Grandes feitos: Campeã da Eurocopa (1980) e Vice-Campeã da Copa do Mundo da FIFA (1982 e 1986). Fez da Alemanha a primeira seleção bicampeã da Eurocopa e a primeira a disputar três finais seguidas da competição.
Time-base: Harald Schumacher; Bernard Dietz (Bernd Förster / Klaus Augenthaler), Uli Stielike (Herbert Zimmermann / Ditmar Jakobs / Norbert Eder) e Karlheinz Förster; Manfred Kaltz (Thomas Berthold), Bernd Schuster (Bernhard Cullmann / Wolfgang Dremmler / Lothar Matthäus), Hansi Müller (Paul Breitner / Felix Magath) e Hans-Peter Briegel (Andreas Brehme); Karl-Heinz Rummenigge; Horst Hrubesch (Klaus Fischer) e Klaus Allofs (Pierre Littbarski / Rudi Völler). Técnicos: Jupp Derwall (1980-1984) e Franz Beckenbauer (1984-1986).
“Pavimentando o caminho do Tri”
Por Guilherme Diniz
Entre 1972 e 1974, a Alemanha dominou o futebol mundial. Com uma geração de craques formidáveis, a Nationalelf venceu sua primeira Eurocopa, em 1972, e faturou sua segunda Copa do Mundo da FIFA em 1974, batendo ninguém mais ninguém menos do que a Holanda e seu Carrossel. Mas, em 1976, quando todos pensavam que os alemães ficariam com o bi da Euro, eles perderam nos pênaltis a decisão para a Tchecoslováquia de Panenka. Ali, muitos símbolos deixaram a equipe, que decepcionou no Mundial de 1978, mas outros craques começaram a aparecer para iniciar já em 1980 uma nova era competitiva da seleção mais competitiva do planeta.
Rummenigge, Schumacher, Kaltz, Stielike, Jakobs, Schuster, Briegel, Littbarski, Hrubesch, Allofs e um tal de Lothar Matthäus foram alguns dos craques que conduziram a Alemanha a campanhas marcantes naquela década. Eles venceram a Euro de 1980 – tornando a Alemanha a primeira bicampeã do torneio – e disputaram duas finais de Copa do Mundo consecutivas – algo que não acontecia desde 1962 -, mas sucumbiram diante da Itália de Paolo Rossi e da Argentina de Maradona. Estiveram “nos lugares certos nas horas erradas”. Mas a experiência adquirida daria retorno em breve, pois aquela geração pavimentou o caminho do tricampeonato mundial de 1990. É hora de relembrar.
A “fábrica” que não para!
Perder a Eurocopa de 1976 e ser eliminada precocemente na Copa do Mundo de 1978 foi um divisor de águas para a Alemanha. Sepp Maier, Franz Beckenbauer, George Schwarzenbeck, Uli Hoeneß, Hölzenbein, Berti Vogts e o técnico Helmut Schön, todos multicampeões pela Nationalelf, saíram de cena para que outros atletas pudessem resgatar a aura competitiva da equipe. Para comandar aquela nova era, a federação alemã promoveu Jupp Derwall, ex-assistente de Schön entre 1970 e 1978, como técnico da seleção, vencendo os concorrentes Erich Ribbeck e Helmut Benthaus. O desafio do novo comandante seria classificar a Alemanha para a Eurocopa de 1980, que teria pela primeira vez uma fase de grupos antes da fase final, novidade criada pela UEFA a fim de aumentar ainda mais a popularidade da competição – que crescia exponencialmente a cada edição. Mas não seria bem um desafio, afinal, outra vez o futebol do país estava cheio de talentos à disposição.
No setor defensivo, Derwall tinha o goleiro Harald Schumacher, titular absoluto do Köln, clube campeão alemão de 1977-1978 e que no começo dos anos 1980 seria comandado pelo lendário técnico Rinus Michels. Viriam do Köln, também, os atacantes Klaus Fischer e Klaus Allofs, o exímio meio-campista Bernd Schuster e o defensor Herbert Zimmermann. Outro clube que também forneceria grandes nomes para a “nova” Alemanha seria o Hamburgo, com o zagueiro Ditmar Jakobs, o lateral-direito Manfred Kaltz, o meia Felix Magath e o atacante Horst Hrubesch – todos presentes no esquadrão campeão da Liga dos Campeões da UEFA de 1982-1983. Além de todos esses nomes, Derwall tinha o já destacado atacante Karl-Heinz Rummenigge, principal nome ofensivo do futebol alemão da época e estrela do Bayern München; os irmãos defensores Karlheinz e Bernd Förster e o meia Hansi Müller, todos do Stuttgart, e o jovem Lothar Matthäus, meio-campista de 19 anos que atuava no Borussia Mönchengladbach.
O caminho da Alemanha nas Eliminatórias era relativamente fácil: Turquia, Malta e País de Gales. O primeiro duelo aconteceu em fevereiro de 1979, com empate sem gols contra Malta, um resultado bem atípico. Em abril, outro empate (0 a 0, com a Turquia), que obrigou a Alemanha a vencer País de Gales (100% àquela altura) de qualquer maneira se quisesse manter viva a chance de classificação. Mesmo jogando fora de casa, os alemães fizeram 2 a 0 (gols de Zimmermann e Fischer) e subiram na tabela – vale lembrar que na época a vitória ainda valia dois pontos.
Nos três jogos do returno, a Alemanha parou de dar sopa para o azar e sobrou: fez 5 a 1 em País de Gales, em casa (dois gols de Fischer, um de Kaltz, um de Rummenigge e outro de Karlheinz Förster), 2 a 0 na Turquia (gols de Zimmermann e Fischer) e massacraram Malta por 8 a 0, com destaque para Fischer e Allofs, autores de dois gols cada. Com 10 pontos, quatro vitórias, dois empates, 17 gols marcados e apenas um sofrido, a Alemanha carimbou sua vaga na Eurocopa. Era hora de buscar a segunda taça continental.
Vingança e vaga na final
Antes da estreia na Euro, a Alemanha venceu dois amistosos (1 a 0 na Áustria e 3 a 1 na Polônia) e foi para a Itália, sede da competição, com o grupo de jogadores que garantiu a classificação – com exceção do artilheiro das Eliminatórias, Klaus Fischer, que acabou se lesionando e ficou de fora. Apenas três dos 22 atletas tinham 29 anos ou mais e 14 jogadores tinham 25 anos ou menos, provando a renovação da equipe. O defensor Bernard Dietz foi escolhido como capitão da Nationalelf e o técnico Derwall já tinha um esquema de jogo definido, que se alternava entre o 4-4-2 e o 3-5-2, que era praticamente um 3-4-1-2, pois Rummenigge tinha a liberdade para jogar no centro do ataque e ajudar na construção de jogadas. Os fazedores de gols seriam Allofs e Hrubesch, que viviam grandes fases por seus clubes e também pela seleção.
