Nascimento: 04 de janeiro de 1990, em Greifswald, Alemanha.
Posição: Meio-campista
Clubes: Bayern München-ALE (2007-2014), Bayer Leverkusen-ALE (2009-2010-empréstimo) e Real Madrid-ESP (2014-2024).
Principais títulos por clubes: 1 Mundial de Clubes da FIFA (2013), 1 Liga dos Campeões da UEFA (2012-2013), 1 Supercopa da UEFA (2013), 3 Campeonatos Alemães (2007-2008, 2012-2013 e 2013-2014), 3 Copas da Alemanha (2007-2008, 2012-2013 e 2013-2014) e 1 Supercopa da Alemanha (2012) pelo Bayern München.
5 Mundiais de Clubes da FIFA (2014, 2016, 2017, 2018 e 2022), 5 Ligas dos Campeões da UEFA (2015-2016, 2016-2017, 2017-2018, 2021-2022 e 2023-2024), 3 Supercopas da UEFA (2014, 2017 e 2022), 4 Campeonatos Espanhóis (2016-2017, 2019-2020, 2021-2022 e 2023-2024), 1 Copa do Rei (2022-2023) e 4 Supercopas da Espanha (2017, 2019-2020, 2021-2022 e 2023-2024) pelo Real Madrid.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (2014) pela Alemanha.
Principais títulos individuais:
Eleito para o Time do Ano da Bundesliga: 2009-2010 e 2011-2012
Eleito para o Time do Ano da Liga dos Campeões da UEFA: 2013–14, 2014–15, 2015–16, 2016–17 e 2017–18
Eleito para o FIFA FIFPro World 11: 2014, 2016 e 2017
Eleito para o Time do Ano da UEFA: 2014, 2016 e 2017
Melhor Meio-campista do Ano da IFFHS: 2014
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 2014
Futebolista do Ano da Alemanha: 2014 e 2018
Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2016
2º Maior Assistente de La Liga: 2016-2017 – 12 assistências
Eleito para o Time da Década do Mundo 2011-2020 pela IFFHS
Eleito para o Time da Década da Europa 2011-2020 pela IFFHS
“O Mestre dos Passes”
Por Guilherme Diniz
Se o jogo estivesse complicado, tenso, sufocante, era só dar a bola para ele. Em segundos, ele sabia o que fazer. Encontrava um espaço. Via um companheiro livre. Ou percebia o goleiro distraído e mandava um chute colocado para marcar um golaço. Por quase duas décadas, ele foi um dos melhores meio-campistas do planeta. O autêntico “playmaker”, aquele que dita o ritmo do jogo, que inicia as jogadas e destrói as do rival. Provou que a perfeição no meio de campo existe ao formar com Luka Modric e Casemiro o “Trio Eterno” que deu ao Real Madrid três UCLs consecutivas. Foi o artífice da Alemanha campeã do mundo em 2014. Um dos brilhos do Bayern multicampeão de 2012-2013. E foi, como o título deste texto, O Mestre. O especialista nos passes e lançamentos. Aquele que sabe tudo da arte de enxergar com plenitude um jogo de futebol no lugar dos craques. Toni Kroos teve atributos raros e conquistou ao longo de sua carreira quase todos os títulos possíveis sendo protagonista, referência. Praticamente um professor na arte do passe, o alemão já é um dos maiores de todos os tempos. É hora de relembrar.
Jovem mestre
Nascido em Greifswald, extremo norte da Alemanha, Kroos cresceu vendo seu pai, Roland Kroos, como técnico dos juvenis do Hansa Rostock e desde pequeno deu mais importância ao futebol do que aos estudos. Embora fosse atencioso e educado na escola, o que ele queria mesmo era jogar futebol e seus pais não viram outra alternativa senão colocá-lo nas equipes de base do Greifswald SC, onde ele ficou de 1997 até 2002 para depois ir jogar no Hansa Rostock, onde permaneceu até 2006. Com o pai ao seu lado, Kroos amadureceu bastante no time e treinava muito os fundamentos básicos, em especial chutes e passes. Ele era o “projeto familiar” do pai, que queria que o filho fosse ótimo e justificasse o foco no esporte aquém dos estudos.
