Grandes feitos: Campeão do Campeonato Brasileiro (1995), Campeão do Troféu Teresa Herrera (1996), Campeão do Campeonato Carioca (1997) e Campeão do Torneio Rio-SP (1998). Encerrou um jejum de 27 anos sem títulos nacionais do clube.
Time-base: Wágner; Wilson Goiano, Wilson Gottardo (Grotto / Jorge Luiz), Gonçalves e André Silva (Iranildo / Jefferson); Leandro Ávila (Marcelinho Paulista / Pingo), Jamir (Djair / Moisés), Beto (Aílton / Zé Carlos) e Sérgio Manoel (França); Donizete (Bentinho / Bebeto) e Túlio (Sorato / Dimba). Técnicos: Renato Trindade (1995), Jair Pereira (1995 e 1996), Paulo Autuori (1995), Ricardo Barreto (1996), Joel Santana (1997) e Gilson Nunes (1998).
“Glorioso Maravilha!”
Por Guilherme Diniz
Nos anos 1930, o Botafogo moldou seu status de um dos maiores clubes do Brasil com craques históricos, títulos memoráveis e por fornecer à Seleção Brasileira dezenas de jogadores nas Copas daquela década. Os anos se passaram e o time voltou aos holofotes nos anos 60, com esquadrões ainda mais fortes e o talento de Garrincha, Quarentinha, Zagallo, Didi, Jairzinho e companhia. No entanto, a equipe passou por um hiato de títulos angustiante, viu os rivais locais crescerem e o aclamado Glorioso parecia não acordar daquele sono profundo. Mas, na virada da década de 80 para a de 90, tudo mudou. A seca no Estadual foi encerrada com o título de 1989. Veio o bi em 1990. Veio também uma Copa Conmebol, em 1993, no Maracanã. Mas foi entre 1995 e 1998 que o Glorioso voltou de vez. Com uma nova geração de bons jogadores, o Botafogo conquistou seu primeiro título nacional depois de 27 anos de jejum e em uma decisão tensa, polêmica e nostálgica contra o grande rival de outrora, o Santos.
No ano seguinte, marcou quatro gols na poderosa Juventus de Del Piero, campeã europeia e cheia de craques. Seguiu com o apetite voraz e faturou um campeonato estadual com shows, alegrias e gozação histórica pra cima do rival Vasco. E, para fechar uma era de ouro, faturou o Torneio Rio-SP em finais de tirar o fôlego contra o São Paulo. Foram anos para nenhum botafoguense esquecer. Anos em que o ditado “tem coisas que só acontecem com o Botafogo” ser atribuído somente às coisas boas. Anos de Túlio Maravilha, carrasco de todos, goleador nato, “Rei do Rio”, ídolo de gerações, formador de torcida, falastrão, folclórico, único. Anos de Gonçalves e Gottardo, donos e xerifes da zaga. Anos de Wágner, o goleirão que virou ídolo com defesas sensacionais. Anos do polivalente Sérgio Manoel. Anos com as sempre constantes mudanças de treinador, mas a manutenção do espírito vencedor e competitivo. É hora de relembrar o último grande Botafogo multicampeão.
De volta à cena
Após encerrar o jejum de grandes conquistas em 1989, o Botafogo começou os anos 90 fazendo jus ao seu passado vitorioso. Em 1990, faturou o bi do estadual. Em 1992, a equipe fez uma ótima campanha no Campeonato Brasileiro, terminou na vice-liderança a primeira fase, foi líder do grupo 2 na segunda e alcançou a final da competição. No entanto, o título escapou para o rival Flamengo, em uma decisão que ficou marcada muito por causa do grave acidente ocorrido no segundo duelo que levou à morte três pessoas e deixou 82 feridos (leia mais clicando aqui). No ano seguinte, veio a redenção na Copa Conmebol. Os cariocas eliminaram pelo caminho Bragantino-BRA, Caracas-VEN e Atlético Mineiro-BRA e chegaram à final para enfrentar o Peñarol-URU. Após empate em 1 a 1 na ida, no Centenário, o Fogão empatou a volta em 2 a 2 no Maracanã e conseguiu o título nos pênaltis após triunfo por 3 a 1. Além da histórica conquista, foi a primeira vez que um clube do Rio venceu uma competição internacional no Maraca.
Em 1994, o clube reformulou boa parte do elenco e passou por altos e baixos. Chegaram o meia Sérgio Manoel (ex-Santos), o zagueiro Wilson Gottardo (que havia passado pelo Fogão no final dos anos 80 e vinha do Marítimo-POR), o lateral Wilson Goiano (ex-América-MG), o goleador Túlio (ex-Sion-SUI, comprado por US$ 1,4 milhão), além da integração ao time profissional do jovem meia Beto. O alvinegro voltou à sua tradicional sede social em General Severiano – propriedade que foi readquirida em 1992 – foi vice-campeão da Recopa Sul-Americana (perdeu para o São Paulo de Telê) e viu Túlio ser artilheiro do Campeonato Carioca (14 gols) e do Campeonato Brasileiro (19 gols).
Comandado por Dé e, depois, por Renato Trindade, a equipe teve um início de temporada bastante conturbado por causa de atrasos de salários que culminaram com uma vexatória goleada de 7 a 1 sofrida para o rival Fluminense no Carioca, um jogo em que os atletas puxaram o freio de mão e deixaram o tricolor arrasar o alvinegro como protesto. Após o revés, vários atletas foram afastados, a equipe terminou na 5ª colocação o Brasileirão, mas ainda faltavam peças para tornar aquele time mais competitivo.
Já em 1995, o Botafogo repatriou o zagueiro Gonçalves, que estava no futebol mexicano, contratou o volante Leandro Ávila (ex-Vasco), o zagueiro Grotto (ex-Grêmio) e um parceiro para Túlio no ataque: Donizete Pantera, outro que havia passado pelo alvinegro no começo dos anos 90. Comandado por Renato Trindade, o Botafogo iniciou o Campeonato Carioca com boas perspectivas mesmo com o rival Flamengo gastando rios de dinheiro em contratações para ganhar tudo no ano de seu centenário. No primeiro turno da competição, a equipe alvinegra oscilou bastante e terminou na terceira colocação o Grupo A, desempenho que causou a saída de Trindade do comando técnico.
Na etapa seguinte, o time ganhou novo fôlego com Jair Pereira e venceu os sete jogos que disputou, incluindo um 2 a 0 sobre o Vasco com dois gols de Túlio. Com a melhor campanha no grupo após dois turnos – 33 pontos, 10 vitórias, três empates e apenas uma derrota em 14 jogos, com 37 gols marcados (melhor ataque do campeonato) e oito sofridos (melhor defesa), o time de General Severiano entrou como grande favorito no octogonal final, mas três derrotas (para Flamengo, América e Vasco) custaram a vaga na decisão do torneio, que foi decidido por um eletrizante Fla-Flu (leia mais clicando aqui!).
O saldo positivo foi a ótima performance de Túlio, artilheiro do torneio com 27 gols e que fez ele se auto proclamar “Rei do Rio”, em alusão à disputa criada pela imprensa da época sobre quem seria o grande destaque do Carioca naquele ano (além do botafoguense, estavam na briga Valdir, do Vasco, Renato Gaúcho, do Flu, e Romário, do Flamengo). O Botafogo percebeu que o elenco tinha qualidade, possuía equilíbrio entre a defesa e o ataque e a fase magnífica de seu centroavante deveria ser explorada ao máximo. Para a continuação da temporada, a diretoria trouxe o técnico Paulo Autuori, que teria como desafio fazer uma boa campanha no Campeonato Brasileiro. Embora enfrentasse desconfiança da torcida por ser desconhecido do grande público, o treinador iniciaria no alvinegro a característica máxima de seu trabalho: formar times altamente competitivos, aplicados e ótimos para competições eliminatórias.
