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Esquadrão Imortal – Olympiacos 2023-2024

Olympiacos 2023-2024
Em pé: El Kaabi, Ortega, Tzolakis, David Carmo, Retsos e Iborra. Agachados: Rodinei, Hezze, Chiquinho, Podence e Fortounis.

 

 

Grandes feitos: Campeão da Liga Conferência Europa da UEFA de 2023-2024. Se tornou o primeiro clube grego na história a vencer um torneio oficial da UEFA.

Time-base: Tzolakis (Paschalakis); Rodinei, Retsos (Andreas Ntoi), David Carmo e Ortega (Quini); Hezze e Iborra (Masouras); Podence (André Horta), Chiquinho e Fortounis (Jovetic); El Kaabi (El Arabi). Técnicos: Diego Martínez (de junho de 2023 até dezembro de 2023), Carlos Carvalhal (de dezembro de 2023 até fevereiro de 2024), Sotiris Silaidopoulos (fevereiro de 2024) e José Luis Mendilibar (a partir de fevereiro de 2024).

 

“Novos Deuses no Olimpo”

Por Guilherme Diniz

 

Quando o assunto era copa continental, o torcedor do Olympiacos nunca tinha boas lembranças. Na Liga dos Campeões, a melhor campanha dos alvirrubros havia sido na temporada 1998-1999, quando alcançaram as quartas de final. Na antiga Recopa da UEFA, o mais longe também havia sido uma etapa de quartas de final, em 1992-1993. E, na Liga Europa da UEFA, os gregos jamais passaram das oitavas. Para piorar, o clube grego que mais longe tinha ido em um torneio continental era o rival Panathinaikos, vice-campeão da Liga dos Campeões da UEFA de 1970-1971, quando os verdes foram derrotados pelo Ajax de Cruyff. Com o abismo entre os clubes endinheirados e os mais modestos no futebol europeu, era quase impossível ver um clube grego ir tão longe em qualquer torneio continental. Só que, na temporada 2023-2024, o Olympiacos conseguiu algo inédito, histórico e espetacular.

Em uma campanha inesquecível e com jogos eletrizantes, os alvirrubros alcançaram a final da Liga Conferência Europa da UEFA, torneio criado em 2020-2021 e que supriu uma antiga lacuna deixada após a extinção da Recopa. Democrática, a competição era uma chance extra para os clubes tentarem uma glória internacional. E o Olympiacos conseguiu levantar seu primeiro título europeu em seu país, na capital Atenas, em uma festa que tomou conta da cidade grega e também do Pireu, terra dos alvirrubros. Naquela noite de 29 de maio de 2024, o clube se tornou o primeiro clube grego na história a levantar um troféu da UEFA. Uma conquista que teve heróis gregos, mas também do Brasil, de Portugal, da Argentina e em especial do Marrocos, com o artilheiro implacável El Kaabi, autor de 11 gols em apenas 9 jogos ao longo da competição. Uma odisseia digna de Homero e que pintou o Olimpo em vermelho e branco. É hora de relembrar.

 

Mudando o jogo

Foto: Marilia Vasilakopoulou/EUROKINISSI

 

 

Tricampeão grego entre 2020 e 2022, o Olympiacos passou em branco na temporada 2022-2023 e entrou na época 2023-2024 disposto a reverter a seca de conquistas e não deixar os rivais tomarem a dianteira. No entanto, havia um problema: a falta de comando técnico no clube e a dança de treinadores que virou uma constante nos alvirrubros. Em 2022-2023 foram quatro técnicos diferentes. E, na época 2023-2024, mais quatro técnicos estariam à frente do Olympiacos. Desde o início do século XXI, 21 treinadores principais passaram pelo Estádio Karaiskakis até 2022 e nenhum deles somou 100 jogos à frente da equipe numa mesma passagem desde 2000. 

O primeiro técnico do Olympiacos em 2023-2024 foi Diego Martínez, que começou a formar o time a partir de junho de 2023 e teve uma série de novos atletas incorporados ao grupo para suprir a debandada de jogadores que deixaram o Olympiacos na janela de transferências de verão. Impressionantes 39 jogadores foram negociados ou dispensados após o término de seus contratos, enquanto mais de 20 atletas foram incorporados, entre eles os meio-campistas Vicente Iborra, Chiquinho e Santiago Hezze, os defensores Francisco Ortega e David Carmo, o meia Daniel Podence e o atacante Ayoub El Kaabi.

