Nascimento: 30 de Dezembro de 1937, em Sheffield, Inglaterra. Faleceu em 12 de fevereiro de 2019, em Stoke-on-Trent, Inglaterra.
Posição: Goleiro
Clubes: Chesterfield-ING (1958-1959), Leicester City-ING (1959-1967), Stoke City-ING (1967-1973) e Fort Lauderdale Strikes-EUA (1977-1978).
Principais títulos por clubes: 1 Copa da Liga Inglesa (1963-1964) pelo Leicester City.
1 Copa da Liga Inglesa (1971-1972) pelo Stoke City.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo (1966) pela Inglaterra.
Principais títulos individuais:
Eleito o Goleiro do Ano pela FIFA: 1966, 1967, 1968, 1969, 1970 e 1971
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1966
Esportista do Ano pelo Daily Express: 1971 e 1972
Eleito Futebolista do Ano pela FWA: 1972
Eleito para o All-Star Team da NASL: 1977
Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times
Eleito o 21º Maior Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999
Eleito o 2º Maior Goleiro do Século XX pela IFFHS
FIFA 100: 2004
Eleito o 14º Maior Jogador da História das Copas pela revista Placar: 2006
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Inglaterra do Imortais: 2020
“O senhor das defesas impossíveis”
Por Guilherme Diniz
Ele costumava dizer que “minha mente não tem que divagar”. E ela não divagava. Muito menos seus reflexos impressionantes, sua elasticidade notável e seu senso de colocação impecável. No gol, aquele sujeito de sorriso enorme e largo se transformava. Não havia tempo para sorrir. Apenas para defender. Da maneira que fosse. Com um tapa de leve que empurrava a bola para a linha de fundo ou um soco forte. Mas valia também um toque improvável em uma cabeçada fulminante do maior jogador de todos os tempos para que sua fama e talento ficassem eternizados para sempre na maior defesa do século. Essas foram algumas das características de Gordon Banks, maior goleiro inglês da história e um dos maiores na posição que o mundo já viu.
Lenda do English Team campeão da Copa de 1966 e com números formidáveis debaixo das traves do selecionado da Rainha, Banks marcou época com regularidade, milagres incríveis, a fama de realizar defesas acrobáticas e por tirar da boca dos atacantes o grito de “gol” e forçá-los a mastigar as três letrinhas por mais algum tempo (normalmente, até o final do jogo). Embora tenha ganhado fama pela seleção e por suas atuações em Copas, Banks jamais defendeu um grande clube do futebol inglês e títulos foram escassos na carreira do goleiro. Mesmo assim, ele tratou de abocanhar diversos prêmios individuais e até uma Ordem do Império Britânico. É hora de relembrar.
Chega de cimento!
Nascido em Sheffield, Banks se mudou para Catcliffe ainda na infância e viu sua família ir do céu ao inferno após seu pai abrir uma casa de apostas que custou a vida de seu irmão, morto após uma discussão no local. A tragédia revoltou Banks, que deixou a escola em 1952 e passou a trabalhar, entre outras coisas, como ajudante de pedreiro. Paralelo à vida recheada de vigas, concreto e tijolos (esforços que lhe renderam uma boa estrutura óssea e muscular para a carreira posterior), Banks jogava peladas com os colegas na equipe amadora de Millspaugh. Tempo depois, o jovem tentou a sorte no Rawmarsh Welfare, mas duas derrotas sofríveis (12 a 2 e 3 a 1) abreviaram a estadia do goleiro por lá. Só em 1956, já com quase 19 anos, que Banks conseguiu a grande chance de sua carreira ao ganhar a confiança de Teddy Davison, que o levou ao pequenino Chesterfield para ganhar 3 libras por semana.
Por lá, o treinador adotava uma política de apostar em jovens talentos e ficou muito satisfeito quando Banks começou a pegar tudo e mais um pouco nas partidas que disputava pele equipe de juniores que foi vice-campeã da Copa Inglesa da categoria de 1955-1956 (perdeu para os Busby Babes do Manchester United, que tinham, entre outros, Bobby Charlton e Wilf McGuinness). No Chesterfield, Banks não chegou a jogar muito, mas foi o suficiente para despertar o interesse do técnico do Leicester City, da Primeira Divisão Inglesa, que levou o goleiro para East Midlands.