Mais que Túlio
Muitos diziam que o Botafogo daqueles primeiros meses de 1995 era “Túlio e mais 10”. Só que não era bem assim. O time de General Severiano tinha nomes que viviam grande fase e formavam um elenco que, até final do ano, iria crescer de produção. No gol, Wágner ganhou voto de confiança da diretoria após intervenção do zagueiro Gottardo, que falou com o presidente Carlos Augusto Montenegro para a manutenção do arqueiro no clube – havia a ideia de dispensar o camisa 1 e trazer outro goleiro. Com mais confiança após a instabilidade de 1994, Wágner iria se transformar em um dos principais jogadores do Botafogo naquele período. Ainda no sistema defensivo, Autuori iria basear o setor com Gonçalves e Gottardo como zagueiros titulares. E a dupla mostraria grande entrosamento e segurança para garantir o bom desempenho da retaguarda botafoguense, principalmente Gottardo, que, com sua experiência e liderança, se comunicava muito bem com o time e entendia o jogo como poucos.
Do meio para frente, Leandro Ávila desbancaria Moisés e, ao lado de Jamir, iria compor o bom miolo central que dava combate, roubava bolas e iniciava as jogadas de ataque, essas construídas pelo incansável Sérgio Manoel, também dono das bolas paradas da equipe, e o jovem Beto, habilidoso, rápido e com boa visão de jogo – ele jogou tanto naquele ano que até foi convocado para a seleção brasileira. No ataque, Donizete abria espaços e deixava Túlio na cara do gol para manter sua média de quase um gol por jogo – uma boa fase que refletia até mesmo em seus jogos pela seleção brasileira, pela qual ele marcou seis gols em três jogos no começo do ano, incluindo três na vitória por 4 a 2 sobre o Valencia-ESP.
Por mais que o clube enfrentasse os corriqueiros problemas financeiros, a diretoria conseguiu amenizar as dificuldades com a confiança construída entre o elenco, o vice de futebol Antônio Rodrigues e o diretor Edson Santana. A dupla foi honesta sobre a situação do clube e garantiu pagamentos pontuais ao longo do ano e gratificações por vitórias. Esse elo seria fundamental para manter o time unido dentro de campo. E em busca de uma taça nacional que não vinha desde os anos 60.
Gols e desavenças
O Brasileiro de 1995 foi o primeiro com as vitórias valendo três pontos cada, em contraponto aos dois por vitória que vigoraram durante décadas. Como não poderia deixar de ser, o campeonato teve os tradicionais e excêntricos formatos de disputa que só a CBF conseguia fazer: na primeira fase, os 24 clubes foram divididos em duas chaves com 12 times em cada uma. Na primeira etapa, todos os times de cada chave se enfrentaram dentro de suas chaves. Na segunda etapa, eles enfrentaram os times da outra chave. Os melhores de cada chave em cada etapa se classificaram para as semifinais. Olha que “supimpa” esse modo de disputa, fala a verdade!!?
A estreia do Glorioso foi contra o Vitória, no dia 19 de agosto de 1995, em Salvador. O time carioca abriu 2 a 0 ainda no primeiro tempo com gols de Jamir e um golaço de Túlio, que deixou o goleiro no chão, pintou e bordou na área rubro-negra e mandou a bola pro fundo do gol. Túlio ainda mandou uma bola no travessão e quase fez o terceiro. No segundo tempo, aquele gol fez falta e o Vitória empatou. O resultado foi amargo, mas valeu pelo ponto conquistado fora de casa. No jogo seguinte, em casa, Túlio fez os três gols da vitória por 3 a 1 sobre o Paysandu e outro na vitória por 3 a 1 sobre o Guarani (Donizete fez os outros dois).
Na quarta rodada, a derrota por 1 a 0 para o Bragantino escancarou o descontentamento de parte do elenco com o artilheiro Túlio. O capitão Gottardo e o meia Sérgio Manoel foram falar com a comissão técnica sobre a necessidade do centroavante ajudar o time na marcação. Além disso, havia o individualismo e frieza do goleador para com os companheiros e o ainda fresco caso de suas férias prolongadas após a Copa América – ele ganhou dias a mais de descanso por ter participado da competição, mas ficou um pouco mais e quase deixou o clube. Vivendo grande fase e sempre polêmico e falastrão, Túlio gozava de regalias como não frequentar todos os treinos do clube, por exemplo, e ganhava o respaldo da diretoria, o que causava protestos. A questão é que ele era imprescindível no time. O jogador mais popular do país na época.
Amado pela torcida e pelos jovens torcedores e potenciais novos botafoguenses. Garoto propaganda da marca de refrigerantes 7 Up – ele mudou o número da camisa de 9 para 7 para reforçar o marketing. Adorava polemizar, tirar o sarro dos rivais (não deixe de ver o vídeo no final do texto, com algumas frases do jogador!), enfim, era um dos últimos jogadores folclóricos do futebol brasileiro em tempos de alegria e divertimento que infelizmente morreram naqueles mesmos anos 90. Frases como “Túlio ou nada”, “Túlio bem”, “Meu negócio é fazer gols, tenho essa mania” eram só algumas de suas pérolas. Ele era espontâneo, sem papas na língua e tinha uma autoconfiança que acabava contagiando todo o time dentro de campo. Se ele dizia que ia “meter dois gols naquele timeco” ele realmente o fazia. Mas era preciso resolver aquela situação escancarada por Gottardo para não prejudicar o andamento do alvinegro no campeonato. E, por isso, o presidente Carlos Augusto Montenegro fez uma reunião e cobrou mais profissionalismo de todos. A bronca deu certo e Túlio foi outro a partir daquele revés com o Bragantino. Gottardo, Sérgio Manoel e Túlio passaram a aturar-se dentro de campo por um ideal: o título brasileiro.
Rumo às semis!
Depois da chacoalhada do presidente, o Botafogo encarou o Corinthians, campeão da Copa do Brasil daquele ano, e venceu de virada por 2 a 1, com o gol da vitória anotado, claro, por Túlio. Em seguida, dois jogos fora de casa, com uma derrota (2 a 1, para o Palmeiras) e uma vitória categórica de 3 a 2 sobre o Grêmio em pleno Olímpico, com dois gols de Túlio. Após empate sem gols contra o Juventude, o time viajou até Fortaleza para a disputa do clássico contra o Flamengo, no Castelão tomado por mais de 74 mil pessoas. O Botafogo mostrou sua força diante do badalado ataque rival formado por Romário, Edmundo e Sávio e venceu por 3 a 1, com gols de Túlio, Gonçalves (com passe de Gottardo!) e Marcelo Alves. Foi uma vitória para lavar a alma e mostrar que os salários atrasados em nada atrapalhavam o rendimento do time. Túlio ainda quase fez um gol semelhante ao anotado contra o Vitória, quando driblou o goleiro e fez a festa na pequena área, mas ele tentou enfeitar demais e perdeu.
Embalados, os alvinegros levaram uma ducha de água fria no duelo seguinte, contra o Cruzeiro: derrota por 5 a 3, no Mineirão, num dos melhores jogos do campeonato. A Raposa abriu 2 a 0, o Botafogo virou para 3 a 2 ainda na primeira etapa, mas levou a virada. O doloroso revés minou a chance de assumir a liderança da chave e adiou a vaga antecipada à semifinal. No entanto, aquilo não abalou o time, que ganhou o respaldo da diretoria e até uma gratificação financeira do presidente após o jogo. No último duelo daquela primeira fase, o time empatou sem gols com o Paraná Clube e terminou na quinta colocação a chave A.
