in ,

Esquadrão Imortal – Santos 1960-1969

Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro Ramos. Agachados: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

Grandes feitos: Bicampeão Mundial Interclubes (1962 e 1963), Bicampeão da Copa Libertadores da América (1962 e 1963), Campeão da Supercopa Sul-Americana (1968), Campeão da Recopa Mundial (1968), Pentacampeão da Taça Brasil (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965), Campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968), Tricampeão do Torneio Rio-São Paulo (1963, 1964 e 1966) e Octacampeão Paulista (1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968 e 1969). Sim, foram 23 títulos em apenas uma década.

Time-base: Gylmar; Lima (Carlos Alberto Torres), Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio (Clodoaldo); Dorval, Coutinho (Toninho Guerreiro), Pelé e Pepe (Edu). Técnicos: Lula e Antoninho.

O maior dos esquadrões”

Por Guilherme Diniz

Texto publicado em abril de 2012 e atualizado em 2022

 

“Bola com Mauro, ele toca para Zito, que faz a finta, deixa com Calvet, rola pra Mengálvio, passa por um, olha para o canto, aparece Coutinho que recebe, finta um, dois, deixa com Pepe, driblou o zagueiro, driblou mais um, passou pra Pelé, chapelou um, chapelou dois, fuzilou! Goooool! Golaço do Santos!”

A narração fictícia que você acabou de ler foi apenas um exemplo de como era um gol comum do Santos da década de 1960. O time brasileiro foi o maior esquadrão das Américas (ou do mundo?) no século XX e encantou plateias na Vila Belmiro, no Pacaembu, no Maracanã, no San Siro, no Estádio da Luz e até na África. O que o Santos ganhou e fez durante 10 anos nenhum outro clube conseguiu até hoje no Brasil: vencer 23 títulos, marcar uma enxurrada de gols, se exibir por todos os cantos do mundo, parar até guerras, golear sem dó qualquer adversário e ter Pelé. Ah, Pelé… O Rei jogou absurdamente muito por mais de uma década, fez o Santos ser conhecido por todos e virou o maior jogador do século. É hora de relembrar aquela equipe dos sonhos. Mas que foi mais do que real.

 

Tinindo para brilhar

 

Pelé, Pepe e Coutinho: estrelas de uma era de ouro.

 

O Santos já tinha a sua espinha dorsal formada no final da década de 1950. Pelé, Pepe, Coutinho, Dorval e outros já integravam o time da Vila Belmiro que venceu o Campeonato Paulista de 1958, com o menino Pelé marcando 58 gols, recorde até hoje na competição. No ano seguinte, o time venceu o Torneio Rio SP em cima do Vasco. No mesmo ano, chegou perto da conquista da cobiçada Taça Brasil, mas perdeu a final para o super Bahia daquela época em jogos alucinantes: Santos 2×3 Bahia / Bahia 0x2 Santos / Bahia 3×1 Santos. Aquela, porém, seria uma derrota logo esquecida. A nova década estava chegando e trazia ventos muito favoráveis ao clube.

 

Vitórias, canecos e revanche

 

Em 1960, o Santos continuou com seu futebol eficiente e vistoso em busca de mais. O clube venceu novamente o Campeonato Paulista, vingando a derrota no ano anterior para a Academia do Palmeiras, que se mostraria ao longo da década o único time capaz de impedir um deca ou até mesmo eneacampeonato santista naquele período. O destaque ficou na reta final, quando o Santos massacrou o Corinthians por 6 a 1 e o Palmeiras por 5 a 0. O time mandava novamente no estado, o que garantia vaga na Taça Brasil de 1961.

Na competição nacional, o Santos entrou nas semifinais por ser campeão estadual de São Paulo. Com esse privilégio, o time aproveitou e não tomou conhecimento do América-RJ, ao vencer dois jogos por 6 a 2 e 6 a 1 e perder um por 1 a 0. Na final, o time da Vila reencontrou o Bahia, algoz de dois anos antes. Na primeira partida, em Salvador, empate em 1 a 1. Na volta, o Pacaembu viu um show de Pelé e Coutinho, que marcaram os gols da goleada por 5 a 1 que garantiu o primeiro caneco nacional do clube, além da vaga para a Copa Libertadores da América de 1962. O peixe, em 1961, ainda venceu mais uma vez o Paulista e protagonizou um dos maiores bailes do ano no futebol nacional: fez 7 a 1 no Flamengo em pleno Maracanã pelo Torneio Rio SP, com gols de Pelé (3), Pepe (2), Coutinho e Dorval. Um show que fez os mais de 90 mil torcedores aplaudirem de pé o esquadrão de Pelé.

