Nascimento: 11 de Janeiro de 1941, em Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
Posição: Meia-armador
Clubes: Flamengo-BRA (1959-1963), Botafogo-BRA (1963-1969), São Paulo-BRA (1969-1972) e Fluminense-BRA (1972-1974).
Principais títulos por clubes:
1 Torneio Rio-SP (1961) e 1 Campeonato Carioca (1963) pelo Flamengo.
1 Taça Brasil (1968), 2 Torneios Rio-SP (1964 e 1966) e 2 Campeonatos Cariocas (1967 e 1968) e 2 Pequenas Taças do Mundo (1967 e 1968) pelo Botafogo.
2 Campeonatos Paulistas (1970 e 1971) pelo São Paulo.
1 Campeonato Carioca (1973) pelo Fluminense.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (1970) pelo Brasil.
Principais títulos individuais:
Bola de Prata da Copa do Mundo da FIFA: 1970
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1970
Eleito um dos 100 Melhores Jogadores do Século XX pela revista World Soccer: 1999
Eleito o 38º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999
Eleito o 15º Melhor Jogador da história das Copas pela revista Placar: 2006
Eleito para o Time dos Sonhos do Botafogo pela revista Placar: 2006
Eleito para o Time dos Sonhos do Fluminense pela revista Placar: 2006
Eleito para o Time dos Sonhos do São Paulo do Imortais: 2021
Eleito para o Time dos Sonhos do Fluminense do Imortais: 2021
Eleito para o Time dos Sonhos do Botafogo do Imortais: 2022
“Canhotinha de Ouro”
Por Guilherme Diniz
Ele não era muito de cabecear, não gostava de marcar, costumava ficar centralizado em uma posição, tinha cara amarrada e nenhuma papa na língua. No entanto, aquele meia-armador tinha uma perna esquerda capaz de verdadeiras obras de arte e de realizar lançamentos superiores a 40 metros de distância como quem os fazia com as mãos. Ninguém jamais lançou como ele e com tamanha precisão. Ninguém colocou bolas nos peitos, pés e cabeças de tão longe e com tanta classe. E nenhum jogador na história do futebol brasileiro foi tão precioso como um legítimo armador de jogadas e, claro, gols, como Gérson de Oliveira Nunes, o Gérson, “cérebro” da Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1970, no México, e ídolo em todos os clubes por onde passou. Polêmico dentro e fora de campo e com um repertório infindável de jogadas, desde cobranças de faltas magníficas até chutes com o mais puro veneno, o craque superou críticas e maus momentos para entrar na história com um futebol virtuoso e sem frescuras. Se fosse preciso, ele dava bicão. Se fosse preciso, ele dividia e até quebrava a perna de algum rival mal intencionado. E, se fosse preciso, ele construía uma jogada que resultaria em um gol de cinema. É hora de relembrar a carreira desse grande ícone do esporte nacional.
Sumário
Papagaio bravo
Nascido em Niterói, Gérson cresceu em uma família apaixonada por futebol e teve seu pai e seu tio como aliados na hora de escolher sua futura profissão. Mesmo sendo fã de dois jogadores que se consagraram no Flamengo – Zizinho e Jair da Rosa Pinto, além de Danilo, do Vasco, Gérson sempre teve afinidade pelo Fluminense. No entanto, o primeiro clube do jovem acabou sendo mesmo o time da Gávea, para onde ele foi em 1958. Quando começou a jogar nos juvenis do Mengo, Gérson ganhou rapidamente o apelido de “papagaio” pelo fato de falar bastante e não levar desaforo para casa. Em pouco tempo, o temperamental jogador se envolveu em sua primeira polêmica quando quebrou a perna de Mauro, num treino dos juvenis. Gérson sempre se defendeu do episódio dizendo que “ele vinha para quebrar, eu apenas escorei”.
Mesmo com o fatídico episódio, o meia foi ganhando cada vez mais espaço dentro do clube e se diferenciava dos demais por não ser lacônico e não permitir que dirigentes crescessem para cima dele ou vislumbrassem ganhos extras em possíveis negociações. Astuto e sem medo de ninguém, Gérson podia reclamar e contestar a opinião de qualquer um, desde o roupeiro até o presidente. Ele tinha poder para tudo isso, afinal, o jovem craque se garantia dentro de campo com uma inteligência fantástica para executar passes. A precisão era a mesma tanto nos toques de dois, cinco metros como nos de 30, 40 metros. E tudo com a santa perna esquerda, que parecia ter sido esculpida pelos deuses do futebol com a única e iluminada missão de criar belezas. Em 1959, com apenas 18 anos, Gérson foi integrado aos profissionais do Flamengo. Era hora de mostrar serviço.
