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Esquadrão Imortal – Botafogo 1967-1968

Uma escalação do Botafogo em 1968. Em pé: Moreira, Cao, Zé Carlos, Leônidas, Valtencir e Carlos Roberto. Agachados: Rogério, Gérson, Roberto, Jairzinho e Paulo Cézar Caju.

 

Grandes feitos: Campeão da Taça Brasil (1968), Bicampeão do Campeonato Carioca (1967 e 1968) e Bicampeão do Torneio de Caracas (1967 e 1968). Foi o primeiro clube do Rio de Janeiro a conquistar um grande torneio nacional.

Time-base: Cao (Manga); Moreira (Paulistinha / Joel), Zé Carlos, Leônidas e Valtencir (Chiquinho Pastor); Carlos Roberto e Gérson (Afonsinho); Rogério (Zequinha), Roberto (Ferretti), Jairzinho (Aírton Beleza) e Paulo Cézar Caju. Técnico: Mário Zagallo.

 

“SeleFogo”

 

Por Guilherme Diniz

 

Ao longo do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, o Botafogo reuniu algumas das maiores estrelas de sua história e formou um esquadrão formidável que foi, ao lado do Santos, a base da seleção brasileira bicampeã mundial nas Copas de 1958 e 1962. Nilton Santos, Didi, Zagallo e Garrincha foram os principais nomes do timaço que levava multidões ao Maracanã e aplicava goleadas e shows memoráveis nos rivais do Rio e de outros estados do Brasil. Após 1962, o clube alvinegro passou por uma entressafra e alguns pensaram que a boa fase havia chegado ao fim. Porém, entre 1967 e 1968, o Fogão voltou a reunir titãs do nosso futebol e venceu mais títulos graças ao talento de craques como Leônidas, Gérson, Jairzinho, Roberto, PC Caju e companhia, todos comandados por Mário Zagallo, que começou exatamente naquela época sua laureada e inesquecível trajetória como treinador e viu seu desempenho em General Severiano levá-lo à seleção, pela qual o Velho Lobo conquistou a Copa do Mundo de 1970. É hora de relembrar a parte 2 da SeleFogo.

 

Craques no campo e na prancheta!

Garrincha, Édson, Quarentinha, Amarildo e Zagallo: uma das linhas de frente do Botafogo nos anos 60…

 

Com as saídas de lendas do timaço lá do início da década como Nilton Santos, Zagallo, Didi, Amarildo, Quarentinha e Garrincha, o alvinegro de General Severiano se reestruturou com uma nova leva de talentos, alguns que chegaram até a jogar ao lado dos craques do passado. Leônidas, Carlos Roberto, Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho, Paulo Cézar Caju e Ferretti, isso só para citar alguns, eram os nomes que o Botafogo conseguiu reunir naquele final de década. Tais atletas seriam comandados por Zagallo, que, após pendurar as chuteiras em 1965, aos 34 anos, disse “sim” a um convite da diretoria para dirigir o time de juniores do Botafogo e iniciar a carreira de treinador.

Foto: AE.

 

Quando aceitou comandar o time juvenil, disse: “aceito agora, mas não quero saber de despedida. Penduro a chuteira hoje e começo o treino amanhã!”. Dito e feito. Em pouco tempo, Zagallo foi para os profissionais e começaria a modernizar para sempre a parte tática e técnica dos times de futebol, virando exemplo e referência para todos. Com muito equilíbrio entre meio de campo e ataque, o time era devastador quando partia em direção ao gol com Jairzinho, Gérson, Roberto e Paulo Cézar Caju, e sabia se recompor quando sofria contragolpes. Caju era o jogador-símbolo daquela parte tática do alvinegro e cumpria a função que Zagallo exerceu em seus tempos de jogador: o ponta que recuava para ajudar na marcação. Era um 4-2-4 que virava 4-3-3, bem típico do Brasil de 1958.

 

Campeões em Caracas e show no Rio

Antes mesmo de Zagallo assumir em definitivo o time principal, o Botafogo viajou até a Venezuela em janeiro de 1967 sob o comando de Admildo Chirol para a disputa do Torneio de Caracas, uma das principais competições internacionais da época e que reuniu naquele ano o Botafogo – campeão do Torneio Rio-SP de 1966 -, o Peñarol-URU, campeão da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes de 1966, e o Barcelona-ESP, campeão da Copa das Cidades com Feiras de 1965-1966 (este torneio foi o precursor da Copa da UEFA, atual Liga Europa da UEFA).

