in ,

Craque Imortal – Iniesta

Nascimento: 11 de Maio de 1984, em Fuentealbilla, Espanha. 

Posição: Meio-campista.

Clubes: Barcelona-ESP (2002-2018), Vissel Kobe-JAP (2018-2023) e Emirates Club-EAU (2023-2024).

Principais títulos por clubes: 3 Mundiais de Clubes da FIFA (2009, 2011 e 2015), 4 Ligas dos Campeões da UEFA (2005-2006, 2008-2009, 2010-2011 e 2014-2015), 2 Supercopas da UEFA (2011 e 2015), 9 Campeonatos Espanhóis (2004-2005, 2005-2006, 2008-2009, 2009-2010, 2010-2011, 2012-2013, 2014-2015, 2015-2016 e 2017-2018), 6 Copas do Rei (2008-2009, 2011-2012, 2014-2015, 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018) e 5 Supercopas da Espanha (2005, 2006, 2011, 2013 e 2016) pelo Barcelona.

1 J1 League (2023), 1 Copa do Imperador (2019) e 1 Supercopa do Japão (2020) pelo Vissel Kobe.

Principais títulos por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (2010) e 2 Eurocopas (2008 e 2012) pela Espanha.

Principais títulos individuais:

Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2008 e 2012

Melhor jogador da Eurocopa: 2012

2º colocado no Ballon d’Or: 2010

Único jogador a ser eleito “Man of the Match” em uma final de Copa do Mundo (2010), final de Eurocopa (2012) e final de Liga dos Campeões da UEFA (2015) na história

Melhor Jogador Espanhol de La Liga: 2009

Melhor Meio-campista de La Liga: 2009, 2011, 2012, 2013 e 2014

FIFA FIFPro World 11: 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017

Eleito para o Time do Ano da UEFA:  2009, 2010, 2011, 2012, 2015 e 2016

Onze de Bronze: 2009

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 2010

Eleito para o Time do Ano da ESM: 2010-2011 e 2017-2018

Onze d’Argent: 2011

Marca Legend Award: 2011

Melhor Jogador da Europa pela UEFA: 2012

Melhor Meio Campista do Mundo pela IFFHS: 2012 e 2013

Eleito para o Time da Década 2011-2020 do mundo pela IFFHS

Eleito para o Time da Década 2011-2020 da Europa pela IFFHS

Bola de Prata da Copa das Confederações: 2013

Maior Assistente de La Liga: 2012-2013 (16 assistências)

Golden Foot: 2014

Eleito para o Time do Ano da Liga dos Campeões da UEFA: 2014-2015 e 2015-2016

Eleito para o UEFA Ultimate Team: 2015

France Football World XI: 2015

Eleito para o Time do Ano de La Liga: 2015-2016

Eleito para o Time dos Sonhos da Eurocopa: 2016

J.League Best XI: 2019 e 2021

Eleito para o 3º Time dos Sonhos do Ballon d’Or da France Football: 2020

 

“A Engrenagem Perfeita”

Por Guilherme Diniz

Foram 32 títulos pelo Barcelona. Quatro Liga dos Campeões da UEFA. Três Mundiais de Clubes da FIFA. Dois Trebles. Duas Eurocopas e uma Copa do Mundo pela Espanha, esta última com direito a gol do título, na tensa prorrogação contra a Holanda. Dezenas de prêmios individuais. E até o reconhecimento posterior da revista France Football de que ele foi o melhor jogador do planeta em 2010 (na época, ele terminou na 2ª colocação na premiação do Ballon d’Or). A engrenagem de meio-campo perfeita, Andrés Iniesta Luján, ou simplesmente Iniesta, é uma lenda incontestável da Espanha que dispensa qualquer comentário sobre sua capacidade e seu talento.

Com ele, Xavi e Sergio Busquets, o Barcelona se transformou no maior esquadrão da Terra, e a seleção da Espanha venceu tudo entre 2008 e 2012. Além de ser cerebral e ter uma visão de jogo estupenda, Iniesta se consagrou pelos gols decisivos, pelos passes, pela maneira como escapava dos rivais com toques rápidos na bola e dribles, e o modo como organizava o jogo, além de poder atuar em várias posições como meia e até atacante graças à sua notável versatilidade. É hora de relembrar a carreira dessa lenda blaugrana.