A grande reviravolta começou já no primeiro duelo da segunda etapa, contra o São Paulo, no Morumbi: vitória alvinegra por 2 a 0, com dois gols de Túlio, fora o show tático de Autuori em ninguém mais ninguém menos do que Telê Santana. O empate com o Inter na sequência assustou, mas o time se reergueu e venceu o Sport por 2 a 1 na Ilha do Retiro, com dois gols de Sérgio Manoel. O alvinegro ainda derrotou a Portuguesa (2 a 0, dois gols de Túlio), foi buscar um empate com o Criciúma (1 a 1, gol de Donizete) fora de casa e derrotou o União São João por 3 a 0, com dois gols de Túlio – e um dia depois do atacante defender a seleção brasileira, juntamente com Donizete, na vitória por 1 a 0 sobre a Argentina em amistoso disputado em Buenos Aires, com gol do Pantera!
Três dias depois, veio a grande atuação do time na competição: goleada de 5 a 0 sobre o Atlético-MG, com dois gols de Túlio, dois de Donizete e um de Gonçalves – uma curiosidade: após o jogo, eufórico, o presidente Montenegro levou cerca de 80 torcedores aos vestiários para que pudessem ver os jogadores de perto. Na rodada seguinte, Túlio fez o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Goiás fora de casa e chegou a incrível marca de 19 gols em 19 jogos disputados. Ele estava realmente impossível! Nos dois jogos seguintes, mais duas vitórias: 2 a 0 sobre o Bahia (gols de Narcísio e Wilson Goiano, com Túlio, suspenso, vendo o jogo da arquibancada) e 2 a 0 sobre o rival Vasco – os gols foram, adivinhe, de Túlio (que comemorou “nadando de braçadas”, como o embalo do Fogão àquela altura do campeonato) e Donizete. A vitória foi a quinta seguida do time e encerrou um jejum de dez anos sem vitórias sobre o cruzmaltino em Brasileiros. E, faltando apenas duas rodadas para o fim e com seis pontos de vantagem sobre o Corinthians, a equipe era líder isolada e estava praticamente garantida na semifinal.
Veja o gol das braçadas:
Além da boa fase do ataque, o Botafogo se destacava pelo conjunto. A zaga jogava muito e tinha o apelido de “paredão”. Jamir e Leandro eram ótimos no meio de campo. Beto e Sérgio Manoel infernizavam as defesas. E ainda tinham os laterais e os reservas de luxo, principalmente Iranildo, que sempre fazia boas atuações quando entrava em campo. Por já estar praticamente classificado, o alvinegro enfrentou o Santos, na Vila, com certa “preguiça” pela penúltima rodada e perdeu por 3 a 1. No entanto, o revés não surtiu efeito algum, pois o time se classificou por antecipação graças à derrota do Corinthians para o Bahia por 2 a 1. No último jogo, os alvinegros empataram em 1 a 1 com o Fluminense. Ao término da segunda etapa, o Botafogo foi líder com 27 pontos, oito vitórias, três empates, uma derrota, 22 gols marcados e apenas seis sofridos em 12 jogos. Na classificação geral, a equipe somou 45 pontos e, por ter a segunda melhor somatória entre os semifinalistas, enfrentou o Cruzeiro (39 pontos) com a vantagem de jogar por dois empates. Do outro lado, o Santos, com 46 pontos, enfrentaria o Fluminense, com 34.
Rusgas no departamento médico
Antes das semifinais, o Botafogo entrou em pânico. Não porque o adversário seria justamente o time que marcou mais gols no alvinegro na primeira fase e que ainda tirava o sono dos cariocas por causa daquele 5 a 3. É que Túlio sentiu uma lesão na coxa e era dúvida para o primeiro duelo, em Minas. Montenegro, em uma de suas atitudes de torcedor fanático, apelou para o fisioterapeuta Nilton Petroni, o Filé, que trabalhava no Flamengo, para recuperar o centroavante. O problema é que a notícia caiu como uma bomba no departamento médico do Botafogo e o ortopedista Lídio Toledo, chefe do setor, pediu demissão. No entanto, uma conversa entre comissão técnica e médicos amenizou o problema e Petroni pôde tratar Túlio para a semifinal com o aval de Toledo. Não foi apenas por Montenegro não confiar no departamento do clube que aquela saia justa aconteceu, mas sim por causa do desafeto que existia entre Toledo e Petroni desde a Copa de 1990, quando Romário levou Petroni para tratá-lo na seleção brasileira e irritou Toledo, que também era da comissão canarinho. Enfim, após a resolução do imbróglio, era hora da semifinal.
O troco e a vaga
No primeiro duelo contra o Cruzeiro, em Minas, Túlio mostrou que o trabalho do fisioterapeuta Filé era mesmo muito bom. Logo no comecinho do jogo, Sérgio Manoel apareceu pela esquerda e cruzou para o artilheiro cabecear firme, sem chances para o goleiro Dida: 1 a 0. O Cruzeiro empatou, mas o Botafogo conseguiu manter o controle do jogo, quase fez o segundo com Leandro Ávila e ameaçou o time mineiro sempre com as jogadas da dupla Donizete e Túlio. Na segunda etapa, Wágner fez grandes defesas, o time azul não furou o bloqueio da equipe de Autuori e o 1 a 1 manteve a vantagem alvinegra de mais um empate para o duelo de volta, no Maracanã. Com a torcida ao seu lado, o Botafogo teve pelo menos sete chances de marcar, meteu três bolas nas traves do goleiro Dida e viu o camisa 1 cruzeirense defender outras quatro boas oportunidades. A bola realmente não quis entrar no gol do Maraca naquele dia. E, com o 0 a 0 no placar, o Botafogo carimbou sua vaga para a final do Brasileiro pela segunda vez em quatro anos.
O adversário seria o Santos, em uma das mais nostálgicas finais da história da competição. Afinal, a dupla alvinegra se reencontrava em um duelo decisivo como os tantos que fizeram nos anos 50 e 60 com os esquadrões de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia e o de Garrincha, Didi, Zagallo, Nilton Santos e outras estrelas. Era a final perfeita com todos os ingredientes possíveis, Túlio arrebentando e Giovanni iluminado ao extremo. Daquela vez, o Santos teria a possibilidade de jogar por dois empates. Mas o Botafogo não iria facilitar a vida dos paulistas.
Vantagem e provocações
Como não poderia deixar de ser, o Botafogo se apegou às superstições e ao apelo nostálgico daquela final para se sair bem no primeiro duelo. Túlio dizia que iria se inspirar em Garrincha (que também vestiu a 7 no Fogão) e oferecer um gol a ele. Além disso, ele iria completar 100 partidas pelo Botafogo exatamente no primeiro jogo da final. Nilton Santos, lendário lateral-esquerdo do clube, dizia que o goleador alvinegro era “igualzinho ao Pirilo”, centroavante que jogou no clube no final dos anos 40. Justamente uma semana antes da final, o clube reinaugurou sua sede em General Severiano. “Justo na volta à General, podemos ser campeões”, disse o presidente Montenegro à Folha de S. Paulo na época.
Para harmonizar ainda mais o elenco, Iranildo, um dos talismãs do time, ganhou de presente da diretoria uma Brasília amarela, em alusão à música “Pelados em Santos” do grupo Mamonas Assassinas, febre nacional na época e do qual o jogador era fã. E a comissão tratou de focar ainda mais a parte de mentalização e psicologia antes dos duelos, com aquecimento recreativo e sem “pelada” com vencedores e vencidos – além das palestras sobre qualidade total com o engenheiro Evandro Mota, nos mesmos moldes aplicados em empresas. Antes da partida, Túlio, claro, lançou as seguintes pérolas:
“No Maracanã, vou fazer o gol ‘Papai Noel’, meu presente de Natal para a torcida.”