 

O primeiro grande ano

Garrincha e Pelé: protagonistas de uma era de ouro.

 

Campeão nacional e estadual, o Santos quis repetir tudo de novo em 1962, mas, se possível, melhorar, com a participação na Libertadores da América. O torneio era recente, já que fora criado em 1960. O incrível Peñarol, do Uruguai, era o atual bicampeão da competição e o time a ser batido naquele torneio. Os aurinegros chegaram facilmente à final. Faltava o adversário. Que seria, claro, o Santos.

 

Caminhada sul-americana

O time brasileiro caiu no Grupo 1, ao lado de Cerro Porteño, do Paraguai, e Deportivo Municipal, da Bolívia. A equipe de Pelé, Pepe, Coutinho e companhia passou fácil pelos rivais, com destaque para as goleadas de 9 a 1 contra o Cerro e 6 a 1 contra o Deportivo. Depois de três vitórias e um empate, classificação assegurada para as semifinais. O adversário foi a Universidad Católica, do Chile. O primeiro jogo, em Santiago, terminou empatado em 1 a 1. Na volta, em Santos, o time da Vila venceu por um magro 1 a 0, gol de Zito, decretando a vaga na final.

 

Páreo duro sem o Rei

O Santos tinha pela frente o ótimo Peñarol em sua primeira decisão de Libertadores. Os uruguaios contavam com nomes de peso como Pedro Rocha, Spencer (maior artilheiro da história da Libertadores com 54 gols), Caetano e Maidana. Para piorar, o Santos não tinha Pelé, contundido. Mesmo assim, a equipe mostrou força no primeiro jogo, em Montevidéu, e venceu por 2 a 1, com dois gols de Coutinho. Na volta, a Vila Belmiro viu uma partida frenética e maluca.

O Peixe precisava apenas do empate, mas Spencer abriu o placar aos 15’, após driblar dois santistas. Dorval empatou pouco tempo depois, em lance individual. Aos 35’, Mengálvio virou para o Santos num petardo de fora da área. Na segunda etapa, o Peñarol começou com tudo e empatou o jogo com Spencer, aos 3’, após aproveitar cruzamento de Joya. Mas foi aí que começaram as confusões. O goleiro Gylmar foi correndo reclamar com o juiz que Sasía havia lhe atirado terra nos olhos para prejudicar sua visão no lance do gol. O árbitro não marcou nada, e, entre os protestos da torcida, uma garrafa atingiu o bandeirinha Domingo Massaro. Após receber atendimento médico, ele voltou a campo e o jogo recomeçou. Embalado pelo empate, o Peñarol foi pra cima e Sasía virou o jogo, aos 6’, com novo protesto do Santos, que reclamou de falta em Calvet. O jogo ficou paralisado mais algum tempo, houve invasão de campo, e, quando a partida recomeçou, Pagão empatou aos 22’, resultado que dava o título ao Peixe. Antes dos 45 minutos, o árbitro apitou o final do jogo e a festa tomou conta da Vila Belmiro. 

Só que aí tudo mudou. Ao entregar a súmula do jogo à Conmebol, o árbitro Carlos Robles registrou a garrafada no auxiliar, as brigas, as paralisações e que havia terminado o duelo logo após o terceiro gol do Peñarol. Ele informou que o jogo só durou 51 minutos e manteve o cronômetro rodando apenas por temer uma manifestação mais enervada da torcida local. Com isso, o gol de Pagão não valeu e o jogo terminou com vitória dos uruguaios. A igualdade de pontos forçou um terceiro duelo em campo neutro, no estádio Monumental, em Buenos Aires e com arbitragem europeia de Leo Horn. A princípio, o Santos não queria jogar, mas teve que aceitar após o adiamento da partida para 30 de agosto, 28 dias depois do segundo duelo.

 

América do Peixe!

O jogo decisivo entre Santos e Peñarol aconteceu no mês de agosto em campo neutro, na Argentina. Pelé já estava recuperado da contusão que o tirou de boa parte da Copa de 1962. E foi graças a volta do Rei que o Santos mostrou que era o melhor da América. E o que se viu na Argentina foi um passeio alvinegro. O primeiro gol saiu aos 9’, quando Coutinho fez o que quis com os zagueiros uruguaios e chutou forte, cruzado. Caetano tentou tirar, mas acabou empurrando a bola pro gol: 1 a 0. Após um ligeiro equilíbrio no primeiro tempo, o Santos sobrou na segunda etapa.