Mantra em La Masia

Iniesta nasceu em Fuentealbilla, província de Albacete, perto do sul da Espanha. Na infância, o garoto adorava futebol, mas a falta de campos em sua região obrigava o jovem a jogar futsal. E foi nas quadras que o jovem aprendeu a arte de controlar a bola e tomar decisões rápidas, características que seriam suas principais virtudes. “Futebol e futsal têm muita coisa em comum… Eles são diferentes em táticas e movimentos, mas temos a mesma essência do controle da bola, combinação e tomada rápida de decisões em uma partida. […] Fuentealbilla era uma cidade pequena e só tínhamos a quadra da escola para jogar. Todas as crianças que gostavam de futebol costumavam ir até lá”, comentou Iniesta ao site oficial do Barcelona, em 2013.

Quando tinha 12 anos e jogava pelo time do Albacete Balompié em um torneio local, Iniesta chamou a atenção de vários clubes espanhóis por sua genialidade com a bola nos pés, o tal controle indefectível de bola e a visão de jogo assombrosa que tinha para tão pouca idade. Os pais de Iniesta conheciam o técnico da equipe juvenil do Barcelona, Enrique Orizaola, e ambos conversaram sobre a possibilidade de o garoto viajar até a Catalunha para fazer um teste em La Masia, o famoso centro de talentos do clube blaugrana. 

Quando partiu, Iniesta sentiu muitas saudades de casa e sofreu um bocado na época. Sempre que perguntavam sobre seus pais, ele chorava. Mas, aos poucos, conseguiu superar a timidez e a distância de casa e da família com perseverança e um futebol impecável. O jovem assumiu a braçadeira de capitão do time sub-15 do Barça e conduziu a equipe ao título da Nike Premier Cup de 1999, marcando inclusive o gol decisivo no último minuto. Ele também já gastava a bola pelas seleções de base da Espanha, vencendo o campeonato europeu sub-16 e representando a Espanha na Copa do Mundo da FIFA sub-17 de 2001. Em 2003, foi eleito para o time do torneio do Mundial Juvenil da FIFA.

Iniesta recebe de Guardiola o troféu da Nike Cup de 1999. Foto: Acervo / El Periódico
 

Com atuações marcantes, Iniesta imediatamente foi integrado ao elenco principal do Barcelona para ganhar experiência e fez surgir um momento emblemático. Pep Guardiola, ainda jogador do Barça, viu Iniesta jogando e comentou com Xavi, que chegava ao Barça na época e também já jogava muito: 

“Você vai me aposentar. Mas esse garoto (Iniesta) vai aposentar nós dois!”.

Iniesta e Xavi, em seus inícios pelo Barcelona, no começo dos anos 2000.
 

Em La Masia, Iniesta aperfeiçoou suas técnicas de controle de bola e aprendeu a filosofia do bom futebol do Barcelona. Ele mesmo comentou anos depois que o mantra por lá era “receber, passar, oferecer. Receber, passar, oferecer”, características que ajudavam o time a ter a posse de bola e dominar os adversários. Iniesta debutou na equipe do Barcelona B em 2000-2001 e fez sua estreia na equipe principal em 2002, aos 18 anos, na vitória por 1 a 0 sobre o Club Brugge-BEL pela Liga dos Campeões da UEFA.

Em 2003-2004, disputou 17 partidas e marcou dois gols, mas foi na época 2004-2005 que o meio-campista se consolidou no time ao disputar 46 jogos na temporada, 37 deles na campanha do título de La Liga conquistado pela equipe comandada por Frank Rijkaard, que já rasgava elogios ao espanhol. “Eu o escalei como um falso ponta, meio-campista central, meio-campista recuado e logo atrás do atacante, e ele sempre foi excelente”, disse o holandês ao The Guardian (UK), em 2009.

