Grandes feitos: Campeão do Campeonato Espanhol (1999-2000), Campeão da Copa do Rei (2001-2002), Bicampeão da Supercopa da Espanha (2000 e 2002) e Semifinalista da Liga dos Campeões da UEFA (2003-2004).
Time-base: Jacques Songo´o (Molina); Manuel Pablo (Scaloni), Naybet, Donato (Capdevilla) e Romero; Mauro Silva e Flávio Conceição (Sergio González / Jokanovic); Víctor Sanchéz, Djalminha (Valerón / Turu Flores) e Fran (Albert Luque / Pauleta); Roy Makaay (Diego Tristán / Walter Pandiani). Técnico: Javier Irureta.
“Alegria na Galícia”
Por Guilherme Diniz
Ao longo das décadas, o futebol espanhol sempre se mostrou bastante competitivo com seus clubes fora do continente, mas essa mesma fama quase nunca se refletiu nas disputas internas. Barcelona e Real Madrid tornam as competições nacionais praticamente bipolares e raramente têm seus tronos tomados por Athletic Bilbao, Sevilla, Atlético de Madrid e Valencia, os clubes que mais atrapalharam essa guinada de cores azul, grená e branco no decorrer dos anos. No entanto, na virada do século XX, o esporte no país ibérico virou de cabeça para baixo. Um clube sediado na região da Galícia, noroeste da Espanha, começou a cravar seu nome em livros e nos anais do futebol ao conquistar de maneira brilhante e com toques de pura arte um improvável Campeonato Espanhol na temporada 1999-2000. Não bastasse aquele título, ainda vieram uma Copa do Rei, duas Supercopas da Espanha e dois vice-campeonatos nacionais até 2002.
E aquele time azul e branco ainda conseguiu o impossível na temporada de 2003-2004, quando chegou às semifinais da Liga dos Campeões da UEFA após realizar uma das maiores viradas da história do futebol europeu ao reverter um 4 a 1 do jogo de ida e aplicar 4 a 0 na partida de volta sobre nada mais nada menos que o campeão continental da época: o temível Milan-ITA de Maldini, Cafu, Dida, Shevchenko, Kaká, Pirlo e companhia. Era a prova máxima de que o Deportivo La Coruña vivia, de fato, a melhor e mais fantástica fase de sua mais que centenária história. Graças ao trabalho de mãos de ferro do técnico Irureta, ao brilho de vários jogadores brasileiros e outros tantos atletas que seriam protagonistas, também, em outras equipes, o Deportivo transformou para sempre a Galícia e mostrou à Espanha que na Corunha também existia (ótimo) futebol, com direito a bailes impressionantes sobre os titãs Barça e Real, com este ganhando até a alcunha de “freguesão” de Donato, Naybet, Mauro Silva, Djalminha, Roy Makaay e outros jogadores que viraram ídolos e ajudaram a colocar o Deportivo entre os grandes clubes da Espanha (e até da Europa) naquela época. É hora de relembrar.
Sem medo de gastar
Considerado um clube pequenino do futebol espanhol, o Deportivo La Coruña começou a mudar essa imagem na temporada 1993-1994, quando só não ficou com o título espanhol por causa de Djukic, que perdeu um pênalti crucial no último jogo da equipe que daria a vitória e a taça ao clube. Na temporada seguinte, os galegos faturaram uma inédita Copa do Rei em cima do Valencia, no primeiro grande título da história do clube. Depois daquela taça, o Super Dépor (apelido do time na época) flertou com o título nacional (foi vice-campeão também em 1994-1995), não conseguiu transformar “uma copa em várias copas” e voltou a cair no ostracismo e a ficar nas sombras de Real e Barça, que conquistavam seus títulos graças ao enorme poder econômico sobre os rivais e ao apelo que suas camisas e suas torcidas têm no mercado, além do considerável crescimento de La Liga no cenário televisivo.
Com isso, o presidente Augusto César Lendoiro decidiu abrir os cofres e trazer jogadores que pudessem tirar o clube das posições intermediárias. Para comandar os futuros reforços, o mandatário trouxe para a parte técnica Javier Irureta, ex-Celta de Vigo, que assumiu o clube na temporada 1998-1999, quando o Deportivo trouxe, entre outros, o zagueiro Manuel Pablo, o lateral Enrique Romero e os atacantes Turu Flores e Pauleta. O time fez uma campanha razoável no Campeonato Espanhol e ficou na sexta posição, além de ter alcançado as semifinais da Copa do Rei. O time mostrou grande força jogando em seus domínios e teve vitórias marcantes, como um 4 a 0 sobre o Real Madrid e um 2 a 1 sobre o Barcelona, o campeão daquela temporada.
Para a temporada seguinte, o presidente Lendoiro voltou a abrir os cofres e trouxe mais nomes como o volante Slavisa Jokanovic, o meia Víctor Sánchez e o atacante Roy Makaay, que se juntaram a um elenco já forte que contava com remanescentes do título da Copa do Rei de 1995 (Mauro Silva, Donato e Fran) e nomes como o genial (e genioso) meia Djalminha, o volante Flávio Conceição, o goleiro camaronês Songo´o e o zagueiro marroquino Naybet. Com um ótimo time titular e bons suplentes, o Deportivo tinha um elenco promissor e apto para uma competição longa como o Campeonato Espanhol. Ninguém apostava num título dos galegos, claro, mas os jogadores e a comissão técnica dos azuis e brancos tinham grandes ambições.
