Data: 23 de outubro de 2019
O que estava em jogo: uma vaga na final da Copa Libertadores da América de 2019
Local: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã), Rio de Janeiro, Brasil
Juiz: Patricio Loustau (ARG)
Público: 69.981 pessoas
Os Times:
Clube de Regatas do Flamengo: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Gerson (Diego, aos 41’ do 2º T) e Willian Arão; Éverton Ribeiro, De Arrascaeta (Piris da Motta, aos 23’ do 2º T) e Bruno Henrique (Vitinho, aos 28’ do 2º T); Gabriel Barbosa. Técnico: Jorge Jesus.
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense: Paulo Victor; Paulo Miranda, Pedro Geromel, Kannemann e Cortez; Alisson (Thaciano, aos 30’ do 2º T), Matheus Henrique, Michel, Maicon (Diego Tardelli, aos 17’ do 2º T) e Everton; André (Pepê, aos 12’ do 2º T). Técnico: Renato Gaúcho.
Placar: Flamengo 5×0 Grêmio. Gols: Bruno Henrique-FLA, aos 41’ do 1º T; Gabriel Barbosa-FLA, aos 1’ e aos 10’ (pênalti), Pablo Marí-FLA, aos 21’ e Rodrigo Caio-FLA, aos 25’ do 2º T.
“Qual é o melhor mesmo?”
Por Guilherme Diniz
“O Grêmio tem o melhor futebol do Brasil com resultado. O Grêmio gosta de ganhar, gosta da bola, gosta de agredir. Não ganhou seis títulos em dois anos e meio à toa. Encara qualquer time na casa do adversário de igual para igual”.
A declaração que você acabou de ler foi proferida por Renato Gaúcho logo após a classificação de seu time sobre o Palmeiras-BRA, no Pacaembu, nas quartas de final da Libertadores de 2019. Ele tratou o avanço tricolor como “épico” e se gabava pelas conquistas à frente do clube desde 2016. Só que Renato parecia ter esquecido que o seu time havia feito um bom jogo, sim, mas que não era mais o mesmo de 2018. Muito menos o de 2017, ano do título da Liberta. A zaga havia se transformado em uma peneira – principalmente após a saída do goleiro Marcelo Grohe. O caldeirão da Arena não era mais decisivo. E ele não esperava o que vinha pela frente. Seu adversário nas semifinais seria o Flamengo, clube que já ostentava uma rivalidade com os gaúchos desde a final do Brasileiro de 1982, vencido pelo rubro-negro em pleno Olímpico. E era o Flamengo de Jorge Jesus, o técnico que faz o simples. Que manda seu time jogar um futebol pra frente, ofensivo. Sem essa de futebol de resultado, de atacante voltar para marcar, de covardia e tantas besteiras que somos obrigados a ver nos gramados brasileiros há muito, muito tempo.
Era um Flamengo que buscava uma final de Libertadores desde 1981, o ano de seu único título, tempos que muitos torcedores por um momento pensaram que jamais iriam voltar. Mas, durante 90 minutos do dia 23 de outubro de 2019, a ode ao futebol ofensivo, ao ataque sem limites e ao tempo artístico dos anos 1980 voltaram. O que o Maracanã presenciou naquela noite foi um espetáculo. Uma apresentação colossal. Um estrangulamento. Depois de abrir o placar no final do primeiro tempo em um ataque mortal, o Flamengo matou o Grêmio. Fez quatro gols em apenas 25 minutos. Primeiro, com Gabriel, num chute explosivo. Depois, de pênalti, com o mesmo camisa 9. Em seguida, saiu o quarto, em jogada aérea, repetida minutos depois no quinto gol. O Fla ainda fez outro, mas este acabou anulado por impedimento. Placar? 5 a 0.
Os jogadores do Grêmio ficaram atordoados. Tiveram que se segurar. A Libertadores ganhava uma de suas maiores goleadas em uma fase semifinal da história. Só o Atlético Nacional-COL, nos 6 a 0 sobre o Danubio-URU, em 1989, e o San Lorenzo-ARG, nos 5 a 0 sobre o Bolívar-BOL, em 2014, conseguiram tanto. Estava consolidado o show, a vaga ao rubro-negro na decisão após 38 anos e o veredicto: o Flamengo era o verdadeiro dono do melhor futebol do Brasil. Ou seria da América? É hora de relembrar.
