Grandes feitos: Bicampeão do Campeonato Inglês (2004-2005 e 2005-2006), Campeão da Copa da Inglaterra (2006-2007), Bicampeão da Copa da Liga Inglesa (2004-2005 e 2006-2007) e Campeão da Supercopa da Inglaterra (2005). Conquistou o título inglês após 50 anos de jejum.
Time-base: Petr Cech (Carlo Cudicini); Paulo Ferreira (Glen Johnson / Geremi), Ricardo Carvalho, John Terry e William Gallas (W. Bridge / Del Horno / Ashley Cole); Claude Makélélé, Tiago (Essien / Jarosík / Obi Mikel) e Frank Lampard; Joe Cole (Shaun Wright-Phillips / Kalou / Michael Ballack), Didier Drogba (Gudjohnsen / Hernán Crespo) e Damien Duff (Arjen Robben / Kezman / Shevchenko). Técnico: José Mourinho.
“The Special Blues”
Por Guilherme Diniz
O novo milênio batia à porta de Stamford Bridge. As lembranças do vertiginoso fim dos anos 1990 ainda eram frescas, mas as incertezas dominavam os torcedores dos Blues. Não havia esperança de um repeteco de troféus. O clube estava afundado em dívidas. Craques eram escassos. E, para piorar, o vizinho Arsenal era quem dava as cartas no futebol inglês. Mas eis que em junho de 2003 uma notícia mudou para sempre a história do Chelsea FC: o clube foi vendido por cerca de 140 milhões de libras ao bilionário russo Roman Abramovich. What in the hell!?, pensaram os torcedores. Mas ali o jogo começaria a virar. Dívidas? Quitadas. Craques? Comprados aos montes. Títulos? De volta! A partir da temporada 2004-2005, o Chelsea retomou o caminho das glórias para reivindicar um lugar no pelotão de elite do futebol inglês. E, também, entre os clubes mais competitivos da Europa.
Mas não foi apenas com dinheiro que eles conseguiram entrar nos eixos. Foi com talento de seus jogadores e as táticas de um técnico no auge da carreira: o português José Mourinho, campeão de quase tudo pelo Porto e responsável por encerrar o jejum de 50 anos sem títulos no Campeonato Inglês dos Blues com uma das mais avassaladoras campanhas da história do torneio. E um time até hoje escalado sem pestanejar por qualquer torcedor. Foram anos mágicos em Londres. Esquadrões caíram sem dó em Stamford Bridge. E os Blues conseguiram mudar para sempre os padrões do football na terra da Rainha. É hora de relembrar.
We got money!
Após os grandes títulos do final do século XX, o Chelsea entrou no novo milênio cercado de incertezas. Embora terminasse regularmente entre os seis primeiros da Premier League, o time não conseguia mais brigar por títulos como antes e acumulava dívidas na casa das 80 milhões de libras. Foi então que, em junho de 2003, o então presidente Ken Bates, à frente dos Blues por 22 anos, decidiu vender o clube ao bilionário russo Roman Abramovich por 140 milhões de libras. O negócio gerou surpresa, mas foi a solução para salvar os Pensioners de uma vez por todas. Ambicioso, Abramovich queria transformar o Chelsea em uma potência e não mediu esforços nas contratações. Em seu primeiro ano, o russo gastou mais de 110 milhões de libras em jogadores como Claude Makélélé, Hernán Crespo, Geremi, Glen Johnson, Joe Cole e Damien Duff, que se uniram aos já presentes no elenco John Terry, William Gallas e Frank Lampard.
Tantos nomes de talento encheram a torcida de expectativa, que foi crescendo ao longo da temporada 2003-2004, quando o Chelsea terminou em um satisfatório segundo lugar a Premier League, atrás apenas dos invencíveis do Arsenal, campeões naquela temporada sem uma derrota sequer. Em compensação, os Blues eliminaram os Gunners da Liga dos Campeões da UEFA nas quartas de final após empate em 1 a 1 em casa e vitória por 2 a 1 em pleno estádio Highbury, com gol do defensor Bridge, aos 42’ do segundo tempo. No entanto, o time foi eliminado pelo futuro vice-campeão Monaco, que se aproveitou das trapalhadas táticas do técnico Claudio Ranieri – que colocou o lateral Glen Johnson na zaga e o meio-campista Scott Parker na lateral só para acomodar mais atacantes no time – e venceu por 3 a 1 o jogo de ida e empatou em 2 a 2 a volta.
A eliminação na menina dos olhos de Abramovich custou a demissão de Ranieri e fez com que o russo contratasse para a temporada 2004-2005 o técnico português José Mourinho, justamente o campeão europeu de 2003-2004 pelo Porto. Mourinho chegou em Stamford Bridge junto com sua equipe técnica (entre eles André Villas-Boas, que seria treinador anos depois) e alguns de seus pupilos do Porto: o zagueiro Ricardo Carvalho e o lateral Paulo Ferreira. Foram contratados ainda o também português Tiago (ex-Benfica, por 10 milhões de libras), o holandês Arjen Robben (ex-PSV, por 12 milhões de libras), o atacante marfinense Didier Drogba (ex-Olympique de Marselha, por 24 milhões de libras), o goleiro checo Petr Cech (ex-Rennes, por 7,1 milhões de libras) entre outros.
Quem também passou a integrar o plantel técnico do Chelsea (a partir de 2005) foi o olheiro holandês Piet de Visser, célebre por levar ao futebol europeu nomes como Romário e Ronaldo ao PSV. Ele se tornou inclusive conselheiro pessoal de Abramovich para auxiliá-lo no dia a dia do clube. No total, mais de 91 milhões foram gastos em reforços na época 2004-2005, ultrapassando os 200 milhões de libras em apenas dois anos da “Era Abramovich”. Por outro lado, 14 jogadores deixaram o clube e aliviaram um pouco o orçamento.
Mesmo com a saída de vários jogadores, o plantel do Chelsea era de dar inveja a vários clubes da Europa e exatamente o que José Mourinho queria, afinal, o técnico não gostava de elencos enormes, mas sim com no máximo 22 jogadores (embora os Blues tivessem 28 atletas na temporada 2004-2005). Com a grande chance de disputar uma das ligas mais prestigiadas do futebol e de comprovar seu talento, José Mourinho não foi modesto e deixou um recado bem claro aos rivais em sua apresentação:
“Nós temos jogadores de elite e, desculpe se estou sendo arrogante, nós temos um técnico de elite. E, por favor, não me chamem de arrogante, mas eu sou campeão europeu e eu acho que sou o Special One”.