 

El Kaabi, reforço do Olympiacos para a temporada.

 

 

Financiados pelo empresário Evangelos Marinakis, dono também do Nottingham Forest-ING e um dos homens mais ricos da Grécia, o clube tinha superávit financeiro e tranquilidade para formar elencos. Só que posições que não fossem o topo geravam desconforto na diretoria, que não queria ver AEK, PAOK e Panathinaikos triunfando nos torneios nacionais. Embora tenha começado bem o Campeonato Grego e assumido a liderança até a 7ª rodada, os alvirrubros começaram a oscilar bastante a partir de outubro, quando um clássico diante do Panathinaikos foi suspenso após a torcida alvirrubra lançar um fogo de artifício que acertou um jogador dos verdes. Por conta disso, o Olympiacos perdeu o jogo por 3 a 0 como punição da federação grega e não retomou mais a liderança.

 

Dias depois, a equipe perdeu em casa para o PAOK por 4 a 2 e o técnico Diego Martínez já começou a balançar no cargo. Além da competição nacional, o Olympiacos teve também a disputa da Liga Europa da UEFA, quando superou duas fases preliminares (vitória por 2 a 1 no agregado sobre o Genk-BEL e por 6 a 1 sobre o Cukaricki-SER) até alcançar a fase de grupos. Nela, os gregos não conseguiam superar seus rivais e terminaram na terceira colocação do grupo com duas vitórias, um empate e três derrotas, atrás do West Ham-ING e do Freiburg-ALE e à frente apenas do TSC-SER. A consolação foi a vaga nos playoffs da Liga Conferência Europa da UEFA. 

 

Dança das cadeiras e a chegada de Mendilibar

Mendilibar: técnico mudaria por completo o estilo de jogo dos alvirrubros. Foto: EFE

 

 

Como esperado, o técnico Martínez deixou o clube e Carlos Carvalhal assumiu o time a partir de 05 de dezembro de 2023. O português começou com vitória por 5 a 2 sobre o TSC-SER,  último jogo da fase de grupos da Liga Europa e que confirmou a vaga nos playoffs da Liga Conferência, mas ele também não teve vida longa no comando dos alvirrubros por causa de derrotas amargas para o Panathinaikos. A primeira aconteceu na Copa da Grécia, quando os verdes eliminaram os rivais nas oitavas de final da competição, nos pênaltis, em pleno estádio Karaiskakis. E a gota d’água foi o revés por 2 a 0 na 21ª rodada do Campeonato Grego que derrubou o Olympiacos para a 4ª posição. Carvalhal deixou o cargo em fevereiro de 2024 e Sotiris Silaidopoulos – técnico da talentosa equipe de juniores do Olympiacos que venceria em abril de 2024 a Liga Juvenil da UEFA de 2023-2024 – comandou o time principal em uma partida (4 a 0 sobre o OFI, pelo campeonato nacional) até a diretoria contratar o espanhol José Luis Mendilibar, ex-técnico do Sevilla e sem clube desde o final de 2023.

Com uma vasta experiência em diversos clubes da Espanha – 468 jogos na Liga Espanhola, onde dirigiu equipes como Athletic Bilbao, Valladolid, Osasuna, Levante, Eibar e Alavés – Mendilibar assumiu seu primeiro clube estrangeiro naquele mês de fevereiro. Ele vinha com uma ótima credencial para o restante da temporada: o título da Liga Europa levantado pelo Sevilla na época anterior e derrotando equipes de peso como PSV, Manchester United e Juventus até bater a Roma na decisão. Mendilibar tratou de arrumar o setor ofensivo do Olympiacos e formar uma equipe mais forte no ataque. 

A estreia do técnico espanhol foi na primeira partida dos playoffs da Liga Conferência, diante do Ferencvaros-HUN: vitória por 1 a 0, em casa, gol de El Kaabi, que passou a ser a principal referência do time e jogaria mais à frente, como legítimo centroavante, ao invés de ser um dos três jogadores de ataque que os técnicos anteriores costumavam escalar. O jogo seguinte foi pelo Campeonato Grego, contra o líder PAOK, e o Olympiacos enfiou 4 a 1 nos alvinegros, gols de Navarro, Podence e dois de El Kaabi, uma vitória que trouxe mais tranquilidade e confiança ao time para os duelos seguintes. O torcedor já podia esperar por mais emoção e uma nova equipe em campo.

