Nascimento: 02 de abril de 1971, em Paraguarí, Paraguai.
Posição: Lateral-Direito
Clubes: Cerro Porteño-PAR (1989-1994), Grêmio-BRA (1995-1997), Palmeiras-BRA (1998-2002), Gamba Osaka-JAP (2003), Libertad-PAR (2004-2005) e 12 de Octubre-PAR (2006).
Principais títulos por clubes: 3 Campeonatos Paraguaios (1990, 1992 e 1994) e 1 Torneio República (1991) pelo Cerro Porteño.
1 Copa Libertadores da América (1995), 1 Recopa Sul-Americana (1996), 1 Campeonato Brasileiro (1996), 1 Copa do Brasil (1997) e 2 Campeonatos Gaúchos (1995 e 1996) pelo Grêmio.
1 Copa Libertadores da América (1999), 1 Copa Mercosul (1998), 1 Copa do Brasil (1998), 1 Torneio Rio-SP (2000) e 1 Copa dos Campeões (2000) pelo Palmeiras.
Principais títulos individuais:
Bola de Prata do Campeonato Brasileiro pela revista Placar: 1998, 2000 e 2001
Eleito para a Seleção Ideal das Américas pelo jornal El País: 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001 e 2002
Recordista em prêmios na Seleção Ideal das Américas do jornal El País: 7 vezes
Melhor Lateral-Direito do Campeonato Brasileiro: 1996 e 1998
2º Melhor Futebolista do Ano das Américas: 1999
Eleito para o Time dos Sonhos do Grêmio do Imortais: 2021
Eleito para o Time dos Sonhos do Palmeiras do Imortais: 2021
“A excelência pela direita”
Por Guilherme Diniz
Durante toda a década de 1990 e início dos anos 2000, pensar em lateral-direito no futebol sul-americano era pensar em um atleta paraguaio exímio cobrador de faltas e escanteios e que realizava cruzamentos impecáveis para os atacantes marcarem gols e mais gols. Foi assim no Cerro Porteño. Foi assim no copeiro Grêmio campeão brasileiro e da América. Foi assim no lendário Palmeiras campeão da América. E foi assim na grande seleção do Paraguai que disputou as Copas de 1998 e 2002. Francisco Javier Arce Rolón, ou simplesmente Arce, foi um dos mais talentosos laterais da história do futebol sul-americano e o maior do futebol paraguaio em todos os tempos. Muito profissional e dedicado, foi titular absoluto nos clubes pelos quais atuou e ídolo de diferentes torcidas, além de ser eleito o melhor lateral-direito das Américas sete vezes seguidas – um recorde até hoje jamais igualado ou superado! Não por acaso, Arce é presença constante em escalações de Times dos Sonhos tanto do Grêmio quanto do Palmeiras. É hora de relembrar.
Sumário
O início de El Chiqui
Os primeiros contatos de Arce com a bola aconteceram na infância, quando era chamado pelos pais carinhosamente de Chiqui, apelido diminutivo oriundo do nome Francisco. Após disputar algumas partidas pela equipe do Club 15 de Mayo de Paraguarí, sua cidade natal, Arce passou nos testes do Cerro Porteño, seu clube de coração e um dos maiores do país, e se destacou nas categorias de base do Azulgrana. Embora tivesse o esporte como paixão, Arce também estudava na época e conciliou o futebol com o curso de Economia no início da vida adulta, para ter uma garantia caso não vingasse no Cerro. Só que não demorou para Arce começar a integrar o time titular do Cerro Porteño e, já em 1990, levantar seu primeiro título paraguaio pelo clube.
Demonstrando técnica, precisão nos chutes e muita concentração, o jovem atuava como um meia naquele início de carreira com sua qualidade nos passes e lançamentos, mas acabou recuando para a lateral-direita graças aos conselhos do técnico brasileiro Paulo César Carpegiani, técnico do Cerro Porteño em 1992 e que iria dirigir, também, a seleção paraguaia anos depois. Foi ele quem transformou Arce em um lateral-direito primoroso, com visão de jogo impecável e cruzamentos precisos. Isso foi fruto da experiência de Carpegiani em jogar com três zagueiros no Cerro, o que deslocou Arce para a ala direita. Uma santa experiência!