Com as tabelinhas lendárias de Pelé e Coutinho, a zaga do Peñarol se perdeu e não conseguiu frear o ímpeto dos craques brasileiros. Além deles, o time inteiro do Santos controlava as ações pelas pontas, dava combate no meio de campo e não permitia qualquer ofensiva mais clara dos uruguaios. Aos 3’, Pelé fez 2 a 0. O Santos seguiu pressionando, mas o Peñarol se fechou para não levar uma goleada. Só aos 44’ que Pelé encontrou uma brecha no muro aurinegro ao receber de Coutinho na linha de fundo e chutar pro gol: 3 a 0, placar que sacramentou o primeiro título da Copa Libertadores do Santos. Era, também, a primeira conquista de um time brasileiro. O caneco credenciava o peixe à disputa do Mundial Interclubes, no final do ano.

O time campeão. Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro Ramos. Agachados: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

 

Bicampeão nacional

 

Antes da conquista da Libertadores, o Santos protagonizou duelos eletrizantes contra o Botafogo nas finais da Taça Brasil. Na primeira partida, no Pacaembu, deu Santos: 4 a 3, com dois gols de Pepe, um de Coutinho e um de Dorval. Pelo Botafogo, marcaram Quarentinha, Amoroso e Amarildo. No segundo jogo, no Maracanã, vitória do Fogão por 3 a 1. O jogo decisivo foi também no Maracanã e… O Santos deu mais um show e venceu por 5 a 0, gols de Dorval, Pepe, Coutinho e Pelé (2). Um espetáculo que emudeceu os torcedores cariocas e enlouqueceu os santistas e apaixonados por futebol. O público via ali que realmente aquele Santos era demais. E praticamente imbatível. No Paulistão, tricampeonato seguido, com Pelé novamente artilheiro com 37 gols. Quem poderia bater aquele esquadrão? Será que o Benfica (POR), de Eusébio?

 

A conquista do mundo

Depois de colecionar canecos em 1962, ainda faltava a cereja no bolo do Santos: o Mundial. Na época, o campeonato era disputado em duas partidas, uma em cada país. Se permanecesse a igualdade em pontos, não em gols, haveria uma terceira partida na casa do time que fazia o segundo jogo. Naquela decisão, Santos e Benfica iriam ver quem era o melhor time do mundo. Do lado brasileiro, o esquadrão que estava na ponta da língua dos torcedores de todo país, que jogava o fino da bola e tinha Pelé. Do lado português, outro esquadrão, que era bicampeão europeu e havia vencido o Real Madrid na decisão da Liga dos Campeões por acachapantes 5 a 3.

A estrela do time de Lisboa era o “Pantera Negra” Eusébio, um monstro da bola. O primeiro jogo foi no Brasil, com o Maracanã lotado com mais de 90 mil pessoas. Não eram apenas santistas. Eram alvinegros, tricolores, rubro-negros. Ao contrário do que vemos hoje, na época, o Santos tinha a torcida de todos, afinal, era um time do Brasil em campo, e o respeito era outro. Hoje, tal fato é inimaginável. O jogo foi duro e disputado, mas o Santos venceu por 3 a 2, com gols de Pelé (2) e Coutinho, com Santana (2) descontando para o time português. Era hora de cruzar o Atlântico para o jogo de volta.

 

 

A maior apresentação da história

O Estádio da Luz, em Lisboa, estava lotado. Os portugueses, animados com a dureza que o Benfica impusera ao Santos no Brasil, tinham a certeza de que haveria uma terceira partida, tanto é que até os ingressos já estavam prontos. Eles estavam muito confiantes. Porém, esqueceram de avisar aquela torcida que do outro lado estava o Santos. “O” Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia. E que o esquadrão alvinegro faria naquela partida uma das maiores exibições de um time de futebol na história.

O peixe jogou muito, mas muito, e não deu chances ao rival em nenhum momento. Pelé fez logo dois aos 15´ e aos 25´. Coutinho fez o terceiro, Pelé fez o quarto e Pepe fechou o caixão: 5 a 0. O Benfica ainda fez dois gols, para não ficar tão feio, no final do jogo, mas era tarde: Santos 5×2 Benfica. O time brasileiro conquistava pela primeira vez em sua história o título de campeão mundial de futebol. Era a consagração que aqueles brilhantes jogadores precisavam. E o ápice para o mundo conhecer de vez o time de Pelé e Cia.