 

Virada histórica e foco total na Europa

O Olympiacos venceu novamente o Ferencvaros por 1 a 0 no final de fevereiro (gol de El Kaabi) e se garantiu nas oitavas de final da Liga Conferência. O adversário seguinte foi o Maccabi Tel Aviv-ISR. O primeiro duelo foi no Pireu e os gregos sofreram um duro baque: em menos de 10 minutos, os israelenses já venciam por 2 a 0, gols de Zahavi e Shakar. Aos 13’, El Kaabi descontou, mas Zahavi fez mais um gol e, na segunda etapa, Peretz fechou a conta para a equipe de Israel: 4 a 1. Foi uma derrota difícil de se reverter, mesmo com a partida da volta sendo disputada em campo neutro, na Sérvia, por conta da guerra envolvendo Israel e o Hamas que impediu o jogo de ser realizado em Tel Aviv.

O “inferno” astral do Olympiacos aumentou dias depois quando o time perdeu por 3 a 1, também em casa, para o rival Panathinaikos logo no primeiro jogo dos playoffs do Campeonato Grego. Quatro dias depois dessa derrota, o Olympiacos já teve o duelo da volta contra o Maccabi e precisava vencer por pelo menos três gols de diferença para levar o a disputa para a prorrogação. Mendilibar colocou seu time para frente e os gregos amassaram o Maccabi desde o primeiro minuto. Logo aos 10’, Podence abriu o placar. Fortounis ampliou, aos 36’, e El Kaabi, aos 45’ + 3’, fizeram 3 a 0 que igualam o agregado em 4 a 4. No segundo tempo, os gregos temeram pelo pior quando Zahavi, de pênalti, descontou e devolveu a vantagem aos israelenses. Mas El Kaabi, aos 65’, fez 4 a 1, placar que permaneceu até o fim e forçou a prorrogação. Nela, o Olympiacos mostrou preparo físico e disposição para marcar mais dois gols: Jovetic, aos 93’, e El Arabi, aos 103’, fechando a goleada em 6 a 1 e a classificação histórica dos alvirrubros para as quartas de final!

Foto: Acervo / Olympiacos

 

 

A classificação épica só confirmou a boa fase do clube e o quão possível era alcançar a final da Liga Conferência. Fran Navarro, em entrevista ao Marca (ESP) comentou. “Somos um time jovem e com jogadores de qualidade e todos nos damos muito bem. Somos uma família e nos divertimos. Nos unimos mais e isso é a chave”. O espanhol ainda comentou que Mendilibar trouxe muito mais confiança aos jogadores. 

 

“Na primeira conversa ele nos disse que o objetivo era ganhar títulos, mas de jogo a jogo. Nos treinamentos ele nos exige muito e nos pede para treinar forte. Estamos mais organizados, sólidos, pressionamos todos juntos e a parte tática melhorou também desde sua chegada. Começamos do zero, como se estivéssemos em uma pré-temporada, e as coisas foram saindo bem. Nos faltava um ‘clic’ e quem nos deu foi o Mendilibar, impondo a exigência que a equipe precisava. Ele mudou a mentalidade e nos deu estabilidade. E isso contagia”.

 

Outro fator que mudou bastante o time na reta final da temporada foram as contratações de inverno que passaram a jogar no time, tais como David Carmo, Chiquinho, Horta e Navarro. Com eles, o Olympiacos ficou mais ofensivo e passou a realizar a transição rápida da defesa ao ataque, além de encarar os rivais sem medo como antes. Embora estivesse em alta na Liga Conferência, o time alvirrubro ficou para trás na luta pelo título grego nos playoffs por causa das duas derrotas iniciais ocorridas em março diante do Panathinaikos (3 a 1) e AEK (1 a 0). O Olympiacos não conseguiu alcançar o PAOK, que ficou com o título. Com isso, o foco total do time foi mesmo a caminhada continental.

