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Seleções Imortais – Turquia 2002-2003

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Em pé: Akyel, Korkmaz, Özat, Özalan, Rüstü e Sükür. Agachados: Bastürk, Kerimoglu, Belözuglu, Ünsal e Hasan Sas.

 

Grandes feitos: Terceira colocada na Copa do Mundo da FIFA de 2002 e terceira colocada na Copa das Confederações da FIFA de 2003.

Time base: Rüstü Recber; Fatih Akyel, Bülent Korkmaz, Alpay Özalan e Ümit Özat (Ergün Penbe); Tugay Kerimoglu, Hakan Ünsal, Yildiray Bastürk (Ümit Davala) e Emre Belözoglu (Ilhan Mansiz); Hasan Sas (Arif Erdem / Okan Yilmaz) e Hakan Sükür (Tuncay Sanli). Técnico: Senol Günes.

 

“Turcos (quase) no topo do mundo”

Por Guilherme Diniz

Eles eram aguerridos, inteligentes e competitivos. E conseguiram, depois de quase meio século, voltar a disputar uma Copa do Mundo. Depois de tanto tempo, parece que aqueles jogadores vestidos em vermelho e branco queriam tirar o atraso e mostrar para tudo e todos que o futebol praticado por eles havia evoluído. E como! Com uma defesa forte, um meio de campo bastante técnico e criativo e um ataque econômico, porém decisivo, os turcos fizeram história na primeira Copa do Mundo disputada simultaneamente em dois países (Coreia do Sul e Japão), em 2002, ao alcançar um incrível terceiro lugar no maior torneio do futebol mundial. Sem se importar com os adversários e esbanjando confiança, Rüstü, Korkmaz, Kerimoglu, Bastürk, Belözuglu, Hasan Sas e Hakan Sükür foram muito mais longe do que as badaladas Itália, Espanha, Argentina, França e Inglaterra na Copa e não demonstraram remorso algum depois de derrotar os anfitriões da festa – Japão e Coreia do Sul – pelo caminho.

Mesmo sem conquistar o título, os comandados do técnico Senol Günes foram legítimas “pedras nas chuteiras” do Brasil, que teve o desprazer de jogar por duas vezes contra aqueles europeus bons de bola e dificílimos de enfrentar. A seleção canarinho venceu as duas partidas, mas uma com ajuda da arbitragem e outra por causa da sorte e da genialidade de Ronaldo. Não fosse isso, eles poderiam disputar a final e aprontar poucas e boas pra cima da Alemanha… É hora de relembrar.

 

O futuro vem do Bósforo

Campeão da Copa da UEFA de 2000, o Galatasaray serviu como base da melhor Turquia de todos os tempos.
Campeão da Copa da UEFA de 2000, o Galatasaray serviu como base da melhor Turquia de todos os tempos.

 

Desde 1954 que a Turquia não sabia o que era disputar uma Copa do Mundo naquele começo de século XXI. Os turcos ainda viviam das lembranças do torneio da Suíça e da vitória por 7 a 0 sobre a Coreia do Sul, a única da equipe naquele ano (o time perdeu os outros dois jogos para a Alemanha, por 4 a 1 e 7 a 2). Os anos se passaram, poucos jogadores conseguiram destaque (com exceção de Metin Okay, maior atacante da história do futebol do país que brilhou nas décadas de 50 e 60) e o futebol turco virou apenas mais um no cenário europeu e mundial.

No entanto, tudo mudou no final dos anos 90 graças à formação de uma equipe histórica e residente às margens do estreito de Bósforo: o Galatasaray. O time amarelo e vermelho surpreendeu a todos ao conquistar 10 títulos entre 1996 e 2000, com destaque para a Copa da UEFA de 1999-2000 (sobre o Arsenal-ING) e a Supercopa da UEFA de 2000 (sobre o Real Madrid-ESP). Com grandes talentos como Bülent Korkmaz, Ergün Penbe, Hakan Ünsal, Ümit Davala, Hasan Sas, Hakan Sükür, Arif Erdem e Emre Belözuglu (e os estrangeiros Taffarel, Gheorghe Popescu, Gheorghe Hagi e Jardel), a torcida turca via um futuro promissor para o futebol do país se a base da seleção fosse toda ela formada pelos jogadores do maior time turco na época.

Senol Günes, técnico da Turquia na Copa de 2002.
Senol Günes, técnico da Turquia na Copa de 2002.

