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Jogos Eternos – Internazionale 4×3 Barcelona 2025

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Foto: AP Photo/Antonio Calanni
frattesi comemora gol da inter de milao sobre o barcelona em partida da champions league
Frattesi comemora o gol da virada. Foto: REUTERS/Alessandro Garofalo
 

Data: 06 de maio de 2025

O que estava em jogo: uma vaga na final da Liga dos Campeões da UEFA de 2024-2025.

Local: Estádio Giuseppe Meazza, Milão, Itália

Árbitro: Szymon Marciniak (POL)

Público: 75.504 pessoas

Os Times:

Internazionale-ITA: Sommer; Bisseck (Darmian), Acerbi e Bastoni; Dumfries (De Vrij), Barella, Çalhanoglu (Zielinski), Mkhitaryan (Frattesi) e Dimarco (Carlos Augusto); Marcus Thuram e Lautaro Martínez (Taremi). Técnico: Simone Inzaghi.

Barcelona-ESP: Szczesny; Eric García (Héctor Fort), Martínez (Ronald Araújo), Cubarsi (Pau Victor) e Gerard Martín; De Jong e Pedri (Gavi); Lamine Yamal, Dani Olmo (Fermín López) e Raphinha; Ferran Torres (Lewandowski). Técnico: Hansi Flick.

Placar: Internazionale 4×3 Barcelona. Gols: (Lautaro Martínez-INT, aos 21′ e Çalhanoglu-INT, aos 45’ do 1ºT; Eric García-BAR, aos 8′, Dani Olmo-BAR, aos 15′, Raphinha-BAR, aos 42′ e Acerbi-INT, aos 45′ + 3′ do 2ºT; Frattesi-INT, aos 9′ do 1ºT da prorrogação).

 

“As Semifinais da Eternidade”

Por Guilherme Diniz

Após a definição do duelo entre Barcelona e Internazionale em uma das semifinais da Liga dos Campeões da UEFA de 2024-2025, todos começaram a recordar o embate entre espanhóis e italianos lá em 2010, quando a Inter de Mourinho eliminou o poderoso Barcelona de Guardiola em dois jogos sensacionais, com vitória da Inter por 3 a 1 na ida, em Milão, e vitória magra dos blaugranas por 1 a 0 no Camp Nou, em jogo dramático no qual os nerazzurri jogaram com um a menos desde os 28’ do primeiro tempo e Mourinho “estacionou o ônibus” para evitar mais gols do rival. Muita coisa mudou nesses 15 anos, mas seguia uma cartilha comum: o Barça de 2025 tinha o melhor ataque da UCL, enquanto a Inter ostentava a melhor defesa.

Mas o que dizer de uma eliminatória na qual a melhor defesa marca 7 gols em dois jogos e o melhor ataque marca 6 gols? O que dizer de um time que abre 2 a 0 na casa do rival, leva o empate, faz 3 a 2 e leva o empate de novo? O que dizer de um time que abre 2 a 0 em sua casa, mas vê o rival tomar as rédeas da partida, empatar, virar faltando três minutos para o fim e por muito pouco não ampliar para 4 a 2? E o que dizer quando esse time da casa, na lona, aguardando a contagem para ser derrotado, encontra o último suspiro e, nos acréscimos, empata (de novo!) o jogo com um zagueiro se aventurando no ataque? E o que dizer desse mesmo time, alucinado, marcando o gol da virada na prorrogação? E o que dizer quando o rival vai pra cima e não consegue o gol por conta de defesas monumentais de seu goleiro? 

Só podemos dizer uma coisa: spettacolo! Ou a maior semifinal da história da Liga dos Campeões da UEFA, pelo menos em número de gols (13 gols), de placar agregado (7 a 6) e de intensidade e tamanho dos dois jogos realizados por Inter e Barça. Se em 2010 um só time atacou no jogo da volta, em 2025 tivemos dois times sedentos por gols, pela vitória e pela final europeia. Tivemos dois times estupendos, que jogaram um futebol energético e deslumbraram. O conjunto das semifinais realizadas em Barcelona e Milão entrou direto para a história. Um jogo que, por momentos, parecia que não teria vencedor. Ou talvez nem merecia. “Jogue tudo para os pênaltis”, certamente alguém pensou. Mas deu Inter, valente Inter. É hora de relembrar.

