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A Rainha e o Futebol

 

Por Guilherme Diniz

 

Elizabeth II reinou por 70 anos. Seu adeus nesta quinta-feira, dia 08 de setembro de 2022, aos 96 anos, marca o fim de uma era no mundo e em todo Reino Unido. E, como não poderia deixar de ser, a história de uma das maiores personalidades de todos os tempos se misturou com momentos marcantes do futebol, a começar por sua ascensão ao trono, aos 25 anos, em fevereiro de 1952, logo após a morte de seu pai, George VI. Como forma de respeito pelo falecimento do rei, a coroação de Elizabeth II aconteceu mais de um ano depois. E tal evento foi celebrado na mesma época da final da Copa da Inglaterra de 1953 entre Blackpool e Bolton Wanderers, em maio, que foi simplesmente uma das maiores da história da competição – e a primeira competição na qual a rainha condecorou esportistas vencedores.

A Rainha Elizabeth II, em junho de 1953. Foto: Cecil Beaton/Camera Press.

 

Mais de 100 mil pessoas lotaram o estádio de Wembley para o confronto entre Blackpool e Bolton. Muitos apostavam num duelo parelho e bem disputado, mas o primeiro tempo foi quase todo do Bolton. A equipe abriu o placar logo aos dois minutos, Mortensen empatou aos 35´, e Langton ampliou para o Bolton, aos 40´. No segundo tempo, Bell fez 3 a 1 e praticamente matou o Blackpool. No entanto, naquele exato momento, Stanley Matthews, um dos maiores craques do século XX, começaria, sozinho, a virar de maneira épica o jogo para sua equipe.

Stanley Matthews (à esq.), na The Matthews Final.

 

Totalmente soberano na ponta direita, com seu habitual fôlego de garoto e uma velocidade estonteante, o craque construiu as jogadas que originaram os três gols que decretaram a virada do Blackpool para 4 a 3, com direito a um hat-trick de Mortensen (o primeiro em uma final de Copa da Inglaterra na história) e um gol já nos acréscimos de Bill Perry após um cruzamento de Matthews, claro. O desempenho de Matthews naquele jogo foi tão marcante e tão incrível para um jogador com 38 anos de idade (!) que aquela final ganhou até um nome próprio: The Matthews Final (A Final de Matthews). 

Elizabeth II recebe o cumprimento de Stanley Matthews.

 

O maior craque inglês da época, enfim, vencia sua primeira taça de peso. Em um dia simplesmente mágico que ficou na memória de todo e qualquer torcedor presente em Wembley naquele dia. Quando completou 50 anos, Matthews se tornou o primeiro futebolista britânico a receber da Rainha o título de Sir, abrindo caminho para dezenas de outros futebolistas e técnicos que foram condecorados pela Rainha.

Mais de uma década depois, Elizabeth II foi presença ilustre em jogos da Inglaterra na Copa do Mundo de 1966. Na abertura do Mundial, a Rainha viu das tribunas de Wembley o English Team empatar sem gols contra o Uruguai do goleiro Mazurkiewicz, que gerou uma anedota interessante. Antes da partida, os jogadores foram cumprimentados um a um pela Rainha Elizabeth II e reza a lenda que Mazurkiewicz, ao estender e beijar a mão da Rainha, disse: “Você é como algo saído de uma pintura, madame, mas nós vamos ganhar hoje!”

Será que a Rainha ouviu o que o Mazurka falou? Foto: PA

 

Os companheiros de Mazurka não acreditaram no que tinham acabado de ouvir. Ele teria dito em espanhol, claro, talvez para ela não notar. Mas o fato é que aquela brincadeirinha ajudou a amenizar a tensão da estreia e tranquilizar o time para o jogo. Com isso, a Celeste segurou o ímpeto dos ingleses e o zero não saiu do placar. Mazurka, claro, mostrou a todos suas qualidades com grandes defesas e muita sobriedade. 

Tempo depois, a Rainha teve a honra de entregar ao capitão da Inglaterra, Bobby Moore, a Taça Jules Rimet, quando o English Team venceu a Alemanha por 4 a 2 na grande final da Copa. Foi um dos momentos de grande alegria de Elizabeth II não só por estar presente no primeiro – e até hoje único – título mundial de seu país, mas também pelo fato de Moore jogar na época no West Ham, tido como clube do coração da Rainha. 

Ao longo das décadas, Elizabeth II esteve presente em outras finais importantes do futebol inglês e também na Eurocopa de 1996, quando entregou ao capitão alemão Jürgen Klinsmann o troféu da Eurocopa vencido pela Alemanha naquele ano. Nos anos seguintes, quando a saúde da Rainha começou a se fragilizar, ela deixou com seu neto, William, a missão de prestigiar os principais eventos esportivos no país. 

Klinsmann ergue a Euro de 1996, após receber o troféu da Rainha. Foto: Getty Images.

 

Em sua única visita ao Brasil, em 1968, a Rainha Elizabeth II conheceu o Rei Pelé no Maracanã. Os dois se encontraram na Tribuna de Honra do estádio após uma partida entre as seleções do Rio e de São Paulo. Os paulistas venceram a disputa por 3 a 2. Pelé, o capitão da seleção paulista, marcou um dos gols, o 900º de sua carreira. Foto: Agência Estado.

 

Além do futebol, Elizabeth II foi a única pessoa a abrir duas edições de Jogos Olímpicos: em 1976, em Montreal (Canadá), ela abriu a cerimônia como Chefe da Comunidade Britânica. E, em 2012, nos Jogos de Londres, quando foi “escoltada” por James Bond e “pulou” (foi um dublê, claro) de paraquedas junto com o célebre agente secreto 007. O adeus de Elizabeth II deixa uma lacuna. E também as memórias de sua presença em momentos únicos do esporte. 😢

 

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