 

Em 2000, o técnico Senol Günes assumiu o comando da seleção nacional e tratou de convocar exatamente a base daquele Galatasaray para começar a disputa das Eliminatórias para a Copa de 2002, que começaram para os turcos no dia 02 de setembro de 2000, em Istambul, na vitória por 2 a 0 sobre Moldova. Na sequência, o time empatou em 1 a 1 contra a Suécia, fora de casa, venceu o Azerbaijão, fora, por 1 a 0, empatou com a Eslováquia, em casa, em 1 a 1, e venceu a Macedônia, fora, por 2 a 1. Disputando ponto a ponto a única vaga direta do grupo com a Suécia (o segundo colocado disputaria a repescagem), a Turquia precisava se garantir nos jogos em casa do returno se quisesse seu lugar na Copa.

Porém, depois de vencer o Azerbaijão, em casa, por 3 a 0, a equipe empatou em 3 a 3 contra a Macedônia, venceu a Eslováquia, fora, por 1 a 0 e voltou a perder pontos em casa com uma dolorida derrota por 2 a 1 para a Suécia, de virada, com os gols dos adversários marcados nos cinco minutos finais do jogo. O revés selou a vaga direta da Suécia e fez com que os turcos disputassem a repescagem após a vitória no último jogo do grupo (3 a 0 sobre Moldova, fora). A Turquia venceu seis, empatou três e perdeu apenas um dos 10 jogos que realizou, com dezoito gols marcados e oito sofridos.

 

Vaga carimbada

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Em novembro de 2001, a Turquia enfrentou a Áustria em busca da vaga na Copa de 2002. No primeiro jogo, no Ernst Happel Stadium, Okan Buruk marcou o único gol do jogo na vitória turca por 1 a 0. Na volta, em Istambul, os vermelhos e brancos precisaram apenas de um tempo para liquidar a fatura e garantir a sonhada vaga em uma Copa do Mundo depois de quase meio século. Bastürk, Sükür e Buruk marcaram os três primeiros gols da equipe no primeiro tempo. No segundo, Arif Erdem anotou duas vezes e fechou a goleada de 5 a 0 pra cima da fraca Áustria. A festa foi enorme no país e encheu de orgulho a fanática torcida turca, que só teve de esperar pelo sorteio dos grupos para saber se sua equipe teria chances de ao menos passar da primeira fase.

No dia 1º de dezembro de 2001, a FIFA sorteou os grupos e, para alívio geral da nação, a equipe não teria dificuldades para ficar na segunda posição do Grupo C, que teria o Brasil, a China e a Costa Rica. Porém, mal sabiam os torcedores que aquela seleção iria muito mais longe…

 

Árbitro mancha estreia

O atrapalhado juiz Kim Young-Joo prejudicou demais a Turquia no primeiro duelo da Copa, contra o Brasil.
O atrapalhado Kim Young-Joo prejudicou demais a Turquia no primeiro duelo da Copa, contra o Brasil.

 

Entrosados, jogando com velocidade, força de vontade e sem alívio nenhum para os rivais, os turcos fizeram sua estreia na Copa de 2002 contra o todo-poderoso Brasil, que chegava ao Mundial em uma inédita condição de azarão depois de passar por maus bocados nas Eliminatórias e ver adversários como França e Argentina mais bem cotados e jogando melhor. Diante de 34 mil pessoas no estádio Munsu Cup, em Ulsan, Coreia do Sul, a Turquia mostrou uma maturidade impressionante e não se intimidou contra os brasileiros. Marcando muito bem as estrelas Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo, e contando com a inspiração do ótimo goleiro Rüstü, os turcos brecaram as investidas dos rivais e equilibraram as ações com força de vontade, controle de bola e concentração. Embora as melhores chances tivessem sido do Brasil, foi a Turquia quem abriu o placar já nos acréscimos, quando Bastürk lançou Hasan Sas, livre, que chutou forte sem chances para o goleiro Marcos. O gol fez a massa turca delirar e a brasileira temer pelo pior.

Hasan Sas chuta para marcar o primeiro gol da Turquia na Copa.
Hasan Sas chuta para marcar o primeiro gol da Turquia na Copa.

 

Rivaldo no chão: traquinagem do brasileiro rendeu uma expulsão extra aos turcos.
Rivaldo no chão: traquinagem do brasileiro rendeu uma expulsão extra aos turcos.