Em 2006, Kroos conseguiu uma vaga no time juvenil do Bayern München e acabou perdendo 40 dias do ano letivo da escola por conta disso. No entanto, o jovem abraçou a oportunidade e rapidamente foi integrado aos profissionais do Bayern na temporada 2007-2008, quando estreou com apenas 17 anos em uma goleada de 5 a 0 do time de Munique diante do Energie Cottbus, dando duas assistências para Miroslav Klose completar sua tripleta na partida. Foi uma estreia e tanto e que fez dele o mais jovem jogador a estrear pelo time profissional na época, com 17 anos e 265 dias. Se muitos pensaram que era sorte de principiante, Kroos mostrou que era realmente diferente.
Dias depois, em um duelo complicado pela Copa da UEFA diante do Estrela Vermelha-SER, os bávaros perdiam por 2 a 1 quando Kroos entrou aos 81’. O jovem assumiu o protagonismo da partida como se fosse um veterano e nem deu bola para a fanática e assombrosa torcida sérvia. Aos 84’, ele cobrou falta com precisão milimétrica na cabeça de Klose, que empatou o jogo: 2 a 2. E, já nos acréscimos, o mesmo Kroos cobrou falta praticamente do mesmo lugar do primeiro lance e a bola foi rasteira, direto para o gol: 3 a 2. Virada bávara! E com a assinatura de Toni Kroos, prodígio que encantou o técnico Ottmar Hitzfeld.
“Ele é um futebolista apaixonado com grande instinto. Ele sempre toma a decisão certa em campo e você não precisa dizer o que ele precisa fazer”, comentou o então técnico bávaro no pós-jogo na época. E isso quando Kroos tinha apenas 17 anos!
Após 20 jogos na temporada 2007-2008, Kroos foi convocado para a seleção alemã sub-17 que disputou a Copa do Mundo da FIFA da categoria. E, em solo sul-coreano, o meio-campista foi simplesmente perfeito ao marcar 5 gols e vencer a Bola de Ouro de Melhor Jogador da competição. Embora a Alemanha tenha ficado com o bronze – o time perdeu para a campeã Nigéria na semifinal – Kroos brilhou mais do que os campeões e já era àquela altura um dos maiores talentos do futebol alemão e visto como o futuro da Nationalelf, que se reestruturava para a disputa da Copa do Mundo de 2010. Ele também foi eleito o Melhor Jogador do Campeonato Europeu sub-17 de 2006 e foi o artilheiro da edição de 2007 com 3 gols. Ainda em 2008, Toni Kroos venceu o Prêmio Fritz Walter na categoria sub-18 da Federação Alemã de Futebol, provando que o jovem era, de fato, o melhor em sua idade no país.
Ganhando experiência e a primeira Copa
Na época 2008-2009, Kroos acabou emprestado ao Bayer Leverkusen por um ano e meio para ganhar experiência entre os profissionais. No início, o jovem jogou menos do que poderia e ficou frustrado principalmente por não ter sido convocado pelo técnico da equipe alemã sub-20, Horst Hrubesch, para a disputa da Eurocopa Sub-21 de 2009, torneio que acabou vencido pela Alemanha. Mas o jovem soube esperar e, na primeira metade da temporada 2009-2010, fez grandes jogos e registrou entre as rodadas 16 e 20 da Bundesliga cinco gols e quatro assistências, o que fez dele o melhor jogador do mês de dezembro de 2009 e também de janeiro de 2010. Jogando como titular, Kroos disputou 35 partidas na época 2009-2010, marcou 9 gols e deu 12 assistências, além de ter sido eleito para o Time do Ano da Bundesliga pela revista Kicker. Foi naquela época que ele começou a parceria com Jupp Heynckes, técnico do Leverkusen e que seria o treinador do Bayern tempo depois.
Em março de 2010, Kroos ganhou sua primeira convocação para a seleção alemã e estreou no amistoso contra a Argentina, em Munique, no qual a equipe sul-americana venceu por 1 a 0. Kroos ainda participou de mais três amistosos nos meses seguintes e foi convocado para a Copa do Mundo da FIFA de 2010, competição que o jovem ainda não era titular da Nationalelf e fez quatro aparições sempre saindo do banco de reservas. Ele entrou no último jogo da fase de grupos, no 1 a 0 contra Gana; nas quartas de final, na goleada de 4 a 0 sobre a Argentina; na semifinal, na derrota por 1 a 0 para a Espanha, e na disputa pelo terceiro lugar, no triunfo por 3 a 2 sobre o Uruguai.