Pré-jogo
A definição de Flamengo e Grêmio como um dos duelos das semifinais da Libertadores ratificou a condição dos times mais competitivos do Brasil em 2019. Eram as equipes mais badaladas e as que praticavam o futebol mais bem jogado do país, em especial o time carioca, que vinha em uma crescente notável desde que o técnico português Jorge Jesus assumiu o Mengo em meados de junho. Ele, enfim, conseguiu fazer o time jogar bola (após a saída de Abel Braga) com a quantidade de bons jogadores que tinha: Filipe Luís, Rafinha, Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e De Arrascaeta eram só alguns dos famosos que começaram a engrenar com o estilo de futebol ofensivo proposto por Jesus.
O início teve um susto, com a eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil para o futuro campeão Athletico-PR, mas a equipe deu a volta por cima, engatou uma grande sequência de vitórias no Brasileirão, assumiu a liderança e levou a boa fase também para a Libertadores, na qual o Flamengo estava nas oitavas de final após se classificar em primeiro lugar no complicado Grupo D – ao lado de LDU-EQU, Peñarol-URU e San José-BOL – com 10 pontos, três vitórias, um empate e duas derrotas em seis jogos.
O primeiro desafio foi contra o Emelec-EQU, que derrotou o time carioca no Equador por 2 a 0. Na volta, vitória rubro-negra por 2 a 0 e triunfo nos pênaltis por 4 a 2. Nas quartas, duelo doméstico contra o Internacional. No primeiro jogo, no Maracanã, vitória carioca por 2 a 0, com dois gols de Bruno Henrique. Na volta, no Beira-Rio, Rodrigo Lindoso fez 1 a 0 para o Inter, mas Gabriel empatou e sacramentou a classificação do Flamengo às semifinais, algo que não acontecia desde 1984, quando a semifinal ainda era em formato triangular. Curiosamente, quem eliminou o time 35 anos atrás foi o Grêmio, o adversário dos cariocas na semi do novo século.
O tricolor gaúcho, embora viesse de anos inesquecíveis com grandes títulos em 2016, 2017 e 2018, não empolgava mais como outrora. O goleiro Marcelo Grohe, o atacante Jael e o meia Cícero haviam deixado o time, Luan sofria com contusões e a Arena não impunha mais a pressão que tanto impôs nos anos de ouro da equipe. O divisor de águas foi a eliminação dentro de casa para o River Plate nas semis da Libertadores de 2018, quando o Grêmio vencia os argentinos por 1 a 0 (e tinha 2 a 0 no agregado) e permitiu a virada por 2 a 1, resultado que eliminou o time gaúcho. E os resultados em 2019 eram a prova de que o time dava sinais de esgotamento.
Na Copa do Brasil, a equipe foi eliminada nas semifinais para o Athletico-PR após vitória em casa por 2 a 0, derrota por 2 a 0 na volta e revés nos pênaltis por 5 a 4. No Brasileiro, o time colecionou resultados ruins em casa (derrota por 2 a 1 para o Santos, 5 a 4 para o Fluminense e 1 a 0 para o Bahia, além dos empates em 3 a 3 com a Chapecoense e 0 a 0 com o Corinthians) e muitos tropeços fora muito por causa do técnico Renato Gaúcho alternar demais os jogadores do time titular e poupá-los demasiadamente. Até o dia 21 de outubro, a equipe estava na 7ª posição com 11 vitórias, oito empates e oito derrotas que praticamente minaram as pretensões tricolores no torneio, afinal, perder oito jogos é muita coisa para um clube que tinha total condição de brigar pelo título nacional.
Na Libertadores, a equipe se classificou em segundo lugar no Grupo H, com 10 pontos e duas derrotas, incluindo uma de 1 a 0 para o Libertad-PAR em plena Arena. Com apenas a 12ª melhor campanha entre os 16 classificados, o tricolor conseguiu a vingança contra os paraguaios ao vencer tanto o duelo da ida (2 a 0) quanto da volta (3 a 0). Nas quartas, nova apresentação abaixo da média em casa e derrota por 1 a 0 para o Palmeiras, em reedição de um clássico marcante nos anos 1990. Mas, na volta, os gaúchos decidiram a classificação ainda no primeiro tempo com o placar de 2 a 1, de virada, em pleno Pacaembu. O Grêmio se mostrava mais perigoso fora de casa do que dentro dela. Conseguia os resultados que precisava, mas ainda longe do futebol praticado em parte de 2018 e principalmente em 2017.
