Nascimento: 04 de março de 1946, no Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Posição: Centroavante
Clubes: Campo Grande-BRA (1966-1968), Atlético Mineiro-BRA (1968-1972, 1974, 1978-1979 e 1983), Flamengo-BRA (1973-1974), Sport-BRA (1974-1976), Internacional-BRA (1976-1977), Ponte Preta-BRA (1977-1978), Paysandu-BRA (1979), Náutico-BRA (1980), Santa Cruz-BRA (1981), Bahia-BRA (1981 e 1983), Goiás-BRA (1981), Coritiba-BRA (1982), Nacional do Amazonas-BRA (1984), XV de Piracicaba-BRA (1984-1985), Douradense-BRA (1985) e Comercial-BRA (1986).
Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Brasileiro (1971) e 2 Campeonatos Mineiros (1970 e 1978) pelo Atlético Mineiro.
1 Campeonato Carioca (1974) pelo Flamengo.
1 Campeonato Pernambucano (1975) pelo Sport.
1 Campeonato Brasileiro (1976) e 1 Campeonato Gaúcho (1976) pelo Internacional.
2 Campeonatos Baianos (1981 e 1982) pelo Bahia.
1 Campeonato Goiano (1983) pelo Goiás.
1 Campeonato Amazonense (1984) pelo Nacional.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (1970) pela seleção do Brasil.
Principais títulos individuais e Artilharias:
8º Maior Artilheiro da história do Campeonato Brasileiro: 127 gols em 240 jogos
Artilheiro do Campeonato Brasileiro: 1971 (15 gols), 1972 (17 gols) e 1976 (16 gols)
Artilheiro do Campeonato Mineiro: 1969 (29 gols), 1970 (16 gols), 1972 (22 gols) e 1974 (24 gols)
Artilheiro do Campeonato Carioca: 1973 (15 gols)
Artilheiro do Campeonato Pernambucano: 1975 (32 gols) e 1976 (30 gols)
Artilheiro do Campeonato Amazonense: 1984 (14 gols)
Eleito para o Time dos Sonhos do Atlético Mineiro do Imortais: 2021
“Beija-Flor Maravilha”
Por Leandro Stein
Ele podia não ser um primor com a bola nos pés. Mas, se alguém vinha com a problemática, Dario logo apresentava a sua solucionática: “Não existe gol feio, feio é não fazer gol”. E como sabia fazer gols. Pelas próprias contas, o centroavante passou dos 900 gols na carreira. Camisa 9 talhado na força e na raça. O Peito de Aço que não temia encarar zagueiro botinudo. O homem que, tal qual beija-flor e helicóptero, pairava no ar para ser um cabeceador impiedoso. Assim, Dario José dos Santos, mais conhecido como Dadá Maravilha, se consagrou como um dos maiores artilheiros da história do futebol brasileiro. Ídolo inconteste do Atlético Mineiro e tricampeão do mundo com a Seleção. Goleador por onde rodou – do Paysandu ao Internacional, do Sport ao Goiás. Folclore vivo. E ser humano incrível.
As histórias de Dario dentro de campo são eternas. Facilmente lembradas, mesmo por quem não viu o centroavante jogar. Em 1969, pelo Atlético Mineiro (vestido de seleção mineira), fez o gol que derrotou o Brasil de João Saldanha e valeu os pedidos do presidente Médici, em entrevista, para que fosse convocado. Foi para o tri no México, mas não pelo general, e sim pelo ótimo momento que vivia. Tanto que, em 1971, deu o Brasileirão ao Galo com gol decisivo na final contra o Botafogo. Empilhou taças nas Minas Gerais, assim como as conquistou no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, na Bahia, em Pernambuco, em Goiás e no Amazonas – incluindo um novo Brasileiro, com o Inter, em 1976. Chegou a fazer 10 gols no mesmo jogo. Deu motivos para ser adorado em cada um dos quase 20 clubes que defendeu.
Afinal, se não metia gol, Dadá ao menos fazia graça. Um contador de histórias nato, com entrevistas impagáveis e dezenas de frases de efeito. Várias delas, inclusive, se consagraram entre os ditados populares da bola. O falastrão sempre contava vantagem de seus feitos em campo, na mais pura brincadeira: “Com Dadá em campo, não tem placar em branco”. Mas também sabia zoar as próprias limitações: “Chuto tão mal que, no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol”. Irreverência pura, de quem decidiu ser ‘poeta’ para ganhar mais destaque além dos gols. Depois, ainda começou a inventar coreografias na comemoração de seus tentos. É hora de relembrar.