O sistema era o clássico todos contra todos e o Botafogo estreou com empate em 0 a 0 contra o Peñarol, que ainda tinha a base campeã continental e mundial no ano anterior como Lezcano, Díaz, Néstor Gonçalves, Abbadie, Spencer e Joya. O alvinegro foi a campo com um time misto, mas ainda sim teve os titulares Manga, Joel, Leônidas, Gérson, Roberto e Paulo Cézar, que teve um gol anulado no comecinho do primeiro tempo. O jogo seguinte foi a decisão, afinal, o Barcelona havia vencido o Peñarol por 1 a 0 e poderia até empatar que ficaria com o troféu. Porém, o Botafogo não deu chances ao rival e abriu o placar no primeiro tempo, com Aírton Beleza. Na segunda etapa, Gérson fez o segundo e, aos 40’, Paulo Cézar ampliou para 3 a 0. Silva ainda descontou para o Barcelona nos minutos finais duas vezes, mas o placar ficou mesmo 3 a 2 e deu ao Glorioso o título.

 

A taça serviu como embalo para o restante da temporada, que teria naquele ano a estreia do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o precursor do Campeonato Brasileiro, que entraria em disputa em definitivo a partir do ano de 1971. O Robertão seria mais um torneio nacional cobiçado pelos clubes brasileiros, que tinham na época apenas a Taça Brasil como principal competição. O problema é que o Fogão não fez um bom torneio e acabou na última colocação de seu grupo, com uma vitória, sete empates e seis derrotas em 14 jogos. Mas o alvinegro começaria a volta por cima já no segundo semestre, na disputa do Campeonato Carioca.

Zagallo fez algumas mudanças no time para a disputa do Estadual e apostou em um time mais ofensivo, mas que soubesse também se recompor em velocidade e ter segurança defensiva, o 4-2-4 que virava 4-3-3. E essa mudança de postura foi fundamental para o Botafogo jogar bem e ir derrubando seus adversários. A equipe foi líder tanto do primeiro quanto do segundo turno e faturou o título carioca após derrotar o Bangu na final por 2 a 1, gols de Roberto e Gérson, em um Maracanã tomado por mais de 111 mil pessoas. Ao longo da campanha, o Botafogo superou seus principais rivais, como Flamengo (2 a 1 e 1 a 0), Fluminense (1 a 0) e Vasco (3 a 1). Gérson e Roberto, ambos com 6 gols cada, foram os artilheiros do time na competição, que deu ao clube uma vaga na Taça Brasil de 1968.

 

Bicampeões no Rio, em Caracas e a autêntica SeleFogo

Com a mesma base vencedora de 1967 – exceto o goleiro Manga, que acabou se transferindo para o Nacional do Uruguai -, o Botafogo entrou em 1968 como favorito a tudo. E confirmou a condição logo de cara ao vencer o Campeonato Carioca após 18 jogos, 15 vitórias, dois empates, uma derrota, 40 gols marcados e apenas 10 gols sofridos. Ao longo da competição, o alvinegro apresentou um futebol de encher os olhos, com direito a goleadas históricas nos rivais: um 4 a 1 sobre o Flamengo na final da Guanabara de 1968 – dois gols de Gérson, um de Zequinha e um de Roberto – e um 4 a 0 sobre o Vasco na final do Carioca de 1968 – gols de Roberto, Rogério, Jairzinho e Gérson. O atacante Roberto foi um dos principais nomes do time ao anotar 13 gols e ser o artilheiro do torneio estadual.

 

 

Falando em rivais, depois da derrota por 4 a 2 para o Flamengo em abril de 1967, o Botafogo engatilhou nove jogos seguidos sem derrota para o rival, incluindo cinco vitórias seguidas. Veja a sequência abaixo, com os autores dos gols alvinegros entre parênteses:

 

1967 – 1 a 0 (Jairzinho)

1967 – 2 a 1 (Rogério e Carlos Roberto)

1967 – 1 a 0 (Jairzinho)

1968 – 1 a 0 (Jairzinho)

1968 – 1 a 0 (Roberto)

1968 – 0 a 0

1968 – 4 a 1 (Gérson, duas vezes, Zequinha e Roberto)

1968 – 0 a 0

1969 – 2 a 0 (Jairzinho e Roberto)

 

