Grandes feitos: Bicampeã Invicta da Copa América (1991 e 1993), Campeã da Copa das Confederações (1992) e Campeã da Copa Artemio Franchi (1993). Encerrou um jejum de 32 anos sem títulos da albiceleste na competição continental e estabeleceu uma invencibilidade de 31 jogos sem perder. Tal recorde só foi superado em 1º de junho de 2022, pela Argentina de Scaloni, que atingiu 32 partidas sem perder e alcançou 36 partidas sem derrotas.
Time-base: Goycochea; Fabián Basualdo (Craviotto), Sergio Vázquez (Borelli), Ruggeri e Altamirano (Carlos Enrique); Franco (Zapata / Villarreal), Astrada (Redondo), Simeone e Leonardo Rodríguez (Gorosito / Giunta / Claudio García); Batistuta e Caniggia (Latorre / Acosta). Técnico: Alfio Basile.
“La Reina de América”
Por Guilherme Diniz
Fazia tempo. Muito tempo. O mundo caminhava para sua última década antes do novo milênio e a Argentina seguia com um jejum interminável na Copa América. Desde o longínquo ano de 1959 que a albiceleste não sabia o que era vencer em seu continente. Novas gerações de torcedores viram sua seleção conquistar o mundo por duas vezes, em 1978 e 1986, mas eles nunca tinham visto a Argentina como dona da América. Até que, em 1991, a espera acabou. Com novas figuras e um ataque decisivo, a albiceleste sepultou de vez as mais de três décadas sem títulos com duas taças seguidas.
Em 1991 e 1993, Batistuta, Caniggia, Simeone, Goycochea, Ruggeri, Leonardo Rodríguez e companhia colocaram a seleção portenha no topo e absoluta como a maior vencedora de títulos continentais na América do Sul, troféus que ajudaram a amenizar o drama de 1990, quando a Alemanha ruiu com o sonho do tri mundial. E toda aquela glória veio sem Diego Maradona, uma prova máxima da qualidade ofensiva disponível na época. Mais do que tudo isso, aquela Argentina foi simplesmente imbatível. Emendou 31 partidas sem uma derrota sequer para encerrar com chave de ouro um ciclo histórico, que começou com o título mundial em 1978, teve o auge com o bi em 1986 e se encerrou com as glórias continentais de 1991 e 1993, além de uma Copa das Confederações (que na época ainda não tinha organização da FIFA). É hora de relembrar.
Bola pra frente
A Argentina vivia um momento de profunda tristeza naquele ano de 1991. A ferida aberta em Roma, no dia 08 de julho de 1990, ainda não havia cicatrizado. A albiceleste perdeu na Cidade Eterna a chance do tricampeonato da Copa do Mundo ao ser derrotada pela Alemanha de Matthäus, Brehme, Klinsmann e companhia na decisão daquele ano. Foi um primeiro adeus de Maradona à seleção, que deixou o Mundial enfurecido por causa da arbitragem na final contra os europeus, dizendo que a Argentina “havia sido punida por ter vencido a Itália na semifinal, a favorita da FIFA para vencer a Copa”. Para piorar, o craque foi suspenso pela entidade máxima do futebol por 15 meses após ser pego em um exame antidoping e só voltaria a jogar pela seleção em 1993.
Sem Dieguito, a Argentina precisava se recompor e saber se virar sem seu maior jogador. Há uma década com “Dios” em campo, era quase inimaginável pensar na albiceleste sem aquele mágico vestindo a camisa 10. Como será que a equipe iria voltar a ser competitiva sem ele e com um doloroso vice-campeonato mundial nas costas? E mais: como estruturar um time envelhecido, que ainda tinha vários dos campeões de 1986? Oras, buscando caras novas! E um técnico novo também.