Sumário
Sorrir é preciso
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A alegria inerente de Dario contrasta com sua história de vida antes do futebol. Talvez a maneira que ele encontrou para deixar suas dificuldades para trás e agradecer o carinho de quem o ajudou a chegar tão longe. Nascido em Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, o atacante vinha de uma família humilde, filho de um operário com uma doméstica. Morava também com outros dois irmãos, em um casebre de um cômodo, no qual ainda dividiam espaço com ratos e baratas. O primeiro grande trauma veio aos cinco anos, quando a mãe, que tinha problemas mentais, ateou fogo no próprio corpo e cometeu suicídio. O pai, sem condição de criar os três filhos, os levou para orfanatos diferentes – a antiga Febem, que na época atendia menores tanto carentes quanto infratores.
Dadá cresceu em Quintino, onde se divertia roubando manga no quintal dos vizinhos. “Dava minha escapulida e saía roubando manga. Um desses vizinhos tinha um cachorrão que várias vezes me perseguiu. Até hoje, quando vejo um zagueiro nos calcanhares, me lembro do cachorro de Quintino e corro ainda mais. Aí, ninguém segura Dadá, que acaba dentro do gol com bola e tudo”, brincou em edição da revista Placar, de janeiro de 1977. Só que, no reformatório, Dario convivia com outros menores sem perspectivas. Muitos deles acabavam se tornando jovens marginais. Como o artilheiro, que chegou a realizar furtos e assaltos.
“Um dia, saí com um comparsa para roubar uma mercearia. Roubamos e saímos correndo em zigue-zague. O dono da mercearia meteu um tiro e pegou no pescoço do meu parceiro, que caiu e morreu na hora. Eu consegui fugir. Mas, daquele dia em diante, fiquei com medo de roubar. Pensei: ‘Tenho que fazer algo da minha vida’. Mas o que eu ia fazer? Não tinha nem completado a 8ª série…”, recordou, em entrevista à ESPN.
“Sofri muito. Ainda hoje, me emociono quando abro um jornal e vejo que um dos meus antigos colegas praticou um assalto ou foi morto pela polícia”. Naquele momento, desistiu do crime e usou o dinheiro para comprar uma bola. Resolveu se empenhar no caminho que lhe restava, o futebol, mesmo que não fosse um primor.
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Enquanto tentava ser aprovado em algum clube, serviu o exército. Depois, tentou a vida como operário da Light e funcionário da indústria de bebidas, mas não aguentou o tranco entre fincar postes no chão e carregar engradados. Foi quando insistiu ainda mais no futebol. Zagueiro destrambelhado na adolescência, quando nem ligava muito para a bola, Dario virou centroavante por acaso.
“Encontrei a posição perfeita: tinha facilidade em corridas e saltos para cabeceio, até porque me especializei nas fugas espetaculares de policiais e funcionários do reformatório”, afirmou à Placar, em junho de 1999.
Em seu sétimo teste no Campo Grande, acabou aprovado. “Quebrei muita pedra e hoje sou Dadá Maravilha. Mas não foi fácil. Sei que sou limitado tecnicamente. Não sei matar a bola no peito ou sequer fazer embaixadas. É por isso que tento me aprimorar cada vez mais”.
De Minas para o Brasil
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O sucesso de Dadá, a partir de então, foi meteórico. Aos 20 anos, ganhou sua primeira chance como profissional no Campo Grande. Os gols chamaram a atenção e, em 1968, Dadá desembarcava em Belo Horizonte para defender o Galo. Chegou ao Atlético Mineiro aos 22 e, depois de meses no banco, estourou de vez. No ano seguinte viria a polêmica: o presidente Médici, atleticano fervoroso, estaria pressionando o técnico João Saldanha a convocar e escalar Dadá Maravilha na seleção brasileira. Comenta-se que o treinador até apreciava o futebol decisivo do centroavante desengonçado, mas, diante da pressão presidencial, saiu-se com algo do gênero “eu não me meto na escalação do ministério, ele que não se meta na escalação da seleção”.
Não por causa do incidente, Saldanha caiu e Zagallo assumiu, convocando Dadá, artilheiro do campeonato mineiro, para o Mundial. Mais uma confirmação da estrela do jogador, que no ano seguinte iria se igualar ao helicóptero e ao beija-flor, parando no ar para fulminar o Botafogo no Maracanã e levar o título do primeiro Campeonato Brasileiro para as Alterosas, além de ser o artilheiro do torneio nacional de 1971 com 15 gols. Dadá ainda foi artilheiro do Campeonato Mineiro em quatro oportunidades e um ídolo instantâneo do clube alvinegro naquele começo de anos 1970. Pela seleção, Dadá só jogou algumas partidas em 1970 – 11 jogos – e marcou dois gols.