A Alemanha estava no Grupo 1, ao lado de Grécia, Holanda e Tchecoslováquia, justamente a algoz de 1976 e com vários jogadores do time campeão quatro anos antes, incluindo o carrasco Panenka. Apenas o campeão do grupo teria vaga garantida na final, enquanto o segundo colocado disputaria o 3º lugar – não haveria semifinal. Por isso, cada jogo era uma “decisão”. A primeira dos germânicos foi contra os tchecos, no Estádio Olímpico de Roma, e eles conseguiram a desforra com vitória por 1 a 0, gol de Rummenigge após grande jogada de Hansi Müller. O duelo seguinte foi contra a Holanda, que não era mais a Laranja Mecânica dos anos 1970, mas ainda tinha nomes de respeito como Ruud Krol, Arie Haan, os irmãos Van de Kerkhof e Johnny Rep.
Jogando em Nápoles, a Alemanha mostrou força e abriu 3 a 0 com três gols de Klaus Allofs, sendo dois deles com participação decisiva de Bernd Schuster, meia de apenas 20 anos que fez um partidaço ao demonstrar muita velocidade, enorme visão de jogo e aparecendo constantemente na área holandesa. Quem também apareceu em campo foi Lothar Matthäus, de 19 anos, debutando pela primeira vez com a camisa alemã. No entanto, o conforto no placar e a superioridade da Alemanha quase ruiu quando a Holanda diminuiu no segundo tempo com Rep, de pênalti, e fez o segundo gol com Willy van de Kerkhof, aos 40’. Mas o placar ficou mesmo 3 a 2 para a Alemanha, que praticamente garantiu sua vaga na decisão. O atacante Hrubesch comentou sobre o jogo em entrevista ao site da UEFA.
“Jogamos muito bem por 70 ou 80 minutos. Estávamos vencendo por 3 a 0 e eles marcaram dois gols. O trio Bernd Schuster, Hansi Müller e Rummenigge funcionou muito bem e Klaus Allofs marcou três gols. Eu fiz o meu trabalho e isso era uma coisa que caracterizava a equipe. Todos trabalhavam uns para os outros e todos corriam uns pelos outros: não importava se Allofs ou Hrubesch marcavam os gols. Você via isso em nosso jogo, o coletivo funcionava muito bem e conseguíamos dominar dessa forma”.
Na última rodada, a Alemanha empatou sem gols contra a Grécia e carimbou a vaga na final, pois Holanda e Tchecoslováquia também empataram (1 a 1). Os germânicos terminaram o grupo com cinco pontos, enquanto Holanda e Tchecoslováquia ficaram com três pontos cada. Pela terceira vez seguida a Nationalelf estava na final de uma Eurocopa. E tinha a chance de ser a primeira seleção na história a vencer o torneio por duas vezes. O adversário seria a perigosa Bélgica de Pfaff, Gerets, Vandereychen, Van der Elst e Ceulemans, que conseguiu a classificação após empates contra a anfitriã Itália (0 a 0) e Inglaterra (1 a 1) e vitória por 2 a 1 sobre a Espanha.
De volta ao topo!
Diante de quase 50 mil pessoas no Estádio Olímpico de Roma, a Alemanha foi com sua força máxima diante dos belgas. Derwall apostou em três homens no miolo de zaga (Dietz, Stielike e Karlheinz Förster), os laterais Kaltz e Briegel, o meio de campo com Schuster e Hansi Müller, com Rummenigge um pouco mais avançado, e a dupla de ataque formada por Hrubesch e Allofs – este o artilheiro da Euro. E, com apenas 10 minutos, os alemães abriram o placar em nova jogadaça de Schuster, revelação do torneio, que tocou na entrada da área para o grandalhão Hrubesch mandar a bomba e abrir o placar: 1 a 0.
A partida seguiu morna, com a Alemanha se garantindo na defesa com seus eficientes jogadores, mas só até os 30’ do segundo tempo, quando Stielike derrubou Van der Elst dentro da área e cedeu um pênalti aos belgas. Na cobrança, Vandereychen deslocou o goleiro Schumacher e empatou. A partida pegou fogo, mas os alemães são especialistas em decisões. E, aos 44’, Rummenigge cobrou escanteio perfeito para “A Besta dos Cabeceios” Hrubesch subir mais alto do que toda a zaga belga e testar para o fundo do gol de Pfaff, decretando o 2 a 1 e o título europeu da Alemanha.
Após oito anos a Nationalelf conquistava a Europa. E, de quebra, fazia da Alemanha a única nação a ter duas Eurocopas no currículo. O título coroou de vez aquele trabalho de reestruturação da seleção e de Rummenigge, eleito o jogador do ano na Alemanha e na Europa – ele faturou o Ballon d’Or de 1980 e também venceria o de 1981. O craque comentou aquele momento em entrevista ao site da FIFA.
“Eu estava com muita autoconfiança. Depois de ser artilheiro e Jogador do Ano na Alemanha, fui para o torneio muito motivado. O técnico Jupp Derwall também fez de tudo para que nos sentíssemos bem”.
Além do troféu, a Alemanha terminou o ano de 1980 com uma marca inédita: a equipe acumulou 23 jogos sem perder (18 vitórias e cinco empates, sendo 12 vitórias seguidas!) sob o comando de Derwall, série que começou em outubro de 1978 e se estendeu até dezembro de 1980, na vitória por 3 a 1 sobre a Bulgária, no primeiro jogo das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1982. Jamais a Nationalelf conseguiu uma série como essa em toda sua história, nem nos tempos de Beckenbauer e Helmut Schön, nem nos anos 2010 com Thomas Müller, Lahm, Schweinsteiger e Joachim Löw. A série só foi quebrada em janeiro de 1981, durante o Mundialito da FIFA disputado no Uruguai, quando a Alemanha perdeu para Argentina (2 a 1) e Brasil (4 a 1, gols de Serginho Chulapa, Toninho Cerezo, Zé Sérgio e Júnior!) e foi eliminada da competição. É que o foco já estava na Copa de 1982…
A volta da lenda e os 100%
A partir de 1981, o técnico Jupp Derwall contou com um importante reforço em busca da vaga para o Mundial da Espanha: Paul Breitner, lendário lateral-esquerdo da Alemanha e do Bayern nos anos 1970, que atuava no meio de campo naquele começo de década. Após um hiato de seis anos, o craque retornou após apaziguar os ânimos com Derwall, com o qual o jogador teve alguns problemas nos anos 1970 e recebeu do próprio Derwall o pedido para que voltasse à Nationalelf com foco total na Copa do Mundo.
A ideia do treinador era explorar o talento de Breitner ao lado de Rummenigge na seleção, afinal, a dupla jogava tudo e mais um pouco no Bayern, que virou naquela época o Bayern de Breitnigge, em alusão aos nomes dos craques e suas importâncias ao time. Paul Breitner atuava como um meia no time bávaro, criando jogadas e marcando gols, aliás, muitos: na temporada 1979-1980, o meia fez 10 gols em 32 jogos na campanha do título alemão. E, na temporada seguinte, fez 17 gols em 30 jogos na campanha do bicampeonato.