A volta por cima começou já em 1990 quando Alfio Basile, lendário jogador do Racing campeão da América e do mundo nos anos 1960, assumiu o comando técnico da seleção. Ele propôs uma renovação total na equipe, priorizando jogadores jovens ou que atuavam majoritariamente nos clubes nacionais. Essa nova filosofia trouxe aos poucos nomes como Leonardo Rodríguez, Leonardo Astrada, Diego Simeone, Gabriel Batistuta, Darío Franco e Fernando Redondo, isso só para citar alguns. Claro que Coco Basile não foi tão radical e manteve alguns nomes que ainda jogavam bem e tiveram destaque na Copa de 1990, casos de Ruggeri, Basualdo, Caniggia e principalmente Goycochea, goleiro que virou herói da Argentina com grandes atuações nas disputas de pênaltis durante o Mundial na Itália.
Basile teria como primeiro desafio a Copa América de 1991, competição que não era vencida pela Argentina há mais de 30 anos. Antes, ele comandou a seleção em sete amistosos, venceu dois (2 a 0 na Hungria e 1 a 0 nos EUA) e empatou cinco (0 a 0 com o México, 3 a 3 eletrizante com o Brasil, 1 a 1 com a URSS, 2 a 2 com a Inglaterra – em pleno Wembley e após estar perdendo por 2 a 0 – e novo empate com o Brasil, dessa vez em 1 a 1). Com um sistema defensivo ainda capenga, mas um ataque eficiente graças ao talento do matador Batistuta, a Argentina tinha recobrado a confiança e passava uma boa impressão com aquela invencibilidade inicial. Na lista de convocados, apenas dois dos 22 jogadores levados pelo técnico ao Chile jogavam no futebol estrangeiro: Caniggia (Atalanta-ITA) e Simeone (AC Pisa-ITA). Com um elenco praticamente todo “de casa”, a albiceleste estava pronta para retomar a coroa no continente. E apagar de vez a decepção da Copa de 1990.
No embalo do Batigol
A Copa América de 1991 foi a última a contar apenas com os 10 países da Conmebol, a derradeira edição “raiz” do torneio. As seleções foram divididas em dois grupos com cinco equipes e as duas primeiras de cada um se classificavam para o quadrangular final, no sistema todos contra todos, com o campeão sendo o time que somasse mais pontos. A albiceleste estreou com vitória por 3 a 0 sobre a Venezuela, gols de Batistuta (duas vezes) e Caniggia.
No duelo seguinte, contra o anfitrião Chile, vitória por 1 a 0 (gol de Batistuta). Nos dois últimos jogos da primeira fase, goleada de 4 a 1 sobre o Paraguai (gols de Batistuta, Simeone, Astrada e Caniggia) e vitória por 3 a 2 sobre o Peru com o time cheio de reservas. Com 100% de aproveitamento e líder da chave, a Argentina foi para a fase final embalada e com esperanças de título. Pela frente, a equipe teria mais uma vez o Chile (segundo colocado), a Colômbia e o então campeão Brasil, primeiro e segundo colocados respectivamente no Grupo B.
A glória continental, 32 anos depois
O primeiro compromisso argentino no quadrangular foi justamente contra o Brasil, e uma vitória em um clássico como aquele seria fundamental para as pretensões da equipe portenha. Já o time brasileiro era comandado por Paulo Roberto Falcão, que ainda testava a equipe com vários jogadores diferentes e não contava com a dupla Bebeto e Romário. O treinador apostava em nomes como Mauro Silva, Mazinho Oliveira e Sílvio (todos do surpreendente Bragantino daquele começo de anos 1990), Renato Gaúcho, Branco e Neto (“baita de um meia” do Corinthians campeão brasileiro de 1990).
O duelo, como não poderia deixar de ser, foi elétrico e a Argentina abriu o placar logo no primeiro minuto com Franco. Branco empatou em cobrança de falta quatro minutos depois, mas de novo Franco fez 2 a 1, de cabeça, aos 39’ do primeiro tempo. Na segunda etapa, Batistuta aproveitou um cruzamento da direita e testou para fazer o terceiro da Argentina no jogo – terceiro em jogada aérea e terceiro com assistência de Leonardo Rodríguez! O Brasil ainda diminuiu com João Paulo, o jogo seguiu tenso (foram cinco expulsões e muita confusão no final), mas o placar permaneceu mesmo 3 a 2 e deixou a Argentina com o moral elevadíssimo para as duas partidas seguintes.