 

Rumo aos recordes

Em 1963, o Santos estava no auge. Campeão de tudo no ano anterior, a equipe queria repetir a dose. E repetiu. Menos no campeonato paulista, que ficou com a Academia do Palmeiras. O Santos vacilou em muitas partidas naquele campeonato e foi prejudicado por uma contusão de Pelé, que não jogou na metade do segundo turno. Se não deu para levar o estadual, o Santos venceu o Torneio Rio SP e o tricampeonato da Taça Brasil. Na competição nacional, o time alvinegro reencontrou novamente o Bahia, repetindo a final de 1961. Dessa vez, os baianos não ofereceram resistência, e o Santos venceu fácil os dois jogos, por 6 a 0 em casa, gols de Pelé (2), Pepe (2), Coutinho e Mengálvio e por 2 a 0 em Salvador, com dois gols de Pelé. Sem rivais no Brasil, o Peixe foi em busca de mais um caneco continental.

O melhor Santos de todos os tempos, em 1962: 4-2-4 virava 4-3-3 e a mais pura arte do futebol desfilava por toda a terra.
O melhor Santos de todos os tempos, em 1962: 4-2-4 virava 4-3-3 e a mais pura arte do futebol desfilava por toda a terra.

 

Louco por ti, América

Como campeão da Libertadores do ano anterior, o Peixe teve o privilégio de entrar na competição já nas semifinais e fez um duelo doméstico contra o Botafogo. No primeiro jogo, em São Paulo, empate em 1 a 1. Na volta, no Rio, goleada do Santos por 4 a 0 e vaga na final. O adversário seria o Boca Juniors-ARG. Diferente do ano anterior, o Santos escolheu o Maracanã como sua casa para o primeiro jogo da decisão. A popularidade do time de Pelé no Rio era gigantesca, graças às apresentações brilhantes que o time proporcionava ao público carioca. E a torcida compareceu em peso (mais de 100 mil pessoas) e empurraram o time paulista rumo à vitória por 3 a 2, com dois gols de Coutinho e um de Lima. Sanfilippo fez os dois gols do Boca. A volta seria na temida La Bombonera.

 

Os melhores da América pela segunda vez

O matador Sanfilippo abriu o placar para o Boca na partida de volta da final da Libertadores de 1963. O time argentino, como não poderia deixar de ser, abusou das faltas e colocou nervos no time brasileiro. Mas o esquadrão santista, no segundo tempo, tratou de pôr a bola no chão e colocar os argentinos em seu devido lugar. Coutinho empatou aos 50´ e Pelé fez o gol da virada e do título aos 82´, com muita raiva na comemoração. O Santos era bicampeão da Libertadores e repetia o feito do Peñarol, também com dois títulos continentais. A equipe disputaria, mais uma vez, o Mundial.

 

Embate histórico

Diferente de 1962, o Santos ia decidir o Mundial Interclubes de 1963 em casa. O adversário dessa vez seria o tradicional Milan, de Cesare Maldini (pai de Paolo Maldini), Trapattoni, Rivera e dos brasileiros Mazzola e Amarildo. O primeiro jogo, em Milão, teve vitória do Milan por 4 a 2. O Santos teve a perda de Pelé naquela partida, que se machucou (mesmo fazendo dois gols). Sem o Rei, o time teria que se virar no jogo (ou nos jogos) de volta com Almir Pernambuquinho. E o “Pelé branco” deu conta do recado. Com um gol dele, dois de Pepe e um de Lima, o Santos devolveu o placar aos italianos no Maracanã: 4 a 2. Haveria o terceiro jogo, também no estádio carioca.

 

Bimundial

 

O jogo decisivo foi tenso, com muitas faltas, entradas duras e o clima de hostilidade prevalente. Mas, de novo, Almir fez a diferença. Foi ele quem sofreu o pênalti aos 29 minutos do segundo tempo, provocando a expulsão de Cesare Maldini, capitão do Milan. Dalmo bateu e fez o único gol do jogo: Santos 1×0 Milan, peixe bicampeão mundial de futebol. O Maracanã explodiu em alegria. Ninguém podia com o time brasileiro, que mostrava ter força em seu grupo mesmo sem Pelé. Almir foi a sensação daquelas partidas. E o Santos era a sensação do mundo. O Brasil estava pequeno para o time. Era hora de se exibir para quem quisesse ver.