“No domingo, farei o gol ‘Peixe Morto’.”
“É o filho do rei contra o rei da alegria.” – em alusão à Edinho, goleiro do Santos, filho de Pelé.
“Vou comemorar os gols dando um soco no ar, como Pelé fazia.”
No dia do jogo, quase 60 mil pessoas estavam no Maracanã para o grande duelo entre alvinegros. Foi uma partida eletrizante, com bom futebol, muitas chances de gol e nada de retranca santista mesmo com a vantagem do empate. Gottardo e companhia construíram uma “blitz” sobre Giovanni para tentar frear o ótimo jogador santista, que vivia uma fase tão ou mais iluminada que a do próprio Túlio. As principais jogadas do Santos passavam pelo Messias, por isso, era fundamental uma marcação específica no camisa 10. Com isso, o Botafogo foi dominante em boa parte do jogo e ameaçou o Santos nos primeiros minutos até chegar ao primeiro gol, quando Gottardo cabeceou uma bola vinda do escanteio e abriu o placar para os cariocas: 1 a 0. O Santos chegou ao empate após falha de Donizete, que perdeu a bola para Gallo, que tocou em Marcelo Passos e este deixou com Giovanni. O santista aproveitou a parada da zaga alvinegra, que pediu impedimento, e só tocou na saída de Wágner para empatar, aos 38’. Minutos depois, Sérgio Manoel foi derrubado na entrada da área, mas levou vantagem e tocou para Túlio, livre, fazer o segundo. Bem, esse seria o lance completo se o árbitro Sidrack Marinho tivesse visto. Ele apitou a falta, não deu a lei da vantagem e prejudicou o Botafogo, num lance que pouca gente se lembra até hoje.
Veja abaixo:
No entanto, aos 44’, o mesmo Túlio aproveitou uma cabeçada para trás de Giovanni após cobrança de escanteio e fez o seu 22º gol no campeonato em seu 100º jogo pelo Botafogo. Na comemoração, ele socou o ar como Pelé… No segundo tempo, o Santos teve a chance de empatar em uma bola no travessão de Jamelli, mas o Botafogo continuou pressionando e teve pelo menos cinco chances claras de gol. Túlio quase fez o terceiro de cabeça, mas Edinho fez uma defesa monstruosa.
O jogo terminou e o Botafogo tinha a vantagem do empate no duelo de volta. Mas os jogadores do Santos celebraram o resultado como se eles tivessem vencido. Motivo? A lembrança do filme da semifinal, quando a equipe perdeu para o Fluminense por 4 a 1 e reverteu com um estrondoso 5 a 2 que o Imortais já relembrou aqui. O zagueiro Gonçalves viu aquilo e foi cobrar da torcida uma resposta, que retribuiu fazendo barulho e vibrando por seu time. E não havia motivo para o Santos cantar vitória antes da hora. Túlio, em entrevista após o jogo, explicou:
“Primeiro: nós não somos o Fluminense. Segundo: para ganhar do Botafogo vai ser muito difícil, quase impossível. Ou seja, não tem jeito, o Botafogo é campeão”.
E ai de quem discordasse…
Novo problema e os preparativos para a decisão
No finalzinho do jogo contra o Santos, Donizete teve que ser substituído por causa de um estiramento na coxa. Assim como Túlio lá na semifinal, o atacante era dúvida para o jogo decisivo. E adivinhe: outra vez o presidente Montenegro foi buscar ajuda ao fisioterapeuta Filé. Segundo a revista Placar nº 1111, de janeiro de 1996, o mandatário alvinegro ficou sabendo mais uma vez que os médicos do clube estavam descontentes. Ele acabou procurando o Dr. Joaquim da Matta, um dos mais notáveis do departamento do clube, e disse: “Doutor, você perdoa todas as burradas que o torcedor Montenegro fez?”. Da Matta aceitou o pedido de desculpas e os ânimos mais uma vez se acalmaram. Mesmo com os milagres de Filé, Donizete não estava 100% para o duelo. No entanto, o Pantera, ferido, queria jogar. Túlio animou o companheiro e disse que “ele seria o Pantera e você (Donizete), o Túlio. Vou correr por você”.
A união do elenco era enorme. Por mais que o capitão Gottardo e Sérgio Manoel não falassem muito com Túlio, os salários atrasados e todos os problemas ao longo da temporada, o Botafogo estava unido pelo título nacional. Pelo fim do jejum de quase três décadas sem uma conquista brasileira. Por uma taça para as novas gerações de alvinegros. Autuori armou seu time para jogar no contra-ataque, mais uma vez anular Giovanni e vencer. Mesmo com o empate favorável, o Botafogo não iria ficar acuado em seu campo. Ele queria calar o Pacaembu como já havia calado tantos outros estádios (Olímpico, Ilha do Retiro, Morumbi, Serra Dourada…) ao longo da competição como ótimo forasteiro que era. Nos últimos sete jogos longe de seus domínios, a equipe havia perdido apenas um (curiosamente para o Santos), mas quando podia perder e já classificado. Estava tudo pronto para o grande dia. Era hora de ser campeão brasileiro.
A taça maravilha!
No dia 17 de dezembro de 1995, quase 30 mil pessoas lotaram o Pacaembu para a decisão entre Santos e Botafogo. Os times estavam com as escalações que seus torcedores sabiam de cor. Donizete estava lá, com uma proteção na coxa, no sacrifício. Mas ele teria a companhia de Túlio, que logo nos primeiros minutos cometeu duas faltas em Narciso e provou que ele iria jogar por dois naquela final. Correr, desarmar, brigar, marcar. E também infernizar a zaga rival e fincar território para deixar o seu golzinho. Marcando o Santos em seu próprio campo, o Botafogo reduzia os espaços, fazia faltas e não deixava o time da Vila impor seu ritmo frenético. Túlio atuava recuado e fugia tanto de suas características que cometeu sete faltas (número curioso…) só no primeiro tempo e ainda levou cartão amarelo. Além dele, Jamir e Leandro eram verdadeiros leões no meio e não davam espaços. Somados a eles, a dupla Gonçalves e Gottardo provava ser mesmo a melhor do campeonato com muita sintonia e senso de colocação.
Até que, aos 24’, Sérgio Manoel cobrou falta da esquerda, a bola caiu nos pés de Túlio e o artilheiro não perdoou: 1 a 0. Na comemoração, ele comeu grama e imitou o peixe como havia prometido. Acontece que o gol do camisa 7 foi feito em total impedimento. Em tempos sem VAR nem parafernálias tecnológicas, o bandeira não viu que o goleador alvinegro estava pouco mais de 82 cm a frente do último santista na área. Era o primeiro erro da desastrosa arbitragem daquela tarde. O Santos tentou o empate logo de cara com Giovanni dentro da pequena área, mas o camisa 10 perdeu um gol feito. Donizete respondeu para o Botafogo roubando uma bola no meio de campo e, mesmo sem a velocidade que lhe era habitual, quase marcou o segundo e exigiu uma ótima defesa de Edinho. O time da Vila tentava chegar ao campo de ataque tocando a bola de pé em pé, rápido, mas sem pontaria. No intervalo, Autuori sacou o lateral André Silva, colocou o volante Moisés e recuou Sérgio Manoel para a lateral-esquerda. Já o Santos foi para o tudo ou nada com Macedo no lugar de Robert.