Enfim, titular no Bayern
Após a Copa do Mundo e a grande campanha da jovem seleção alemã, Kroos retornou ao Bayern München com a expectativa de ser titular da equipe ainda comandada por Louis van Gaal. E, com sua já comprovada qualidade nos passes e nas bolas paradas, além de uma leitura de jogo fora do comum, Kroos ganhou o espaço que merecia na equipe e disputou 37 jogos na temporada 2010-2011. Van Gaal conversou com o jogador ao longo da temporada e percebeu que ele rendia muito bem no lado esquerdo do meio de campo e, também, centralizado. Com isso, Kroos tinha mobilidade para ajudar na marcação, recuperar bolas, iniciar contra-ataques e municiar os atacantes, em especial Mario Gómez. Aquela temporada foi abaixo do esperado na Baviera, pois o Bayern só venceu a Supercopa da Alemanha. Mas, na época 2011-2012, tudo começou a mudar quando Jupp Heynckes chegou ao comando técnico do clube e moldou um time altamente competitivo que iria fazer história no futebol mundial.
Kroos virou um dos principais nomes do Bayern atuando mais centralizado no meio de campo, com Schweinsteiger e Luiz Gustavo mais recuados e a dupla Robben e Ribéry pelas pontas, com Mario Gómez atuando como centroavante. A parceria com Schweinsteiger seria uma das mais famosas da história do futebol alemão e repetida, também, na seleção alemã de Joachim Low. Enquanto Schweinsteiger tinha funções mais de marcação e recuperação, Kroos era o homem pensante, o responsável pelos passes, tabelas e lançamentos. Com a ascenção de Thomas Müller na equipe, Kroos também poderia jogar mais recuado, ao lado de Schweinsteiger, com Luiz Gustavo indo para a reserva.
O Bayern teve como principal oponente naquela época o Borussia Dortmund de Jürgen Klopp, que venceu tanto a Bundesliga e a Copa da Alemanha de 2011-2012. O Bayern foi em busca da Liga dos Campeões da UEFA e chegou à final em casa, na Allianz Arena, para encarar o Chelsea. Porém, em uma noite desastrosa, o Bayern perdeu nos pênaltis a chance da glória continental e viveu um de seus maiores dramas na competição. Kroos disputou 51 jogos na temporada, marcou sete gols, deu 19 assistências – 10 na Bundesliga, 8 na UCL e uma na Copa da Alemanha – e foi eleito para mais um time do ano da Kicker na Bundesliga. Jupp Heynckes não deixou de exaltar o seu jogador ao longo daquela temporada, mesmo sem grandes títulos.
“Eu tenho visto um potencial ilimitado no Kroos. No momento, vejo ele tão desenvolvido quanto Wolfgang Overath e Günter Netzer na mesma idade”, comentou Heynckes, citando seus companheiros de seleção alemã nos anos 1970.
Estrela no Treble e a glória na Copa do Mundo
Se os títulos escaparam em 2011-2012, a época 2012-2013 foi inesquecível para Kroos e seu Bayern. Após a decepção na Eurocopa 2012 com a seleção – a Alemanha foi eliminada na semifinal, após derrota para a Itália – Kroos ajudou o Bayern a vencer um inédito Treble, com os títulos do Campeonato Alemão, da Copa da Alemanha e da Liga dos Campeões da UEFA. O craque acabou de fora das partidas decisivas do Bayern nas duas últimas competições por causa de uma lesão na virilha, mas disputou 37 jogos, marcou 9 gols e deu 8 assistências. Na temporada seguinte, após se recuperar, o craque seguiu em alta e o Bayern era favorito a tudo o que iria disputar, ainda mais com a chegada de Pep Guardiola ao clube alemão. A Bundesliga foi conquistada sem qualquer percalço, o time venceu o Mundial de Clubes da FIFA e a Supercopa da UEFA e chegou à semifinal da UCL, mas acabou derrotado de maneira categórica pelo Real Madrid, que ficou com a vaga na final.