A perfeição começa

Na época 2005-2006, Iniesta viveu uma temporada inesquecível. O meio-campista ganhou ainda mais espaço no time, principalmente com a lesão de Xavi, e fez jogos irrepreensíveis ao lado de Van Bommel, Ronaldinho, Deco e companhia. O Barcelona levantou outro título de La Liga e faturou de maneira invicta a Liga dos Campeões da UEFA, com Iniesta jogando parte da decisão contra o Arsenal-ING. Foram 49 jogos na temporada e o prêmio de ser convocado, aos 22 anos, para a seleção espanhola que disputou a Copa do Mundo da FIFA de 2006. Em agosto do mesmo ano, foi capitão do Barcelona na disputa do Troféu Joan Gamper, no qual o time catalão derrotou o Bayern München-ALE por 4 a 0.

Na época 2007-2008, a saída de Giuly deixou vaga a camisa 8, que passou a ser utilizada por Iniesta. Alguns rumores deram como certa a saída do jogador para o Real Madrid, que buscava um jogador que pudesse organizar seu meio de campo, mas Iniesta preferiu permanecer na Catalunha. E, aos poucos, ele aumentou ainda mais seus recitais no setor com a afirmação dele e de Xavi no setor. Com a chegada de Pep Guardiola ao comando técnico do clube, Iniesta virou um dos principais jogadores da equipe e um ser onipresente no esquema tático blaugrana. Todas as ações ofensivas passavam pelos seus pés e sua habilidade e visão de jogo eram virtudes cultuadas até mesmo pelos rivais. 

“Guardiola e Iniesta ‘fizeram’ o Barcelona. Ao invés dos atacantes, é o meio de campo que você deve observar”, disse Alex Ferguson, ao The Guardian, em 2009.

De fato, a inteligência de Guardiola na parte tática se juntou perfeitamente com a qualidade em campo de Iniesta e ambos, ao lado de Xavi, claro, transformaram o Barcelona no maior esquadrão do planeta entre 2008 e 2012. Enquanto Xavi via o jogo, cadenciava, observava e distribuía a bola, Iniesta era aquele que unia o meio de campo e o ataque com muita movimentação, especialmente pelo lado esquerdo, e dava bola perfeitas para Messi e companhia destruírem as zagas rivais. “Eles (Xavi e Iniesta) têm um relacionamento especial, sempre tiveram, eles apenas parecem saber onde o outro está”, comentou o ex-jogador holandês e atleta do Barcelona na primeira metade dos anos 2000, Gio Van Bronckhorst, à BBC, em 2009. Outro que também comentou sobre o estilo de jogo de Iniesta foi a lenda argentina Juan Román Riquelme, em 2021, ao site da FIFA.

“Quem joga melhor esse jogo é Iniesta: ele sabe exatamente quando ir para frente e quando recuar. Ele escolhe o momento certo para fazer tudo: quando driblar, quando acelerar as coisas e quando desacelerar as coisas. E eu acho que essa é a única coisa que não pode ser ensinada ou comprada. Você pode aprender a chutar e a controlar a bola, mas estar ciente de tudo o que está acontecendo em campo – isso é algo com o qual você nasce ou não.”

A sintonia entre Xavi e Iniesta realmente era marcante e ambos fizeram provavelmente a dupla de meio-campistas mais famosa do futebol neste século. “Iniesta é facilmente o jogador espanhol mais completo. Ele tem tudo”, dizia Xavi na época. A recíproca sempre era verdadeira e, com eles em campo, o Barcelona tinha a certeza de que a vitória viria. Bem, não só ele. A Espanha também.

A primeira Euro e coleção de taças pelo Barça

Em pé: Casillas, Marchena, Sergio Ramos, Capdevilla, Marcos Senna e Fernando Torres. Agachados: David Silva, Iniesta, Xavi, Fábregas e Puyol.
 