Logo aos dois minutos do segundo tempo, outro lance capital na decisão. Marquinhos Capixaba avançou pela direita, dividiu com Gonçalves, ajeitou a bola com a mão e tocou para Marcelo Passos marcar outro gol irregular: 1 a 1. Dessa vez, o árbitro Márcio Rezende de Freitas não viu. É que, a partir da segunda etapa, ele assumiria mais os lances por causa de um episódio que aconteceu na saída para os vestiários, no final do primeiro tempo:
“No intervalo do jogo, o Narciso (zagueiro do Santos) veio me falar que o gol do Botafogo tinha sido impedido. Aí eu vi que meu bandeirinha ficou branco. Eu meio que perdi a confiança nele. Passei a assumir mais os lances. Mas acabou tendo outro gol, do Santos, o de empate, que também foi irregular, e bem próximo do bandeirinha. Mas isso eu não vi, porque não tinha como ver. Depois, fui assumir um monte pra mim e mandei o bandeirinha ir para o fundo. E a TV diz que o único gol legal foi anulado”. – Márcio Rezende de Freitas, em entrevista do Globoesporte.com, 10 de outubro de 2012.
Aos 28’, Wágner espalmou uma falta cobrada por Marcelo Passos e, aos 34’, aconteceu o lance ao qual o árbitro se referiu na entrevista. Camanducaia marcou de cabeça e Rezende deu impedimento. Mas a transmissão da TV mostrou que o jogador santista estava cerca de 59 cm atrás de Leandro Ávila. Gol legal, mas não marcado. Um lance que seria discutido por anos, décadas. Era mais uma polêmica para a história do futebol. Mas não tinha o que fazer. E outra: a taça ficaria em boas mãos com qualquer time, pelo conjunto da obra de ambos e por tudo o que fizeram ao longo do campeonato.
Na sequência, o Santos pressionou mais, só que o goleiro Wágner estava intransponível. Primeiro, fez uma defesa épica com a ponta dos dedos, aos 37’, em chute de Giovanni dentro da área. Depois, espalmou com maestria outra falta cobrada por Marcelo Passos. O Botafogo respondeu com Donizete, que buscou um lapso de velocidade, chutou e mandou na trave. Faltava pouco. Os botafoguenses não se aguentavam de tensão. Até que o apito final, enfim, soou no Pacaembu.
Túlio agarrou a bola e não soltou mais. Era seu troféu. Seu amuleto. Sua companheira de 23 momentos inesquecíveis. 23 gritos. 23 comemorações diferentes. 23 histórias. 23, o número de gols que o artilheiro anotou nos 25 jogos que disputou. Média de quase um gol por partida. No ano, só pelo Carioca e Brasileiro, Túlio marcou 50 gols em 52 jogos pelo Botafogo, além de 13 gols em 12 jogos pela seleção brasileira, totalizando 63 gols em 64 jogos. Um artilheiro simplesmente incontestável e que cumpria tudo o que falava. Se tinha uma pessoa de palavra no futebol brasileiro naquele ano de 1995, ela se chamava Túlio. E se tinha um time que merecia o título brasileiro naquele ano de 1995, esse time era o Botafogo, campeão com futebol eficiente, moderno para a época, equilibrado, que soube superar tantos problemas e construir uma campanha histórica: 27 jogos, 14 vitórias, nove empates, quatro derrotas, 46 gols marcados e 25 sofridos. Na seleção da Bola de Prata da revista Placar, quatro atletas botafoguenses foram escalados para o time do torneio: Wágner, Leandro Ávila, Donizete e Túlio. Foi o time com mais vencedores entre todos os clubes da competição.
Na volta para casa, o avião da equipe atrasou mais de duas horas até chegar ao aeroporto Santos Dumont. Por causa disso, centenas de torcedores ensandecidos invadiram a pista (!) e recepcionaram in loco seus heróis. A segurança não conseguiu controlar. E teve torcedor subindo até na asa do avião de tanta alegria. A torcida fez um cortejo épico do aeroporto até General Severiano, causou engarrafamentos quilométricos, parou o tradicional túnel Rebouças e a festa ainda teve Túlio desfilando com um peixe em uma varinha de pescar (!!). Foi, de fato, um dos títulos mais celebrados da história do clube. E que moldou muitos, mas muitos torcedores até hoje.
Excursões e chamando a “Senhora” para bailar
A grande baixa do Botafogo para a temporada de 1996 foi o técnico Paulo Autuori, que acabou indo para o Benfica-POR. Leandro Ávila também deixou a equipe, assim como Sérgio Manoel e Donizete. Marinho Pérez assumiu o time nos primeiros compromissos do ano e conduziu o Botafogo ao título da Taça Cidade Maravilhosa, competição que serviu como “prévia” do Estadual daquele ano. Ainda no embalo do ano anterior, o time alvinegro terminou invicto, com seis vitórias e um empate em sete jogos, além de 21 gols marcados e seis sofridos. Túlio foi o artilheiro com 10 gols, dois deles anotados na goleada de 5 a 3 sobre o Vasco e um no empate em 2 a 2 com o Flamengo. No Carioca, a equipe não manteve a regularidade, mudou de técnico – Ricardo Barreto assumiu – e nem sequer flertou com as fases finais. Na Copa Libertadores, campanha apenas regular com classificação na terceira posição, atrás de Corinthians e Universidad de Chile. Nas oitavas, os cariocas foram eliminados pelo Grêmio e deram adeus ao sonho do título continental.
As decepções do primeiro semestre foram rapidamente esquecidas a partir de julho, quando o Botafogo participou de torneios amistosos pelo mundo. E venceu todos. Primeiro, foi até o Japão para derrotar o Cerezo Osaka por 3 a 1 e conquistar a Copa Nippon Ham. Depois, viajou à Rússia e venceu o III Torneio Presidente da Rússia ao bater o Auxerre-FRA por 3 a 1 (dois gols de Túlio e um de Marcelo Alves), e derrotar o Valencia-ESP de Mendieta e Viola na final após empate em 1 a 1 (gol de Túlio) e vitória nos pênaltis por 5 a 4. Mas o grande momento dos alvinegros aconteceu na Espanha, em agosto, no tradicional Troféu Teresa Herrera. Na semifinal, a equipe venceu o forte La Coruña-ESP da época por 2 a 1, gols de Bentinho e Túlio.
Classificado para a decisão, o time brasileiro teve pela frente ninguém mais ninguém menos que a Juventus-ITA, campeã da Liga dos Campeões da UEFA daquele ano, comandada por Marcello Lippi e com jogadores como Peruzzi, Ferrara, Di Livio, Jugovic, Deschamps, Vieri, Del Piero e Amoruso. Seria um duro teste para o Botafogo e quase ninguém acreditava que o time alvinegro sairia “vivo” de campo, ainda mais pelo fato de a Juve vir de uma goleada de 6 a 0 sobre o Ajax-HOL de Van der Sar, Frank de Boer, Litmanen, Ronald de Boer e Kluivert.
Para piorar a situação, antes do início do jogo, os italianos criaram um atrito com o time brasileiro, que não quis acatar um pedido da Velha Senhora de aumentar o número de substituições de três para cinco jogadores. O troco da Juve veio nos uniformes: como ambas as equipes vestiam camisas alvinegras, uma teria que utilizar sua vestimenta reserva. A Juventus tinha a sua, mas se recusou a trocá-la. Como o Botafogo não estava com seu uniforme número dois pronto, teve que pegar emprestadas camisas do Deportivo La Coruña (dono do estádio da final, o Riazor) para conseguir disputar o duelo. Aquela atitude dos italianos motivou o clube brasileiro.
“A forma como foi conduzida, essa inflexibilidade da Juve, isso acabou mexendo um pouco mais com os ânimos, com a motivação do que aconteceu. Era o nome do Botafogo junto com o nome de cada um. Acho que se a Juve tivesse sido um pouco mais humilde, respeitado um pouco mais as tradições do Botafogo, enfim… E dentro do campo eles também demonstraram isso, com prepotência, arrogância, a maneira de falar. A gente não devia nada para eles, jogamos de igual para igual, dentro da nossa capacidade”. – Wilson Gottardo, zagueiro do Botafogo na época, em entrevista ao Globoesporte.com, 29 de junho de 2016.
