Grandes feitos: Heptacampeão do Campeonato Francês (2001-2002, 2002-2003, 2003-2004, 2004-2005, 2005-2006, 2006-2007 e 2007-2008), Campeão da Copa da França (2007-2008), Campeão da Copa da Liga Francesa (2000-2001) e Hexacampeão da Supercopa da França (2002, 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007). Estabeleceu a maior hegemonia da história do Campeonato Francês em todos os tempos.
Time-base: Grégory Coupet; Anthony Réveillère (Chanelet / Deflandre), Cris (Edmílson / Patrick Müller), Cláudio Caçapa (Squillaci) e Éric Abidal (Bréchet / Berthod / Fabio Grosso); Mahamadou Diarra (Violeau / Marc-Vivien Foe / Tiago / Bodmer), Michael Essien (Carrière / Dhorasoo / Kim Kärlström), Florent Malouda (Jérémy Toulalan / Ben Arfa / Luyindula) e Juninho Pernambucano; Sylvain Wiltord (Sonny Anderson / Élber / Fred / Benzema) e Sidney Govou (John Carew). Técnicos: Jacques Santini (2000-2002), Paul Le Guen (2002-2005), Gérard Houllier (2005-2007) e Alain Perrin (2007-2008).
“Le Roi Lyon”
Por Rafael Abduche
O Olympique Lyonnais era o único dos mais tradicionais clubes da França que não tinha um título sequer do campeonato nacional naquele começo de anos 2000. Olhar para o rol dos campeões e não encontrar o nome do time doía demais no orgulho do torcedor. Foi então que, na temporada 2001-2002, o time de Lyon conseguiu, enfim, chegar ao topo. Mas ainda era pouco. Eles queriam mais. Muito mais. Era hora de passar a limpo as décadas de atraso. Hora de começar uma dinastia. Vencer um título que simbolizasse cada década sem taças na Ligue 1. Com juros, claro. O Lyon conquistou não só um, mas sete títulos (!) consecutivos e construiu uma hegemonia que as maiores ligas da Europa nunca haviam visto antes. Se chegar ao topo é difícil, imagine permanecer por sete temporadas consecutivas? O clube localizado no coração do país de Louis XIV rompeu as barreiras da história do futebol francês e formou uma dinastia que faria inveja ao monarca absolutista. No entanto, no globalizado século XXI, a coroação do Lyon teve tempero estrangeiro – principalmente brasileiro. Sonny Anderson, Cláudio Caçapa, Edmílson, Cris e Juninho Pernambucano, certamente o melhor jogador da história do clube, foram alguns dos jogadores que passaram pelo Lyon durante aqueles anos dourados.
Os Gones – como são carinhosamente chamados – fizeram valer também do talento africano, como nos casos de Michael Essien e Mahamadou Diarra. E, claro, o time contou com vários talentos locais, sendo, inclusive, um dos principais fornecedores de atletas para a Seleção Francesa daquele período. Grégory Coupet, Florent Malouda, Govou e Éric Abidal foram alguns exemplos que brilharam tanto com os Gones quanto com os Bleus, além de Benzema e Toulalan seguirem esses mesmos passos tempos depois. Com vários nomes de destaque, esse Lyon marcou época não só pelo longo período no topo, mas também por conseguir suprir as naturais mudanças no elenco com peças tão boas ou melhores. Além disso, os vários técnicos que comandaram o time souberam administrar a sina competitiva da equipe com um absolutismo impressionante. E, assim como Louis XIV é lembrado há séculos por sua longa dinastia, esse Lyon também seguiu os passos dominantes do monarca e segue insuperável. É hora de relembrar.
A refundação do Olympique Lyonnais
Até Jean-Michel Aulas chegar à presidência do clube, Lyon era uma cidade conhecida pelos grandes expoentes da Nouvelle Vague, como berço do cinematógrafo dos irmãos Lumière e pela culinária refinada. Era muito burguesa, um ambiente no qual o futebol não prosperava historicamente. Se alguém que visitasse Lyon quisesse assistir a um bom jogo de futebol, era preciso ir 40 quilômetros a sudoeste para Saint-Étienne, casa do rival homônimo dos Gones. Antes do primeiro título nacional do Lyon, os alviverdes tinham dez conquistas no campeonato nacional e eram os maiores campeões do país. No entanto, a partir da chegada de Aulas, o eixo de poder do futebol francês seria invertido, com o Saint-Étienne estacionado nos dez títulos e o Lyon protagonista.
Aulas era um empresário do ramo da informática, fundador e diretor executivo da empresa de softwares CEGID. Quando ele assumiu os Gones, o clube perambulava pela segunda divisão nacional e havia conquistado apenas três Copas da França e dois campeonatos da “segundona francesa” até então. O empresário trouxe uma visão de mercado para o esporte e é até hoje considerado um dos experts em como atuar na janela de transferências do futebol internacional. Muito do sucesso do Lyon seria creditado à habilidade de Aulas em contratar bem – e por isso o clube formou um elenco que não sentia a venda dos seus maiores destaques durante os anos dourados do clube.
O primeiro grande treinador durante a “era Aulas” foi Raymond Domenech, que assumiu o clube logo após o título da segunda divisão em 1989. Depois de dois anos na primeira divisão, o Lyon chegaria, para surpresa geral, a disputar uma competição europeia, a Copa da UEFA – atual Liga Europa. Logo antes da época dourada do clube, a ascensão do Lyon era notória, e um time que frequentava a segunda divisão na década anterior já disputava o título. Em 1999 e 2000 – já sem Domenech -, os Gones ficaram na terceira colocação. Na temporada 2000-2001, eles foram ainda mais longe, e chegaram ao vice-campeonato, pertinho do tão sonhado primeiro título francês. Mas, para erguer a taça, era preciso paciência e planejamento.