 

No segundo tempo, Ronaldo aliviou a tensão verde e amarela com um gol logo aos cinco minutos. Todos acharam que o Brasil viraria a partida facilmente, mas o ótimo sistema defensivo armado pelo técnico Senol Günes trazia sérios problemas para o ataque brasileiro, que não conseguia furar o bloqueio formado por Özalan, Ümit Özat e Korkmaz. O jogo seguiu tenso, o Brasil foi para o tudo ou nada e qualquer equipe poderia marcar um gol que encerraria o jogo. No entanto, o árbitro Kim Young-Joo decidiu dar uma ajudinha providencial ao Brasil quando viu um pênalti inexistente em Luizão perto dos 45´.

O atacante brasileiro foi puxado pelo turco Alpay Özalan fora da área, foi progredindo e caiu em cima da risca da grande área. Alpay foi expulso, Rivaldo converteu o pênalti e o Brasil venceu o jogo por 2 a 1. Ainda no final da partida, Hakan Ünsal também foi expulso após cair na armadilha de Rivaldo, que simulou uma bolada no rosto depois que o turco chutou a bola na perna do jogador brasileiro, que esperava a bola para cobrar um escanteio. O técnico Günes ficou extremamente irritado com o resultado e disse após a partida que tudo foi uma “grande injustiça” pelo fato de o árbitro beneficiar claramente a seleção brasileira.

 

Volta por cima e a vaga

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Passado o stress do jogo inaugural, a Turquia levantou a cabeça e tratou de consolidar sua vaga na segunda fase. Porém, ela entrou em risco já no segundo jogo, quando os turcos apenas empataram em 1 a 1 (o gol turco foi marcado por Emre) contra a seleção da Costa Rica, que jogou melhor e por pouco não saiu do estádio Incheon Munhak com a vitória. Restava aos europeus uma vitória contra a já eliminada China na última partida do grupo e ainda torcer por uma vitória do Brasil sobre os costarriquenhos.

Jogando em Seul, a equipe de Senol Günes venceu facilmente os asiáticos por 3 a 0 (gols de Hasan Sas, Bülent Korkmaz e Ümit Davala), com grande atuação de Hasan Sas, que marcou um gol e ainda participou dos outros dois. Depois de cumprir seu papel, a Turquia vibrou com a vitória brasileira por 5 a 2 sobre a Costa Rica e conseguiu a sonhada vaga nas oitavas de final da Copa. A partir dali, tudo o que viesse seria lucro, pensavam os torcedores. Mas a mente dos jogadores lá do outro lado do mundo era bem diferente.

 

Água no shoyu!

TURKEY'S DAVALA SCORES THE GOAL DURING MATCH IN SENDAI

Classificados, os turcos tiveram pela frente nas oitavas de final um dos anfitriões da Copa: o Japão, que jogou diante de sua torcida no estádio de Miyagi, que recebeu mais de 45 mil pessoas. Com a torcida quase toda contra e debaixo de muita chuva, a Turquia precisava definir o confronto o quanto antes e fazer valer de sua força física nos 90 minutos se quisesse prosseguir no mundial. E foi exatamente isso que eles fizeram. Logo aos 12´, Pembe cobrou um escanteio na medida para Davala subir e cabecear com precisão: 1 a 0. O gol deu a tranquilidade que os turcos necessitavam para cozinhar a partida e apenas ficar atentos às possíveis camaradagens da arbitragem. Para a sorte dos europeus, o italiano Pierluigi Colina mostrou seu habitual profissionalismo e a Turquia conseguiu a classificação, jogando muita água no shoyu japonês.

 

Mansiz de ouro

Mansiz: herói nas quartas de final.
Mansiz: herói nas quartas de final.

 

Já entre os oito melhores do mundo, os turcos não pensavam mais em “cumprir” um bom papel na Copa e já almejavam algo muito maior na competição. Mas o adversário seguinte da equipe era a forte seleção de Senegal, que havia derrotado a França (então campeã do mundo) por 1 a 0, empatado em 3 a 3 contra o Uruguai e eliminado a Suécia nas oitavas de final com uma vitória por 2 a 1. Rápidos e adeptos de um futebol cheio de toques envolventes e incisivos, os africanos começaram melhor o duelo no estádio Osaka Nagai, no Japão, mas paravam nas defesas de Rüstü e no fraco poder de conclusão. Do lado turco, Hakan Sükür tinha várias chances de gol, mas também pecava na hora de finalizar e deixava a torcida turca irada com seu capitão. Definitivamente em um péssimo dia, Sükür deu lugar ao atacante Ilhan Mansiz, no segundo tempo, que seria o grande herói da equipe na partida.

