Grandes feitos: Campeão do Campeonato Inglês (2015-2016). Conquistou o primeiro grande título da história do clube e o mais importante título em mais de 130 anos de história do Leicester City. Além disso, disputou a primeira Liga dos Campeões da UEFA da história do clube e chegou às quartas de final.
Time-base: Kasper Schmeichel; Danny Simpson, Wes Morgan, Robert Huth e Christian Fuchs (Jeffrey Schlupp); Riyad Mahrez, N’Golo Kanté (Andy King / Daniel Amartey), Danny Drinkwater e Marc Albrighton; Shinji Okazaki (Leonardo Ulloa / Islam Slimani) e Jamie Vardy (Demaray Gray). Técnicos: Claudio Ranieri (2015-2017) e Craig Shakespeare (2017).
“A maior saga do século XXI”
Por Guilherme Diniz
O que o Imortais vai contar neste texto pode parecer utópico, coisa de cinema, mas aconteceu de verdade. Em um dos campeonatos mais ricos do mundo, a Premier League, com elencos milionários e cuja rotatividade de campeões é restrita a no máximo cinco clubes, um time que nunca havia vencido a competição em seus mais de 130 anos de história começou a vencer, vencer até chegar às primeiras posições. Quando começaram a ver qual time era, logo pensaram “pronto, mais uma zebra que incomoda no início e logo mais estará lá embaixo, flertando com o rebaixamento”. Ainda mais aquele time, que havia passado incríveis 19 rodadas na última posição do campeonato anterior e só se salvou na reta final e a muito custo. Era mais uma balela do futebol. Qual a chance de ele brigar com Manchester City, Manchester United, Arsenal, Chelsea, Tottenham? E em 38 rodadas!? Para, vai.
No entanto, o campeonato foi passando, passando, e aquele time não saía da parte de cima. Quando faltavam poucas rodadas para o fim, a ficha começou a cair: eles podiam ser campeões. Não era mais uma zebra qualquer. E, no dia 02 de maio de 2016, aconteceu o inimaginável: os azuis do modesto Leicester City Football Club se tornaram campeões ingleses. E, pasme: com duas rodadas de antecedência. No início da competição, as apostas naquele time azul pagavam 5000 para 1. Eles quebraram as casas de jogatinas. Quebraram os prognósticos. Quebraram toda a hegemonia dos ricos. Quebraram todas as equações matemáticas. Quebraram as críticas ao técnico “ultrapassado”. Quebraram as desconfianças em seus jogadores desconhecidos. Enfim, foram os responsáveis pela maior façanha de um clube neste século XXI. E, na temporada seguinte, ainda chegaram às quartas de final da mais badalada competição interclubes do mundo: a Liga dos Campeões da UEFA. O Imortais conta agora essa impressionante história, dividida em 11 atos.
Ato 1 – O quase desastre
Agosto de 2010. Um bilionário tailandês de sobrenome quase impronunciável – Vichai Srivaddhanaprabha (!) – compra o Leicester City. Ele começa a investir seu capital – oriundo da famosa rede King Power Duty Free, que opera vários free-shops na Tailândia – no clube e muda até o nome do Walkers Stadium para King Power Stadium.
Abril, 2014. Depois de dez anos longe da primeira divisão, o Leicester City consegue por antecipação a vaga na Premier League de 2014-2015. A equipe terminaria o Championship com a taça, após 31 vitórias, nove empates e apenas seis derrotas em 46 jogos, totalizando 102 pontos. Comandado à época por Nigel Pearson, o time azul foi absoluto durante a competição e foi com boas pretensões para a nova temporada. Vichai Srivaddhanaprabha entra em cena novamente. Em maio de 2014, ele anuncia o investimento de cerca de 180 milhões de libras (valor ainda extremamente baixo para os padrões do futebol inglês) para que, em três anos, o Leicester City se firme entre os cinco primeiros clubes da Premier League.
“Estou pedindo três anos, e nós estaremos lá. Não desafiaremos os cinco melhores times imediatamente. Nós temos uma chance de batê-los? Sim, temos, mas acredito que precisamos estabilizar a nossa presença na liga primeiro para depois pensarmos no próximo passo”.
Audácia? Não, apenas planos de quem quer ver seu negócio prosperar. Os Foxes (raposas, apelido do clube) se reforçaram com as contratações de Marc Albrighton, Leonardo Ulloa, o veterano Esteban Cambiasso e Danny Simpson. Porém, o tão aguardado debute do novo endinheirado inglês foi um drama. No primeiro turno, a equipe venceu apenas dois jogos, nas 4ª e 5ª rodadas, e ficou 13 jogos seguidos sem vencer, com 11 derrotas e dois empates. Só na 19ª rodada que os Foxes venceram fora de casa o Hull City por 1 a 0. O desempenho pífio na Premier League praticamente condenou o time ao rebaixamento, ainda mais com a lanterna agarrada firme e forte da 13ª rodada até a 31ª – já era a equipe que mais tempo estava na última posição da tabela no torneio. Mas, justamente na reta final, a raposa renasceu.
Com uma arrancada fulminante de sete vitórias nos últimos nove jogos, a equipe conseguiu não só se livrar da queda como terminar em uma confortável 14ª posição! A festa foi completada com uma goleada de 5 a 1, em casa, sobre o Queens Park Rangers, com gols de Vardy, Albrighton, Ulloa, Cambiasso e Kramaric. Mais de 31 mil pessoas lotaram o estádio King Power e celebraram a incrível escapada azul, tida como uma das mais fantásticas da história da Premier League – afinal, não é todo dia que um time que conquistou apenas 20 pontos em 29 jogos se livra de um rebaixamento. Muita, mas muita coisa teria que ser revista para a temporada seguinte.
Ato 2 – As mudanças
Após o sufoco, o Leicester tratou de mudar as coisas para não passar apuros na nova temporada. O clube se desfez de nove jogadores, e, com o aporte financeiro de seu mandatário tailandês (ainda modesto e longe dos valores exorbitantes dos rivais), trouxe como principais contratações o lateral austríaco Christian Fuchs, o zagueiro alemão Robert Huth, o atacante japonês Shinji Okazaki e o volante francês N’Golo Kanté. Foram contratações modestas, que custaram um total de 15,6 milhões de libras, mas estudadas minuciosamente pela diretoria, que analisou fatores como adaptação ao clube, valorização de mercado, parte técnica e física, salários e várias outras estatísticas.
Além deles, a diretoria manteve alguns jogadores que conseguiram se destacar na temporada anterior, só perdendo o veterano Cambiasso, que foi jogar na Grécia. Para o comando técnico, o plano era manter Nigel Pearson, ainda mais após a sacudida no elenco que resultou na permanência na primeira divisão, mas a relação com o treinador ruiu principalmente após uma polêmica envolvendo seu filho, James Pearson, que jogava no Leicester e participou de um vídeo sexual racista durante uma turnê do clube inglês pela Tailândia, em 2015, justamente a terra do dono do clube. Para o lugar dele, foi contratado o experiente técnico italiano Claudio Ranieri.
