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Jogos Eternos – São Paulo 2×1 Barcelona 1992

São Paulo 2x1 Barcelona 1992

Data: 13 de dezembro de 1992.

O que estava em jogo: o título do Mundial Interclubes de 1992.

Local: Estádio Nacional, Tóquio, Japão.

Juiz: Juan Carlos Loustau (ARG)

Público: 60.000

Os times:

São Paulo FC (BRA): Zetti; Vítor, Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Toninho Cerezo (Dinho), Pintado, Cafu e Raí; Müller e Palhinha. Técnico: Telê Santana.

FC Barcelona (ESP): Zubizarreta; Ferrer, Ronald Koeman e Eusébio; Amor, Bakero (Goikoetxea), Guardiola e Witschge; Michael Laudrup; Beguiristain (Nadal) e Stoichkov. Técnico: Johan Cruyff.

Placar: São Paulo 2×1 Barcelona. (Gols: Stoichkov-BAR aos 12′, e Raí-SPO aos 27´do 1º T; Raí-SPO, aos 34´do 2º T).

 

“Ferrari Tricolor > Dream Team”

Por Guilherme Diniz

Dream Team. Campeão da Europa. Comandado por um dos maiores expoentes do “Futebol Total”. Em campo, apenas craques. Era utopia pensar numa derrota daqueles imbatíveis espanhóis vestidos em azul e grená. Era. Do outro lado, estava uma equipe vestida de branco, com duas faixas em vermelho e preto pronta para dar show. Talvez o maior show que aquele clube jamais havia dado na partida mais importante de sua curta história de vida. No segundo tempo, o placar mostrava 2 a 1. Mas poderia ser 4 a 1. Ou 5 a 2. Aqueles brasileiros eram irresistíveis. Raí era mesmo de carne e osso? Telê Santana era deste mundo? O Dream Team (?) perdia a chance de ser campeão mundial. Foi atropelado. Não era Ferrari. Era o São Paulo FC. O estádio Nacional de Tóquio, no Japão, começaria a viver naquela linda e ensolarada tarde de 13 de dezembro de 1992 uma hegemonia histórica do tricolor comandado por Telê.

Foram dois anos e dois títulos mundiais conquistados com um futebol vistoso e técnico aliado a doses fora do comum de sorte e do Sobrenatural de Almeida, personagem criado por outro tricolor, mas do Rio, Nélson Rodrigues. Em cima do badalado Barcelona, o São Paulo venceu de virada o jogo final do Mundial Interclubes de 1992 e conquistou, pela primeira vez, o mundo. Não contente, o time voltou ao Japão um ano depois e faturou outro caneco, em outra história também marcante. Mas o triunfo de 1993 não foi tão exuberante, artístico e imortal quanto o de 1992, quando dois homens mostraram que haviam nascido para brilhar vestindo o branco, vermelho e preto do São Paulo: Raí e Telê Santana. É hora de relembrar.

 

Pré-jogo

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Depois de conquistar de maneira dramática sua primeira Libertadores, nos pênaltis, contra o Newell´s Old Boys-ARG, o São Paulo ganhou a chance de disputar, num jogo único do outro lado do planeta, o título do Mundial Interclubes. A equipe brasileira vivia uma fase fenomenal, graças ao talento de Zetti, Cafu, Cerezo, Palhinha, Müller e, sobretudo, Raí, o camisa 10 daquele esquadrão que jogava bonito e entrava em qualquer torneio para ganhar. No comando, Telê Santana, chamado por muito tempo de “pé-frio” pelo desempenho decepcionante com a seleção nas Copas de 1982 e 1986, mas que esquentava o pé a cada dia no tricolor com taças e mais taças. O desafio do São Paulo no Japão, porém, não seria nada fácil: enfrentar o Barcelona-ESP, então campeão da Europa com um time apelidado pela imprensa de “Dream Team” pela qualidade de seus jogadores e desempenho coletivo em campo.