Quem sabe usar o mercado sai na frente
Toda a montagem daquele time foi rigorosamente pensada, a partir de uma cartilha que Aulas seguia para decidir as contratações do clube. Após alguns anos de observação do mercado de transferências, ele percebeu que algumas regras eram importantes para lograr êxito em um ambiente hostil e no qual clubes de menor expressão – como o Lyon – muitas vezes não têm a palavra final nas negociações. Por isso, as contratações seguiam alguns passos:
- Usar um conselho diretor para ter opiniões diversas: Aulas percebeu que o técnico da equipe nas campanhas que bateram na trave do título francês, Bernard Lacombe, tinha um bom olho para identificar talentos. Decidiu então promovê-lo a diretor de futebol para aproveitar melhor seu talento. Os dois, ao lado do técnico do time na época e alguns conselheiros, formavam um conselho diretor – de preferência com a maior quantidade de opiniões possível -, para decidir quais as contratações deveriam ser feitas. Essa prática era diferente em relação a outros clubes europeus na época, principalmente os ingleses, nos quais o técnico tinha carta branca para decidir tudo praticamente sozinho;
- A melhor idade para contratar um jogador é entre 20 e 23 anos: com essa idade, já é possível ter uma base de dados suficiente para prever qual é o potencial do atleta. No entanto, ele ainda não desenvolveu todo esse potencial, e, por isso, é mais barato que jogadores de 25 a 28 anos. Essa estratégia foi usada em várias contratações do clube, como os casos de Fred, Florent Malouda, Michael Essien e Mahamadou Diarra.
Curiosamente, talvez as duas principais contratações durante a “era Aulas” foram fechadas com jogadores um pouco mais velhos. O primeiro foi o brasileiro Sonny Anderson, de 29 anos, que chegou do Barcelona-ESP em 1999. Ele já tinha uma passagem de sucesso no futebol francês quando atuou pelo Monaco entre 1994 e 1997, era um atacante goleador que chegou, inclusive, a vestir a camisa da seleção brasileira. Ao fim de sua passagem na Ligue 1, marcou 138 gols em 221 jogos na competição. Por isso, foi um dos raros momentos em que o clube realmente gastou muito dinheiro – na época foram quase 19 milhões de euros – para contar com um jogador.
A outra cartada de mestre de Aulas foi a compra de um jogador acima de 23 anos que seria simplesmente o maior nome da história do clube: Juninho Pernambucano. Quando o atleta chegou ao Lyon, ele já havia sido campeão da Libertadores e Brasileiro pelo Vasco e tinha 26 anos. No entanto, é importante lembrar que Juninho veio sem custos ao clube francês. Após entrar na justiça por conta de uma briga com a diretoria do Vasco na época, ele se transferiu para os Gones, que não precisou depositar um centavo para contar com o craque. Em Lyon, ele pôde desenvolver seu futebol ao máximo e mostrar para o mundo a habilidade que o Brasil inteiro já conhecia: a cobrança de falta perfeita, batendo de peito na bola, que subia e descia em uma velocidade impressionante e cujo destino muitas vezes era o fundo das redes. Como maestro do time, participou de todos os títulos franceses que o Lyon viria a ganhar;
- Sempre venda um jogador quando te oferecem muito mais do que ele vale: O preço do sucesso muitas vezes é caro ou os outros pagam alto por ele. Por isso, assim que jogadores começaram a atuar bem e ganharam títulos pelos Gones, o assédio de outros clubes foi inevitável. Por isso, Aulas já esperava que ofertas volumosas chegassem a seus jogadores. Ele sempre tentava fazer essa substituição seis meses antes. Um exemplo disso foi a venda de Michael Essien para o Chelsea, em 2005. Quando os rumores começaram, Aulas dizia que o volante era intransferível, em uma clara tentativa de inflacionar o preço do ganês no mercado. Por isso, foi negociado por uma cifra de 43 milhões de euros. Quando Essien foi embora, o clube já tinha alguns atletas prontos para substituí-lo no elenco. Além disso, o clube pôde reinvestir o dinheiro da venda de Essien no volante português Tiago, que custou 25% do preço do ganês;
- Ajude sempre um estrangeiro a se sentir em casa: No período glorioso de sua história, alguns brasileiros passaram pelo Lyon. Além de Juninho, Sonny Anderson e Fred, Edmílson, Cláudio Caçapa e Cris – zagueiro que por muito tempo foi o capitão daquele esquadrão – foram alguns dos brasileiros importantes que passaram por lá. O trabalho sério começava já no Brasil, com o ex-jogador do clube Marcelo, olheiro dos Gones em terras tupiniquins. Ele não só observava jogadores com o potencial técnico de prosperar na Europa, mas também aqueles cuja personalidade era mais adequada para se adaptar ao Velho Continente. Além disso, quando os estrangeiros chegavam à França, um tradutor se ocupava full-time dos atletas. Outros funcionários se preocupavam, ainda, com problemas que os jogadores poderiam ter em casa, contas bancárias e ensinavam a cultura do clube. Lá, não era a Hollywood do futebol, então era preciso muito trabalho e dedicação. Isso tudo para fazer com que os atletas só tivessem como foco jogar bola e esquecessem todos – ou a maioria – dos possíveis problemas que eles poderiam ter em um novo país.
A primeira vez a gente nunca esquece
Confirmando as boas campanhas dos anos anteriores, o Lyon era um dos favoritos para conquistar o título francês da temporada 2001-2002. Na temporada anterior, eles tinham ficado com o vice-campeonato, apenas quatro pontos atrás do campeão Nantes. No entanto, foi em 2001 que o Lyon matou uma seca de 28 anos sem uma conquista nacional. No dia 5 de maio de 2001, cerca de 40 mil fanáticos pelo Lyon e sedentos por uma conquista viajaram até Saint-Denis para assistir à final da Copa da Liga Francesa contra o perigoso Monaco de Gallardo, Giuly, Simone, Rafa Márquez e Panucci. Com um gol salvador de Patrick Müller, que entrou na prorrogação, o Lyon venceu por 2 a 1 e conquistou o título que simbolizou o início de uma nova era.
Apesar dos bons nomes em campo, o time demorou para engrenar na temporada 2001-2002. Após um início claudicante, o Lyon só começou a sonhar com o título nas últimas onze rodadas, quando engrenou uma sequência de vitórias e viu o líder Lens tropeçar em suas partidas. Depois da vitória fora de casa contra o Bordeaux na penúltima rodada, os Gones ficaram a um ponto de distância do Lens. No entanto, a última rodada reservava uma surpresa irresistível ao destino: Lyon x Lens, no Stade de Gerland.