O revés no torneio continental foi superado por Kroos rapidamente, afinal, o craque foi convocado para mais uma Copa do Mundo, dessa vez como titular absoluto do técnico Joachim Low. E, no Brasil, Kroos não jogou. Deu aula. Cátedra. Ou como quiser chamar. O craque foi simplesmente um mestre no meio de campo com seus passes perfeitos, suas cobranças de falta impecáveis e visão de jogo assombrosa. O meio de campo era sua casa e ali ele se divertia, fazia o que queria. Kroos jogou todos os sete jogos da Alemanha na Copa e deu uma assistência para o gol de Hummels nos 4 a 0 da equipe alemã sobre Portugal, na estreia da fase de grupos.
Nas quartas de final, outro passe de Kroos, vindo de uma cobrança de falta, resultou no gol de Hummels na vitória por 1 a 0 sobre a França. E o grand finale do craque veio na semifinal, diante do timeco do Brasil, quando Kroos marcou dois gols em apenas dois minutos, deu a assistência para o primeiro gol, de Thomas Müller, e foi peça-chave no eterno 7 a 1 que colocou a Alemanha na final. O jogador foi eleito o “man of the match” pela FIFA e destacou logo após a partida que aquela foi sua melhor apresentação com a camisa da Nationalelf.
“Foi meu melhor jogo pela seleção. Contra o Brasil e no Brasil. Jogar esta grande partida foi excepcional. […] Viemos aqui para ser campeões, e ninguém é campeão após ganhar uma semifinal. Foi uma partida impressionante. Desde o primeiro minuto, tivemos a sensação de que a vitória era possível. Depois marcamos um gol após outro, e antes da metade do primeiro tempo conseguimos ter cinco gols de vantagem”.
A Alemanha derrotou a Argentina por 1 a 0 na final e ficou com o tetracampeonato. Kroos, claro, foi eleito para o All-Star Team da Copa e entrou de vez para o rol de grandes jogadores da história do país e do futebol. Mas o craque ainda tinha muito por fazer.
A “mudança que mudou tudo”
Antes mesmo da Copa começar, Toni Kroos tentava chegar a um acordo para a renovação de seu contrato com o Bayern. Descontente com os valores propostos pelo clube, o alemão começou a pesquisar sobre outros clubes, entre eles o Manchester United. O jogador chegou a conversar com David Moyes, então técnico dos Red Devils, mas tempo depois ele acabou demitido do clube inglês e, com a chegada de Louis van Gaal, a conversa esfriou, pois o técnico holandês, embora tenha trabalhado com Kroos no início da carreira do jogador no Bayern, não queria ele no United.
O tempo passou e Carlo Ancelotti, então técnico do Real Madrid, ligou para Kroos e tentou levar o craque para o Real Madrid, que havia acabado de vencer a UCL. Kroos e seu agente gostaram dos valores e o alemão foi para o time espanhol por cerca de 25 milhões de euros, um valor muito baixo para alguém tão fora de série.
“Olhamos para os valores das transferências de hoje em dia e nos lembramos de que o Kroos custou 25 milhões de euros (cerca de R$ 93 milhões) ao Real Madrid. Foi o roubo do século”, disse Volker Struth, empresário do jogador, ao “Bild”, em 2017.
O Real não tinha nada a ver com isso e conseguiu provavelmente um dos melhores negócios de sua história. A chegada do alemão, que substituiu o craque Xabi Alonso, foi um divisor de águas para a história do clube, que já tinha um timaço e ficou ainda mais forte com o campeão do mundo. E uma simbiose perfeita iria começar quando Modric e Kroos passaram a jogar no meio de campo merengue. Zidane, que ainda não era treinador, mas auxiliar, disse na época que o Real assinou com Kroos para ele “marcar uma era” e que ele era “perfeito para o Madrid”. E, de fato, ele seria mesmo.
