Data: 23 de abril de 2017
O que estava em jogo: a vitória, claro, e pontos cruciais na 33ª rodada do Campeonato Espanhol de 2016-2017.
Local: Estádio Santiago Bernabéu, Madri, Espanha
Árbitro: Alejandro Hernández (ESP)
Público: 82.297 pessoas
Os Times:
Real Madrid-ESP: Navas; Carvajal, Sergio Ramos, Nacho e Marcelo; Kroos, Casemiro (Kovacic) e Modric; Bale (Asensio), Benzema (James Rodríguez) e Cristiano Ronaldo. Técnico: Zinédine Zidane.
Barcelona-ESP: Ter Stegen; Sergi Roberto, Piqué, Umtiti e Jordi Alba; Busquets, Rakitic e Iniesta; Messi, Suárez e Paco Alcácer (André Gomes). Técnico: Luis Enrique.
Placar: Real Madrid 2×3 Barcelona. Gols: (Casemiro-RMD, aos 28’, Messi-BAR, aos 33’ do 1º T; Rakitic-BAR, aos 27’, James Rodríguez-RMD, aos 41’, e Messi-BAR, aos 45’+2’ do 2º T).
Cartão Vermelho: Sergio Ramos-RMD, aos 32’ do 2º T
“Messi, 500”
Por Guilherme Diniz
Em mais de um século de jogos do El Clásico, nenhum jogador marcou tantos gols quanto Lionel Messi. Em 45 jogos oficiais, foram 26 gols, vários emblemáticos, muitos em duelos eliminatórios, todos inesquecíveis – seja do lado blaugrana (para o bem), seja do lado merengue (para pesadelos). Mas houve um jogo em que o argentino provou de uma vez por todas que era mesmo o “papai do Real”. Na 33ª rodada do Campeonato Espanhol de 2016-2017, justamente a melhor temporada do esquadrão madrileno multicampeão sob o comando de Zidane como técnico e Cristiano Ronaldo em campo, o Barcelona visitou o Real no Santiago Bernabéu com o Real como favorito. E o time da casa fez 1 a 0 com Casemiro, aos 28’. Poucos minutos se passaram e um jogador que há seis clássicos não marcava, marcou: Messi.
No segundo tempo, Rakitic virou, mas James Rodríguez empatou para os donos da casa. O clássico parecia mesmo fadado ao empate. Mas, nos acréscimos, um contra-ataque deu ao Barcelona a chance de mais um gol. A bola foi indo de pé em pé até Jordi Alba rolar para a entrada da área. Lá estava Messi. Do jeito que a bola veio, o camisa 10 bateu de primeira, perfeito, no canto. Indefensável. Inquestionável. Imparável: 3 a 2. Na comemoração, Messi tirou a camisa, virou e mostrou aos torcedores merengues. Era para gravar. Para que nunca mais se esquecessem que, por mais que o Real fosse gigante, estivesse em melhor fase e em velocidade de cruzeiro, Messi estava lá. O carrasco. O maior. E não era apenas um gol. Era o gol de número 500 da carreira do jogador com a camisa do Barça. Que maneira de chegar à tal marca. E que maneira de dar a vitória ao seu Barcelona. É hora de relembrar.
Sumário
Pré-jogo

Barça e Real viviam tempos de glórias e grandes craques naqueles anos 2010. Após a supremacia blaugrana entre 2008 e 2012, os merengues começaram a virar o jogo a partir de 2014, quando acabaram com o jejum de títulos na Liga dos Campeões da UEFA e passaram a duelar mais de igual para igual com o rival após a saída de Guardiola. Em 2015, o Barça reconquistou a UCL, mas logo em 2016 o Real voltou a vencer a competição, enquanto o Barça faturou o Campeonato Espanhol com um ponto de vantagem sobre o time do Bernabéu. Na temporada 2016-2017, as expectativas para a dupla eram enormes, mas os times demonstravam algumas diferenças entre si.
Se na UCL o Barça ia bem, no Campeonato Espanhol a história era outra. Nas primeiras 14 rodadas, o time não conseguiu emendar as boas sequências de vitórias das temporadas anteriores e perdeu dois jogos – 2 a 1 para o Alavés, em casa, e 4 a 3 para o Celta de Vigo, fora -, além de acumular quatro empates – entre eles um contra o rival Real Madrid, em casa, por 1 a 1. Com isso, o time estacionou na 2a posição e caiu para a terceira na 17a rodada, já temendo um distanciamento do Real Madrid de Zidane, que tratava La Liga como uma das principais metas da temporada, mais até que a Liga dos Campeões.
Só no returno que os culés emendaram seis vitórias seguidas e voltaram ao páreo, mas os tropeços fora de casa diante do Deportivo La Coruña (2 a 1), na 27a rodada, e Málaga (2 a 0), atrapalharam o andamento em busca do tricampeonato consecutivo. Na UCL, o Barça protagonizou La Remontada, quando reverteu a derrota por 4 a 0 para o PSG-FRA nas oitavas de final e aplicou 6 a 1 nos franceses no Camp Nou. Nas quartas, porém, os espanhóis foram eliminados pela Juventus-ITA, que chegaria à final.