A equipe era comandada por Jacques Santini, que assumiu após Lacombe virar diretor do clube. Em campo, os Gones contavam com o faro de gol de Sonny Anderson, os primeiros passos de Juninho no clube – que à época jogava aberto pela ponta direita -, a segurança de Grégory Coupet no gol, os brasileiros Cláudio Caçapa e Edmílson na zaga, além do habilidoso Sidney Govou. Para a partida decisiva, a cidade inteira se mobilizou. A entrada dos times em campo mais parecia uma atmosfera de Libertadores, com sinalizadores, bandeiras com mastro e uma sinfonia coletiva que arrepiava qualquer um que pisasse no gramado do Gerland. Dentro de campo, os Gones não deram chances ao Lens. Contagiados pelo ambiente da arquibancada, o Lyon partiu logo para cima, e, aos oito minutos, Govou fez jogada individual pela esquerda, cortou para o meio e bateu de direita: 1 a 0. Logo depois, em cruzamento do meia-esquerda Laigle, o volante Violeau completou para ampliar. O Lens até diminuiu ainda no primeiro tempo, mas o gol derradeiro do próprio Laigle sacramentou o primeiro título da história do Lyon.
Ao apito final, explosão de euforia não só no Gerland, mas em todos os bares, ruas e praças. Definitivamente, a cidade burguesa de Lyon estava contaminada pelo futebol. E uma curiosidade: os Gones só foram líderes em duas rodadas: a 9ª e a última. A equipe teve 66 pontos (dois a mais do que o Lens), 20 vitórias, seis empates e oito derrotas em 34 jogos. Sonny Anderson, com 14 gols, foi o artilheiro do time. O desempenho dos brasileiros naquele título foi notável, principalmente do zagueiro Edmílson, que foi titular na seleção brasileira campeã do mundo em 2002. Presente em 29 dos 34 jogos, Juninho também foi outro a se destacar naquele time que começaria uma história fantástica na França.
“O Lyon só começou a brigar pelo título quando faltavam 11 rodadas. A gente emendou uma sequência de vitórias (foram quatro vitórias e um empate nos cinco jogos antes do duelo derradeiro), que nos permitiu chegar ao último jogo para disputar uma final. Pegamos o Lens em nossa casa, um ponto atrás deles. E tivemos a oportunidade. Eu me lembro que foi o primeiro momento de pressão que senti na França. Quando entramos em campo, uma faixa da torcida nos cobrava.
Eu não me lembro exatamente o que dizia, mas era algo muito forte, apontando que era a grande chance. Então, aquele título abriu de vez as portas para o crescimento do clube. Ninguém imaginava que o clube continuaria crescendo. E, mais do que os jogadores, o grande responsável por isso foi o presidente Jean-Michel Aulas. Ele pegou o time na segunda divisão, ajudou a ter estádio próprio, levou a paixão de vez ao futebol em uma cidade relativamente burguesa. A paixão sempre existiu, mas não da maneira que se deu com as conquistas importantes. Esse primeiro título provocou muito orgulho”. – Juninho, em entrevista ao site Trivela, 04 de maio de 2017.
Mudança técnica e hegemonia
A temporada seguinte começou com o título da Supercopa da França, conquistado com uma goleada de 5 a 1 sobre o Lorient, e uma mudança no banco, com Paul Le Guen substituindo Santini. Assim como na campanha do primeiro título, o Lyon não começou bem a Ligue 1 e não conseguiu engatilhar uma boa sequência de vitórias – além de ser muito prejudicado, também, pela lesão de Sonny Anderson, que ficou de fora dos gramados por três meses. Esse, inclusive, foi o último ano do centroavante no Lyon, que seguiu para o Villarreal.
Mais uma vez, a epopeia dos Gones terminou com um título somente na penúltima rodada, após um empate com o Montpellier e a derrota do Monaco. Juninho começava a assumir o protagonismo da equipe e não só foi o artilheiro do time no campeonato com 13 gols, mas também marcou o gol do título – no empate em 1 a 1 com o Montpellier. A temporada 2002-2003 marcou também a contratação do desconhecido Diarra, que formaria um meio-campo fantástico com Malouda e Essien muito em breve.
A cidade de Lyon, justamente por estar longe dos grandes holofotes, permitia contratações de meros desconhecidos simplesmente pelo potencial que apresentavam. Malouda, por exemplo, se destacou na temporada 2002-2003 ao lado de Didier Drogba no Guingamp. Os dois, inclusive, foram responsáveis por carimbar a faixa dos Gones naquele ano. Na última partida do campeonato, o Guingamp aplicou sonoros 4 a 1 sobre o Lyon. Os gols: dois de Malouda, dois de Drogba. No próximo campeonato, o volante estaria vestindo a camisa dos Gones, enquanto que o atacante marfinense seguiu para o sul da França para fechar com o Olympique de Marselha.
Na temporada 2003-2004, o time começava a jogar no modo automático. Foram campeões com três pontos de vantagem sobre o PSG. Juninho, agora, já comandava o time cadenciando o jogo, nas bolas paradas e na liderança junto ao elenco. Ele ia trilhando o percurso para ser o maior ídolo da história do clube. Ao lado de Essien e com a proteção de Diarra e Dhorasoo, o brasileiro construía as principais jogadas do time e era o maestro que ditava o ritmo de jogo. No ataque, a grande fase de Luyindula e Élber colaboraram para o título e o melhor ataque da equipe na competição – 64 gols em 34 jogos.
Com um time muito entrosado, a torcida tinha esperança de um bom desempenho do Lyon na Liga dos Campeões da UEFA, competição que a equipe acumulava eliminações nas fases de grupos e não conseguia confirmar a dominância que tinha na França em terras estrangeiras. Na fase de grupos, os Gones terminaram na primeira colocação um grupo com Bayern München-ALE, Anderlecht-BEL e Celtic-ESC, com três vitórias (incluindo um 2 a 1 pra cima dos alemães em plena Munique), um empate e duas derrotas. Nas oitavas, os franceses venceram os dois duelos contra a Real Sociedad-ESP (1 a 0 em casa e 1 a 0 fora), mas acabaram eliminados pelo futuro campeão Porto-POR nas quartas.