 

 

Fama mundial

 

Depois dos melhores anos do Santos na história, nas temporadas seguintes, o time passou a excursionar pelo mundo e se exibir, a fim de popularizar o nome do time fora do país, bem como popularizar o futebol brasileiro no geral. Talvez por conta disso, o clube não deu a devida importância às disputas seguintes da Copa Libertadores, torneio que voltaria a ganhar apenas em 2011. Uma pena, pois com o esquadrão que o time possuía, poderia ser o “Real Madrid das Américas” e vencer umas 4, 5 taças consecutivas. Mas o peixe não parou de ganhar títulos. Em 1964, o clube voltou a ganhar o Campeonato Paulista, com destaque para a goleada de 11 a 0 sobre o Botafogo-SP, com 8 gols de Pelé, e um 7 a 4 pra cima do Corinthians em pleno Pacaembu, em que Pelé teve de sair de campo escoltado pela polícia. Pobre Timão…

O Peixe também venceu o Torneio Rio SP (em título dividido com o Botafogo) e o tetracampeonato da Taça Brasil, vencendo o Flamengo na decisão, com 4 a 1 no primeiro jogo (com show de Pelé, que fez três gols), em São Paulo, e empate sem gols no segundo. Em 1965, ocorreu o desfecho do espetacular pentacampeonato da Taça Brasil, quando o Santos bateu o Vasco na final por 5 a 1 no primeiro jogo em São Paulo e 1 a 0 no Rio. Pra variar, mais um campeonato paulista foi parar na Vila Belmiro naquele ano.

 

 

Início de vacas magras

A partir do ano de 1966 a geração de ouro do Santos começou a perder território no Brasil. o time foi derrotado de maneira surpreendente na final da Taça Brasil pelo Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Natal e Procópio. No primeiro jogo, o time azul venceu por absurdos 6 a 2, um massacre que terminou 5 a 0 só no primeiro tempo. No jogo de volta, o Santos perdeu de novo, dessa vez de virada por 3 a 2 em pleno Pacaembu. Ali, os times do Brasil conheceram uma nova força que surgia (o Cruzeiro), novas estrelas como Tostão e Dirceu Lopes e viam também que o Santos não era imbatível. Para piorar, o time da Vila perdeu o campeonato paulista para o grande rival da época, o Palmeiras. A consolação foi a artilharia do campeonato, que ficou com o brilhante Toninho Guerreiro, que marcou 27 gols. O craque, depois de Coutinho, foi o maior parceiro de Pelé no Santos naquela década de 60.

 

O único título do peixe em 1966 foi o Torneio Rio SP, que teve de ser dividido com outros três times devido aos preparativos da seleção para a Copa do Mundo (com muitos convocados entre os clubes em questão), e pelo fato de os times não concordarem em jogar com reservas, fazendo a CBD proclamar os quatro primeiros colocados do torneio, todos com 11 pontos, como campeões. Em 1967, o Santos retomou a coroa no campeonato paulista após vencer o São Paulo no jogo desempate por 2 a 1.

 

Novo ano de ouro

Edu, Toninho Guerreiro, Carlos Alberto, Pelé e Clodoaldo.

 

Depois de dois anos magros para os padrões santistas da época, o time de Pelé resolveu voltar a brilhar em 1968. Com grandes nomes no time como Clodoaldo, Edu, Abel, Toninho Guerreiro e o futuro capitão do Tri, Carlos Alberto Torres, o Santos venceu novamente o Campeonato Paulista com 11 pontos de diferença sobre o vice-campeão Corinthians. O time também venceu a segunda edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o precursor do Campeonato Brasileiro, após vencer os três jogos do quadrangular final contra Internacional, Vasco e Palmeiras. O artilheiro da competição foi Toninho, com 18 gols.

Para coroar o ano, dois títulos internacionais: a Supercopa Sul-Americana, quando o time da Vila venceu Peñarol (URU) e Racing (ARG), e a primeira edição da já extinta Recopa Intercontinental, quando o Santos viajou até Milão e derrotou a Internazionale no Estádio Giuseppe Meazza por 1 a 0, gol do matador Toninho. Como a Inter desistiu do jogo de volta (afinal, era certo que perderia…) o Santos foi o campeão. Um novo ano perfeito. O único ponto ruim daquela temporada foi a perda da invencibilidade de 11 anos para o Corinthians, que voltou a vencer o alvinegro da Vila por 2 a 0, tendo que ouvir da Fiel torcida: “Com Pelé, com Edu, nós quebramos o tabu!”.