Vichai Srivaddhanaprabha deixou bem claro para o treinador que ele ganharia 100 mil libras por cada posição que o Leicester terminasse acima da zona de rebaixamento. Estava mais do que explicado que o tailandês não queria seu time brigando para não cair em mais uma temporada. Porém, Ranieri era tido como “ultrapassado” e não gerava grandes esperanças no torcedor, muito menos na imprensa. Há tempos que ele não vencia nada e seu último trabalho, pela Seleção Grega, foi muito abaixo do esperado.
Mesmo com o investimento, mesmo com o técnico novo, mesmo com um elenco jovem e com bons nomes, ainda que desconhecidos, aquele Leicester era um time propício para… Cair. Não havia qualquer chance de um resultado promissor, de uma alavancada na tabela, de uma presença no tal “top 5” como queria seu mandatário. Em uma liga extremamente difícil, com jogos em ritmos alucinantes, jogadores badaladíssimos e elencos caríssimos, o Leicester seria um peixe beta num oceano de tubarões. Ou melhor, uma raposa numa selva de leões famintos.
Ato 3 – A construção de um time
De uniforme e emprego novos, Ranieri olhou bem o elenco que tinha em mãos. Analisou jogador por jogador. E viu que, ali, era possível construir um time sem estrelas, mas com uma força coletiva capaz de dar resultado e evoluir jogo a jogo. Primeiro, pensou nos titulares, nos melhores. Depois, tratou de adaptá-los ao seu esquema favorito, o 4-4-2, clássico, sem invencionices. O foco seria na ajuda mútua, em encontrar maneiras de chegar ao gol adversário o mais rápido possível.
Por causa da correria do futebol inglês, Ranieri iria fazer poucos treinos, mas duros, intensos. Se o time jogasse no sábado, domingo era folga. Seria preciso trabalhar muito bem a parte física para que o elenco durasse até a 38ª rodada. E os titulares seriam intocáveis, eles seriam o Leicester City durante toda a Premier League. As peças de reposição seriam utilizadas, claro, mas o onze titular teria a fidelidade plena de Ranieri.
Mas e as “peças”? Como Ranieri iria montar seu time? Bem, tomando como base os jogadores que brilharam na arrancada final da temporada passada e em dois talentos: Mahrez e Vardy. O primeiro era um argelino de 24 anos que já havia disputado a Copa do Mundo de 2014 por sua seleção e que tinha na armação de jogadas e no passe suas principais qualidades. O segundo era um inglês de 28 anos que havia passado por clubes da oitava, sétima e quinta divisões inglesas até chegar ao Leicester, em 2012. Impetuoso e sem medo de botinadas, o atacante havia ajudado o clube azul a vencer o Championship de 2013-2014, mas não foi prolífico na temporada 2014-2015 e marcou apenas cinco gols em 34 jogos. Mesmo assim, ele tinha como virtudes a concentração em campo, o bom posicionamento e a precisão na hora de concluir ao gol, desde que bem assessorado, claro.
Ranieri tratou de trabalhar seu esquema de jogo com base na dupla e num bom sistema defensivo, que começava lá atrás com um goleiro de sobrenome forte: Kasper Schmeichel, filho do lendário Peter Schmeichel, um dos maiores goleiros de todos os tempos (que você pode ler mais clicando aqui). E ele já fazia jus ao nome com boas atuações e regularidade, sendo um dos destaques da arrancada na temporada anterior. Junto com ele, Simpson, Morgan, Huth e Fuchs seriam os titulares na defesa, sendo protegidos pelos meio-campistas Kanté e Drinkwater, que, quando em ataque, ajudariam Mahrez e Albrighton nas bolas lançadas aos atacantes Vardy e Okazaki. Pronto. O time estava formado. Após cinco amistosos de pré-temporada, com quatro vitórias e um empate, estava na hora de começar a caminhada no Campeonato Inglês.
Ato 4 – 5000 para 1
Como sempre acontece na Inglaterra, quando começa um campeonato nacional se iniciam, também, as apostas nos times que podem ser campeões. Os nomes mais votados geralmente são sempre os mesmos – Arsenal, Chelsea, Manchester United, Manchester City, Liverpool e Tottenham. Mas, se alguém falasse Leicester City, certamente seria tachado de maluco ou sua sanidade mental seria duramente contestada. Ninguém apostava no título do modesto clube azul. Ninguém, nem mesmo as próprias casas de apostas. A William Hill, uma das mais tradicionais e que detém 20% do mercado no Reino Unido, foi tão cética com o clube que pagava 5000 libras para cada libra apostada. Isso mesmo! Se um cidadão apostasse uma libra no título do Leicester, ao final da temporada ele ganharia cinco mil. Em agosto de 2015, a casa até ironizou:
“É mais provável Elvis Presley estar vivo ou o monstro do lago Ness aparecer do que o Leicester ser campeão”.
E o pior é que tanta ironia tinha fundamento. Era uma diferença enorme do Leicester para os demais. Era o time com um dos menores valores de mercado do campeonato. Só o elenco titular do Manchester City, por exemplo, valia 420 milhões de dólares. Do Leicester? “Apenas” 50 milhões. Segundo dados do Transfermarket da época, o Leicester aparecia apenas na 12ª posição quando o assunto era orçamento entre os times ingleses, atrás de Everton, Southampton, West Ham, Newcastle, Stoke City… Sem contar as constelações de craques que residiam em Liverpool, Manchester e Londres, os pólos do futebol no país. De fato, o Leicester teria que brigar mesmo para não cair…
Ato 5 – “Não é possível…”
No dia 08 de agosto de 2015, o Leicester fez sua estreia no Campeonato Inglês contra o Sunderland, em casa. Mais de 32 mil pessoas viram o time azul golear o rival por 4 a 2, gols de Mahrez (2), Vardy e Albrighton. Foi uma ótima partida, sem sustos, com bom volume de jogo, mas contra um adversário do chamado “segundo pelotão”. Ou seja, nenhuma surpresa. Uma semana depois, a equipe foi até Londres e venceu o West Ham por 2 a 1, gols de Okazaki e Mahrez. Com duas vitórias em dois jogos, o time estava na liderança da tabela.
Gary Lineker, comentarista da BBC e lendário ídolo do clube (leia mais sobre ele clicando aqui), chegou até a perguntar para Claudio Ranieri se o time azul ainda iria brigar para não cair ao invés de lutar por uma vaga na Liga dos Campeões ou Liga Europa. Ranieri, rindo, disse: “obrigado, Gary, mas não é possível”. O campeonato estava começando. Ranieri queria os almejados 40 pontos para não sofrer com o rebaixamento. Ele pouco se importava com competições europeias. Nas duas rodadas seguintes, empates contra Tottenham (1 a 1, em casa) e Bournemouth (1 a 1, fora). Na quinta rodada, triunfo por 3 a 2 sobre o Aston Villa, em casa, gols de De Laet, Vardy e Dyer. Na sexta, empate em 2 a 2 com o Stoke City, fora, e o primeiro tombo, na 7ª rodada: derrota em casa para o Arsenal, de virada, por 5 a 2. Foi doído. Àquela altura, eles estavam na sexta colocação. O ataque ia bem, mas a defesa era o calcanhar de Aquiles. Ranieri tentava motivar seus jogadores a não levar gols. Em setembro, antes do duelo contra o Stoke City, ele disse que pagaria pizza para todo mundo se a meta de Schmeichel ficasse “clean”. Mas não teve jeito. Brincalhão, ele disse:
“Eu falei, se vocês ficarem sem levar gols, pago pizza para todo mundo. Mas acho que eles estão esperando eu pagar cachorros-quentes também!”.