Logo nos primeiros meses da temporada 2014-2015, Kroos ajudou o Real a atingir a marca de 22 vitórias seguidas e venceu a Supercopa da UEFA e o Mundial de Clubes da FIFA de 2014. Ele ainda marcou dois gols, deu 14 assistências para gols e disputou 55 jogos. Mas foi a partir da temporada 2015-2016 que o alemão virou de vez um virtuose no meio de campo merengue. Após a desastrosa passagem de Rafa Benítez pelos merengues e a efetivação de Zidane como técnico, o Real Madrid tratou de assumir o protagonismo do futebol europeu e acabar com a farra do rival Barcelona, campeão de quase tudo em 2014-2015 graças ao trio MSN. Foi nessa temporada que o brasileiro Casemiro passou a jogar mais no meio de campo e fez nascer o Trio Eterno que iria marcar uma era do Real.
O time começou a jogar mais bonito, de maneira mais segura e não menos goleador. Casemiro, Modric e Kroos transformaram o meio de campo no setor mais importante do time. Com o trio, o Real podia vencer qualquer clube do mundo. Com precisão, autoridade e talento. Se o título espanhol não veio, a glória da temporada foi a Liga dos Campeões da UEFA, vencida, assim como em 2014, sobre o rival local Atlético de Madrid. Quem saiu na frente foi o Real, com o capitão Sergio Ramos aparecendo na pequena área e mandando pro gol após cobrança de falta de Kroos. O Atlético foi pra cima, pressionou, mas Navas evitou o empate dos colchoneros com boas defesas em chutes de Griezmann.
No segundo tempo, o Atlético teve uma grande chance de empatar em cobrança de pênalti, mas Griezmann, que raramente perdia um pênalti, mandou um petardo no meio do gol, mas a bola subiu demais e explodiu no travessão. O Atlético não desistiu e empatou com o belga Carrasco. O placar de 1 a 1 persistiu até o final e também na prorrogação e a decisão foi para os pênaltis. Na marca da cal, o Real venceu por 5 a 3 e ficou com o troféu. Naquela temporada, Kroos disputou 44 jogos, marcou um gol e deu 13 assistências. Ele venceu ainda vários prêmios individuais, entre eles o FIFA FIFPro World 11, foi eleito para o Time do Ano da UEFA e da Liga dos Campeões e também para o All-Star team da Eurocopa, embora a Alemanha tenha sido eliminada pela França na semifinal.
Empilhando taças
A temporada 2016-2017 foi a melhor e mais prolífica do Real Madrid sob o comando de Zidane. O Real foi campeão Espanhol, da Liga dos Campeões da UEFA, da Supercopa da UEFA e do Mundial de Clubes. Em La Liga, os merengues venceram 29, empataram seis e perderam apenas três dos 38 jogos. Foram 106 gols marcados e 41 sofridos. Além de tudo isso, outros números ficaram para a história da competição: mais gols fora de casa em uma única temporada (58 gols) e mais jogos marcando ao menos um gol em uma temporada: 38 partidas! O time não ficou um jogo sequer sem balançar as redes! Toni Kroos, com 12 assistências, foi o vice na lista dos maiores garçons. Aliás, em 2016-2017 Kroos acertou impressionantes 92% dos passes que efetuou em 48 jogos! Nessa época, Kroos ganhou as manchetes também pela provocação que fez ao Brasil na virada do ano de 2017, quando publicou em suas redes sociais a seguinte imagem:
Na época 2017-2018, Kroos seguiu impecável e ajudou o Real Madrid a levantar mais uma Liga dos Campeões, um Mundial, uma Supercopa da UEFA e uma Supercopa da Espanha. Em 43 jogos, o alemão marcou cinco gols e deu 10 assistências, além de efetuar 74 desarmes. Muitos dizem que, naquela época, Kroos poderia ter vencido a Bola de Ouro e ser eleito o melhor jogador do mundo. Porém, a honraria de 2018 ficou com o seu companheiro de Real, o croata Luka Modric. Sobre a premiação, Kroos sempre teve uma opinião muito cética:
“Prêmios individuais são desnecessários num esporte coletivo. Eu sempre disse isso e mantenho minha palavra. Nenhum jogador ganharia qualquer coisa por si mesmo. É algo prestigioso, mas não importante. Essa é uma grande diferença. Minha ideia é que simplesmente não acho a Bola de Ouro importante, ou não tão importante quanto outros jogadores.