Shows dos “Galegols”
A caminhada do Deportivo em La Liga começou da melhor maneira possível: goleada de 4 a 1 sobre o Alavés, em casa, com três gols de Makaay e um de Djalminha. Nos duelos seguintes, empate sem gols com o Bétis, fora, vitória por 2 a 0 (um gol de Makaay aos 16 segundos de jogo e outro de Djalminha) sobre o Valladolid, em casa, empate em 1 a 1 com o Real Madrid, fora, e derrota por 2 a 0 para o Numancia, em casa, quando o time despencou para a sétima posição. Na 6ª rodada, a equipe viajou até Bilbao e venceu o Athletic por 3 a 2, com gols de Pauleta, Flávio Conceição e Víctor. Nos duelos seguintes, mais quatro pontos conquistados após o empate em 2 a 2 (dois gols de Pauleta) com o Mallorca, fora, e a goleada de 4 a 1 sobre o Málaga, em casa, com gols de Donato, Djalminha (2) e Víctor. A partir da 9ª rodada, a equipe iria galgar posições rumo ao topo. E não iria sair mais.
Depois de tropeçar fora de casa contra o Valencia (2 a 0), o time recebeu, em casa, o poderoso Barcelona do técnico Louis van Gaal e jogadores como Sergi, Guardiola, Cocu, Figo e Rivaldo. Com o estádio Riazor lotado e jogando na base do abafa, o Deportivo abriu 2 a 0 com apenas 15 minutos graças aos dois gols do artilheiro Roy Makaay, que vivia uma fase esplendorosa. O Barça ainda descontou com Rivaldo, no segundo tempo, mas a vitória foi mesmo dos galegos, que mostraram que podiam, sim, brigar pela liderança. Na 11ª rodada, vitória fora de casa sobre o Oviedo por 1 a 0 (gol de Djalminha) e, na seguinte, goleada de 5 a 2 (gols de Djalminha, três de Pauleta e um de Romero) sobre o Sevilla, em casa, que catapultou o Deportivo à liderança da competição.
O show contra o Sevilla e a liderança embalaram o Deportivo, que venceu mais quatro jogos seguidos (3 a 1 no Atlético de Madrid, fora; 3 a 2 no Rayo Vallecano, em casa; 1 a 0 na Real Sociedad, fora; e 1 a 0 no Celta, em casa). A série só foi quebrada após as derrotas para Zaragoza (2 a 1) e Racing Santander (3 a 0). Falando em série, o time entrou em uma maré negra naquele final de turno e empatou com Espanyol (0 a 0, fora) e perdeu para o Alavés (2 a 1) no início do returno, resultados que não tiraram a equipe do topo, mas ligaram o sinal de alerta no elenco. Nos dois jogos seguintes, a equipe venceu o Betis (2 a 0, em casa, com gols de Pauleta e Makaay) e perdeu para o Valladolid por 4 a 1, fora, revés que tornou o encontro contra o Real Madrid do dia 6 de fevereiro de 2000 decisivo para as pretensões do time na temporada.
A apoteose e o show de Djalminha
No Riazor, o Deportivo já havia enfrentado o Real nas temporadas anteriores e vencido de maneira convincente. Por isso, o time não temia o clube da capital espanhola, mas a torcida tinha lá seus temores pelo fato de o clube merengue ter naquela ocasião um “11 ideal” com nomes como Casillas, Sanchís, Hierro, Roberto Carlos, Redondo, Helguera, Guti, Raúl e Morientes, além do técnico Vicente del Bosque. Mas, em campo, o Deportivo realizou, talvez, sua partida mais marcante e inesquecível em toda a história da liga espanhola. Com sua linha de frente irresistível e querendo jogo a todo instante, o time sufocou o Real desde o início e mostrou quem mandava no Riazor. E foi naqueles primeiros minutos que Djalminha começou a mostrar seu repertório de jogadas sublimes e lances que o tornaram durante alguns anos um dos mais geniais meias do futebol mundial (uma pena que ele tenha demonstrado um temperamento tão explosivo na mesma proporção…).
O primeiro e mais notável aconteceu quando ele recebeu uma bola na entrada da área e, com uma tranquilidade impressionante, deu um passe de carretilha para a ponta da grande área que deixou atônitos e sem reação alguma pelo menos cinco jogadores do Real que acompanhavam o lance (bem como todo o estádio!). Uma pena que Víctor não tenha feito o gol na sequência, mas nem precisava, pois o time continuou no ataque e chegou ao primeiro gol em uma cabeçada fulminante do “fantasma” Makaay. A imagem do lance de Djalminha ganhou o mundo pela beleza e plasticidade imensas, algo que raramente vemos no futebol atual e que a grande maioria dos jogadores não consegue copiar por pura falta de técnica e ousadia.
Com passes perfeitos e dribles desconcertantes, Djalminha foi o nome do jogo e deixou o seu gol aos 17´, em cobrança de falta impecável. O Real diminuiu com Morientes ainda no primeiro tempo, mas Víctor fez 3 a 1 aos 3´do segundo tempo. Rápido, organizado e letal, o Deportivo dava show e enchia de alegria sua torcida, que ainda gritou mais duas vezes graças aos gols de Turu Flores, aos 25´e aos 35´. Com 5 a 1 no placar, a massa azul e branca gritava olé e via o Real ficar 10 pontos longe na zona de classificação. Hierro diminuiu no finalzinho, mas a goleada já estava escrita: 5 a 2. O resultado deixou o Deportivo mais confortável na liderança graças aos tropeços de Barcelona e Zaragoza naquela mesma rodada.