 

 

Parando guerras

O ano de 1969 foi histórico para o Santos. Não por conta de títulos, pois o clube venceu apenas o Campeonato Paulista, completando mais um tricampeonato, o segundo da década. O ano foi histórico porque em uma de suas excursões pelo mundo, o time de Pelé foi capaz de parar duas guerras. Isso mesmo! Em uma visita à África, o time brasileiro provocou o cessar fogo na Guerra do Congo Belga entre as forças Kinshasa e Brazzaville, para que as cidades pudessem assistir aos jogos do peixe. Outro conflito paralisado por conta do Santos foi a Guerra de Biafra, na Nigéria. Porém, logo após as partidas, os conflitos recomeçaram… Mesmo assim, o fato foi marcante e estampou as páginas dos mais importantes jornais do planeta, além de inspirar a torcida do Santos a citar o fato em uma de suas cantorias sobre aquele timaço:

“O meu Santos é sensacional

Só o Santos parou a guerra

Com Rei Pelé, bi Mundial

O maior time da Terra”

 

Infelizmente, aquele seria o último grande feito do time dos sonhos, que veria Pelé, em 1969, marcar seu milésimo gol na carreira.

 

Pelé se prepara para marcar o milésimo gol.

 

O fim da equipe mágica

 

O Santos começou a perder seu encanto e força já em 1969. Com muitas dívidas devido a investimentos equivocados, como a compra do hotel Parque Balneário, que resultou em muito dinheiro perdido anos depois, o clube foi perdendo seus principais jogadores aos poucos. Viu rivais crescerem e conquistarem os títulos que eram apenas de posse do Santos, decretando o fim de um time mágico.

 

Um time para a história

Com mais de 100 anos de vida, o Santos é uma das joias do futebol brasileiro e mundial. A história do time que você acabou de ler é uma das mais belas e saborosas desses 100 anos do peixe. Os 23 títulos conquistados, as exibições de gala nos mais diferentes palcos, e a magia que Pelé, Pepe, Coutinho, Zito, Mengálvio, Clodoaldo, Edu e Toninho proporcionavam era demais. Plateias se deliciavam. Multidões se amontoavam nos estádios. Jornais eram vendidos como água. Sempre que o Santos jogava, ia jogar ou ganhava um título era certeza de festa, em qualquer lugar. Naquela época, dizer que o Santos deu show ou que Pelé deu show eram pleonasmos dos mais gritantes. Era óbvio que o Santos dava show. Era óbvio que Pelé dava show, ou que Pelé marcava golaços.

O mais que óbvio é que aquele supertime está marcado, para sempre, na história como o maior esquadrão de futebol que o mundo já viu no século XX. Maior que o Real Madrid de Puskás e Di Stéfano? Claro! Maior que o Milan de Van Basten, Rijkaard, Gullit, Baresi e Maldini? Sim! Maior que o São Paulo de Raí e Telê? Sem dúvida! Maior que o Flamengo de Zico? Óbvio! Aí você pergunta: como? A resposta é uma só: Gylmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Dorval; Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. A escalação mais pronunciada e famosa do planeta é a resposta para todos os contestadores. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Gylmar: o maior goleiro do futebol brasileiro tinha que segurar a bronca na meta santista por conta do ímpeto absurdamente ofensivo daquele time. E desempenhou muito bem o seu papel. Jogou de 1961 até 1969 no peixe, onde virou ídolo e conquistou todos os títulos possíveis. Foi, também, o goleiro do Brasil de 1953 até 1969, conquistando duas Copas do Mundo. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Lima: polivalente do time, Antonio Lima dos Santos podia jogar como lateral direito, lateral esquerdo ou zagueiro. Jogou quase 700 jogos pelo peixe e é um mito no clube.

Carlos Alberto Torres: o capitão do tri foi revelado pelo Fluminense, mas foi no Santos onde ele ganhou a maior coleção de títulos de sua carreira. Jogou no clube paulista de 1965 até 1971. Foi um dos símbolos da eficiência e determinação daquele grande time. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Mauro Ramos: um dos maiores zagueiros da história do nosso futebol, Mauro Ramos de Oliveira ganhou o apelido de Martha Rocha, eterna Miss Brasil, por sua elegância e estilo em campo. Exímio cabeceador, foi referência máxima da defesa do Santos em toda a década de 60. Foi o capitão do bicampeonato mundial da Seleção Brasileira, em 1962, mesmo ano em que levantou o primeiro título mundial com o Santos. É um mito do clube alvinegro.