Galgando posições
Com um salário bem maior (13 libras por semana), Banks viu no Leicester a oportunidade para provar seu valor para todo o futebol inglês. O começo, no entanto, foi complicado. A “Raposa” tinha cinco goleiros no elenco e Banks teria que suar muito para conseguir seu espaço. Aos poucos, Banks ganhou a confiança da torcida e do técnico, passou a treinar mais as saídas em cruzamentos e costumava ficar além do tempo para se aprimorar rapidamente. O esforço deu resultado e o goleiro assumiu de vez a camisa número um, sendo um dos responsáveis por levar a equipe azul à final da Copa da Inglaterra de 1960-1961, quando levou apenas cinco gols em nove jogos durante a campanha do time. Na decisão, porém, Banks e seus companheiros não resistiram à força do Tottenham Hotspur e perderam por 2 a 0.
Em 1963, o Leicester voltou a disputar uma final de Copa, mas o super Manchester United de Bill Foulkes, Denis Law e Bobby Charlton venceu por 3 a 1. Mesmo sem títulos naqueles anos, Banks cravou seu espaço na mídia inglesa ao integrar a melhor geração de jogadores da história do Leicester City, que contava com os atacantes Ken Keyworth e Mike Stringfellow, os meio-campistas Dave Gibson, Colin Appleton e Frank McLintock e os defensores John Sjoberg e Richie Norman. Vale lembrar que na temporada 1962-1963 o time azul ficou na quarta posição do Campeonato Inglês e teve a segunda melhor defesa do torneio (levou 53 gols em 42 jogos). Na temporada 1963-1964, Banks comemorou, enfim, seu primeiro título ao levantar a taça da Copa da Liga Inglesa, conquistada após um empate em 1 a 1 e uma vitória por 3 a 2 sobre o Stoke City.
Dono da camisa 1 no English Team
Foi em 1963 que Banks recebeu pela primeira vez uma convocação para integrar o English Team. Muito seguro, notadamente ágil e impecável no posicionamento, o goleiro passou a ser a primeira opção do técnico Alf Ramsey para várias partidas da seleção inglesa a partir daquele ano. Curiosamente, o camisa 1 começava a brilhar internacionalmente no mesmo período em que o Leicester entrava em declínio. Mas não havia o que temer. Uma Copa do Mundo, em casa, estava por vir.
Intacto e campeão do mundo
Em 1966, Gordon Banks teve o maior desafio de sua vida, aos 28 anos, quando disputou sua primeira Copa do Mundo. Dona da casa, a Inglaterra tinha um ótimo time comandado por Bobby Moore, Ray Wilson, Nobby Stiles, Bobby Charlton, Roger Hunt e Goeff Hurst. Embora fosse um privilegiado por contar com um zagueiro do naipe de Moore em sua retaguarda, Banks não divagou em serviço e manteve a meta inglesa intacta nas primeiras quatro partidas do time no Mundial (0 a 0 com o Uruguai, 2 a 0 no México, 2 a 0 na França e 1 a 0 na Argentina), totalizando 442 minutos sem sofrer gols. O camisa 1 só foi superado no final da partida contra Portugal, na semifinal, quando Eusébio, de pênalti, descontou para os lusitanos na vitória inglesa por 2 a 1.
Na decisão, os donos da casa tiveram pela frente a sempre perigosa Alemanha, comandada por um ainda jovem Beckenbauer, além de Uwe Seeler, Schnellinger e Overath. Em um jogo pra lá de polêmico com o famoso gol que não entrou dos ingleses, o selecionado vermelho venceu por 4 a 2, na prorrogação, e faturou seu primeiro – e até hoje único – título mundial da história. Banks foi eleito o melhor goleiro da Copa e integrou o All-Star Team, além de ter sido eleito o melhor goleiro do mundo pela FIFA. Prêmios mais do que merecidos. Mas que seriam ignorados por seu clube tempo depois.