Sem ressentimentos, Paul Breitner aceitou o convite de Derwall e participou da trajetória alemã nas Eliminatórias, atuando em seis dos oito jogos da equipe. E ele foi mais do que decisivo: marcou três gols e contribuiu para a campanha 100% que colocou a Alemanha em mais um Mundial. Os germânicos venceram Bulgária (3 a 1, fora, e 4 a 0, em casa), Albânia (2 a 0, fora, e 8 a 0, em casa), Áustria (2 a 0, em casa, e 3 a 1, fora) e Finlândia (4 a 0, fora, e 7 a 1, em casa) para irem à Copa com absoluta tranquilidade. Foram oito jogos, oito vitórias, 33 gols marcados (média de 4,12 gols por jogo!) e apenas três sofridos. Rummenigge anotou 9 gols e foi o artilheiro geral das Eliminatórias da UEFA, seguido de Klaus Fischer, recuperado da lesão que o tirou da Euro, com sete gols. Quem também se destacou foi o lateral-direito Manfred Kaltz, autor de cinco gols na campanha avassaladora dos germânicos.
Já em 1982, a equipe realizou cinco amistosos: venceu Portugal por 3 a 1, em casa; perdeu para o Brasil de Telê por 1 a 0, no Maracanã com mais de 150 mil pessoas; empatou em 1 a 1 com a Argentina, no Monumental de Núñez; venceu a Tchecoslováquia por 2 a 1, em casa, e bateu a Noruega por 4 a 2, fora de casa. Com os preparativos definidos, Derwall levou o grupo que a torcida esperava, com vários campeões europeus e os jovens de destaque do futebol alemão da época, entre eles o veloz meia/atacante Pierre Littbarski, o meia Hansi Müller, o meio-campista Lothar Matthäus e o já veterano Klaus Fischer. A Alemanha era uma das favoritas ao título, ao lado do Brasil de Telê e da França de Platini.
Zebra e o jogo de compadres
O Grupo 2 da Copa de 1982 parecia bem tranquilo aos alemães. Ninguém esperava que Argélia, Chile e Áustria pudessem complicar a vida dos bicampeões mundiais. Tanto é que, na estreia contra os argelinos, o técnico Jupp Derwall disse aos jogadores que “se perdemos para a Argélia, pego o primeiro trem de volta à Alemanha!”. Bem, acontece que a equipe africana não era qualquer uma, ainda mais com o atacante Madjer no elenco – aquele mesmo, ídolo do Porto campeão europeu em 1987. E foi ele quem abriu o placar, aos 9’ do segundo tempo. Rummenigge empatou 13 minutos depois, mas Belloumi fez 2 a 1 e “impôs a zebra” em Gijón. Derwall não pegou o primeiro trem para casa após o jogo, mas teve que dar uma resposta rápida na partida contra o Chile, quatro dias depois. Na verdade, quem deu a resposta foi Rummenigge, que deu show, anotou três gols e garantiu a goleada alemã sobre os sul-americanos por 4 a 1 – nem o lendário capitão chileno Figueroa conseguiu frear o ímpeto do craque.
Aliviado com a grande partida de sua equipe, Derwall viu a Alemanha alcançar os três pontos e ficar bem perto da vaga. Após a vitória da Áustria sobre a Argélia por 2 a 0, a última rodada do grupo seria cheia de alternativas. E, no dia 24 de junho, a Argélia venceu o Chile por 3 a 2 e chegou aos quatro pontos (as vitórias ainda valiam dois pontos na época) e só teria que esperar a definição do jogo entre Alemanha e Áustria, um dia depois. Os africanos precisavam torcer contra uma vitória da Alemanha por um gol de diferença para garantirem a classificação. Só que, se a Alemanha vencesse por um gol de diferença, ela se classificaria e levaria junto a Áustria.
Muitos esperavam um jogo aberto, afinal, quatro anos antes, a Áustria eliminou os alemães com uma vitória por 3 a 2 na Copa de 1978 e a torcida contava com uma vingança. Mas naquele dia 25 de junho, Gijón foi palco do “Jogo da Vergonha”. Nos primeiros 10 minutos só deu Alemanha, que chegou ao 1 a 0 com Hrubesch. Depois disso, ambas as equipes começaram a tocar a bola de um lado para o outro. A morosidade enfureceu a torcida, que vaiou copiosamente as seleções. Em determinado momento, o árbitro escocês Robert Valentine teve que parar o jogo, chamar os capitães e pedir para que orientassem seus companheiros para que houvesse futebol.
Claro que foi em vão, o jogo seguiu sem graça alguma e terminou mesmo 1 a 0. Nas transmissões de TV, vários comentaristas repudiaram aquela atitude anti-desportiva e um torcedor chegou a queimar uma bandeira da Alemanha em protesto. Foi a maior marmelada da história das Copas. Tanto é que, anos depois, o jogador austríaco Walter Schachner – um dos poucos que buscou jogo em todo momento – admitiu que havia um conchavo para o placar de 1 a 0, resultado que classificaria ambas as equipes, algo que ele só ficou sabendo depois.
O presidente da federação argelina disse que Alemanha e Áustria deveriam ser banidas da Copa pela “atitude totalmente contra o espírito esportivo”. Contrapondo os críticos, o técnico Derwall disse que as lesões de alguns jogadores – principalmente Rummenigge, que saiu antes da metade do segundo tempo por causa de um problema na perna esquerda – prejudicaram o rendimento da Nationalelf. Porém, o jornal inglês The Times of London publicou uma declaração de Derwall antes da partida na qual ele disse “queremos nos classificar, não jogar futebol”.
Aquela situação toda mudaria para sempre a Copa do Mundo. A FIFA aplicaria já na Copa de 1986 uma nova regra: todos os últimos jogos de cada grupo aconteceriam no mesmo dia e horário, para evitar novos conchavos.
A vaga na “Batalha de Sevilha”
A segunda fase da Copa também seria de grupos, mas com um triangular onde apenas o campeão iria avançar para as semifinais. Os alemães se classificaram ao lado de Inglaterra e Espanha e, contra os ingleses, empataram em 0 a 0 um jogo fraco e sem grandes oportunidades. Já no segundo duelo, contra a Espanha, mesmo sem Rummenigge durante todo o segundo tempo – ele de novo sentiu a lesão na perna esquerda – a Alemanha contou com Littbarski, autor do primeiro gol, e o talento de Breitner, que deu o passe que originou a jogada do gol da vitória por 2 a 1, marcado por Fischer.