Ele estava feliz com o poder ofensivo da equipe, com o volume de jogo, a pontaria de Vardy, mas jogar daquela maneira, sempre levando gols, era muito perigoso. Ainda mais na hora de encarar um time mais forte, como aconteceu no duelo contra o Arsenal e Alexis Sánchez fez três gols. Se a equipe continuasse tão frágil no sistema defensivo, realmente as palavras de Ranieri para Gary Lineker iriam se tornar realidade. No entanto, o time azul iniciaria, a partir daquele revés, uma reviravolta simplesmente fantástica.
Ato 6 – Invencibilidade, pizza e a impressionante liderança
Levar um sacode daqueles para o Arsenal mexeu com o brio do elenco do Leicester. Dali até a 17ª rodada, a equipe não perderia mais no campeonato. Na oitava rodada, o time bateu o Norwich City por 2 a 1, fora, com gols de Vardy e Schlupp. Em seguida, empate em 2 a 2 com o Southampton, fora, com dois gols de Vardy, um deles nos acréscimos da segunda etapa. Na décima rodada, a volta pra casa veio com vitória por 1 a 0 sobre o Crystal Palace (gol de Vardy), num jogo que terminou em pizza, literalmente, pois Ranieri pôde, enfim, pagar a iguaria aos seus jogadores por manterem a meta de Schmeichel limpa pela primeira vez na competição! Porém, não foi uma pizza qualquer. Ranieri levou seus jogadores ao Peter Pizzeria, em Loughborough. Chegando lá, ele disse:
“Vocês têm trabalhado por tudo. Vocês vão trabalhar por suas pizzas também. Nós mesmos a faremos”.
Isso mesmo. Todos foram para a cozinha, fizeram a massa, escolheram os recheios e fizeram suas próprias pizzas! Foi um momento único de total descontração que ajudou a fortalecer ainda mais os laços daquele time e de Ranieri com seus atletas. A psicologia, naquele momento, seria fundamental para o andamento da competição. Sobre aquele dia, ele comentou:
“Para nós é importante construir uma base forte. Por isso eu quero mais jogos sem levar gols. […] Eu paguei. Eles mereciam essas pizzas e hoje vamos comer. É muito bom estar reunido. Esse é o espírito de equipe. […] Eles sabem que podem trabalhar duro e curtir. Um pouco de sorte é importante. Sorte é o sal, os torcedores são o tomate. Mas sem tomate não tem pizza”. – Claudio Ranieri, em entrevista ao Dailymail (Reino Unido), 29 de outubro 2015.
Tudo bem que nos dois jogos seguintes a equipe venceu e levou gols – 3 a 2 no West Bromwich Albion, fora, e 2 a 1 no Watford, em casa -, mas o Leicester não iria mais ser displicente no jogo defensivo até o final da competição. Na 13ª rodada, os azuis venceram o Newcastle United em pleno St. James’ Park por 3 a 0, gols de Vardy, Ulloa e Okazaki. Na rodada seguinte, mais um duelo difícil, contra o Manchester United, em casa. A partida terminou empatada em 1 a 1, mas quem ganhou destaque naquele dia foi o atacante Vardy. Pelo 11º jogo consecutivo, ele balançou as redes pelo Leicester, quebrando um recorde histórico na Premier League.
O inglês superou Van Nistelrooy, que havia marcado em dez jogos seguidos entre as temporadas 2003-2003 e 2003-2004 (vale lembrar que o recordista pleno de todos os tempos no futebol inglês ainda é Jimmy Dunne, que balançou as redes em 12 jogos seguidos pelo Sheffield United na temporada 1931-1932). Ao final do jogo, Ranieri deixou claro que, além de não perder, a equipe queria que Vardy quebrasse esse recorde. E o gol veio ao estilo Leicester: bola lançada ao jogo por Schmeichel, arranque em velocidade de Fuchs, passe preciso para Vardy, que se movimenta e espera o momento certo para chutar e vencer o goleiro dos Red Devils.
Nos três jogos seguintes, o Leicester bateu Swansea (3 a 0, fora, com três gols de Mahrez), Chelsea (2 a 1, em casa, com gols de Vardy e Mahrez), e Everton, fora, por 3 a 2, com dois gols de Mahrez e um de Okazaki. O campeonato já tinha 17 rodadas e sabe quem era o líder desde a 15ª? O Leicester City. A equipe estava no topo da tabela de uma das ligas mais disputadas e difíceis do planeta. E dava o presente de Natal para sua torcida, já que ninguém iria tirá-lo de lá até o dia 25 de dezembro. Já eram dez jogos sem perder. Vardy seguia iluminado e marcava ou dava passes para gols em 15 partidas seguidas. Mahrez já tinha 13 gols.
O time seguia fazendo jogos frenéticos, dava trabalho para seus rivais. Era a grande sensação da Inglaterra e até da Europa, mas ainda não havia ganhado a confiança da imprensa com relação a sua chance de realmente brigar pelo título. Após a vitória sobre o Everton, a BBC citou em sua reportagem pós-jogo que “a discussão sobre a grande temporada do Leicester era até quando ele iria quebrar os prognósticos e permanecer na parte de cima da tabela. Mais uma vez, seria preciso esperar uma semana para algum sinal de colapso”. Percebe? Mesmo com 38 pontos em 17 jogos, o time ainda era a zebra. O problema é que eles iriam dar uma pequena esperança a toda essa descrença…
Ato 7 – Uma pequena crise… Superada!
No dia 26 de dezembro, o Leicester passou em branco pela primeira vez no campeonato. E perdeu para o Liverpool por 1 a 0, fora de casa. Era o fim da invencibilidade de dez jogos. Nas duas rodadas seguintes, mais seca do ataque e dois empates sem gols em casa contra Manchester City e Bournemouth. Pela primeira vez o Leicester ficava três jogos sem vencer. Para piorar, a liderança havia escapado para o Arsenal. A imprensa, claro, não perdoou e já taxou que aquele era o início do declínio. Curiosamente, o time estava com os 40 pontos almejados por Ranieri lá no início da temporada. Estaria ele satisfeito? Com a campanha, sim, mas com os últimos três jogos, não. O time criava chances de gol, mas pecava na pontaria, outrora tão boa.
Contra o Bournemouth, a equipe mandou bola na trave, viu Mahrez perder um pênalti e não conseguiu marcar. Foi então que na rodada 21, a equipe encarou o Tottenham, fora de casa, um rival direto da parte de cima da tabela. E, mesmo contra as adversidades e a seca de seu artilheiro Vardy, o Leicester conseguiu a vitória por 1 a 0, gol de Huth, faltando sete minutos para o fim do jogo. Em mais um jogo fora de casa, os Foxes empataram em 1 a 1 com o Aston Villa, mas recuperaram a ponta ao vencer o Stoke City por 3 a 0, em casa, numa festa comandada por Drinkwater, Ulloa e Vardy, que encerrou seu jejum de gols. Com a derrota do Arsenal para o Chelsea, a equipe de Ranieri retomava a liderança e ficava três pontos a frente do novo vice-líder, Manchester City. Era uma nova fase do Leicester.