Tropeço nas copas e foco em La Liga
Paralelo à disputa do campeonato nacional, o Deportivo estava na briga pelo título da Copa da UEFA (atual Liga Europa) e também da Copa do Rei. Na copa nacional, o time caiu precocemente, nas oitavas, diante do Osasuna. E, na continental, o revés foi dolorido: queda também nas oitavas de final, após derrota de 5 a 1 para o Arsenal-ING, na ida, e vitória insuficiente por 2 a 1, na volta, resultado que classificou os ingleses – que seriam vice-campeões do torneio. Sem outras competições na cabeça, a equipe galega concentrou suas atenções no campeonato e, após perder para o Numancia por 1 a 0, fora, venceu o Athletic, por 2 a 0, e o Mallorca, por 2 a 1, ambos em casa. Contra o Málaga, fora, derrota por 1 a 0, superada já na rodada seguinte com uma vitória por 2 a 0, em casa, sobre o fortíssimo Valencia de Cañizares, Angloma, Mendieta, Kily González, Cláudio López e Ilie. Na 29ª rodada, o time teve um duelo decisivo contra o Barcelona, no Camp Nou, chegou a abrir o placar com Flávio Conceição logo aos 4´, mas Kluivert e Rivaldo viraram o jogo e deram a vitória ao clube catalão.
Nas rodadas seguintes, a equipe venceu o Oviedo (3 a 1, em casa), o Sevilla (3 a 1, fora) e o Atlético de Madrid (4 a 1, em casa, com três gols de Makaay), mas caiu diante do Rayo por 2 a 0, fora, resultado que deixou a torcida apreensiva e forçou o técnico Irureta a salientar que bastava ao Deportivo vencer seus jogos restantes em casa para ser campeão espanhol pela primeira vez. Contra a Real Sociedad, em casa, o time cumpriu a missão e venceu por 2 a 0 e, no duelo seguinte, foi derrotado pelo Celta por 2 a 1, fora.
Na antepenúltima rodada, a equipe tinha a chance do título contra o Zaragoza, em casa, e abriu 2 a 1 com o segundo gol marcado por Djalminha que, na comemoração, tirou a camisa e fez a festa. No entanto, o meia já tinha cartão amarelo e acabou expulso, o que prejudicou o time nos minutos seguintes e ajudou o Zaragoza a empatar em 2 a 2. Precisando de uma vitória para ser campeão, o time foi até Santander enfrentar o Racing sem Djalminha, mas com centenas de milhares de seus torcedores no estádio rival. Mesmo com o notável apoio de sua gente, o Deportivo empatou em 0 a 0 e levou a decisão para o Riazor, contra o Espanyol. Era hora de fazer história.
Coruña, ¡la capital del fútbol español!
No dia 19 de maio de 2000, mais de 36 mil torcedores coloriram o estádio Riazor para o duelo decisivo entre Deportivo e Espanyol. A equipe da casa tinha a chance de conquistar seu primeiro título de La Liga na história e de transformar para sempre a Galícia e mexer com as estruturas do bipolar futebol espanhol. Já o Espanyol poderia estragar a festa e dar uma ajudinha ao Barcelona e ao Zaragoza, os dois times que também tinham chances. Mas a equipe da casa começou logo aos 3´a mostrar que iria escrever sua própria história. Donato, remanescente da primeira metade dos anos 90, abriu o placar para os azuis e brancos de cabeça, para alegria da fanática torcida que transformou a casa do Deportivo num verdadeiro alçapão à la Libertadores. Aos 34´, Manuel Pablo fez boa jogada e cruzou para o matador Roy Makaay fazer 2 a 0.
No segundo tempo, o time tentou marcar mais um, mas a vitória por 2 a 0 permaneceu até o fim. Com o triunfo, o Deportivo sagrou-se pela primeira vez na história campeão do Campeonato Espanhol de futebol, após 21 vitórias, seis empates, 11 derrotas, 66 gols marcados (segundo melhor ataque), 44 gols sofridos e 69 pontos (cinco a mais que o vice, o Barça) em 38 jogos disputados. Roy Makaay foi o artilheiro do time com 22 gols em 36 jogos e a principal referência na frente. Pauleta, com 8, e Djalminha, com 10 gols, também tiveram enorme destaque.
Na festa, mais de 200 mil torcedores invadiram as ruas de Corunha, com mais de 50 mil fanáticos comemorando na praça María Pita para receber os campeões, que tinham vaga garantida na Liga dos Campeões da UEFA de 2000-2001. Nunca a Galícia respirou tanto futebol como naquela temporada. E a cidade de Corunha também entrou para a história por ser a menor a ter um clube campeão do principal torneio da Espanha.
Reforços e base competitiva
Para a temporada 2000-2001, o Deportivo voltou a abrir os cofres e trouxe o goleiro Molina, o lateral Capdevilla, o meia Valerón, os atacantes Pandiani e Tristán e ainda os volantes brasileiros Emerson e César Sampaio (estes dois não tiveram tanto destaque e deixaram o clube em pouco tempo). Com mais atletas de peso e a base campeã nacional mantida, o time iniciou a temporada com o título da Supercopa da Espanha após empatar em 0 a 0 com o Espanyol, na ida, e vencer os catalães por 2 a 0 na volta, no Riazor, com gols de Djalminha e Diego Tristán. O grande foco do time seria a Liga dos Campeões da UEFA, disputada pela primeira vez pelos azuis e brancos na história. Selecionados no Grupo E, ao lado de Panathinaikos-GRE, Hamburgo-ALE e Juventus-ITA, os espanhóis demonstraram maturidade e sangue frio para encarar rivais com bastante bagagem internacional e conquistar a primeira posição do grupo, deixando de fora justamente os “favoritos” Hamburgo e Juventus. Foram duas vitórias (2 a 1 no Hamburgo, em casa, com gols de Pandiani e Scaloni, e 1 a 0 no Panathinaikos, em casa, com gol de Pandiani) e quatro empates em seis jogos.