Dalmo: lateral-esquerdo, Dalmo Gaspar foi o herói do segundo título mundial do Santos, ao marcar, de pênalti, o gol na terceira partida contra o Milan. Folclórico, dizia ser o inventor da paradinha na hora de bater uma penalidade (o que muitos dizem ser, na verdade, obra de Pelé) e que usou durante um bom tempo uma chuteira de borracha que Pelé ganhou em uma das excursões do Santos pela Europa. Foi muito querido na Vila.

Calvet: Raul Donazar Calvet foi o companheiro de zaga de Mauro entre 1960 e 1964, período mais brilhante daquele Santos. Outro de estilo técnico, Calvet tinha excelente visão de jogo e dava cadência ao time.

Zito: motorzinho do meio de campo do Santos, Zito é uma das maiores lendas do futebol nacional. Foi essencial nas conquistas mais importantes do Santos e também do Brasil nos anos 50 e 60. Jogou no peixe de 1952 até 1967, em mais de 720 partidas. Ganhou o apelido de “Gerente”, por comandar o meio de campo do time. Adorava dar lançamentos para Pelé e Coutinho destruírem as zagas dos rivais. É um dos maiores ídolos de nosso esporte. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Dorval: é tido como o melhor ponta-direita da história do Santos. Tocava o terror no ataque do time e marcava muitos gols. Conquistou os mais importantes títulos com o Santos.

Mengálvio: outro mito do Santos, Mengálvio atuou no clube de 1960 até 1967. Soberano no meio de campo, também fazia seus gols.

Clodoaldo: teve a sorte de jogar com Pelé logo em seu início de carreira, mas o azar de começar justamente quando o Santos começava a cair de produção. Clodoaldo foi um dos maiores volantes da história do futebol, dono de uma habilidade extrema para um defensor, ótimo passe, visão de jogo e velocidade. Foram mais de 500 jogos em 14 anos de Santos, e status de ídolo do time após a saída de Pelé. Foi uma das estrelas do Brasil na Copa de 1970, no México.

Coutinho: o maior parceiro da história de Pelé foi também o mais sossegado e “na dele”. Avesso às entrevistas e ao estrelato, Coutinho fazia o papel dele, que era jogar bola. E como jogava. Quando estava junto com o Rei, era difícil saber quem era quem, tamanha a habilidade e o faro de gols de ambos. Adorava fazer tabelinhas com Pelé, seja com os pés, seja com a cabeça. É considerado um dos maiores centroavantes da história do futebol. Coutinho ganhou o apelido de “gênio da pequena área”, superando outros centroavantes que também se destacaram no clube, como Toninho Guerreiro e Feitiço. Pelé, uma vez, comentou sobre o companheiro naqueles anos de ouro: “Coutinho, dentro da área, era melhor que eu. Sua frieza era algo sobrenatural”. E era mesmo. Em 457 partidas pelo Santos, Coutinho marcou 368 gols e conquistou 22 títulos. Foi um dos maiores da história do clube. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Toninho Guerreiro: foi o segundo melhor parceiro de Pelé depois de Coutinho. Marcou 283 gols em 373 jogos pelo clube da Vila e conquistou inúmeros títulos. Só não foi para a Copa de 1970 por conta da imposição do presidente do Brasil na época, Emílio Médici, que queria Dario no excrete canarinho.

Pelé: o Rei do futebol só foi o que foi, só fez o que fez, e só é o que é por causa de seus anos no Santos. Foi no clube da Vila que o melhor jogador de futebol do século XX viveu seus melhores momentos na carreira, que seriam fechados com chave de ouro na Copa de 1970. A história do Santos e de Pelé se confundem de maneira quase telepática, prova disso são alguns números: o Rei é o maior em número de jogos pelo Santos (1116), é o maior artilheiro (1091 gols) e o único artilheiro durante nove anos seguidos do Campeonato Paulista, de 1957 até 1965. Um espanto! Leia mais sobre Ele clicando aqui.

