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Craque Imortal – Alex

 

Nascimento: 14 de setembro de 1977, em Curitiba, Brasil.

Posição: Meia.

Clubes: Coritiba-BRA (1995-1997 e 2013-2014), Palmeiras-BRA (1997-2000, 2001-empréstimo e 2002-empréstimo), Parma-ITA (2000-2002), Flamengo-BRA (2000-empréstimo), Cruzeiro-BRA (2001-empréstimo e 2002-2004) e Fenerbahçe-TUR (2004-2012).

Principais títulos por clubes: 1 Copa Libertadores da América (1999), 1 Copa Mercosul (1998), 1 Copa do Brasil (1998) e 1 Torneio Rio-SP (2000) pelo Palmeiras.

1 Campeonato Brasileiro (2003), 1 Copa do Brasil (2003) e 2 Campeonatos Mineiros (2003 e 2004) pelo Cruzeiro.

3 Campeonatos Turcos (2004-2005, 2006-2007 e 2010-2011), 1 Copa da Turquia (2011-2012) e 2 Supercopas da Turquia (2007 e 2009) pelo Fenerbahçe.

1 Campeonato Paranaense (2013) pelo Coritiba.

Principais títulos por seleção: 2 Copas Américas (1999 e 2004) pelo Brasil.

Principais títulos individuais e Artilharias:

Bola de Ouro do Campeonato Brasileiro pela revista Placar: 2003

Bola de Prata do Campeonato Brasileiro pela revista Placar: 2003

Melhor Jogador da Copa Mercosul: 1998

Melhor Jogador do Campeonato Paranaense: 1996 e 2013

3º Camisa 10 com maior número de gols da história do futebol brasileiro, atrás “apenas” de Pelé e Zico: 422 gols em 1035 jogos. OBS: atuando como meia, caso conteste a ausência de Roberto Dinamite. Embora usasse a camisa 10, o vascaíno atuava como centroavante.

Melhor Meia da América do Sul pelo jornal El País: 1999 e 2003

3º Artilheiro mais efetivo do Mundo pela IFFHS: 1999

Artilheiro da Copa Mercosul: 1998 (6 gols)

Artilheiro do Campeonato Paulista: 1999 (12 gols)

Artilheiro do Campeonato Paranaense: 2013 (15 gols)

Artilheiro do Campeonato Turco: 2006-2007 (19 gols) e 2010-2011 (28 gols)

Maior Assistente da Liga dos Campeões da UEFA: 2007-2008 (6 assistências)

Maior Assistente do Campeonato Turco: 2004-2005 (16 assistências), 2005-2006 (24 assistências), 2007-2008 (13 assistências) e 2010-2011 (17 assistências)

Futebolista do Ano na Turquia: 2005 e 2010

Melhor Jogador da Copa da Turquia: 2011-2012

Eleito para a Calçada da Fama do Mineirão: 2009

Eleito para o Time dos Sonhos do Cruzeiro do Imortais: 2021

Eleito para o Time dos Sonhos do Palmeiras do Imortais: 2021

 

“Maestro de Ouro e Gols”

 

Por Guilherme Diniz

 

Meias são responsáveis por arquitetar jogadas, fazer lançamentos precisos, dar aquela assistência para o atacante estufar a rede. Cobram faltas com perfeição, decidem um jogo num passe. Mas são raros os meias que possuem o faro de artilheiro, o tino para gols. E, quando eles aparecem, são simplesmente devastadores. Durante 19 anos, o futebol teve o privilégio de ganhar um camisa 10 artilheiro e ao mesmo tempo garçom. Só que ele não fazia apenas gols. Eram obras-primas, com plasticidades únicas que até hoje fazem com que amantes do esporte busquem vídeos de determinados gols que eles viram e se recordam como se fosse ontem. Ele nasceu “menino de ouro” no Coritiba, colecionou prêmios de revelação no futebol paranaense e foi colecionar outros no Palmeiras. Pelo alviverde, fez história, mas foi com o manto azul do Cruzeiro que ele se transformou de vez no “maestro de Ouro”, no líder do primeiro clube vencedor da Tríplice Coroa em toda a história do futebol brasileiro, em 2003.

Anos depois, virou lenda em Istambul a ponto de se transformar em estátua como prova máxima de idolatria da torcida do Fenerbahçe. Mesmo sem ter disputado uma Copa do Mundo, Alexandro de Souza, o Alex, cravou seu nome como um dos mais talentosos meias do futebol e também um incrível goleador para alguém que tinha como principal função servir gols ao invés de marcá-los. Foram mais de 400 anotados na carreira. E outras centenas de assistências para os mais diversos companheiros. Ícone de gerações e referência de futebol bem jogado, Alex registrou números superiores a muitos atacantes e títulos incontestáveis, além de ter muita sabedoria para contestar dirigentes e as coisas ruins do futebol como raros atletas têm e tiveram. É hora de relembrar.

 

Menino de Ouro

Nascido em Curitiba, mas criado no município de Colombo, na Grande Curitiba, Alex teve uma infância humilde, com laços fortes em sua avó, que cuidava do garoto em boa parte do tempo enquanto seus pais trabalhavam para garantir o sustento da família. Embora seu pai fosse santista e quase toda sua família corintiana, o jovem encontrou no Coritiba o elo para iniciar sua paixão pelo futebol. Alex começou a frequentar o clube no final dos anos 1980, logo após o histórico título do Brasileiro de 1985. Sobre esse título, Alex apenas ouviu o Coxa ser campeão, pois sua família não tinha TV em casa. Ele se agarrou a um radinho e vibrou com o feito do time que conseguiu derrotar o Bangu em um Maracanã com mais de 100 mil pessoas. Jogando nas categorias de base do alviverde, Alex começou a se destacar rapidamente pela técnica apurada, os passes precisos e os belos gols.

Em sua primeira peneira, aos 10 anos, conseguiu ser o único em um grupo de 300 garotos a ser chamado pelo Professor Miro, que aconselhou o jovem a praticar determinados fundamentos no futsal. Passado um tempo, Alex voltou mais ágil e ainda mais técnico e era um dos destaques do time de aspirantes do Coxa já no começo dos anos 1990, período conturbado do clube por causa do rebaixamento de 1989 e muita oscilação entre 1990 e 1994. Alex não escondia de ninguém que sua inspiração máxima era Zico, seu ídolo, além de Sócrates, lenda da seleção de 1982 e do Corinthians, e Pita, grande craque do São Paulo campeão brasileiro de 1986.