A partir daquele dia, o português seria conhecido para sempre em Stamford Bridge como o Special One. E rapidamente provaria em campo que ele era, de fato, muito especial…
Time a ser batido
O primeiro compromisso do Chelsea na Premier League foi um teste de fogo: encarar o Manchester United de Alex Ferguson. E, com um gol de Gudjohnsen aos 14’ do primeiro tempo, os Blues venceram por 1 a 0. Nos três jogos seguintes, mais três vitórias: 1 a 0 no Birmingham (fora), 2 a 0 no Crystal Palace (fora) e 2 a 1 no Southampton (em casa). Nas duas rodadas seguintes, empates sem gols contra Aston Villa e Tottenham, e recuperação com vitórias sobre o Middlesbrough (1 a 0, fora) e Liverpool (1 a 0, em casa), este que trouxe uma notícia ruim para Mourinho por causa da contusão de Drogba, que ficaria ao menos dois meses longe dos gramados. O primeiro tropeço aconteceu na 9ª rodada, quando o Manchester City (ainda “pobre” na época) venceu o Chelsea por 1 a 0, em uma partida sofrível do time londrino.
O revés não tirou a equipe da vice-liderança e a perseguição ao Arsenal continuou. Na 10ª rodada, goleada de 4 a 0 sobre o Blackburn Rovers, em casa, com três gols de Gudjohnsen, seguida de goleada de 4 a 1 sobre o West Bromwich Albion, fora, com grande atuação coletiva e gols de Gallas, Gudjohnsen, Lampard e Duff. Mas foi na 12ª rodada que a torcida dos Blues festejou mais alto: após vitória por 1 a 0 sobre o Everton (gol de Robben), o Chelsea assumiu a liderança pela primeira vez.
A partir dali, os Pensioners não baixariam mais a guarda. Golearam o Fulham por 4 a 1 (fora), empataram em 2 a 2 com o Bolton de Jay-Jay Okocha, e golearam tanto o Charlton Athletic quanto o Newcastle United por 4 a 0. Na 17ª rodada veio o grande e esperado duelo contra o Arsenal, fora de casa, que fez 2 a 1 ainda no primeiro tempo (dois gols de Henry) e parecia que iria impor a segunda derrota aos Blues. Porém, Gudjohnsen empatou no comecinho do segundo tempo e deu um importante ponto ao time de Mourinho. Além dos jogos pela Premier League, o Chelsea teve também compromissos pela Liga dos Campeões da UEFA. E fez bonito: 3 a 0 no PSG-FRA, fora, 3 a 1 no então campeão Porto-POR, em casa, 2 a 0 no CSKA-RUS, em casa, e 1 a 0 nos russos na partida do returno do grupo, fora. Garantidos em primeiro lugar no grupo, os Blues empataram sem gols com o PSG, em casa, e perderam para o Porto, fora, por 2 a 1, nas duas partidas finais.
Àquela altura, o Chelsea demonstrava uma enorme segurança defensiva e muita velocidade, além de alto poder de decisão nas bolas paradas. Lampard era o maestro do meio de campo e ainda aparecia no ataque como um verdadeiro artilheiro, Terry era o perigo nas bolas aéreas, o meio de campo em triângulo dificultava as coisas para equipes que jogavam no 4-4-2 e o ataque tinha várias opções com as alternâncias de Robben, Joe Cole e Duff, pelas pontas, e a ótima fase de Gudjohnsen no meio do ataque e por vezes recuando um pouco, além de Drogba, que só não tinha uma sequência maior de partidas por causa da lesão sofrida diante do Liverpool. Mourinho explicou esse estilo de jogo:
“Olha, se eu tiver um triângulo no meio-campo – Claude Makélélé atrás e dois outros na frente – terei sempre uma vantagem contra um puro 4-4-2 onde os meio-campistas centrais estão lado a lado. Isso porque sempre terei um homem extra. Tudo começa com Makélélé, que está nas entrelinhas. Se ninguém vier até ele, ele pode ver todo o campo e tem tempo. Se ele for fechado, significa que um dos outros dois meio-campistas centrais está aberto. Se eles forem fechados e os alas do outro time entrarem para ajudar, isso significa que agora há espaço para nós no flanco, seja para nossos próprios alas ou para nossos laterais. Não há nada que um puro 4-4-2 possa fazer para impedir nosso sucesso”. – José Mourinho, em entrevista publicada no site Zonal Marking, 25 de janeiro de 2010.
A prova da força daquele time veio a partir da 18ª rodada da Premier League, em 18 de dezembro de 2004, logo após o empate com o Arsenal. O Chelsea goleou o Norwich City por 4 a 0 e permaneceu 10 jogos seguidos sem levar gols, além de acumular oito vitórias seguidas:
- 4 a 0 no Norwich City, em casa;
- 1 a 0 no Aston Villa, em casa;
- 2 a 0 no Portsmouth, fora;
- 1 a 0 no Liverpool, fora;
- 2 a 0 no Middlesbrough, em casa;
- 2 a 0 no Tottenham Hotspur, fora;
- 3 a 0 no Portsmouth, em casa;
- 1 a 0 no Blackburn Rovers, fora.
Só na 26ª rodada que os comandados de Mourinho tropeçaram no empate sem gols com o Manchester City, em casa, mas tudo voltou ao normal com cinco vitórias seguidas na sequência: 1 a 0 no Everton (fora), 3 a 1 no Norwich City (fora), 1 a 0 no West Bromwich Albion (em casa), 4 a 1 no Crystal Palace (em casa) e 3 a 1 no Southampton (fora). O título já era uma questão de tempo. Com 13 pontos de vantagem sobre o Arsenal, os Blues precisavam de apenas nove pontos para garantir uma taça que não vinha há exatos 50 anos. Mas eles ainda tinham importantes compromissos antes do desfecho da Premier League.
Glória em Cardiff e tropeço na Europa
Mesmo com tantos jogos no Campeonato Inglês, o Chelsea caminhava a passos largos na Copa da Liga Inglesa e na Liga dos Campeões da UEFA. Na competição nacional, os Blues passaram por West Ham United, Newcastle United, Fulham e Manchester United (com vitória por 2 a 1 em pleno Old Trafford) até chegarem à final contra o Liverpool de Gerrard e companhia, em duelo disputado no Millennium Stadium, em Cardiff, no dia 27 de fevereiro de 2005. Era a chance do primeiro título de Mourinho no comando do Chelsea e o português armou sua equipe no tradicional esquema 4-3-3, com seu famoso triângulo e apenas a ausência de Tiago, que deu lugar ao checo Jarosík. Mas os Blues levaram um susto com menos de um minuto de jogo quando Riise abriu o placar para os Reds aos 45 segundos. A partir dali, o jogo seguiu tenso até Gerrard fazer contra o gol de empate do Chelsea. Na comemoração, Mourinho fez um gesto para a torcida do Liverpool calar a boca e acabou expulso – ele disse depois que foi “para a imprensa, que fala muito”, e não para os fãs dos Reds…
Mesmo assim, o Chelsea seguiu vivo e levou o duelo para a prorrogação. Nela, Drogba virou, Kezman fez 3 a 1 e Núñez descontou, mas o placar permaneceu 3 a 2 e deu o título ao Chelsea. A glória serviu para apagar a frustração da eliminação na Copa da Inglaterra uma semana antes, após revés por 1 a 0 para o Newcastle United.