No duelo seguinte, a albiceleste empatou sem gols com o Chile e foi para a última rodada precisando de uma vitória simples sobre a Colômbia sem depender do resultado do jogo entre Brasil e Chile (as vitórias ainda valiam dois pontos). E, com gols de Simeone e Batistuta, a equipe portenha venceu por 2 a 1 e conquistou, depois de 32 longos anos de jejum, o título da Copa América, troféu que coroou a renovação proposta por Alfio Basile e apresentou de vez Batistuta para o futebol internacional. Artilheiro do torneio com seis gols, ele foi direto para a Fiorentina-ITA logo depois, onde iria brilhar intensamente nos anos 1990 até chegar à Roma campeã da Itália em 2001.
A Argentina mostrou muita qualidade nos passes e um ataque perigosíssimo com várias alternativas durante a competição. Além de Batigol e Caniggia, a equipe ainda tinha Leonardo Rodríguez em grande fase, o elemento surpresa Franco e ainda Latorre como opção no banco. Simeone era outro que se destacava pela garra e intensa liderança no meio de campo, neutralizando jogadas adversárias e ainda municiando o ataque, além de aparecer como opção ofensiva e marcar gols. Foram sete jogos, seis vitórias, um empate, 16 gols marcados e seis gols sofridos. Enfim, a tristeza de 1990 fora superada. Mas a alegria estava só começando.
Imbatíveis pelo mundo
Em 1992, a Argentina seguiu no embalo do título continental e participou de uma competição amistosa no Japão, a Copa Kirin. A albiceleste foi campeã ao vencer os donos da casa por 1 a 0 e a equipe de País de Gales pelo mesmo placar, com ambos os gols anotados por Batistuta. Após dois amistosos na sequência (vitória por 2 a 0 sobre a Austrália e empate sem gols com o Uruguai), a equipe viajou até a Arábia Saudita para disputar a primeira edição da Copa Rei Fahd, com a participação dos campeões da CAF (Costa do Marfim, campeã da Copa Africana de Nações de 1992), CONCACAF (EUA, campeão da Copa Ouro de 1991) e Conmebol (Argentina, campeã da Copa América de 1991), além da Arábia Saudita, por ser país-sede. Aquela se tornou a primeira edição da história da Copa das Confederações, que seria expandida em 1995 e passaria a ser organizada pela FIFA a partir de 1997.
E a Argentina voltou a fazer história ao derrotar a Costa do Marfim por 4 a 0 nas semifinais (dois gols de Batistuta, um de Acosta e um de Altamirano) e vencer a Arábia por 3 a 1 na decisão, com gols de Caniggia, Rodríguez e Simeone (outra vez decisivo, como na Copa América). Ainda em 1992, a Argentina venceu um amistoso contra a Polônia por 2 a 0, e, em 1993, empatou com o Brasil em 1 a 1 amistoso que celebrou o centenário da Associação de Futebol Argentino.
No mês de fevereiro, a albiceleste disputou a Copa Artemio Franchi, em Mar del Plata, uma espécie de tira-teima entre a campeã da América (no caso a Argentina) contra a Dinamarca, campeã da Eurocopa de 1992 e com jogadores como Brian Laudrup e o goleiro Peter Schmeichel. Após empate em 1 a 1 no tempo normal, a albiceleste venceu por 5 a 4 nos pênaltis com outra atuação “de leyenda” do goleiro Goycochea, que defendeu os chutes de Vilfort e Goldbaek e garantiu mais uma taça para a coleção portenha.
Todos aqueles jogos serviram para o técnico Basile preparar seu time para a Copa América de 1993, que seria disputada no Equador. A torcida ficou em polvorosa não só pela série invicta – que já somava 23 jogos – como celebrava o retorno de Maradona naqueles dois amistosos de 1993. No entanto, o técnico Basile preferiu não levar Dieguito para a disputa do torneio continental e voltou a dar prioridade para a base que vinha jogando junta desde 1991. Com isso, o simbólico troféu Artemio Franchi foi a última taça da carreira do craque.