Em 02 de abril de 1995, Alex fez sua estreia no time profissional na vitória sobre o Iraty por 3 a 1 pelo Campeonato Paranaense. E ele começou da melhor maneira possível: uma assistência para gol e grandes lances que lhe renderam em pouco tempo o apelido de “Menino de Ouro”. O primeiro gol saiu em 07 de junho, na goleada de 4 a 0 sobre o Matsubara. Paulo César Carpegiani, técnico do Coritiba na época, foi um dos responsáveis por lançar Alex no time titular e fazer com que o jovem crescesse de produção ao deslocá-lo para a meia-esquerda, possibilitando a criação de jogadas e chances de gols. Vestindo uma pouco usual camisa 9, o meia foi titular em toda a temporada e eleito a revelação do Campeonato Paranaense com apenas 17 anos. Em dezembro, ele ainda marcou um gol – em chute de fora da área – e deu um passe sensacional para Pachequinho marcar na vitória por 3 a 0 sobre o rival Athletico-PR que garantiu o acesso do Coxa à Série A do Campeonato Brasileiro. O Furacão também subiu naquele ano.

Veja os gols:

 

“Foi uma surpresa grande e uma satisfação pessoal muito legal. Novidade boa, que desconhecia. Naquele dia, se a gente vencesse, entrávamos na briga para subir de divisão. Era um jogo fundamental, com uma energia muito grande pela cidade”, comentou Alex ao site Terra, em dezembro de 2014, sobre seu gol no Atletiba, o primeiro do meia em um clássico.

 

Ele permaneceu no clube até 1997 – ano em que conseguiu o maior contrato do elenco e virou capitão com apenas 19 anos -, mas não conquistou títulos. Entretanto, o jovem despertou o interesse de vários clubes, entre eles Corinthians e Palmeiras, que apresentaram propostas equivalentes, mas fizeram com que o meia escolhesse o Verdão pelo fato de o clube alviverde passar por uma reformulação na época após o desmanche do timaço de 1996, principalmente com as saídas de Djalminhae Rivaldo, jogadores que atuavam no elo entre meio de campo e ataque, exatamente a posição de Alex. Se fosse para o Corinthians, ele não teria tanto espaço pelo fato de o Timão já ter um time formado e Marcelinho Carioca como titular no meio, além das sondagens para a vinda de Ricardinho, que de fato iria acontecer. Com isso, em julho de 1997, Alex chegou ao Palmeiras após disputar o Mundial Sub-20 pela seleção e foi direto: “quero me consolidar no time”. De fato, ele faria muito mais que isso…

 

Às críticas, futebol!

Palmeiras1998
O Palmeiras campeão da Copa Mercosul de 1998. Em pé: Arce, Júnior Baiano, Roque Júnior, Júnior, Velloso e Cléber. Agachados: Paulo Nunes, Oséas, Alex, Zinho e Rogério.

 

Alex não chegou sozinho ao Palmeiras. Zinho, Oséas e o técnico Luiz Felipe Scolari também vieram para começar uma nova era de ouro do clube alviverde. Embora fosse muito jovem, Alex tinha um peso considerável naquela chegada ao Palmeiras. Ele teria que substituir simplesmente Djalminha, um dos maiores craques da história do futebol brasileiro e que jogou muito pelo Verdão. Claro que o estilo de jogo de Alex era diferente, não tinha aquela coisa do drible, do boleiro, mas ele era tão craque quanto.

 

“Dois anos e meio depois de estar jogando no Coritiba e na seleção sub-20 aconteceu a negociação com o Palmeiras. Não foi fácil, foi uma transição complicada porque a exigência no Coritiba naquele momento era mínima, eu era uma promessa como existem várias todos os anos. E fui para um clube que tinha um poder financeiro muito grande, na época com a parceria da Parmalat. Naquele momento, eu ia como uma promessa para substituir “só” Djalminha e Rivaldo. Era uma missão bem complicada e não foi fácil. Estava saindo de casa pela primeira vez para viver sozinho numa cidade que é infinitamente maior que Curitiba, com uma pressão muito maior por jogar no Palmeiras. Quando eu cheguei, era claro que o objetivo do clube era ser campeão da América. Cheguei num início de projeto de ganhar a Libertadores”. – Alex, em entrevista ao globoesporte.com, 23 de agosto de 2014.

 

Logo em sua primeira temporada, o meia foi um dos destaques do Palmeiras vice-campeão brasileiro de 1997, que perdeu a final para o Vasco de Edmundo. No ano seguinte, o meia começou a sofrer críticas da torcida por supostamente sumir em determinados jogos, oscilando bastante. Acontece que ele não jogava livre e era sempre bem marcado por volantes que roubavam a bola e saíam para o jogo. Mesmo assim, o craque tinha autocrítica e sabia quando ia bem, quando ia mal, e quando não ia bem por causa do time.

Mas quase sempre a culpa caía em cima dele, por ser o camisa 10, o cérebro. Até 1998, Alex se importava com as críticas, ficava sentido. Depois disso, passou a ignorar e fazer o seu melhor. Quando ele arrebentava, era enaltecido. Mas quando jogava mal, as contestações eram mais duras do que a exaltação. Típico do futebol brasileiro, como se um jogador tivesse a obrigação de jogar bem todo jogo. Nem Pelé jogava bem sempre. Nem Messi joga bem sempre. Nem CR7 joga bem sempre. Por que Alex jogaria bem sempre? Dá um tempo, pô!

Alex disputa a bola com Luizão, do Vasco, em 1998. Foto: Gazeta Press.

 

Nesse clima, Alex foi campeão da Copa do Brasil de 1998, mas só iria mudar o jogo de vez no segundo semestre daquele ano em um curioso episódio. Quando Felipão divulgou a numeração dos jogadores para a disputa da Copa Mercosul, Alex recebeu a camisa 20. O número 10 foi para o polivalente Rogério, que na teoria iria compor o meio de campo com Galeano, César Sampaio e Zinho no time titular. Alex ficou ressabiado com aquilo, e, pouco tempo depois, foi parar na reserva em um jogo contra o Athletico-PR pelo Campeonato Brasileiro, no Pinheirão.