Na semifinal, a Alemanha encarou a França, que, após a eliminação do Brasil diante da Itália de Paolo Rossi, era a seleção que jogava o melhor futebol da Copa. O duelo era repleto de expectativas, mas o favoritismo pendia para o lado germânico pelo fato de os franceses jamais terem disputado uma final de Copa na época. Sem Rummenigge, no banco, a Alemanha foi com Littbarski, Magath e Fischer no ataque, um trio de respeito e que poderia causar sérios problemas aos franceses. Isso sem contar com Paul Breitner, atuando em uma função parecida com a que ele atuava no Bayern. E, quando a bola rolou, Littbarski abriu o placar para os alemães, aos 17´do primeiro tempo. Tempo depois, Platini empatou para a França, de pênalti, aos 26´.
Mesmo jogando melhor, a França não conseguia furar a retranca alemã. No segundo tempo, um lance que poderia mudar o panorama do jogo provocou polêmica. O goleiro alemão Schumacher nocauteou, literalmente, o francês Battiston em um lance deplorável, que deixou o jogador dos Bleus inconsciente e com o maxilar quebrado (!). O árbitro holandês Charles Corver entendeu (?) que a jogada foi normal (!!) e deu apenas tiro de meta para os alemães. O lance revoltou demais os franceses e a todos no estádio, que passaram a torcer contra a Alemanha. O placar permaneceu 1 a 1 e levou a partida para a prorrogação. Nela, a França abriu 3 a 1 com Trésor (um golaço!) e Giresse e parecia com a vaga na mão. Bem, só parecia.
Mesmo sabendo que seu craque não estava 100% fisicamente, o técnico Jupp Derwall colocou Rummenigge em campo como a cartada do desespero. Com a perna esquerda imprestável, Rummenigge mostrou o quanto era decisivo e marcou o segundo gol alemão, aos 102´. A força de vontade do capitão inflou a equipe alvinegra, que empatou o jogo com Fischer, de bicicleta (!), aos 108´. O 3 a 3 seguiu até o final e o jogo foi para os pênaltis, na primeira decisão desse tipo em uma partida eliminatória na história das Copas.
Nas cobranças, todos foram convertendo até o alemão Stielike, no terceiro chute, errar. Ele ajoelhou-se no gramado e chorou. Ali, todos pensaram que a Alemanha perderia. Mas o francês Six viu o goleiro Schumacher defender seu chute e tudo ficou igual. Rummenigge e Platini converteram suas cobranças e começaram os chutes alternados. Hrubesch fez o seu e Bossis parou em Schumacher: vitória alemã por 5 a 4 e vaga na final. A Alemanha saiu do nada para o tudo em instantes, como manda a cartilha da Nationalelf. Aquele foi um dos jogos mais eletrizantes e épicos da história das Copas. Leia muito mais sobre ele clicando aqui!
Sem pernas para o tri
Na final da Copa, o técnico Derwall escalou Rummenigge como titular e o capitão era a esperança maior dos alemães para o duelo contra a Itália. Porém, o craque da camisa 11 já tinha esgotado seu estoque de façanhas com uma perna só e foi um mero espectador da fácil vitória italiana por 3 a 1, com gols de Paolo Rossi, Marco Tardelli e Alessandro Altobelli. Disputar a angustiante semifinal contra a França sob um calor de 38 graus dias antes acabou pesando demais para os alemães, além, claro, de ter de enfrentar a Itália, eterna asa negra da equipe em qualquer competição. Paul Breitner, que anotou o gol de honra da Alemanha, de pênalti, faltando sete minutos para o fim e se tornou um dos raros atletas a marcar em duas finais de Copas distintas (1974 e 1982), comentou que a Nationalelf não tinha grandes esperanças para aquela final.
“Sou realista. Não vivo de sonhos. Eu sabia disso (da derrota alemã na final da Copa) com certeza, assim como o técnico e os jogadores”.
Rummenigge, com cinco gols, foi o vice-artilheiro da Copa, atrás apenas de Paolo Rossi, com seis. Em sete jogos, a Alemanha venceu três, empatou dois, perdeu dois, marcou 12 gols e sofreu 10, um número muito aquém do esperado pelo fato de a equipe jogar na maioria das vezes no 3-5-2 e ter tido um ótimo sistema defensivo na Euro e nas Eliminatórias.
O retorno do Kaiser
Após a Copa, Derwall foi mantido no comando técnico mesmo após a polêmica fase de grupos e o futebol “aos trancos e barrancos” apresentado no Mundial da Espanha. Ele conduziu a Alemanha a mais uma Eurocopa com triunfo nas Eliminatórias e alguns bons resultados em amistosos, como a vitória por 1 a 0 sobre a Itália, em maio de 1984, no aniversário de 80 anos da FIFA. Jogando na maioria das vezes com Stielike como líbero e mais três homens à frente da zaga, o sistema de jogo germânico era bastante defensivo, mas se mostrou falho onde menos podia: na Eurocopa.
Mesmo com novos nomes entre os titulares como o talentoso lateral-esquerdo Andreas Brehme, o meio-campista Lothar Matthäus e o atacante Rudi Völler ao lado de Allofs, a Nationalelf empatou sem gols contra Portugal a partida de estreia do Grupo B, venceu a Romênia por 2 a 1 (gols de Völler), mas perdeu para a Espanha por 1 a 0 e acabou eliminada do torneio ainda na fase de grupos, terminando na 3ª colocação. E isso porque os dois primeiros iriam se classificar para as semifinais…
O resultado, seguido de uma derrota em casa por 3 a 1 para a Argentina, em amistoso disputado em setembro de 1984, culminou com a saída de Derwall e a escolha de uma lenda para o comando técnico: Franz Beckenbauer, capitão da melhor Alemanha de todos os tempos e recém-aposentado como jogador. O Kaiser tinha como missão resgatar o bom futebol da equipe e levá-la a Copa do Mundo do México, em 1986. Conhecendo muito bem os jogadores e o talento individual de cada um, ele mexeu em alguns pontos do time e passou a dar ainda mais oportunidades para nomes como Brehme, Matthäus, Völler e Littbarski, mas sem esquecer dos consagrados Rummenigge, Schumacher, Allofs, entre outros. Paul Breitner não seria mais chamado, pois se aposentou da seleção logo após a final da Copa de 1982.
Nas Eliminatórias, a Alemanha não foi dominante como na edição anterior, mas ainda sim garantiu o primeiro lugar do grupo e a vaga direta ao Mundial. A equipe bateu a Suécia, em casa, por 2 a 0, venceu Malta por 3 a 2, fora, e Portugal por 2 a 1, fora; goleou Malta por 6 a 0, em casa, fez 5 a 1 na Tchecoslováquia, fora de casa, empatou em 2 a 2 com a Suécia, fora, tropeçou diante de Portugal, em casa (derrota por 1 a 0) e empatou em 2 a 2 com a Tchecoslováquia, em casa, na última rodada. Foram oito jogos, cinco vitórias, dois empates, uma derrota, 22 gols marcados e nove sofridos. Rummenigge, mesmo sofrendo com algumas contusões, foi o artilheiro da seleção com quatro gols.