 

Inimigos despachados e inspiração juvenil

Nas quartas de final da Liga Conferência, o Olympiacos encarou o Fenerbahçe, rival complicado e que iria apimentar ainda mais a eterna rixa entre gregos e turcos. Como não poderia deixar de ser entre torcidas que simplesmente se detestam, os duelos foram quentes tanto no Pireu quanto em Istambul. Na ida, na casa do Olympiacos, Fortounis abriu o placar logo aos 8’ e Jovetic ampliou, aos 32’. Com o apoio da torcida, o time alvirrubro era muito mais incisivo quando chegava ao ataque do que o Fenerbahçe, que tinha mais a posse de bola, mas não conseguia reverter isso em gol. No segundo tempo, Chiquinho fez 3 a 0 e a vaga na semifinal parecia consolidada. Mas, aos 68’, Tadic, de pênalti, descontou. E, aos 74’, Kahveci fez o segundo gol dos turcos e não deixou de provocar a torcida mostrando a bandeira turca na camisa dos Canários. O placar de 3 a 2 acabou benéfico aos visitantes, que deixaram o Pireu precisando de uma vitória simples no duelo da volta para levar o duelo para a prorrogação. 

A falta de atenção no segundo tempo não poderia acontecer mais se o Olympiacos quisesse ser campeão. Era um erro que custaria caro na etapa seguinte, que poderia ter um rival ainda mais difícil. Na semana seguinte, os gregos foram até o lado asiático de Istambul para encarar a fanática torcida do Fenerbahçe em seu alçapão do Şükrü Saracoğlu Stadium. E, logo aos 11’, Kahveci abriu o placar para os donos da casa, que tiveram mais posse de bola assim como no jogo da ida, mas não conseguiram fazer outro gol. Os experientes Dzeko e Tadic foram os perigos à zaga grega, mas a equipe soube se defender e equilibrou as coisas no segundo tempo. O placar permaneceu assim no tempo regulamentar e, na prorrogação, nada de gols, apenas expulsão do zagueiro Ntoi, já nos acréscimos do segundo tempo.

A festa foi grega em Istambul! Foto: Antonis Nikolipoulos/ Eurokinissi.

 

 

A decisão foi para os pênaltis e todos esperavam um show do goleiro Livakovic, croata especialista nesse tipo de disputa. Mas quem deu show foi o grego Tzolakis, que mandou pra longe os chutes de Tadic, Ünder e Bonucci, e o Olympiacos venceu por 3 a 2, garantindo uma inédita vaga em uma etapa semifinal de competição da UEFA, além de calar o alçapão turco. Foi uma classificação memorável e imensamente celebrada pelas ruas do Pireu.

Dias depois, o elenco do Olympiacos ganhou uma dose extra de inspiração para tentar o caneco continental ao ver o time de juniores do clube conquistar a Liga Juvenil da UEFA com uma categórica vitória por 3 a 0 sobre o Milan-ITA e celebrar o primeiro torneio do clube na competição e de uma equipe grega também. Foi a primeira taça de destaque do futebol do país desde a Eurocopa de 2004 conquistada pela seleção, um feito e tanto que comprovou a eficiência da diretoria em focar nas categorias de base e investir nos jovens. Se os garotos foram campeões, por que os profissionais não poderiam também?

 

El Kaabi, The Executioner!

Foto: Paul Childs/Reuters

 

 

Estar em uma etapa semifinal de competição europeia era algo inédito na história do Olympiacos. Para alguns torcedores, desfrutar daquela ocasião já era motivo de orgulho. Mas o time grego não queria apenas disputar. Queria ganhar. Para isso, eles teriam que derrotar o favorito Aston Villa, no top 4 da Premier League e em grande fase na temporada graças ao brasileiro Douglas Luiz, do artilheiro Watkins e do meia Diaby. Além deles, o clube inglês era treinado por Unai Emery, multicampeão da Liga Europa da UEFA pelo Sevilla e com uma taça também pelo Villarreal, ou seja, dono de ampla experiência em competições de mata-mata.

O Aston Villa ainda tinha o peso histórico de ter vencido a Copa dos Campeões da Europa de 1981-1982 e a força de sua casa, o Villa Park. Mas você sabe como é o futebol, não é? Não perdoa favoritos e desdenha de estatísticas ou história. Se um time está “naquele” dia, ele vai ganhar de um jeito ou de outro. E, quando abola rolou, embora tenha tido 66% de posse de bola e dado 17 chutes a gol contra apenas 8 do Olympiacos, o Aston Villa perdeu. Quer dizer, levou um baile de um carrasco. The Executioner: El Kaabi. O marroquino simplesmente anotou três gols no 4 a 2 dos gregos pra cima do time de Birmingham!