Já o Real estava vivo na UCL após eliminar Napoli e Bayern e esperava o rival Atlético de Madrid nas semifinais. A equipe liderava La Liga e já havia conquistado naquela temporada a Supercopa da UEFA – vitória de 3 a 2 sobre o Sevilla – e o Mundial de Clubes da FIFA – vitória por 4 a 2 sobre o Kashiwa Antlers-JAP na final. A equipe de Zidane vivia seu auge técnico, com o Trio Eterno Casemiro, Kroos e Modric jogando muito no meio de campo e o ataque BBC (Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo) sempre decisivo. Além disso, aquele Real permaneceu de abril de 2016 até janeiro de 2017 sem perder, totalizando 40 jogos invicto, recorde na história do clube.
Faltando poucas rodadas para o fim de La Liga, o Real sabia que uma vitória diante do maior rival em casa seria decisiva para vencer o troféu que ainda não havia sido conquistado por Zidane, ainda mais porque o Real tinha um jogo a menos e, em caso de vitória, ficaria três pontos à frente e ainda com a chance de ampliar para seis se vencesse o jogo que faltava. Por isso, o técnico tratou de escalar força máxima mesmo com o primeiro jogo da semifinal da UCL bem próximo de acontecer. A única ausência seria o zagueiro Varane, substituído por Nacho, enquanto do lado blaugrana Paco Alcácer jogaria no lugar do suspenso Neymar.
Primeiro Tempo – Ele voltou a marcar

O jogo mal começou e logo aos 2’ teve um lance polêmico: Carvajal cruzou da direita para Cristiano Ronaldo e o português foi derrubado por Umtiti dentro da área. Os madrilenos pediram pênalti, mas o árbitro mandou seguir. O camisa 7, de fato, foi tocado, e tal lance certamente seria revisado pelo VAR se ele existisse na época. Aos 5’, o Real engatilhou um contra-ataque rápido com Cristiano Ronaldo pela direita, o craque passou pela marcação de Piqué e chutou, mas Ter Stegen defendeu sem dificuldades – o Gajo poderia ter tocado para Benzema, livre do outro lado. O Barça chegou com perigo aos 10’, quando Messi tocou na esquerda para Iniesta e este tocou no meio para Suárez. O uruguaio arriscou de fora da área e a bola passou com perigo.
O time catalão passou a controlar mais o jogo e exigiu mais atenção do Real, que viu Casemiro levar cartão amarelo aos 11’, após falta em Messi. Aos 17’, Modric trouxe o Real de volta ao ataque e tocou para Benzema. O atacante invadiu a área e chutou, mas foi muito fraco e Ter Stegen defendeu. A resposta blaugrana veio na sequência, quando Paco Alcácer tocou para Suárez e o uruguaio acabou pegando mal na bola. Aos 20’, CR7 mais uma vez recebeu boa bola, dessa vez no lado esquerdo, avançou e chutou cruzado, mas Ter Stegen evitou o gol merengue – grande partida do goleirão! Aos 21’, outro lance polêmico: em disputa de bola, Marcelo acertou o cotovelo em Messi, que sofreu um sangramento na boca. O brasileiro levantou um pouco o braço na hora do lance, mas não dava para saber se foi intencional ou não. O árbitro não sinalizou nada e Messi ficou com uma bandagem até o sangue cessar.