Depois do 0 a 0 no tempo normal, a partida foi para a prorrogação, que na época ainda podia ser decidida com o gol de ouro. E logo aos quatro minutos, Mansiz aproveitou uma cobrança de falta rápida na entrada da área senegalesa e chutou de bate-pronto no canto direito do goleiro Sylva. Fim de jogo! Com um gol de ouro, a Turquia vencia a sensação africana por 1 a 0 e se classificava de maneira épica e histórica para a semifinal de uma Copa do Mundo, algo surreal e inimaginável para qualquer torcedor do país. O título mundial, antes uma utopia, era possível. Mas seria preciso enfrentar novamente um adversário bem indigesto: o Brasil.

O "guerreiro" Rüstü Recber, maior nome da Turquia na Copa e um dos melhores goleiros do mundo em 2002.
O “guerreiro” Rüstü Recber, maior nome da Turquia na Copa e um dos melhores goleiros do mundo em 2002.

 

Bico no sonho

Ronaldo acabou com o sonho turco na semifinal.
Ronaldo acabou com o sonho turco na semifinal.

 

A injusta derrota na primeira fase para o Brasil mexeu com os brios dos turcos para aquele duelo na semifinal, disputado no lotado Saitama Stadium, no Japão, que recebeu mais de 61 mil pessoas. Os vermelhos e brancos queriam a revanche, eliminar a seleção canarinho de uma vez por todas e aproveitar a ausência de Ronaldinho, expulso no jogo contra a Inglaterra nas quartas de final. Diferente da fase anterior, a Turquia foi a campo mais ofensiva e confiante para o duelo, levando perigo logo aos 19 minutos, quando Alpay cabeceou no canto e exigiu uma grande defesa de Marcos.

Nervoso e errando muitos passes, o Brasil não conseguia encaixar seu jogo até Rivaldo chamar a responsabilidade e começar a articular as jogadas de ataque da seleção. Mais ofensivo, o Brasil fez a Turquia recuar e atacou constantemente o adversário, que neutralizou todas as investidas da equipe canarinho graças ao goleiro Rüstü, que vivia uma fase esplendorosa e incrível. Tal fase foi confirmada aos 22´, quando Rivaldo e Ronaldo tentaram o gol num mesmo lance e ambos viram o camisa 1 turco operar milagres.

No segundo tempo, logo aos quatro minutos, o “cascudo” Ronaldo invadiu a área turca e chutou de bico para marcar o primeiro gol brasileiro: 1 a 0. O gol obrigou o técnico Günes a lançar seu time à frente e partir para o tudo ou nada. No entanto, o esquema com três zagueiros do Brasil, bem como a força do meio de campo com Gilberto Silva e Kléberson tornavam as coisas bem difíceis para os turcos. Aos 36´, Sükür, grande decepção turca na Copa, teve um lampejo de seu talento ao chutar perigosamente contra Marcos, que fez uma linda defesa. Perto do final do jogo, o brasileiro Denílson aprontou das suas e protagonizou a hilária cena em que metade do time turco correu atrás dele em busca da bola (sem sucesso).

No fim, o placar permaneceu mesmo a favor do Brasil, que se classificou para sua sétima final de Copa do Mundo. Já a Turquia, mesmo com algumas estatísticas do jogo a seu favor (mais posse de bola – 56% a 44%, menos faltas cometidas – 16 a 18, e mais escanteios – oito a sete), foi muito aplaudida por ter mostrado um futebol competitivo e que dificultou bastante a vida dos experientes brasileiros.

A base da Turquia na Copa: time equilibrado, exímio marcador e que sabia efetuar ótimas trocas de passes.
A base da Turquia na Copa: time equilibrado, exímio marcador e que sabia efetuar ótimas trocas de passes.

 

O bronze histórico

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Na disputa pelo terceiro lugar, a Turquia queria a vitória para encerrar de maneira positiva sua já brilhante campanha contra a outra anfitriã da Copa, a Coreia do Sul, que havia chegado entre os quatro melhores da competição mais na base das ajudas dos árbitros do que por méritos. Em campo, com apenas 11 segundos, Hakan Sükür, enfim, marcou seu primeiro gol na Copa e abriu o placar para a Turquia, no gol mais rápido da história dos mundiais.