Os primeiros dois gols do atacante foram no primeiro tempo, em belas jogadas coletivas do time grego e com precisas finalizações do marroquino. Watkins ainda descontou nos acréscimos, mas El Kaabi fez o terceiro, de pênalti, no começo da segunda etapa. Diaby fez o segundo dos ingleses e Hezze, aos 67’, em chute de fora da área, fechou a vitória marcante que deu a vantagem ao Olympiacos para a partida no Pireu. Mesmo com a volta do goleiro Emiliano Martínez, campeão do mundo com a Argentina em 2022, o Aston Villa não conseguiu furar a zaga dos gregos, que abriram o placar logo aos 10’, com El Kaabi, após aproveitar um cruzamento da esquerda e mandar de primeira para o gol.

Foto: Reuters

 

 

O tento acabou com qualquer chance de reação do Aston Villa, que até teve mais posse de bola – 74% – mas pecou demais nas finalizações e nas ótimas defesas do goleiro Tzolakis. No segundo tempo, aos 78’, El Kaabi apareceu no buraco da defesa inglesa e fez o segundo gol, fechando o placar em 2 a 0 e a inédita classificação grega para a final! O marroquino simplesmente destroçou o Aston Villa com cinco gols nos dois jogos! Ele era disparado o artilheiro da competição! A festa no Pireu varou a noite e a torcida podia, sim, confiar na conquista continental. E havia ainda um bônus para inspirar ainda mais a busca pela taça: a decisão seria em Atenas, no estádio do AEK. Imagine celebrar um inédito título continental na Grécia, com ampla maioria da torcida e na casa de um rival doméstico? Era bom demais para ser verdade! Quase uma obra dos deuses gregos! 

 

Uma nova glória grega, 20 anos depois

Campeão da Liga Europa com o Sevilla, Mendilibar queria uma nova glória continental com o Olympiacos. E tinha enorme confiança em seus atletas para o duelo contra a Fiorentina-ITA, vice-campeã da Liga Conferência de 2023 e disposta a acabar com a zica na competição. O técnico da Viola, Vincenzo Italiano, dedicou atenção especial ao atacante El Kaabi, salientando que sua equipe teria “correntes e cadeados” para frear o marroquino. 

 

“Temos correntes e cadeados para pará-lo (risos). Brincadeiras à parte, sabemos que isso vem acompanhado de muita autoconfiança. Tanto ele quanto a equipe fizeram um ótimo trabalho. Nos últimos jogos, o Olympiacos venceu o Aston Villa, que era um dos favoritos à vitória no torneio. Sabemos que é um dos pontos fortes do nosso rival e tentamos preparar aspectos táticos que possam limitá-los”, disse o técnico da Fiorentina. 

 

Por outro lado, Mendilibar tirou o peso de El Kaabi e reforçou que o Olympiacos não precisava apenas de um só atleta. “Acho bom ter respeito por El Kaabi, neste caso porque ele tem muitos gols na competição, mas acho que eles vão respeitar todos eles (os jogadores). (Vincenzo) está atento a todos, assim como também estamos atentos aos 11 (da Fiorentina) que vão entrar em campo”, comentou o espanhol em uma das coletivas de imprensa dias antes da final. 

O time da final: El Kaabi foi a referência e cumpriu seu papel com o gol do título.

 

 

A maratona de jogos naquela reta final de temporada poderia prejudicar o desempenho dos jogadores, mas Mendilibar salientou que a força mental de seu time iria fazer a diferença. No dia do jogo, o Olympiacos foi com sua força máxima. A equipe entrou no Agia Sophia Stadium, em Atenas, com imensa maioria dos torcedores. O Pireu estava distante apenas 16 km da capital, por isso, milhares de torcedores do Olympiacos se deslocaram até Atenas para prestigiar o clube em busca do primeiro título continental de sua história. 

Foto: Lapresse

 

 

Quando a bola rolou, a Fiorentina dominou as ações iniciais e levou perigo ao gol grego. A equipe italiana tentava ficar com a bola e não ouvir as sonoras vaias que sofria das arquibancadas. A primeira boa chance, no entanto, foi do Olympiacos, em chute de Podence que obrigou o goleiro Terracciano a espalmar para escanteio. Minutos depois, a Viola marcou um gol, mas Milenkovic estava impedido. A Fiorentina seguiu no ataque, enquanto o Olympiacos explorava os contra-ataques em velocidade. Com seus atletas bem postados e concentrados, o time grego dificultava bastante as ações dos italianos. Na segunda etapa, a equipe de Florença teve mais duas boas chances em jogadas aéreas, mas desperdiçou. Com o placar zerado, o duelo foi para a prorrogação.