A equipe tinha mais segurança defensiva e se arriscava menos do que antes. Nas últimas cinco partidas, Schmeichel levara apenas um gol. Morgan e Huth se consolidaram como grandes defensores e eram o porto seguro do técnico Ranieri. Além deles, o meio de campo era um motor que trabalhava a plena potência, sem engasgos e que encarava tudo e todos. Porém, uma sequência fundamental para as pretensões do time estava por vir: Liverpool, Manchester City e Arsenal. Os gigantes. As tais das camisas e dos craques. Todos eles estariam no caminho dos Foxes nas rodadas seguintes. Não haveria margem para erro. Se aquele time queria mesmo continuar ali, no topo, teria que somar pelo menos seis pontos dos nove em disputa. Era a prova máxima de fogo para a raposa.
Ato 8 – Definitivamente na disputa pelo TÍTULO!
No dia 02 de fevereiro, o King Power recebeu mais de 32 mil pessoas para o duelo entre Leicester e Liverpool. Após um primeiro tempo complicado, o Leicester abriu o placar com um daqueles gols que ficam na memória por muito, muito tempo. Mahrez fez um lançamento magnífico para o ataque e a bola foi até Vardy. O artilheiro esperou o pingo da bola e acertou um chute estupendo que foi parar no fundo do gol: Golaço! Onze minutos depois, Vardy, de novo, aproveitou um chute esquisito de Okazaki e completou para o gol: 2 a 0. O Leicester vencia o primeiro desafio da tríade de fogo.
Após o jogo, Ranieri tratou de tirar a pressão de seus jogadores para o próximo desafio, contra o vice-líder Manchester City, na casa do adversário. “O time está em boa condição. Agora temos que recuperar as energias porque vamos ter que correr muito contra o City. Estamos livres de pressão. Os jogadores têm um bom pressentimento”.
No dia 06 de fevereiro, o Etihad Stadium, em Manchester, recebeu pouco mais de 54 mil pessoas certas de que o time da casa venceria aquela zebra que, acreditavam eles, já havia ido longe demais. Hart, Zabaleta, Demichelis, Kolarov, Silva, Touré, Fernandinho, Sterling, Agüero… Todos eles estariam em campo pelo Manchester. Era, sem dúvida, o maior desafio daquele Leicester, que, felizmente, também contava com sua força máxima. Quando a bola rolou, apenas três minutos foram necessários para o Leicester provar que ele iria, sim, brigar pelo título da Premier League. Huth apareceu na área e fez 1 a 0.
A equipe seguiu no ataque, parecendo jogar ao lado de sua gente lá do King Power Stadium. No segundo tempo, mais uma vez no comecinho, apareceu Mahrez. Com categoria, domínio e classe, o meia marcou uma pintura e ampliou: 2 a 0. Aos 15’, Huth surgiu mais uma vez na área, e, de cabeça, fez 3 a 0. Vardy, em contra-ataque rápido, quase fez o quarto. Era um atropelamento do Leicester. Agüero ainda diminuiu no fim, mas o 3 a 1 garantiu a liderança dos Foxes e cinco pontos de vantagem sobre o vice-líder, Tottenham.
“Nós jogamos sem pressão porque não temos que vencer a liga. Nós devemos curtir. Agora o importante é pensar no Arsenal”, disse um sorridente Ranieri após o jogo. Essa vitória maiúscula foi fundamental para mostrar que aquele Leicester não iria fraquejar. Revistas e sites começaram a olhar com mais afinco o trabalho feito por Ranieri e a história do time virou um conto simplesmente impressionante, digno de filme.
No dia 14 de fevereiro, Vardy marcou o gol que abriu o placar para o Leicester contra o Arsenal no Emirates Stadium tomado por 60 mil pessoas, mas Walcott empatou na segunda etapa e Welbeck, aos 50’ e com segundos para terminar o jogo, deu a vitória aos donos da casa, num jogo tenso, cheio de cartões (coisa rara nos jogos do Leicester, um dos times mais disciplinados da competição na época) e com um ainda mais raro cartão vermelho para um jogador do Leicester – Simpson foi expulso após levar o segundo amarelo. O Arsenal seria o único a vencer os Foxes tanto no turno quanto no returno, mantendo a fama de carrasco da equipe azul, que desde 1994 não vencia o rival em jogos da liga nacional – 13 derrotas e seis empates em 19 duelos. A diferença no topo, após aquele revés, caiu para dois pontos. O time teria dois jogos em casa para se reerguer. Todo cuidado era pouco.
Ato 9 – A carta e a contagem regressiva
Na partida seguinte, contra o Norwich, a torcida temia pelo pior quando o cronômetro apontava quase 45’ do segundo tempo e o placar seguia 0 a 0 no King Power Stadium. Mesmo com mais posse de bola e com mais chutes a gol, o Leicester não conseguia furar a meta do goleiro Ruddy. Foi preciso o talismã Ulloa, aos 44’, marcar o gol após passe de Vardy para dar aos Foxes uma suada vitória por 1 a 0 que aumentou mais uma vez a vantagem na liderança para cinco pontos. Na 28ª rodada, empate em 2 a 2 com o West Bromwich Albion, mas as vitórias voltaram a surgir.
Nas quatro partidas seguintes, 12 pontos: 1 a 0 no Watford, fora (gol de Mahrez), 1 a 0 no Newcastle, em casa (gol de bicicleta de Okazaki!), 1 a 0 no Crystal Palace, fora (gol de Mahrez) e 1 a 0 no Southampton, em casa (gol de Morgan). Este triunfo significou sete pontos de vantagem na liderança. Faltando seis rodadas para o fim, o Leicester não só podia ser campeão como levantaria a taça até por antecipação! Três dias após a vitória na 32ª rodada, o técnico Claudio Ranieri escreveu uma carta ao elenco:
Eu me lembro do primeiro encontro com o presidente, logo que cheguei ao Leicester City neste verão. Ele sentou comigo e disse: “Claudio, este é um ano muito importante para o clube. É muito importante que continuemos na Premier League. Não podemos cair!” Minha resposta foi: “Ok, claro. Trabalharemos forte nos treinamentos e tentaremos conquistar isso.”
Quarenta pontos. Esse era o objetivo. Esse era o tanto que precisávamos para ficar na primeira divisão. Para dar aos nossos torcedores outra temporada de Premier League. Na época, eu nem sonhava que poderia abrir o jornal do dia 4 de abril e ver o Leicester no topo da tabela, com 69 pontos. Ano passado, nesse mesmo dia, o clube estava na última posição.
Inacreditável.
Eu tenho 64 anos, não costumo sair muito. Estou com minha esposa há 40, então, nos dias de folga, procuro ficar com ela. Costumamos ir ao lago perto de casa ou, se estivermos em um momento aventureiro, assistimos a um filme. Entretanto, ultimamente, tenho, de fato, escutado o barulho que vem de todas as partes do mundo. É impossível ignorar. Ouvi até que nós temos alguns seguidores na América.