Aos 9´, a Coreia empatou, mas Sükür e Mansiz construíram a jogada do segundo gol turco quatro minutos depois, quando o camisa 9 tirou dois coreanos da jogada e tocou para o companheiro empurrar a bola para dentro. Aos 32´, nova jogada da dupla e mais um gol de Mansiz. Com o 3 a 1 no placar, a equipe europeia foi para o segundo tempo bem mais tranquila e certa de que o bronze da Copa já tinha dono. Mesmo com um gol dos coreanos nos acréscimos da etapa final, o placar de 3 a 2 deu o terceiro lugar aos turcos, que encerraram de maneira histórica sua participação no mundial de 2002. A façanha da seleção turca foi tão grande que o governo do país decidiu decretar feriado nacional quando os jogadores voltaram à Istambul só para que a população pudesse receber e parabenizar seus heróis.

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Doce vingança e o fim

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Em 2003, a seleção da Turquia viveu seus últimos momentos de brilho na Copa das Confederações, disputada pelos turcos por causa das desistências da Alemanha, vice-campeã mundial, e da Espanha, segunda colocada no ranking da entidade na época. Curiosamente, a equipe do técnico Senol Günes esteve no mesmo grupo do algoz do ano anterior, o Brasil, e ao lado de Camarões e EUA. Na estreia, a equipe vermelha e branca venceu os americanos por 2 a 1 e na sequência perdeu de 1 a 0 para os africanos.

No último jogo, os turcos tiveram a desforra contra o Brasil e empataram em 2 a 2 (com o gol de empate brasileiro marcado no último minuto, por Alex). Você deve se perguntar por que desforra se a equipe europeia não venceu. É que o resultado eliminou o time canarinho e classificou a Turquia para a semifinal! Nela, porém, a equipe perdeu para a futura campeã, França, por 3 a 2 e derrotou a Colômbia na disputa pelo terceiro lugar por 2 a 1.

Após mais um bronze em uma competição da FIFA, os turcos não conseguiram voltar a disputar uma Copa do Mundo nos anos seguintes e só tiveram outro bom momento em 2008, quando chegaram a mais uma semifinal, dessa vez na Eurocopa. Desde então, a fanática torcida do país espera que uma nova geração leve a seleção vermelha e branca a mais um mundial. Enquanto isso não acontece, restam as lembranças ainda frescas na memória de um time competitivo, aguerrido e cheio de fibra que por muito pouco não disputou uma final de Copa do Mundo e não levou o mais cobiçado troféu do planeta para Istambul. Uma seleção imortal.

 

Os personagens:

Rüstü Recber: com agilidade, reflexos rápidos, imponência dentro da área e intimidador com sua “pintura de guerra” característica, o goleiro Rüstü foi, sem dúvida, o grande nome da seleção turca naquela Copa do Mundo. Foi graças as defesas impossíveis do camisa 1 que a Turquia chegou onde chegou naquele mundial. O jogador vivia sua melhor fase na carreira na época e coroou seu trabalho ao ser eleito o melhor goleiro da Europa em 2002, para o All-Star Team da Copa (ao lado de Oliver Kahn) e ainda o goleiro do ano de 2002 pela FIFA. Rüstü é o jogador que mais vezes vestiu a camisa da seleção com 120 partidas entre 1994 e 2012.

Fatih Akyel: defensor muito forte na marcação, Akyel fez uma boa Copa do Mundo em 2002 e ajudou a zaga do time a ficar três partidas sem levar gols. Viveu seus melhores momentos no Galatasaray e no Fenerbahce.

Bülent Korkmaz: ficou conhecido como “O Grande Capitão” pela torcida do Galatasaray por ter defendido o clube durante toda sua carreira esportiva, de 1986 até 2005. Bülent foi o grande nome da zaga turca na Copa e também um dos maiores zagueiros da história do futebol turco – senão o maior. Líder nato, exemplo de vigor físico e muito seguro, o zagueiro disputou 102 jogos com a camisa da seleção.

Alpay Özalan: zagueiro extremamente eficiente nas jogadas aéreas (tinha 1,88m) e peça surpresa nas investidas de ataque daquela equipe, Alpay fez uma excelente dupla de zaga ao lado de Korkmaz e mostrou toda sua eficiência na marcação e a capacidade de organizar a zaga quando o adversário tinha a bola sob seu domínio. Alpay Özalan foi eleito para o All-Star Team da Copa de 2002 e fez carreira no Besiktas e no Aston Villa-ING. Disputou 90 jogos pela seleção e marcou quatro gols.