Na temporada 2004-2005, o Lyon fez sua melhor campanha desde 2002 para levantar o tetracampeonato. Reforçado com o zagueiro brasileiro Cris, o lateral-esquerdo Abidal e com a integração ao elenco profissional de um jovem atacante de apenas 18 anos, cria das bases, chamado Karin Benzema, a equipe assumiu a ponta na 11ª rodada e não largou mais. Com 22 vitórias, 13 empates e apenas três derrotas, os Gones somaram 79 pontos – 12 a mais do que o vice, Lille – e Paul Le Guen levantou sua terceira taça nacional como técnico do clube. Um dos grandes momentos daquele título foi em maio de 2005, quando o Lyon foi ao Vélodrome enfrentar o sempre hostil Olympique e venceu por 1 a 0, com um golaço de Juninho, que saiu costurando da esquerda para o meio, passou por três adversários com dribles curtos e, da entrada da área, colocou a bola no canto baixo do goleiro. O brasileiro foi mais uma vez artilheiro do Lyon no torneio com 13 gols.
Foi naquela época que o Lyon teve em sua plenitude o meio de campo com Essien, Diarra, Malouda e Juninho, considerado na época um dos mais fortes e coesos do continente. E essa força foi comprovada outra vez com uma boa campanha na Liga dos Campeões. Na primeira fase, os franceses foram líderes do Grupo D, à frente do Manchester United-ING, do Fenerbahçe-TUR e do Sparta Praga-RCH. O Lyon terminou com quatro vitórias, um empate e uma derrota em seis jogos, com destaque para as vitórias fora de casa sobre turcos (3 a 1) e checos (2 a 1) e as goleadas sobre os mesmos rivais em casa (4 a 2 sobre o Fener e 5 a 0 sobre o Sparta). Contra o United, os Gones empataram em casa (2 a 2) e perderam fora (2 a 1).
No mata-mata, a equipe francesa deu show contra o Werder Bremen-ALE e fez 3 a 0 no duelo de ida, em plena Alemanha, com gols de Juninho, Diarra e Wiltord. Na volta, no Stade de Gerland, um vareio histórico: 7 a 2, com três de Wiltord, dois de Essien, um de Malouda e um de Berthod. Nas quartas, o Lyon era favorito diante do PSV-HOL. Na ida, jogando em casa, a equipe de Le Guen empatou em 1 a 1. Na volta, novo empate em 1 a 1, mas duras críticas à arbitragem, que não marcou um pênalti no finalzinho do jogo. Nos pênaltis, melhor para os holandeses, que venceram por 4 a 2 e se aproveitaram dos erros de Abidal e Essien. Ao término da temporada, Paul Le Guen decidiu tirar um ano sabático e foi substituído por Gérard Houllier, ex-técnico do Liverpool. Será que a nova troca de comando iria afetar o rendimento do time?
Experiente e campeão
Por incrível que pareça, mesmo com a terceira mudança de treinador desde o primeiro título nacional, o Lyon conseguiu manter a consistência que se consolidou em hegemonia no Campeonato Francês em 2005-2006. Com a mesma base e ainda as contratações dos atacantes John Carew e Fred e do volante Tiago, o time ficou ainda mais forte coletivamente e galgou sem percalços mais uma campanha vencedora no torneio nacional, com 15 pontos de vantagem sobre o Bordeaux. Fred foi o artilheiro do Lyon na competição com 14 tentos. Juninho foi outra vez o maestro do time, eleito o melhor jogador do torneio e autor de nove gols. A maturidade era a grande tona do Lyon naquele momento.
“O Lyon tem e tinha a consciência do tamanho dele em relação aos outros clubes. Sabia que não poderia dar um passo para, da noite para o dia, ser igual aos grandes. Então, tudo o que era feito pelo clube tinha muita análise, muito estudo. Planejava as contratações, passou a investir na base. O Lyon atravessou uma época em que errava pouco nas contratações. Mas, ao mesmo tempo, mantinha uma base. Se você pegar o elenco, alguns jogadores participaram da maioria das conquistas. E aí é que estava a diferença, na minha opinião: os jogadores novos viam um time multicampeão que trabalhava forte para aquilo. Nosso ritmo nos treinos era muito alto, nossa intensidade. Aquilo criou uma relação muito forte, um elenco bom. Aí, claro, o dinheiro começou a sobrar e o Lyon mandou um pouco mais no mercado nacional. Trouxe jogadores jovens, como o Essien, o Toulalan, o Diarra, o Abidal”. – Juninho, em entrevista ao site Trivela, 04 de maio de 2017.
A equipe foi líder da 5ª até a 38ª rodada. Aplicou a maior goleada do torneio – 8 a 1 no Le Mans -, teve o melhor ataque (73 gols), venceu 25 jogos, empatou oito e perdeu apenas quatro. Além do pentacampeonato nacional, os Gones venceram mais uma Supercopa da França – 4 a 1 sobre o Auxerre, mas decepcionaram nas copas nacionais.
Show sobre os merengues e nova queda na Liga
Na Liga dos Campeões da UEFA de 2005-2006, o Lyon outra vez encarou um titã europeu logo na fase de grupos: o Real Madrid-ESP. No entanto, o time francês não se intimidou com os badalados rivais e venceu por 3 a 0 o duelo disputado no Stade de Gerland, logo na estreia de ambos os times na competição. Carew, Juninho e Wiltord anotaram os gols dos Gones, que venceram o Rosenborg-NOR (1 a 0, fora) e o Olympiacos (2 a 1, em casa) e encaminharam a liderança do Grupo F, consolidada após a goleada de 4 a 1 sobre os gregos, fora, o empate em 1 a 1 com o Real, em Madrid, e o triunfo por 2 a 1 sobre os noruegueses, em casa.
Foram 16 pontos, cinco vitórias e um empate em seis jogos, campanha que embalou o time para as oitavas de final, na qual os franceses tiveram pela frente o PSV, algoz da temporada anterior. E o time de Juninho conseguiu a vingança. Na ida, em Eindhoven, vitória do Lyon por 1 a 0 (gol de Juninho). Na volta, no Gerland, sapecada dos franceses: 4 a 0, com dois gols de Tiago, um de Wiltord e um de Fred. Uma pena que nas quartas a equipe tenha tido o desprazer de enfrentar o fortíssimo Milan-ITA da época, que acabou segurando um empate sem gols na França e vencendo por 3 a 1 a volta, em Milão. Outra vez o time sucumbia em um mata-mata e dava sinais de que seu sucesso estava restrito, mesmo, ao campeonato nacional.