Em busca do bi
Com a participação das tradicionais seleções da Conmebol e dois países convidados – EUA e México – a Copa América de 1993 era não só a chance de um título como também um grande laboratório para as seleções se prepararem para a disputa das Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Na chave C da disputa, a Argentina foi com a base do título de 1991 e mais uma vez com vários atletas que jogavam nos clubes do país. Apenas oito dos 22 jogadores eram de fora: Goycochea (Olimpia-PAR), Vázquez (Universidad Católica-CHI), Redondo (Tenerife-ESP), Ruggeri (América-MEX), Franco (Real Zaragoza-ESP), Batistuta (Fiorentina-ITA), Simeone (Sevilla-ESP) e Leonardo Rodríguez (Atalanta-ITA). Caniggia acabou de fora da convocação e Beto Acosta, do Boca, ganhou a vaga no ataque ao lado de Batigol.
A caminhada albiceleste começou com vitória por 1 a 0 sobre a Bolívia, gol de Batistuta. Naquele jogo, a equipe acabou perdendo Franco, que se machucou gravemente ao sofrer uma ruptura da tíbia e obrigou o técnico Basile a convocar Basualdo para suprir a vaga aberta no elenco. Na sequência, o time empatou em 1 a 1 com o México (gol de Ruggeri) e empatou mais uma vez em 1 a 1, dessa vez com a Colômbia (gol de Simeone).
A equipe se classificou na segunda colocação, com o mesmo número de pontos da líder Colômbia, mas com menos número de gols marcados. E tal posição fez com que a equipe de Basile enfrentasse já nas quartas de final o velho rival Brasil. O jogo foi equilibrado e terminou empatado em 1 a 1, com o gol brasileiro anotado por Müller e o argentino por Leonardo Rodríguez. Na disputa de pênaltis, adivinhe, Goycochea aprontou das suas e defendeu o chute de Boiadeiro já nas cobranças alternadas e garantiu a vitória albiceleste por 6 a 5.
Na semifinal, o adversário foi a Colômbia e sua lendária geração de ouro com Rincón, Aristizábal, Valderrama, Asprilla e companhia. Mas o jogo foi morno e ficou bem abaixo das expectativas. Com o 0 a 0 insistente no placar, a Argentina teve outra disputa de pênaltis pela frente. E, de novo, após 5 a 5, Goycochea defendeu o primeiro dos colombianos nos chutes alternados e Borelli garantiu a vitória por 6 a 5 e a classificação para a final. O retrospecto do arqueiro em disputas daquele tipo era simplesmente estrondoso na época: ele vinha de duas vitórias na Copa de 1990, uma na Copa Artemio Franchi e duas naquela Copa América de 1993!
Bicampeões!
No dia 04 de julho de 1993, a Argentina foi até Guayaquil disputar a final de mais uma Copa América. Era o mesmo local do tricampeonato da própria albiceleste lá em 1947, até hoje o único conquistado por uma seleção na história do torneio. O rival era o México, do atacante Hugo Sánchez e do folclórico goleiro Jorge Campos. Após uma primeira etapa sem gols, a Argentina abriu o placar com o artilheiro Batistuta logo aos 18’, após chutar no ângulo direito do goleiro. O México empatou quatro minutos depois, com Galindo, mas a Argentina tinha Batistuta, um atacante capaz de fazer todo e qualquer problema simplesmente desaparecer. O craque recebeu de Simeone, passou pelo marcador e fuzilou o goleiro Campos: 2 a 1.
A Argentina só teve o trabalho de segurar o resultado à sua maneira, tocando para lá e para cá, e sacramentou o bicampeonato e a façanha de ser a recordista em títulos da Copa América na época com 14 taças. Enfim, a albiceleste estava de volta ao topo do continente. Foram seis jogos, duas vitórias, quatro empates, seis gols marcados e quatro sofridos. Além do título, a seleção alcançou 29 jogos de invencibilidade sob o comando de Alfio Basile e tinha enorme esperança de um bom desempenho nas Eliminatórias e quiçá uma busca de título na Copa do Mundo.