Após um primeiro tempo sem gols, no intervalo, Felipão pediu para Alex se aquecer. Enquanto ele se aquecia, o treinador comentou perto dali, para que o camisa 20 pudesse ouvir: “eu vou pôr o Alex, mas eu não sei qual Alex eu vou pôr. Se vai ser o que nos ajuda, ou o que tem nos atrapalhado”. Alex ficou mordido. E, em campo, com apenas quatro minutos, mostrou seu valor e fez o gol da vitória por 1 a 0. O fato é que Felipão fez aquilo, na verdade, para mexer com o meia. E deu certo!

Foto: Paulo Giandalia / Folhapress.

 

A partir dali, o craque seria o principal nome do time. Na Copa Mercosul, anotou seis gols, foi o artilheiro e ajudou o Verdão a conquistar o troféu inédito na final contra o Cruzeiro. Alex disputou incríveis 71 jogos naquela temporada e marcou 20 gols, além de ter recebido sua primeira convocação para o time principal da seleção brasileira, já comandada por Luxemburgo após a saída de Zagallo. O título foi uma espécie de “vestibular” para o elenco alviverde entender como se jogava uma competição internacional. Com aquela experiência, o caminho da Libertadores estava pavimentado. Era hora de seguir rumo ao sonho.

 

Rei da América (pelo Verdão e pela Seleção)

Contra o River, em 1999, Alex deu show. Foto: AE.

 

Em 1999, Alex foi o maestro na campanha do Palmeiras na Libertadores. O craque cresceu de produção ainda mais, fez jogadas sensacionais e virou goleador exatamente quando o time mais precisou: no mata-mata. Nas oitavas de final, contra o então campeão Vasco, o craque marcou dois gols – um deles um golaço, em tabelinha com Paulo Nunes – na vitória por 4 a 2 em pleno estádio de São Januário que garantiu o Verdão nas quartas de final.

 

Veja os gols:

Após superar o rival Corinthians, o alviverde despachou o River Plate-ARG com outro recital de Alex, que marcou dois golaços na vitória por 3 a 0 no Palestra Itália que colocou o time paulista na decisão. Para Alex, foi seu principal jogo com a camisa alviverde na carreira.

Veja abaixo:

Na final, contra o Deportivo Cali-COL, o Palmeiras perdeu a ida por 1 a 0, mas venceu a volta por 2 a 1 e conquistou a taça nos pênaltis de maneira épica (leia mais clicando aqui!). Alex foi o vice-artilheiro do time na competição com quatro gols e também o artilheiro do Paulistão daquele ano com 12 gols.

Zé Roberto, Alex, Ronaldinho Gaúcho e Luxemburgo.

 

No meio do ano, o craque esteve com o Brasil na campanha da Copa América que terminou com mais um título invicto da equipe brasileira. O meia deixou sua marca na vitória sobre o México por 2 a 1, em um golaço de fora da área, mas não foi titular absoluto por causa da concorrência com Rivaldo e Zé Roberto, mais utilizados por Luxemburgo. Mesmo assim, Alex foi presença constante nas convocações do treinador e esteve também na Copa das Confederações de 1999, na qual o meia foi vice-artilheiro com quatro gols, sendo dois na goleada de 4 a 0 sobre a campeã europeia Alemanha, e dois nos 8 a 2 sobre a Arábia Saudita. O time brasileiro acabou perdendo para o México a decisão por 4 a 3.

Alex disputa a bola com Paul Scholes, no Mundial de 1999. Foto: Shaun Botterill / Allsport.

 

Ainda em 1999, Alex foi eleito o melhor meia da América do Sul pelo jornal El País (URU) e um dos principais artilheiros do Palmeiras com 21 gols em 62 jogos, além de ser fundamental na construção de jogadas e no elo entre meio de campo e ataque. O ano só não foi mais perfeito porque o Verdão acabou perdendo a final do Mundial de Clubes para o Manchester United-ING mesmo jogando melhor e com um gol mal anulado de Alex. Por detalhes, a equipe alviverde não venceu o sonhado título.

 

O pior momento

Alex, do Palmeiras, contra o Boca Juniors, primeiro jogo da final da Taça Libertadores, no Estádio La Bombonera.

 

Em janeiro de 2000, Alex continuou seu processo de ascensão na brilhante campanha do Brasil no Pré-olímpico. Na primeira fase, ele marcou gol no empate em 1 a 1 com o Chile e na vitória por 2 a 0 sobre o Equador. No quadrangular final, mais um gol na vitória por 4 a 2 sobre a Argentina e grandes atuações nos 3 a 1 sobre o Chile e no empate em 2 a 2 com o Uruguai que sacramentaram o título brasileiro no torneio e a consequente classificação para as Olimpíadas.

Apenas três dias depois do Pré-olímpico, Alex nem teve tempo de curtir seus familiares no Paraná (o torneio foi disputado em Londrina), pois teve que viajar até São Paulo para disputar um jogo pelo Torneio Rio-SP, contra o Corinthians. Ele chegou exatamente no dia do jogo, 09 de fevereiro, e marcou os três gols da vitória por 3 a 1 do Verdão! Naquele primeiro semestre, o craque foi mais uma vez fundamental para outra campanha fantástica do Palmeiras na Copa Libertadores.

O alviverde passou em primeiro lugar no Grupo 7, eliminou o Peñarol-URU nas oitavas após triunfo nos pênaltis por 3 a 2 (Alex converteu sua cobrança), passou pelo Atlas-MEX nas quartas e encarou o rival Corinthians em dois jogos eletrizantes nas semifinais. No primeiro, vitória alvinegra por 4 a 3 (com um gol de Alex). No segundo, triunfo alviverde por 3 a 2 (outro gol de Alex) e mais uma decisão por pênaltis. Alex fez o seu e Marcos garantiu o Verdão na final ao defender a cobrança de Marcelinho Carioca, em um dos maiores Derbys da história – leia mais clicando aqui!