Para vocês, eu digo: bem-vindos ao clube. Estamos felizes em tê-los. Quero que vocês gostem da forma como jogamos futebol e quero que ame meus jogadores, pois a jornada deles é inacreditável.
Talvez vocês já tenham escutado alguns nomes. Jogadores que eram considerados tão pequenos ou tão lentos para outros grandes clubes. N’Golo Kanté. Jamie Vardy. Wes Morgan. Danny Drinkwater. Riyad Mahrez. Quando cheguei para o meu primeiro dia de treino e vi a qualidade desses jogadores, entendi quão bons eles poderiam ser.
Bem, sabia que teríamos uma chance de sobreviver na Premier League.
Esse tal de Kanté, ele corria tanto que pensei que tinha baterias debaixo de seus shorts. Nos treinamentos, ele não parava nunca.
Tive que dizer para ele: “Ei, N’Golo, vai com calma. Calma lá. Não corra na frente da bola o tempo todo, ok?”
Ele me respondeu: “Sim, chefe. Sim. Ok.”
Dez segundos depois, olhei e lá estava ele correndo de novo.
Eu disse a ele: “Um dia, vou vê-lo cruzando uma bola e você mesmo finalizando seu próprio cruzamento, com uma cabeçada.”
Ele é inacreditável, mas não é nosso único segredo. Temos tantos pontos fortes para nomear nesta incrível temporada.
Jamie Vardy, por exemplo. Ele não é um jogador de futebol. É um cavalo fantástico. Ele precisa estar livre no campo. Eu digo para ele: “Você é livre para se mover para onde quiser, mas precisa nos ajudar quando perdemos a bola. Isso é tudo o que te peço. Se você começar a pressionar o adversário, todos os seus companheiros vão te acompanhar.”
Antes de jogarmos nossa primeira partida da temporada, eu disse aos jogadores: “Quero que vocês joguem por seus companheiros. Somos um time pequeno, então temos que lutar com todo nosso coração, com toda nossa alma! Não me importo com o nome do adversário. Tudo o que quero é que vocês lutem! Se eles são melhores que nós, Ok. Parabéns para eles. Mas eles terão de nos mostrar que são melhores.”
Existia uma eletricidade fantástica em Leicester desde o primeiro dia. Começava com o presidente e passava pelos jogadores, pelo staff, pelos torcedores. Foi inacreditável o que senti. No King Power Stadium existia uma energia incrível.
Os torcedores cantam quando nós temos a bola? Ah, não, não, não. Quando estamos sob pressão, os fãs entendem nossa dor e cantam com seus corações! Eles entendem a complexidade do jogo e quando os jogadores estão sofrendo. Eles são muito, muito próximos a nós.
Iniciamos a temporada muito bem. Mas nosso objetivo, repito, era salvar o clube do rebaixamento. Nos primeiros nove jogos, estávamos ganhando, mas sofríamos muitos gols. Tínhamos que marcar dois ou três para ganhar todo jogo. Isso me preocupava muito. Antes de todo jogo, eu dizia: “Vamos lá, pessoal! Quero um clean sheet [jogo sem levar gols] hoje.” Nenhum clean sheet. Tentei todo tipo de motivação.
Então, finalmente, antes do jogo contra o Crystal Palace, eu disse: “Vamos lá, pessoal! Pago uma pizza se vocês conseguirem não sofrer gol hoje.”
Obviamente, meus jogadores conseguiram o clean sheet contra o Crystal Palace. Um a zero. Cumpri com minha promessa e levei meus jogadores ao Peter Pizzeria, na Leicester City Square. Mas guardei uma surpresa para quando eles chegassem lá. Falei: “Vocês têm trabalhado por tudo. Vocês vão trabalhar por suas pizzas também. Nós mesmos a faremos.” Fomos para a cozinha com a massa, o queijo e o molho. Fizemos tudo. Estava muito bom, também. Comi várias fatias. O que posso dizer? Sou italiano. Eu amo minha pizza e minha massa!
Agora, temos um monte de jogos sem sofrer gols. Na verdade, uma dúzia de clean sheets depois da pizza. Não acredito que seja coincidência.
Faltam seis jogos e temos que continuar lutando com nossos corações e nossas almas. É um clube pequeno que está mostrando ao mundo o que pode ser conquistado com espírito e determinação. Vinte e seis jogadores. Vinte e seis cérebros diferentes. Mas um só coração. Alguns anos atrás, muitos dos meus jogadores estavam em ligas menores. Vardy trabalhava em uma fábrica. Kanté jogava na terceira divisão francesa. Mahrez estava na quarta divisão da França.
Agora, estamos lutando por um título. Os torcedores do Leicester que encontro nas ruas dizem que eles estão sonhando. Mas digo a eles: “Ok, sonhem por nós. Nós não sonhamos. Nós simplesmente trabalhamos pesado.”
Não importa o que aconteça no fim desta temporada, penso que nossa história é importante para todos os fãs de futebol em todo o mundo. Isso dá esperança para todos os jovens jogadores que já escutaram que não são bons o suficiente.
Eles podem dizer para eles mesmos: “Como posso chegar ao topo? Se Vardy conseguiu, se Kanté conseguiu, talvez eu também consiga.”
Do que você precisa?
Um grande nome? Não.
Um grande contrato? Não.
Você precisa apenas manter a mente aberta, o coração aberto, as baterias recarregadas e correr livre.
Quem sabe? Talvez, ao final da temporada, nós teremos duas festas da pizza.
Claudio Ranieri – original em https://www.theplayerstribune.com/claudio-ranieri-leicester-city-premier-league/
Imagine o impacto de uma carta como essa em um time. Percebe a psicologia mais uma vez entrando em ação? Percebe como era fundamental expor os sentimentos, provar que eles não apenas jogavam futebol, mas jogavam com a paixão de centenas de milhares de pessoas? Que eles estavam prestes a conseguir algo inimaginável, histórico? Pois é. Eles entenderam muito bem as palavras do mestre Ranieri. Na partida seguinte, contra o Sunderland, fora de casa, Vardy marcou dois gols e deu a vitória ao Leicester por 2 a 0. No duelo seguinte, contra o West Ham, em casa, Vardy abre o placar aos 18’ – àquela altura, ele já tinha 22 gols e seis assistências -, mas é expulso aos 11’ do segundo tempo.
O time visitante cresce no jogo e vira o placar com Carroll, de pênalti, e Creswell, ambos os gols na reta final do jogo. Em um dia de arbitragem desastrosa, quando a torcida já via a derrota tomar forma, o juiz marcou pênalti para o Leicester, nos acréscimos. Na cobrança, Ulloa, mais uma vez talismã, empatou e deu um ponto preciosíssimo aos Foxes. Na 35ª rodada, uma goleada para lavar a alma: 4 a 0 sobre o Swansea, em casa, com dois gols de Ulloa, um de Mahrez e outro de Albrighton. Faltavam apenas três rodadas. E, dependendo dos resultados da próxima, o time de Ranieri poderia ser campeão já na rodada 36. O inimaginável estava prestes a se tornar realidade.