Depois de algumas chances desperdiçadas, enfim, o Real abriu o placar. Aos 28’, Marcelo cruzou na área e Sergio Ramos apareceu para desviar a bola. Ela bateu na trave e, no rebote, Casemiro aproveitou para colocar a redonda no fundo da rede. O Bernabéu foi ao delírio e era uma justiça diante das boas oportunidades do clube merengue até aquele momento. Só que o Barcelona não se abateu e foi pra cima. Quatro minuto depois, a equipe blaugrana foi para o ataque com Messi, que deixou para Busquets e já se mandou para a área. Enquanto isso, o camisa 5 tocou na direita para Rakitic, que devolveu de primeira para Messi, já perto dele. O camisa 10 passou por Modric, passou por Carvajal e, quando Nacho aparecia à sua frente, chutou forte, rasteiro, ao seu inconfundível estilo, para empatar o jogo: 1 a 1. GOLAÇO! Há seis jogos que o argentino não balançava as redes contra o Real. Pois o jejum estava estraçalhado! Já era o 46º gol de Messi na temporada. E seu gol de número 499 na carreira com a camisa azul e grená. Em pleno El Clásico, ele poderia alcançar os 500. Ele ficou ainda mais on fire. E a torcida do Real ainda mais temerosa…





Minutos depois, Modric chutou de fora da área, de perna esquerda, e obrigou Ter Stegen a fazer grande defesa. O goleiro blaugrana era um dos personagens do jogo, sempre bem colocado, atento e salvando o Barça. A partida ficou frenética e, aos 40’, Messi, endiabrado, recebeu de Suárez e chutou rente à trave de Navas. A bola desviou na defesa do Real, mas o árbitro ignorou o escanteio. Na sequência, Bale teve que ser substituído por Asensio, após sofrer uma lesão.
Perto do final do primeiro tempo, Casemiro parou um ataque blaugrana com falta, a terceira dele no jogo, e os jogadores do Barça reclamaram com o árbitro, pedindo a expulsão do brasileiro. Ele não levou cartão e deixou os atletas irritados. Ao término da primeira etapa, o empate era o reflexo do que foi o jogo, embora o Real tenha criado mais e levado mais perigo ao gol. Os merengues chutaram 9 vezes contra 7 do Barça, enquanto os blaugranas tiveram 59% de posse contra 41% dos donos da casa. O lado negativo era a arbitragem, muito ruim e aliviando a barra de Casemiro, que poderia ter sido expulso devido ao excesso de faltas.
Segundo tempo – 500 vezes Messi

Querendo a vitória, o Real começou no ataque mais uma vez e, logo aos 3’, Marcelo apareceu na esquerda, tocou no meio para Kroos e o alemão chutou forte, mas Ter Stegen, de novo, fez uma defesaça! Minutos depois, Kroos avançou pelo meio, tocou para Marcelo na esquerda e o lateral cruzou para Benzema, que testou à queima roupa e Ter Stegen defendeu de maneira impressionante com as pernas! Minutos depois, Navas, com os pés, salvou um gol certo do Barça após Alcácer receber passe de Rakitic e, dentro da área, bater para a defesa do costarriquenho. Tempo depois, após cobrança de escanteio, Piqué cabeceou e Navas fez outra grande defesa. Aos 16’, Suárez e Carvajal disputaram a bola e começaram a discutir. O árbitro teve que intervir para evitar uma briga entre a dupla.
Aos 22’, Benzema puxou contra-ataque pela direita, esperou a passagem de Asensio e deixou com o meia, que avançou e tocou no meio para Cristiano Ronaldo. Era gol. Mas o camisa 7 pegou muito mal na bola e mandou longe, mas muito longe do gol. Que chance desperdiçada em um dia ruim do craque. Logo no minuto seguinte, Iniesta conduziu a bola pelo meio e cruzou na área para Suárez. O uruguaio chutou, mas Navas defendeu magistralmente e mandou para escanteio. Aliás, aquele era o clássico dos goleiros, que trabalhavam muito e brilhavam demais!

Aos 25’, Zidane mexeu no time e colocou Kovacic no lugar do amarelado Casemiro, a fim de evitar uma possível expulsão do brasileiro. Do lado do Barça, André Gomes entrou no lugar do apagado Paco Alcácer. Logo aos 27’, Kovacic apareceu pela primeira vez, tocou para Asensio e Ter Stegen foi buscar no cantinho. Até que, no minuto seguinte, o Barça chegou ao ataque com Jordi Alba, que tocou para Messi e este deixou com Rakitic. O croata dominou, cortou Kroos e chutou de fora da área para marcar um golaço: 2 a 1. Virada blaugrana no Bernabéu!
Com a desvantagem, o time merengue teve que ir com tudo pra cima, mas acabou dando espaços lá atrás. E, aos 32’, em um contra-ataque, Messi ia ficar livre para fazer o terceiro gol, mas foi parado com um carrinho por Sergio Ramos. O defensor merengue levou o cartão vermelho direto (mais um para a interminável coleção do espanhol…) e deixou os donos da casa com um a menos justamente em um momento tão crucial da partida. Na sequência, Carvajal levou cartão amarelo.