Na segunda fase de grupos, o time voltou a ficar na liderança após três vitórias (3 a 1 no PSG-FRA, fora de casa, com gols de Naybet, Turu Flores e Makaay; 2 a 0 no Galatasaray-TUR, em casa, com gols de Víctor e Djalminha; 4 a 3 no PSG-FRA, em casa, com três gols de Pandiani e um de Tristán), um empate (1 a 1 com o Milan-ITA, fora) e duas derrotas (para Milan, em casa, e Galatasaray, fora, ambas por 1 a 0) em seis jogos, deixando de fora italianos e franceses. No mata-mata, porém, o time caiu já nas quartas de final diante do Leeds United-ING após perder por 3 a 0 fora de casa e vencer por 2 a 0 em casa, resultado insuficiente para a vaga na semifinal.
Em território nacional, o Deportivo não foi bem na Copa do Rei, mas mostrou que o título de 2000 não havia sido um mero acaso e brigou até o fim pelo caneco do Campeonato Espanhol. Jogando em casa, a equipe mostrou-se quase imbatível e venceu 15 dos 19 jogos que disputou, com apenas uma derrota e três empates. Fora de casa, o time fez grandes jogos e conseguiu sua primeira vitória jogando no Camp Nou contra o Barcelona na história: 3 a 2, com mais um show de Djalminha, que fez um gol e deu um passe para Víctor anotar o segundo (o terceiro também foi de Víctor), e um triunfo por 1 a 0 sobre o Valencia em pleno Mestalla.
No fim, o time não conseguiu alcançar o Real Madrid e terminou na segunda colocação com 22 vitórias, sete empates, nove derrotas, 73 gols marcados (terceiro melhor ataque) e 44 sofridos em 38 jogos. Diego Tristán foi o artilheiro da equipe na temporada com 19 gols, cinco a menos que o goleador do campeonato, o madrileno Raúl. Mesmo com apenas um troféu, a temporada foi positiva para os azuis e brancos e a torcida ficou feliz com as várias apresentações de gala de seu time, principalmente a campanha maiúscula na Liga dos Campeões.
Time de chegada
Na temporada 2001-2002, o Deportivo segurou as compras, manteve a base vencedora e continuou a atrapalhar os gigantes espanhóis com seu futebol de técnica, eficiência tática e muita disposição. No Campeonato Espanhol, a equipe voltou a esbanjar categoria tanto em seus domínios como fora dele e de novo ficou com o vice-campeonato, sete pontos atrás do Valencia. Mesmo assim, o Deportivo teve o segundo melhor ataque com 65 gols, venceu o prêmio Fair Play de time mais disciplinado e viu Diego Tristán conquistar o prêmio Pichichi de artilheiro do campeonato com 21 gols. Entre os destaques da campanha estiveram a vitória por 2 a 1 sobre o Barcelona, em casa, e a goleada de 3 a 0 sobre o badalado Real Madrid, também no Riazor, com gols de Fran, Makaay e Pandiani.
Na Liga dos Campeões, os galegos ficaram mais uma vez na primeira posição de seu grupo na primeira fase após duas vitórias e quatro empates em seis jogos, com destaque para os triunfos sobre o Manchester United-ING no Riazor (2 a 1) e em pleno Old Trafford (3 a 2, de virada, com dois gols de Tristán e um de Sergio González). Na segunda fase de grupos, outra campanha marcante e classificação graças ao segundo lugar com três vitórias, um empate e duas derrotas. Dessa vez, as vítimas dos espanhóis foram Arsenal-ING (que levou um duplo 2 a 0, no Riazor e em Highbury) e a Juventus-ITA, derrotada por 2 a 0 na Espanha. Nas quartas de final, os azuis e brancos reencontraram o Manchester United, mas os ingleses conseguiram a revanche e despacharam os comandados de Irureta após duas vitórias (2 a 0 e 3 a 2).
Com um time entrosado e jogando muito bem, o Deportivo não queria passar em branco a temporada. Por isso, após a queda na Liga e o avanço do Valencia no topo do campeonato nacional, os galegos focaram suas ações na Copa do Rei. Após superar as etapas iniciais, o time eliminou o Real Valladolid, nas quartas, com um 3 a 2 no agregado, e passou pelo Figueres, nas semis, com 2 a 1 no agregado, resultados que colocaram o time na final contra o aniversariante Real Madrid, que esperava vencer pelo menos um título nacional no ano de seu centenário.