Naquele início de anos 1990, Arce começou a desenvolver uma amizade que levaria por toda carreira com outra lenda do futebol paraguaio: Carlos Gamarra, zagueiro do Cerro Porteño na época e um dos destaques do time campeão do Campeonato Paraguaio de 1992, quando o escrete azul e grená aplicou uma sonora goleada de 5 a 0 no Libertad na partida final. Jogando muito, Arce ganhou as primeiras chances na seleção em 1995, e fez seu debute em um amistoso contra o Equador, em Assunção, vencido por 1 a 0. No mesmo ano, o lateral disputou a Copa América e ajudou o Paraguai a alcançar as quartas de final. Já requisitado por vários clubes, Arce acabaria se transferindo para o Grêmio naquele mesmo ano. A mudança seria um marco na carreira do jogador, que passaria a integrar um dos maiores esquadrões do futebol brasileiro.
Ídolo e multicampeão
Embora fosse conhecido de quem acompanhava o futebol sul-americano na época, Arce não era famoso no Brasil. E sua vinda, somada à posterior chegada do compatriota Rivarola, deixou a torcida gremista um pouco em dúvida quanto ao sucesso de ambos no tricolor. Mas os paraguaios não só derrubaram o ceticismo como viraram ídolos instantâneos dos gremistas. Arce se encaixou perfeitamente no esquema tático do técnico Felipão, sempre adepto de laterais poderosos e que apoiavam constantemente o ataque, e fez jogos memoráveis com o manto do imortal.
No começo do ano, Arce levantou o Campeonato Gaúcho diante do Inter, mas foi na Copa Libertadores que o lateral iria cravar de vez sua vaga de titular absoluto. Com cruzamentos perfeitos para o matador Jardel marcar gols e mais gols de cabeça, escanteios cirúrgicos e cobranças de faltas mortais, Arce foi um dos destaques do Grêmio na conquista da América. Nas quartas de final contra o Palmeiras, por exemplo, o paraguaio marcou um golaço de fora da área que abriu a goleada de 5 a 0 do tricolor, resultado que deixou a vaga na semifinal muito mais próxima – foi o terceiro gol dele naquela Liberta.
Na volta, o Grêmio perdeu por 5 a 1, mas o gol fora classificou os gaúchos. Após superar o Emelec nas semifinais, o tricolor venceu o Atlético Nacional-COL na decisão por 3 a 1 na ida, em casa, com participação fundamental de Arce, que cobrou o escanteio que originou o terceiro gol. Na volta, fora de casa, o time de Felipão empatou em 1 a 1 e faturou o bicampeonato. No final do ano, o clube brasileiro disputou o Mundial Interclubes contra o fortíssimo Ajax e segurou um empate sem gols no tempo normal e na prorrogação. Na disputa de pênaltis, os holandeses venceram por 4 a 3, com Arce desperdiçando uma das cobranças – a bola explodiu no travessão. Mesmo assim, o erro em nada diminuiu o carinho da torcida com o paraguaio, que seguiu em alto nível no ano seguinte, sendo crucial para o título brasileiro de 1996 e da Recopa Sul-Americana, esta vencida com estilo: vitória por 4 a 1 sobre o Independiente-ARG.
Em 1996, Arce venceu pela primeira vez o prêmio de Melhor Lateral-Direito das Américas pelo jornal El País. A partir daquela temporada, o craque iniciaria uma impressionante dinastia com sete troféus seguidos. O grande destaque de 1995 e de parte de 1996 foi a parceria entre Arce e Jardel. Os passes do paraguaio para gols do atacante – um dos maiores cabeceadores da história do futebol – foram emblemáticos. “O Jardel sabia que eu ia chegar e ia cruzar. Não ia driblar, ou passar. Se eu tivesse algum espaço, ia cruzar. Passando do meio campo já buscava o cruzamento. […] O que acontecia era o treinamento e o conhecimento”, comentou Arce ao jornal Zero Hora.
Última temporada no Grêmio e a primeira Copa do Mundo
Em 1997, Arce venceu a Copa do Brasil pelo tricolor gaúcho e brilhou, também, pela seleção do Paraguai que conseguiu a vaga na Copa do Mundo da França. Em 1998, o lateral acabou deixando o Grêmio para jogar no Palmeiras, onde também seria treinado pelo técnico Felipão. Logo de cara, o paraguaio foi campeão da Copa do Brasil, mas acabou de fora da decisão contra o Cruzeiro por estar com a delegação paraguaia na preparação para a Copa do Mundo.
“Eu não joguei essa partida – a finalíssima contra o Cruzeiro -, foi a única que não joguei, porque estava junto à seleção para disputar a Copa do Mundo. Jogou Neném, ele saiu na foto (risos). Eu não estou na foto. Acompanhei o jogo, vi as imagens, ansioso… Lembro que na época estávamos rodando por Romênia, Bélgica para jogar uns amistosos, e foi mesmo o (Paulo César) Carpegiani quem ligou no quarto para falar (do título). Vimos as imagens depois, ligamos para o pessoal para parabenizá-los.” – Francisco Arce, em entrevista à ESPN, 24 de novembro de 2016.