 

Alex tenta passar por Fábio Luciano, do Corinthians, no histórico duelo pela Libertadores de 2000. Foto de Daniel Augusto Jr. / L! Sportpress.

 

Faltavam apenas dois jogos para o bicampeonato continental. O último adversário era o temido Boca Juniors do técnico Carlos Bianchi e do meia Riquelme. Na ida, em La Bombonera, o Palmeiras foi valente e segurou o empate em 2 a 2, com Alex cobrando a falta perfeita que resultou no gol de Pena, no primeiro tempo. Na volta, no Morumbi, o placar não saiu do zero e a decisão foi para os pênaltis, assim como em 1999. Mas acabou dando Boca: 4 a 2. Alex converteu sua cobrança, mas Asprilla e Roque Júnior perderam.

Após a Libertadores, o Palmeiras passaria por um novo desmanche, além de a parceria com a Parmalat mostrar-se cada vez mais perto do fim. Com isso, Alex acabou negociado ao Parma-ITA, também administrado pela empresa de laticínios na época. O clube italiano vinha de um período cheio de glórias naquele final de anos 1990, mas também começaria a enfrentar um desmanche exatamente no segundo semestre de 2000 com as saídas de Dino Baggio, Hernán Crespo, Luigi Apolloni, Mario Stanic e Ariel Ortega. A transferência aconteceu em junho de 2000, em meio ao casamento de Alex, que ganhou alguns dias de folga para passar a lua-de-mel.

Além da experiência de jogar no exterior, Alex queria diminuir o excesso de jogos que vinha tendo desde 1998, com uma média de mais de 70 partidas no ano. No entanto, quando ele finalmente viajou até a Itália, o craque viu que nada do que lhe fora prometido era verdade. Para começar, o técnico do Parma, Alberto Malesani, não tinha interesse no brasileiro em seu esquema tático. Depois, a diretoria do clube disse que iria emprestá-lo a um time da segunda divisão, algo que Alex foi contra desde o início. Indisposto, ele acabou negociado por empréstimo ao Flamengo.

Alex, camisa 10 da seleção nas Olimpíadas.

 

Antes de atuar no Fla, porém, Alex realizou o sonho de disputar uma Olimpíada, marcou dois gols na fase de grupos, mas o time brasileiro acabou eliminado por Camarões já nas quartas de final. Quando voltou, Alex não conseguiu demonstrar seu melhor futebol no rubro-negro muito por conta da bagunça administrativa e financeira do time carioca na época. Ele não recebeu salários e saiu depois de permanecer, na prática, apenas 47 dias no clube, embora tivesse cinco meses de contrato. Foram apenas 12 jogos e três gols pelo Flamengo.

Alex e Denílson, no Flamengo: tempos para esquecer.

 

Em 2001, Alex voltou a jogar pelo Palmeiras, por empréstimo, e permaneceu até junho. Ele não faturou títulos e disputou outra Libertadores, chegando até as semifinais. Durante esse conturbado período, o craque não conseguiu ter uma sequência positiva de jogos e voltou a ter problemas com o Parma, que acabou pagando o atleta via empresa offshore e chegou a falsificar uma assinatura do meia em um contrato sem qualquer consentimento do jogador, que só foi descobrir depois. Ainda em 2001, o meia teve que conseguir na justiça uma liminar que permitia a ele atuar por outro clube que não fosse o Parma e acertou com o Cruzeiro um contrato de agosto de 2001 até julho de 2002.

Quando chegou, tinha a esperança de retomar a parceria com Paulo César Carpegiani, seu técnico lá no Coritiba, mas justo quando ele desembarcou em Minas, o treinador saiu. Ivo Wortmann assumiu a Raposa e Alex descobriu que não poderia jogar porque sua liminar havia sido cassada. Por conta dos processos, ele acabou frequentando mais os tribunais do que os gramados – em um duelo contra o Bahia, por exemplo, foi impedido de jogar momentos antes de entrar em campo, já uniformizado! Mesmo com essa bagunça burocrática, Alex disputou 29 jogos, marcou seis gols e deu 10 assistências.

Alex, Edmundo, Oséas e Cris: primeira passagem do meia no Cruzeiro não foi boa. Foto: Arquivo / LANCE.

 

Alex ficou no Cruzeiro até dezembro e foi suspenso pela FIFA por ter contrato duplo – com Parma e Cruzeiro. O meia teve que ir até a Suíça para acertar de vez a situação, mas, enquanto isso, foi mandado embora do clube mineiro no dia 04 de janeiro de 2002 mesmo com a certeza de que iria continuar no time por conta da palavra da diretoria – que no fim não valeu nada… Na FIFA, ele já não tinha mais o contrato duplo, o Parma reconheceu seus erros e questionou quando e aonde ele iria jogar. Acontece que Alex só tinha uma semana para encontrar um clube por causa do fim da janela de transferências. Nesse meio tempo, o brasileiro conversou com Luxemburgo, então técnico do Palmeiras, e voltou ao clube para mais um empréstimo – de três meses – pensando já na Copa do Mundo.

 

O golaço e a ausência na Copa

Alex reestreou pelo Palmeiras em fevereiro de 2002, no Torneio Rio-SP, e já marcou um gol em sua segunda partida, no triunfo sobre o Santos por 2 a 1. Em março, marcou dois na vitória por 3 a 2 sobre o Fluminense, e, no dia 20 de março, fez um dos gols mais bonitos da história do futebol brasileiro, do Morumbi e de toda sua carreira. Na vitória por 4 a 2 sobre o São Paulo, Alex recebeu na entrada da área, chapelou o zagueiro Émerson, chapelou o goleiro tricolor Rogério Ceni e mandou a bola pro gol. Foi artístico, empolgante, único. Só vendo para entender:

 

“Ali é o seguinte: normalmente você espera a bola à frente, mas o Christian me deu a bola atrás. Quando ele me dá a bola atrás, eu visualizo a zaga do São Paulo tentando diminuir o meu espaço, acho que é o Émerson o zagueiro. Quando a bola vem pra trás, eu dou o que chamam de ‘taco’, dou com o lado do pé, chapéu no Émerson e percebo que eu estou dentro da área. Ninguém vai me tocar ali. O Rogério, da maneira dele, fecha o ângulo. Eu tinha algumas opções e escolhi dar o chapéu; quando ele para, eu dou o segundo chapéu e entro com a bola.”Alex, explicando sua obra-prima, no programa “Resenha ESPN”, da ESPN Brasil, março de 2017.