“Tapa” na aposentadoria
Depois de 293 jogos de liga disputados pelo Leicester City, Banks perdeu espaço na equipe em 1967, com a ascensão do jovem Peter Shilton. Já com 29 anos, o goleiro foi sacado sem remorso pela diretoria, que disse que “a melhor fase dele já havia passado”. Não demorou muito para o goleiro encontrar um novo destino, o Stoke City. No dia da assinatura do contrato, o camisa 1 disse que “não vinha para se aposentar, mas para ganhar alguma coisa”. No entanto, o goleiro só conseguiria ganhar algo com seu clube no começo dos anos 70. Antes disso, o Stoke fez apenas campanhas ruins e frustraram os planos do goleiro, que ainda sim foi conquistando os prêmios de melhor goleiro do mundo entre 1967 e 1970 de maneira ininterrupta.
No período, o técnico Alf Ramsey testou vários novos goleiros nas partidas amistosas da Inglaterra, mas Banks seguiu como o titular para os grandes jogos e com a credibilidade intacta. Com a mesma base de 1966 e um time mais maduro, os ingleses entraram em 1970 como favoritos para a Copa do Mundo, no México. E seria em terras latinas que Banks viveria o segundo maior momento da carreira. E o primeiro pior também.
A defesa do século…
Para azar da Inglaterra, a equipe teve logo na fase de grupos pedreiras pela frente: a Romênia, a Tchecoslováquia e o Brasil. Na estreia, o time europeu jogou pouco futebol, mas conseguiu derrotar os romenos por 1 a 0 (gol de Hurst). Na partida seguinte, foi a vez do Brasil de Pelé, Jairzinho, Tostão, Carlos Alberto e várias outras feras que compunham o melhor “11” da história da Seleção Brasileira. E seria no duelo mais aguardado do Mundial que Banks conseguiria escrever para sempre seu nome na história graças a uma defesa impressionante, espetacular e inesquecível. Era começo de jogo e o Brasil atacava a Inglaterra pela direita, com Jairzinho. O Furacão foi até a linha de fundo e cruzou a bola centímetros antes de ela ultrapassar a linha.
A bola foi ao encontro do Rei, Pelé, que cabeceou forte, preciso, de olhos abertos e para o chão, como só ele sabia fazer e como nenhum outro jamais conseguiu. Era gol. Óbvio! Pelé gritava “gol!” quando, num lapso de segundo e de puro reflexo, Gordon Banks saltou da esquerda de seu gol para a direita e deu um tapa na bola para o alto, mandando a redonda para escanteio. Foi simplesmente incrível. O estádio inteiro não acreditou no que viu. Muito menos Pelé. Já Banks tinha consciência do feito que tinha acabado de realizar e não escondeu o sorriso tempo depois. O goleiro comentou sobre o fato em entrevista publicada nos jornais Notícias Populares e Folha de S. Paulo, em novembro de 1997:
“Foi a defesa mais importante da minha vida. Eu estava na primeira trave e tive de pular o mais rápido possível. Ao mesmo tempo tive que pensar a que altura a bola subiria depois de tocar no chão. Quando estiquei a mão e toquei na bola, não sabia onde ela ia parar. Eu ouvi o Pelé gritar gol. Quando ele cabeceou a bola, acho que pensou que tinha sido gol, porque cabeceou muito bem”. – Gordon Banks.
Após aquele lance mágico, Banks virou dono da maior defesa do século XX e recebeu inúmeros elogios e condecorações. Mesmo assim, depois de muito atacar, o Brasil conseguiu vencer a Inglaterra com um lindo gol de Jairzinho, aos 14´do segundo tempo, num chutaço sem chance alguma para Banks. No último jogo do English Team na primeira fase, Clarke marcou o único gol da vitória por 1 a 0 sobre os tchecos que garantiu a equipe nas quartas de final, onde enfrentaria a Alemanha.
… E o Mal de Montezuma
Nas vésperas da partida decisiva contra os germânicos, Banks degustou de vários quitutes, pimentas e bebidas mexicanas. No entanto, o goleirão de 1,83m exagerou na dose e sofreu uma severa e impiedosa crise intestinal, que deixou o camisa 1 com diarreia e desidratação (além de horas cativas no banheiro da concentração…). A indisposição de Banks era bem comum na época – e é até hoje – para os estrangeiros que visitam o México. Dizem que os que sofrem desse problema são vítimas do “Mal de Montezuma”, uma suposta “vingança” do líder asteca Montezuma II, morto pelos espanhóis em 1520. Desde então, quase todos os gringos que visitam o país provam do veneno do asteca.