La Copa del Centenariazo
Por causa do aniversário do Real Madrid (em 6 de março, exatamente a data da final da Copa do Rei de 2001-2002), a Federação Espanhola escolheu o estádio do clube, o Santiago Bernabéu, como palco da final da Copa do Rei. Com isso, o time merengue teria o cenário perfeito para celebrar seu centenário: em casa, com a torcida a favor e com jogadores como Hierro, Roberto Carlos, Makélélé, Helguera, Figo, Zidane, Raúl e Morientes. Parecia barbada, mas o Deportivo não iria facilitar as coisas, a começar pelas palavras do técnico Irureta, que disse que “na festa madrilena, o Deportivo também jogaria, por isso, o Real teria que ganhar a festa em campo”. No dia do jogo e do aniversário merengue, o Santiago Bernabéu efervescia com mais de 75 mil torcedores, sendo pelo menos 26 mil do Deportivo, que faziam um barulho danado a fim de abafar a festa dos anfitriões. E, logo aos seis minutos, Sergio González recebeu um passe de Tristán e abriu o placar para os galegos. O time manteve o domínio da partida e parecia jogar no Riazor tamanha tranquilidade e frieza. Aos 38´, o matador Tristán fez 2 a 0 e silenciou o Bernabéu.
No segundo tempo, Raúl descontou, mas o jogo era mesmo do Deportivo, que venceu, convenceu e celebrou sua segunda Copa do Rei da história na final que foi apelidada pelos aficionados como La Copa del Centenariazo, em alusão ao Maracanazo do Uruguai pra cima do Brasil na Copa do Mundo de 1950. Não havia ocasião melhor para celebrar um título do que aquela: no aniversário do clube mais vitorioso da Espanha, na casa dele, sob os olhares de todo o país e contra um rival repleto de jogadores milionários e badalados. O Real venceria a Liga dos Campeões naquele ano, mas perder a Copa do Rei doeu demais para os merengues. Para a alegria dos galegos de Corunha.
Sai o genioso e mantém-se o brilho
Para a temporada 2002-2003, o Deportivo sofreu a baixa de Djalminha, que foi negociado após desavenças com o técnico Irureta, com o ápice acontecendo em um treino do clube galego em 2002, quando a dupla trocou ofensas e o brasileiro desferiu uma cabeçada no treinador, o que provocou seu afastamento e até exclusão de uma possível convocação para a Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo de 2002 (e venceria, para desespero do meia!). Mesmo sem o brilhante meia decisivo nas temporadas anteriores, o Deportivo não se abateu, trouxe o atacante Luque e manteve seu jeito competitivo de jogar: ofensivo, repleto de jogadas em velocidade e com um bom sistema defensivo, embora este mesmo sistema desse liberdade para os rivais em algumas ocasiões.
Na Supercopa da Espanha de 2002, o time goleou o Valencia por 3 a 0 na partida de ida, no Riazor, com gols de Valerón, Víctor e Naybet, e venceu a partida de volta, no Mestalla, por 1 a 0 (gol de Víctor), para levar mais um título nacional. Em La Liga, os galegos ficaram entre os primeiros durante todo o torneio e tiveram uma ótima arrancada no returno, mas terminaram na terceira colocação, atrás do Real Madrid, o campeão, e Real Sociedad, vice. Durante a campanha, destaque para a goleada de 6 a 0 sobre o Alavés, em casa, e os triunfos sobre o Barcelona tanto em casa (2 a 0) quanto no Camp Nou (um histórico 4 a 2, com gols de Scaloni, Sergio e dois de Makaay). Roy Makaay foi o artilheiro do time e do campeonato com 29 gols e venceu o prêmio Pichichi, ficando à frente de feras como Ronaldo, Raúl e Kluivert.
Em mais uma Liga dos Campeões, os galegos voltaram a aprontar contra grandes clubes europeus. Na primeira fase, vitórias sobre Milan-ITA, em pleno San Siro, por 2 a 1 (gols de Makaay e Tristán) e Bayern München-ALE tanto na Espanha (2 a 1, gols de Víctor e Makaay) quanto na Alemanha (3 a 2, com três gols de Makaay). Em segundo lugar, os espanhóis se classificaram para a segunda fase de grupos, mas acabaram eliminados pela primeira vez em três temporadas naquele estágio, em uma chave muito equilibrada e que teve os três times abaixo do primeiro colocado com a mesma pontuação. Ao término da temporada, os galegos perceberam que só faltava uma melhor campanha na principal competição do continente para sacramentar aquela era de ouro, que já tinha todos os títulos nacionais possíveis, mas ainda carecia de um troféu europeu. Será que na temporada seguinte a almejada taça viria?
Meta: a Liga dos Campeões
Sem duas peças emblemáticas dos anos anteriores – Makaay, negociado com o Bayern, e Donato, que pendurou as chuteiras – o Deportivo teve que se remanejar mais uma vez para encarar uma nova temporada com o mesmo pique de antes. No entanto, tanto a diretoria como a comissão técnica trataram a Liga dos Campeões com mais carinho do que as disputas internas. Por causa disso, a Copa do Rei não foi levada a sério (eliminação já nas oitavas de final) e o Campeonato Espanhol de novo passou perto, com o Deportivo terminando na terceira colocação após 71 pontos, 21 vitórias, oito empates, nove derrotas, 60 gols marcados e 34 sofridos (segunda melhor defesa). A equipe mais uma vez venceu o Barcelona em pleno Camp Nou (2 a 0), sapecou o rival Celta duas vezes (5 a 0 e 3 a 0), bateu o “freguesão” Real Madrid, no Riazor, por 2 a 0, e goleou o Atlético de Madrid, em casa, por 5 a 1. Com Luque, Valerón, Pandiani e Víctor na linha de frente, o time seguia encantando seus fãs e poderia ter levado o bicampeonato espanhol se não tivesse perdido pontos importantes dentro de casa contra Mallorca, Villarreal, Betis e Valladolid.