No segundo semestre de 1985, a equipe teve uma recaída com resultados ruins em amistosos e as três partidas sem vencer na reta final das Eliminatórias, mas tudo se normalizou em 1986, com quatro vitórias e um empate antes do Mundial: 2 a 1 na Itália, fora de casa; 2 a 0 no Brasil, em casa; 1 a 0 na Suíça, fora de casa; empate em 1 a 1 com a Iugoslávia, em casa, e vitória por 3 a 1 contra a Holanda, em casa. Beckenbauer levou ao México uma seleção que mesclava os atletas presentes na campanha da Espanha e do título da Euro de 1980 e ainda outros que já se destacavam na equipe após a saída de Derwall. Era uma seleção mais madura, com 16 atletas com 26 anos ou mais, sendo nove deles com 30 anos ou mais. Se dava para ser campeã? Dava, mas a equipe alemã teria que não só superar os adversários em campo como também a hostil altitude do México e o calor insuportável de Querétaro – cidade-sede do Grupo E -, que beirava fácil os 37 graus Celsius.
Fugindo dos problemas
Por conta dos problemas físicos, o capitão Rummenigge começou a Copa no banco de reservas e entraria apenas no decorrer do segundo tempo dos jogos da Alemanha na fase de grupos. Era um sacrifício que o técnico Franz Beckenbauer tinha que correr já visando a fase final, tida como garantida aos germânicos diante dos adversários relativamente fáceis do Grupo E: Uruguai, Dinamarca e Escócia. Mas, na estreia contra a Celeste Olímpica, Alzamendi abriu o placar logo aos 4’ com um belo gol e complicou as coisas para os europeus, que passaram o jogo inteiro em busca do empate, principalmente no segundo tempo, com seguidas jogadas ofensivas e bolas na área. Faltando seis minutos para o fim, Allofs aproveitou uma brecha na zaga uruguaia pela esquerda e chutou cruzado para vencer o goleiro Álvez e garantir um precioso ponto aos alemães.
Na partida seguinte, contra a Escócia, outra vez a Nationalelf saiu atrás do placar, mas conseguiu empatar com Rudi Völler e virar no começo da segunda etapa, com Allofs: 2 a 1. Na última rodada, a equipe estava em uma situação confortável, já que poderia até se classificar em terceiro lugar, pois os quatro melhores terceiros colocados tinham vaga garantida na fase final juntamente com os dois primeiros de cada grupo. Temendo enfrentar um adversário complicado vindo do Grupo D (possivelmente Brasil ou Espanha) se ficasse em primeiro lugar, a Alemanha não se esforçou muito para vencer a Dinamarca – sensação do torneio após aplicar 6 a 1 no Uruguai – e perdeu por 2 a 0, resultado que manteve os germânicos em segundo, garantindo um confronto tranquilo contra Marrocos nas oitavas de final, enquanto a líder Dinamarca enfrentou a Espanha de Butragueño (e tomou de 5 a 1…).
Rumo ao Azteca
O duelo contra os africanos, mesmo com Rummenigge começando como titular pela primeira vez, foi bem difícil. O gol alemão só saiu aos 42’ do segundo tempo, quando Lothar Matthäus acertou um de seus chutes venenosos em cobrança de falta e marcou um golaço para colocar a Alemanha nas quartas de final. Que sufoco! Na etapa seguinte, duelo complicado contra os anfitriões, que apostavam no talento e acrobacias do craque Hugo Sánchez. Outra vez a Alemanha não foi eficiente no ataque e ainda ficou com 10 jogadores a partir dos 20’ do segundo tempo, quando o defensor Berthold foi expulso.
Com praticamente toda a torcida contra, muito calor e sem um jogador, a Alemanha teve que se segurar, contou com a segurança de sempre de Schumacher e o jogo foi para a prorrogação. Nela, um mexicano foi expulso – Javier Aguirre – o placar seguiu mesmo 0 a 0 e a disputa da vaga foi para os pênaltis. Na marca da cal, a Alemanha foi absoluta e acertou todos os seus chutes (Allofs, Brehme, Matthäus e Littbarski), enquanto Quirarte e Servín foram interceptados por Schumacher, um monstro em disputas de penalidades! Apenas Negrete converteu para o México e o placar de 4 a 1 colocou a Alemanha em mais uma semifinal de Copa!
O adversário seguinte foi um velho conhecido: a França, com vários craques e campeã da Eurocopa de 1984. Mas, diferente do drama de 1982, dessa vez a partida foi toda da Alemanha. Logo aos 9’, Brehme cobrou falta ensaiada da entrada da área, o goleiro Joël Bats falhou e o placar foi inaugurado no estádio Jalisco: 1 a 0. A França ainda teve uma chance claríssima de empatar no primeiro tempo em um lance com Bossis, que chutou por cima do gol vazio após um rebote do goleiro Schumacher. No segundo tempo, Stopyra também fez grande jogada pela direita e chutou rasteiro, mas Schumacher defendeu com as pernas. Já aos 45’, em contra-ataque mortal, Allofs lançou Rudi Völler livre pelo centro, o atacante encobriu o goleiro e só teve o trabalho de tocar a bola para o gol vazio e liquidar de vez a partida: 2 a 0. Um lindo gol! De novo a Alemanha estava em uma final de Copa. Só que a equipe de Beckenbauer teria pela frente simplesmente a Argentina de Maradona…
Outra vez vice
Na decisão, Beckenbauer escalou sua força máxima, com Rummenigge, Völler, Allofs, Brehme e um trio de zaga composto por Karlheinz Förster, Jakobs e Briegel. Para tentar frear o melhor jogador do planeta na época, Maradona, Beckenbauer deu a Lothar Matthäus a tarefa quase impossível de marcar o grande astro argentino. E, como um craque imortal que ele também era, o alemão superou todas as expectativas e cumpriu sua missão, marcando Maradona em todos os cantos do campo. A Argentina abriu o placar com o zagueiro Brown e ampliou no começo do segundo tempo com Valdano. Porém, a Alemanha sempre é a Alemanha e foi atrás do empate com gols de Rummenigge e Rudi Völler.
Visivelmente cansados com o calor mexicano, os alemães tentavam levar o jogo de maneira calma, sem velocidade. Faltando quatro minutos para o fim, as mais de 114 mil pessoas no estádio Azteca já esperavam a prorrogação. Só que aconteceu o lance do Diez. Lembra que Matthäus estava colado no craque o jogo inteiro? Pois bem… Ninguém é perfeito, e no único lance que Matthäus não grudou como deveria em Dieguito, o craque argentino conseguiu dar um passe para Burruchaga fazer 3 a 2 e decretar o título argentino. A Alemanha amargava um bi-vice-campeonato mundial. Mais quatro anos seriam necessários para buscar o tri. Muito tempo depois, o técnico Franz Beckenbauer comentou sobre a final de 1986, em entrevista ao SporTV, em 13 de julho de 2014.
“Em 1986, o nosso time não estava pronto para vencer a Copa do Mundo. Era um bom time, um time excelente, mas não estava pronto para ser campeão. A Argentina era melhor. Maradona estava no auge da carreira. Então não há dúvidas de que a Argentina merecia ser campeã”.