Em 2008, Iniesta foi convocado por Luis Aragonés para a disputa da Eurocopa. Embora tenha sofrido um problema estomacal na fase inicial, ele jogou todos os três jogos da etapa de grupos, sendo substituído no segundo tempo de todas as partidas. Na estreia, deu passe para um dos gols de David Villa na goleada de 4 a 1 sobre a Rússia. No segundo jogo, foi bem e ajudou a Fúria a vencer a Suécia de Ibrahimovic por 2 a 1. E, contra a Grécia, deixou o campo aos 58’ na vitória espanhola por 2 a 1.

Nas quartas de final, o craque não jogou até o fim, mas viu a Espanha eliminar a Itália nos pênaltis. Ele retornou bem nas semis e ficou em campo o jogo todo para dar um passe para o companheiro Xavi marcar o primeiro gol da vitória por 3 a 0 sobre a Rússia – Iniesta foi eleito o melhor em campo. Na decisão, contra a Alemanha, mais uma vez o craque foi essencial no esquema tático do time e a Espanha venceu por 1 a 0, gol de Fernando Torres, resultado que deu à Fúria o bicampeonato da competição e um troféu que não vinha desde 1964. Iniesta foi eleito para o All-Star Team da Eurocopa de 2008 e o jogador sempre considerou aquela trajetória pela seleção como uma das mais importantes de sua carreira por conta do aprendizado que teve com o técnico Aragonés. 

“(Aragonés) Foi honesto, direto e transparente. Com ele no banco, você se sentia livre em campo para jogar o seu estilo, tendo a bola e buscando o companheiro para dar-lhe o passe adequado. Fora de campo, você sabia que ele ia te defender, não importa o que acontecia. Ele te ajudava e te ensinava”, comentou Iniesta, ao Marca (ESP), em 2024.

Foto: AFP via Getty Images

O título na Euro foi o combustível para Iniesta seguir em alta pelo Barça. Na temporada 2008-2009, o craque disputou 43 jogos, marcou cinco gols e ajudou o clube a vencer tudo o que disputou. Seu melhor momento foi, sem dúvida, a semifinal da UCL diante do Chelsea-ING, em Stamford Bridge. O time da casa vencia por 1 a 0 até os 90’+3’ e carimbava sua vaga na decisão quando Iniesta apareceu no campo de ataque, recebeu a bola na entrada da área e chutou de primeira. A bola foi no ângulo do goleiro Petr Cech e empatou o jogo. Como na época valia o gol qualificado, o empate em 1 a 1 classificou o Barça para a final. 

“Eu conectei aquele chute com o lado de fora, não com o lado de dentro ou com a ponta da minha chuteira, mas direto do meu coração, com todas as minhas forças”, disse Iniesta na época. 

O gol de Iniesta, em 2009 (foto: Reuters)…
 
… torcedor do Barça jamais esquecerá. Foto: Lluis Gene / AFP.
 

Na decisão, contra o Manchester United, o técnico dos Red Devils, Alex Ferguson, salientou que temia mais Iniesta do que Messi. “Eu não estou obcecado com Messi, Iniesta é o perigo. Ele é fantástico. Ele faz o time funcionar. A maneira como ele encontra passes, sua movimentação e habilidade de criar espaços é incrível. Ele é muito importante para o Barcelona”, disse o treinador na época. 

Mesmo sentindo um desconforto na perna há vários dias, Iniesta jogou a decisão e o Barcelona venceu por 2 a 0, ficando com mais um troféu continental. Wayne Rooney, do United, comentou após o jogo que Iniesta era “o melhor jogador do mundo”. “Eu sabia que jogaria machucado. Por 17 dias, tudo o que eu pensava era na final em Roma e vencer, mesmo sabendo que (jogar) causaria mais estragos. Eu amo este clube e minha profissão e eu queria vencer. Se tivéssemos perdido a final, teria sido um desastre total”, comentou o craque na época.

Ao final de 2009, Iniesta venceu o Mundial de Clubes da FIFA com o Barça e vários prêmios individuais, credenciando o jogador como um dos melhores do planeta. O Barcelona, para se precaver dos concorrentes, estendeu o contrato de sua joia até 2015, com uma multa de 200 milhões de euros.