Mendilibar fez só duas mudanças para o tempo extra, colocando Quini no lugar de Ortega e Masouras no lugar de Podence. Os gregos não queriam passar pelo drama dos pênaltis e, por isso, foram mais incisivos no ataque. Jovetic teve uma grande chance na primeira etapa ao cortar dois marcadores e chutar pro gol, mas Terracciano defendeu. Tempo depois, a Ikoné teve grande chance, mas Tzolakis defendeu. Já nos minutos finais do segundo tempo, o Olympiacos foi ao ataque pela esquerda. E, aos 116’, Hezze cruzou para a área e o artilheiro da Liga Conferência deixou sua marca: El Kaabi escorou quase caindo e a bola entrou: 1 a 0. 

El Kaabi faz o gol mais importante da história do Olympiacos. Foto: Chris Brunskill/Fantasista/Getty Images.

 

 

O estádio explodiu em festa e não cessou mesmo com a ligeira indecisão do VAR para ver se El Kaabi estava impedido ou não. Quando saiu o veredicto, o alívio deixou a torcida ainda mais em polvorosa, enquanto os italianos não acreditavam no que viam, afinal, na derrota de 2023, eles também levaram um gol do West Ham nos minutos finais do jogo. Nos acréscimos, o Olympiacos se segurou e, ao apito do árbitro, a história foi escrita em vermelho e branco. O Olimpo era alvirrubro! Os deuses torciam para o Olympiacos! 

Zeus lançou raios e trovões nos céus. Dionísio tratou de buscar galões e mais galões de vinho. Apolo começou a tocar sua harpa e garantiu o nascer do sol mais cedo no dia seguinte. Atena aplaudiu sem cessar e disse que a justiça foi feita. Afrodite mandou beijos e mais beijos. Ártemis foi garantir o jantar. Ares prometeu não criar confusões por um tempo. Deméter foi plantar novas árvores no Pireu. Poseidon criou lindas ondas nos mares. Hera limpou os céus para uma noite cheia de estrelas. E Hermes foi enviar a mensagem para toda a Grécia e todo mundo: o Olympiacos era campeão da Europa e o primeiro clube grego a vencer um torneio oficial da UEFA!

O clube alvirrubro celebrou uma glória continental inédita como um presente antecipado para seu aniversário de 100 anos, a ser celebrado em 2025. E o atacante El Kaabi virou de vez um novo deus para os torcedores com arrebatadores 11 gols em 9 jogos na campanha do título! Ele, além de artilheiro, foi eleito o melhor jogador da competição. E o técnico Mendilibar virou naquela noite “Mendilopoulos”, provavelmente um dos mais importantes técnicos do clube em tão pouco tempo. Ele se tornou ainda o primeiro técnico desde Rafa Benítez, lá em 2005, a vencer duas competições diferentes da UEFA em sequência. Ainda sem ter a noção do feito, Mendilibar disse em campo: “dentro de uns anos me imagino que acordarei sonhando com essa conquista e levarei as mãos à cabeça”.

Em Atenas e no Pireu, centenas de milhares de torcedores foram às ruas para celebrar a conquista em uma festa lindíssima, com muita luz, fumaça e bandeiras. Foi a glória europeia exatos 20 anos depois do outro grande título do futebol grego no continente: a Eurocopa de 2004, quando a seleção grega derrotou Portugal na final e levantou uma impressionante taça. E coube ao Olympiacos, o clube com mais títulos e mais torcida do país, ter a honra de ser o pioneiro europeu.

 

Eternos

Divulgação / Olympiacos

 

 

A conquista da Liga Conferência deu ao Olympiacos uma vaga direta à fase de grupos da próxima Liga Europa da UEFA. A competição será um novo desafio ao clube, que pode surpreender novamente se manter os bons nomes do elenco e se reforçar com os jovens campeões da Liga Juvenil da UEFA (quatro já estão garantidos no elenco principal!) e também outros atletas. O fato é que o esquadrão de 2023-2024, mesmo com os problemas do início da temporada, as dolorosas derrotas para o maior rival (os alvirrubros não venceram nenhum dérbi na temporada) e sem canecos nacionais, conseguiu se reinventar sob o comando de Mendilibar e fez uma campanha memorável na Liga Conferência. Esse título é um marco, uma glória que será lembrada por décadas e que garantiu de vez o Olympiacos no Olimpo do futebol. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