A situação inflamou os botafoguenses. E o jogo foi alucinante. Vieri abriu o placar para a Juve. Wilson Goiano lançou Túlio, que empatou em seguida. Amoruso fez 2 a 1, e França empatou: 2 a 2. O duelo foi para a prorrogação e Amoruso fez 3 a 2. Mas o Botafogo voltou a empatar com Túlio, que aproveitou a sobra do goleiro Peruzzi para mandar a redonda para as redes. Faltando pouco para o fim, Amoruso fez outro gol após falha da linha de impedimento alvinegra. Mas ainda tinha mais. Túlio invadiu a área e foi derrubado: pênalti, que ele mesmo converteu e empatou: 4 a 4. Após 120 minutos energéticos, a decisão da taça foi para os pênaltis. E Wágner deu show, defendendo os chutes de Amoruso e Di Livio. O Botafogo venceu por 3 a 0 e conquistou o título na base da raça, do futebol e do coração. Uma taça celebradíssima pelos torcedores e motivo de orgulho para os botafoguenses.
Veja os gols:
Sem o Maravilha, mas 100%
Após uma péssima campanha no Brasileiro de 1996, o Botafogo começou 1997 mais triste. É que o artilheiro Túlio deixou o alvinegro para jogar no Corinthians. Além dele, o capitão Gottardo também foi embora. Com alguns remanescentes da temporada de 1995 e Joel Santana no comando técnico, o time traçou como meta principal do semestre o título do Campeonato Carioca. Após superar o Madureira por 1 a 0 sob o comando de Antônio Clemente, o alvinegro venceu o Olaria (2 a 1), o Barreira (6 a 2) e goleou o Fluminense por 4 a 1, com gols de Djair, Sorato e dois de Bentinho, que desde 1996 era um dos principais atacantes do time. A equipe seguiu 100% e bateu o Itaperuna (4 a 2), o Bangu (5 a 0), o Vasco (2 a 1), o Americano (1 a 0), o Volta Redonda (1 a 0), o América (2 a 1) e até o Flamengo (1 a 0) com um time totalmente reserva – até Joel Santana tirou folga e viu o triunfo sobre Romário, Sávio e companhia!
As 11 vitórias em 11 jogos colocaram o Botafogo na final da Taça Guanabara, que já deveria ser do clube tamanho desempenho avassalador naquele turno. Com quase 90 mil pessoas no Maracanã, o Botafogo venceu o Vasco por 1 a 0, gol de Gonçalves, e celebrou a conquista e a vaga automática na final do campeonato. O alvinegro se mostrou muito bem armado taticamente por Joel Santana e com várias alternativas de jogadas entre o meio de campo e ataque. No segundo turno, composto pelos oito melhores times do primeiro, o Botafogo perdeu o 100% no empate em 2 a 2 com o Flamengo, mas continuou imbatível e foi o campeão, dessa vez com quatro vitórias e três empates em sete jogos. No terceiro turno (!), o time de Joel Santana tirou o pé do acelerador e viu o Vasco se garantir na final. Era hora de encarar o esquadrão de Edmundo e companhia.
Rebolou? Dançou!
O Botafogo entrou na decisão do Carioca querendo provar que era de fato o melhor time do campeonato. Tudo bem que vencer o Vasco de Felipe, Juninho Pernambucano, Ramón, Pedrinho e Edmundo seria uma tarefa difícil, mas a equipe de Joel Santana vinha embalada e contava com a solidez de seu elenco e ainda o talismã Dimba, reserva de luxo durante a competição. No primeiro jogo, o Vasco venceu por 1 a 0 e Edmundo protagonizou uma cena que deu o que falar: em determinado momento do jogo, o atacante parou na frente de Gonçalves e simulou a “Dança do Bumbum”, música de sucesso do grupo “É O Tchan” que explodia nas rádios do país na época. A tiração de onda deixou o torcedor vascaíno feliz da vida, mas tal ato teve efeito contrário, pois motivou o Botafogo para o duelo decisivo de três dias depois. Com um golaço de Dimba, que entrou como titular na decisão, o Botafogo deu o troco e foi campeão carioca. A celebração, claro, teve dança do bumbum e muita gozação para cima dos vascaínos.
A campanha botafoguense foi impecável: 26 jogos, 18 vitórias, cinco empates, três derrotas, 42 gols marcados e 18 sofridos. Bentinho, com 10 gols, foi o artilheiro do time, seguido de Sorato, com nove, e Dimba, com oito. No Campeonato Brasileiro, o time não conseguiu se garantir entre os oito melhores colocados e terminou em uma modesta 10ª colocação. Será que a boa fase tinha acabado? Ainda não…
Artilharia renovada
Para a temporada de 1998, o Botafogo se reforçou com Sérgio Manoel e trouxe para o ataque o veterano Bebeto e o ídolo Túlio, que foi anunciado em novembro de 1997 pelo patrocinador do clube na época, o Banco Excel Econômico. Com a dupla de atacantes, a diretoria esperava novas glórias no ano. Em janeiro, um intenso treinamento na parte física dos atletas derrubou o índice de gordura dos jogadores de 12% para 10,5%. O técnico Gilson Nunes viu o elenco muito mais leve e rápido, pronto para encarar os jogos do Estadual e do Torneio Rio SP. Na competição carioca, o time acabou decepcionando e ficou bem distante dos postulantes ao título. Em compensação, no Torneio Rio-SP, a história foi diferente. A equipe estreou vencendo o Corinthians no Morumbi por 1 a 0, gol de Zé Carlos.
Na sequência, o time tropeçou diante do Vasco (1 a 0), empatou com o Palmeiras (2 a 2, gols de Djair e Bebeto), venceu o Corinthians por 2 a 1 (gols de Bebeto e Túlio), empatou com o Vasco em 2 a 2 (dois gols de Bebeto) e venceu o Palmeiras em pleno Parque Antártica por 1 a 0 (gol de Zé Carlos). Os alvinegros se garantiram na semifinal e enfrentaram o Santos, num reencontro cheio de provocações por causa da final de 1995. E, de novo, o Botafogo eliminou o rival. No primeiro jogo, no Rio, empate sem gols. No segundo, no Pacaembu, Túlio, o carrasco, abriu o placar (em posição legal…) para o Botafogo. Djair, cobrando falta, mandou um petardo para o gol, aos 16’ do segundo tempo, e fez 2 a 0. Só que o Santos foi buscar o empate e levou a decisão para os pênaltis. Na marca da cal, o Fogão venceu por 4 a 3 e fez mais uma festa no Pacaembu. Na decisão, o alvinegro teria pela frente o São Paulo, do artilheiro Dodô.
Veja os gols:
https://www.youtube.com/watch?v=7X2eQWRlZLU
A taça e o fim de uma era
O Botafogo queria seu quarto título do Rio-SP, competição que não tinha mais o charme dos anos 50 e 60, mas que possuía certa relevância pelo fato de reunir os grandes clubes dos tradicionais estados boleiros do Brasil. Já o São Paulo buscava sua primeira taça da competição e um embalo ainda maior para a temporada. No primeiro jogo, disputado no dia 28 de fevereiro, no Morumbi, o Fogão não se intimidou com o campo rival e abriu o placar com Zé Carlos, aos 38’ do primeiro tempo. A equipe carioca jogava muito bem, com tabelas, chutes de fora da área e velocidade. No segundo tempo, logo aos 5’, Dodô empatou. França virou para o tricolor aos 19’, mas o Botafogo buscou o empate com Sérgio Manoel, aos 30’, em cobrança de falta perfeita. O Botafogo ainda teve outra falta a seu favor 11 minutos depois e o zagueiro Jorge Luiz decretou a virada alvinegra em pleno Morumbi: 3 a 2.