Pré-jogo – Barcelona 3×3 Internazionale 

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Yamal (centro) foi o grande nome ofensivo do Barça nas semifinais.
 

A maior semifinal da UCL começou no estádio Olímpico de Barcelona, em 30 de abril, onde o melhor ataque do torneio (Barcelona, com 37 gols) encarou a melhor defesa (Inter, com apenas cinco gols sofridos em 12 jogos, além de ser a equipe que mais jogos ficou sem sofrer gols – 8 partidas). Jogando diante de mais de 50 mil pessoas, o Barça sabia que seu templo, o Camp Nou (em obras), fazia falta. Mas o time culé precisava construir o resultado ali, nas distantes arquibancadas de Montjuïc, para ir à Itália com alguma vantagem. 

Só que os blaugranas levaram um susto daqueles quando, aos 30 segundos, Marcus Thuram recebeu dentro da área e tocou de letra para fazer um golaço e abrir o placar para os italianos. Exatos 20 minutos depois, em outra bola na área blaugrana, Dumfries aumentou a vantagem nerazzurri e deixou a torcida catalã temerosa. Mas o Barça tinha o melhor ataque da UCL e provou isso ainda no primeiro tempo: Lamine Yamal, em um golaço, aos 24’, e Ferran, aos 38’, empataram o jogo e colocaram os blaugranas de novo na partida. No segundo tempo, a Inter voltou a ficar em vantagem com Dumfries, aos 63’, mas, em jogada ensaiada dois minutos depois, Raphinha recebeu de fora da área e mandou um petardo de primeira que bateu na trave, no goleiro, e entrou: outro golaço! O empate em 3 a 3 seguiu e foi justo pela partidaça das duas equipes.

Na reta final da temporada e brigando por suas ligas nacionais, Barcelona e Inter não puderam se dar ao luxo de poupar tantos jogadores no fim de semana prévio à semifinal e seguiam brigando por uma temporada com títulos. Enquanto os espanhóis já tinham a Supercopa da Espanha e a Copa do Rei garantidas e eram líderes de La Liga com quatro pontos de vantagem sobre o vice, Real Madrid, a Inter foi eliminada pelo rival Milan na semifinal da Copa da Itália e não podia deixar o Napoli, líder da Série A com três pontos de vantagem, deixar escapar. Do lado blaugrana, Hansi Flick até começou o jogo contra o Real Valladolid com um time misto, mas teve que colocar suas estrelas de ataque com o placar adverso de 1 a 0 e só com Raphinha e companhia conseguiu virar e vencer por 2 a 1. Já a Inter foi com um time quase reserva diante do Verona, em casa, mas o magro 1 a 0 obrigou Inzaghi a colocar quatro de seus titulares para segurar o resultado.

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Dumfries marcou um belo gol na ida. Foto: Acervo / Footboom
 

No dia do jogo da volta da UCL, Hansi Flick teve como baixas certas e muito sentidas os laterais titulares Balde e Koundé, mas podia contar com o retorno do atacante Lewandowski. Mesmo assim, o alemão optou por deixar o polonês no banco e foi com Ferran Torres mais isolado no ataque e o trio Yamal, Olmo e Raphinha, além de Pedri e De Jong municiando aquele ataque já de fábula. A Inter tinha dúvidas quanto ao rendimento de Lautaro Martínez, com uma distensão muscular. O capitão, porém, treinou normalmente e foi para o jogo ao lado de Marcus Thuram e acompanhados da famosa linha de 5 do técnico Inzaghi: Dumfries, Barella, Çalhanoglu, Mkhitaryan e Dimarco, que defendiam, mas atacavam muito bem e eram letais em contra-ataques. Seria um jogo totalmente sem favoritos e aberto. Ou não…

Primeiro tempo – Aqui mando eu!