Ainda em 1968, o Botafogo viajou mais uma vez para a Venezuela e disputou o Torneio de Caracas. Mas a busca do bi não seria nada fácil, afinal, o clube carioca teria pela frente a seleção da Argentina (!), comandada por José Minella e com jogadores como o goleiro Andrada, o zagueiro Perfumo e o meia Savoy, e o Benfica-POR, vice-campeão europeu em 1967 e que ainda tinha a lenda Eusébio. No primeiro jogo, contra a Argentina, o Botafogo não se intimidou com as botinadas e a pressão dos hermanos e venceu por 1 a 0, gol de Jairzinho, vitória que deu ao clube o troféu Júlio Bustamante. Três dias depois, o alvinegro encarou o Benfica sem quatro atletas, lesionados após o jogo contra a Argentina: Zé Carlos, Leônidas, Carlos Roberto e Rogério. Mesmo assim, Zagallo escalou um time forte e veloz que conseguiu derrotar o Benfica por 2 a 0, gols de Lula e Roberto, vitória que deu ao alvinegro o troféu Professor Ildemaro Ramos e o consequente título do Torneio de Caracas de 1968.

O Botafogo de Zagallo em campo: 4-2-4 virava 4-3-3 com recuo de PC Caju.

 

A nova conquista do Glorioso veio no mesmo mês em que o time praticamente vestiu a camisa da seleção brasileira em um amistoso contra a Argentina, no Maracanã. Zagallo comandou o time brasileiro e escalou assim a seleção: Félix (Fluminense); Moreira (Botafogo), Brito (Vasco), Leônidas (Botafogo) e Valtencir (Botafogo); Carlos Roberto (Botafogo) e Gérson (Botafogo); Nado (Vasco), Roberto (Botafogo), Jairzinho (Botafogo) e Paulo Cézar (Botafogo). A Argentina foi a campo com Sánchez; Ostua, Perfumo, Basile e Malbernat; Solari (Savoy) e Rendo; Aguirre, Yazalde, Veglio (Minitti) e Más.

A SeleFogo que venceu a Argentina: só deu Fogão!

 

E o Brasil, ou melhor, a SeleFogo, venceu por 4 a 1, com gols de Valtencir, Roberto, Paulo Cézar e Jairzinho. O gol que fechou o placar, inclusive, foi uma verdadeira obra-prima, retratada pelo próprio Zagallo: “Trocamos 52 passes, com os argentinos na roda, até sair o gol do Paulo Cézar. Foi um lance que dificilmente será visto de novo no futebol”. Os últimos passes geraram uma tabelinha entre Ney e Jairzinho, que completou para o fundo do gol diante do delírio absoluto da torcida. Era um combustível e tanto para o próximo compromisso do Botafogo: a Taça Brasil.

 

Rei do Brasil!

O calendário nacional foi alterado em 1968 e os torneios regionais foram realizados no primeiro semestre, enquanto que a Taça Brasil teve seu pontapé inicial já em agosto. A competição foi dividida em duas fases, com Palmeiras e Náutico, campeão e vice, respectivamente, da edição anterior e os representantes dos estados da Guanabara e São Paulo (Botafogo e Santos) já garantidos na fase final. Os demais representantes estaduais deveriam passar pela primeira fase, dividida em três zonas (Zona Norte, Centro e Sul), cada uma com um regulamento próprio, classificando o campeão de cada zona para a fase final.

Um fato em destaque é que, por causa do apertado calendário, o torneio iria se desenrolar até 1969, obrigando a CBD a indicar para a disputa da Copa Libertadores de 1969 o campeão e vice do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, a fim de atender ao prazo de inscrição da Conmebol. Porém, antes do torneio continental começar, os clubes brasileiros desistiram e o país não teve representantes naquele ano – o campeão foi o Estudiantes-ARG.

Ferretti, artilheiro do Fogão na Taça Brasil.

 

De volta à Taça Brasil, o Botafogo estreou na competição em dezembro de 1968, contra o surpreendente Metropol, vencedor da Zona Sul e que deixou pelo caminho o favorito Grêmio. No primeiro jogo, no Maracanã, um verdadeiro passeio alvinegro mesmo sem Jairzinho, machucado: goleada de 6 a 1, com dois gols de Ferretti, um de Humberto, um de Paulo Cézar, um de Rogério e outro de Afonsinho. Na volta, em Santa Catarina, o Botafogo viajou desfalcado de Gérson, Jairzinho e Roberto e sofreu bastante com a violência do rival, que teve três expulsões, mas ainda sim venceu por 1 a 0, forçando o terceiro jogo – na época não havia critério de placar agregado, apenas pontuação. Como o terceiro jogo deveria ser na mesma localidade da segunda partida – no caso, em SC – a CBD marcou para Florianópolis o duelo extra. Porém, o Metropol não gostou e queria jogar novamente em sua casa. O imbróglio começou pelo fato de o jogo ser marcado em uma data com exigência de jogo noturno, e o estádio do Metropol não tinha iluminação artificial.