Mesmo assim, a equipe era tida pela imprensa como uma das que mais praticava o “bom futebol” no Brasil. Perto do nível dos outros times, era mesmo. Mas qual era o melhor: Grêmio ou Flamengo? O tira-teima começou no primeiro duelo entre cariocas e gaúchos, na Arena. E o time rubro-negro simplesmente “amassou” o rival. Trucidou os gaúchos com uma velocidade impressionante, toques envolventes e várias alternativas no ataque. Foram quatro gols. Mas apenas um valeu, de Bruno Henrique, no segundo tempo. Os outros três foram anulados pelo VAR. O Grêmio só conseguiu seu gol faltando três minutos para o fim do jogo, com Pepê. Foi nítida a supremacia do Flamengo, o volume de jogo e as alternativas que contrastavam com a falta de ímpeto gremista e o frágil sistema defensivo, que tinha no goleiro Paulo Victor sua grande debilidade.
Ele não inspirava confiança alguma e fazia o torcedor tricolor clamar por Marcelo Grohe, Danrlei, Dida, Mazarópi, Lara e tantos outros craques que já vestiram o manto do Imortal. O empate dava a falsa sensação de que tudo estava aberto. Por mais que o Grêmio tivesse mais camisa na Libertadores que o Flamengo, a vantagem era carioca não só por poder jogar pelo empate sem gols, mas pela diferença técnica que tinha. O Flamengo “deitava” até jogando com time reserva no Brasileiro, seja em casa, seja fora. O Grêmio, perdia.
No dia do jogo, o Maracanã estava efervescente e recebeu quase 70 mil pessoas, que formaram um grande mosaico com os dizeres “Até o fim” e a taça Libertadores em seguida. A Nação acreditava na vitória, mas sabia que o adversário era hostil. Os primeiros minutos seriam fundamentais para a manutenção da vantagem. O Flamengo vinha completo, com sua escalação ideal. Já o Grêmio apostava em André sozinho no ataque e nas investidas de Everton e Alisson pelas pontas, além da marcação de Maicon pelo meio e no entrosamento da dupla Geromel e Kannemann na defesa. O ambiente era maravilhoso. E a expectativa de um grande jogo, o mais esperado da temporada no futebol brasileiro.
Primeiro tempo – Da contenção tricolor à abertura rubro-negra
O jogo começou sem espaços, tático. O Grêmio jogava mais pela esquerda, com sua estrela Everton, que parecia correr mais que qualquer outro gremista. Aos 5’, Bruno Henrique disparou pela direita e só foi contido por um carrinho de Kannemann, que levou amarelo. Se o tricolor fosse para a final, o zagueiro não poderia jogar por estar pendurado. A cobrança de falta acabou pouco incisiva e o Grêmio conseguiu se reorganizar, marcando no campo flamenguista e dificultando a saída de bola. Em compensação, dava espaços atrás, o que levava perigos em contra-ataques e roubadas de bola – como no lance já mencionado de Bruno Henrique. Aos 10’, Cortez perdeu para De Arrascaeta, que fez a jogada com Éverton Ribeiro, mas o chute pegou na zaga. Na sequência, Gabriel recebeu na área, cabeceou e o goleiro Paulo Victor defendeu. Só aos 18’ que aconteceu o primeiro grande lance do Grêmio. Everton recebeu na esquerda, driblou Rodrigo Caio e cruzou na área, mas Maicon, que não tinha faro artilheiro, chutou fraco e sem perigo. Se fosse Luan, Lucas Barrios, Jael…
O Grêmio seguiu com sua marcação avançada e dificultando a troca de passes do Flamengo, mas, aos 26’, Éverton Ribeiro conseguiu quebrar a linha defensiva tricolor ganhando dividida de Michel no meio de campo. Ele partiu em direção ao ataque, tocou na direita para Rafinha, que cruzou para Bruno Henrique na área. O atacante apareceu por trás de Cortez, cabeceou e a bola tirou tinta do pé da trave esquerda do goleiro! Mesmo sofrendo com a marcação em linha do rival, era o Flamengo que criava mais chances e de maneira mais incisiva. Quando chegava, o Grêmio não chutava e Diego Alves era um mero espectador do jogo. Paciente, o rubro-negro via que seu gol era questão de tempo. Rafinha aparecia constantemente pela direita, empurrando Cortez para a defesa e abrindo espaços. E, com espaços, o Flamengo era letal. O Grêmio começou a errar mais as saídas de bola, principalmente no meio de campo.