Desastres e o martírio de 28 anos
A Argentina iniciou sua caminhada nas Eliminatórias no mês seguinte, contra o Peru, e venceu por 1 a 0. Na sequência, bateu o Paraguai em Assunção por 3 a 1 e atingiu 31 jogos de invencibilidade, a maior marca da história da seleção em todos os tempos, com 18 vitórias e 13 empates (é preciso salientar que alguns registros citam 32 ou 33 partidas, considerando amistosos que não são válidos pela FIFA). Porém, um adversário iria se transformar no carrasco máximo daquela geração: a Colômbia. Foi ela a responsável por encerrar aquela série invencível em 17 de agosto de 1993, ao vencer a albiceleste por 2 a 1 em Barranquilla. E, tempo depois, a mesma Colômbia impôs a maior derrota da história da Argentina sob seus domínios nos 5 a 0 dos cafeteros em pleno estádio Monumental, uma história já contada aqui no Imortais.
A Argentina até foi para a Copa e Maradona foi convocado, mas o time não foi bem em solo estadunidense, Dieguito foi outra vez pego em um exame antidoping e a seleção caiu precocemente, nas oitavas de final, diante da Romênia de Hagi. Nos anos seguintes, a equipe formou outras boas seleções, novos craques surgiram, mas ninguém conseguiu fazer da Argentina campeã outra vez – com exceção do Ouro Olímpico nos Jogos de Pequim, em 2008. Foram várias decepções em Copas Américas (derrotas homéricas para o Brasil e duas seguidas para o Chile) e em Copas do Mundo – como a queda por goleada diante da Alemanha em 2010, o vice de 2014 também para a Alemanha e a queda já nas oitavas de final em 2018 para a França.
Com isso, o torcedor argentino seguiu esperando. Seguiu na angústia. Seguiu na dúvida se um dia essa espera por taças iria acabar. Continuou na recordação do último grito de campeón lá de 1993. Os últimos tempos dourados de uma seleção que se agigantou no futebol durante 15 anos, com três finais em quatro Copas do Mundo disputadas, uma rara epopeia poucas vezes vista no futebol – apenas Alemanha, nos anos 1980, e Brasil, entre 1958 e 1970, conseguiram feito semelhante e em tão pouco tempo. Até que, em 2021, Messi, Di María, De Paul e companhia conseguiram acabar com a espera de 28 anos no título da Copa América, conquistada em pleno Maracanã e sobre o rival Brasil. Enfim, a espera acabou. E, enfim, Messi pôde levantar um troféu por sua seleção e colocar a Argentina de volta ao topo do continente assim como fizeram Goycochea, Redondo, Ruggeri, Batistuta e os craques da seleção imortal lá de 1993. A Reina de América.
Os personagens:
Goycochea: a vida do goleiro mudou para sempre na Copa do Mundo de 1990, quando entrou no lugar do lesionado Pumpido logo no comecinho do segundo jogo da Argentina no Mundial, contra a URSS. Dali em diante, Goycochea se transformou em uma lenda. No mata-mata, foi o herói da albiceleste nas classificações sobre Iugoslávia e Itália após disputas de pênaltis – defendeu dois contra os iugoslavos e mais dois contra os italianos. Embora não fosse tão eficiente nas jogadas aéreas e um pouco inseguro em determinados lances, era na marca da cal que ele virava um bicho. Garantiu vitórias para a Argentina contra a Dinamarca, Brasil e Colômbia dessa maneira e virou um dos maiores pegadores de pênaltis da época. Disputou 45 jogos pela seleção e ficou 18 deles sem sofrer gols. Foi um dos raros casos de goleiro que jogava melhor pela seleção do que por clubes.
Fabián Basualdo: lateral-direito muito técnico, bom na saída de bola e na cobertura para os meias mais ofensivos, Basualdo foi um talismã no time portenho naquele começo de anos 1990 ao permanecer 27 jogos sem perder nas vezes em que atuou pela seleção – um recorde. Foi um dos mais utilizados por Basile naquela época e fundamental no título de 1991. Disputou 29 jogos pela seleção.
Craviotto: lateral que atuava mais na contenção, protegendo o setor defensivo e que também atuava no miolo de zaga. Disputou 12 jogos e marcou dois gols pela seleção, sendo um deles na campanha do título de 1991.