Títulos e mais polêmicas
Em apenas um ano como profissional, Gérson recebeu sua primeira convocação para a Seleção Brasileira já em 1960, para a disputa das Olimpíadas de Roma. Como sempre acontece em torneios olímpicos, o time canarinho não foi longe, mas o jovem marcou quatro gols e deixou uma boa impressão em solo italiano. Antes disso, ele já havia atuado pela seleção “amadora” que disputou os Jogos Pan-Americanos de Chicago de 1959 e ficou com a medalha de prata. Pelo Flamengo, Gérson entrou no esquema tático do técnico Fleitas Solich, se entendeu com Jordan, Joel, Henrique e Dida e faturou, no ano de 1961, o título do Torneio Rio-SP, uma das principais competições do país na época. O Flamengo disputou 12 jogos, venceu oito, perdeu quatro e marcou e sofreu 22 gols. Gérson anotou seis tentos e cravou de vez seu espaço no time.
Na temporada seguinte, a equipe rubro-negra (agora treinada por Flávio Costa) fez um bom Campeonato Carioca e chegou à última rodada precisando apenas de um empate para ficar com o título. No entanto, o adversário era o fabuloso Botafogo de Manga, Nílton Santos, Quarentinha, Amarildo, Zagallo e… Garrincha. Sabendo do poder criativo do camisa 7 botafoguense, o técnico Flávio Costa pediu para Gérson atuar como falso ponta-esquerda e ajudar o companheiro Jordan na marcação do endiabrado ponta. O meia não gostou da missão e tentou argumentar dizendo que “nem o time inteiro na lateral” seria capaz de segurar o craque alvinegro. No auge da forma, Garrincha destruiu o Flamengo, marcou dois gols e o Botafogo goleou por 3 a 0, ficando com o título carioca.
Os ânimos entre Costa e Gérson se acirraram ainda mais na temporada de 1963, quando o Flamengo manteve a pegada competitiva e conseguiu, após um empate sem gols contra o Fluminense no maior público da história de um Fla-Flu (194.603 pessoas no Maracanã!), o título estadual depois de sete anos de jejum. Gérson jogou apenas três dos 24 jogos disputados pelo Flamengo naquele ano por causa dos desentendimentos com o técnico. Querendo renovar seu esquadrão para mais anos de glórias, o Botafogo foi rápido no gatilho e contratou o Canhotinha no segundo semestre de 1963, por cerca de 150 mil cruzeiros, valor recorde na época.
Dificuldades e volta por cima
Em General Severiano, Gérson venceu os Torneios Rio-SP de 1964 e 1966 e foi um dos principais jogadores que abriram a segunda era de ouro do clube alvinegro. Após as saídas e/ou aposentadoria de algumas lendas do começo da década, Gérson se uniu a Jairzinho, Paulo César Caju, Ferreti e muitos outros que colocariam o Fogão em uma nova rota de títulos. Antes disso, Gérson foi convocado para a disputa de sua primeira Copa do Mundo, em 1966, na Inglaterra. A viagem foi tensa para o craque, afinal, ele tinha pavor de avião. E, em solo europeu, a participação do Canhotinha também foi de dar medo. O craque jogou apenas um jogo, o último da primeira fase, quando o Brasil perdeu para Portugal por 3 a 1 e deu adeus ao Mundial. Para piorar, Gérson foi tachado de covarde e muitos disseram que ele “não tinha o espírito de seleção”. Na volta ao Brasil, o craque tinha a imensa vontade de mostrar a todos que ele era uma peça necessária se o time canarinho quisesse conquistar o tricampeonato mundial quatro anos depois, em 1970.
Vestindo o preto e branco do Botafogo, Gérson esbanjou sua categoria absoluta e ajudou o clube a conquistar o Campeonato Carioca de 1967, com direito a gol na decisão contra o Bangu, vencida por 2 a 1. Em 1968, a temporada foi ainda melhor com a conquista do bicampeonato carioca e chocolate de 4 a 0 pra cima do Vasco na decisão, com mais um gol de Gérson. Na sequência da temporada, o Botafogo conquistou a Taça Brasil, após despachar Metropol (6 a 1 e 1 a 0), Cruzeiro (1 a 0 e 1 a 1) e o Fortaleza, na final, com empate em 2 a 2 e vitória por 4 a 0 no duelo decisivo.