Nenhum jogador ganharia nada sozinho. Eu me vejo sempre como um jogador de equipe, o que também se deve ao meu estilo de jogo. Sempre quero ganhar títulos com o time. É isso o que conta, no fim. É por isso que não ter vencido a Bola de Ouro não me incomoda, nem nos meus sonhos mais secretos”.
Ainda em 2018, Kroos foi para sua terceira Copa do Mundo e a Alemanha era uma das favoritas ao título. Porém, em solo russo, a trajetória da Nationalelf foi um desastre. Na estreia, a equipe perdeu para o México por 1 a 0 e foi para a partida seguinte, contra a Suécia, precisando desesperadamente de uma vitória. Os suecos abriram o placar no primeiro tempo e Reus empatou no começo da segunda etapa. O empate poderia eliminar a Alemanha precocemente da Copa, mas uma falta nos acréscimos devolveu a esperança à equipe. Na bola, Toni Kroos. E o craque mandou a redonda direto pro gol e deu a vitória de virada por 2 a 1 aos campeões.
Foi um gol mágico, mas que só serviu para provar o quão espetacular Kroos era. A Alemanha, ao contrário, já não era mais a mesma. E, no último jogo, a equipe perdeu para a Coreia do Sul por 2 a 0 e foi eliminada, mantendo a sina de derrocadas dos últimos campeões em fases de grupos, assim como em 2010 (queda da Itália, campeã em 2006) e em 2014 (queda da Espanha, campeã em 2010).
Queda de rendimento e aposentadoria (momentânea) da seleção
Após a Copa, Kroos e o Real Madrid entraram em um período de declínio após as saídas do técnico Zidane e do atacante Cristiano Ronaldo. Sem a dupla e com o natural relaxamento após tantos títulos seguidos, a equipe só venceu o Mundial de Clubes em 2018-2019 e foi eliminada já nas oitavas de final da UCL com uma goleada de 4 a 1 sofrida pelo Ajax em pleno Santiago Bernabéu. Aquela temporada foi a menos expressiva de Kroos no quesito assistências: apenas 6 em 43 jogos. Na época seguinte, o alemão marcou um gol olímpico na semifinal da Supercopa da Espanha, contra o Valencia, e ajudou o time merengue a chegar à final, vencida sobre o Atlético de Madrid nos pênaltis por 4 a 1. O Real foi campeão espanhol e Kroos anotou seis gols e deu nove assistências em 45 jogos.
Após a fase mais aguda da pandemia da COVID-19, Kroos e o Real Madrid voltaram à temporada 2020-2021 dispostos a voltar à briga por títulos, principalmente com o retorno de Zidane ao comando técnico. Kroos voltou a jogar bem e a desfilar suas virtudes no meio de campo, contribuindo com 12 assistências e marcando três gols em 42 jogos. No entanto, o time merengue não conseguiu vencer títulos, caindo nas semifinais da Supercopa da Espanha e da UCL, e ficando na 2ª colocação de La Liga. Pela seleção, Kroos jogou a Eurocopa e compôs o meio de campo ao lado de Gündogan, com Kimmich e Gosens atuando mais pelas pontas do miolo central.
Ainda sob o comando de Joachim Löw, a Alemanha penava para voltar a jogar bem e mais uma vez decepcionou, sendo eliminada já nas oitavas de final para a Inglaterra. Após a Euro, Kroos anunciou sua aposentadoria da seleção e foi criticado por Lothar Matthäus, que disse que o meio-campista “não era mais um jogador de classe internacional” na época, ressaltando ainda que não concordava com o estilo de jogo dele.
“Na verdade, ele faz muito bem o um-dois, mas quando passa a bola, perde velocidade novamente porque quase não há ganho de espaço e o ritmo diminui”, comentou Matthäus, em 2021, à Kicker (ALE).
Kroos disse que queria se dedicar à sua trajetória pelo Real Madrid e à sua família e não estaria mais disponível para a Copa do Mundo de 2022. Ele ficou muito desapontado com outra queda em uma Eurocopa, torneio que faltava à sua imensa galeria de troféus. E, com mais tempo para o clube merengue, o alemão iria dar a volta por cima.