Sergio Vázquez: defensor muito bom no jogo aéreo e capaz de atuar como líbero em algumas partidas, Vázquez disputou 31 partidas pela Argentina entre 1991 e 1994 e participou de todos os jogos da campanha do título de 1991.
Borelli: muito ágil, podia atuar no miolo da zaga, como líbero e também como lateral. Foi convocado para a Copa América de 1993 e cumpriu seu papel, atuando em quatro dos seis jogos da campanha do bicampeonato. Foi chamado por Basile durante as Eliminatórias, mas perdeu espaço e ficou de fora da Copa de 1994.
Ruggeri: “El Cabezón” já era uma lenda do futebol argentino naquele começo de anos 1990 e manteve a aura intacta com grandes atuações na conquista do bicampeonato continental. Titular na conquista da Copa de 1986 e também do River Plate multicampeão no final dos anos 1980, o zagueiro foi um dos maiores da história de seu país e um dos recordistas em partidas pela seleção com 98 jogos entre 1983 e 1994. E, destes 98 jogos, foi substituído em apenas cinco. Foi um vencedor, de grande personalidade, garra e disposição, um claro e nato exemplo de zagueiro argentino, um dos últimos caudillos do futebol portenho.
Altamirano: polivalente das laterais, capaz de jogar tanto pela esquerda quanto pela direita, ganhou as primeiras chances com Basile em 1991 e disputou três jogos na campanha do título continental. Em 1993, foi titular absoluto e um dos principais nomes do sistema defensivo na conquista do bi. Anos depois, brilhou também no River campeão da Libertadores em 1996.
Carlos Enrique: “El Loco” atuava na lateral, tinha muita velocidade e uma personalidade que às vezes lhe causava problemas e cartões desnecessários. Foi convocado pela primeira vez em 1991, na estreia de Basile, contra a Hungria. Não foi titular absoluto, mas atuou em três jogos da campanha do título continental de 1991.
Simeone: um gigante do meio de campo, raçudo, técnico, marcador implacável, grande artífice para jogadas ofensivas e com uma garra e amor à camisa invejáveis. Diego Simeone foi um dos grandes de seu tempo e brilhou pela seleção em 106 jogos entre 1988 e 2002. Marcou 11 gols, disputou três Copas do Mundo e foi titular absoluto nas conquistas de 1991 e 1993. É o 5º na lista de jogadores com mais partidas na história da seleção. Depois de pendurar as chuteiras, virou um técnico de sucesso, com destaque para suas façanhas no Atlético de Madrid.
Franco: carrasco do Brasil na Copa América de 1991, o meio-campista disputou 22 jogos pela seleção entre 1991 e 1994. Não tinha velocidade, mas era eficiente nos passes e nas jogadas aéreas.
Zapata: muito bom nas antecipações e nos desarmes, além de chutar bem com a perna esquerda, o volante disputou 28 jogos de 1991 até 1998 na seleção, com destaque para suas atuações na campanha do título de 1993. Como a concorrência no setor era grande na época, não teve uma grande sequência como titular nos anos seguintes.
Villarreal: foi titular na conquista da Copa das Confederações de 1992 atuando no meio de campo, com bons passes e como alternativa para jogadas de ataque. Não teve vida longa na seleção por causa das seguidas lesões. Disputou apenas oito jogos com a camisa da albiceleste.
Astrada: meio-campista clássico, de bom passe, preciso no posicionamento e eficiente na marcação. Tinha personalidade e se impunha em campo. Disputou 33 jogos pela seleção entre 1991 e 1999 e foi titular na campanha do título continental de 1991. Com a ascensão de Fernando Redondo, perdeu espaço e ficou de fora da campanha do bi em 1993.