Nas oitavas de final da Liga dos Campeões da UEFA, os Blues enfrentaram o poderoso Barcelona de Ronaldinho e, após perderem por 2 a 1 no Camp Nou, venceram os catalães por 4 a 2 (gols de Gudjohnsen, Lampard, Duff e Terry) e garantiram a classificação às quartas de final. Nem aqueeeeeele golaço de Ronaldinho abalou o time inglês, que mostrou enorme volume de jogo e provou ser um dos mais competitivos esquadrões da Europa na época.
Nas quartas, a equipe encarou outro titã, o Bayern München-ALE, e venceu por 4 a 2 o duelo de ida, em Londres, com dois gols de Lampard, um de Joe Cole e outro de Drogba. Na volta, em Munique, Lampard abriu o placar para o Chelsea no primeiro tempo, Pizarro empatou, Drogba fez mais um, Paolo Guerrero (ele mesmo, o peruano) empatou de novo e Scholl, já nos acréscimos, virou para os alemães, mas o placar agregado de 6 a 5 classificou o Chelsea para a semifinal. Nela, adivinhe, outra vez o Liverpool pelo caminho. Por estarem embalados, os Blues eram favoritos, ainda mais pelo triunfo na final da Copa da Liga Inglesa. No primeiro jogo, na casa do Chelsea, o Liverpool fez um jogo equilibrado, no qual ambas as equipes se mostraram contidas demais. O resultado não poderia ser outro: 0 a 0. Na volta, em Anfield, a torcida dos Reds jogou junto desde o início e embalou a equipe para abrir o placar logo aos quatro minutos em um lance discutido e comentado até hoje – e que ajudou a aumentar a rivalidade entre os clubes ao longo dos anos.
Luis García aproveitou a sobra do goleiro Cech e mandou para o gol. No entanto, quando a bola ia entrar, Gallas, do Chelsea, deu um chutão. Mas o bandeirinha deu gol e o juiz validou. Os jogadores do Chelsea ficaram loucos da vida, bem como Mourinho, que chamou o tento de “gol fantasma”. Havia 35 câmeras no estádio. Nenhuma conseguiu filmar com precisão se a bola entrou ou não. E, em tempos sem a tecnologia que permite confirmar se a bola passou a linha, melhor para o Liverpool, que segurou o rival e venceu por 1 a 0, resultado que colocou a equipe, surpreendentemente, na grande final europeia de Istambul, na Turquia, exatos 20 anos desde sua última aparição (na derrota para a Juve, em 1985). O revés foi bastante dolorido, mas não havia tempo para lamentar. O Chelsea precisava confirmar o que todos já esperavam: o título inglês.
Premier Blue!
Após dois empates nas rodadas 32 (1 a 1 com o Birmingham City) e 33 (0 a 0 com o Arsenal), o Chelsea derrotou o Fulham por 3 a 1, em casa, e venceu o Bolton por 2 a 0, fora, garantindo o título inglês com três rodadas de antecedência. A festa diante da torcida aconteceu na rodada seguinte, com a vitória por 1 a 0 sobre o Charlton Athletic, gol de Makélélé. Sem baixar a guarda para não manchar a campanha espetacular, o time ainda venceu o Manchester United em Old Trafford por 3 a 1 (gols de Tiago, Gudjohnsen e Joe Cole) e empatou o último jogo em 1 a 1 com o Newcastle United, fora de casa.
A campanha do Chelsea foi arrebatadora: 95 pontos, 29 vitórias, oito empates e uma derrota em 38 jogos. Foram 72 gols marcados e míseros 15 gols sofridos em 38 jogos (melhor defesa da história da Premier League e uma das melhores entre todas as grandes ligas em todos os tempos), sendo que em 25 partidas os londrinos não levaram gols (!) – para se ter uma ideia, a melhor defesa da história do Brasileirão na era dos pontos corridos, do São Paulo de 2007, sofreu 19 gols em 38 jogos.
O Chelsea liderou a competição desde a 12ª rodada. Ficou 12 pontos na frente do vice-campeão, o Arsenal. Foi um campeão incontestável que juntou habilidade, força e muito trabalho tático. Em casa, os Blues permaneceram invictos com 14 vitórias e cinco empates em 19 jogos. Lampard, o grande nome da equipe, marcou 13 gols e foi o artilheiro do time na competição, seguido de Gudjohnsen, com 12. O meia ainda venceu os prêmios de Melhor Jogador da Temporada pela FWA e da própria Premier League, enquanto John Terry venceu o prêmio de Jogador da Temporada da PFA.
Ainda mais forte
Para a temporada 2005-2006, Roman Abramovich voltou a abrir os cofres e trouxe pontuais reforços para o elenco: os meio-campistas Michael Essien, ex-Lyon, e Shaun Wright-Phillips, destaque do Manchester City na época 2004-2005, além do retorno do atacante argentino Hernán Crespo. Por outro lado, Jarosík, Tiago e Kezman deixaram Stamford Bridge. Em agosto de 2005, a temporada começou com o pé-direito para os Pensioners: vitória por 2 a 1 sobre o Arsenal na final da Supercopa da Inglaterra, com dois gols de Didier Drogba, que teria uma temporada mais regular e sem lesões.
As novas contratações e o estilo de jogo consolidado deram ainda mais força ao Chelsea, que já não era mais uma surpresa e podia brigar com qualquer time pelos títulos da temporada. As jogadas em velocidade, os lançamentos às costas das defesas adversárias e a criação de espaços para gols eram as virtudes de um time de alto nível, competitivo ao extremo e fortíssimo no meio de campo, ainda mais com a chegada de Essien, que seria um dos principais jogadores de Mourinho ao lado de Makélélé e Lampard no setor.
Try to follow me
O início da temporada 2005-2006 do Chelsea foi ainda melhor do que na época anterior. Os Blues venceram nove jogos seguidos – foi o melhor início de temporada de uma equipe em toda a história da Premier League! – e assumiram a liderança já na 3ª rodada. Foram seis jogos seguidos sem levar gols e teve ainda uma vitória por 1 a 0 sobre o Arsenal (gol de Drogba), a primeira do Chelsea sobre o rival londrino em jogos da Premier League após 10 anos. Mas o grande jogo daquela sequência foi o histórico 4 a 1 sobre o então campeão europeu Liverpool em pleno estádio Anfield Road, na 8ª rodada, com gols de Lampard (que provocou a torcida na comemoração do gol), Duff, Joe Cole e Geremi.