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Foto: La Presse
 

A partida começou com o Barça querendo imitar a Inter em Montjuïc e, em menos de um minuto, Lamine Yamal tocou para Ferran Torres na grande área. O atacante dominou e chutou no canto do goleiro Sommer, levando muito perigo. O caminho blaugrana seria por ali, na direita, com Yamal entortando Dimarco, Mkhitaryan e qualquer um que aparecesse por seu caminho. Com velocidade, dribles ousados e insinuante, o craque de apenas 17 anos era uma ode ao futebol-arte, um diamante bruto que todos podiam ver sua lapidação a cada jogada, a cada lance. Nos primeiros dez minutos, o Barça ficou mais no campo de defesa da Inter, que se fechava e deixava apenas Lautaro ou Thuram mais avançados, esperando o contra-ataque. Aos 14’, o primeiro chute a gol veio com Yamal, que recebeu na entrada da área, cortou para o meio e bateu forte, exigindo a defesa do goleiro suíço.

O lance acordou a Inter, que passou a atacar pelo meio com Mkhitaryan e Thuram. Aos 19’ e aos 21’, a equipe nerazzurri levou muito perigo em chutes de Mkhitaryan e Barella, este o mais perigoso, quando dominou na ponta esquerda, deu um chapéu no adversário e bateu de primeira, mas Szczesny defendeu. A Inter pressionava as linhas absurdamente altas da zaga do Barcelona e, se roubasse uma bola por ali, sairia na cara do gol. Hansi Flick insistia nessa tática mesmo sem Balde e Koundé e com uma dupla de zaga que não era confiável. Aliás, o grande ponto fraco daquele Barça era o sistema defensivo, que levava muitos gols e tirou o sossego do torcedor em toda temporada. O time marcava (muitos) gols, mas sofria uma barbaridade. Alguém precisava avisar o técnico alemão que ele não tinha Kimmich, Boateng, Alaba, Davies e o goleiro Neuer como tinha no Bayern campeão europeu de 2020

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Inter neutralizou o Barça no primeiro tempo, mas sofreu um bocado no segundo.
 

Pois bem. Aos 21’, a Inter roubou a bola no meio com Dimarco, que rapidamente acionou Dumfries. O holandês invadiu a área e, cara a cara com Szczesny, rolou para o meio, onde Lautaro chegou e só precisou tocar para fazer 1 a 0. Tinha que ser o capitão! O Giuseppe Meazza entrou em ebulição! E lá ia o Barça tentar buscar o placar de novo. Aos 23’, Yamal, cercado por quatro jogadores, passou por dois, caiu, mas o árbitro mandou seguir. Na sequência, Olmo apareceu e chutou travado por Acerbi. Os catalães pediram pênalti, mas o jogo seguiu. Aos 28’, Dani Olmo puxou contra-ataque perigoso, de dois contra dois. Ele carregou até a entrada da área e bateu cruzado. A bola desviou e saiu com perigo. 

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O capitão deixou o seu! Foto: AP Photo/Luca Bruno
 
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Foto: AP Photo/Antonio Calanni
 

Nos minutos seguintes, o Barça martelou e martelou, mas a bola hesitava em entrar no gol de Sommer. O ponto negativo era Raphinha, que não conseguia jogar o mesmo futebol dos outros jogos. Aos 35’, em boa jogada em velocidade pelo meio, o Barça chegou na área com Lamine Yamal. O craque avançou na grande área e tocou para o meio, buscando Ferran Torres, que não conseguiu completar para as redes. A resposta nerazzurri veio aos 38’, quando Mkhitaryan aproveitou um bate-rebate perto da área e soltou a bomba, com a bola passando muito perto do gol de Szczesny. Dois minutos depois, foi a vez de Çalhanoglu chutar de dentro da área e a redonda passar zumbindo o pé da trave esquerda blaugrana.

Aos 41’, Mkhitaryan recebeu no meio de campo e tocou em profundidade para Lautaro. O argentino, em velocidade, foi em direção ao gol, cercado por Cubarsí. O zagueiro do Barça conseguiu tirar a bola de carrinho, derrubando o argentino dentro da área. A princípio, o árbitro não deu nada. Mas, ao consultar o VAR, a imagem mostrou que o defensor tocou primeiro no pé de Lautaro e, por isso, desviou a bola. Pênalti marcado! Na cobrança, Çalhanoglu bateu no canto e ampliou: 2 a 0.

