Data: 09 de julho de 2025
O que estava em jogo: uma vaga na final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2025.
Local: MetLife Stadium, New Jersey, EUA.
Árbitro: Szymon Marciniak (Polônia)
Público: 77.542 pessoas
Os Times:
Paris Saint-Germain: Donnarumma; Hakimi, Marquinhos, Beraldo e Nuno Mendes (Lee); Vitinha, João Neves e Fabián Ruiz (Zaïre Emery); Doué (Mayulu), Dembélé (Gonçalo Ramos) e Kvaratskhelia (Barcola). Técnico: Luis Enrique.
Real Madrid: Courtois; Valverde, Asencio (Éder Militão), Rüdiger e Fran García; Tchouaméni, Arda Güler (Lucas Vásquez) e Bellingham (Modric); Mbappé, Gonzalo García (Carvajal) e Vini Jr (Brahim Díaz). Técnico: Xabi Alonso.
Placar: PSG 4×0 Real Madrid. (Gols: Fabián Ruiz-PSG, aos 6’ e aos 24’, e Dembélé-PSG, aos 9’ do 1º T; Gonçalo Ramos-PSG, aos 42’ do 2º T).
“A Máquina de Paris”
Por Guilherme Diniz
A semifinal da Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2025 bem que poderia ser a grande decisão. De um lado, o campeão europeu PSG. Do outro, o campeão europeu de 2024 e então campeão mundial Real Madrid. Era talvez o principal jogo daquela Copa, maior até do que o PSG 2×0 Bayern das quartas de final. O Real tinha aquela mística toda, a camisa mais pesada do futebol, praticamente toda torcida a seu favor em New Jersey. E tinha Mbappé, em seu primeiro jogo contra seu ex-clube. Só que o PSG tinha um time. Era o maior do mundo naquele ano. Do goleiro ao ponta, era uma equipe completa, irretocável, bem treinada.
E, quando a bola rolou no MetLife Stadium, o PSG parecia tão místico quanto seu adversário. Dominava as ações, tocava a bola incessantemente, empurrava os espanhóis, forçava o erro. O primeiro aconteceu logo aos 6’, quando Asencio cochilou e Fabián Ruiz abriu o placar. Três minutos depois, outro erro fatal e gol de Dembélé. Mais alguns minutos e o terceiro gol foi uma obra-prima de futebol, que parecia contra-ataque, mas na verdade era um ataque arquitetado e construído lá de trás, uma armadilha na qual o Real caiu como se fosse um time amador. O placar de 3 a 0 era um assombro. Em apenas 24 minutos. “Um time de homens contra um time de meninos”, diria alguém lá em 2014. Mas era PSG x Real Madrid. No finalzinho, quase saiu o quarto, mas Courtois evitou.
Na segunda etapa, o PSG só precisou administrar sua vantagem diante de um Real impotente. Acontece que aquele placar não condizia com a realidade. Era pouco. E, já perto do final, Gonçalo Ramos fez o quarto gol e deu um pouco mais de embasamento à realidade: PSG 4×0 Real Madrid. A vaga na final estava garantida. Um choque de realidade padeceu sobre os espanhóis. E, se alguém ainda acreditava que os 5 a 0 na Inter em plena final de UCL era um jogo atípico, bem, deveriam parar de pensar bobagem. Aquele PSG era simplesmente uma máquina. É hora de relembrar.
Sumário
Pré-jogo

Após a definição das oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2025, o lado direito da chave foi considerado o mais difícil do torneio e com mais equipes candidatas ao título. O PSG era um deles e eliminou logo de cara o Inter Miami, de Messi e Suárez, com um 4 a 0 inapelável e construído apenas no primeiro tempo. Nas quartas, o grande desafio: enfrentar o Bayern München-ALE, que vinha de triunfo por 4 a 2 sobre o Flamengo-BRA nas oitavas de final. O jogo foi equilibrado na primeira etapa e o time alemão impôs bastante dificuldade ao time de Luis Enrique, que só conseguiu encaixar seu jogo no segundo tempo, quando passou a pressionar ainda mais a saída de bola bávara e o goleiro-líbero Neuer, que se atrapalhou em alguns lances e quase complicou o Bayern.
De tanto pressionar, o PSG conseguiu abrir o placar com Doué e, na reta final, mesmo com dois jogadores expulsos – Pacho e Lucas Hernandez – conseguiu marcar mais um gol em contra-ataque mortal após jogadaça de Hakimi, que deixou três marcadores para trás antes de tocar para Dembélé fazer o 2 a 0. Mesmo desfalcado de Pacho, o PSG teria Beraldo ao lado de Marquinhos na zaga e força máxima do meio para frente para o duelo contra o Real Madrid, que vinha em franca ascensão no torneio.

