito da zaga do rival e marcou os gols da salvação.

 

Segundo tempo – pesadelo, esperança e milagre

Falcao Gárcia nos tempos de River.
Falcao García nos tempos de River.

 

No intervalo, o técnico Simeone mudou a postura tática do River e fez seu time adiantar a marcação com o intuito de fazer o San Lorenzo ficar acuado em seu próprio campo e começar a errar mais, o que levaria o time da casa a marcar mais gols e a encaminhar uma consequente classificação. Sem poder de reação, o San Lorenzo iniciou a segunda etapa afoito e sem espaços, com 10 homens e precisando de pelo menos um gol. Se a missão já era difícil, ela ficou quase impossível aos 16´, quando Falcao García recebeu na direita do meio de campo, deu um chapéu em Bottinelli e avançou em disparada até o campo de ataque. Na corrida, o colombiano perdeu a jogada para o zagueiro azul e grená, que recuou a bola para o goleiro Orión. Já sem a bola, Bottinelli acertou uma cotovelada em García pensando que o árbitro não iria ver. Mas ele viu, bem como toda a torcida do River, que praticamente apitou o pênalti para seu time.

Sem pensar duas vezes, o juiz expulsou Bottinelli e deixou o San Lorenzo com apenas nove homens. Na cobrança, Loco Abreu bateu (sem cavadinha…) e ampliou a vantagem do River: 2 a 0. A classificação dos “millonarios” estava encaminhada. A torcida ria à toa e já cantava feliz da vida os louros da próxima fase da Libertadores. Logo após o gol, o técnico Simeone tirou Augusto Fernández e colocou Rosales a fim de aproveitar a desvantagem numérica do adversário e pensar até em uma goleada. Porém, por mais incrível que pudesse parecer, a mexida do treinador diminuiu o poder de marcação do River pelo setor direito, o mesmo onde D´Alessandro, mais perigoso jogador de ataque do San Lorenzo, jogava. Estava aberto o caminho para uma improvável salvação do time azul e grená.

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Aos 24´, Orión chutou lá de trás uma bola em direção à área do River e a zaga tirou de qualquer maneira. A bola sobrou para González, que deixou na direita com D´Alessandro. O meia esperou a passagem do companheiro e devolveu com sutileza e precisão. González recebeu, segurou um pouco e cruzou para a área quase com a bola em cima da linha de fundo. Silvera dominou e, sem ângulo, decidiu recuar para alguém vestido em azul e grená. A bola foi ao encontro de Placente, livre, que só rolou na esquerda para Bergessio dominar e chutar forte: 2 a 1. Golaço! O resultado levava o jogo para os pênaltis, mas o San Lorenzo não queria de jeito nenhum tirar a sorte na marca da cal. Valente, com muito mais vontade que o rival e em seu ápice na partida, a equipe de Almagro passou a atacar o River em busca do segundo gol, mesmo que isso custasse um contra-ataque letal do adversário.

Aos 28´, escanteio para o San Lorenzo. D´Alessandro bateu no primeiro poste e Bergessio, como um foguete, apareceu para cabecear firme no canto oposto do goleiro Carrizo: 2 a 2. O Monumental emudeceu. E os poucos torcedores do time azul e grená no estádio entraram em estado profundo de euforia. Era o empate. Era a ressurreição. Era a classificação mais perto. E com apenas nove homens. Bergessio virava o herói de Almagro, tirava a camisa para extravasar e encarnava como nunca a fé que sempre moveu o Ciclón.

Bergessio vibra: mesmo com 9 jogadores, o San Lorenzo arrancou um empate do River e saiu do Monumental classificado.
Bergessio vibra: mesmo com 9 jogadores, o San Lorenzo arrancou um empate do River e saiu do Monumental classificado.