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O lance do pênalti: Cubarsí acabou acertando o pé de Lautaro primeiro. Foto: AP Photo/Luca Bruno
 

Festa no Giuseppe Meazza! E muita revolta do lado blaugrana, com os jogadores indignados por causa do pênalti. Foi um lance difícil, mas na imagem podemos ver que o toque de Cubarsí foi primeiro no pé de Lautaro. O 2 a 0 deixava a Inter muito mais perto da final em Munique. Organizada, forte pelas pontas e letal nos contra-ataques, a equipe italiana não teve mais presença de ataque que o Barcelona, mas foi muito mais efetiva e merecia o placar. 

Segundo tempo – Loucura blaugrana e ressurreição italiana

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Eric García celebra o primeiro gol do Barça: cabeza fría! Foto: AP Photo/Antonio Calanni
 

Enervados por conta da arbitragem e desesperados por estarem sem marcar gols, os barcelonistas começaram o segundo tempo dispostos à remontada. Antes, com apenas seis minutos, Acerbi até assustou ao fazer um gol de cabeça, mas o italiano estava em completo impedimento. No minuto seguinte, Eric García aproveitou cruzamento de Gerard Martín vindo da esquerda, pegou de primeira e marcou um belo gol para descontar. Era a cartilha perfeita: marcar nos primeiros 10 minutos e seguir com chances de empatar e virar. Imediatamente, o técnico Inzaghi tirou Dimarco e colocou Carlos Augusto. 

E, apenas três minutos depois, o Barcelona engatilhou um contra-ataque mortífero de três contra dois. Pedri e Martín foram conduzindo a redonda, acompanhados de Eric García. Era para ser Olmo, Yamal e Raphinha, mas estava tudo trocado! O trio chegou na grande área, Pedri rolou para Martín, este cruzou para García fazer o gol e… Sommer defendeu espetacularmente! Um lance lendário, digno dos grandes goleiros da história da Internazionale. Bordon, Sarti, Zenga, Pagliuca, Toldo e Júlio César certamente aplaudiriam.

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Sommer e a defesa do jogo.
 

O Barça era outro. Dominava as ações, dominava a Inter. Tomava o Giuseppe Meazza de assalto e o fazia sua casa. Aos 13’, Yamal arrancou pela esquerda com liberdade e partiu para cima da marcação de Bastoni. O atacante espanhol foi derrubado e o Barça teve a chance de levantar a bola na área. Raphinha cobrou e a zaga afastou, mas, pouco tempo depois, aos 15’, Gerard Martín recebeu de Frenkie De Jong, olhou para a área e levantou. A bola foi na cabeça de Olmo, que testou firme para empatar: 2 a 2. Que reação! E que mudança no panorama do jogo. 

O Barça conseguia impor seu ritmo, não era mais agredido nos contra-ataques e via a Inter errar como não errava. A virada era possível. O jogo ficou frenético, Lamine Yamal seguiu enervando a zaga italiana, mas o gol do craque teimava em não sair. Aos 22’, Yamal foi derrubado e o árbitro marcou pênalti, mas, após consulta ao VAR, a infração acabou sendo fora da área por centímetros, o pênalti foi cancelado e virou falta de muito perto da área. Na jogada ensaiada, o clube catalão não conseguiu marcar.

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Olmo (2º da esq. para a dir.) deixou tudo igual. Foto: AP Photo/Antonio Calanni
 

Inzaghi mexeu mais duas vezes em seu time, sacando Lautaro e Bisseck para as respectivas entradas de Taremi e Darmian. A Inter ficava mais fraca, mais temerosa. O Barça fez sua primeira mudança apenas aos 30’, com Ronald Araújo no lugar de Martínez. Aos 31’, Lamine Yamal recebeu na entrada da área, puxou para trás e bateu forte, no ângulo. O goleiro Sommer saltou e fez uma defesaça, colocando para escanteio. O suíço conseguia vencer o espanhol naquela noite. Yamal estava demais. Só faltava o gol, evitado a todo momento por Sommer. 