Hexa e Hepta
O Lyon perdeu Essien e Mahamadou Diarra ao longo de 2005 e 2006, mas se reforçou devidamente para a temporada 2006-2007 com mais de 45 milhões de euros em reforços. Chegaram Toulalan, Källström e Squillaci, a equipe manteve a base de sucesso da temporada anterior, e, claro, conquistou o hexacampeonato nacional. A equipe foi líder na primeira rodada, perdeu o posto por apenas cinco, e assumiu de vez a partir da 6ª. Foram 81 pontos – 17 a mais do que o Olympique -, 24 vitórias, nove empates, cinco derrotas, 64 gols marcados (melhor ataque) e 27 sofridos (melhor defesa). Fred, com 11 gols, foi mais uma vez artilheiro do time no torneio, seguido de Juninho e Malouda, ambos com 10.
Um dos jogos mais marcantes daquela campanha foi o duelo contra o Olympique, fora de casa, em outubro de 2006. Era o jogo mil do Canal+, uma das principais emissoras de televisão da França. A expectativa para a partida era bem grande, e o Lyon teve até dificuldades para chegar ao Vélodrome por conta da torcida rival. Até Zinedine Zidane estava na arquibancada. Mas, em campo, só deu Lyon: 4 a 1 com facilidade, com direito a um dos gols de falta mais bonitos da carreira de Juninho. Do lado direito do campo, ele soltou um foguete cruzado, que ia morrer na rede esquerda do gol.
A fama do Lyon já era uma unanimidade e despertava fãs até mesmo fora da França. A força do elenco daquele time ficou claramente exemplificada nas convocações das seleções para a Copa do Mundo de 2006. Foram 10 atletas do Lyon presentes no Mundial da Alemanha: Tiago (Portugal), Cris, Juninho e Fred (Brasil), Abidal, Malouda, Govou, Wiltord e Coupet (França) e Patrick Müller (Suíça), isso sem contar Essien e Dhorasoo, convocados por Gana e França, respectivamente, mas que jogavam por outros clubes na época. E vale lembrar que Abidal e Malouda foram titulares absolutos da grande França vice-campeã mundial em 2006, além de Wiltord e Govou, que entraram em vários jogos e foram reservas de luxo. E mais: o goleiro Coupet era o preferido da imprensa francesa na época para assumir o lugar de Barthez, mas a titularidade acabou ficando com o carequinha.
Mesmo com o título nacional e a fama de seus atletas, o Lyon outra vez sucumbiu nas competições de tiro curto. Nas copas, caiu nas oitavas da Copa da França para o Olympique. Na Copa da Liga Francesa, alcançou a final, mas perdeu para o Bordeaux com um dolorido gol no penúltimo minuto. E, na Liga dos Campeões, o time voltou a ser líder de seu grupo, venceu mais uma vez o Real Madrid no Gerland (2 a 0) e empatou em Madrid (2 a 2), mas caiu já nas oitavas para a Roma-ITA.
O técnico Houllier deixou o comando do time em 2007 e Alain Perrin, campeão da Copa da França de 2006-2007 pelo Sochaux, assumiu os Gones com a dura missão de manter a hegemonia em casa diante da maior debandada de jogadores no clube desde 2000: Abidal, Caçapa, Tiago, Malouda, Wiltord e Coupet (ao final da temporada), deixaram o Lyon. Mesmo com as vindas de Fabio Grosso e a efetivação de Benzema no time titular, o Lyon daquela temporada seria bem menos efetivo do que o time dos anos anteriores. Mas a estrela ainda estava com os Gones. Alain Perrin armou um time muito compacto no meio com Juninho, Toulalan e Källström, e deu liberdade para os habilidosos e decisivos Govou, Benzema e Ben Arfa marcarem os gols.
O começo da campanha no Campeonato Francês foi mais difícil do que o imaginado e a liderança só foi alcançada na 10ª rodada. Mas dela até o fim, o Lyon não deixou escapar o topo e faturou o título com 24 vitórias, sete empates e sete derrotas, com 74 gols marcados (melhor ataque) e 37 sofridos. Foram apenas quatro pontos de vantagem sobre o vice-campeão Bordeaux. Pela primeira vez desde o início da dinastia, o Lyon teve o artilheiro do campeonato: Benzema, que marcou 20 gols em 36 jogos, além de 31 gols em 51 partidas na temporada. Com a confiança do treinador, o jogador teve carta branca para encher os adversários de gols e foi o grande destaque do time, além de ter contribuído com seis assistências, uma a menos que Juninho. O heptacampeonato foi algo impressionante. Nunca, em nenhuma das grandes ligas europeias, um time havia construído uma dinastia tão grande como aquele Lyon. Algo parecido só seria visto dez anos depois, em 2018, quando a Juventus levantou o hepta no Campeonato Italiano.
Nas copas, o Lyon caiu nas quartas da Copa da Liga Francesa e outra vez nas oitavas da Liga dos Campeões da UEFA (derrota para o futuro campeão Manchester United). No entanto, a cereja no bolo foi a Copa da França. A equipe passou pelo Créteil (4 a 0), Croix de Savoie (1 a 0), Sochaux (2 a 1), Metz (1 a 0), Sedan (1 a 0) até chegar à final contra o PSG. O jogo foi muito disputado e, na prorrogação, Govou marcou o gol do título que tanto escapou nas temporadas anteriores e levou ao delírio o torcedor no Stade de France. De quebra, foi o segundo título seguido do técnico Perrin no torneio. Mesmo com tantas baixas, aquele Lyon deu a prova máxima que sabia se reinventar.