A queda de braço foi longa e, depois de idas e vindas, a CBD marcou o jogo para o Rio de Janeiro, em abril de 1969. Debaixo de uma chuva torrencial, o duelo ficou 1 a 1 e não chegou ao fim dos 90 minutos pela condição deplorável do gramado. Com isso, foi realizada uma nova partida já no dia seguinte, também no Rio. Só que o Metropol já havia voltado para Santa Catarina e o Botafogo acabou se classificando por WO… Uma trapalhada gigantesca dos dirigentes catarinenses. Curiosamente, no mesmo ano de 1969, o departamento de futebol do Metropol foi desativado.

Depois da turbulenta oitavas de final, o Botafogo encarou o Cruzeiro na etapa seguinte. O duelo era na verdade uma semifinal, pois Palmeiras e Santos abandonaram a competição diante das trapalhadas do calendário da CBD, beneficiando do outro lado o Fortaleza, que foi direto para a final. Já sem Gérson, vendido ao São Paulo, o Botafogo enfrentou o Cruzeiro no Mineirão e derrotou a Raposa por 1 a 0, gol de Ferretti. Na segunda partida, no Maracanã, Palhinha abriu o placar para os mineiros logo aos 6’, mas Roberto empatou no segundo tempo e o resultado colocou o Fogão na final. 

Em busca de seu primeiro grande título nacional, o alvinegro teve pela frente o Fortaleza, que tinha um vice-campeonato da Taça Brasil (1960) e queria repetir o feito do Bahia, então único clube do nordeste a vencer a competição, e ser o segundo da região a levantar o troféu. Por isso, um resultado positivo em casa seria fundamental para o tricolor ter alguma chance contra o estrelado Botafogo. Na ida, no estádio Presidente Vargas lotado com mais de 15 mil pessoas, um jogo muito pegado e com erros terminou empatado em 2 a 2, com mais dois gols do artilheiro Ferretti para o Fogão. No Maracanã, um mês depois, o Botafogo se impôs e abriu o placar logo aos 7’, com Roberto aproveitando falha da zaga cearense. O alvinegro ainda tentou ampliar no primeiro tempo em chute de Ferretti, que mandou na trave, e em pênalti não marcado após Zé Carlos, do Fortaleza, colocar a mão na bola.

Glorioso conseguiu segurar o Fortaleza fora de casa e goleou no Maracanã.

 

Porém, a justiça foi feita na etapa complementar. Aos 8’, Ferretti, sempre ele, fez 2 a 0. Minutos depois, Afonsinho partiu tabelando com Roberto e tocou na saída do goleiro. No finalzinho, Rogério driblou o zagueiro e cruzou para Ferretti só escorar de cabeça e fechar a conta: 4 a 0. Botafogo campeão da Taça Brasil de 1968! E uma curiosidade: Jairzinho, uma das estrelas do time, não jogou uma partida sequer da campanha! Dos sete jogos, o Furacão esteve machucado em três e em quatro partidas estava defendendo a seleção. 

Afonsinho ergue a Taça Brasil.

 

O Fogão venceu três, empatou três, perdeu um, marcou 15 gols e sofreu seis. Ferretti, com 7 gols, foi o artilheiro da competição. O título deu ao clube a honra de ser o primeiro do Rio de Janeiro a levantar uma grande competição nacional. Depois do Botafogo, o Fluminense, em 1970, conseguiria se igualar ao rival com a conquista do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Uma pena que, mesmo com o título de 1968, o Botafogo não tenha conseguido disputar a Libertadores por causa da já citada desorganização da CBD – o país também não teve representantes na edição continental de 1970.

 

À espera dos anos 1990

Donizete e Túlio, dupla imortal do Botafogo, comemoram o primeiro gol no Pacaembu. Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo.