Com vários títulos no currículo e no auge da forma, Gérson superou as dificuldades de 1966 e mostrou, em campo, que era mesmo um jogador diferenciado. Nas preparações do Brasil para a Copa de 1970 e nas Eliminatórias, o craque cravou seu lugar no time e ainda contabilizou a segunda perna quebrada em sua lista. Foi em 1969, num amistoso contra o Peru, quando o meia pediu para Pelé lhe passar uma bola dividida com foco em De La Torre, que já havia “batido um montão na gente”, segundo o próprio Gérson. Quando o Canhotinha recebeu, ele deu com a sola no peruano e o tirou completamente de combate, de propósito mesmo, num claro exemplo de seu lado brioso.
A consagração eterna
Depois de pernas quebradas, desentendimentos, críticas, jogadas maravilhosas, títulos e idolatria, Gérson colocou o ano de 1970 como o decisivo para sua carreira. Era hora de jogar tudo o que ele sabia e ajudar o Brasil a voltar do México com o título da Copa do Mundo de futebol. Titular absoluto do time comandado pelo velho companheiro Zagallo, Gérson era uma das muitas lendas que o time canarinho tinha naquela época. O craque teria a missão de ser o grande cérebro do ataque brasileiro e municiar com sua célebre técnica o ataque formado por Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé. Com total liberdade para criar e quase nenhuma responsabilidade para marcar, o meia estava no paraíso. Era hora de dar show para todo mundo ver.
A primeira mostra do talento do Canhotinha na Copa aconteceu logo na estreia, contra a Tchecoslováquia. Depois de um primeiro tempo nervoso e empatado em 1 a 1, Gérson deu dois lançamentos precisos para Pelé e Jairzinho estufarem as redes do goleiro Viktor, que viu o Brasil fazer quatro gols em sua meta naquela partida. Porém, Gérson levou um grande susto ao sofrer uma contusão e desfalcar o Brasil nos duelos contra Inglaterra e Romênia. Felizmente, os brasileiros venceram ambos e foram para as quartas de final. Nela, Gérson voltou a organizar as principais jogadas do ataque brasileiro e foi essencial na vitória por 4 a 2 contra o Peru. Em seguida, duelo cercado de fantasmas e tensão contra o Uruguai. Após sair atrás no marcador, o Brasil virou o jogo para 3 a 1 e se garantiu na final.
No dia 21 de junho de 1970, Brasil e Itália se enfrentaram para ver quem ficaria com a posse em definitivo da Taça Jules Rimet. No primeiro tempo, um gol para cada lado e tendência de duelo equilibrado na segunda etapa. Mas foi só impressão. O Brasil jogou muito e começou a construir sua vitória épica justamente com o único dos “camisas 10” que ainda não tinha feito gol no Mundial: Gérson. O craque driblou um marcador e disparou um petardo de fora da área sem chance alguma para o goleiro Albertosi. Com 2 a 1 no placar, o Brasil se soltou mais e Gérson foi pura classe quando deu um de seus lançamentos longos na cabeça de Pelé, que só escorou para Jairzinho fazer 3 a 1. No final do jogo, Carlos Alberto ainda marcou o quarto e o Brasil se tornou o primeiro país tricampeão mundial de futebol. Era a consagração definitiva de Gérson, que saiu do México como lenda e cérebro da melhor seleção da história, além de ver eternizado o apelido Canhotinha de Ouro. Se o craque precisava provar algo para alguém, a tal provação estava consolidada. Com juros, assistências, gol e título.
Canhota bi-tricolor
Após o Mundial, Gérson concentrou suas ações no São Paulo, seu clube desde o final de 1969, com a missão de tirar o Tricolor da fila no Campeonato Paulista. E ele conseguiu mais do que isso. Capitão e líder em campo, o meia levou o time do Morumbi ao título estadual de 1970 e ao bicampeonato em 1971. Jogando ao lado de Pedro Rocha, Toninho Guerreiro, Pablo Forlán, Roberto Dias e Terto, Gérson teve o apoio necessário para fazer do São Paulo um dos principais times do Brasil naquele começo de anos 70. Ainda em 1971, o craque bem que ajudou, mas o São Paulo não conseguiu vencer o primeiro Campeonato Brasileiro da história, que acabou ficando com o Atlético-MG. Naquele ano, o craque, acredite, quebrou mais uma perna de um adversário, dessa vez do corintiano Vaguinho, mas num lance “acidental”.