 

Tzolakis: cria do Olympiacos, começou na equipe profissional em 2019 e foi ganhando espaço no time aos poucos. Não começou como titular a temporada 2023-2024 e só ganhou mais chances a partir da segunda metade da temporada, em especial com a chegada do técnico Mendilibar. Muito arrojado, de boa estatura – 1,92m – e bem colocado, virou herói do time na classificação diante do Fenerbahçe, além de realizar grandes defesas nos jogos contra o Aston Villa e também na final. 

Paschalakis: após uma boa passagem pelo PAOK, foi contratado em 2022 e virou o goleiro titular da equipe, principalmente nos jogos do Campeonato Grego. Acabou perdendo espaço por conta da boa fase de Tsolakis na reta final da temporada 2023-2024. 

Rodinei: o lateral brasileiro vive grande fase na equipe grega e provou isso logo em sua primeira temporada, 2022-2023, ao ser eleito o melhor lateral-direito do Campeonato Grego. Com sua natural vocação ofensiva, foi uma das principais armas do time na campanha do título continental e criou enorme identificação com a fanática torcida alvirrubra. Foi o recordista em jogos como titular pelo Olympiacos na temporada (49 jogos, além de um vindo do banco de reservas), além de ter marcado 3 gols e dado 7 assistências.

Retsos: cria das bases do Olympiacos, o zagueiro jogou no clube de 2016 até 2017, quando foi contratado pelo Bayer Leverkusen. Sem espaço na equipe alemã, foi emprestado a vários clubes até retornar ao Olympiacos, também por empréstimo, em 2023. Com muita regularidade e vigor físico, encarou sem medo os rivais ao longo da temporada e disputou 45 partidas. 

Andreas Ntoi: mais um revelado pelo próprio Olympiacos, começou o clube em 2022 e, com 1,90m de altura, podia jogar tanto na zaga quanto no meio de campo, como primeiro volante. Não foi titular absoluto, mas disputou 28 jogos na temporada.

David Carmo: embora tenha nascido em Portugal, obteve cidadania angolana e veste a camisa do país em competições internacionais. Com quase 2m de altura, é um zagueiro muito bom na marcação e nas jogadas aéreas. Chegou ao Olympiacos em 2024, por empréstimo, e fez grandes jogos na Liga Conferência (esteve em todos os nove), a ponto de ser eleito um dos melhores zagueiros da competição.

Ortega: lateral-esquerdo revelado pelo Vélez Sarsfield, o argentino chegou em 2023 ao Olympiacos e virou titular da equipe em boa parte dos jogos da temporada, principalmente com a chegada de Mendilibar. Disputou 38 jogos e deu 4 assistências.

Quini: podendo atuar como lateral-direito e na zaga, o espanhol chegou em 2023 após boas temporadas no Granada, onde disputou 143 partidas entre 2017 e 2023. Quini esteve presente em 33 jogos na temporada pelo Olympiacos, marcou dois gols e deu uma assistência.

Hezze: segundo jogador com mais partidas pelo clube em 2023-2024 (50 jogos, mesmo número de Rodinei, mas em quatro jogos ele saiu do banco de reservas), o argentino foi um dos principais nomes do meio de campo do Olympiacos, ajudando na recomposição e no elo com o ataque. Com boa visão de jogo e eficiência na marcação, deu o passe para o gol do título europeu na final contra a Fiorentina. 

Iborra: o experiente meio-campista espanhol tem um passado de glórias pelo Sevilla, quando se transformou em um dos principais jogadores do setor ofensivo do time, atuando como meia armador. Habilidoso, Iborra sempre teve facilidade para chegar ao ataque por ter sido centroavante no começo de carreira, no Levante. Venceu 3 Ligas Europa pelo clube espanhol entre 2014 e 2016 e também uma pelo Villarreal antes de chegar ao Olympiacos, em 2023, quando participou de 30 partidas ao longo da época 2023-2024. Provou ser mesmo pé quente e levantou mais um troféu continental para sua coleção.