A derrota marcou o fim de Rummenigge com o manto da Nationalelf e fez o craque ser mais uma lenda do futebol a não ter uma Copa do Mundo no currículo, assim como Puskás, Cruyff, Zico, Maldini entre outros. Mais do que isso, o alemão foi o primeiro – e até hoje único – capitão a disputar duas finais de Copas e não ser campeão.
À espera de 1990
O calvário alemão duraria mais algum tempo antes da redenção. Em 1988, a equipe foi eliminada em casa para a Holanda de Gullit e Van Basten na Eurocopa e perdeu a chance do tri continental. Só em 1990, na Copa do Mundo da Itália, que a Nationalelf venceu o sonhado tricampeonato mundial justamente diante da Argentina. Na mesma entrevista ao SporTV, Beckenbauer disse:
“Quatro anos depois, nós estávamos melhor preparados. Jovens jogadores como Lothar Matthäus, Andreas Brehme, Rudi Völler, todos estes grandes astros estavam quatro anos mais velhos, mais experientes… Foi muito melhor. Então, estávamos convencidos desde o início que tínhamos grandes chances de vencer a Copa do Mundo. E realmente ganhamos. No final, vencemos a Argentina por 1 a 0. Poderia ter sido mais, mas ficamos muito felizes com o título mundial. Nós merecemos a Copa do Mundo porque éramos o melhor time.”
O outro tri almejado pelos germânicos, da Eurocopa, veio em 1996, encerrando um ciclo de glórias e que marcou uma era de ouro do futebol do país, que competiu como poucos e venceu como só eles sabem. Afinal, vencer uma Eurocopa e disputar duas finais de Copas seguidas (três, contando a de 1990!), não é para qualquer seleção. Só para as imortais.
Os personagens:
Harald Schumacher: “vilão” dos franceses na semifinal da Copa de 1982, Schumacher ficou marcado por causa daquele lance brutal com Battiston (que ele sempre disse, inclusive em sua autobiografia, que foi um “lance normal”), mas o goleiro foi um dos maiores do mundo em sua posição nos anos 1970 e 1980. Rápido, extremamente frio e decisivo – principalmente em disputas de pênaltis -, o camisa 1 defendeu a meta alemã em 76 jogos na carreira entre 1979 e 1986, sendo titular absoluto no período. Foi ídolo no Köln, pelo qual disputou mais de 400 jogos e venceu a Bundesliga de 1977-1978 e três Copas da Alemanha. Ganhou a Bola de Prata da Copa do Mundo de 1986 como segundo melhor jogador do torneio e foi eleito o melhor futebolista alemão nos anos de 1984 e 1986.
Bernard Dietz: lateral-esquerdo e capaz de atuar como líbero e zagueiro, Dietz vestiu a camisa da Alemanha entre 1974 e 1981 e fez grandes partidas no período, principalmente na caminhada do título da Eurocopa de 1980. Foi o capitão da Alemanha no torneio continental e teve a honra de erguer a taça histórica após a vitória sobre a Bélgica. Fez carreira no Duisburg e no Schalke 04.
Bernd Förster: irmão mais velho de Karlheinz, Bernd atuava na zaga e também como volante. Não teve tanto espaço na seleção quanto o irmão, mas ainda sim disputou 33 jogos entre 1979 e 1984 pela Nationalelf.
Klaus Augenthaler: outro craque alemão que atuava na defesa, Augenthaler jogava bem como zagueiro ou líbero, com destaque para suas subidas ao ataque e seus gols. Brilhou no Bayern München, seu único time na carreira, de 1976 até 1991, e começou a ter espaço na seleção a partir de 1983. Foi titular da equipe campeã do mundo em 1990. Foram 27 jogos pela seleção entre 1983 e 1990.
Uli Stielike: como meio-campista ou líbero, Stielike demonstrava muita eficiência no apoio ao ataque e também na marcação, além de marcar gols importantes. Brilhou no Real Madrid no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, sendo fundamental para o equilíbrio do time quando a garotada da Quinta del Buitre subiu para o time principal. Pela seleção, foi titular na conquista da Euro de 1980 e na Copa do Mundo de 1982, atuando sempre como líbero. Foram 42 jogos e três gols pela Nationalelf.
Herbert Zimmermann: polivalente, tinha a rara habilidade de poder atuar como zagueiro e também como atacante ou meia. Foi assim que ajudou a seleção nas Eliminatórias para a Euro de 1980, quando marcou gols contra País de Gales e Turquia. Na Euro, perdeu espaço e acabou na reserva.
Ditmar Jakobs: jogou uma década no Hamburgo e entrou para a história do time como um dos maiores zagueiros e líberos que já vestiram a camisa branca e vermelha do clube. Técnico, raçudo e líder, foi referência no sistema defensivo do time de Ernst Happel. Encerrou a carreira no Hamburgo, em 1989, depois de sofrer um acidente em campo, quando os ganchos de fixação de um gol entraram em sua coluna e por pouco (mais precisamente dois centímetros) não lesionaram sua espinha. O susto foi enorme e fez o craque não querer saber mais de futebol. Disputou 20 jogos pela seleção entre 1980 e 1986 e esteve no grupo que disputou a Copa de 1986, jogando inclusive a final.
Norbert Eder: defensor que fez carreira principalmente no Nuremberg, pelo qual jogou por 10 anos, Eder foi convocado regularmente por Beckenbauer e foi para a Copa de 1986. No entanto, o jogador acabou de fora da seleção nos anos seguintes por conta da idade – tinha 31 anos – e a concorrência no setor.
Karlheinz Förster: o irmão “mais famoso” da família Förster foi peça constante no sistema defensivo da Alemanha na década de 1980 por sua notável habilidade de marcação individual, causando sérios problemas aos atacantes que tinham que enfrentá-lo. Vestiu a camisa da seleção em 81 jogos e foi titular absoluto na conquista da Euro de 1980 e também nas campanhas dos vices das Copas de 1982 e 1986. Venceu títulos no Stuttgart e no Olympique de Marselha.
Manfred Kaltz: um dos grandes defensores do futebol alemão e mundial nos anos 1970 e 1980, Kaltz foi um mito no Hamburgo, onde jogou de 1971 até 1989, com uma passagem no futebol francês até encerrar a carreira no mesmo Hamburgo, em 1991. Disputou mais de 580 partidas na Bundesliga, um dos recordistas, além de ser perito em cobranças de pênalti, marcando 53 dos seus 76 gols na competição dessa maneira. Dava cruzamentos formidáveis, muitos com curvas bizarras durante suas trajetórias. Foram 69 jogos e oito gols pela seleção entre 1978 e 1983, além do título da Euro de 1980 e o vice na Copa de 1982, ambos como titular.