O grande baque

Em agosto de 2009, após uma temporada inesquecível pelo Barcelona, Iniesta passou por um dos momentos mais tristes de sua carreira. Seu amigo Daniel Jarque, zagueiro do Espanyol na época, faleceu aos 26 anos, vítima de um ataque cardíaco. Ele foi encontrado em seu quarto, durante a pré-temporada do clube, em Coverciano, Florença (ITA). A notícia abalou profundamente Iniesta, que teve seu rendimento afetado nos primeiros meses da temporada por conta disso. Ele estava bem fisicamente, mas a perda do amigo mexeu bastante com o psicológico do craque. Ele não conseguia treinar bem e teve que sair várias vezes do CT antes dos colegas. Só após procurar ajuda psicológica que o meia recuperou parte da alegria e se empenhou para dar a volta por cima.

A Copa da vida

Lahm e Schweinsteiger tentam o combate contra Iniesta (centro).
 

Em 2010, Iniesta viveu o ápice de sua carreira futebolística. Incontestável jogando pelo Barcelona, o craque levou à Espanha ainda mais do seu talento. Jogando pelo lado esquerdo, com Sergio Busquets, Xabi Alonso e Xavi pelo meio, além de David Silva pela ponta-direita, Iniesta foi um dos principais nomes da Espanha no Mundial e participou de seis dos sete jogos da roja na Copa (ele só não jogou o segundo jogo, contra Honduras). O meia marcou um gol na vitória por 2 a 1 sobre o Chile, na fase de grupos, e o outro foi na mais nobre ocasião: a final, contra a Holanda, no estádio Soccer City. 

Após 0 a 0 no tempo regulamentar, Iniesta recebeu de Fàbregas, aos 116’, ajeitou e chutou forte, no canto do goleiro Stekelenburg, para fazer o gol do título mundial espanhol. Na comemoração, o craque tirou a camisa e exibiu uma camiseta branca com os dizeres “Dani Jarque, Siempre con nosotros”, na mais bela homenagem ao amigo falecido no ano anterior. 

“Eu queria carregar Dani comigo e com meus colegas de time. Nós queríamos sentir sua força. Nós queríamos pagar tributo a ele no mundo do futebol e essa era a melhor oportunidade para fazer isso. Essa vitória foi para ele, para minha família, para todas as pessoas da Espanha. É o resultado de um trabalho muito duro ao longo do tempo e com momentos de dificuldade”, disse Iniesta após o jogo.

O gol de Iniesta garantiu o título mundial.
 

O craque foi eleito o melhor da final e também para o All-Star Team da Copa do Mundo. Não faltava mais nada para o craque. E, naquele ano de 2010, Iniesta deveria receber no final do ano o Ballon d’Or de melhor jogador europeu. Mas, de acordo com a France Football, o melhor foi Messi, mesmo sem ganhar nada com a Argentina. Iniesta terminou em 2º lugar, com Xavi em terceiro. Anos depois, em 2018, a revista fez um editorial, escrito pelo redator-chefe Pascal Ferré, com o título “Perdão, Iniesta”, dizendo que ele deveria ter ganhado o prêmio em 2010 e que o espanhol foi vítima de uma “anomalia democrática”. Iniesta foi descrito pela publicação como “o maior facilitador de todos os tempos”. Segundo o editorial: 

“O sr. Iniesta demonstrou que é o cérebro e, sem dúvida, o músculo essencial dos campeões fora de série. Seu talento é inventar. Um altruísmo que certamente o privou de um reconhecimento ainda mais majestoso. […] Entre as grandes ausências dos Bola de Ouro, a dele é a mais dolorosa”.

Bi na Euro e ainda mais troféus

Esse Ballon d’Oro deveria ter sido de Iniesta em 2010…
 

Após a Copa, Iniesta virou um herói nacional e ganhou o reconhecimento de todos pelo país. Foi bastante comum ao longo da campanha do Barcelona em La Liga de 2010-2011 o craque receber aplausos e ovações das torcidas rivais quando o clube catalão visitava estádios fora da Catalunha. Foi assim em Santander, em Madri e até em um dérbi catalão contra o Espanyol, ainda mais pela homenagem do craque a Dani Jarque. O Barça foi outra vez o time a ser batido, mas o clube não conseguiu manter a coroa na UCL ao ser eliminado para o Chelsea nas semifinais – mesmo com o craque marcando um gol no empate em 2 a 2 no Camp Nou. 