Veja os gols:
https://www.youtube.com/watch?v=Y2wI28rbFJQ&t
Impor uma goleada daquele tamanho ao Liverpool campeão europeu foi crucial para mostrar que o Chelsea queria o bicampeonato. Na nona vitória seguida, um exemplo de como Mourinho podia mexer em seu time veio à tona. Contra o Bolton, em casa, os Blues perdiam por 1 a 0 ao final do primeiro tempo. Na volta do intervalo, Drogba e Lampard marcaram dois gols cada em apenas nove minutos e transformaram um jogo difícil em goleada, que se consumou com um gol de Gudjohnsen logo depois: 5 a 1. Foi uma verdadeira blitz, com jogadas rápidas, pressão intensa no campo de defesa do Bolton, oportunismo e futebol em estado puro. Um show! Após o jogo, a pergunta de todos foi uma só: “o que Mourinho disse aos jogadores no intervalo?”. O português foi sutil:
“Foi uma boa conversa no intervalo, onde eu tive que explicar o que exatamente nós tínhamos que fazer… Era hora de trazer algo diferente que o oponente não estava preparado para lidar”.
Aquela vitória deixou os Blues com seis pontos à frente do segundo colocado. O primeiro jogo sem três pontos foi só na 10ª rodada, no empate em 1 a 1 com o Everton, fora de casa. Na sequência, vitória por 4 a 2 sobre o Blackburn Rovers, em casa, e derrota por 1 a 0 para o Manchester United, fora, mas que em nada atrapalhou a liderança dos comandados de Mourinho, que emendaram mais 10 vitórias seguidas:
- 3 a 0 no Newcastle United, em casa;
- 2 a 0 no Portsmouth, fora;
- 1 a 0 no Middlesbrough, em casa;
- 1 a 0 no Wigan Athletic, em casa;
- 2 a 0 no Arsenal, fora;
- 3 a 2 no Fulham, em casa;
- 1 a 0 no Manchester City, fora;
- 2 a 0 no Birmingham City, em casa;
- 3 a 1 no West Ham United, fora;
- 2 a 1 no Sunderland, fora.
O destaque dessa sequência, claro, foi o triunfo por 2 a 0 sobre o Arsenal em pleno estádio Highbury, com gols de Robben e Joe Cole. Vencer na casa dos Gunners era para poucos. E deixar um craque como Thierry Henry sem balançar as redes, mais ainda. Coisa de time fora de série. Para coroar um ano incrível, Frank Lampard terminou na 2ª colocação na premiação do Ballon d’Or da France Football, uma posição mais do que destacada se levarmos em conta que o primeiro lugar ficou com Ronaldinho, que na época não era do planeta Terra…
The Senators
O técnico José Mourinho focava bastante o seu trabalho no coletivo e no espírito de equipe, além da competitividade extrema em busca da vitória a qualquer custo. Ele mesmo disse em sua apresentação ao Chelsea que “jogadores não vencem troféus, times vencem troféus, equipes vencem troféus”, salientando que não iria falar sobre individualidades, mas sim com “jogadores que gostam de vencer e possuem mentalidade vencedora nos 90 minutos, em todos os dias e em suas vidas”.
Mas, com o passar do tempo, além de instigar o coletivo, criou um grupo de jogadores que ganharam a alcunha de “senadores”: Frank Lampard, John Terry e Didier Drogba, nesta exata ordem. Por mais que o time fosse bastante coletivo e tivesse alternativas no banco de reservas para suprir a ausência de um ou outro titular, esse trio teria uma certa proteção de Mourinho ao longo dos anos. Mesmo assim, isso não atrapalhou o relacionamento dele com o elenco nem mesmo do time, como rechaçou John Terry:
“Ele era o melhor técnico, o melhor treinador mesmo. Ele fazia tudo. Mourinho foi o primeiro a vir e revolucionar o Chelsea. Ele era o primeiro a chegar (às 8h da manhã), era também quem tirava os cones, e você saindo de campo e ele ainda estava lá, embaixo de chuva, organizando a sessão de treino. Mentalmente e psicologicamente, ele nos ganhou desde o primeiro dia. Ele tinha os seus olhos em todo mundo e quando ele falava, ninguém bagunçava ou brincava com a bola. Você o escutava, ele era o chefe. Eu daria tudo por ele. Eu deixaria o campo em um caixão por ele e todos os jogadores sentiam o mesmo”. – John Terry, ex-zagueiro do Chelsea, em entrevista ao Sky Sports reproduzida em 19 de dezembro de 2017 no site Trivela, parceiro do Imortais.
Quedas nas Copas e coroa na Premier League
Sobrando no Inglês, o Chelsea acabou não repetindo o mesmo apetite nas competições eliminatórias que disputou. Na Liga dos Campeões da UEFA, os Blues até passaram pela fase de grupos após ficarem em segundo lugar no Grupo G, atrás apenas do Liverpool, com 11 pontos, três vitórias (1 a 0 no Anderlecht-BEL, em casa, 4 a 0 no Real Betis-ESP, em casa, e 2 a 0 no Anderlecht-BEL, fora), dois empates (ambos em 0 a 0 com os Reds) e uma derrota (1 a 0 para o Real Betis, fora). Nas oitavas, a equipe acabou eliminada para o futuro campeão Barcelona, que derrotou o Chelsea em pleno Stamford Bridge por 2 a 1 (com um gol contra de Terry) e empatou em 1 a 1 no Camp Nou. Na Copa da Liga Inglesa, os comandados de Mourinho caíram já no primeiro jogo, após empate em 1 a 1 com o Charlton Athletic e derrota nos pênaltis por 5 a 4. E, na Copa da Inglaterra, a eliminação veio na semifinal após revés por 2 a 1 para o Liverpool.
Com as atenções voltadas ao Campeonato Inglês, o Chelsea teve uma queda de rendimento a partir da 23ª rodada, com os empates em 1 a 1 contra Charlton Athletic e Aston Villa. Embora tenha vencido o Liverpool na 25ª rodada por 2 a 0, em casa, com gols de Gallas e Crespo, a equipe perdeu por 3 a 0 para o Middlesbrough fora de casa na rodada seguinte, no maior revés de Mourinho no comando dos Blues até então. O português reconheceu a péssima partida de seu time naquele dia em entrevista à BBC Sport:
“Em meu tempo no Chelsea, essa foi a terceira derrota na Premier League e você pode dizer que foi a pior. Nós perdemos para o Manchester City (na temporada 2004-2005) e não merecemos, nós perdemos para o Manchester United (naquela atual temporada) e não merecemos. Nós perdemos hoje por 3 a 0. E nós merecemos.” – José Mourinho, em entrevista à BBC Sport, 11 de fevereiro de 2006.