Thomas Berthold: era um dos muitos jogadores alemães que fizeram carreira no endinheirado futebol italiano do final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Lateral-direito muito forte na marcação, Berthold ganhou suas primeiras oportunidades na seleção com o técnico Beckenbauer e disputou 62 jogos pela Alemanha entre 1985 e 1994, sendo uma das peças fundamentais para o título mundial de 1990.
Bernd Schuster: com uma facilidade incrível para bater na bola e capaz de fazer lançamentos de 40 metros de olhos fechados, Schuster foi um dos meio-campistas mais talentosos de seu tempo e fez da Eurocopa de 1980 a vitrine ideal para apresentar seu futebol. Foi um dos melhores do torneio e fundamental para o título continental da seleção. Uma pena que uma série de divergências entre ele, a federação e o técnico Jupp Derwall acabaram minando seu espaço na equipe, da qual ele se aposentou com apenas 24 anos e preferiu seguir carreira nos clubes. Schuster brilhou no Barcelona, no final da Quinta del Buitre do Real Madrid, entre outros. Foram 21 jogos e quatro gols pela Nationalelf.
Bernhard Cullmann: meio-campista que podia atuar mais recuado, como terceiro homem na zaga, e também aparecendo no ataque, Cullmann esteve no grupo campeão da Copa de 1974 e também na Euro de 1980. Disputou 40 jogos e marcou seis gols pela seleção entre 1973 e 1980. Jogou toda a carreira no Köln, pelo qual disputou mais de 340 jogos.
Wolfgang Dremmler: metalúrgico e futebolista, Dremmler jogou de 1981 até 1984 na seleção e foi titular da Alemanha na Copa de 1982, atuando inclusive na final contra a Itália. Jogava mais recuado, com muita eficiência na marcação e nos passes. Brilhou no Bayern do começo dos anos 1980. Disputou 27 jogos e marcou três gols pela seleção.
Lothar Matthäus: meio-campista cheio de técnica, vigor, força de marcação, precisão no desarme, chute poderoso e muita liderança. Além de tudo isso, tinha um raro senso de posicionamento, era exímio passador e sempre aparecia no ataque como um verdadeiro meia. Lothar Matthäus é uma lenda absoluta e um dos maiores craques da história não só de seu país, mas também de todos os tempos. Seu debute no Borussia Mönchengladbach, em 1979, fez com que ele recebesse já em 1980 uma vaga na Alemanha que venceu a Eurocopa daquele ano.
A partir dali, sua carreira decolou e Matthäus disputou cinco Copas do Mundo. Líder e um craque com a bola nos pés, Matthäus capitaneou a Alemanha campeã do mundo na Copa de 1990. O alemão conquistou quase todos os títulos possíveis para um futebolista profissional (dos maiores, só faltou a Liga dos Campeões da UEFA). O craque ostenta até hoje o recorde de jogos disputados pela Alemanha na história: 150 partidas, além de 23 gols, entre 1980 e 2000. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Hansi Müller: o meia vivia uma fase marcante naquele começo de anos 1980 quando foi convocado para a Eurocopa e ajudou a equipe a levantar a taça com atuações decisivas e muita movimentação. Dava passes precisos e tinha um perigoso chute de perna esquerda, além de demonstrar carisma e muita personalidade em campo. Disputou 42 jogos e marcou cinco gols pela Alemanha entre 1978 e 1983. Esteve na Copa do Mundo de 1982 e foi titular em dois jogos.
Paul Breitner: ele era genioso, mas também genial. Emendava poderosos chutes de fora da área, efetuava lançamentos precisos para os companheiros, exibia sua habilidade e velocidade e assumia a liderança de uma partida com um ar extremamente sólido e sem temer adversário algum. O caminho natural para Paul Breitner não poderia ser outro: quase todos os principais títulos possíveis para um jogador de futebol, as maiores glórias pela seleção e idolatria eterna das torcidas do Bayern München e do Real Madrid, além do reconhecimento de todos como um dos mais talentosos e completos defensores de todos os tempos.
Breitner mostrou sua versatilidade com o passar do tempo ao atuar como meio-campista com tanta qualidade como nos tempos de lateral, a ponto de voltar à seleção alemã oito anos depois do título mundial de 1974 e mais uma vez conduzir sua equipe a uma final de Copa, em 1982, que seria perdida para os italianos. Mas Breitner conseguiu enriquecer ainda mais sua carreira ao balançar as redes nas duas decisões de Mundial que disputou, tornando-se um dos quatro craques a conseguir tal feito (os outros foram Pelé e Vavá, do Brasil, e Zidane, da França). Foram 48 jogos e 10 gols pela seleção da Alemanha, defendida entre 1971 e 1986 pelo craque, e duas Copas do Mundo disputadas (1974 e 1982). Leia mais sobre ele clicando aqui!
Felix Magath: filho de pai porto-riquenho e mãe alemã, Magath é o maior ídolo da história mais do que centenária do Hamburgo, maestro do meio de campo do time de 1976 até 1986, autor de gols decisivos e do maior gol de todos: o do título europeu de 1983, em cima da poderosa e favorita Juventus. Foi campeão da Euro de 1980 e disputou as Copas de 1982 e 1986. Embora nunca tenha tido o mesmo desempenho na seleção que o fez lenda no Hamburgo, Magath foi importante para a dominância alemã naquela década nas competições que disputou. Foram 43 jogos e três gols pela equipe.
Hans-Peter Briegel: o polivalente Briegel foi um dos principais craques de sua época e também um exemplo de atleta (ele chegou a praticar Decathlon e diversos esportes como salto triplo e salto em distância!). Briegel podia jogar como zagueiro, lateral, volante ou meia sempre com a mesma habilidade e a mesma eficiência. Com um fôlego invejável e grande presença física (tinha quase 1,90m de altura), era um terror para os adversários e marcava diversos gols em suas subidas ao ataque. Foi titular da Alemanha atuando na lateral-esquerda do time campeão da Eurocopa de 1980 e também nas Copas de 1982 (como lateral-esquerdo) e 1986 (como zagueiro pela esquerda, permitindo a entrada de Brehme no time titular). Foram 72 jogos e quatro gols pela Nationalelf. Briegel foi uma lenda, também, do Hellas Verona campeão do Campeonato Italiano de 1984-1985.