 

O gol ganhou as manchetes de todo país e fez com que a torcida fizesse até um outdoor exaltando aquele lance. Mesmo com todas as dificuldades pelas quais passou no ano anterior, Alex provava que estava em forma, tinindo e que genialidade não se perde nem se esquece. Curiosamente, o golaço aconteceu pouco antes da convocação de Felipão para a Copa do Mundo de 2002. Aquela parecia a credencial do craque no grupo de convocados. Mas não foi isso que aconteceu. Mesmo tendo treinado Alex no Palmeiras e convocado o jogador em algumas oportunidades para a seleção, Felipão não levou o meia.

A ausência foi ainda mais chocante para o craque porque no último amistoso antes da convocação, contra a Islândia, Felipão disse para Alex que iria usar “os meninos” Kaká, Kléberson, Gilberto Silva e Ânderson Polga, e que ele não precisava jogar como titular. “É um time semiprofissional, não vai oferecer nada para nós, nós vamos ganhar ao natural”, disse Felipão. Tanto é que Alex entrou no jogo somente na segunda etapa e atuou como volante. No fim, uma partida que não valia nada serviu para sacramentar a convocação de atletas que tinham bem menos bagagem no time do que Alex (casos de Polga e Kaká – este ainda um garoto).

 

“Quando o Felipão não me leva em 2002 ele me dá uma carimbada para outros treinadores não me levarem em outras Copas, porque ele era meu treinador no Palmeiras, eu era referência no time dele. Eu tinha um contato pessoal com ele muito grande. A colocação dele… Eu vou morrer com esse questionamento”, disse Alex em entrevista ao “Noite dos Craques”, do Esporte Interativo, 24 de outubro de 2017.

 

Alex vinha na seleção desde 1999, havia vencido a Copa América e o Pré-olímpico. Rivaldo e Ronaldinho jogavam mais avançados, quase como atacantes. O 10 legítimo era mesmo Alex. Quando o volante Emerson foi cortado e Felipão levou Ricardinho, Alex pensou até que fosse o Ricardinho do Cruzeiro, não o do Corinthians. O treinador tentou se explicar tempo depois, em entrevista à ESPN Brasil em dezembro de 2017.

 

“Ele não foi porque eu não o escolhi. Porque naquele momento a gente tem que examinar se pode acontecer alguma lesão na equipe e onde é que nós íamos precisar de um jogador que compusesse mais a equipe taticamente. Então, como nós já tínhamos os meias que iam para frente, nós tínhamos que ter um meia que voltasse, que recuasse, que tivesse um pouco mais de participação defensiva, se precisasse. E aí eu escolhi o Ricardinho“.

 

O fato é que aquela atitude foi sem sentido algum. Tanto é que, em 2006, o técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, foi mais honesto, pois chegou para Alex e disse que ia jogar com Kaká e Ronaldinho como meias e Adriano e Ronaldo na frente, o famigerado “quadrado mágico”, e disse que não tinha como encaixar o meia ali, algo que o próprio Alex concordou e entendeu. O Brasil foi campeão em 2002 com todos os méritos, claro. Mas que Alex poderia contribuir de alguma maneira, isso ele poderia.

 

A volta por cima do maestro

Desolado após a não-convocação, Alex não quis permanecer no Palmeiras e voltou para a Europa. No Parma, jogou apenas cinco jogos, fez dois gols e deu sete assistências. Desgastado com todos no clube, conseguiu, enfim, encerrar de vez seu contrato em comum acordo e ficou livre pela primeira vez em dois anos. De volta ao Brasil, o craque pôde decidir com calma seu futuro. Surgiram duas propostas: uma do Grêmio e outra do Cruzeiro. Em um primeiro momento, Alex pensou no tricolor por causa da família de sua esposa, mas acabou balançando para o lado da Raposa por causa de Vanderlei Luxemburgo, técnico dos azuis e que ficou ligando para o meia incessantemente quando descobriu que ele estava livre. Ambos conversaram e Luxemburgo disse que “ninguém queria ele em Minas, apenas ele”. Luxa bancou Alex por três meses e garantiu que ele iria continuar para o “projeto” (como sempre disse o treinador) de 2003.

Alex aceitou e voltou ao Cruzeiro mordido. Ele queria provar a todos seu valor. Para mostrar que a demissão de 2002 havia sido um engano tremendo – ainda mais depois que ele soube que um membro da diretoria azul havia dito que sua saída foi por “deficiência técnica”. Coitados…

De letra, Alex marcou o gol cruzeirense no primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 2003 contra o Flamengo.

 

E o ano de 2003 foi totalmente do craque. E do Cruzeiro. O clube venceu o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro com recitais de Alex, que jogou absurdamente muito, marcou golaços e foi o principal nome do clube em todas as competições. Jogando em paz, sem problemas burocráticos, sem tribunais e com o aval total do técnico, ele conseguiu desempenhar seu melhor futebol, mais ainda do que em seus tempos de Palmeiras.

No Campeonato Mineiro, o meia disputou 11 dos 12 jogos da Raposa, marcou nove gols, deu nove assistências e ainda destroçou o rival Atlético-MG na goleada de 4 a 2 na qual ele marcou dois gols (um deles de fora da área) e deu um passe de letra para outro. Na Copa do Brasil, Alex jogou os 11 jogos, marcou seis gols e deu nove assistências. Suas atuações mais marcantes foram exatamente na final contra o Flamengo, quando marcou um gol de letra na partida de ida (empate em 1 a 1, no Maracanã) e deu os passes para todos (isso mesmo, TODOS) os gols da vitória por 3 a 1 no Mineirão.