A volta do Mestre
A temporada 2021-2022 foi uma das mais emblemáticas para Kroos. Aliás, não só para ele, mas para vários imortais do Real Madrid. Quando Carlo Ancelotti retornou ao comando técnico, disseram que ele não era mais o mesmo. Quando os rivais viam Casemiro, Modric e Kroos no meio de campo, acharam que eles não iriam aguentar tantos jogos. E quando viam Benzema sozinho lá na frente com Vinícius Júnior e Valverde, pensaram que os gols não seriam em profusão. Claro que no início da temporada tudo isso parecia mesmo acontecer quando um time da Moldávia derrotou o Real em pleno Santiago Bernabéu e Kroos ficou de fora por vários jogos por causa de uma lesão no púbis. Mas ali foi o ponto de virada. Ancelotti forjou seu grupo. Confiou nos jovens. E criou um time voraz. Com apetite. E que usou exatamente o Santiago Bernabéu – mesmo passando por uma imensa reforma – para trazer de volta uma mística dos anos 1980. De que 90 minutos no Bernabéu são muito longos.
Mesmo com lesões no início da temporada, Kroos voltou com tudo na reta final e foi crucial para as remontadas do clube na Liga dos Campeões. A equipe venceu La Liga, a Supercopa da Espanha e a Liga dos Campeões da UEFA com campanhas espetaculares e jogos impressionantes, derrotando rivais poderosos com atuações sobrenaturais. Na final europeia diante do Liverpool, os espanhóis venceram por 1 a 0 e levantaram outra Velhinha Orelhuda. Kroos não foi tão garçom como antes, mas seus passes e lançamentos mais uma vez foram essenciais para o estilo de jogo proposto por Ancelotti. Kroos acertou impressionantes 95% dos passes na temporada 2021-2022. Na época seguinte, o craque disputou 52 jogos, marcou dois gols, deu seis assistências e venceu mais um Mundial de Clubes, uma Supercopa da UEFA e uma Copa do Rei, a primeira dele com a camisa merengue.
A última temporada
Na época 2023-2024, o alemão parecia não envelhecer e jogou ainda melhor. Perito nos atalhos do campo e com uma visão de jogo impressionante, voltou a dar aulas e atingiu novamente 95% de passes certos, além de dar 9 assistências para gols, uma delas no primeiro jogo da semifinal da UCL diante do Bayern, na Allianz Arena, que deixou Vini Jr. na cara do gol para fazer 1 a 0. A partida terminou empatada em 2 a 2 e, na volta, o Real venceu por 2 a 1 e se garantiu em mais uma final europeia. O desempenho de Kroos naquela temporada rendeu imensos elogios dos rivais, inclusive de Pep Guardiola, eliminado pelo Real nas quartas de final daquela UCL.
“Kroos é um animal competitivo. Não importa onde, ele vai jogar seu futebol. Ele joga igual na final da Champions e na 1ª rodada. Ele só quer jogar. O que o diferencia da maioria é que ele AMA jogar, se diverte jogando. No treino, no jogo”.
Com a vaga garantida na final europeia e campeão espanhol mais uma vez, Kroos anunciou em maio de 2024 sua aposentadoria do futebol, que aconteceria após a disputa da Eurocopa de 2024 pela Alemanha – ele voltou atrás e decidiu vestir a camisa da Nationalelf uma última vez. A notícia pegou todos de surpresa. Ele publicou uma carta de despedida.
“Dia 17 de julho de 2014 – o dia da minha apresentação no Real Madrid, o dia que mudou minha vida. Minha vida como jogador de futebol, mas especialmente como pessoa.
Foi o início de um novo capítulo no maior clube do mundo. Após 10 anos, no fim da temporada este capítulo chegará ao fim. Eu nunca vou esquecer aquele período insolente de sucesso!
Eu gostaria de agradecer a todos que me receberam com um coração aberto e confiaram em mim. Mas gostaria de agradecer especialmente a vocês, madridistas, pelo seu afeto e seu amor do primeiro dia até o último.
Ao mesmo tempo, esta decisão significa que minha carreira como jogador vai terminar neste verão após a Eurocopa.
Estou feliz e orgulhoso por ter encontrado o tempo certo para a minha decisão e por ter escolhido por conta própria. Minha ambição sempre foi encerrar minha carreira no auge da minha performance. A partir de agora há apenas um pensamento: vamos em busca da 15! Hala Madrid e nada mais!”