Comandados por Johan Cruyff, gênio dos campos que levava para fora do gramado os ensinamentos de seu mestre Rinus Michels, os craques catalães eram os favoritos disparados do jogo. O sistema defensivo era forte com Zubizarreta, Koeman e Ferrer. No meio de campo, muita precisão nos passes e construção de jogadas com Guardiola, Bakero e Laudrup. No ataque, Stoichkov mostrava a cada dia porque era considerado um dos maiores atacantes daquela década com talento, habilidade e muitos gols. Ninguém apostava numa vitória brasileira. Mas o São Paulo nem ligou. Afinal, o time já conhecia aquele Barcelona devido à disputa de torneios amistosos naquele mesmo ano, na Espanha. O São Paulo inclusive venceu os catalães por 4 a 1 no Troféu Tereza Herrera. Mal sabiam os tricolores que aquele placar quase seria repetido no Japão…

Ambas as equipes tinham técnica e talento de sobra, mas flexibilidade e maior poder de decisão de Müller, Cerezo, Cafu e Raí pesaram a favor do São Paulo.
Ambas as equipes tinham técnica e talento de sobra, mas flexibilidade e maior poder de decisão de Müller, Cerezo, Cafu e Raí pesaram a favor do São Paulo.
 

 

Primeiro tempo – Susto e equivalência

São Paulo 2x1 Barcelona 1992

Com a bola rolando em Tóquio, as 60 mil pessoas presentes no estádio Nacional viram um São Paulo nervoso e um Barcelona mais calmo nos primeiros minutos. Foi então que, aos 12´, Stoichkov chutou de fora da área e marcou um golaço: 1 a 0. Parecia que era o começo do show catalão. Mas, depois de cinco minutos, o time brasileiro voltou ao jogo com foco, determinação e talento. Muito talento. O Barcelona começou a errar e o São Paulo a atacar. Cafu chutou uma bola e quase acertou o gol de Zubizarreta. Raí deu entre as pernas de Bakero e lançou Palhinha, que quase marcou. Ronaldo Luís, pela esquerda, cruzou e quase enganou o goleiro espanhol. O gol tricolor estava amadurecendo. Num contra-ataque, Palhinha tocou na esquerda para Müller. O habilidoso e eterno “menudo” saiu em disparada com Ferrer na sua cola. Müller simplesmente quebrou a coluna do espanhol num corte seco, cruzou, a bola bateu na barriga de Raí e entrou: 1 a 1.

 

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O São Paulo estava vivo de novo. Mais do que nunca. Tempo depois, Cerezo deu um passe magistral para Müller, que encobriu o goleiro, mas o zagueiro tirou. O Barcelona ainda teve uma chance clara no final do primeiro tempo, mas Ronaldo Luís tirou em cima da linha. Empatada, a partida não refletia o que se via em campo: ousado, o São Paulo poderia estar vencendo por 3 a 2 ou mesmo 4 a 2. O baile blaugrana anunciado por todos não acontecia. E parece que nem mesmo convites seriam distribuídos no segundo tempo…

 

Segundo tempo – A falta magistral e o mundo tricolor

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Na segunda etapa, o São Paulo entrou ainda mais determinado e seguro de si. Telê Santana, ao invés de berrar e se estressar como de costume, esteve calmo e sereno durante o intervalo, consciente do trabalho que sua equipe fazia naquele dia. Parecia um prenúncio do que estava por vir. O tricolor colocou novamente o Barcelona em desespero num ataque pela esquerda, interceptado por Zubizarreta. O meio de campo espanhol batia cabeça e o São Paulo aproveitava as chances, mas a bola teimava em não entrar. A redonda passava de pé em pé, rente ao chão, serena e branda, como o futebol que o São Paulo jogava.

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Até que, aos 34 minutos, o time brasileiro teve uma falta a seu favor. Era de longe. Uma cobrança para o miolo da área era viável, mas um chute direto e preciso também não era mau negócio. Raí e Cafu estavam na bola. Eles iam tentar uma jogada ensaiada nos treinamentos que nunca dava certo: a tabelinha e o chute direto para o gol. O juiz apitou. Raí rolou. Cafu ajeitou e Raí chutou. A bola voou direta e magnificamente no ângulo direito do goleiro Zubizarreta. Gol. Golaço. Obra prima. Inesquecível. 2 a 1 para o São Paulo. O estádio foi à loucura e Raí correndo em direção ao banco de reservas do São Paulo. Aquele gol tinha dono. Era para o “seu Telê”, o Mestre que tanto apostou naquele garoto que só era conhecido como “o irmão mais novo de Sócrates”, que se tornava a partir daquele momento “O Raí”, eterno e sublime camisa 10 do São Paulo Futebol Clube e responsável direto pelo primeiro título mundial da história do clube brasileiro. O jogo ainda tinha mais de 12 minutos, mas nada e ninguém poderiam tirar aquele título do tricolor.