Veja o golaço de letra:

E os gols da vitória por 3 a 1:

Mas o craque deixou mesmo para o Brasileirão seu Grand Finale. O camisa 10 disputou 38 dos 46 jogos do Cruzeiro, marcou 23 gols e deu 15 assistências. Ele foi fundamental para a histórica campanha do clube mineiro, campeão com 100 pontos, mais de 72% de aproveitamento e 102 gols marcados em 46 partidas. A soma mais que perfeita chegou graças ao craque, que marcou sozinho cinco gols (quatro de pênalti) nos 7 a 0 sobre o Bahia, na última rodada, igualando-se a ninguém mais ninguém menos que Ronaldo Fenômeno como jogador com maior número de gols anotados em um mesmo jogo na história do Cruzeiro em Campeonatos Brasileiros. No ano, Alex participou de 42% de todos os gols marcados pelo Cruzeiro, venceu a Bola de Ouro de melhor jogador do Brasileirão pela revista Placar, ganhou a Bola de Prata e também o prêmio de melhor meia das Américas pela segunda vez na carreira.

Para Alex, o Cruzeiro de 2003 foi o melhor time que ele jogou na carreira, mais até que o Palmeiras campeão da América em 1999.

“Se tivesse que escolher um time, seria o de 2003 (Cruzeiro) e explico porquê. Era um time que fazia um gol e o treinador exigia que fizesse o segundo, depois exigia que buscasse o terceiro. Lembro de frases do Luxemburgo dizendo: ‘isso aqui é o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes, não é para ganhar ao acaso, é para ganhar como a história do Cruzeiro exige’. E aquilo se identificava com a minha forma de entender futebol e jogar. Pela exigência que o Luxemburgo tinha conosco, de fazer com que time, além de ganhar jogos, campeonatos, pudesse jogar em cima do que o pessoal que veio antes de nós tinha feito. Acredito que passamos perto”. – Alex, em entrevista ao Fox Sports Rádio, 09 de abril de 2020.

 

 

Aquele foi o melhor ano na carreira do craque, capitão do time em 2003. Incontestável, repleto de golaços, muita precisão técnica e atuações inesquecíveis que todo torcedor cruzeirense guarda com carinho na memória. E uma redenção por tudo o que ele havia passado. Alex foi não só o maior jogador brasileiro de 2003, mas também um dos maiores do mundo sem dúvida alguma. Leia muito mais sobre o Cruzeiro de 2003 clicando aqui!

 

Copa América e a ida à Turquia

Alex pela seleção, em 2004. Foto: Getty Images.

 

No mesmo ano de ouro pelo Cruzeiro, Alex retornou à seleção, já sob o comando de Parreira, e disputou a Copa das Confederações, mas o time brasileiro foi eliminado ainda na primeira fase. No ano seguinte, o craque foi o capitão do Brasil na disputa da Copa América e ajudou o time canarinho a conquistar mais um título continental. O craque fez um gol na vitória por 4 a 0 sobre o México, nas quartas de final, converteu sua cobrança na disputa de pênaltis contra o Uruguai, nas semis, e cobrou a falta que originou o gol do zagueiro Luisão no empate em 2 a 2 com a Argentina na final – em jogada típica do Cruzeiro. O jogo foi para as penalidades e o Brasil venceu por 4 a 2, levantando o caneco de maneira histórica – leia mais clicando aqui! Alex jogaria pelo Brasil até outubro de 2005. Foram 49 jogos, 12 gols e 11 assistências.

Alex, capitão do Brasil, ergue a Copa América de 2004.

 

Ainda em 2004, Alex venceu mais um Campeonato Mineiro pelo Cruzeiro, mas a decepção ficou por conta da Libertadores, na qual o time azul foi eliminado nas oitavas de final para o Deportivo Cali-COL nos pênaltis, com Alex desperdiçando sua cobrança. Sem Luxemburgo, que foi treinar o Santos de Robinho, Alex decidiu aceitar uma proposta do Fenerbahçe-TUR e deixou o clube no meio de 2004.

Muitos pensaram que o meia iria se “esconder” no futebol turco. Mas aconteceu exatamente o contrário. Alex virou o principal nome do time em pouco tempo e faturou já na temporada 2004-2005 o título do Campeonato Turco, sendo eleito o melhor jogador do torneio. A taça veio na penúltima rodada e da melhor maneira possível: vitória por 1 a 0 sobre o maior rival, o Galatasaray, com gol de Márcio Nobre, brasileiro que foi parceiro de Alex no Cruzeiro em 2003. Alex anotou 24 gols e foi o vice-artilheiro da competição. O brasileiro fez mais gols inclusive do que o atacante Hakan Sükür, um dos principais nomes do futebol turco na época e estrela da seleção da Turquia na Copa do Mundo de 2002 e do Galatasaray multicampeão na virada do milênio.

 

“Deus” Alex

A partir de 2006, Alex viveria um momento especial na carreira. O craque ganharia a companhia de seu ídolo de infância Zico, novo treinador do Fenerbahçe em julho daquele ano. Era quase a realização de um sonho ter o Galinho ao seu lado, mas que demorou um pouco para Alex conseguir desvencilhar aquela imagem. “O Zico marcou uma época do futebol. Se não bastasse, foi meu treinador, o que não foi fácil. Naqueles dois anos, nas primeiras vezes que entrei no vestiário e o vi em minha frente, não via apenas um treinador, mas sim uma referência. Ele que me transformou em capitão. Foi o melhor gerenciador de pessoas que conheci no futebol. Deixava o ambiente sempre agradável”, disse Alex ao site Terra, em dezembro de 2014.

Na mesma reportagem, Zico confirmou aquele início da relação entre ídolo e fã. “O grande desafio no começo foi quebrar uma barreira inicial, de vencer a relação de ídolo que ele tinha comigo. Por mais que fosse bacana, lá éramos do Fenerbahçe e eu precisava fazê-lo entender que ele era o capitão e ídolo do time. Depois disso foi tudo bem, tivemos uma harmonia muito boa”, comentou o Galinho.

Alex e Zico: choque de gerações.

 

A parceria deu mais certo do que o esperado. Alex virou o capitão do time – algo raro para um estrangeiro em solo turco -, venceu mais um Campeonato Turco em 2006-2007 e ainda a Supercopa da Turquia de 2007. Mas a campanha mais lembrada aconteceu em 2007-2008, quando o Fenerbahçe alcançou as quartas de final da Liga dos Campeões da UEFA e Alex foi o maior assistente do torneio com seis passes para gols.