Andreas Brehme: foi o dono da lateral-esquerda alemã após a chegada de Beckenbauer ao comando técnico e esteve no time vice-campeão da Copa de 1986, fazendo grandes jogos e marcando gols. Foi um dos maiores batedores de faltas e pênaltis da história e um dos maiores especialistas em cruzamentos para a área. Tinha um petardo na perna direita e foi absoluto na equipe alemã por uma década, de 1984 até 1994. Foi, sem dúvida, um herói alemão na conquista da Copa de 1990, quando marcou, de pênalti, o gol do título. Foram 86 jogos e oito gols pela Nationalelf. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Karl-Heinz Rummenigge: ele era forte, inteligente, driblador, tinha uma aceleração explosiva, iniciava as jogadas, mas também as construía na plenitude, marcando gols de arrancadas fulminantes, de cabeça e de tudo quanto era jeito. Um desavisado poderia até pensar que ele era latino. Mas não. Ele era alemão. E muito. O mundo do futebol teve o privilégio de presenciar no final dos anos 1970 e em grande parte da década de 1980 o esplendor de um dos maiores atacantes da história do esporte e também um dos mais talentosos que já existiu. Com a bola nos pés, Rummenigge parecia um touro fulminante que deixava gélidos os zagueiros rivais, que não tinham ferramentas ou talento disponíveis para frear aquele craque que transbordava talento, objetividade e faro de gols. Uma pena que ele não tenha conquistado uma Copa do Mundo, pois seu futebol merecia demais. Rummenigge disputou 95 jogos e marcou 45 gols pela Alemanha. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Horst Hrubesch: era um fenômeno dentro da área, principalmente de cabeça. Foi a referência máxima no ataque do Hamburgo de 1978 até 1983, sendo até o capitão da equipe e tendo a honra de erguer a taça da Liga dos Campeões da UEFA em 1983. Foi herói do título da Eurocopa de 1980 da Alemanha, quando marcou os dois gols da final contra a Bélgica. Após a Copa de 1982, perdeu espaço na seleção e não foi mais convocado. Disputou 21 jogos e marcou seis gols pela Nationalelf entre 1980 e 1982.
Klaus Fischer: depois de arrebentar nas Eliminatórias da Eurocopa e ser o artilheiro da equipe, Fischer era nome certo para o ataque alemão, mas acabou se lesionando e ficou de fora da competição vencida pela Nationalelf. Ele se recuperou e seguiu entre os preferidos do técnico Derwall, que levou o atacante para a Copa de 1982 e não se decepcionou, pois Fischer marcou o golaço que empatou o eletrizante duelo contra a França na semifinal e levou a partida aos pênaltis. Fischer disputou 45 jogos pela seleção entre 1977 e 1982 e marcou 32 gols, uma das melhores médias de gols da história da equipe.
Klaus Allofs: atacante oportunista e muito criativo, foi presença constante nas convocações da Alemanha nos anos 1980 e fez grandes jogos pela Nationalelf, além de dar preciosas assistências – vide a do gol de Völler contra a França, na Copa de 1986. Allofs disputou 56 jogos e marcou 17 gols pela Alemanha entre 1978 e 1988, faturou a Eurocopa de 1980 como artilheiro (seus três gols foram em um só jogo, contra a Holanda) e esteve no time vice-campeão da Copa de 1986.
Pierre Littbarski: presença constante na seleção alemã entre 1981 e 1990, Littbarski foi um dos grandes meias e atacantes do futebol mundial naquele período. Driblava como poucos e era muito perigoso em contra-ataques. Fez parte do time alemão vice-campeão nas Copas de 1982 e 1986. Jogou a final contra a Argentina em 1990 e teve seu papel na conquista do tão sonhado título.
Rudi Völler: outro grande atacante de seu tempo, Rudi Völler despontou sob as mãos de Beckenbauer na seleção e fez uma grande Copa do Mundo em 1986, marcando belos gols e mantendo a seleção viva na final contra a Argentina. Quatro anos depois, fez uma dupla de ataque inesquecível com Klinsmann, marcando gols e conduzindo o ataque alemão ao título da Copa de 1990. Brilhou no futebol italiano e francês, conquistando inclusive uma Liga dos Campeões da UEFA pelo Olympique de Marselha, em 1993.
Jupp Derwall e Franz Beckenbauer (Técnicos): os anos de experiência ao lado de Helmut Schön ajudaram Derwall a moldar a reconstrução da Alemanha e fazer da equipe mais uma vez campeã da Europa em 1980. Com um sistema defensivo muito forte e explorando bastante o talento de Rummenigge, Hansi Müller e os laterais Kaltz e Briegel, Derwall mereceu os méritos por aquela taça, mas poderia ter sido mais ousado na Copa de 1982 e não precisava manchar sua trajetória com o jogo da vergonha contra a Áustria. Após o vice no Mundial da Espanha, perdeu a força e deu lugar a Beckenbauer, que não tinha experiência alguma quando foi nomeado pela DFB o treinador da seleção, em 1984. Nem o mais otimista torcedor poderia imaginar o sucesso que ele teve.
Com seu conhecimento absoluto em futebol e táticas vividas com a camisa da própria Alemanha e, principalmente, do Bayern, o Kaiser comandou a seleção germânica no vice-campeonato da Copa de 1986, foi semifinalista da Euro de 1988 e conquistou de maneira categórica a Copa de 1990. Ele foi o responsável por dar ainda mais liberdade a craques como Rummenigge, Völler e Matthäus, além de lançar os jovens Brehme e Klinsmann e montar uma defesa fortíssima no Mundial de 1990 com Kohler, Augenthaler e Buchwald. Em 66 jogos, Beckenbauer acumulou 34 vitórias, 20 empates, 12 derrotas, 107 gols marcados e 61 sofridos. Já Derwall é até hoje o técnico com melhor aproveitamento da história da seleção alemã: 65,6%, sendo 45 vitórias, 11 empates e 11 derrotas.
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Quantos jogadores de qualidade! Fisher, Hrubesch, Voller, Klinsmann, Matthaus, Brehme, Magath… Fico a pensar se essa seleção é realmente favorita para a euro dado o desempenho na copa de 2018, foi decepcionante ver uma equipe com tanta história ser eliminada na primeira fase. Torço para que eles voltem a brilhar.
Parabéns pela página que já acompanho há quase cinco anos e continua brilhante como sempre. Sugestão de craque imortal: Rudi Voller.
Muito obrigado pelos elogios e prestígio, Cristiano! A Alemanha teve realmente uma leva de craques magnífica nos anos 1980! Abração 😀
Imortais, estava com saudade de você lançar Seleções Imortais! Valeu a espera! E posso dizer que você “completou a coleção”. Agora, todos os campeões da Eurocopa estão imortalizados. Achava que era questão de tempo até você lançar essa Alemanha campeã de 1980. Sobre Copa do Mundo, os alemães foram ótimos em 1986 e só não ganharam porque a Argentina tinha um Maradona inspiradíssimo (descanse em paz, Diego!), além de outros jogadores bons para ajudá-lo.
O problema foi a mancha de 1982, porque a Alemanha tinha ótima seleção e não precisava daqueles absurdos. O que eles e os austríacos fizeram em Gijón foi uma afronta ao futebol e à Argélia. E o Schumacher foi um grande goleirão. Ele não precisava fazer o que fez com Battiston na semi. Futebol e suas doideiras, não é Imortais? Grande Abraço!
Muito obrigado, Miguel! Agora está tudo completo hehehe! De fato, a Alemanha teve uma leva de craques estupenda nos anos 1980 e deu azar de enfrentar justo a Itália, eterna asa negra, em 1982, e a Argentina com Maradona no auge, em 1986. Caso contrário eles teriam levado talvez as duas Copas. Abração! 😀