 

O ano de 1968 simbolizou o fim de uma era para o Botafogo e início de tempos complicados. No começo dos anos 1970, a equipe até seguiu forte, com vários remanescentes da seleção campeã do mundo no México, mas não conseguiu levantar títulos. O jejum foi passando e o clube permaneceu longos 21 anos sem vencer nada, até o título do Carioca de 1989 recolocar o alvinegro na rota das glórias, que se estenderam em parte dos anos 1990, cujo ápice foi o título brasileiro de 1995, no esquadrão de Túlio e companhia. E ver o Botafogo campeão brasileiro naquele ano fez o torcedor resgatar as mais doces lembranças dos anos 1960, da SeleFogo e do time que colocou o alvinegro no topo do Brasil em 1968. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

 

Cao: com a saída da lenda Manga, Cao assumiu a titularidade do time em 1968 e fez grandes jogos nas campanhas do título carioca e da Taça Brasil. Jogou no clube de 1965 até 1970 e retornou em 1972, mas não teve uma carreira muito longa por causa de uma lesão no joelho. Disputou mais de 200 jogos pelo alvinegro. Tinha a fama de “frangueiro”, mas, calma, não era porque ele levava gols defensáveis, mas pelo fato de ele ter uma granja na qual criava galinhas e vendia ovos.

Manga: ele tinha mãos enormes, cara de mal, era ágil, se colocava precisamente embaixo do travessão, esbanjava autoconfiança, era decisivo, vencedor e foi ídolo por onde passou. Além de tudo isso, se tornou especialista em provocar os rivais, se garantir em campo e ainda fazer pontes impecáveis só para ver a torcida se maravilhar com sua arte de defender uma bola. Haílton Corrêa de Arruda, mais conhecido como Manga, foi o mais legítimo sinônimo de goleiro no futebol brasileiro e mundial durante os anos 1960 e 1970 e se consagrou eternamente como um dos maiores do futebol nacional em todos os tempos. Titularíssimo do Botafogo naqueles anos 1960, deixou o clube em 1968 para fazer história no Nacional do Uruguai, pelo qual venceu a Copa Libertadores de 1971. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Moreira: lateral-direito muito regular e com bom fôlego, fez grandes jogos em 1967 e 1968 e foi a primeira escolha de Zagallo na maioria dos jogos. 

Joel: disputou 240 partidas pelo Botafogo e jogou no clube de 1962 até 1968. Tinha grande vigor físico e bons chutes de longa distância.

Paulistinha: lenda do clube por 10 anos, o defensor era um verdadeiro coringa, sendo capaz de atuar como lateral-direito, lateral-esquerdo e também como zagueiro. Chegou em 1959 e só saiu em 1969 do clube. Esteve nos grandes momentos do Botafogo naquele começo de anos 1960 e integrou o timaço de Garrincha, Nilton Santos e companhia. Na equipe de 1967-1968, foi titular em algumas partidas, mas era mais reserva por conta do bom momento de Moreira. Foram mais de 300 jogos pelo alvinegro.

Zé Carlos: cria das bases, o defensor só jogou no Botafogo em toda carreira e esteve em toda a década de 1960 no elenco alvinegro. Disputou mais de 300 jogos pelo clube e fez uma grande dupla de zaga ao lado do eterno Leônidas durante as campanhas dos títulos estaduais de 1967 e 1968 e na Taça Brasil de 1968. 

Leônidas: um dos primeiros a fazer com maestria a linha de impedimento no futebol brasileiro, Sebastião Leônidas foi uma lenda do Botafogo e ícone do grande time campeão nacional em 1968 e bicampeão carioca em 1967 e 1968. Esbanjava técnica, tinha qualidade nos passes e vigor físico. Foi convocado várias vezes para a seleção e seria um dos membros do time que viajou ao México para a Copa do Mundo de 1970, mas uma contusão o tirou da lista dias antes do embarque, algo que deu a ele a alcunha de “campeão mundial sem Copa”. Uma zaga com ele e Piazza teria sido inesquecível. Após pendurar as chuteiras, foi técnico do Botafogo em várias oportunidades. 