Na Liga dos Campeões, os espanhóis começaram sua caminhada na terceira fase classificatória, na qual eliminaram o Rosenborg-NOR com uma vitória por 1 a 0 no agregado. Na fase de grupos, o time galego esteve ao lado de AEK Atenas-GRE, Monaco-FRA e PSV-HOL, rivais que não assustavam quem já tinha encarado tanto titã nas temporadas anteriores. No turno, a equipe não encontrou dificuldades e empatou com o AEK, fora, por 1 a 1, e venceu, em casa, o PSV (2 a 0, gols de Sergio e Pandiani) e Monaco (1 a 0, gol de Tristán). O returno, no entanto, começou com um pesadelo inexplicável: derrota por 8 a 3 para o Monaco, na França, com um show de Evra, Plasil, Giuly, Prso, Cissé e companhia. Para recobrar a consciência, o time venceu o AEK por 3 a 0, em casa, e conseguiu a classificação para a fase seguinte mesmo com derrota na última rodada para o PSV, fora, por 3 a 2.
Nas oitavas de final, a equipe tinha a ingrata tarefa de enfrentar a Juventus-ITA, vice-campeã europeia na temporada anterior, comandada por Marcello Lippi e com craques do naipe de Buffon, Thuram, Ferrara, Nedved e Del Piero. Na primeira partida, no Riazor, os galegos venceram por 1 a 0, gol de Luque, e viajaram até Turim precisando apenas de um empate. Mas o artilheiro Pandiani, logo aos 12´do primeiro tempo, decretou a classificação para as quartas de final. Era hora de encarar outro gigante italiano: o Milan, campeão europeu.
A maior das façanhas
No dia 23 de março de 2004, o Deportivo viajou até Milão para enfrentar o Milan de Carlo Ancelotti, campeão da Liga na temporada anterior e com jogadores como Dida, Cafu, Maldini, Pirlo, Gattuso, Seedorf, Kaká e Shevchenko, um timaço que brilhava e ainda iria brilhar até 2007 no cenário europeu e mundial. A torcida galega acreditava em um bom jogo de seu time na Itália, ainda mais depois que Pandiani abriu o placar logo aos 11 minutos de jogo. Mas o que se viu dali pra frente foi um chocolate à milanesa. Com ótima atuação coletiva e a inspiração de Kaká, o Milan goleou por 4 a 1, com dois gols do meia brasileiro, um de Shevchenko e outro de Pirlo, e foi para a Espanha com a vantagem de perder por até dois gols. O Deportivo precisava vencer por 3 a 0 ou mais se quisesse ir até as semifinais pela primeira vez em sua história. O problema seria marcar tantos gols em um time como o Milan e contra uma defesa italiana, que sempre teve o selo de intransponível.
Com um estádio Riazor lotado e crente no milagre, o Deportivo entrou em campo no dia 7 de abril de 2004 disposto a reverter o resultado italiano. E as 30 mil pessoas que estiveram presentes na casa galega presenciaram um dos jogos mais marcantes e épicos da história da Liga dos Campeões e da própria história do Deportivo La Coruña. Deslumbrante, com instinto assassino e veloz ao extremo, a equipe espanhola abriu o placar aos cinco minutos, quando Pandiani encheu o pé na entrada da área e venceu o goleiro Dida. Após muita insistência, Valerón fez o segundo aos 35´, de cabeça. Aos 44´, Luque ganhou da zaga, saiu em disparada e chutou uma bomba indefensável: 3 a 0. Era o suficiente para a classificação! No segundo tempo, o atordoado Milan tentou pelo menos um gol para complicar a vida do Deportivo, mas o time estava encantado.
Nada passava pelo goleiro Molina, até que Fran, aos 26´, chutou de esquerda no canto da área e fez o quarto: 4 a 0. O Milan tentou pressionar, mas o placar manteve-se inalterado. Com uma remontada digna de filme, o Deportivo estava classificado pela primeira vez para uma fase semifinal de Liga dos Campeões. De quebra, tirava o detentor do título da briga e enchia de orgulho o futebol espanhol, que presenciou uma partida brilhante do time galego, que jogou com a mesma intensidade durante os 90 minutos e provou que no futebol nada é impossível (e pensar que o Milan sofreria mais uma virada “daquelas” no ano seguinte… Leia mais clicando aqui!).
Aplausos e o fim
Na semifinal, o Deportivo encarou outro grande time: o Porto-POR, do técnico José Mourinho e de jogadores como Derlei, Deco, Maniche, Costinha e companhia. No primeiro jogo, em Portugal, os espanhóis seguraram o empate sem gols e levaram a decisão para o Riazor. No entanto, o time português mostrou força e sangue frio para vencer em pleno solo galego por 1 a 0, gol de pênalti marcado por Derlei, e se classificou para a final (o Porto seria campeão, como o Imortais já relembrou aqui). Mesmo com o revés, a torcida reconheceu a campanha brilhante de seu time e enalteceu todo o trabalho realizado. Na temporada seguinte, o clube perdeu força e o técnico Irureta deixou o comando do time, que não conseguiu manter a pegada de antes, foi caindo ano após ano, sofreu com uma grave crise financeira até ser rebaixado na temporada 2010-2011.
Mesmo sem figurar entre os grandes times da Espanha há mais de uma década, o Deportivo La Coruña conseguiu escrever seu nome na história do futebol com campanhas sensacionais, títulos inesquecíveis e times que ensinaram o torcedor espanhol a ver que não eram apenas Real e Barça os únicos clubes capazes de encantar com jogadores sublimes e esquemas táticos inteligentes. O “Euro Dépor” também foi protagonista com partidas eletrizantes, gols aos borbotões e lances geniais de jogadores identificados com o clube, com a torcida e com a cidade. É impossível não se lembrar dos vareios que aquela turma de azul e branco aplicou no sempre soberbo Real Madrid e no intocável Barcelona. Dava gosto de se ver. Pena que tenha durado tão pouco, mas o bastante para fazer daquele Deportivo um esquadrão imortal.