Aos 30’, em disputa entre Willian Arão e Everton, o gremista levou amarelo por chutar o adversário em lance de total destempero, acirrando os nervos dos dois lados. Com a marcação incisiva, o Grêmio passou a cansar. Everton ia e voltava do ataque, fazendo aquela velha função tão amada pelos técnicos retranqueiros e burocráticos que perpetuam no Brasil há vários anos (poxa, até tu, Renato? 🙁 ). Era um desgaste visível, algo não visto no Flamengo. Gabriel era atacante. Ponto. Não tinha que ficar voltando que nem um condenado para recuperar a bola. Imagine fazer isso durante os 90 minutos? Haja perna! E, quando ela for necessária para o ofício – que é atacar – o que vai acontecer? Oras, vai pedir arrego!
Enquanto isso, aos 34’, De Arrascaeta chutou pro gol (ou tentou cruzar?) pela direita após boa jogada de Éverton Ribeiro, e Paulo Victor teve que espalmar. No rebote, Gabriel chutou, mas a bola ficou com a zaga. Aos 37’, o Grêmio conseguiu uma rara troca de passes, sonorizada por vaias pela torcida flamenguista. Aos 39’, Gerson tocou na área para Gabriel, que dominou e bateu seco. O goleiro gremista defendeu bem, sem rebote, em outra grande chance carioca.
Aos 40’, Alisson dividiu com o goleiro Diego Alves e ganhou escanteio. Renato deu bronca no jogador para ele ter agilidade na cobrança, mas o meia pediu calma ao treinador para retomar o fôlego. Renato, que demonstrava muito nervosismo, recuou. A cobrança não surtiu efeito e, aos 41’, eis que o Flamengo encontrou o que precisava: espaço. E um contra-ataque perfeito. Éverton Ribeiro roubou a bola de Maicon perto do meio de campo e deixou com Gerson. Este tocou para Bruno Henrique, que saiu em disparada pelo meio e deixou com Gabriel. O atacante chutou pro gol, Paulo Victor espalmou, mas deu rebote fácil para Bruno Henrique, que só teve o trabalho de empurrar a bola pro gol: 1 a 0. Festa no Maraca! E outro lance decisivo do atacante, que já havia participado de 11 dos 18 gols do Flamengo àquela altura na Libertadores. Além disso, foi o gol de número 25 do jogador em 50 jogos na temporada. A cada dois jogos, um gol do atacante!
Marcar um gol no final do primeiro tempo foi perfeito para o Flamengo. O time foi para o intervalo com a vantagem de 2 a 1 no agregado e ainda esfriou o rival, que só poderia buscar pelo menos o empate no segundo tempo. Mas, jogando daquela maneira e sem alternativas ofensivas, o Grêmio não dava mostra alguma de reação. Em compensação o Flamengo…
Segundo tempo – É o ai Jesus!
A saída para a etapa complementar foi do Flamengo. E, ao contrário do que muito time faz hoje em dia, não chutou para trás como permite a FIFA há algum tempo. Tocou pra frente, como nos velhos tempos. Como o Flamengo dos anos 1980 tanto fazia. E isso foi o prenúncio do que estava por vir. Ofensividade. Apetite pelos gols. Fazer o que o VAR tirou em Porto Alegre. Mostrar como se joga futebol. Provar qual era o melhor time do Brasil. Depois de alguns passes, Filipe Luís tocou para De Arrascaeta, que passou para Bruno Henrique. Ele perdeu a bola para Geromel, mas foi brigar por ela e conseguiu recuperá-la do capitão gremista. O camisa 27 invadiu a área, chutou cruzado e Éverton Ribeiro bateu, mas a bola desviou e foi para escanteio. De Arrascaeta cobrou, a zaga desviou e a bola passou por todo mundo, mas não por Gabriel. Ele bateu de primeira, do jeito que veio, e marcou um golaço: 2 a 0.