Salvando a Jules Rimet
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O que pouca gente conta sobre a seleção brasileira tricampeã na Copa de 1970 é que Dadá Maravilha também foi herói naquela ocasião. Não da mesma maneira que os titulares de Zagallo. Mas se o tesouro chegou completo ao Brasil, o folclórico artilheiro deu a sua contribuição. Protagonizou uma anedota em meio aos festejos no México.
O momento em que Dario salvou a Jules Rimet aconteceu pouco depois de Carlos Alberto Torres se eternizar erguendo o troféu. O Capita já começava a dar a volta olímpica, quando um pedaço dourado ficou pelo caminho. Quase ninguém percebeu, mas a boca da taça tinha uma proteção. Peça solta, que caiu no gramado e logo foi avistada por um menino mexicano por ali, no meio de centenas de pessoas. O garoto se atirou no chão e segurou o objeto, tentando levar um pedacinho do prêmio para casa. Foi então que o irreverente Rei Dadá, que tinha visto algo cair, realmente percebeu o valor daquilo.
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“Diante disso, Dario perseguiu o garoto e pediu de volta o pedaço da taça, que é uma espécie de tampa, toda de ouro, forrando a cavidade superior da Jules Rimet. […] Dario disse que o garotinho não reagiu quando ele pediu o pedaço, mas ficou com cara de choro, pedindo que lhe desse como ‘regalo’”, conta o Jornal do Brasil, publicado no dia seguinte à conquista. “De volta ao vestiário, em meio aos festejos da comemoração do título, Dario pediu silêncio e, quando esperavam que fosse fazer um discurso, argumentou que tinha achado um pedaço da taça. E todos riram quando Gérson, que sempre mexe muito com Dario, disse: ‘Ô seu ignorante, este pedaço aí que você tem na mão vale uns Cr$ 180 mil’”.
Curiosamente, a nota também fala sobre os planos da CBD em relação à Jules Rimet. Presidente da Comissão Técnica, Antônio do Passo sugeria que o troféu passasse por todas as entidades filiadas, até que ficasse exposto em uma sala construída especialmente para ela, com fotos das delegações dos primeiros três títulos mundiais. Mal sabia ele o triste destino reservado à taça. Treze anos depois, porém, nem mesmo Dadá Maravilha seria capaz de salvá-la. Leia mais clicando aqui.
Frases, várias camisas e o folclore
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Nas horas vagas, Dadá era frasista inveterado, sendo atribuídas a ele perólas como:
“Não existe gol feio. Feio é não fazer gol”
“Somente três coisas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá Maravilha”
“Nunca aprendi a jogar futebol, pois perdi muito tempo fazendo gols”.
“Num time de futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante”.
“Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o número da minha chuteira”.
“Dentro da área não houve, não há e não haverá igual Dadá: ele tem o olhar balístico da águia, a velocidade do Falcão e a impiedade do abutre”.
Nos gramados, Dadá completou sua quinta temporada pelo Galo em 1972 e decidiu cair na estrada. Nos 14 anos seguintes, defenderia 14 equipes diferentes (!). Fora de Minas, brilhou com a camisa do Internacional ao fazer o gol do bicampeonato brasileiro sobre o Corinthians, em 1976, justificando sua contratação a peso de ouro para os valores da época.
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Antes, naquele mesmo ano, marcou 10 gols nos 14 a 0 do Sport sobre o Santo Amaro, uma das maiores façanhas de um atacante no futebol nacional e recorde jamais superado no Brasil. Ele comentou sobre o feito tempo depois.
“Sinceramente jamais pensava em marcar dez tentos. Pensei em fazer no máximo cinco. Mas quando cheguei no sétimo, senti que dava para fazer dez.”
Últimos anos e aposentadoria
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Quando se aproximava da aposentadoria, aos 36 anos, Dadá fez até uma série de cursos à correspondência, se precavendo caso não seguisse no futebol – e se credenciou para trabalhar como detetive particular, enfermeiro, massagista e corretor de imóveis. Na carreira longeva foram quatro artilharias do Campeonato Mineiro, três do Brasileiro, 10 gols numa única partida e a bagatela de 926 na carreira, sendo 499 de cabeça. Dadá pendurou as chuteiras aos 40 anos e se arriscou como técnico e escritor, mas a simpatia lhe garantiu espaço como comentarista e apresentador. E aquele jovem marginal hoje é exemplo de perseverança, de simpatia, de alegria, de humildade. E, apesar de todos os jargões, a frase de sua autoria que melhor define a própria trajetória é bem menos irreverente. Bem mais singela: “Não existe derrota para quem não se considera vencido”.
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