Campeão à distância, o foco de Arce era todo no Mundial da França. Ao lado do técnico brasileiro Carpegiani e de craques como Gamarra, Chilavert, Celso Ayala, Sanabria e Enciso, ele integrou uma das mais lembradas seleções do Paraguai na história. Ausente do primeiro jogo, Arce disputou todos os jogos seguintes do time sul-americano na Copa e ajudou a seleção a se classificar para as oitavas de final. O Paraguai empatou sem gols contra a Bulgária, na estreia, e também contra a Espanha, no segundo jogo, e venceu a Nigéria por 3 a 1 no último jogo da fase de grupos, em uma partida memorável pelo fato de Arce ter cobrado a falta que originou o gol de cabeça do companheiro Gamarra, tento que abriu o caminho para a vitória.
Nas oitavas, o Paraguai fez uma partida dramática contra a anfitriã França e perdeu na prorrogação, após o Gol de Ouro de Laurent Blanc. Os sul-americanos deixaram o Mundial desolados, mas de cabeça erguida e com destaque individual para Gamarra, que não cometeu uma falta sequer nos quatro jogos do time na Copa. Arce, Ayala, Gamarra e Sarabia formaram o ferrolho defensivo que fez do Paraguai a seleção com a melhor defesa da Copa (dois gols sofridos), mesmo número da campeã França. A eliminação doeu pelo fato de a jogada do gol ter sido em cima do defensor Gamarra, que estava lesionado e poderia ter sido substituído pelo técnico Carpegiani, que lamentou o ocorrido em entrevista ao programa “Bem, Amigos!”, do SporTV, em agosto de 2017.
“Nesse jogo eu tinha uma última substituição a fazer. Quando começou a prorrogação, nos 15 minutos, cada lado, era golden goal. Eu estava com o Gamarra, que estava com dois centímetros de desvio da clavícula. Ele veio falar comigo. “Não consigo mais.” E eu precisava fazer uma outra substituição. E eu tinha o Rivarola no banco (outro grande zagueiro). Era fazer a simples troca. E eu disse para ele, me recordo muito bem: “Gamarra, é minha a responsabilidade. Eu preciso fazer outra coisa, senão nós não vamos aguentar isso.” Fiz uma outra modificação e acabei deixando o Gamarra. E é um erro que eu carrego até hoje. É a primeira vez que estou falando isso (…) A jogada foi em cima dele. O cara meteu a bola nele, e ele ficou com medo de ir no cara que escorou para o outro fazer o gol”.
O auge no Verdão e a Copa de 2002
Após a Copa e mais experiente, Arce viveu o auge da carreira com a camisa do Palmeiras. Cada vez mais ofensivo, cobrando faltas espetaculares e marcando golaços, o craque foi absoluto no setor direito do Verdão. Em 1999, o lateral venceu sua segunda Libertadores na carreira e foi peça fundamental na caminhada do alviverde não só com passes e cruzamentos, mas com gols – foram três na campanha continental -, desarmes, cortes e muita disciplina tática. A parceria com Felipão chegou a um outro patamar e o jogador rendeu demais naquele time por ser uma referência nas bolas paradas ao lado do meia Alex.
“Nós tínhamos praticamente dois times. Eram dois jogadores de muita qualidade por posição. Acho que o ano anterior foi fundamental para a conquista. Eu me lembro de tudo perfeitamente até hoje. O professor Luiz Felipe falava para a gente que a Copa Mercosul (torneio vencido pelo Verdão em 1998) seria uma espécie de teste, uma prova. Alguns tinham experiência, mas muitos não haviam jogado a Libertadores muitas vezes. Por isso, a Mercosul seria um experimento para o ano seguinte. Fomos tão bem que ganhamos a Mercosul e ganhamos a Libertadores um ano depois”. – Francisco Arce, em entrevista ao site da JP, outubro de 2018.
Arce comentou tempo depois, também, sobre as diferenças entre Felipão e Carpegiani.
“O Carpegiani me marcou muito mais dentro de campo, pelo estilo de treinar e pelas estratégias. E o Luiz Felipe, fora de campo, não tem igual, é o mais completo, tem carisma e uma lealdade criada dentro do elenco. Isso pesa muito para as conquistas. O Luiz foi quem mais formou meu caráter fora de campo. Temos muita amizade, e é bom ter por perto alguém com tanta experiência, com quem agora também posso trocar experiências e me consultar” – Francisco Arce, em entrevista ao UOL Esporte, 07 de janeiro de 2011.