Em 2012, o meia foi uma das grandes estrelas da Espanha na campanha da Eurocopa. Mesmo sem marcar gols, ele foi o principal maestro do time de Vicente del Bosque e deslumbrou os amantes do futebol com atuações inesquecíveis e um controle absoluto de bola. O meia deu duas assistências em dois jogos distintos na fase de grupos – nos 4 a 0 sobre a Irlanda e no 1 a 0 sobre a Croácia – e foi praticamente um dos atacantes da Espanha naquela competição – a Fúria se deu ao luxo de não jogar com centroavantes de ofício, apenas ele e David Silva mais avançados e Fàbregas um pouco mais atrás. 

Iniesta foi o melhor jogador da UEFA em 2012.
 

Iniesta estava presente em todo o campo, ofensivo e defensivo quando preciso, completo. E, na final contra a Itália, começou a jogada do primeiro gol e foi mais uma vez eleito o melhor do jogo. A Espanha goleou por 4 a 0 e ficou com o tricampeonato europeu, além do bi consecutivo. Iniesta foi eleito para o All-Star Team da Euro e ganhou o prêmio de melhor jogador da competição. Entre 2012 e 2013, ele ainda venceu com o Barça mais um campeonato nacional e uma Copa do Rei.

Decepções e volta por cima

Photo by Alex Livesey/Getty Images
 

Entre 2013 e 2014, Iniesta seguiu em forma, mas a Espanha começou a cair de produção. O time foi vice-campeão da Copa das Confederações de 2013 e, na Copa do Mundo de 2014, deu vexame ao cair na fase de grupos com duas derrotas – incluindo um 5 a 1 para a Holanda – e uma vitória. Pelo Barça, o time viveu uma entressafra após a saída de Guardiola e a ascensão do Bayern e do Real Madrid, campeões europeus em 2013 e 2014, respectivamente. Mas foi na temporada de 2014-2015 que o craque recolocou o Barça nos trilhos e levantou mais um Treble para sua galeria. 

Ao lado do trio MSN e do croata Rakitic, Iniesta virou o vice-capitão da equipe, além de capitanear o time nas ausências de Xavi. Na final da UCL, contra a Juventus-ITA, Iniesta deu o passe para Rakitic abrir o placar e os blaugranas venceram por 3 a 1, em jogo no qual o espanhol foi eleito o melhor do jogo e se tornou o primeiro atleta na história a vencer o prêmio “Man of the Match” em finais de Copa do Mundo, Eurocopa e Liga dos Campeões da UEFA.

Xavi e Iniesta: eles venceram 4 Ligas dos Campeões da UEFA.
 

Na época 2015-2016, com a saída de Xavi, Iniesta virou o capitão do Barça e, no primeiro El Clásico da temporada contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, ele ganhou aplausos da torcida merengue assim como Maradona, em 1983, e Ronaldinho, em 2005, também ganharam. Iniesta deu show, marcou um gol e deu um passe nos 4 a 0 do Barça pra cima do rival. Tempo depois, ele assinou um contrato sem data de encerramento com o clube, dando a entender que iria se aposentar vestindo o azul e grená. Pela seleção, Iniesta ainda disputou a Euro de 2016 e a Copa do Mundo de 2018, mas o time não foi bem e o Mundial da Rússia acabou sendo o último do craque com a camisa roja. Ele disputou 131 jogos, marcou 14 gols e deu 30 assistências pela seleção.