Era tudo o que o Flamengo queria. E tudo o que o Grêmio temia. O tricolor não poderia mais continuar no jogo da “pressão sem pressão”, com o perdão do trocadilho. Tinha que se mandar para o ataque. E isso ia gerar os espaços para o rubro-negro, principalmente no meio de campo, setor no qual o time era absoluto. E, aos 7’, Bruno Henrique recebeu de Filipe Luís, escapou da falta do primeiro marcador, mas foi derrubado por Geromel na sequência. Pênalti! Gabriel foi para a bola e bateu firme, clássico, como manda o manual do matador: 3 a 0.
Aos 13’, Pepê entrou no lugar de André, que foi direto para o banco, sentou e demonstrou seu descontentamento. Alguns assentos depois estava Renato, sentado, indignado, totalmente o oposto do Renato do primeiro tempo, em um momento de puro retrato do clima no qual se encontrava o Grêmio. Enquanto isso, Jorge Jesus continuava andando pra lá e pra cá, com sua clássica faceta séria como se seu time estivesse atrás do placar. O Flamengo dominava tudo. Tinha o campo para si. O Maracanã era sua casa, seu quintal. Ali, ele fazia o que queria e como queria. Toques rápidos, dribles. Aos 17’, Willian Arão tocou de calcanhar para Éverton Ribeiro, que lançou Gabriel pela esquerda, que tocou para Bruno Henrique fazer o quarto. Bem, seria o quarto se não fosse impedimento apontado pelo VAR e só depois confirmado pelo assistente.
Na sequência, Renato tirou Maicon e colocou Diego Tardelli. A substituição pouco mudou o cenário do jogo. E, aos 20’, o Flamengo teve escanteio a seu favor após jogada de Filipe Luís e De Arrascaeta. O uruguaio cobrou, Pablo Marí subiu mais alto que Geromel e cabeceou em cima do goleiro Paulo Victor, que aceitou: 4 a 0. Goleada rubro-negra! Parecia gol de pelada! Em campo, os jogadores do Grêmio temiam por um desastre ainda maior. Alisson pediu para Éverton Ribeiro que “não fizessem graça” para “ninguém perder a cabeça”. Ribeiro disse que o Fla iria “respeitar até o final”. E a melhor maneira de respeitar era continuar atacando. Após o quarto gol, vários torcedores gremistas começaram a deixar o Maracanã.
Na sequência, De Arrascaeta saiu para a entrada de Piris Da Motta, em ação do técnico Jesus para poupar o uruguaio, que vinha de séria lesão no joelho, mas mesmo assim conseguiu jogar muito bem naquele jogo. Três minutos depois, Gerson fez tabela com Gabriel e o centroavante sofreu falta. Enquanto via seu time se preparar para a cobrança, a torcida fazia uma festa imensa, cantava, tremulava camisetas. Na cobrança, Éverton Ribeiro mandou a bola na cabeça de Rodrigo Caio, sozinho, que testou para fazer o quinto gol. Enquanto os flamenguistas vibravam, Renato era o retrato puro da incredulidade. Paralisado, ele não acreditava no que via…
O treinador tricolor tirou Alisson e colocou Thaciano apenas por protocolo. Na saída de campo, Alisson foi direto para o banco de reservas sem nem sequer olhar para Renato e sem ele olhar para seu jogador. Cada um queria ficar no seu canto, isolado. Enquanto isso, o Flamengo atacava. Gabriel puxou ataque aos 33’ e o gol só não saiu porque a zaga bloqueou o chute final.
Aos 39’, Everton chutou da entrada da área e fez com que Diego Alves desse seu primeiro grande pulo para sua primeira defesa no jogo! Aos 39’ do segundo tempo… Aos 41’, Diego entrou no lugar de Gerson e recebeu a braçadeira de capitão de Éverton Ribeiro. A torcida foi à loucura com o retorno do meia, que ficou tanto tempo longe por lesão. O Grêmio tentou fazer seu gol de honra, mas não tinha mais fôlego nem pontaria. Por outro lado, aos 44’, Diego quase deixou o seu e evitou uma catarse ainda maior no Maracanã.