Um esquadrão para a eternidade
A temporada seguinte marcou o fim da hegemonia do Lyon na França. A equipe terminou em uma modesta 3ª colocação e não venceu um título sequer, nem mesmo a Supercopa da França. A equipe continuou a contratar bons nomes para o elenco, mas as saídas de Juninho e Benzema culminaram com o fim do time que tanto o torcedor aprendeu a torcer e ter como certo um título nacional ao fim da temporada. Apesar de montar boas equipes – algumas que brigaram pelo título, inclusive – e até chegar a uma semifinal de Liga dos Campeões em 2009-2010, eliminando o freguês Real Madrid nas oitavas de final e o rival doméstico Bordeaux nas quartas, nenhum time chegou perto do grande feito daquela geração, que hoje é lembrada nos corredores e nos museus do clube. Um Lyon que foi Roi, absoluto e digno da realeza no futebol francês. Que teve um aproveitamento de 60%. Que disputou 262 jogos, venceu 158, empatou 62, perdeu 42, marcou 456 gols e sofreu 216 para conseguir vencer por sete vezes consecutivas a Ligue 1, competição que poderia mudar de nome entre 2001 e 2008 para Ligue Lyon. A liga de um esquadrão imortal.
Os personagens:
Grégory Coupet: durante os sete títulos nacionais, a segurança da defesa vinha lá de trás, com Coupet. O goleiro não era muito alto (1,81m), mas tinha uma velocidade que impressionava, como por exemplo quando teve que se esticar todo para fazer sua maior defesa defendendo a camisa do clube – na partida válida pela Champions League de 2001-2002, Cláudio Caçapa errou um recuo, que iria encobrir Coupet. O goleiro conseguiu se recuperar para, de cabeça, salvar o gol. A bola sobrou em cima da linha para Rivaldo, que cabeceou para baixo com força. Mas Coupet, com uma velocidade impressionante, saiu de dentro do gol para defender a bola em cima da linha. Esse e outros momentos catapultaram o camisa 1 ao posto de ídolo e um dos maiores símbolos daquela era de ouro. Disputou 519 jogos pelo clube entre 1996 e 2008 e é o segundo jogador que mais vestiu a camisa do Lyon na história.
Anthony Réveillère: era um lateral-direito burocrático, mas tão eficiente que ficou no clube de 2003 a 2013, participando de todos os títulos do Lyon exceto a primeira conquista de Ligue 1. Em 416 jogos pelo clube foram apenas seis gols, mas seu poder defensivo fez com que chegasse à seleção francesa, disputando a Copa de 2010.
Chanelet: lateral-direito que atuava mais recuado, dando apoio ao sistema defensivo. Veio do Nantes, em 2000, e ficou até 2003 no Lyon.
Deflandre: o belga atuava como lateral-direito e integrou o elenco do Lyon entre 2000 e 2004. Foi titular em vários jogos, principalmente nas partidas na Liga dos Campeões que o Lyon começou a participar naquele período. Com a chegada de Réveillère, perdeu espaço e deixou o clube.
Patrick Müller: o zagueirão suíço chegou em 2000 aos Gones e teve duas passagens pelo clube: a primeira até 2004, e a segunda de 2006 a 2008. Com isso, ele fez parte das duas gerações que atuaram naquele grande Lyon e participou de cinco títulos de Ligue 1. Era muito forte na marcação e ficou muito identificado com a torcida. Marcou época, também, pela seleção da Suíça, pela qual atuou em mais de 80 jogos entre 1998 e 2008.
Cláudio Caçapa: o brasileiro chegou em 2001 e permaneceu no Lyon até 2007. Logo no início, apesar de zagueiro, fez um dos gols na final que deu o título da Copa da Liga Francesa daquele ano, quando o Lyon derrotou o Monaco por 2 a 1 na prorrogação. Todas as vezes em que ele disputou a Ligue 1, faturou o caneco. Só não teve mais sucesso no time por causa das contusões.
Cris: tetracampeão francês e muitas vezes capitão do time, o zagueiro brasileiro mostrava muita segurança na zaga. Chegou em 2004 ao clube, permanecendo em Lyon até 2012. Se a técnica refinada não era seu forte, ele ajudou o clube sendo peça fundamental para liderar com sua eficiência o sistema defensivo, que foi o que levou menos gols em toda Ligue 1 em dois dos quatro títulos que Cris participou. É um dos jogadores com mais jogos pelo Lyon na história: 312 partidas.
Edmílson: atuando tanto como volante quanto como zagueiro, o jogador brasileiro desembarcou em Lyon em 2000, vindo do São Paulo. Na França, ele se consolidou como um dos grandes defensores da época e foi importante nos três primeiros títulos da Ligue 1. Jogou tanto que ganhou uma vaga na Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 2002. Se transferiu para o Barcelona em 2004.
Squillaci: após passagens de destaque pelo Monaco, o zagueiro chegou em 2006 ao Lyon e fez uma grande dupla de zaga com Cris. Muito regular e seguro, fez grandes jogos e contribuiu para o bom desempenho da retaguarda dos Gones nos títulos nacionais de 2007 e 2008. Deixou a equipe em julho de 2008 para jogar no Sevilla.
Éric Abidal: vindo em 2004 do Lille, Abidal era um lateral-esquerdo clássico. Mais preocupado com a marcação do que com jogadas ofensivas, ele jogou mais de cem jogos pelo Lyon e foi um dos principais nomes do time durante os títulos de 2005, 2006 e 2007. Seu desempenho no Lyon o levou à titularidade da França na Copa do Mundo de 2006. Deixou o Lyon em 2007 para fazer história no Barcelona de Guardiola.
Bréchet: o lateral-esquerdo era muito desenvolto e contribuía bastante com as jogadas ofensivas do time, atuando muitas vezes como um meia-esquerda. Podia atuar como zagueiro e era cria das bases do Lyon. Jogou de 1998 até 2003 no clube até se transferir para a Internazionale-ITA.
Berthod: o lateral-esquerdo teve destaque nas temporadas 2003-2004 e 2004-2005, atuando em vários jogos do time como titular. Apoiava muito bem o ataque e costumava marcar gols. Perdeu espaço com a chegada de Abidal, mas jogou em 48 jogos das campanhas dos títulos nacionais daquele período. Deixou o clube em 2007.
Fabio Grosso: o lateral-esquerdo veio para substituir Abidal e pegou o fim daquele grande time. Era um jogador já consagrado: havia sido titular no título mundial da Itália em 2006. Ficou no Lyon até 2009 e se transferiu para a Juventus naquele ano.