Pepe: o “canhão da Vila”, como ficou conhecido, é o maior artilheiro da história do Santos “humano”, como o próprio Pepe diz, já que “Pelé não conta, pois veio de Saturno…” Pepe marcou 405 gols em 750 partidas pelo time paulista, e foi um dos maiores pontas esquerdas do futebol. Foi um dos símbolos do clube de 1954 até 1969, e viveu exatamente todo o período mais glorioso da história do Santos, única camisa que vestiu na carreira. Ganhou ainda as Copas de 1958 e 1962 com o Brasil e é o recordista de títulos do Campeonato Paulista, com 13 canecos. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Edu: Jonas Eduardo Américo chegou ao Santos bem na época em que o time estava caindo de produção, mas jogou ao lado do Rei e fez partidas memoráveis ao lado do craque. Disputou 584 partidas pelo Santos e marcou 183 gols.

Lula (Técnico): considerado um mero coadjuvante em meio a um time de estrelas, muitos diziam que Lula apenas distribuía os uniformes para os jogadores, afinal, todos eles sabiam muito bem o que fazer. Se ele apenas distribuía os uniformes, então fez isso muito bem de 1954 até 1966, pois ganhou 21 títulos com o Santos. Depois de sair do time, foi o técnico que ajudou o Corinthians a vencer depois de 11 anos, adivinhe? O Santos! Mesmo com essa “traição”, é muito lembrado até hoje por todos.

Antoninho (Técnico): foi jogador do próprio Santos e auxiliar de Lula no período de ouro do time. Comandou o Santos de 1966 até 1971, época em que venceu três estaduais, um Torneio Roberto Gomes Pedrosa e outros títulos. Também coadjuvante de luxo do super time.

 

Licença Creative Commons
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.

Comentários encerrados

16 Comentários

  1. O Santos de Pelé é o maior esquadrão que um clube brasileiro já formou. Aliás, sem dúvida ele deve ser colocado entre os 3 melhores times de todos os tempos, excluindo as seleções. A espinha dorsal foi a mesma durante quase 10 anos, e aquele time chegou a ter 9 jogadores campeões do mundo com o Brasil. Aquele time só teve três pedras no sapato: o Botafogo do Garrincha, o Peñarol e a Primeira Academia do Palmeiras. Mas mesmo esses times sabiam que o Santos era melhor e que precisavam mudar de estratégia para bater de frente.

  2. Na Libertadores de 1964 o Santos foi garfado nas semis contra o Independiente, com bandeirinhas paraguaios corrompidos, fato que veio à público recentemente. A final seria uma baba contra o Nacional do Uruguai, e o Mundial muito louco contra a Inter de Milão. Em 1965 infelizmente perdemos pro bom time do Peñarol nas semis. Uma pena não termos participado em 1966, 1967 e 1969, nesses anos poderíamos ter jogado o Mundial contra Real Madrid, Celtic e Milan, e em 1968 contra o Manchester United. Quem sabe não seríamos penta, hexa, ou até hepta campeões da Libertadores e do Mundial. Aí sim hein?

  3. Não sou santista, mas esse Santos foi o único clube brasileiro que foi comprovadamente o melhor time do mundo por um período. Nenhum outro clube brasileiro alcançou o status de melhor time do mundo mesmo tendo sido campeão mundial.

    • Hoje, a carioquíssima Rede Globo elegeu a “seleção santista de todos os tempos”, incluindo nela Giovane e o atualmente flamenguista Diego. Quem deveria sair para dar lugar a eles no meio-campo? Zito, Mengálvio, Dorval ou Clodoaldo? Pobre ignorância e pretensão fluminense.

  4. o santos poderia ser tri seguido em 64 mas o juiz roubou contra o indenpendente da argentina que tem 7 titulos da libertadores mas o santos deveria ganhar 9 libertadores seguidos e 9 mundial tambem se não fosse esse jogo roubado e por causa dar escursões

      • Naquela época a Libertadores não tinha o peso e a importância de hoje em dia, para se ter uma ideia, o importante e prioritário para todos os times no Brasil, era o campeonato regional (Paulista, Carioca, Mineiro, etc…), parece louco mas na época era assim!

  5. Maior desperdício do Santos de Pelé foi “largar” a Libertadores pra aparecer em Amistosos. Óbvio que com esse time, pelo menos até 1965, o Santos teria ganho todas as Libertadores(Talvez até todos os Mundiais). E hoje, ao invés de ser Tri, seria Penta!

  6. Gosto bastante do Mauro, do Carlos Alberto e, claro, do Rei mas não consigo ver esse time como sendo melhor que o expresso da vitória. Falo isso pq conheço bem os dois. Acho que só o Botafogo tinha mais craques que aquele time

Os três históricos cartões amarelos que aposentaram um árbitro

A grande reviravolta: uma lembrança inesquecível da Copa do Mundo