A torcida seguia na festa. Cantava “Olê, olê, olê, olê, Mister, Mister”, em alusão ao técnico Jesus, que fazia jus ao hino flamenguista e transformava aquele jogo tido como difícil e parelho no verdadeiro “ai Jesus” rubro-negro. De fato, após o quinto gol, o Flamengo diminuiu o ritmo. Pareceu confortável com aquela goleada histórica, a maior do clube em cima do Grêmio em todos os tempos e apenas a terceira maior em uma fase semifinal de Libertadores, após os 6 a 0 do Atlético Nacional-COL sobre o Danubio-URU, em 1989, e os 5 a 0 do San Lorenzo-ARG sobre o Bolívar-BOL, em 2014.
Ao apito do árbitro, o Flamengo estava na final da Libertadores após 38 longos anos. Mas chegava de maneira épica, histórica, na contramão de tudo o que vimos nos últimos anos no Brasil. Chegava jogando um futebol ofensivo, rápido, encantador. Chegava sem receios nem medos. Com autoridade. Com a noção de que pode vencer bem. E com uma goleada que já está nos registros das maiores de todos os tempos da principal competição das Américas. Na celebração, os jogadores vibraram com a torcida em uma sintonia total com o time. Sabe quando tudo se completa? Era assim que estava o Maracanã ao fim daquela noite. Completo. Como foi o Flamengo e sua atuação de gala e alta estirpe em 23 de outubro de 2019.
Pós-jogo: o que aconteceu depois?
Flamengo: a atuação magistral rubro-negra, uma das maiores em sua mais que centenária história, ganhou as manchetes de vários jornais do mundo. A exaltação maior foi pelo futebol bonito e eficiente apresentado pelo time, inclusive o jornal argentino Olé, que disse que a equipe brasileira era o Flashmengo, em alusão à velocidade do time de Jorge Jesus. Na decisão contra o River Plate-ARG, o Flamengo conquistou o bicampeonato de maneira épica e consagrou de vez um esquadrão que encantou o país no segundo semestre de 2019 jogando simplesmente como os times brasileiros jogavam: pra frente, marcando gols em profusão e sem covardia. Como Bruno Henrique disse após o jogo, em entrevista ao UOL Esporte: “O Jorge Jesus sempre pede para jogar e desfrutar em campo. Fala sempre isso. Que temos que ter alegria, prazer de jogar futebol diante de uma torcida dessa e um clube tão grande. É isso que sempre fala para gente”. De fato, desfrutar é preciso. O futebol agradece.
Grêmio: com uma derrota de 6 a 1 no agregado, o revés abalou profundamente o time gaúcho. Foi a maior goleada da história do clube na Libertadores e a maior derrota na Era Renato. O treinador disse no pós-jogo que “até uma mulher grávida faria gol no Grêmio” na noite do dia 23 de outubro, um discurso batido e já usado por ele em 2005, quando seu time na época – o Vasco – levou de 7 a 2 do Athletico-PR no Brasileiro daquele ano. Ele disse também que o Flamengo marcou em “cinco falhas nossas”, tentando buscar uma explicação. O fato é que a derrota foi um fim de ciclo, salientado até mesmo pela diretoria gremista, que dois dias depois adiou a conversa que teria para renovação de contrato com o técnico pelo fato de o clube estar “sem clima”. Tudo o que Renato fez no Grêmio desde 2016 ficou na história. Mas é inegável que desde o segundo semestre de 2018 a equipe não era a mesma. E uma derrota como essa exige profunda reflexão e mudanças. Leva tempo, mas o Imortal saíra dessa como já saiu de tantos outros momentos difíceis.
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Olá Imortais do Futebol, parabéns pelo blog. Queria ver aqui o jogo Watford x Leicester City de 2013. Aquela partida foi de arrepiar!!
Caramba. Mal aconteceu a partida e já tem texto dele aqui com os mais mínimos detalhes daquele jogo. Vocês do blog não dormem não?
Brincadeirinha. Como sempre, mas um belíssimo texto.
Hahaha viu só?! Obrigado!!
Boa, texto muito bom de um jogo já histórico!!!
Sensacional o trabalho! O texto, as informações, os detalhes, as fotos… parabéns é pouco.
Muito obrigado pelos elogios e prestígio! 😀
De arrepiar!!!!
Que jogo meus amigos! Que jogo! Simplesmente inesquecível. Parabéns pelo texto ficou muito bom.
Muito obrigado, Gabriel! 😀