Após o empate em 1 a 1 contra o Al-Hilal-ARS, na estreia, os merengues venceram seus outros dois jogos (3 a 1 no Pachuca-MEX e 3 a 0 no RB Salzburg-AUT) para se classificar na primeira colocação. Nas oitavas, o Real despachou a Juventus-ITA por 1 a 0, e, nas quartas, dominou o Borussia Dortmund-ALE ao abrir 2 a 0 até a reta final da partida, quando levou um gol. Mbappé ampliou para 3 a 1, mas o Borussia descontou em gol de pênalti já nos acréscimos e só não empatou porque Courtois fez uma defesa sensacional em chute de Sabitzer. Além do susto, o Real viu seu melhor zagueiro, Huijsen, ser expulso e “ganhou” um desfalque de enorme peso para a semifinal.
O técnico Xabi Alonso teria que voltar a escalar o jovem Asencio ao lado de Rüdiger na zaga madrilena e, pouco antes da semifinal, teve mais uma baixa: o lateral-esquerdo Alexander-Arnold, que sentiu um desconfortou no treino e foi substituído por Fran García. Um fato é que a escalação de Asencio era vista com preocupação pela torcida, pois o espanhol vinha de erros grosseiros naquele Mundial e ainda uma expulsão na fase de grupos. Por outro lado, Mbappé jogaria como titular pela primeira vez após superar um problema de saúde que o tirou de combate em toda fase de grupos. Era, claro, um jogo sem favoritos, ainda mais pelo fato de o Real Madrid querer salvar uma temporada na qual colecionou fracassos e perdeu todos os títulos nacionais que disputou para o rival Barcelona e foi eliminado nas quartas de final da UCL para o Arsenal. Já o PSG seguia pleno em busca de mais um caneco e querendo gabaritar tudo em uma temporada que já era histórica.
Primeiro tempo – 24 minutos de terror

O MetLife Stadium mais parecia uma filial do Santiago Bernabéu quando a bola rolou. Com a maioria de suas arquibancadas tomada por camisas brancas, o estádio era um trunfo do Real Madrid para aquele jogo, só que o PSG era inabalável. Com um nível competitivo altíssimo, o time de Luis Enrique começou a atacar logo aos 2’, quando Kvaratskhelia apareceu na ponta-esquerda e chutou cruzado, levando perigo ao gol de Courtois. No minuto seguinte, Dembélé dominou pela direita, deixou com Hakimi, que devolveu para o camisa 10 e este tocou para Fabián Ruiz, que chutou no cantinho e Courtois se esticou todo para mandar para escanteio. A blitz parisiense continuou e, aos 4’, tabela entre Hakimi, Dembélé e Doué, este deixou de calcanhar para Hakimi cruzar e Nuno Mendes finalizar dentro da área, mas Courtois defendeu milagrosamente!
De tanto pressionar, o PSG chegou ao primeiro gol aos 6’, quando Doué fez boa jogada pela direita e mandou para a área, Asencio tentou dominar, cochilou, e Dembélé desarmou o espanhol. Na tentativa de finalizar, o atacante foi derrubado por Courtois, pênalti, que nem precisou ser marcado, pois Fabián Ruiz apareceu para aproveitar o rebote e fazer 1 a 0. Os trabalhos começaram cedo em New Jersey! Mal deu tempo de o Real se recuperar do gol e três minutos depois o zagueiro Rüdiger ficou com “inveja” do companheiro de zaga e também cochilou (era tanto calor assim?) ao tentar efetuar um passe. O alemão furou bisonhamente e Dembélé roubou a bola, saiu em disparada e chutou sem chances para o goleiro: 2 a 0.


A torcida merengue, que começou a partida até que animada, emudeceu. Do outro lado, atrás do gol de Donnarumma, a pequena organizada do PSG começou a festa, os cânticos e os batuques tão comuns no Parque dos Príncipes e que embalaram o clube na decisão da UCL em Munique. Era um desfile do Paris, de alta grife, alto futebol. O Real não conseguia criar nem ao menos levar algum perigo à zaga francesa, cujos brasileiros Marquinhos e Beraldo simplesmente viam tudo aquilo sem sustos nem trabalhos. O PSG brigava pela bola a todo momento, roubava, começava lá de trás, engatilhava ataques. Aos 19’, Hakimi recebeu de João Neves na entrada da área e chutou para fora, à direita da trave de Courtois. Aos 20’, Vini recebeu de Courtois, mas perdeu o tempo da bola na hora de chutar e Nuno Mendes desarmou o brasileiro com facilidade. Nos minutos seguintes, o Real apareceu com mais intensidade, primeiro, em lance de Tchouaméni, depois, com Mbappé, mas as oportunidades pararam na zaga e em Donnarumma.