Os personagens:
Jacques Songo´o: chegou ao Deportivo em 1996 e ganhou a posição de titular graças aos seus reflexos e agilidade. Com quase 1,90m de altura, o goleiro camaronês ia bem nas jogadas aéreas e mostrava muito amor à camisa. Jogou de 1996 até 2001 no Deportivo, ganhou um troféu Zamora de melhor goleiro do Campeonato Espanho, em 1997, e disputou mais de 200 jogos com a camisa do clube. Pela seleção de seu país, participou de 46 partidas e esteve presente em quatro Copas do Mundo.
Molina: assumiu a meta da equipe já na temporada 2000-2001, colocou Songo´o no banco e virou quase intocável no esquema do técnico Irureta. Frio e muito bem colocado, fez grandes partidas e jogou no clube de 2000 até 2006, disputando mais de 200 jogos pela equipe.
Manuel Pablo: lateral com muito fôlego e habilidade, chegou ao Deportivo em 1998 e joga até hoje no clube galego. Ídolo da torcida e um símbolo daquela era de ouro, foi titular absoluto e fundamental para o sistema defensivo, bem como no apoio ao ataque. Tem mais de 340 jogos em La Liga com a camisa do clube.
Scaloni: podia jogar na lateral ou no meio de campo com a mesma eficiência na marcação, nos passes e até em aparições no ataque. Argentino, o jogador chegou ao clube em 1998 e ficou até 2006. Fez grandes partidas e marcou gols importantes durante as ótimas campanhas do time no período.
Naybet: o zagueirão marroquino foi o grande xerife do sistema defensivo do Deportivo entre 1996 e 2004, período em que esteve pelas bandas de Corunha. Bom no desarme e na antecipação, foi ídolo da torcida e essencial para aquele grande Deportivo. Disputou 211 jogos em La Liga com a camisa azul e branca e 56 em competições europeias. Pela seleção marroquina, atuou em 115 jogos e esteve na Copa de 1998.
Donato: depois de brilhar no Vasco-BRA do final dos anos 80, o brasileiro foi para a Espanha, ficou um tempo no Atlético de Madrid e se mudou para o Deportivo em 1993, onde só sairia em 2003, aposentado. Tanto na zaga como no meio de campo, Donato fez partidas marcantes e escreveu seu nome na história do clube com muita eficiência e amor à camisa. Se naturalizou espanhol e jogou 12 partidas pela Fúria. Pelo Deportivo, ganhou o apelido de “o avô” por ter jogado até os 41 anos e ter 303 jogos de campeonato nacional pelo clube.
Capdevilla: o lateral campeão do mundo com a Espanha em 2010 começou a brilhar exatamente no Deportivo, entre 2000 e 2007. Eficiente e muito bom na proteção e no elo entre a defesa e o meio de campo, virou titular aos poucos e foi peça chave nos grandes jogos do time após a conquista da Copa do Rei de 2002.
Romero: o lateral foi titular na campanha do título espanhol de 2000 e peça chave no esquema do técnico Irureta até começar a perder espaço para Capdevilla. Jogou no Deportivo de 1998 até 2006 até encerrar a carreira no Real Betis, em 2007.
Mauro Silva: entre 1992 e 2005, Mauro Silva foi simplesmente divino no meio de campo do Deportivo e se consagrou como o melhor e mais técnico volante da história do clube. O brasileiro desarmava, ajudava o ataque, protegia a defesa e esbanjava categoria na posição, qualidades que o levaram ao topo e a receber dezenas de elogios da imprensa europeia no período. Campeão do mundo com o Brasil em 1994, Silva disputou 369 jogos de La Liga com o Deportivo e 59 em competições europeias. Ídolo indiscutível do clube.
Flávio Conceição: depois de jogar o fino no Palmeiras de 1996, o volante brasileiro foi para o Deportivo e fez temporadas brilhantes até chegar ao auge com o título nacional de 2000. Suas atuações que aliavam técnica, capacidade de armação e ótimos desarmes o levaram à Seleção Brasileira e ao Real Madrid.
Sergio González: foram quase 10 anos de Deportivo, gols decisivos e atuações de gala no meio de campo da equipe entre 2001 e 2010. Atuava bem na marcação e também no apoio ao ataque. A torcida lembra até hoje de seu gol na final da Copa do Rei de 2002, quando ajudou a construir o Centenariazo.
Jokanovic: o meio-campista iugoslavo jogou apenas a temporada 1999-2000 no clube, mas o suficiente para atuar em vários jogos como titular e ajudar o time na conquista do título nacional. Fez grandes partidas ao lado de Mauro Silva e Donato.
Víctor Sanchéz: entre 1999 e 2006, foi ídolo da torcida, infernal no ataque e um dos principais jogadores do elenco. Municiou Roy Makaay, Tristán e Luque com bolas perfeitas e também marcou seus gols com muita técnica e habilidade. Era perito nos cruzamentos para a área e tinha notável visão de jogo.