Ato 10 – Leicester City, Champions of England!
No dia 1º de maio, o Leicester viajou até Manchester para encarar o United, num Old Trafford tomado por mais de 75 mil pessoas. Logo aos 8’, o time da casa abriu o placar com Martial. Porém, os comandados de Ranieri empataram com Morgan, apenas nove minutos depois. Com muita consistência no meio de campo, um Schmeichel fantástico e um elenco impecável na neutralização das investidas de um oponente que teve 71% de posse de bola, o Leicester City provou que sabia jogar pelo resultado quando deveria e podia. E segurou o placar em 1 a 1. A situação do time naquele momento era a seguinte: ele estava com 77 pontos. O Tottenham, vice-líder, tinha 69. Se os Spurs não vencessem o Chelsea no dia seguinte, o Leicester City seria campeão inglês pela primeira vez em sua história.
Eis que chegou o dia 02 de maio de 2016. Todos na cidade de Leicester ligaram as TVs para ver o jogo que poderia decidir o título a favor dos Foxes. E, como não poderia deixar de ser, foi um duelo eletrizante. Tenso. Nervoso. Com 12 cartões amarelos. Jogadas ríspidas. Muitas faltas – foram 29, sendo 20 do Tottenham. Para piorar, Kane e Son Heung-min abriram 2 a 0 para os Spurs ainda no primeiro tempo. Apreensão em Leicester. Na segunda etapa, Cahill, aos 13’, diminuiu para o Chelsea. A esperança voltou! Até que Hazard, aos 38’, empatou para os Blues. A festa em Stamford Bridge foi enorme, mas os ecos e gritos foram mais altos a quilômetros de distância dali. O resultado dava o título ao Leicester. Por antecipação. Contra tudo e todos. As casas de apostas iriam “quebrar”. O tal time do 5000 pra 1 iria levantar a taça. Quando o árbitro Mark Clattenburg levantou os braços, estava sacramentada a epopeia.
A maior história futebolística do século XXI. O pequenino time do interior da Inglaterra era campeão da liga mais cara da Europa. As casas de apostas estavam fadadas a um prejuízo de cerca de 10 milhões de libras. Em uma delas, 23 torcedores abocanharam três milhões de libras por terem apostado na época do 5000 para 1. Outra teria que pagar mais de cinco milhões de libras. Para se ter uma ideia, um apostador que havia apostado 40 libras em agosto iria ganhar 200 mil libras com o título do Leicester. A William Hill mudou para sempre seus pagamentos. 5000 pra 1? Nunca mais! O máximo que eles pagariam a partir dali seria 1000 pra 1.
Foi a maior derrota da história das casas de apostas inglesas. E a maior vitória da história do Leicester City, um feito que ganhou manchetes de todo mundo, que fez Gary Lineker apresentar seu programa Match of the Day de cuecas, que comoveu uma cidade inteira e espantou um país. Foi o título merecido, também, para Ranieri, que conquistava sua primeira taça de uma liga nacional na carreira.
“A emoção foi ao nível máximo. Significa que o trabalho foi bem feito. Eu estou muito, muito feliz agora porque se eu tivesse vencido um título como esse no começo da minha carreira eu iria esquecê-lo. Agora eu sou um homem velho e eu posso sentí-lo muito melhor”. – Claudio Ranieri, em entrevista ao The Guardian (Reino Unido), 03 de maio de 2016.
A celebração maior aconteceu na rodada seguinte, quando Vardy, duas vezes, e King fizeram os gols da vitória por 3 a 1 sobre o Everton, em casa, no jogo da entrega da taça, que teve show de Andrea Bocelli, champagne e muita emoção. No último jogo, o empate em 1 a 1 com o Chelsea, fora de casa, selou a campanha fenomenal dos Foxes em grande estilo, com 12 jogos de invencibilidade e números incontestáveis: o Leicester City foi campeão com 23 vitórias, 12 empates, três derrotas, 68 gols marcados (terceiro melhor ataque), 36 gols sofridos (terceira melhor defesa) e 81 pontos ganhos em 38 jogos, dez a frente do vice-campeão Arsenal. Jamie Vardy foi o vice-artilheiro do torneio e artilheiro máximo do time com 24 gols. Mahrez anotou 17 gols e terminou na 5ª posição entre os goleadores. Schmeichel ficou 15 jogos sem levar gols – apenas um jogo a menos que Petr Cech, do Arsenal, fazendo valer a máxima de “clean sheet, please!” do técnico Ranieri.
Vardy foi eleito o craque da temporada e também o melhor jogador da FWA (Football Writers’ Association), Ranieri o técnico da temporada e melhor técnico do mundo pela FIFA e Mahrez ganhou o prêmio de melhor jogador da PFA (Professional Footballers’ Association). No time da temporada, Morgan, Mahrez, Kanté e Vardy ganharam seus lugares no 11 ideal. Ah, só para constar: o Leicester só não foi bem nas copas nacionais. Na Copa da Inglaterra, o time caiu logo na estreia para o Tottenham. Na Copa da Liga Inglesa, a queda foi no terceiro jogo, válido pela quarta rodada da competição, contra o Hull City.
O feito do Leicester City foi tão grande que foi comparado pela BBC a outros fatos marcantes da história do esporte, tais como os títulos europeus do Nottingham Forest no final dos anos 70 (leia mais clicando aqui), o fim do jejum de 86 anos do Boston Red Sox na World Series de Beisebol, em 2004, o título de Boris Becker em Wimbledon, em 1985, quando ele tinha apenas 17 anos, o título de John Daly no US Golf de 1991 e a vitória de um gripado e abalado Buster Douglas (o boxeador havia perdido a mãe três semanas antes da luta) sobre Mike Tyson, lenda do boxe e invicto na época, em 1990. Enfim, a temporada da Premier League de 2015-2016 foi simplesmente histórica, emblemática, impagável.
Ato 11 – A primeira Liga dos Campeões e o fim
Ao contrário do que muitos pensaram, o Leicester não vendeu suas estrelas na janela de transferências posterior ao título histórico. Muito pelo contrário: ele não só manteve os craques como renovou os contratos de Mahrez, Drinkwater, entre outros, além do técnico Ranieri. As únicas baixas sentidas foram de Kanté (foi para o Chelsea por 32 milhões de libras) e Schlupp (vendido ao Crystal Palace por 12 milhões de libras). Com algumas pontuais (ainda que discretas) contratações, a diretoria queria ver o time desempenhar um bom papel, claro na Liga dos Campeões da UEFA. Ainda sob o encantamento do título, a equipe demorou para se encontrar na temporada e perdeu o título da Supercopa da Inglaterra para o Manchester United, em agosto, na derrota por 2 a 1 em Wembley.