Após despachar o Anderlecht-BEL na terceira fase qualificatória – com gols de Alex no primeiro jogo e também no segundo -, os Canários terminaram na segunda posição em seu grupo, eliminando PSV-HOL e CSKA-RUS, e ficando atrás apenas da Internazionale-ITA. Foram três vitórias (1 a 0 na Inter – gol de Alex; 2 a 0 no PSV e 3 a 1 no CSKA – um gol de Alex), dois empates e apenas uma derrota em seis jogos. Nas oitavas, os turcos eliminaram o Sevilla-ESP bicampeão da Copa da UEFA na época após vitória por 3 a 2 em casa, derrota pelo mesmo placar fora e vitória nos pênaltis por 3 a 2. Nas quartas, vitória por 2 a 1 sobre o Chelsea-ING, em casa, mas derrota por 2 a 0 fora que custou a vaga na semifinal.

Uma das escalações do Fenerbahçe de 2008. Em pé: Volkan Demirel, Deivid, Edu Dracena, Diego Lugano, Selcuk e Gönül. Agachados: Wederson, Mehmet Aurélio, Boral, Kezman e Alex. Foto: ANADOLU AJANSI – METIN PALA.

 

Aquela temporada foi muito especial para o time, que tinha, além de Alex, grandes nomes como os zagueiros Lugano e Edu Dracena, os meio-campistas Appiah e Mehmet Aurélio, o lateral-esquerdo Roberto Carlos e os atacantes Deivid e Kezman. E foi em 2008 que o Fenerbahçe iniciou ainda um período de sete jogos sem perder para o rival Galatasaray que só terminou em março de 2011. Aliás, entre maio de 2005 e março de 2011, o auge do período em que Alex esteve no clube, o Fenerbahçe perdeu apenas três jogos dos 18 que disputou no Intercontinental Derby – leia mais sobre esse grande clássico clicando aqui! Foram 12 vitórias e três empates. Dos triunfos, dois foram especiais: um 4 a 0 em abril de 2006, com um gol de Alex, e um 4 a 1 em novembro de 2008. Ao todo, Alex marcou seis gols no rival de Istambul.

Moussa Sow (à dir.) diz: “Esse é o cara!”.

 

Jogando muito e uma referência ofensiva no time – em 2010-2011, ele foi artilheiro do Campeonato Turco pela segunda vez na carreira com 28 gols em 33 jogos, além de 17 assistências -, Alex virou praticamente um “Deus” para os fanáticos torcedores do Fenerbahçe. A relação do craque com a torcida tomou uma dimensão tão grande que, em setembro de 2012, meses depois de o craque marcar dois gols na goleada por 4 a 0 sobre o Bursaspor que garantiu o título da Copa da Turquia, foi inaugurada uma estátua do craque perto do estádio do clube, em uma cerimônia que emocionou demais o brasileiro.

 

“Muito obrigado. Quero agradecer a todos. Quando soube da ideia da estátua, perguntei: “O que eu fiz para isso?” Ela é para vocês, todos vocês”, disse Alex, visivelmente emocionado.

 

Era apenas o reconhecimento a um jogador que provou não só em números, mas em campo, que era especial e um dos maiores da história do Fenerbahçe. Naqueles oito anos, Alex participou de praticamente um gol por jogo em todas as 378 partidas que disputou. Afinal, foram 185 gols marcados e 162 assistências, totalizando 347 gols, ou seja, uma média de 0,92 gol por jogo! Além disso, dos oito campeonatos turcos inteiros que disputou, Alex foi o maior assistente em metade deles: 2004-2005 (16 assistências), 2005-2006 (24 assistências), 2007-2008 (13 assistências) e 2010-2011 (17 assistências).

Uma pena que a história do jogador no Fener tenha terminado por um motivo tão fútil. O técnico do clube entre 2011 e 2013, Aykut Kocaman, entrou em conflito com o brasileiro por ciúmes (!). É que o técnico era ex-jogador do Fenerbahçe e estava receoso de o meia ultrapassá-lo na lista de maiores artilheiros da história dos Canários – algo que seria concretizado. Ele começou a frequentar o banco de reservas, ser substituído e nem ser escalado em algumas partidas. “Eu sou o treinador e a liderança do time, mas você é muito grande e forte. Não posso ter você contra minhas ideias dentro do vestiário”, disse Kocaman ao meia. Além disso, a diretoria passava por sérios problemas e o clube não tinha a força do final da década de 2000. Com isso e sem qualquer respaldo da diretoria, Alex rescindiu seu contrato com o clube em 2012.

 

“Entrei na sala do presidente às 16h15 e sai às 16h18. Oito anos de clube e ele resolveu tudo em apenas três minutos. O presidente me disse: ‘Pode falar’. Eu disse que gostaria de saber como proceder naquele momento, já que o treinador tinha me proibido de treinar juntamente com o time. ‘A decisão é sua! Você treina em separado ou vai embora!’, disse meu ex-presidente. Assim acabou. Não posso treinar separado somente porque eles desejam e se preocupam com aquilo que represento dentro do vestiário”, disse o jogador em nota oficial.

 

A saída abrupta do brasileiro – três anos antes do fim de seu contrato – causou comoção na torcida, que chegou até a fazer vigília em frente à residência do jogador com centenas de pessoas cantando “eu amo você, Alex”, em uníssono. Aquilo não era exagero nenhum. Era simplesmente a devoção a um jogador que virou ídolo e foi a imagem do Fenerbahçe em campo. Dedicado, profissional e vestindo a camisa do clube por quase uma década, ele foi um ídolo para gerações de torcedores, alguns que cresceram vendo o meia desfilar suas virtudes em campo e conduzindo os Canários a voos impensáveis.

A vigília da torcida do Fenerbahçe após a saída de Alex. Foto: Reprodução / Sporx.

 

A partir do momento em que o craque deixou a Turquia, começou outra comoção do outro lado do oceano: em Belo Horizonte. Em outubro de 2012, milhares de torcedores do Cruzeiro foram às ruas pedir para que Alex voltasse ao clube para a temporada de 2013. Cartazes, cantos, teve de tudo. A diretoria cruzeirense buscava também parceiros que pudessem viabilizar a contratação do jogador. De volta à Curitiba naquele mesmo mês, Alex disse que iria anunciar seu futuro em breve. Ele já sabia o que iria fazer. “Na minha cabeça, já está decidido. Mas, no momento certo, eu vou divulgar. Agora, vou descansar um pouco, resolver minhas coisas e, em dez dias, acho que eu anuncio”, comentou em sua chegada à capital paranaense.