Após uma sacudida no elenco, Mourinho fez o Chelsea vencer os três jogos seguintes, incluindo um sofrido 2 a 1 pra cima do Tottenham com um golaço de Gallas aos 49’ do segundo tempo. Na 30ª rodada, novo tropeço (derrota de 1 a 0 para o Fulham, fora de casa), mas o time ficou mais seis jogos sem perder e somou cinco vitórias e um empate, com destaque para os 2 a 0 sobre o Manchester City, em casa (dois gols de Drogba), os 4 a 1 no West Ham United, em casa, e um duplo 3 a 0 pra cima do Everton e do Manchester United, este último derrotado em Stamford Bridge, no jogo que sacramentou o título com duas rodadas de antecedência. Com mais de 42 mil pessoas na casa dos Blues, Gallas (mais artilheiro que nunca naquela temporada!), Joe Cole e Ricardo Carvalho fizeram os gols que garantiram o bicampeonato e outra glória ao time de Mourinho.
De ressaca, os londrinos perderam os dois jogos finais (1 a 0 para o Blackburn Rovers e 1 a 0 para o Newcastle United, ambos fora de casa) e terminaram a competição com 91 pontos (oito a mais do que o vice-campeão Manchester United), 29 vitórias, quatro empates, cinco derrotas, 72 gols marcados e 22 gols sofridos em 38 jogos. Frank Lampard foi mais uma vez o artilheiro do time com 16 gols marcados, seguido de Drogba, com 12. Mais uma vez o destaque do time azul foi o desempenho dentro de casa com 18 vitórias (recorde) e um empate em 19 jogos, além de 47 gols marcados e apenas nove sofridos, totalizando 55 pontos, um recorde que só seria igualado por Manchester United (2011-2012), Manchester City (2011-2012) e Liverpool (2019-2020). Na campanha do bi, o Chelsea ainda venceu ao menos uma vez todos os adversários, façanha igualada apenas cinco vezes na história do torneio.
Estrelas e mais estrelas
Insaciável, Abramovich foi às compras mais uma vez para a temporada 2006-2007 querendo vencer tudo, em especial a Liga dos Campeões da UEFA, claro. Para isso ele gastou mais de 56 milhões de libras e trouxe o atacante ucraniano e lenda do Milan Andriy Shevchenko (que custou 31 milhões), o atacante marfinense Salomon Kalou, o volante nigeriano Obi Mikel, o lateral-esquerdo inglês Ashley Cole e o meia alemão Michael Ballack (este veio de graça, após o fim de seu contrato com o Bayern), dando um ar ainda mais estrelar ao elenco dos Blues. Deixaram a equipe naquela temporada o atacante Gudjohnsen, o defensor Gallas, o meio-campista Jarosík, o meia Damien Duff e o lateral Del Horno. O Chelsea foi o clube que mais contratou jogadores de peso naquela temporada e era outra vez candidato a todos os títulos da temporada. Mas o primeiro deles, a Supercopa da Inglaterra, escapou: derrota para o Liverpool por 2 a 1.
Na Premier League, os Blues venceram oito, perderam um e empataram outro nos 10 primeiros jogos da competição, mas o excesso de empates ao longo da temporada acabou minando as chances de título. A zaga foi outra vez o destaque do time – apenas 24 gols sofridos em 38 jogos, além de uma série de oito partidas sem levar gols -, mas o campeão foi mesmo o Manchester United, que terminou com 89 pontos, seis à frente dos Blues. O Chelsea foi a equipe que menos perdeu no campeonato – apenas três derrotas – mas acumulou 11 empates, cruciais para o caneco ficar com Alex Ferguson e companhia, que venceram quatro jogos a mais. Didier Drogba, enfim, foi o artilheiro do torneio com 20 gols e viveu sua mais prolífica temporada até então. Mas se os gols do marfinense não garantiram a coroa, eles iriam garantir outras duas taças…
A volta dos copeiros
O sonho do Chelsea era a Liga dos Campeões, mas o time mais uma vez não teve sorte. Os Blues foram líderes da fase de grupos com 13 pontos e superaram Porto-POR, nas oitavas, e Valencia-ESP, nas quartas, mas na semifinal a equipe sucumbiu de novo contra o Liverpool, a grande pedra na chuteira. No primeiro jogo, em casa, o Chelsea venceu por 1 a 0. Na volta, em Anfield, derrota por 1 a 0. Nos pênaltis, deu Liverpool: 4 a 1 – os Reds iriam perder a decisão para o Milan de Kaká, Pirlo e companhia. Ainda faltava mística para os Blues conseguirem a tão sonhada Velhinha Orelhuda…
Mas, em casa, a história foi diferente. A primeira glória foi a Copa da Liga Inglesa, que veio após vitória por 2 a 1 sobre o Arsenal, com dois gols de Drogba, decisivo como sempre. Tempo depois, veio a glória na Copa da Inglaterra, com triunfo por 1 a 0 sobre o Manchester United, gol de Drogba, na prorrogação, nos minutos finais, na primeira final de Copa da Inglaterra do novo Wembley, tomado por quase 90 mil pessoas.
Ao fim da temporada, o Chelsea teve seu melhor retrospecto em termos de aproveitamento sob o comando de Mourinho: 64 jogos, 42 vitórias, 16 empates, seis derrotas, 117 gols marcados e 46 gols sofridos, aproveitamento de 76,3%, superior até mesmo que a temporada 2004-2005 (71,2%). Didier Drogba foi o artilheiro do time com 33 gols marcados em 59 jogos, enquanto Frank Lampard foi o que mais atuou entre os jogadores dos Blues com 61 partidas disputadas, além de 21 gols marcados. Mas o que a torcida não sabia era que os tempos de Mourinho em Stamford Bridge estavam chegando ao fim.
The “special” end
Mais uma vez o Chelsea começou a temporada contratando vários jogadores e se desfazendo de alguns. Mas todo o planejamento da equipe ruiu no dia 19 de setembro de 2007, quando José Mourinho chocou o mundo do futebol ao anunciar sua saída do clube. A “decisão mútua” anunciada pelo treinador pegou todos de surpresa, mas foi uma consequência das desavenças do português com Roman Abramovich, que não gostou do início fraco na temporada nem da derrota por 2 a 0 para o Aston Villa dias antes, pela 5ª rodada, e muito menos do empate em 1 a 1 com o modesto Rosenborg-NOR, em casa, na abertura da fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA.