Com um a mais, o Barcelona ficou mais no ataque e passou a dominar o rival, que teve que começar a apelar para as faltas – aos 36’, Kovacic também levou amarelo. Zidane decidiu colocar James Rodríguez no lugar de Benzema para povoar mais o meio de campo e preencher os espaços. E o treinador acertou em cheio. Aos 40’, Kroos fez outra jogada com Marcelo pela esquerda e o brasileiro cruzou na área. James Rodríguez apareceu livre e só desviou de primeira para vencer Ter Stegen e empatar: 2 a 2. Providencial! E primeiro jogador colombiano a marcar um gol na história do El Clásico! O gol deixou o Real ávido para a virada. O time merengue tentava, mas não conseguia.
O árbitro sinalizou mais dois minutos de acréscimos e o Barça tentava pelo menos segurar o empate. Bem, isso até chegar o minuto final. Sergi Roberto iniciou um contra-ataque pelo meio de campo, com quatro jogadores do Barça à sua volta e apenas três do Real. Sergi tocou na esquerda, para André Gomes, que segurou até a chegada de Jordi Alba. O lateral recebeu do companheiro, olhou para a área e tocou na entrada da área para ele… Messi. Do jeito que a bola veio, ele chutou no canto direito do goleiro Navas, que até estava por ali, mas não conseguiu segurar: 3 a 2.





Era o gol da vitória do Barça. De mais um show de Messi. E o gol de número 500 do argentino pelo clube. O carrasco maior do temido Real Madrid. O jogador que sempre causou calafrios e pânico em uma torcida tão acostumada a ver o seu time causar calafrios e pânico nos rivais. Na comemoração, Messi tirou a camisa, virou e a mostrou para todos os que estavam ali: Messi, 10. Exibiu o manto para que gravassem. Para que soubessem que enquanto ele estivesse ali, com a camisa do Barcelona, ele sempre poderia fazer algo. De um jeito ou de outro. Era preciso “respeitar o pai”. O autor de 26 gols sobre os merengues. O jogador que mais fez gols sobre o Real Madrid dentro do Santiago Bernabéu – 15 gols. O jogo acabou ali mesmo. A vitória por 3 a 2 deixou o Barça na liderança do campeonato, embora com um jogo a mais. Não era muita coisa àquela altura. Triunfar em um clássico daquele tamanho, naquelas circunstâncias, valia muito mais. Principalmente por mais um baile de Messi, 500.
Pós-jogo: O que aconteceu depois?
Real Madrid: a equipe merengue perdeu a liderança para os blaugranas, mas nem tudo estava perdido. No duelo seguinte, contra o Deportivo, fora de casa, a volta por cima veio com um categórico 6 a 2. Vieram mais cinco vitórias seguidas, sequência que sacramentou o título nacional dos merengues, uma taça celebradíssima por Zidane pela dificuldade e percalços de um torneio tão longo e com adversários tão hostis. O Real venceu 29, empatou seis e perdeu apenas três dos 38 jogos, somando 93 pontos, contra 90 do Barcelona. Foram 106 gols marcados e 41 sofridos. A equipe ainda venceu a Liga dos Campeões da UEFA pela segunda vez seguida – 4 a 1 sobre a Juventus na final – e quebrou uma escrita de quase três décadas – o último clube que havia vencido a UCL duas vezes seguidas foi o Milan em 1989/1990. Meses depois, na final da Supercopa da Espanha, o Real deu o troco no rival e foi campeão em cima do Barça ao vencer o duelo de ida, no Camp Nou, por 3 a 1, e a volta por 2 a 0, no Santiago Bernabéu. O destaque foi Cristiano Ronaldo, que marcou um gol na ida e repetiu a comemoração de Messi. Leia mais clicando aqui!

Barcelona: após o triunfo, o Barça não perdeu mais. Só que não foi suficiente para evitar o título do Real Madrid, que ficou três pontos à frente do rival e com uma vitória a mais (29 a 28), além de perder um jogo a menos do que os blaugranas (3). Mesmo com o vice, o Barça teve o melhor ataque da competição com 116 gols marcados e o artilheiro: Lionel Messi, com 37 gols, seguido de Suárez, com 29. Neymar, com 15 assistências, foi o maior garçom de La Liga, seguido de Suárez, com 14. Aquela foi a última grande temporada do Barça do trio MSN, desfeito após a transferência de Neymar para o PSG, além de o técnico Luis Enrique deixar o clube para a chegada de Ernesto Valverde. Leia mais clicando aqui!
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