No campeonato nacional, muita inconstância, nenhuma boa sequência e nove derrotas no primeiro turno, além da perda da eficiência do setor defensivo e a falta de pontaria de Vardy – o único grande momento foi a goleada de 4 a 2 sobre o Manchester City de Guardiola, com três gols do atacante. Além disso, vieram eliminações precoces nas duas copas nacionais. No entanto, a história foi totalmente diferente na Liga dos Campeões. Na estreia, vitória por 3 a 0 sobre o Brugge-BEL, com dois gols de Mahrez e um de Albrighton. Em seguida, triunfo de 1 a 0 sobre o Porto-POR, em casa, gol de Slimani. Na última partida do turno, vitória por 1 a 0 sobre o Copenhagen-DIN, em outro gol de Mahrez. Na sequência, o empate sem gols com os dinamarqueses, fora, e o triunfo de 2 a 1 sobre o Brugge, em casa (gols de Mahrez e Okazaki) classificou os ingleses para as oitavas de final. Na última partida, a derrota para o Porto em Portugal por 5 a 0 – o Leicester entrou cheio de reservas – nem foi sentida.
O adversário dos Foxes seria o Sevilla-ESP. Na ida, fora de casa, a equipe sofreu, mas conseguiu um gol salvador com Vardy e perdeu por 2 a 1, resultado que manteve viva a chance de classificação. Porém, o rendimento no Campeonato Inglês continuava ruim. Os jogadores que antes brilhavam, agora eram opacos. Os poucos reforços das diretoria não surtiam efeito. E, com isso, Claudio Ranieri, que havia “perdido o vestiário” por algumas escolhas no time titular e atritos, acabou demitido. Foi um choque para a torcida e para a imprensa. Justo em plena fase de mata-mata da Liga dos Campeões. Em nota, a diretoria disse que “o status de Claudio como o mais bem sucedido técnico do Leicester está fora de questão. No entanto, os resultados na atual temporada colocaram a permanência do time na Premier League sob ameaça. Relutantemente, a diretoria sente que uma mudança de liderança, embora seja admitidamente dolorosa, se faz necessária para o interesse do clube”.
A torcida lamentou demais a saída do treinador e muitos criticaram a falta de crédito ao italiano. Gary Lineker, sempre presente, disse que demitir Ranieri àquela altura era “inexplicável, imperdoável e triste”. Deixando a emoção de lado, coube a Craig Shakespeare, assistente de Ranieri, assumir o comando do time. E, evocando os ideais que embalaram o conto de fadas de 2015-2016, ele conseguiu classificar o Leicester para as quartas de final. Na volta contra o Sevilla, no King Power, Morgan, no primeiro tempo, e Albrighton, no segundo, fizeram 2 a 0 nos espanhóis e colocaram os ingleses entre os oito melhores do continente.
Nas quartas, outro espanhol: o Atlético de Madrid. Na ida, derrota por 1 a 0. A classificação ainda estava palpável. Na volta, o Atlético abriu o placar no primeiro tempo. Estava difícil. Vardy, na segunda etapa, empatou. Mas ainda era preciso fazer mais dois gols. E, infelizmente, eles não vieram. Terminava naquele dia a saga dos Foxes na Liga dos Campeões. Saíram de cabeça erguida, invictos em casa e aplaudidos por sua fanática torcida. No Campeonato Inglês, a equipe conseguiu afastar o risco de queda com cinco vitórias seguidas da 26ª até a 30ª rodadas, e terminou na 12ª posição.
O clube espera continuar nos holofotes por um bom tempo, mas a saga do esquadrão comandado por Ranieri foi algo único. Vencer como venceu e jogando de igual para igual com as maiores potências do país colocou definitivamente o Leicester nas bibliografias do futebol. Foi, sem dúvida e por enquanto, o maior feito futebolístico do século XXI. Jamais alguém iria imaginar uma trajetória como aquela. Jamais a rica e mais cara liga da Europa permitiria um campeão com investimentos tão modestos. Pois os comandados de Ranieri quebraram toda obviedade, algo que ainda insistem em dizer que existe no futebol. Enquanto existir pessoas com um objetivo, um ideal, e for feito um trabalho bem feito em busca desse bem maior, histórias como a do Leicester continuarão a ser escritas. Sim, são raras, mas existem. Como existiu o Leicester City, o time do interior que saiu do nada para conquistar o impossível. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Kasper Schmeichel: revelado pelo Manchester City, o filho de Schmeichel demorou para engrenar no futebol europeu. Após perambular por equipes de divisões inferiores, o jovem foi contratado pelo Leicester em 2011. Aos poucos, provou seu valor e assumiu a titularidade de vez na transição da segunda divisão para a primeira. Com Ranieri, ganhou ainda mais confiança, virou titular absoluto e fez uma ótima temporada em 2015-2016. Tem mais de 280 jogos com a camisa azul.
Danny Simpson: o lateral-direito chegou em 2014 no Leicester e assumiu a posição de vez na temporada do título por suas características mais defensivas, deixando o belga De Laet no banco. Muito consistente na marcação e no passe, foi um dos destaques do setor defensivo, principalmente no segundo turno.
Wes Morgan: o grande capitão jamaicano foi o líder do time durante aquela temporada de ouro e ainda marcou gols importantíssimos e decisivos na reta final, sempre em suas subidas surpresa ao ataque. Jogou por dez anos no vizinho Nottingham Forest até se mudar para Leicester, em 2012. Forte, alto e com presença de área marcante, assumiu a titularidade da equipe e ganhou a braçadeira de capitão rapidamente, sendo um dos destaques na subida para a primeira divisão. Muito respeitado, foi fundamental na conquista. Ídolo e muito querido da torcida.
Robert Huth: após ser emprestado pelo Stoke City, o alemão foi contratado em definitivo para a temporada 2015-2016 e fez uma dupla inesquecível com Morgan. Alto e perigoso nas jogadas aéreas, foi absoluto na defesa e ainda marcou gols na campanha do título. Já era conhecido de Ranieri quando jogava no Chelsea, no começo da carreira, e trabalhou com o italiano nos Blues.
Christian Fuchs: o lateral-esquerdo fez grandes jogos pelo Leicester na campanha do título e foi muito regular durante a temporada, participando de gols, dando ótimos passes e ajudando na marcação. Foi titular por muitos anos na seleção da Áustria. Titular absoluto, só saía quando estava cansado ou por alguma questão tática.
Jeffrey Schlupp: cria das bases do Leicester, o ganês podia atuar tanto na lateral-esquerda quanto na ponta-esquerda. Rápido, era um bom coringa para o técnico Ranieri e provou isso nas 24 partidas que disputou durante a campanha do título.
Riyad Mahrez: outro que passou por equipes de divisões inferiores da França até chegar ao Leicester, em 2013, onde ganhou logo de cara o acesso à primeira divisão. Após uma temporada difícil, o argelino mostrou tudo o que sabia na temporada sob o comando de Ranieri. Com passes, assistências, e, claro, gols, Mahrez virou um dos mais comentados e valorizados jogadores da Europa e cobiçado por muitos clubes. Com ele municiando Vardy no ataque, o Leicester deixou de ser um time qualquer para incomodar e fazer história. Foram 17 gols e 11 assistências em 37 jogos, uma enormidade. Ídolo da torcida, está para sempre na história do clube.
N’Golo Kanté: o francês foi o principal jogador do meio de campo da equipe no quesito proteção. Ele desarmou como poucos, deu passes, marcou adversários difíceis e fez partidas impecáveis. Com um fôlego impressionante, Kanté virou titular absoluto, entrou para as seleções do torneio e passou a ganhar espaço, também, na seleção de seu país. Ficou apenas aquela histórica temporada de 2015-2016 no Leicester até se transferir para o Chelsea por 32 milhões de libras. No entanto, jamais será esquecido pelo torcedor. Foram 37 jogos, um gol, quatro assistências, 175 desarmes, mais de 70% de aproveitamento nas roubadas de bola e média de 39 passes por jogo.