Valtencir: com 453 jogos pelo Botafogo, o lateral-esquerdo é um dos recordistas em partidas pelo clube e um ídolo do Glorioso. Jogou de 1967 até 1976 no clube e foi capitão em boa parte da década de 1970. Subia constantemente ao ataque e apoiava muito bem, além de marcar alguns gols. Tinha tanta habilidade que, quando Marinho Chagas chegou ao clube, foi jogar na lateral-direita só para acomodar o loiro no Fogão. Valtencir (algumas fontes creditam o jogador com a letra W, Waltencir) ainda podia atuar como quarto zagueiro, volante e até meia! O jogador faleceu precocemente, aos 31 anos, em campo, quando jogava pelo Colorado EC, do Paraná, após se chocar violentamente com um adversário e sofrer três fraturas na coluna cervical e dupla ruptura da medula. 

Chiquinho Pastor: podia atuar como lateral-esquerdo e também zagueiro e jogou no Botafogo de 1965 até 1971 e também em 1975. Foi titular na conquista do Torneio de Caracas de 1967.

Carlos Roberto: o volante jogou de 1967 até 1975 no Botafogo e tinha a função de proteger a zaga para que Gérson criasse jogadas e efetuasse lançamentos. Além de ser ótimo marcador, Carlos Roberto ainda aparecia no ataque e marcava gols. É um dos recordistas em jogos pelo Botafogo na história com 442 partidas. 

Gérson: ele não era muito de cabecear, não gostava de marcar, costumava ficar centralizado em uma posição, tinha cara amarrada e nenhuma papa na língua. No entanto, aquele meia-armador tinha uma perna esquerda capaz de verdadeiras obras de arte e de realizar lançamentos superiores a 40 metros de distância como quem os fazia com as mãos. Ninguém jamais lançou como ele e com tamanha precisão. Ninguém colocou bolas nos peitos, pés e cabeças de tão longe e com tanta classe. E nenhum jogador na história do futebol brasileiro foi tão precioso como um legítimo armador de jogadas e, claro, gols, como Gérson, “cérebro” da Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1970, no México, e ídolo em todos os clubes por onde passou. 

Polêmico dentro e fora de campo e com um repertório infindável de jogadas, desde cobranças de faltas magníficas até chutes com o mais puro veneno, o craque superou críticas e maus momentos para entrar na história com um futebol virtuoso e sem frescuras. Se fosse preciso, ele dava bicão. Se fosse preciso, ele dividia e até quebrava a perna de algum rival mal intencionado. E, se fosse preciso, ele construía uma jogada que resultaria em um gol de cinema. Em General Severiano, Gérson venceu diversos torneios e foi um dos principais jogadores que abriram a segunda era de ouro do clube alvinegro. Após as saídas e/ou aposentadoria de algumas lendas do começo da década, Gérson se uniu a Jairzinho, Paulo Cézar Caju, Ferreti e muitos outros que colocariam o Fogão no topo. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Afonsinho: chegou em 1965 e rapidamente ganhou a confiança de Zagallo para integrar o sistema de armação de jogadas após a saída de Gérson. Muito inteligente, abria espaços e dava passes precisos aos companheiros, além de marcar gols. Foi capitão do time no título da Taça Brasil de 1968. É considerado o pioneiro do passe livre no futebol brasileiro – leia mais clicando aqui.

Rogério: outra cria das categorias de base do Botafogo, o ponta-direita foi titular absoluto do time de Zagallo e conseguia atrair a marcação para si e abrir espaços para os companheiros marcarem gols. Além disso, ele deixava os dele também. Foram 197 jogos e 29 gols pelo alvinegro entre 1966-1971 e 1974-1976.

Zequinha: conseguiu demonstrar seu futebol em 1968, participando de vários jogos na campanha do título carioca e da Taça Brasil. Permaneceu até 1974 no clube e registrou 279 jogos e 30 gols.

Roberto: atacante rompedor, destemido e que não tirava o pé em divididas, o Vendaval é um dos maiores artilheiros da história do Botafogo com 154 gols em 352 jogos, além de ter sido o artilheiro do Carioca de 1968 com 13 gols. Foi convocado para a Copa do Mundo de 1970 e foi reserva de Tostão, entrando nos jogos contra a Inglaterra e o Peru. Ao longo da carreira, Roberto quebrou a costela, braço, clavícula e queixo (!) nos muitos jogos que disputou.

Ferretti: grande estrela do ataque alvinegro na conquista da Taça Brasil, o grandalhão (1,90m) atacante anotou 7 gols e foi o principal nome do time na caminhada rumo à primeira glória nacional. Com a ausência de Jairzinho no torneio, Ferretti assumiu a responsabilidade e fez grandes jogos, demonstrando oportunismo e notável senso de colocação. Foram 256 jogos e 86 gols entre 1967 e 1975.