Porém, as rusgas eram antigas. Abramovich não aprovou um reforço de mais de 30 milhões de libras como Shevchenko ser pouco utilizado como titular ao longo da temporada 2006-2007 e queria um futebol mais vistoso, bonito de se ver, enquanto Mourinho não gostou de ter seu desejo por reforços negado na janela de transferências de janeiro de 2007 e da vinda de Avram Grant como diretor de futebol. Pat Nevin, ex-jogador do Chelsea, disse à BBC Sport na época que a saída do treinador teve a ver também com o “ego” do português, além dos conflitos nos bastidores e com amigos pessoais de Abramovich (como Grant) interferindo no time.
Com isso, o próprio Avril Grant assumiu o comando técnico do Chelsea, algo que não foi bem recebido pela torcida, que durante meses levou cartazes às arquibancadas de Stamford Bridge com os dizeres “Mourinho – The Special One”. E, diferente de Mourinho, Grant não conseguiu uma taça sequer naquela época. A equipe foi vice-campeã do Campeonato Inglês com dois pontos atrás do campeão Manchester United; perdeu a final da Copa da Liga Inglesa para o Tottenham Hotspur por 2 a 1; foi eliminada nas quartas de final da Copa da Inglaterra para o modesto Barnsley (1 a 0) e perdeu a maior final daquela temporada: a da Liga dos Campeões da UEFA para o Manchester United, em Moscou, após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar e derrota nos pênaltis por 6 a 5, um fim melancólico e totalmente inesperado para o torcedor, que teria que esperar mais quatro anos até o título europeu chegar, na final de 2012 contra o Bayern.
Mas nem o time campeão europeu de 2012 é tão lembrado e cultuado quanto o Chelsea de Mourinho de 2004-2007, um dos maiores esquadrões da Europa neste século, capaz de enfrentar qualquer equipe do planeta de igual para igual e com uma disciplina tática formidável. Foi um time que emancipou a marca do clube em todo o mundo e criou uma nova leva de fãs não só na Inglaterra, mas em vários países. Além dos senadores e de tantos craques que vestiram a camisa do clube naquela época, o trabalho de Mourinho, no auge da carreira e que seria campeão europeu em 2010 com a Internazionale, foi, de fato, Special. E imortal.
Os personagens:
Petr Cech: qualquer lista com os 10 maiores goleiros deste século deve ter Petr Cech. Afinal, a regularidade do checo embaixo das traves do Chelsea naqueles anos foi impressionante. Com quase dois metros de altura, Cech tinha um senso de colocação formidável, era capaz de realizar verdadeiros milagres com defesas espetaculares e permaneceu incríveis 24 jogos sem levar gols na temporada 2004-2005 da Premier League, um recorde jamais batido até hoje. Elogiado por vários jogadores por seu profissionalismo, Cech virou um ídolo instantâneo da torcida e venceu a Luva de Ouro como melhor goleiro da Premier League quatro vezes na carreira, além de ser eleito o melhor goleiro da Europa em quatro oportunidades e o melhor goleiro do mundo pela IFFHS em 2005.
O camisa 1 ficou marcado, também, por utilizar um capacete protetor na cabeça após sofrer uma séria contusão em um jogo contra o Reading, em outubro de 2006. Em um lance de disputa de bola, Cech foi atingido violentamente na cabeça pelo joelho direito de Stephen Hunt. O golpe causou uma fratura no crânio do goleiro tão grande que ele não se lembrava de absolutamente nada do lance depois. Por isso, ele passou a utilizar um capacete feito sob medida em seu retorno aos gramados, acessório que passou a ser parte integrante de seu dia a dia no futebol. Cech jogou de 2004 até 2015 no Chelsea e acumulou 494 jogos, sendo 227 deles sem sofrer gols – isso mesmo, quase a metade!!
Carlo Cudicini: extremamente identificado com o clube, o italiano foi titular em vários jogos do Chelsea principalmente entre 2000 e 2004. Com a chegada de Petr Cech, Cudicini foi para a reserva, mas sempre deu conta do recado quando exigido. Foram 216 jogos pelo clube na carreira.
Paulo Ferreira: transformado em lateral por Mourinho ainda no Porto, Paulo Ferreira foi um dos destaques do time campeão europeu em 2004 e foi levado pelo Special One ao Chelsea. Pelos Blues, o português manteve a regularidade e conseguiu ganhar a vaga de Glen Johnson na lateral-direita, participando de 29 jogos da campanha do título inglês de 2004-2005 e de outros 21 jogos em 2005-2006. Ele jogou de 2004 até 2013 no Chelsea e disputou 214 jogos com a camisa azul. Ferreira encerrou a carreira em Stamford Bridge.
Glen Johnson: cria do West Ham United, o lateral chegou ao Chelsea em 2003 e permaneceu até 2007. Embora não fosse titular absoluto, conseguiu disputar 71 jogos pelos Blues no período e foi bem quando exigido, chegando inclusive à seleção inglesa, participando das Copas de 2010 e 2014 e da Eurocopa de 2012.
Geremi: polivalente, o camaronês podia atuar como lateral-direito, meia-direita e volante. Foi um coringa bastante utilizado por Mourinho, que sempre elogiou o africano por suas virtudes e capacidade de atuar em várias posições. Geremi jogou de 2003 até 2007 nos Blues e acumulou 109 jogos e quatro gols.
John Terry: olhar para a zaga do Chelsea e ver John Terry era sinônimo de tranquilidade para o torcedor. Afinal, o grande xerife e capitão foi uma das maiores referências do clube por anos e um dos principais estandartes do Chelsea no futebol. Forte, vigoroso, ótimo nas jogadas aéreas e presença constante em jogadas de escanteio e cobranças de falta, Terry foi um dos melhores zagueiros do mundo naquele começo de anos 2000 e um dos maiores da história da Premier League. Ele começou a jogar no time profissional em 1998 e permaneceu até 2017. Foram 717 jogos e 67 gols com a camisa azul. O zagueiro é o 3º com mais jogos na história do clube. Foram 17 títulos conquistados e a idolatria eterna do torcedor.
Ricardo Carvalho: ao lado de Terry, Carvalho formou uma das melhores duplas de zaga da história da Premier League e sem dúvida alguma a melhor dupla de zaga da história do Chelsea. Leal, perfeito nas antecipações, nos desarmes e com grande senso de colocação, o zagueiro foi outro pupilo de Mourinho levado até Londres em 2004, permanecendo por lá até 2010. Foram 210 jogos e 11 gols pelo clube, além de grandes atuações, também, pela seleção de Portugal.