Florent Malouda: o meia chegou do Guingamp em 2003 e permaneceu quatro anos na equipe. Dono de uma técnica refinada, ele foi dono da meia esquerda do time enquanto esteve em terras lyonesas. Na temporada 2006-2007, foi considerado o melhor jogador da Ligue 1. Depois dessa temporada, seguiu para o Chelsea, clube no qual Malouda continuou a brilhar sob o comando de José Mourinho.
Mahamadou Diarra: o volante veio do Vitesse em 2002. Na época, era um mero desconhecido. Com o tempo, a consciência tática, agressividade e poder de marcação do malinês fez com que ele dominasse o meio de campo do Lyon enquanto o adversário tinha a bola. Diarra saiu do clube em 2006, acertando com o Real Madrid após pedido do técnico Fabio Capello.
Violeau: o volante chegou ao Lyon em 1997 e ficou até 2003. Tinha muita garra, era eficiente na marcação e ainda aparecia como elemento surpresa no ataque. Foi um dos destaques nas campanhas vitoriosas da Copa da Liga Francesa de 2001 e do Campeonato Francês de 2002. Deixou o Lyon para jogar no Auxerre.
Marc-Vivien Foe: o camaronês jogou de 2000 até 2003 no Lyon e compôs o meio de campo da equipe naquele começo de tempos de ouro. Tinha apenas 28 anos quando faleceu de maneira trágica, em campo, após um infarto fulminante jogando pela seleção de Camarões na Copa das Confederações de 2003. O Lyon, em homenagem, retirou o número 17 de Foe. A camisa só voltou a ser utilizada em 2008, por outro camaronês, Jean II Makoun. Foe disputou 91 jogos e marcou oito gols pelo Lyon.
Michael Essien: polivalente, técnico, com fôlego privilegiado e muita visão de jogo. O ganês demonstrou no Lyon essas e várias outras qualidades que o transformaram em um dos mais completos jogadores dos anos 2000. Entre 2003 e 2005, Essien foi um dos principais nomes do talentoso meio de campo da equipe francesa e fundamental para os títulos daquela época. Foram 96 jogos e 13 gols com a camisa dos Gones, além de ter participado de 37 das 38 partidas na campanha do título francês de 2004-2005. Disputou a Copa do Mundo de 2006 por Gana e foi jogar no Chelsea em 2005.
Kim Kärlström: o meio-campista sueco jogou de 2006 até 2012 no Lyon e escreveu seu nome na história do clube com 283 jogos disputados. Com muita habilidade e grande visão de jogo, foi um dos principais jogadores de seu tempo e um ícone da seleção sueca, pela qual disputou 131 jogos. Além de ajudar na marcação, construía jogadas e marcava gols. Era um grande batedor de faltas, mas não dava para concorrer com Juninho…
Tiago: contratado junto ao Chelsea em 2005, Tiago se afirmou como titular do time formando um meio campo com Juninho, Diarra e Malouda. O eficiente português foi bicampeão francês, fez ótimas partidas e trocou o Lyon pela Juventus em 2007.
Bodmer: podia atuar como zagueiro ou volante e se destacava nas jogadas aéreas e na marcação. Jogou de 2007 até 2010 no Lyon e disputou 37 dos 38 jogos na campanha do hepta, em 2007-2008, marcando seis gols.
Carrière: meio-campista muito eficiente nos passes e desarmes, foi um dos bons nomes nas campanhas vitoriosas de 2002, 2003 e 2004 pelo Lyon. Ganhou algumas convocações para a seleção francesa e foi jogar no Lens, em 2004.
Dhorasoo: revelado pelo Le Havre, o meio-campista chegou em 1998 e ficou até 2004 no Lyon. Foi titular na campanha do título da Copa da Liga Francesa de 2001 e bicampeão francês em 2003 e 2004.
Jérémy Toulalan: o volante atuou no Lyon de 2006 a 2011 e foi importante peça no esquema dos vários técnicos que passaram por lá. Toulalan não era aquele jogador que aparecia muito no jogo, mas sua importância para a equipe foi fundamental. Em Lyon, foram 210 jogos e apenas um golzinho marcado, contra o Metz, em uma partida da Copa da Liga francesa.
Ben Arfa: cria das bases, o meia jogou de 2004 até 2008 no Lyon e foi uma das principais armas ofensivas principalmente entre 2006 e 2008. Na campanha do título de 2007-2008, o jogador participou de 30 jogos, atuou avançado na meia-esquerda e marcou seis gols, além de ter sido uma das gratas revelações jovens do futebol francês na época. O problema foi seu temperamento, que acabou minando um maior sucesso do jogador no futebol europeu. Deixou o Lyon em 2008 para jogar no Olympique. Pela seleção francesa, disputou 15 jogos e marcou dois gols.
Juninho Pernambucano: vindo sem custos do Vasco da Gama em 2001, Juninho já era um jogador consagrado no Brasil: tinha sido campeão da Libertadores e campeão brasileiro. Mas foi no Lyon que o mundo conheceu seu futebol: assistências precisas, cobranças de falta perfeitas, golaços, artilharias e liderança dentro e fora das quatro linhas. Participou de todos os títulos de Ligue 1, sendo titular nos sete. No clube, foram 344 jogos (é o 9º entre os que mais vestiram a camisa do clube) e exatos 100 gols (é o 5º maior artilheiro da história do Lyon). Foi eleito o melhor jogador da Ligue 1 em 2005-2006. Em 2015, na despedida do estádio Gerland – atualmente o clube manda seus jogos no Parc Olympique Lyonnais – Juninho foi ao jogo e foi literalmente para a torcida, que o reverenciou de pé. Podemos dizer que a história do Lyon se resume em Antes de Juninho e Depois de Juninho. Foi simplesmente sensacional, ídolo e único para o clube francês. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Sidney Govou: muitas vezes à sombra de craques daquele time, Govou foi fundamental para a história do grande Lyon. Ele era daqueles atacantes que caíam pelos lados: foi assim que marcou o primeiro gol contra o Lens no primeiro título francês dos Gones. Assim como Juninho, participou de todas as conquistas daquela geração, jogando onze anos no clube. Foram 412 jogos – é o 7º com mais jogos pelo Lyon – e 77 gols – 12º na lista de maiores artilheiros do clube. Pela França, disputou 49 jogos, marcou 10 gols e disputou as Copas de 2006 e 2010.