Inzaghi mexeu mais duas vezes e esgotou suas alterações, mas nada de a Inter voltar ao jogo. Até que, aos 42’, Pedri recebeu no meio e viu Raphinha na esquerda, livre. O brasileiro recebeu, bateu de canhota e Sommer defendeu. No rebote, o camisa 11 guardou: 3 a 2. Gol histórico do brasileiro, que igualou Cristiano Ronaldo (Real Madrid, em 2013-2014, 17 gols em 4 assistências) ao participar de 21 gols em uma só edição de UCL (13 gols e 8 assistências). A desolação tomou conta da Inter. Ninguém acreditava que um jogo ganho com autoridade no primeiro tempo estava perdido de maneira tão categórica no segundo. Alguns torcedores nerazzurri começaram até a deixar o estádio, um roteiro claro de descrença e de que tudo estava perdido. Principalmente após Yamal, nos acréscimos, chutar na trave e quase fazer 4 a 2. 

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Raphinha virou…
 
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Mas Acerbi empatou!
 

O relógio já estava nos 90’+3’. Teríamos mais dois minutos, menos, até. Mas aquela Inter não se deixava abater. Só acaba quando termina, sempre foi assim. Era um time cascudo, que já tinha chegado a um final de UCL (em 2023) e sabia o caminho das pedras. E, após Dumfries recuperar uma bola no campo de defesa blaugrana e cruzar, Acerbi, o zagueiro que perambulava ali pela área quase de maneira despretensiosa, despertou o Milito que havia nele e desviou a bola de primeira para fazer seu primeiro gol na temporada e apenas o quinto em quase 120 jogos pela Inter. Era o empate: 3 a 3. O Giuseppe Meazza só não foi abaixo por que é um estádio histórico e um colosso que já viu de tudo. Mas aquilo? Era demais. O êxtase tomou conta de todos. No banco da Inter, alguns nem acreditavam no empate. E quem já tinha ido embora, como ficou? Pois é!

No último minuto, Yamal ainda tentou o gol da vitória em mais um chute cruzado mortal, mas Sommer, de novo, espalmou. Ao apito de Marciniak, teríamos mais 30 minutos. O placar era um insano 6 a 6. Quem tinha a melhor defesa mesmo? Qual era o melhor ataque mesmo? Ninguém sabia! E ninguém se importava.

Prorrogação – Virada e vaga nerazzurri

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Foto: Acervo / Marca.com
 

Embalada, a Inter foi para o tempo extra sob os cânticos de sua torcida, ensandecida, esbaforida e que pedia até ajuda médica em determinados pontos do Giuseppe Meazza por causa da tensão que aquele jogo causava (!). O Barça, meio extenuado por tudo o que vivia, tentava refazer de novo o caminho da vitória, correr atrás como sempre fez naquela semifinal. Yamal exigia muito de Carlos Augusto e, logo com um minuto, fez o brasileiro levar cartão amarelo. Minutos depois, Frattesi recebeu na grande área, dominou, mas foi travado. Ali era o caminho. 

E, aos 8’, a Inter foi trabalhando a bola como não fazia há tempos, com a redonda lançada do campo de defesa e, após desvio de cabeça, Marcus Thuram dominou na grande área e carregou dois marcadores consigo até a linha de fundo. Ele girou, levou a bola para a direção do gol e acionou Taremi, que fez o pivô para Frattesi. O meia chegou com liberdade, dominou diante de uma lacuna da (super) frágil zaga barcelonista, que ficou olhando, com pelo menos três homens, sem qualquer reação, em um lance constrangedor para um time que já teve Segarra, Koeman, Frank de Boer, Puyol… Ninguém deu o combate. Aí ficou fácil: Frattesi só ajeitou, chutou colocado no canto e pronto: 4 a 3. O épico estava escrito. Na comemoração, o italiano foi celebrar com a torcida, na grade, assim como Lautaro havia feito na semifinal de 2023 e no mesmo gol onde Maicon e Milito fizeram os seus gols na semifinal de 2010. O presente repetia o passado. Era a Inter com os pés na final.