Entre 1998 e 2002, Arce marcou 57 gols em 241 jogos, mais do que muito atacante por aí, e foi um dos mais regulares jogadores do Palmeiras naquela virada de milênio. Intenso e em grande forma física, o lateral venceu, além da Copa do Brasil, da Mercosul e da Libertadores, o Torneio Rio-SP de 2000 – com gol dele nos 4 a 0 sobre o Vasco na final – e a Copa dos Campeões de 2000.
Em 2002, o paraguaio disputou mais uma Copa do Mundo pelo Paraguai e voltou a brilhar. Na estreia, contra a África do Sul, o lateral cobrou uma falta perfeita na cabeça de Roque Santa Cruz, que abriu o placar. Depois, Arce deixou o dele em cobrança de falta magistral. Jogando bem mais aberto no esquema 3-5-2 do técnico italiano Cesare Maldini, Arce tinha ainda mais liberdade para atacar como fazia com a camisa do Palmeiras.
No duelo seguinte, o Paraguai perdeu para a Espanha por 3 a 1, mas se recuperou em seguida e venceu a Eslovênia por 3 a 1. Nas oitavas, porém, a equipe não resistiu à Alemanha de Oliver Kahn e perdeu por 1 a 0. O desempenho de Arce foi muito elogiado pela crítica internacional, a ponto do jornal El Mundo, da Espanha, colocar ele no “11 ideal” do torneio como melhor lateral-direito da Copa.
Últimos anos e aposentadoria
Após a Copa, Arce seguiu no Palmeiras, mas não conseguiu ajudar o clube a evitar o rebaixamento para a Série B, em um dos momentos mais angustiantes da história do Verdão. Em 2003, diante da “limpa” que a diretoria fez no elenco, Arce deixou o Palmeiras e foi jogar no futebol japonês por uma temporada. Nesse período, disputou seus últimos jogos pela seleção paraguaia, todos válidos pelas Eliminatórias da Copa de 2006. O último foi em março de 2004, após empate sem gols com o Brasil, em Assunção. Entre 2004 e 2005, Arce voltou à sua terra natal para vestir a camisa do Libertad, mas sofreu uma grave lesão no joelho que prejudicou bastante seu rendimento. Em 2005, por conta disso, o craque anunciou a aposentadoria dos gramados aos 34 anos, com muito lamento e triste por não conseguir voltar a atuar em alto nível.
Sai o Chiqui, entra El Arquitecto
Depois de pendurar as chuteiras, Arce decidiu virar treinador e tratou de aprender bastante com seus ex-professores, entre eles, Felipão, que concedeu um “estágio” ao paraguaio em 2011. Arce começou sua trajetória um pouco antes, em 2008, pelo Rubio Ñu, com o qual venceu a segunda divisão e levou o clube à elite paraguaia. Em 2011, assumiu a seleção do Paraguai, mas o fraco desempenho nas Eliminatórias para a Copa de 2014 abreviaram sua trajetória. Em 2013, deu a volta por cima pelo Cerro Porteño, quando faturou o Campeonato Paraguaio, repetindo a dose em 2015 pelo Olimpia. Em 2020, o técnico retornou ao Cerro e venceu mais dois títulos nacionais, demonstrando um futebol ofensivo e muito primoroso. Com um grande futuro pela frente, o agora técnico espera marcar época da mesma maneira de seus tempos de jogador: vencendo títulos, esbanjando qualidade e com o absolutismo do craque imortal de Cerro, Grêmio, Palmeiras e Paraguai.
Números de destaque:
Disputou 145 jogos e marcou 13 gols pelo Grêmio.
Disputou 241 jogos e marcou 57 gols pelo Palmeiras.
Disputou 61 jogos e marcou 5 gols pela Seleção do Paraguai.
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O Francisco Arce é o Maior Lateral Direito da história do Grêmio e do Palmeiras. Apenas Isso. Multivencedor e extremamente técnico. Era um craque nato da lateral direita. Espero que um dia possa ser bem sucedido na carreira de técnico
Arce era fantástico como jogador. Um dos maiores laterais direitos da década de 1990 sem a mínima sombra de dúvidas e por que não do futebol sul americano em todos os tempos. No próximo craque imortal, eu e muitos leitores queremos ver esse cara aqui: Arjen Robben ( A Previsibilidade Mortal) Abraço. Grande texto