Djalminha: quando chegou à Espanha, o meia brasileiro já era conhecido por sua habilidade, fino trato com a bola, gols plásticos e jogadas encantadoras nos tempos de Flamengo e principalmente no Palmeiras de 1996. E ele fez isso e muito mais entre 1997 e 2002, período em que atuou no Deportivo e se tornou um dos maiores ídolos do clube em todos os tempos e também um dos mais criativos jogadores de toda a Europa. Seus gols (foram 38 em 137 jogos de La Liga e 9 em 27 jogos em competições europeias) e suas assistências fizeram dele uma peça mais do que chave para as conquistas da equipe naqueles anos de ouro.
Foi ele quem fez ficar famosa a cobrança de pênalti com cavadinha e ele quem tanto bailou por rivais com bolas entre as pernas, passes vesgos e outras artimanhas. Uma pena que sua carreira não tenha deslanchado mais por ser extremamente temperamental, quase sempre levar cartões bobos e ser expulso frequentemente. Não fosse por isso, teria brigado com os grandes do futebol mundial pelo posto de melhor do mundo na época. Mas, para a torcida do Deportivo, ele foi o melhor por pelo menos três temporadas, entre 1999 e 2001. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Valerón: habilidoso, técnico, com exímio controle de bola e artilheiro, o meia chegou ao Deportivo em 2000 e ficou por lá até 2013, período em que jogou muito e virou ídolo. Disputou 289 jogos em La Liga, atuou em 46 jogos pela Seleção Espanhola e foi um dos principais jogadores de seu país na época.
Turu Flores: cria do Vélez, da Argentina, o atacante chegou ao Deportivo em 1998 e foi uma das armas do técnico Irureta em diveras partidas. Não foi titular absoluto, mas anotou vários gols quando teve oportunidades.
Fran: foi uma vida dedicada ao Deportivo, entre 1988 e 2005, e a honra de ter participado in loco de todos os maiores momentos da história do clube. Fran foi o líder e o pulmão do time nos momentos de alegria e tristeza e o jogador que mais representou aquela reviravolta galega pela qual passou o futebol espanhol na virada do século. Disputou mais de 500 jogos com a camisa do clube e se tornou o recordista em partidas de La Liga, com 435 jogos, e em competições europeias, com 66 partidas. Um ícone do Deportivo.
Albert Luque: após despontar no Mallorca, o atacante chegou ao Deportivo em 2002 e fez uma dupla de ataque memorável com Tristán, marcando vários gols decisivos, principalmente, na Liga dos Campeões da UEFA. Jogou no clube de 2002 até 2005 e jogou 17 partidas pela Seleção Espanhola.
Pauleta: jogou apenas de 1998 até 2000 no clube, mas teve tempo de ser campeão espanhol e marcar 33 gols em 92 jogos. Não foi titular absoluto, mas mostrou faro artilheiro e velocidade nas vezes que jogou.
Roy Makaay: o atacante holandês viveu a melhor fase de sua carreira na Galícia e mostrou à Europa algumas das qualidades que se procuram em goleadores: boa colocação, precisão nos chutes e nas jogadas aéreas e oportunismo. Fez uma parceria memorável com Djalminha e também com Víctor e foi a principal referência do time nas temporadas 1999-2000, 2000-2001 e 2002-2003, esta quando ele venceu o prêmio Pichichi de artilheiro do Campeonato Espanhol. Makaay marcou 79 gols em 133 jogos de La Liga e 15 gols em 37 jogos em competições internacionais, este último um recorde até hoje no clube. Depois do auge, também brilhou no Bayern, entre 2003 e 2007, até se aposentar no Feyenoord-HOL, em 2010. Pela seleção holandesa, nunca mostrou o lado prolífico dos clubes e marcou apenas seis gols em 43 jogos.
Diego Tristán: o atacante chegou em 2000 e viveu grandes momentos até 2006. Com habilidade, boa impulsão, faro artilheiro, eficiência nos chutes e ótima colocação, foi um dos principais atacantes do time no período e artilheiro do Campeonato Espanhol de 2001-2002 com 21 gols. Tristán marcou 77 gols em 179 jogos de La Liga e 15 em 45 jogos em competições europeias. Só não brilhou ainda mais por causa de problemas físicos e pessoais.
Walter Pandiani: o atacante uruguaio jogou de 2000 até 2005 no Deportivo e foi o “goleador das Ligas”, por gostar de marcar gols decisivos nas participações do time na Liga dos Campeões – foram 13 gols em 44 jogos. Nunca foi titular absoluto, mas ainda assim teve destaque por ser brigador entre os zagueiros e muito oportunista.
Javier Irureta (Técnico): é o maior “mestre” da história do Deportivo e o responsável por criar o melhor time que já foi formado na Galícia. O técnico soube extrair ao máximo de seus jogadores, criou um forte espírito competitivo no elenco e armou uma equipe que não temeu adversário algum, muito menos campos lotados ou pressões de torcidas alheias. O Deportivo de Irureta foi um dos principais clubes da Europa entre 2000 e 2004 e um dos times que mais jogava ofensivamente, sem se importar em levar gols ou dar espaços aos rivais. Seu trabalho foi digno de troféu. Ou melhor, troféus!
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saudades do grande ”Deport”
E se o Djukic não tem falhado aquele penalti em 1994, no último minuto do jogo derradeiro segundo creio, a epopeia teria começado mais cedo…
Bem lembrado o La Coruña por aqui, batia de frente com os grandes na época, aliás …foram recordados os três grandes times que dominaram o futebol espanhol na virada do século e no começo dos anos 2000, que foram o Real, o Valência e o La Coruña … e o Djalminha jogou demais … uma pena que não teve tanto espaço na seleção brasileira.