 

O empate obrigou o River a marcar dois gols nos minutos seguintes se quisesse continuar com o sonho da classificação vivo. Não havia outra opção. Simeone tirou Villagra, colocou Alexis Sánchez e mandou seu time ao ataque, mas sem nenhuma objetividade e organização. O San Lorenzo soube se defender, mostrou muita lucidez tática e neutralizou as investidas do rival. Falcao García e Alexis foram obrigados a recuar e construir as jogadas ao invés de eles receberem dos companheiros, que não tinham a qualidade de ambos para tal. Aos 37´, Rosales, do River, ainda acertou uma bola na trave. Aos 46´, o zagueiro Tuzzio foi expulso e acabou de vez com as remotas chances do River na partida.

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D´Alessandro vibra com Bergessio: dupla foi fundamental para a classificação heroica do San Lorenzo.
D´Alessandro vibra com Bergessio: dupla foi fundamental para a classificação heroica do San Lorenzo.

 

O 2 a 2 foi como uma vitória de goleada do San Lorenzo e classificou o time para as quartas de final. Para o River, era mais um resultado deprimente e uma eliminação bem dolorida que se somava às anteriores nas Libertadores de 2004 (para o rival Boca Juniors, na semifinal), 2005 (para o São Paulo-BRA, na semifinal) e 2006 (para o Libertad-PAR, nas quartas de final). No dia seguinte, os jornais argentinos estamparam em suas capas a força e garra demonstrada pelo San Lorenzo naquela partida histórica, que provou como nunca quais as características necessárias para se encarar um jogo de Libertadores: ter raça, determinação, força de vontade, talento, técnica e, claro, sorte e fé, esta última presente desde sempre na camisa e na tradição do San Lorenzo de Almagro.

A capa do tradicional jornal "Olé", no dia seguinte ao jogo épico: machos!
A capa do tradicional jornal “Olé” no dia seguinte ao jogo épico: machos!

 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

River Plate: a eliminação diante de um rival doméstico, somada a outros resultados ruins, deixou feridas profundas no River Plate. A equipe só disputou mais uma Libertadores desde então (em 2009, e foi eliminado ainda na fase de grupos), fez péssimas campanhas no Campeonato Argentino e chegou ao fundo do poço com o inédito rebaixamento para a segunda divisão, em 2011, após empatar em 1 a 1 contra o Belgrano, em casa, num jogo que teve a arbitragem do mesmo juiz do empate diante do San Lorenzo, em 2008: Sergio Pezzotta. O time conseguiu o acesso um ano depois e recuperou, ano após ano, o orgulho perdido, voltando aos tempos de glória que o tornaram um dos maiores times da Argentina e do mundo.

 

San Lorenzo: o time de Almagro foi embalado e muito esperançoso para o embate contra a LDU-EQU nas quartas de final daquela Libertadores, mas os equatorianos neutralizaram os argentinos nas duas partidas (ambas terminaram empatadas em 1 a 1) e venceram nos pênaltis por 5 a 3. Depois disso, a equipe azul e grená também disputou só mais uma Libertadores (em 2009, e foi eliminada na fase de grupos), perdeu seus principais jogadores e não brilhou mais no cenário nacional ou internacional. Porém, o clube de Almagro celebrou uma importante conquista, mesmo que fora de campo: a eleição de Jorge Mario Bergoglio como Papa, em 2013, torcedor fanático do San Lorenzo e que deve ter contribuído muito para um outro milagre do time azul e grená: o título da Copa Libertadores de 2014, exatamente após Francisco virar Papa.

A "abençoada" camisa do San Lorenzo: time conta com um precioso aliado no Vaticano...
A “abençoada” camisa do San Lorenzo: time conta com um precioso aliado no Vaticano…

 

 

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Comentários encerrados

Um Comentário

  1. Me recordo desse jogo, foram para muitos “Os piores cinco minutos da história do River”. Foi um jogaço e o San Lorenzo tinha um belíssimo time, mas caiu pra LDU de Manso e Bieler, dois argentinos, fora de casa… Merecia ter levado “La Copa”!

Técnico Imortal – Ênio Andrade

Craque Imortal – Pedro Rocha