Andy King: o meio-campista, também cria das bases, começou a carreira no clube em 2006 e foi titular em boa parte dos anos que se seguiram até a temporada de ouro do Leicester, em 2015-2016. Como a “briga” no meio de campo aumentou com a chegada de Kanté, King perdeu espaço, mas atuou em 25 jogos da campanha do título e marcou dois gols. Bom na marcação e também no apoio ao ataque, é convocado, também, para a seleção de País de Gales.
Daniel Amartey: o volante ganês chegou para suprir a ausência de Kanté, em 2016, foi titular em vários jogos na temporada e na Liga dos Campeões, mas não teve a mesma eficiência de seu predecessor.
Danny Drinkwater: o volante compensava a pouca técnica com muita disposição, fôlego e apoio ao ataque naquela temporada de ouro do clube. Jogou de 2012 até 2017 no Leicester e foi titular em quase todos os jogos do período. Na campanha do título, marcou dois gols e deu sete assistências.
Marc Albrighton: o meia chegou em 2014 e brilhou na campanha que livrou o Leicester da queda logo em sua reestreia na elite. Na temporada seguinte, seguiu como titular e esteve presente em absolutamente todos os jogos da campanha do título. Foram 38 jogos, dois gols e seis assistências, além de bons passes, ótima presença no ataque e muita regularidade.
Shinji Okazaki: depois de brilhar no futebol alemão, o japonês chegou ao Leicester em 2015 e ganhou de vez a simpatia da torcida com seu futebol rápido, eficiente e bonito. Marcou cinco gols na campanha do título inglês, entre eles uma inesquecível bicicleta contra o Newcastle. Já tem mais de 100 jogos pelo clube azul. É, também, destaque da seleção japonesa, pela qual é convocado desde 2008.
Leonardo Ulloa: foi o artilheiro do time no retorno à primeira divisão, na temporada 2014-2015, e perdeu espaço no time titular com a chegada de Ranieri. Porém, o argentino virou o 12º jogador do técnico e foi um grande talismã na campanha do título, principalmente quando marcou o gol da vitória sobre o Norwich, em fevereiro de 2016. Ulloa marcou seis gols em 29 jogos da campanha de 2015-2016.
Islam Slimani: outro argelino, chegou ao Leicester em 2016 e encheu a torcida de esperança para o ataque na temporada do debute na Liga dos Campeões, mas acabou rendendo muito abaixo do esperado. Foram apenas sete gols em 23 jogos na Premier League. Em 2018, acabou emprestado ao Newcastle.
Jamie Vardy: o atacante devastador do Leicester começou lá na oitava divisão inglesa, trabalhou como operário e teve que encarar muitos rivais até chegar ao Olimpo da primeira divisão com a camisa dos Foxes. Contratado em 2012, Vardy foi crescendo de produção ano a ano até a chegada de Ranieri, que montou um esquema de jogo que privilegiou o poder de decisão do camisa 9, que quebrou recordes e virou a grande referência de ataque do time na temporada de 2015-2016. Foram 24 gols em 36 jogos, além de seis assistências. Uma pena que seu poder de fogo tenha caído na temporada seguinte. Mesmo assim, virou ídolo da torcida e ganhou convocações para a seleção da Inglaterra.
Demaray Gray: o habilidoso e rápido ponta fez mais partidas como titular na temporada 2016-2017, quando atuou em 30 jogos da Premier League. Não é goleador – marcou apenas um gol naquela temporada – , mas busca espaços para municiar os companheiros.
Claudio Ranieri e Craig Shakespeare (Técnicos): ultrapassado, cheio de resultados recentes ruins… Ranieri chegou sob total desconfiança em Leicester. Mas, dia após dia, semana após semana, construiu um Time, com letra maiúscula mesmo. Uniu jogadores. Criou um padrão de jogo. Um ataque devastador. Arrumou uma defesa antes frágil com psicologia. E pizzas. Foi o paizão, o companheiro em todos os momentos. Enfim, foi um técnico de futebol em sua essência. Tirou o peso e a responsabilidade dos jogadores. Com isso, a cada jogo, o Leicester se divertia, se aventurava. Eles não precisavam ganhar a Premier League. Mas ganharam. Entraram para a história. E tudo isso se deu graças, principalmente, a Ranieri, que saiu do ostracismo para entrar nos livros e enciclopédias sobre futebol. Em 2016, ganhou os prêmios de melhor técnico da Premier League, melhor técnico do mundo pela FIFA, a Ordem ao Mérito da República Italiana, o prêmio Enzo Bearzot de melhor técnico italiano do ano e, claro, a idolatria eterna dos torcedores do Leicester. Após sua ida, Craig Shakespeare assumiu o comando e fez questão de livrar o clube do rebaixamento e colocá-lo entre os oito melhores times da Europa na Liga dos Campeões. Trabalhos cumpridos por ambos. E um eterno “thank you” (ou melhor, Grazie!) da torcida a Ranieri.
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Uma vez eu acessei o site e, na página inicial, apareceu um texto sobre a conquista do Verona lá nos anos 80. Li o texto falando da epopeia da equipe italiana e pensei se não teria um texto aqui falando da epopeia do Leicester.
Muito bom o texto. E campeão com 10 pontos de diferença do vice? Foram campeões com sobra e merecidamente.
Muito bom mesmo !!! Espero que vc faça um sobre o Aston Villa em 1982, quando foi campeão da Champions e do campeonato inglês.
imortaisdofutebol,sou cruzeirense,nascido em 1995,e gostaria de ver o Botafogo de Túlio Maravilha,campeão brasileiro daquele ano,aqui no site.abraços
Podia ter um artigo sobre o Everton multicampeão de meados dos anos 80
Quando o Vardy fez aquela pintura sobre o meu Liverpool no returno, eu automaticamente pensei: “É deles. Não é possível que algo não esteja reservado pra esses caras”. Ali eu cravei o título do Leicester. Uma história indescritível e fantástica que só o futebol nos proporciona. Inexplicável.
Muito orgulho de ter acompanhado essa campanha histórica. Esse jogo contra o Norwich foi foda, lembro que fiquei puto pois o gol não saía, e o Leicester atacava e atacava mas parava na defesa, foi sofrido demais. Assim como a derrota no segundo turno para o Arsenal com o gol nos acréscimos, ali eu até pensei que a equipe iria fraquejar, apesar de se manter na liderança mesmo com a derrota…. A vitória contra o City foi a mais marcante pra mim, contra ataque mortais, marcação impecável. Essa partida resumiu o Leicester campeão da premier league!
Foi incrível mesmo, Thiago! Acho que todo mundo acabou torcendo por eles naquela reta final e sempre dava a impressão de que eles iriam cair, que nos jogos contra os gigantes não ia dar certo… Mas os triunfos sobre Liverpool e Manchester City sepultaram as dúvidas. Histórico!