Jairzinho: pará-lo? Só com um trator, uma bazuca ou um tanque de guerra. Zagueiros não tinham fôlego para ir atrás daquele craque cheio de energia, fibra, força, ímpeto e explosão. Ele era demais. Um verdadeiro furacão. Jairzinho foi um dos maiores craques do futebol mundial nas décadas de 1960 e 1970 e teve um dos maiores desempenhos individuais na história das Copas do Mundo, em 1970. No Mundial do México, o ponta-direita marcou sete gols e se tornou o primeiro e único a balançar as redes em todos os jogos de uma seleção campeã mundial na história. O craque jogou demais naquela Copa, feito que deu a ele o apelido que o consagrou para sempre: Furacão.

A família de Jairzinho foi uma das principais responsáveis por traçar o caminho do jovem ao Botafogo quando se mudou para os arredores de General Severiano, território do clube alvinegro. O garoto, que já mostrava muito talento desde pequeno, começou a fazer testes no Glorioso no começo dos anos 1960, tendo grande destaque nas equipes juvenis do clube e conquistando seu espaço rapidamente. Com o privilégio de atuar ao lado de diversos craques, o jovem tinha o ambiente perfeito para brilhar e aprender como se tornar um dos grandes atacantes do esporte mundial.

Jairzinho ainda brilhou nas excursões do Botafogo pela Europa e América Latina, que renderam títulos amistosos, reconhecimento e popularidade não só ao jogador, mas também ao clube. Em 1965, recebeu a dura missão de herdar a camisa 7 e substituir ninguém mais ninguém menos que Garrincha. Mas, quem achava que o jovem de 19 anos ia decepcionar ou fraquejar, se enganou. O craque começou a jogar muito, abusar da técnica, habilidade e da força física impressionante, levando ao delírio os torcedores alvinegros. Em pouco tempo, Jairzinho virou titular absoluto, estrela e foi convocado para a Copa do Mundo de 1966. Entre 1967 e 1968, ajudou o Botafogo a vencer mais títulos, mas acabou de fora da campanha da Taça Brasil de 1968 por causa dos compromissos com a seleção e por problemas musculares. Leia mais sobre Jairzinho clicando aqui!

Aírton Beleza: o atacante não teve muito destaque no Botafogo por causa da concorrência, mas marcou um dos gols da vitória por 3 a 2 sobre o Barcelona-ESP que garantiu o título do Torneio de Caracas de 1967. Disputou algumas partidas do Carioca até deixar o clube tempo depois.

Paulo Cézar Caju: outro craque revelado pelo Botafogo, Paulo Cézar Lima foi um dos mais talentosos e polivalentes atletas do futebol brasileiro nos anos 1960 e 1970. Habilidoso, com um fôlego impressionante, driblador e dono de uma visão de jogo e noção tática raras, ele cravou seu nome no timaço alvinegro campeão nacional de 1968 e bicampeão carioca de 1967 e 1968, além de ser campeão do mundo com a seleção em 1970 como uma espécie de 12º jogador do elenco estrelar de Zagallo. Caju ainda marcava muitos gols por atuar mais avançado no meio de campo e foi artilheiro do Campeonato Carioca de 1971 com 11 gols. 

Mário Zagallo (Técnico): com a experiência de seus tempos de jogador e enorme conhecimento tático, Zagallo demonstrou naquele Botafogo que seria um técnico marcante. Ele modernizou a parte tática e técnica do time alvinegro, promoveu novas crias das categorias de base e venceu as Taças Guanabaras de 1967 e 1968, os Campeonatos Cariocas de 1967 e 1968 e a Taça Brasil de 1968. O Botafogo daqueles anos fez história não só pelos títulos, mas pelo futebol apresentado. Não por acaso, tempo depois, Zagallo assumiu a seleção brasileira e levantou a Copa do Mundo de 1970. Leia mais sobre ele clicando aqui!

 

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Comentários encerrados

Um Comentário

  1. Parabens guilherme pelo post pois selefogo ainda e pouco pois gerson jairzinho roberto e pc caju foram tricampeoes na copa de 70 e lembrando que o ponta direita rogerio se contundiu ja no mexico sendo cortado do time mas ele foi tricampeao como olheiro de zagallo pois era responsavel por observar os nossos adversarios e por fim o velho lobo o primeiro campeao como jogador e tecnico.realmente era muita cobra junto.

Craque Imortal – Djalma Santos

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