Sem condição alguma de jogo, Banks teve de ser sacado do time inglês para a entrada de Peter Bonetti, do Chelsea. Sem a experiência e talento do titular, o reserva até viu seu time abrir 2 a 0, mas não conseguiu segurar o ímpeto dos alemães e sofreu três gols que decretaram o 3 a 2 da Alemanha e a vingança pela derrota em 1966. Para muitos, se Banks tivesse jogado, a Inglaterra não teria perdido. E possivelmente reencontraria o Brasil na decisão.
Último título e aposentadoria forçada
Depois de ver a Inglaterra não conseguir uma vaga na fase final da Eurocopa de 1972, Banks viveu momentos bem distintos naquele ano. O primeiro, alegre, foi a conquista da Copa da Liga Inglesa pelo Stoke City, seu primeiro e único título pelo clube, após vitória por 2 a 1 sobre o Chelsea na final e uma saborosa vitória por 2 a 1 que eliminou o Manchester United nas oitavas de final. Ainda pegando muito, Banks foi eleito o melhor futebolista do ano na Inglaterra e mostrou que podia continuar por mais alguns anos jogando em alto nível. No entanto, em outubro de 1972, o goleiro sofreu um acidente que lhe obrigou a pendurar as luvas. Banks dirigia seu Ford Granada quando tentou fazer uma ultrapassagem em uma curva acentuada.
Porém, o carro de Banks deu de frente com um Austin A60 e o acidente foi instantâneo. O goleiro só acordou no hospital com 200 pontos no rosto e diversos micropontos em seu olho direito, que não resistiu à gravidade dos ferimentos e não voltou ao normal. Sem a plena visão do lado direito, os movimentos de Banks no gol foram afetados completamente e seria impossível para ele continuar jogando pela seleção e por seu clube em alto nível. Com isso, já em 1973, o camisa 1 anunciou a aposentadoria aos 35 anos.
Em 1977, Banks aceitou o desafio de voltar a jogar por pouco tempo e vestiu a camisa do Fort Lauderdale Strikers, dos EUA, país que vivia um boom do “soccer” graças à presença de várias estrelas mundiais como Pelé, Beckenbauer, Gerd Müller e muitos outros. No ano em que atuou na terra do Tio Sam, Banks fez grandes atuações mesmo com um só olho bom e teve a audácia de ser eleito o melhor na posição de todo o campeonato! Em 1978, Banks pendurou de vez as luvas, arriscou uma breve carreira de técnico no Telford United, mas viu que sua história deveria ficar restrita, mesmo, aos gramados.
The number 1
Desde Banks, jamais a Inglaterra teve um goleiro tão bom, tão ágil e tão premiado. Peter Shilton foi um ótimo goleiro, mas está vários degraus abaixo do talento e das façanhas construídas por Gordon Banks em campo. Mesmo sem atuar em grandes clubes, o camisa 1 campeão do mundo em 1966 mostrou que não precisava de vitrines límpidas e enormes para mostrar suas virtudes. Bastava um pequeno espaço para arrebatar fãs e entrar no imaginário de garotos que pulavam nas ruas e gritavam “Baaanks!” após defender um chute de um adversário. Um craque imortal.
Números de destaque e curiosidades:
Disputou 73 jogos pela Inglaterra e sofreu apenas 57 gols. Além disso, o goleiro não sofreu gols em 35 partidas e perdeu apenas nove com a camisa 1 do English Team.
Em 15 anos, Banks quebrou os dedos das mãos quatro vezes e desloco-os outras cinco. E também fraturou o pulso da mão direita nos tempos de Leicester que o tirou dos gramados por oito semanas.
Virou algo comum na Inglaterra o apelido Banks of England quando alguém se referia ao goleiro. A segurança do camisa 1 era comparada aos bancos do país.
Leia mais sobre a Inglaterra campeã da Copa de 1966 clicando aqui.
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evidente que shilton está muito abaixo de banks…. mas a vale a dica… ele tambem merece ser menciona num texto dos craques imortais!