Na finalíssima, mais de 56 mil pessoas foram ao Maracanã ver mais um grande jogo do Botafogo, que jogava pelo empate. Como não poderia deixar de ser, foi uma partida elétrica, com o primeiro gol anotado por Jefferson, aos 11’, após linda tabelinha na entrada da área tricolor. O São Paulo foi valente e virou ainda no primeiro tempo com gols de Adriano e Dodô. Mas, na segunda etapa, Zé Carlos aproveitou cruzamento da direita e empatou em 2 a 2, resultado que sacramentou o título alvinegro após dez jogos, quatro vitórias, cinco empates, apenas uma derrota, 15 gols marcados e 12 sofridos. Bebeto, com quatro gols, foi o grande nome do time na competição e ofuscou Túlio, a ponto de cravar seu espaço na seleção brasileira que foi convocada para a Copa do Mundo de 1998.
Aquele troféu simbolizou o fim de uma das eras mais vencedoras da história do Botafogo em todos os tempos. A equipe teve problemas de relacionamento no segundo semestre, Túlio não repetiu a boa fase de outrora e o único lampejo de magia do time foi o empate em 5 a 5 com o Atlético-MG no Brasileiro daquele ano (leia mais clicando aqui). No ano seguinte, com várias reformulações, o clube ainda flertou com o título da Copa do Brasil, mas perdeu a final de maneira surpreendente para o Juventude, que venceu em casa e segurou um empate sem gols no último e histórico jogo com mais de 100 mil pessoas no Maracanã.
Depois dali, o alvinegro viveu momentos terríveis, amargou um dramático rebaixamento para a segunda divisão em 2002, repetiu a dose em 2014 e desde então busca uma nova glória nacional ou mesmo continental. A torcida não se contenta mais com títulos estaduais. Ela quer algo grande, imponente e ver seu time temido pelos rivais como fora lá naquela metade dos anos 90. Tempos do Botafogo Maravilha, símbolo de uma era, retrato na parede dos adultos de hoje e crianças de outrora, que lembram cada momento, cada gol e cada taça levantada pela turma de Túlio, Donizete, Gottardo, Gonçalves, Wágner e companhia. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Wágner: de 1993 até 2002, o goleirão passou por momentos difíceis, mas o saldo final foi altamente positivo: sete troféus, entre eles o histórico Brasileiro de 1995 com atuações fantásticas e defesas na grande decisão contra o Santos que estão guardadas na memória do botafoguense até hoje. Wágner deu a volta por cima após uma temporada ruim em 1994, fechou o gol em 1995 e também nas grandes conquistas do clube até 1998. Ganhou a Bola de Prata de melhor goleiro do Brasileiro de 1995 e é o 10º jogador com mais partidas pelo Botafogo na história com 412 jogos.
Wilson Goiano: após grandes partidas pelo Goiás no começo dos anos 90, o lateral-direito chegou ao Botafogo em 1995 e foi titular absoluto do time até 1998. Muito regular e eficiente nos passes e cruzamentos, além das boas cobranças de escanteio, Goiano foi um dos grandes nomes do sistema defensivo alvinegro no período e muito querido pela torcida. Depois que deixou a equipe, não repetiu o mesmo futebol nos times que jogou e encerrou a carreira em 2002, no Gama.
Wilson Gottardo: com 354 jogos pelo Botafogo, o xerife foi um dos maiores ídolos do clube nos anos 90 e outro símbolo de uma era de ouro. Seguro, raçudo, com grande visão de jogo e implacável na marcação, foi o dono da área do Fogão campeão brasileiro em 1995 e fez uma lendária dupla de zaga com Gonçalves. Após o período de glórias, brilhou também no Cruzeiro, pelo qual venceu a Copa Libertadores em 1997 também como capitão.
Grotto: veio do Grêmio, em 1995, e teve poucas chances naquele ano por causa da eficiência dos titulares. Começou a ganhar espaço aos poucos e fez alguns jogos como titular, mas sem uma grande sequência.
Jorge Luiz: zagueiro bem rodado no futebol brasileiro, conseguiu se firmar no time titular principalmente entre 1997 e 1998. Era firme na marcação, tinha certa técnica e não brincava em serviço. Foi um dos cobradores de faltas do time e fez o seu no primeiro jogo da final do Rio-SP contra o São Paulo, em pleno Morumbi.
Gonçalves: outro grande ídolo do Botafogo, o zagueiro foi um dos principais em sua posição nos anos 90 e formou uma das mais eficientes duplas de zaga da história do clube ao lado de Gottardo, entre 1995 e 1996. Além de ser muito regular na zaga, costumava ir ao ataque em jogadas aéreas e marcava gols importantes. Quando o companheiro deixou a equipe, Gonçalves assumiu a braçadeira de capitão e foi o líder do time campeão estadual em 1997 e do Torneio Rio-SP em 1998. A boa fase na época rendeu-lhe várias convocações para a seleção brasileira, além de presença entre os selecionados para a Copa do Mundo de 1998.
André Silva: cria das bases, o lateral-esquerdo assumiu a titularidade em 1995 e não decepcionou. Foi muito bem tanto nas jogadas de ataque quanto no apoio à defesa. Atuou em 19 jogos da campanha do título brasileiro. Deixou o Botafogo no ano seguinte para defender o Grêmio.
Iranildo: polivalente, o jovem de 18 anos podia atuar como lateral e meia e fez grandes jogos ao longo da campanha como um reserva de luxo. Chegou a ser convocado pelo técnico Zagallo para a seleção. Rápido e habilidoso, ficou pouco tempo no Botafogo e foi jogar no Flamengo em 1996.
Jefferson: o lateral-esquerdo foi titular em vários jogos do time entre 1996 e 1997 e tinha muita velocidade nas investidas ao ataque. Ficou conhecido por contrair uma rara síndrome, a Behçet, que paralisou todos os movimentos de seu corpo. Ele luta até hoje contra a doença e teve que encerrar a carreira em meados de 2002.
Leandro Ávila: nunca o dito “nem todo cabeça-de-área é cabeça-de-bagre” caiu tão bem para o volante naquela era de ouro do alvinegro. Leal, técnico, roubador de bolas e extremamente eficiente, Leandro Ávila foi um dos motores do meio de campo do Botafogo na conquista de 1995. Desbancou o titular Moisés e disputou 19 jogos na campanha. Ganhou a Bola de Prata de melhor volante do campeonato nacional. Pena que deixou o clube já em 1996. Fez falta para a Libertadores.
Marcelinho Paulista: foi um dos principais meio-campistas do time na conquista do Carioca de 1997. Era muito eficiente na saída de bola e nos passes. Integrou as seleções brasileiras de base e esteve nos Jogos Olímpicos de 1996.
Pingo: era um volante perito na marcação e ajudava bastante a neutralizar rivais habilidosos e meias criativos. Não era tão técnico na hora de distribuir a bola. Foi titular em boa parte dos jogos do time entre 1997 e 1998. Deixou o Fogão em 1999 para jogar no Corinthians.
Jamir: ao lado de Leandro Ávila, compôs o meio de campo pegador e compacto do Botafogo na conquista do Brasileiro de 1995. Muito forte na marcação, foi uma das grandes revelações da temporada e um dos xodós do técnico Autuori, que o levou ao Benfica já em 1996.