O adeus do craque diante da torcida aconteceu em 25 de maio, no empate em 0 a 0 com o Real Betis pelo Campeonato Espanhol. O estádio merengue presenteou o craque com uma emocionante homenagem, com pasillo dos jogadores para receber o alemão no gramado, enorme faixa de agradecimento nas arquibancadas e muito choro dos torcedores, que pareciam não acreditar que o maior passador de bolas da história do clube estava se despedindo. Nem mesmo o sisudo Carlo Ancelotti escondeu as lágrimas ao substituir o craque no segundo tempo e também se emocionou ao abraçar seu mestre dos passes.
Dias depois, Kroos vestiu a camisa do Real Madrid pela última vez em uma ocasião nobre: a final da Liga dos Campeões da UEFA, em Wembley, diante do Borussia Dortmund. Kroos cumpriu seu papel mais uma vez com maestria, executando o fundamento que ele mais sabia, distribuindo a bola, tentando conter as investidas do Borussia em um primeiro tempo angustiante para os madrilenos. Parecia que, naquele dia, o Real iria perder sua primeira final continental após muito tempo. Mas saiu dos pés de Kroos o passe que mudou aquele jogo. O alemão cobrou um escanteio aos 74’ na cabeça do lateral Carvajal, que fez o primeiro gol do jogo para o Real. Foi o suficiente para acabar de vez com as esperanças do Borussia, que levou o segundo gol aos 83’, de Vini Jr.
O placar de 2 a 0 sacramentou a 15ª UCL do Real e a 6ª da carreira de Kroos, que se igualou a Luka Modric, Daniel Carvajal, Nacho Fernández e Paco Gento como atletas com mais UCLs na história. Se havia uma maneira melhor de fechar sua trajetória pelo clube merengue, era aquela. “Eu queria me despedir com esta vitória na Liga dos Campeões hoje. Isso significa muito para mim. Felizmente, deu tudo certo”, comentou o craque após o apito final. Ele deixou o Real Madrid com os seguintes números:
- 465 jogos
- 99 assistências
- 28 gols
- 34,091 passes
- 974 chances criadas
- 94% precisão de passes
- 23 troféus
O fim
Logo após a conquista da UCL, Kroos foi disputar a última competição de sua carreira: a Eurocopa, na Alemanha. Era uma oportunidade de ouro para o craque conquistar o troféu que faltava com a camisa da seleção e ele seguiu jogando o fino, com sua precisão de passes absurda, sempre acima dos 94% e responsável pelas bolas paradas e pela saída de bola da defesa ao ataque. Em alguns jogos, Kroos atuou inclusive como um líbero, compondo a zaga enquanto os colegas de meio de campo e ataque se mandavam para frente. A Alemanha passou sem sustos pela fase de grupos e bateu a Dinamarca nas oitavas de final.
Mas, nas quartas de final, a Nationalelf encarou sua algoz eterna: a Espanha, rival que os alemães não venciam em torneios oficiais há mais de 30 anos. E, de novo, deu Espanha: 2 a 1, em jogo no qual Kroos esteve muito nervoso e cometendo mais faltas do que de costume. De maneira triste, chegava ao fim a carreira de um dos maiores craques de todos os tempos. No entanto, seus números e sua importância permanecerão eternamente no esporte. Afinal, não é sempre que um atleta de futebol encerra sua trajetória com impressionantes 94% de aproveitamento nos passes, 845 jogos, 84 gols marcados, 187 assistências para gols e 35 títulos. Apenas os mestres. Os especiais. Os Imortais. Como Toni Kroos.
Números de destaque:
Disputou 205 jogos, marcou 24 gols e deu 49 assistências pelo Bayern München.
Disputou 48 jogos, marcou 10 gols e deu 13 assistências pelo Bayer Leverkusen.
Disputou 465 jogos, marcou 28 gols e deu 99 assistências pelo Real Madrid.
Disputou 114 jogos, marcou 17 gols e deu 21 assistências pela seleção da Alemanha.
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.
Ótimo texto como sempre.
Quando esse craque de classe inquestionável se aposentou, já procurei o texto do imortais sobre ele.