Ele não esperou muito, e, no dia 17 de outubro de 2012, quatro dias após sua chegada, anunciou que iria vestir a camisa do Coritiba, seu time do coração. “Em 1997 eu não prometi a ninguém, mas fiz uma promessa a mim mesmo de que um dia eu iria voltar a vestir essa camisa maravilhosa”, disse o jogador no anúncio oficial. Foi a faísca para explodir a torcida do coxa em todo Paraná – e o lamento para a massa cruzeirense. O “menino de ouro” estava de volta para seus últimos momentos de genialidade.

 

O sonhado troféu, engajamento e aposentadoria

Alex ergue a taça do Paranaense de 2013 pelo Coxa. Foto: Gazeta do Povo.

 

Aos 35 anos, Alex mostrou que a idade avançada para um jogador era um mero detalhe. Ele ainda podia fazer muito, mas muito com a bola nos pés. Com o talento de sempre e o faro goleador que o acompanhou desde o início da carreira, o craque conseguiu o que tanto almejava: um título pelo Coritiba. E foi com estilo. No Campeonato Paranaense, o coxa faturou o tetracampeonato consecutivo em cima do rival Athletico-PR com uma vitória por 3 a 1 no Couto Pereira e dois gols de Alex. E mais: o capitão foi o artilheiro do torneio com 15 gols e ganhou a chuteira de ouro! Vencer um título com o Coritiba era o sonho de garoto realizado e seu nome de vez na história do clube. No Brasileirão, Alex seguiu jogando bem, marcou 12 gols em 28 jogos e foi o artilheiro do time na competição, com destaque para seus dois gols no empate em 2 a 2 contra o Santos na Vila Belmiro, o chutaço de fora da área na vitória por 2 a 1 sobre o então campeão brasileiro Fluminense (seu 400º gol na carreira), e a bicicleta no empate em 2 a 2 com o Bahia.

Veja abaixo:

 

 

Jogando muito e com a experiência de conhecer cada atalho do campo, Alex poderia servir até para a seleção brasileira da época, mas, se Felipão não chamou o craque em 2002, não seria em 2014 que ele iria levá-lo. Sorte do meia, que escapou do timeco do 7 a 1.

Foto: Felipe Gabriel/LANCEPress.

 

Ainda em 2013, Alex foi um dos atletas criadores do movimento Bom Senso FC, que cobrou de cartolas melhorias no calendário, no pagamento de salários e condições de trabalho. O meia se reuniu com deputados e senadores, mas o movimento acabou três anos depois sem grandes conquistas na prática. Em 2014, o craque anunciou sua aposentadoria dos gramados, mas não antes de ajudar o Coxa a escapar do rebaixamento no Brasileirão, com seis gols e sete assistências. A despedida aconteceu na última rodada, no dia 07 de dezembro, na vitória por 3 a 2 contra o Bahia, em um Couto Pereira lotado e com os jogadores vestindo uma camisa com os dizeres “Alex, obrigado capitão”.

Discreto, o meia não conseguiu deixar sua marca e saiu de campo aos 42’ do segundo tempo bastante emocionado. Chegava ao fim a trajetória de um dos maiores meias da história do futebol brasileiro e o camisa 10 com maior quantidade de gols que o Brasil já teve após Pelé e Zico, com impressionantes 422 gols em 1035 jogos, mais do que muito atacante tarimbado por aí.

Alex em sua despedida. Foto: Heuler Andrey / Getty.

 

Depois de pendurar as chuteiras, Alex não deixou o mundo esportivo de lado e segue na mídia, como comentarista da ESPN Brasil e participando de outros programas de entrevistas como convidado. O meia pretende iniciar uma carreira de treinador em breve, algo que será bastante promissor graças à sua experiência e sabedoria tanto no futebol quanto na parte de bastidores, por ter vivido de tudo um pouco. Enquanto ele não assume uma prancheta para novas histórias, ficam as escritas pelo maestro de ouro e de gols, da idolatria por várias camisas à lenda cravada para sempre na lendária cidade de Istambul. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

Disputou 209 jogos, marcou 70 gols e deu 58 assistências pelo Coritiba.

Disputou 243 jogos, marcou 78 gols e deu 56 assistências pelo Palmeiras.

Disputou 121 jogos, marcou 64 gols e deu 61 assistências pelo Cruzeiro.

Disputou 378 jogos, marcou 185 gols e deu 162 assistências pelo Fenerbahçe.

Disputou 49 jogos, marcou 12 gols e deu 11 assistências pela Seleção Brasileira.

Deu 356 assistências na carreira.

Foto: Geraldo Bubniak / AE.

 

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Comentários encerrados

6 Comentários

  1. Eu nasci em 92 então não vi muito da época de ouro do meu time (Palmeiras), mas o que pude acompanhar eu sempre me lembro desse gênio como referência, posso dizer tranquilamente que foi o melhor jogador que eu vi (de realmente ver e acompanhar) jogar com a camisa do meu time, e me lembro que torci que ele viesse pro Palmeiras na época que ele anunciou o retorno pro Brasil. Foi um jogador injustiçado mas que está marcado na história como um dos grandes dos últimos tempos no país.

  2. Um dos jogadores mais injustiçados que já existiu pois, como foi dito no texto, não disputou Copas, mas podia facilmente ter ido para as Copas de 2002, 2006 e 2010. 2014 não que aquele timeco desgraçado não merecia o Alex.

  3. O Alex é muito marcante. No ano de 2003 comecei a acompanhar futebol e ele era O Craque do Brasil. Ninguém segurava. Faltou pra ele jogar em um time do primeiro escalão da europa, pois tecnicamente tinha potencial para vencer Champions e assim ter reconhecimento de um Zidane, de um Ronaldinho…. Enfim, quem viu, sabe. Ele fez muito pelo futebol, mesmo não sendo tão reconhecido

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