William Gallas: com a dupla de zaga Terry-Carvalho praticamente intocável, o francês foi deslocado para a lateral-esquerda pelo técnico Mourinho na temporada 2004-2005 e cumpriu muito bem o papel, além de poder atuar, também, na lateral-direita. Versátil e muito seguro na marcação e nos passes, foi fundamental para o ótimo desempenho defensivo daquele time nas campanhas dos títulos nacionais. Viveu um grande momento em 2005-2006, quando anotou cinco gols (foi a temporada mais prolífica do defensor) em 34 jogos. Gallas jogou de 2001 até 2006 no Chelsea, disputou 225 jogos e marcou 14 gols.
Wayne Bridge: o lateral chegou ao Chelsea em 2003 e foi titular absoluto na temporada 2003-2004. Na época seguinte, perdeu a posição por conta de uma lesão no tornozelo, mas ainda sim disputou 15 partidas na campanha do título. Com a contratação de Del Horno na temporada de 2005-2006, o inglês perdeu espaço e praticamente não jogou, voltando a disputar alguns jogos em 2006-2007. Bridge deixou o clube em 2008.
Del Horno: o espanhol foi contratado em 2005 para assumir a lateral-esquerda, mas não foi tão bem e ficou apenas uma temporada na equipe, retornando ao futebol espanhol já em 2006-2007.
Ashley Cole: muitos duvidaram do sucesso do lateral em Stamford Bridge por conta de sua identificação com o rival Arsenal, onde ele jogou de 1999 até 2006. No entanto, o craque foi cravando seu espaço aos poucos no time titular e conseguiu o respeito do torcedor com sua habitual regularidade, talento e enorme futebol. Cole jogou de 2006 até 2014 no Chelsea, disputou 338 jogos, marcou sete gols e venceu nove títulos, entre eles a Liga dos Campeões da UEFA de 2011-2012 e a Liga Europa de 2012-2013. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Claude Makélélé: toda a eficiência tática e competitiva daquele Chelsea devia muitos de seus louros e títulos a uma pessoa: Makélélé. O que o francês jogou naqueles anos foi um absurdo! Ele era o maior leitor de jogos da equipe, desarmava como poucos, tinha um fôlego inacabável e um físico privilegiado. Incontáveis jogadas começaram pelos seus pés, vários contra-ataques foram iniciados por ele e dezenas de atacantes, meias e laterais foram desarmados pelo preciso camisa 4. Foram 217 jogos pelos Blues entre 2003 e 2008.
Tiago: presente em 34 jogos da campanha do título nacional de 2004-2005, Tiago foi outro destaque do meio de campo do Chelsea naquela temporada inesquecível. Com passes precisos, boa movimentação e muita regularidade, o português ajudava bastante na saída de bola do time e também na proteção à defesa. Foram 51 jogos e quatro gols naquela temporada. Com a contratação de Essien, Tiago acabou indo para o Lyon já na temporada 2005-2006.
Essien: o ganês manteve a intensidade do meio de campo no Chelsea na temporada 2005-2006 com excelência na marcação, precisão nos desarmes, muito vigor físico e grandes jogos. Foi um dos melhores meio-campistas do mundo em seu auge e já havia demonstrado seu talento no Lyon multicampeão francês daquela época. Essien jogou de 2005 até 2014 no clube, disputou 256 jogos e marcou 25 gols, além de ter vencido nove troféus.
Jarosík: o grandalhão de 1,96m de altura podia atuar tanto na zaga quanto no meio de campo e disputou 20 partidas na temporada 2004-2005, incluindo a decisão da Copa da Liga Inglesa contra o Liverpool. Por conta da concorrência no setor e as seguidas contratações, o checo acabou deixando o clube já em 2005 para atuar por empréstimo no Birmingham City-ING, até ser vendido ao Celtic-ESC em 2006.
Obi Mikel: uma das grandes revelações do futebol africano na época, Mikel chegou ao Chelsea em 2006 e jogou regularmente na equipe na temporada 2006-2007 como volante e também um pouco mais avançado, até virar titular em definitivo após a saída de Mourinho. Foram 11 temporadas nos Blues, 372 jogos e seis gols marcados.
Frank Lampard: ele era a encarnação do Chelsea. O maior semblante. O mais influente Senador. O meia que armava, criava, fazia gols e causava erupções de emoções nas arquibancadas de Stamford Bridge. Foi o 2º Melhor Jogador do Mundo da FIFA em 2005 e também o 2º no Ballon d’Or. Foi o artilheiro do fim do jejum de 50 anos sem títulos no campeonato inglês do Chelsea em 2004-2005, além de estar presente em todos os 38 jogos da campanha sensacional. O jogador que, entre 2001 e 2014, viu a transformação de um clube no qual ele foi parte inclusiva e decisiva naquele processo. Uma estrela. Um ídolo. O 4º que mais vestiu o manto azul na história com 648 jogos. O maior artilheiro da história do Chelsea com 210 gols. Frank Lampard foi tudo isso e muito mais. Um craque que dispensa comentários. Sem ele, o Chelsea jamais seria o que é e o que foi. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Joe Cole: aos 23 anos, o meia inglês foi outro que se destacou naquele timaço com um futebol primoroso que o levou inclusive para a Copa do Mundo de 2006. Titular absoluto já na temporada de seu debute, em 2003-2004, o meia foi um dos principais articuladores de jogadas ofensivas dos Blues com muita habilidade e velocidade pela ponta-direita, às vezes como terceiro homem pelo meio e também como meia ofensivo. As lesões de Robben acabaram beneficiando o jogador, que disputou 27 jogos na campanha do título de 2004-2005 e marcou oito gols. Na temporada seguinte, se firmou de vez com 34 jogos disputados e mais oito gols marcados. Joe Cole jogou de 2003 até 2010 no Chelsea, disputou 281 jogos e marcou 40 gols.
Shaun Wright-Phillips: após uma brilhante temporada pelo Manchester City, o meia foi trazido já em 2005-2006 ao Chelsea e foi um dos mais utilizados por Mourinho na campanha do bicampeonato – foram 27 jogos disputados. Por ser capaz de atuar mais centralizado no meio de campo e também pelas pontas, o veloz inglês foi muito importante na parte tática da equipe quando jogou. Wright-Phillips ficou até 2008 no Chelsea, disputou 125 jogos e marcou 10 gols.
Kalou: o atacante marfinense chegou em 2006 ao Chelsea para compor o elenco de Mourinho e, mesmo com a concorrência pesada no ataque, disputou 58 jogos e marcou nove gols na temporada 2006-2007. Rápido e habilidoso, ele podia atuar em diferentes lados do ataque. O marfinense passou a ter mais chances nos anos posteriores à saída de Mourinho – principalmente na temporada 2011-2012, quando marcou 10 gols em 31 jogos na Premier League, a melhor época do marfinense na equipe. Kalou jogou até 2012 no clube, disputou 254 jogos e marcou 60 gols.