Despedida do Barça e ida ao Japão 

Em abril de 2018, mesmo com o contrato vitalício que havia assinado com o Barça, Iniesta decidiu mudar de ares ao término da temporada. Com 34 anos e já sem o físico de antes, o meia entendeu que era hora de diminuir o ritmo e dar espaço aos mais jovens. “É muito complicado. Mas entendo que, pela lei da vida, o que vem adiante será cada vez mais complicado e mais difícil. Portanto, não me permitiria viver uma situação incômoda no clube que me deu tudo. Acho que não mereço, e o clube tampouco”, disse o craque, em coletiva de imprensa na época. Depois de 22 anos vestindo blaugrana, Iniesta se despediu em um Camp Nou lotado, com todas as homenagens merecidas, na vitória por 1 a 0 sobre a Real Sociedad, pelo Campeonato Espanhol. 

“Hoje é um dia difícil. Foram 22 anos maravilhosos. Foi um orgulho e um prazer defender e representar essa equipe, que para mim é a melhor do mundo. Obrigado a todos meus companheiros, vou sentir muita falta de vocês. Obrigado a todos meus fãs, por todo amor e respeito que me fizeram sentir. Cheguei como um menino e me vou aos 34 anos como um homem. Levarei em meu coração para sempre”, disse o craque, muito emocionado, em discurso aos torcedores naquele dia 20 de maio de 2018. 

Sem ele, e, depois, com a saída de Busquets, o Barcelona perdeu em definitivo o melhor meio de campo de sua história e ainda segue em busca de jogadores que possam ao menos chegar perto de tudo o que o trio jogou ao longo de mais de uma década. Iniesta deixou o Barça após 647 jogos, 57 gols e 135 assistências, além de 32 troféus conquistados. Tempo depois, Iniesta foi jogar no Vissel Kobe, do Japão, onde manteve a sina vencedora e levantou mais troféus, além de ganhar prêmios individuais. Ele jogou no clube até 2023, quando foi vestir a camisa do Emirates-EAU, onde acabou rebaixado no campeonato local na temporada 2023-2024.

Eterno

No dia 1º de outubro de 2024, os jornais espanhóis começaram a divulgar que Iniesta teria um importante anúncio para fazer no dia 08 de outubro, justamente a data na qual fazia referência ao seu número de camisa. E, como esperado, ele anunciou sua aposentadoria oficial do futebol aos 40 anos. Com isso, Andrés Iniesta garantiu de vez seu lugar entre os maiores jogadores de todos os tempos como um dos mais inteligentes meio-campistas da história. Com a bola, ele ilusionou, criou, encantou. Foi o cérebro, aquele que encontrava as lacunas necessárias para o passe perfeito, o chute inesperado. Fez o gol que traçou o destino do Barcelona em 2009. Fez o gol mais gritado da história da Espanha, em 2010. E foi ídolo de dezenas e dezenas de jovens atletas. Don Andrés foi a engrenagem perfeita do futebol. Um craque imortal.

Iniesta e sua estátua em Albacete.
 

Números de destaque:

Disputou 647 jogos, marcou 57 gols e deu 135 assistências pelo Barcelona.

Disputou 131 jogos, marcou 13 gols e deu 30 assistências pela Espanha.

Disputou 885 jogos, marcou 93 gols e deu 161 assistências em sua carreira de clubes.

Licença Creative Commons
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

2 Comentários

  1. Parabéns pelo texto Guilherme Andrés Iniesta e seu grande parceiro xavi eu repito sempre: eles formaram a maior dupla de meio campo da história do futebol.quem viu,viu quem não viu jamais verá tamanha qualidade e bons tratos a bola como eles.eo gol na final de 2010 contra a minha Holanda não foi acaso pois para o Iniesta esse gol já estava escrito desde quando ele nasceu.

  2. Iniesta foi um cara que jogou demais! Genial pelo Barcelona e pela Espanha, foi brilhante vê-lo nos gramados, tanto que ganhou muitos títulos! Lendário!

    Mandou muito bem, Imortais! Iniesta é um jogador que eu queria ver muito entre os Craques Imortais do site! Incontestável e imortal! Abraço, Imortais!

Borussia Dortmund x Schalke 04 – Revierderby

Chile x Peru: Clássico do Pacífico