Já perto dos 24’, o terceiro gol parisiense saiu como uma cátedra, ou melhor, une classe. Em exatos 59 segundos, o PSG trocou 36 passes até chegar ao gol que praticamente consolidou a vitória. Tudo começou lá atrás, com Donnarumma, que saiu jogando com João Neves. Após troca de passes entre os zagueiros, Vitinha apareceu na lateral-direita, enquanto Hakimi se deslocou para o centro. Vitinha passou a atrair os atacantes do Real e lacunas foram abertas antes do meio de campo. Rodando a bola, o PSG voltou com Donnarumma, que deixou com Hakimi, já na direita. O lateral tocou para Doué, que devolveu para o marroquino, e este viu a zaga madrilena completamente aberta graças à tática de atrair o rival para seu campo.
Parecia uma ação de contra-ataque, mas era um ataque construído de maneira inteligente e impressionante. A armadilha perfeita. No avanço, Hakimi tocou para Dembélé, que tocou de primeira em profundidade para Hakimi. O lateral avançou até a linha de fundo, cruzou para a área, Fabián Ruiz dominou, superou a marcação e chutou para completar a obra-prima parisiense: 3 a 0. Que passeio! Que amasso! E em cima do todo-poderoso Real Madrid em plena semifinal de Copa do Mundo de Clubes! Não era amistoso, nem torneio de verão, muito menos um time da MLS! E tudo em apenas 24 minutos.


Aquele placar tão elástico em tão pouco tempo poderia sugerir um PSG mais passivo e calmo, mas o time seguiu atacando, quando Kvaratskhelia tentou a finalização, aos 30’, e a bola acabou batendo em Tchouaméni. Aos 39’, Kvaratskhelia recebeu na esquerda e tabelou com Dembélé para entrar na área. Ele cortou e chutou, mas a bola foi para fora. O jogo era todo do Paris, que jogava nos embalos de sua torcida, responsável pela trilha sonora de um estádio mudo e perplexo com a queda iminente do gigante madrileno. Já nos acréscimos, Dembélé tentou um cruzamento, mas acabou mandando direto para o gol e surpreendeu Courtois, que teve que se esticar para defender. O árbitro nem deu escanteio e acabou ali mesmo.
Pensar em uma virada merengue àquela altura soava devaneio. A não ser que Xabi Alonso mostrasse aos seus comandados um replay da final da UCL de 2005 entre Milan e Liverpool, quando o Milan vencia por 3 a 0 os Reds e, no segundo tempo, viu o time inglês empatar o jogo, com um dos gols anotados por Xabi Alonso, inclusive. Há 20 anos atrás, foi o Milagre de Istambul. Mas será que existia margem para o Milagre de New Jersey? Bem, camisa o Real Madrid tinha e de remontada ele sempre entendeu, como ensinaram os times dos anos 1980 e o time de 2021-2022. Já futebol… Quem tinha era o PSG, com quase 75% de posse de bola na etapa inicial e 12 finalizações contra apenas três do Real Madrid. E 3 a 0 no placar.
Segundo tempo – Administrar e expor a realidade

As equipes voltaram sem mudanças para a etapa final e logo aos 2’ o PSG teve um gol anulado, de Doué, por impedimento. Parecia que o time francês iria seguir atacando a fim de impor uma goleada histórica, mas Luis Enrique orientou seus jogadores a tocar mais a bola e não permitir que o Real conseguisse reagir. Os parisienses nem precisavam se desgastar, pois conseguiam chegar ao ataque em poucos toques, com Kvaratskhelia, aos 11’, e Hakimi, logo depois. Conforme o tempo foi passando, parecia que o placar estava mais do que aceito para ambas as partes e as mudanças começaram. O PSG tirou Kvara e Dembélé e promoveu as entradas de Barcola e Gonçalo Ramos, enquanto o Real Madrid sacou Asencio, Bellingham e Vini Jr (trio que não jogou nada naquele dia) e colocou Éder Militão, Modric (em seu último jogo com a camisa do clube) e Brahim Díaz. Aos 20’, foi a vez de Doué e Fabián Ruiz deixarem o gramado para as entradas de Mayulu e Zaïre-Emery.
Logo aos 22’, Mayulu lançou Gonçalo Ramos pela direita e o português disparou em contra-ataque. O camisa 9 finalizou da entrada da área, mas Rüdiger conseguiu interceptar. Aos 25’, o Real mexeu de novo e Carvajal entrou no lugar de Gonzalo García (outro nulo em campo), mas as mexidas em nada alteraram o jeito de jogar da equipe merengue. Tanto é que, aos 26’, Hakimi recebeu na direita, com muita liberdade, e lançou Gonçalo Ramos na área. O português carregou e chutou cruzado, mas a bola foi pela linha de fundo. Após mais duas mudanças, uma para cada lado, o Real só conseguiu chegar com perigo aos 39’, quando Militão aproveitou escanteio cobrado por Modric e cabeceou, mas mandou a bola para fora.