Michael Ballack: o meio-campista alemão chegou com status de estrela ao Chelsea e seria mais uma boa alternativa para Mourinho no mais rico e talentoso setor do time. Sua primeira temporada foi relativamente boa, com 46 jogos disputados e sete gols marcados, embora tenha sofrido críticas por causa de seu futebol mais lento se comparado com outros nomes do elenco. Uma lesão no tornozelo tirou o alemão da reta final da temporada e de boa parte da época seguinte. Ballack ficou até 2010 em Stamford Bridge, disputou 166 jogos e marcou 25 gols.
Didier Drogba: o outro senador daquele time começou modestamente sua trajetória em 2004-2005 por causa das lesões, mas aos poucos o marfinense se transformou em um dos mais perigosos e letais atacantes do futebol mundial. Com uma força estrondosa, enorme oportunismo e senso de colocação, chutes potentes e perigosíssimo no jogo aéreo com seus 1,88m de altura, o atacante foi um ídolo eterno da torcida e símbolo em Stamford Bridge entre 2004 e 2012 e 2014 e 2015. Drogba é o 4º maior artilheiro da história do Chelsea com 164 gols em 381 jogos, além de ter sido o homem-gol dos títulos da Copa da Inglaterra e da Copa da Liga Inglesa de 2006-2007 (sem contar o gol histórico na final da Liga dos Campeões de 2011-2012). Simplesmente imortal. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Gudjohnsen: desde 2000 no Chelsea, o islandês vivia grande fase na época e foi titular em várias partidas da campanha do título de 2004-2005, deixando inclusive Drogba no banco! Com muito oportunismo e importante na parte tática por recuar um pouco em determinados momentos do jogo, Gudjohnsen fez uma ótima parceria com Frank Lampard, jogando mais próximo do meia e criando opções de gols. Foram 37 jogos e 12 gols marcados na campanha vitoriosa de 2004-2005. O islandês ainda foi bem na temporada seguinte, mas acabou deixando o clube em 2006-2007 para jogar no Barcelona. Foram 263 jogos e 78 gols pelo Chelsea entre 2000 e 2006.
Hernán Crespo: com a chegada de Drogba em 2004, o argentino acabou fora dos planos de Mourinho e foi emprestado ao Milan, onde foi muito bem e quase foi campeão europeu em 2004-2005 (ele marcou dois gols na lendária final contra o Liverpool). Na temporada 2005-2006, Crespo retornou e marcou 10 gols em 30 jogos na campanha do título da Premier League, mesmo número de gols que ele havia anotado em 2003-2004. No entanto, o atacante quis voltar ao futebol italiano e assinou com a Internazionale em 2006-2007. Foram 73 jogos e 25 gols pelos Blues.
Damien Duff: atleta mais caro do primeiro ano da Era Abramovich, o irlandês correspondeu a cada centavo gasto com um ótimo futebol que ajudou (demais!) o Chelsea a vencer o título inglês de 2004-2005. Jogando aberto pela ponta-direita e também pela esquerda, além de recuar em algumas ocasiões para o meio, Duff anotou seis gols e deu seis assistências nos 30 jogos que disputou. O irlandês permaneceu até a temporada 2005-2006 na equipe, mas a falta de espaço na época 2006-2007 fez com que ele fosse para o Newcastle United. Foram 125 jogos e 19 gols pelos Blues entre 2003 e 2006.
Arjen Robben: o holandês chegou junto com o companheiro Kezman após ambos brilharem pelo PSV. Com apenas 20 anos e cabelos (!), Robben foi um estrondo em sua primeira temporada pelos Blues, que começou só em novembro por causa de uma lesão. Rápido, com um leque de dribles de tirar o fôlego e extremamente habilidoso, o holandês virou o xodó da torcida e foi crucial para o desempenho do time na Premier League. Foram apenas 18 jogos, mas o craque anotou sete gols e deu nove assistências, números mais do que suficientes para alavancar o Chelsea à liderança e ao título. Ver Robben naquela época foi puro deleite, afinal, as lesões ao longo da carreira tiraram boa parte dos dribles encantadores do atacante que viraria ídolo, também, no super Bayern München dos anos 2010. Robben jogou de 2004 até 2007 no Chelsea, disputou 106 jogos e marcou 19 gols. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Kezman: o centroavante vinha de temporadas com média de mais de um gol por jogo no PSV, mas jamais repetiu esse lado prolífico com a camisa do Chelsea (nem com nenhuma outra…). O sérvio ficou apenas uma temporada em Stamford Bridge e marcou sete gols em 41 jogos (apenas 14 como titular).
Shevchenko: lendário, multivencedor e goleador nato com a camisa do Milan e do Dynamo de Kiev, o ucraniano chegou como um dos mais talentosos atacantes de seu tempo em Stamford Bridge, mas jamais repetiu o lado goleador por lá. Com Drogba como preferido de Mourinho e lesões, Sheva não teve muitas oportunidades e foi bem abaixo do esperado. Ele deixou o clube em 2010 após 77 jogos e 22 gols, com um empréstimo ao Milan na temporada 2008-2009. Leia mais sobre ele clicando aqui!
José Mourinho (Técnico): o Chelsea teve vários grandes jogadores naqueles anos? Teve. Grandes craques? Sim. Mas todos só jogaram bem e deram liga graças a uma pessoa: José Mourinho. O português sem papas na língua nem modéstia chegou como campeão da Europa e com a missão de transformar o Chelsea em um time competitivo. Conseguiu mais do que isso. Acabou com o jejum de 50 anos sem títulos no Campeonato Inglês, derrotou todos os principais esquadrões da Inglaterra na época, fez do Arsenal freguês, virou uma das grandes figuras do próprio Campeonato Inglês e popularizou os Blues em todo o mundo. Se faltou a taça da Liga dos Campeões da UEFA, sobraram grandes jogos, como as vitórias sobre Barcelona, Bayern, Porto entre outros.
E mais: ele manteve o Chelsea invicto nas partidas da Premier League jogando em casa durante todos aqueles anos, contribuindo para uma marca até hoje jamais superada: 86 jogos de invencibilidade em Stamford Bridge. Em 185 jogos entre 2004 e 2007, Mourinho venceu 124, empatou 40 e perdeu apenas 21, um aproveitamento de 67%. O português é o maior vencedor da história do clube (ele retornou em 2013 para vencer mais uma Premier League – em 2014-2015 – e uma Copa da Liga Inglesa na mesma temporada) e tido como maior treinador dos Blues. De fato, um Special One.
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.
Por favor…. aborde o Chelsea campeão da UCL… 2012 e 2021
Ótimo texto, só uma correção o Kezman não é holandês , ele é sérvio se não me engano .
Bem lembrado! Alterado! Obrigado! 😀