Masouras: meia de muito talento, chegou ao Olympiacos em 2019 e desde então foi um dos principais nomes do time. Eficiente nos passes, lançamentos e no ataque, marcou 9 gols (4º maior artilheiro da equipe na temporada) e deu 6 assistências nos 36 jogos que disputou como titular em 2023-2024. Atuou ainda em outras 16 partidas vindo do banco de reservas, totalizando 52 partidas. Possui também 41 jogos e 9 gols pela seleção grega.

Podence: o meia português veio em 2023 ao Olympiacos, por empréstimo, e virou um dos principais nomes do time no setor ofensivo. Rápido e com bom toque de bola, foi ainda um dos artilheiros da equipe com 15 gols, além de contribuir com 10 assistências (quatro delas na Liga Conferência). Disputou 47 jogos. Essencial no título europeu.

André Horta: o meio-campista português começou sua trajetória no Vitória Setúbal, em 2014, e chegou ao Olympiacos em 2024, por empréstimo, do Braga. Fez bons jogos, em especial na Liga Conferência, ao participar de todos os 9 jogos do time na temporada. Marcou dois gols e deu duas assistências em 21 jogos.

Chiquinho: o meio-campista português teve uma passagem de destaque no Benfica campeão nacional em 2022-2023 antes de chegar ao Olympiacos na janela de inverno de 2024. Com 24 jogos, dois gols e três assistências, foi outro atleta muito importante na campanha do título europeu.

Fortounis: eleito um dos melhores meio-campistas da Liga Conferência de 2023-2024, o grego comandou as ações do setor do Olympiacos e liderou a equipe grega rumo ao título inédito. Capitão, Fortounis podia atuar tanto mais recuado como avançado, distribuindo a bola e chegando à frente da área rival para marcar gols. No clube desde 2014, trouxe muita experiência ao elenco e foi uma das vozes importantes na trajetória vencedora do clube alvirrubro. Disputou 49 jogos, marcou 11 gols e deu 17 assistências, recordista neste quesito no elenco. Ele já é um dos mais importantes jogadores da história do Olympiacos com 343 jogos e 94 gols. Uma lenda!

Jovetic: atacante experiente e com brilhante trajetória pela seleção de Montenegro (possui 76 jogos e 35 gols pela equipe), Jovetic não foi titular absoluto, mas entrou em 25 jogos ao longo da temporada para ser uma alternativa no setor ofensivo do time grego. E o montenegrino provou seu faro artilheiro ao marcar 8 gols e dar 3 assistências. 

El Kaabi: o que dizer do atacante marroquino? Ele simplesmente foi o herói da conquista continental do Olympiacos e merece uma imensa estátua com o mais nobre mármore no Pireu. O africano anotou 11 gols em 9 jogos na Liga Conferência, já é o maior artilheiro em uma só edição da história da competição e foi o recordista em gols nas competições da UEFA em 2023-2024. Além disso, somando os cinco gols que ele marcou na Liga Europa, ele chegou aos 16 gols, maior número registrado por um jogador africano em uma temporada em torneios da entidade europeia. El Kaabi marcou também 17 gols no Campeonato Grego (no qual terminou como vice-artilheiro) e registrou impressionantes 33 gols e 3 assistências em 50 jogos! Que temporada!

El Arabi: o marroquino foi outro reserva de luxo do time e entrou em 23 jogos ao longo da temporada, contribuindo com seis gols e uma assistência.

Diego Martínez, Carlos Carvalhal, Sotiris Silaidopoulos e José Luis Mendilibar (Técnicos): embora os outros técnicos tenham contribuído de certa forma para a trajetória do Olympiacos até chegar aos playoffs da Liga Conferência, não tem como negar que o time foi outro após a chegada de Mendilibar. O espanhol mudou completamente a faceta do time, deu mais força ofensiva, formou uma equipe altamente competitiva e conseguiu um feito espetacular. Ele comandou o time em 23 jogos, venceu 16, empatou dois e perdeu apenas cinco. O Olympiacos marcou 50 gols e sofreu 25, totalizando aproveitamento de 69,5%.

 

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Um Comentário

  1. Parabens pelo texto guilherme ontem mesmo eu vi panathinaikos x ajax final da champions de 71 e apesar do massacre holandes o time do tecnico puskas era bem arrumado viu.mas 53 anos depois tai o presente de grego pois minha fiorentinade novo perdeu a chance de sair da fila.mas tambem reconheco que o olympiacos mereceu pois com el kaabi iluminado nesde torneio eu mesmo disse pros amigos que seria muito dificil a viola ganhar.

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