Djair: ele já havia vencido dois estaduais com o Botafogo como cria das bases do clube, lá no final dos anos 80, e voltou em 1997 para levantar mais uma taça do Carioca. Volante técnico, era muito bom no passe, na criação e também na marcação. Ficou no clube até 1998 e foi jogar no Cruzeiro no segundo semestre daquele ano.
Moisés: seria o titular do time no meio de campo em 1995 se Jamir não estivesse em grande fase. Acabou perdendo espaço e entrou mais no decorrer dos jogos da campanha do título. Ainda sim, jogou os quatro primeiros jogos como titular e outros 13 ao longo da caminhada vencedora.
Beto: cria das bases, o meia começou a despontar em 1995 como um jogador criativo, abusado, habilidoso e que esbanjava fôlego para ajudar o ataque e voltar para dar combate na marcação. Fez um ótimo Brasileiro e disputou 24 jogos como titular do time. Ganhou espaço na seleção brasileira e ficou no Botafogo até 1996, quando se transferiu para o futebol europeu.
Aílton: o pé-quente chegou ao Botafogo em 1997 após brilhar no Fluminense campeão carioca de 1995 (ele chutou a bola que bateu na barriga de Renato Gaúcho) e no Grêmio campeão brasileiro em 1996 (ele fez o gol do título). Habilidoso e rápido, fez grandes jogos na campanha do título carioca e levantou mais um caneco para sua coleção. Depois, perambulou por vários clubes do país e só ganhou mais uma taça em 1999, com o Remo, quando fez o gol do título do Paraense.
França: jogava mais recuado ao lado de Marcelinho Paulista, na campanha do Carioca de 1997, e de Pingo, durante o título do Rio-SP. Era forte na marcação e bom nos passes. Jogou no Botafogo de 1996 até 1998.
Sérgio Manoel: foi um dos mais icônicos jogadores do Fogão nos anos 90 e fundamental na conquista do Brasileiro de 1995, atuando em 25 jogos da equipe e marcando três gols. Incansável, com boa visão de jogo e exímio cobrador de faltas, era uma das maiores armas de Autuori tanto no ataque quanto para ajudar na marcação do meio de campo. Muito identificado com o torcedor alvinegro.
Zé Carlos: o jogador podia atuar como meia e também atacante e viveu seu melhor momento em 1998, quando marcou gols importantes na caminhada alvinegra rumo ao título do Rio-SP. Virou Zé do Gol para a torcida, mas caiu de produção e deixou o clube em 2001.
Donizete: rápido, habilidoso, driblador em alta velocidade e em espaços mínimos. Imprevisível, garçom. Donizete foi tudo isso na campanha do título brasileiro de 1995 e o melhor parceiro que Túlio poderia ter na vida. Era bola pro Pantera e do Pantera pra Túlio que o gol era quase certo! O atacante disputou 24 partidas e marcou seis gols, além das assistências para o camisa 7. Uma pena que deixou o clube já em 1996 para jogar no futebol japonês. Anos depois, brilhou também no Vasco campeão da Libertadores de 1998.
Bentinho: com a saída de Donizete, o atacante foi o companheiro de Túlio em 1996 e fez boas partidas ao longo da temporada com gols, tabelinhas e oportunismo. A falta de velocidade era seu ponto fraco. Em 1997, foi o goleador do time na campanha do título do Campeonato Carioca. Foram 100 jogos e 51 gols pelo Botafogo.
Bebeto: viveu grandes meses em 1998 com a camisa do clube e foi o artilheiro do time na campanha do título do Rio-SP. Suas atuações o levaram à Copa do Mundo de 1998. No segundo semestre, porém, desentendimentos com a diretoria e com Túlio minaram seu desempenho, que já não era mais o mesmo de outrora. Bebeto deixou General Severiano em 1999 e encerrou a carreira em 2002. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Túlio: ídolo, eleito para o Time dos Sonhos do Botafogo pela revista Placar, em 2006, artilheiro do clube em quatro temporadas (três seguidas), artilheiro de dois Brasileiros pelo Botafogo, 8º maior artilheiro do clube com 159 gols em 223 jogos (fonte: Placar), falastrão, formador de torcida… Túlio foi simplesmente uma divindade no Botafogo entre 1994 e 1996, seus melhores e mais prolíficos anos da carreira. Nesse período, ganhou duas Bolas de Prata, foi artilheiro duas vezes do Brasileiro, ganhou um, marcou 134 gols em 159 jogos, brilhou na seleção e se transformou em um dos maiores goleadores da história do futebol nacional. Não era craque de arrancadas fulminantes, lances geniais. O negócio dele era bola na rede. De um jeito ou de outro.
Mas também tinha gol bonito, chorado, de calcanhar, driblando goleiro, de voleio… Túlio foi um mito no clube, voltou em 1998 para ser campeão mais uma vez e, mesmo sem o faro artilheiro de antes, foi o maior goleador do time naquele ano com 19 gols em 47 partidas. Ele passou por vários clubes ao longo da carreira e diz ter feito 1000 gols. Mas foi com o manto alvinegro que ele entrou para os livros e enciclopédias e fez a alegria de gerações de torcedores com sua irreverência e tirações de sarro. Sujeitos como ele fazem muita falta ao futebol careta de hoje. Ainda bem que temos vídeos, reportagens e este texto para matar a saudade, não é mesmo?
Sorato: não foi o goleador decisivo dos tempos de Vasco, mas ainda sim deixou sua marca na conquista do título estadual de 1997. Foi um dos grandes atacantes de seu tempo e vestiu a camisa de dezenas de clubes. Era oportunista e se posicionava muito bem.
Dimba: o atacante viveu grande fase no ano de 1997, quando foi um reserva de luxo durante o Estadual, e, na decisão, entrou como titular e fez o golaço que deu o título carioca ao Botafogo. Dançou, comeu grama e foi um dos mais felizes com a conquista. Sem espaço e com as mudanças de técnicos ao longo da temporada, não brilhou como antes e deixou o clube em 1998. Em 2003, foi artilheiro do Brasileiro pelo Goiás com incríveis 31 gols.
Renato Trindade, Jair Pereira, Paulo Autuori, Ricardo Barreto, Joel Santana e Gilson Nunes (Técnicos): o alvinegro teve vários comandantes naquele período, interinos e tudo mais. E, mesmo com a alta rotatividade, conseguiu manter a competitividade e levantar troféus com times organizados, fortes na marcação e fazedores de gols. Paulo Autuori fez um trabalho brilhante em 1995, soube unir o grupo diante de várias dificuldades e é até hoje muito querido pelo torcedor. Ricardo Barreto foi o comandante da excursão vitoriosa de 1996 e responsável pelos títulos e por conduzir seu time a um resultado surpreendente diante da Juventus. Joel Santana foi o homem da prancheta no Carioca de 1997 com uma campanha exemplar e poucas derrotas. E Gilson Nunes fechou a era de ouro com o Torneio Rio-SP, conquistado com um notável trabalho físico. Todos têm seus nomes na história do Botafogo.
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.
3 jogos eternos do Botafogo que merecem ser lembrados:
-Santos 1×1 Botafogo(1995)
-Botafogo 4×4 Juventus (1996)
-Botafogo0x0 Juventude (1999)
Tive em todas as conquistas de 95 96 97 98 …podem me incluir nessa turma ai…….S.A.
Agradeço pelo texto como botafoguense. Muito bom. Por sinal vc mencionou o regulamento estranho do campeonato de 1995, me fez lembrar o de 1987, cujo título acabou ficando com o Sport (eu acho).
Fica a dica: um texto sobre a bizarra Copa União e o Flamengo dessa época, que foi um grande time.
Abs
Faz um trabalho sobre o Santos de Giovanni foi o primeiro bom esquadrão do santos que eu vi jogar eu tinha 16 anos.
Não levou o titulo mas ficou na lembrança de todos os santista