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Ao apito final, consagração e festa em Tóquio: São Paulo campeão do mundo. Delírio puro no Brasil, em São Paulo, na madrugada. Raí ganharia o prêmio de melhor jogador do torneio e um carro da patrocinadora, algo que fez os brasileiros brincarem com o Barcelona, que teria que voltar “à pé” para a Espanha. Naquele dia, o treinador do clube espanhol, Johan Cruyff, comentou que “se é para ser atropelado, que seja uma Ferrari”. Era a prova clara da superioridade e do talento que aquele time demonstrara em campo, num jogo que ficou marcado para sempre como uma das melhores atuações táticas e coletivas da história do São Paulo.

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O que aconteceu depois?

São Paulo: a conquista do primeiro título mundial em 1992 foi apenas um aperitivo do que o tricolor paulista ainda ia fazer. Em 1993, o time voltou a conquistar a América e desembarcou outra vez no Japão. O adversário foi o Milan-ITA e de novo o São Paulo venceu. Em 1994, o time caiu na final da Libertadores para o Vélez-ARG de Carlos Bianchi e viu a magia do esquadrão de Telê minguar. Porém, foi o título de 1992 que abriu caminho para o clube se tornar o mais vitorioso do Brasil (em termos proporcionais) e ver sua torcida crescer consideravelmente até os anos 2000, quando se consolidou como a terceira maior (atrás das nações do Corinthians e do Flamengo). Em 2005, o clube levantou o tricampeonato mundial, de novo no Japão e presenciado de perto pelo talismã Raí e por um já debilitado Telê Santana, pela TV. Ambos festejaram como nunca e, por instantes saudosos, devem ter se lembrado da ensolarada e límpida tarde de 13 de dezembro de 1992, o dia em que o São Paulo chegou ao topo do mundo pela primeira vez.

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Barcelona: depois da derrota no Japão, o Barcelona se reforçou nos anos seguintes (principalmente com Romário) e colecionou títulos no Campeonato Espanhol, até aquele “Dream Team” ter um ponto final na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1994, quando foi massacrado pelo Milan-ITA por 4 a 0. Os anos passaram e o clube se agigantou como nunca, completou 100 anos, viu Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho brilharem com o manto catalão, reconquistou a Europa em 2006, perdeu novamente o Mundial para outro brasileiro (o Internacional de Fernandão e Abel Braga), mas deu a volta por cima graças a Pep Guardiola, aquele mesmo moleque magrelo que jogou a final de 1992 contra o São Paulo e conquistou, em 2009 e 2011, os dois mundiais que seu querido Barça havia deixado escapar. Guardiola fez do esquadrão catalão uma máquina artística e multivencedora, inspirado nas escolas do futebol arte de Rinus Michels, Johan Cruyff e… Telê Santana, aquele mesmo da Ferrari Tricolor…

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Comentários encerrados

9 Comentários

  1. O dia em que um clube sul-americano subjugou totalmente um clube europeu com a bola nos pés. Muita gente que não assistiu ao jogo ou não era nascido na época, acha que pelo placar apertado tratou-se de um mero acaso ou sorte; mas não, mesmo tendo tomado o gol logo no início da partida o time do Telê já tinha igualado o jogo após os 20 minutos e daí tudo foi questão de tempo. O Barcelona simplesmente assistiu ao SPFC jogar. O vareio dentro de campo foi tamanho que até Cruyff reconheceu. Não se ganha de um clube apelidado do “Dream Team” impunemente.

    • Também acho, foi o maior time que o São Paulo já teve.

      E também concordo com você quanto a São Paulo x Milan, aquele jogo foi sensacional, também deveria estar nesta galeria de jogos eternos…

  2. Tempos esses em que as equipes brasileiras jogavam de igual para igual com qualquer equipe europeia, qualquer uma mesmo, hoje, existe um abismo técnico entre o futebol sul-americano e o europeu.

  3. Esse foi o melhor time do SPFC que eu já vi!!! Raí, Cafu, Palhinha e Muller se movimentavam muito e eram praticamente imarcáveis. Esse mesmo time já tinha goleado os espanhóis meses ante e pelo visto eles não aprenderam. Até hoje sinto a mesma emoção revendo o jogo.

Craque Imortal – Heleno de Freitas

Craque Imortal – Reinaldo