Luyindula: o atacante jogou de 2001 até 2004 no clube francês e foi um dos destaques dos títulos nacionais de 2002, 2003, 2004 e 2005, principalmente na temporada 2003-2004, quando marcou 16 gols em 37 jogos e foi artilheiro do time no torneio.
Sylvain Wiltord: vindo do Arsenal, Wiltord já era um jogador rodado quando chegou ao Lyon. O atacante participou de três conquistas de Ligue 1 e marcou 20 gols em 80 jogos. Participou, também, do vice-campeonato mundial da França em 2006.
John Carew: atacante muito alto (tinha 1,95m de altura!) e perigosíssimo nas jogadas aéreas, o norueguês chegou em 2005 ao Lyon para compor o elenco, que já tinha Fred e o jovem Benzema. Ainda sim, conseguiu disputar 26 jogos e marcar nove gols na campanha do título francês de 2005-2006 e outros dez jogos na Liga dos Campeões (ele foi titular), com quatro gols marcados. Deixou a equipe em 2007 para jogar no futebol inglês.
Sonny Anderson: o brasileiro foi a primeira grande estrela daquele time e uma das principais contratações da história do clube. O centroavante logo mostrou seu faro de artilheiro, terminando a passagem pelo Lyon com 94 gols em 161 jogos. Ele participou dos dois primeiros títulos franceses dos Gones.
Élber: o consagrado atacante chegou em 2003 para o lugar de Sonny, disputou 27 jogos e marcou 10 gols na campanha do título francês de 2003-2004, mas sofreu uma séria lesão que abreviou sua passagem no clube e o tirou de combate na temporada 2004-2005. Deixou o Lyon logo após a lesão e, em 2006, se aposentou.
Fred: ele chegou com 22 anos à Lyon, e começou tendo as oportunidades aos poucos. Mas logo no primeiro ano o centroavante fez um excelente campeonato e mandou o dinamarquês John Carew para o banco. Foi artilheiro do time em duas campanhas de título – 2005-2006 e 2006-2007 -, foi tricampeão francês, marcou 32 gols em 73 jogos das campanhas vencedoras, marcou 45 gols em 127 jogos pelo Lyon e permaneceu nos Gones até 2009, quando retornou ao Brasil para jogar no Fluminense e virar ídolo.
Karim Benzema: assim que surgiu, Benzema encantava a todos no Gerland. Com 19 anos, o atacante vindo da base já assumiu a titularidade após uma lesão de Fred e seria artilheiro do campeonato francês na temporada 2007-2008. O início fulminante despertou o interesse de outros centros da Europa, e Benzema rapidamente se transferiu para o Real Madrid em 2009. Mesmo com pouco tempo no Lyon, Benzema foi é o 15º maior artilheiro da história do clube com 66 gols em 148 jogos pelo Lyon.
Jacques Santini, Paul Le Guen, Gérard Houllier e Alain Perrin (Técnicos): todos tiveram maneiras diferentes de trabalhar, mas houve uma coisa em comum: saber usar o elenco para vencer um torneio tão longo e complicado como o Campeonato Francês. Santini aproveitou o entrosamento do time nas temporadas anteriores e conseguiu superar as decepções passadas para levantar o primeiro título nacional. Le Guen teve em suas mãos a melhor safra de jogadores e fez do Lyon um time temido não só na França, mas também na Europa. Houllier mudou o esquema de jogo, atuou mais com um centroavante fixo e manteve a pegada competitiva. E Perrin aproveitou a boa fase que vivia como técnico para fechar com chave de ouro aquela era com duas taças e a plenitude goleadora de Benzema.
As campanhas do hepta:
2001-2002
J | V | E | D | GM | GS |
34 | 20 | 6 | 8 | 62 | 32 |
2002-2003
J | V | E | D | GM | GS |
38 | 19 | 11 | 8 | 63 | 41 |
2003-2004
J | V | E | D | GM | GS |
38 | 24 | 7 | 7 | 64 | 26 |
2004-2005
J | V | E | D | GM | GS |
38 | 22 | 13 | 3 | 56 | 22 |
2005-2006
J | V | E | D | GM | GS |
38 | 25 | 9 | 4 | 73 | 31 |
2006-2007
J | V | E | D | GM | GS |
38 | 24 | 9 | 5 | 64 | 27 |
2007-2008
J | V | E | D | GM | GS |
38 | 24 | 7 | 7 | 74 | 37 |
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O site foi muito feliz em citar o “antes de Juninho, depois de Juninho” para o Lyon. Na realidade, mais que meu ídolo (lógico que sou vascaíno), o sucesso dele na França e de Zidane na seleção francesa me mostraram algo importante: quando os franceses revelam (ou conseguem contar, no caso do Juninho) com jogadores talentosos de cadência no meio-campo, é difícil segurar um time francês, e mesmo a seleção francesa. Motivo: sempre se revelam da França, ótimos zagueiros e atacantes, excelentes volantes e médios, mas meias de ligação, aqueles que cadenciam o jogo do time (tipo Raymond Kopa, Michel Platini, Zinedine Zidane e mesmo o Juninho) são raros de aparecer por lá. Quando aparecem, se forem numa equipe francesa de repercussão, os caras vão com tudo e incomodam na Europa. E na seleção francesa, o mesmo se dá. Notar que no caso da seleção, desde a saída do Zidane, não houve um jogador com essa capacidade de cadência (Pogba não conta por ter característica de médio rompedor), e por isso, nas Copas seguintes, o esquema de jogo dos franceses foi ou o 4-3-3 (que valorizavam o jogo de velocidade, sem muita cadência, como na Copa de 2014), ou outro esquema em que a posse de bola não fosse valorizada em cadência (como na Copa de 2018, que era um time que dava a posse de bola para o adversário, valendo-se dos contra-ataques). Essa característica de jogadores de cadência, de épocas em épocas, é que ditam o sucesso dos times franceses…
Só faltou a Champions