Em 1972, ano em que disputou seu último jogo com a camisa da Seleção Brasileira, Gérson já começou a pensar na aposentadoria e em qual clube jogaria suas últimas partidas. O escolhido, claro, foi o Fluminense, seu time do coração. Entre 1972 e 1974, Gérson jogou pouco, mas o suficiente para encantar os tricolores com seu futebol e ajudar na campanha do título estadual de 1973, que serviu como presságio para a Máquina Tricolor que encantaria o Rio e o Brasil entre 1975 e 1976. Em 1974, Gérson decidiu se aposentar de vez do futebol após um caso curioso e não confirmado. Após um treino nas Laranjeiras, o então técnico Duque teria chamado Gérson de canto para lhe ensinar uma maneira melhor para bater na bola. O fato é que o tal Duque jamais fora um grande jogador. E mais: aquilo era uma verdadeira heresia, afinal, dizer a Gérson, o homem que fazia lançamentos de 40 metros de olhos fechados, uma maneira de bater na bola? Faça o favor! Indignado, o Canhotinha achou que era mesmo hora de parar de jogar e de ter que ouvir aquela e muitas outras besteiras no futebol.
A propaganda traumática
Depois de já ter pendurado as chuteiras, Gérson não se livrou dos críticos e das polêmicas. Em 1976, o ex-craque aceitou fazer uma propaganda dos cigarros Vila Rica, que se casava muito bem com sua imagem pelo fato de ele ser, na época, um fumante compulsivo. No entanto, o comercial foi uma verdadeira bomba para o Canhotinha. No filme, Gérson dizia:
“Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!”
Bastaram alguns dias para que a frase sobre “levar vantagem” do craque se transformasse na “Lei Gérson”, ou “Lei da Vantagem”, aquela que caracteriza o brasileiro por sempre querer se dar bem sobre toda e qualquer situação, principalmente na política e nos negócios. Durante anos o ex-jogador tentou se desvencilhar dessa imagem, mas o comercial sempre trouxe dores de cabeça ao Canhotinha, que se arrependeu de ter participado da peça publicitária e até parou de fumar após o fatídico episódio.
Talento incontestável
Cansado do assunto, Gérson parou de falar sobre aquele episódio e seguiu no meio esportivo como comentarista. Em 2004, o craque se mostrou bastante magoado com o ex-companheiro de seleção, Pelé, que não o incluiu em sua lista com os melhores jogadores vivos do século XX para a FIFA. Mas Gérson não dependia nem depende de listas. Ele já está na história por seu futebol cheio de arte, jogadas maravilhosas e lançamentos impossíveis de ser copiados. O Brasil teve vários outros armadores cheios de talento, mas nenhum foi tão virtuoso e conseguiu colocar bolas nos peitos, cabeças ou em perfeita altura para o domínio como o Canhotinha de Ouro, um homem que fez com uma perna só o que centenas de jogadores jamais fizeram com as duas. Um craque imortal.
Números de destaque:
Disputou 70 jogos e marcou 14 gols pela Seleção Brasileira.
Disputou 248 jogos e marcou 96 gols pelo Botafogo.
Disputou 75 jogos e marcou 11 gols pelo São Paulo.
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Gérson está celebrando 80 anos! Parabéns, Canhotinha de Ouro! Eterno craque do Brasil de 1970!
Imortais, não está faltando colocar o Botafogo campeão da Taça Brasil de 1968 nos esquadrões imortais?
Gerson,Didi,Garrincha,Nilton Santos e Pelé:Os 5 gênios do futebol!!!!
Diziam que era meio mala, mas que dentro de campo gastava a bola. Vê-lo em imagens envergando a camisa do SPFC dá um orgulho ímpar, tipo como saber que o Zizinho foi ídolo no Tricolor.
o conheci pessoalmente..em 2012, quando eu trabalhei na Band-RJ.
O cara sabe tudo de futebol, meu ja tinha me dito isto.
excepcional conhecedor..uma lenda!!