Redondo: um dos maiores volantes de todos os tempos, elegante, clássico, técnico ao extremo e uma verdadeira lenda não só da seleção quanto do Real Madrid. Só não teve mais jogos pela seleção (foram 29) por causa das desavenças com o técnico Passarella, que “invocou” com a cabeleira do jogador e não o levou para a Copa do Mundo de 1998. Azar da Argentina. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Leonardo Rodríguez: ágil, com passes precisos e muito veloz no ataque, sabia como ninguém aproveitar o talento de seus companheiros para dar assistências para gols. E, vivendo grande fase, foi fundamental para a conquista da Copa América de 1991, sendo eleito o melhor jogador do torneio. Seguiu jogando em alto nível como titular absoluto e foi presença constante nas convocações de Basile. Após a Copa de 1994, não foi mais convocado. Disputou 29 jogos e marcou dois gols pela seleção entre 1991 e 1994.
Gorosito: outro meio-campista muito técnico, mas que sofreu com a concorrência no setor. Disputou 18 partidas pela Argentina entre 1989 e 1997 e teve participação mais assídua na campanha do título continental de 1993.
Giunta: temperamental ao extremo, só disputou sete jogos pela seleção na carreira, todos eles em 1991 e cinco na Copa América daquele ano. Compensava a falta de técnica com muita raça, mas isso lhe rendia vários cartões. Não foi mais convocado após aquela competição.
Claudio García: atuava no ataque, mais aberto pelas pontas. Veloz e habilidoso, gostava de provocar os adversários e enervá-los. Disputou 13 jogos e marcou três gols pela Argentina.
Caniggia: um dos mais notáveis atacantes da história do futebol argentino, é sempre lembrado pelos brasileiros pelo gol que eliminou o time canarinho da Copa de 1990, mas o jogador fez muito mais que aquilo. Carismático, rápido e muito regular, foi um dos ícones da seleção naquele final de anos 1980 e início de anos 1990. Disputou 50 jogos e marcou 16 gols pela albiceleste e vivia sua melhor fase exatamente naquele início de trabalho do técnico Basile. Ao lado de Batistuta, fez grandes jogos e marcou dois gols na campanha do título de 1991. Disputou as Copas de 1990 (marcou dois gols) e 1994 (anotou dois gols).
Latorre: atuava como meia e também atacante e fez uma parceria notável com Batistuta no Boca Juniors, mas na seleção nunca conseguiu repetir os bons jogos com a camisa azul e ouro. Disputou apenas seis partidas com a camisa albiceleste, todas em 1991, e marcou um gol.
Acosta: centroavante que brilhou no futebol argentino nos anos 1990 – em especial no San Lorenzo – e com bom poder de definição, Beto Acosta passou a ser convocado com mais frequência em 1992 por Basile e atuou tanto na Copa das Confederações (marcou um gol na vitória sobre Costa do Marfim) quanto na Copa América de 1993.
Batistuta: ídolo de gerações, formidável com a bola nos pés, decisivo, artilheiro nato, patrimônio da Fiorentina e maior artilheiro do clube italiano na Série A, um dos destaques da Roma campeã da Itália em 2001, segundo maior artilheiro da história da seleção com 56 gols em 78 jogos, artilheiro da Copa América de 1991 com seis gols, autor de gols tanto na final de 1991 quanto na de 1993, autor de 10 gols em três Copas do Mundo disputadas… Batigol foi tudo isso e muito mais. Aqui, não há espaço para dizer o quanto esse craque foi imortal. Leia mais clicando aqui.
Alfio Basile (Técnico): o ex-jogador assumiu a seleção com a difícil tarefa de trazer de volta a alegria e os títulos após o doloroso revés de 1990. E, com a aposta nos jogadores do futebol nacional e em jovens de talento, Basile fez da Argentina a melhor seleção da América entre 1991 e 1993. Soube aproveitar ao máximo jogadores como Goycochea, Ruggeri, Simeone, Rodríguez e Batistuta. E, com eles, alcançou a incrível marca de 31 jogos de invencibilidade. Sua mancha foi a goleada para a Colômbia nas Eliminatórias para a Copa de 1994. Mesmo assim, levou a seleção ao Mundial, mas o doping de Maradona acabou desestabilizando uma equipe que merecia pelo menos ficar entre as oito melhores. Comandou a Argentina anos depois, entre 2006 e 2008, mas não repetiu o sucesso dos anos 1990.
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