Aos 42’, Hakimi recebeu passe em profundidade e engatilhou contra-ataque rápido. O lateral cruzou na área para Barcola, que entortou Militão, Carvajal, Militão de novo e tocou para Gonçalo Ramos, que protegeu, girou e bateu forte, sem chance para Courtois: 4 a 0. Virou passeio! Gol de video-game! Bem, já era um passeio, mas aquele placar estava muito mais digno do que era o jogo. O árbitro Marciniak nem precisou sinalizar qualquer minuto de acréscimo. Aos 45’, o jogo acabou e o PSG garantiu sua vaga na final. Foi o terceiro show parisiense naquela Copa, a exemplo dos 4 a 0 sobre o Atlético e os 4 a 0 no Inter Miami – sem contar os 2 a 0 no Bayern, com direito a gol da vitória com dois jogadores a menos. Ao fim da partida, a superioridade do PSG se refletiu não só no placar e no futebol, mas em todos os principais dados estatísticos:
- 63% de posse de bola do PSG contra 30% do Real (7% em disputa)
- 18 chutes a gol do PSG e 11 do Real
- 8 chutes no gol do PSG e 4 do Real
- 647 passes do PSG contra 283 do Real

Jogando um futebol primoroso e irrepreensível, o PSG só confirmou o que o mundo sabia desde aqueles 5 a 0 diante da Internazionale na final da UCL: o melhor time do planeta vem de Paris. E mostrou isso ao mais laureado clube do planeta naquele 09 de julho de 2025 em New Jersey, que conheceu La Machine de Paris.
Pós-jogo: o que aconteceu depois?
PSG: melhor jogador da partida, Fabián Ruiz comentou à FIFA sobre o desempenho mágico do Paris. “É uma sensação maravilhosa. Acho que foi uma partida muito especial, muito maravilhoso estar neste campo contra um grande time como o Real Madrid. […] Acho que toda a equipe fez uma ótima partida. Estou feliz com o trabalho que fizemos, por ser o MVP, que é o meu primeiro neste torneio. A verdade é que é sempre algo muito especial poder receber um prêmio como este. É hora de comemorar por estarmos em mais uma final”, disse o espanhol. Quem também falou sobre aquela goleada foi o técnico Luis Enrique, destacando Dembélé. “Foi o primeiro jogo que pudemos usar o Ousmane (Dembélé) desde o começo. Ele estava lesionado e precisamos cuidar dele. Acho que é o melhor jogador da temporada. Ele merece ganhar tudo porque ele deu tudo ao clube”.
O PSG foi para a decisão contra o Chelsea-ING como favorito pleno ao título. Só que os jogadores pensaram que aquela partida estava ganha e não entraram com a devida concentração e vontade dos outros jogos, bem diferente do seu adversário. Resultado? Chelsea 3×0 PSG, fora o baile. Detalhe: o placar foi construído ainda no primeiro tempo, mesmo roteiro da semifinal dos franceses contra o Real Madrid…

Real Madrid: “Eles nos sufocaram com pressão. Quando tínhamos a posse de bola, não conseguíamos encontrar espaço para nos recompor ou representar qualquer ameaça a eles. Acho que a diferença foi a forma como eles pressionaram e a forma como nós pressionamos; não fomos tão eficazes e demos tempo demais a eles. Eles são um time excelente, e quando você dá tempo e espaço demais, eles te destroem”. Foi assim que o goleiro madrileno Thibaut Courtois sintetizou a derrota do Real logo após a partida. A imprensa espanhola, claro, não poupou críticas e rechaçou a fragilidade defensiva do time desde os tempos de Carlo Ancelotti, além dos erros gritantes dos zagueiros e a falta de decisão do trio de ataque, sobretudo Vini Jr, em sua pior temporada pelo clube desde 2022. Xabi Alonso terá muito trabalho pela frente…
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Já tô com saudades desse super mundial pois quantos jogacos em alto nível vimos e a próxima Champions promete muito mais ainda.