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Veja o espaço que Frattesi teve para pensar, parar e chutar. A zaga catalã foi uma “mamma”…
 

O relógio começou a correr e a chuva a temperar o gramado do Giuseppe Meazza. No segundo tempo, o Barça mexeu e foi com tudo para o ataque, sempre pela direita, com Lamine Yamal imparável, mas ainda sem marcar naquela noite. A Inter tentou liquidar o jogo aos 5’, de novo com Frattesi, mas o goleiro blaugrana fez grande defesa. A resposta veio aos 9’, quando Yamal chutou cruzado e Sommer fez uma defesa com a ponta dos dedos de maneira espetacular. Yamal tentou de novo dois minutos depois e, adivinhe, Sommer espalmou. Era ataque contra defesa. E a defesa (que também ataca!) venceu. A Inter se segurou e o placar de 4 a 3 colocou a nerazzurri na decisão europeia, como em 2010. 

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O placar agregado de 7 a 6 consolidou aquela partida como a semifinal com maior número de gols da história da UCL. Foi o mesmo de Liverpool 7×6 Roma de 2018, mas com o detalhe de que naquela ocasião foram dois jogos distintos – Liverpool 5×2 Roma / Roma 4×2 Liverpool -, com um time superior ao outro em cada jogo, diferente de Inter x Barça, que fizeram dois jogos alucinantes, equilibrados, frenéticos, únicos e com 13 gols anotados por 11 jogadores diferentes (!). Um jogo espetacular. Uma semifinal inesquecível com dois protagonistas que se recusaram a perder até o último instante, com um desfecho nos detalhes. E, nos detalhes, deu Inter. Simplesmente enorme.

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

Internazionale: a imprensa mundial enalteceu o feito dos italianos e cravou aquela semifinal como a melhor da história da Liga dos Campeões. Sommer, eleito o melhor da partida, rechaçou a qualidade do rival e a capacidade da Inter de não desistir. “Yamal é um jogador muito forte; ele sempre entra e chuta. Ainda bem que a bola não entrou. Hoje, muitos times teriam morrido com 3 a 2. Não desistimos.” Quem não escondeu a emoção foi o capitão Lautaro Martínez: “Chorei muito com minha esposa e meus filhos [depois da lesão], mas prometi que jogaria hoje. […] Até minha mãe ficou preocupada; ela me ligou de manhã e eu não atendi. Agora ela vai me mandar mil mensagens. O Barcelona é forte, mas a Inter vem elevando o nível há cinco anos. Hoje quase fomos eliminados por um momento, mas este time não morre”. Presente em sua 7ª final de UCL, a Inter buscará o tetracampeonato em Munique, terra do último rival que os italianos venceram em uma final, lá em 2010 (o Bayern). E, assim como em 2010, os italianos passaram pelo Barça na semifinal. O presente vem repetindo o passado. Será que se repetirá em 2025?

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Barcelona: devastados, os catalães creditaram à arbitragem o revés para a Inter. No entanto, a eliminação se deu muito pela fragilidade gritante do time blaugrana no setor defensivo. Sem o goleirão Ter Stegen, lesionado e que perdeu toda a temporada, a equipe já ficou muito enfraquecida e isso aumentou com a falta de atletas mais experientes e fortes na zaga. O estopim foi perder Balde e Koundé (este principalmente), desfalques que escancararam o ponto fraco do time, que precisa contratar zagueiros e laterais se quiser manter a competitividade na próxima temporada. Aliás, o clube precisa de bons zagueiros há anos, pois vem levando uma quantidade enorme de gols desde 2018, em especial nos mata-matas da UCL (Roma-2018, Liverpool-2019, Bayern-2020 e Inter-2025 assinam embaixo…). Enquanto isso, o time terá outra final pela frente: o Real Madrid, em casa, pelo Campeonato Espanhol. Uma vitória deixará o Barça com as mãos no título. Uma derrota abre novamente a disputa, com os rivais separados por um ponto.

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