Ümit Özat: polivalente, Özat podia jogar como zagueiro, lateral-direito, lateral-esquerdo e até como volante no esquema tático do técnico Senol Günes. Alto e muito eficiente na marcação e nos passes, o jogador disputou 41 partidas pela Turquia de 2000 até 2005 e teve destaque jogando pelo Fenerbahce.

Ergün Penbe: foi uma das referências no setor esquerdo da defesa da Turquia naquela Copa e esbanjava qualidade técnica e muita calma, sendo exemplo de fair play durante toda sua carreira. Muito importante para o time, o jogador foi peça chave para as conquistas do Galatasaray entre 1994 e 2007, período em que esteve no clube. Disputou 48 jogos pela seleção entre 1994 e 2006.

Tugay Kerimoglu: muito técnico, com ótima visão de jogo e nascido para jogar no meio de campo, Kerimoglu foi um dos maiores jogadores turcos dos anos 90 e 2000 e elogiado por várias figuras do futebol mundial por sua qualidade em campo, incluindo Sir Alex Ferguson e Mark Hughes. Notável por seus passes de longa distância, o jogador foi um dos maiores triunfos da seleção turca na Copa de 2002 e também do Galatasaray. Disputou 94 partidas com a camisa da Turquia e marcou dois gols.

Hakan Ünsal: jogava no setor esquerdo do time, com características mais ofensivas. Era extremamente competitivo e brigava por todas as bolas. Jogou no Galatasaray entre 1994 e 2002 e disputou 33 partidas pela seleção turca. É bem conhecido dos brasileiros por ter chutado uma bola em Rivaldo e sido vítima da simulação do brasileiro, que levou as mãos no rosto sendo que a bola tinha acertado suas pernas, na Copa de 2002. O juiz também caiu na traquinagem do brasileiro e expulsou o pobre Ünsal.

Yildiray Bastürk: o nome é turco, mas Bastürk nasceu na Alemanha e jamais defendeu clubes da Turquia. Mesmo assim, o meio-campista se naturalizou e defendeu a seleção vermelha e branca em 49 partidas entre 1998 e 2008. Na Copa, Bastürk atuou como meia e às vezes fazia o papel de segundo atacante quando Hasan Sas recuava um pouco mais para o meio.

Ümit Davala: fez partidas marcantes pelo Galatasaray e também pela seleção turca jogando pelo lado direito e esquerdo, sendo uma importante arma de ataque de suas equipes. Com cabelo moicano, Davala foi decisivo na Copa de 2002 nas partidas contra a China (marcou um gol), contra o Japão (marcou o gol da vitória) e contra o Senegal (deu o passe para o gol de ouro de Mansiz). Disputou 41 jogos pela seleção e marcou quatro gols.

Emre Belözoglu: cria do Galatasaray, Emre Belozoglu marcou época no clube com grandes atuações no meio de campo e grande visão de jogo, além de ser bem bravo e temperamental. Tinha um controle de bola formidável e fazia de tudo um pouco com sua perna esquerda. Ainda em atividade, Belözuglu foi uma das armas de ataque da Turquia na Copa e já disputou mais de 85 partidas com a camisa vermelha e branca. Em 2004, foi eleito para a lista do FIFA 100 feita por Pelé no aniversário de 100 anos da FIFA.

Ilhan Mansiz: rápido, habilidoso e decisivo, o atacante merecia a titularidade na seleção turca daquela Copa, mas teve de aturar o banco de reservas por causa do nome e peso que Hakan Sükür tinha no time. Quando jogou, Mansiz mostrou sua qualidade ao fazer o gol de ouro contra Senegal, nas quartas de final, e dois gols na disputa pelo terceiro lugar, contra a Coreia do Sul. Contra o Brasil, Mansiz ainda deu show ao aplicar uma linda carretilha pra cima de Roberto Carlos, arrancando suspiros e aplausos de todos no estádio. Se ele tivesse sido titular no lugar do decepcionante Sükür, a Turquia poderia ter disputado a final. Mansiz disputou 21 jogos com a camisa vermelha e branca e marcou sete gols.

Hasan Sas: como atacante, meia ou ponta, Hasan Sas tinha muita habilidade e ajudava na construção de jogadas de ataque por conta de sua velocidade. Jogou mais de 10 anos no Galatasaray, clube onde se aposentou. Na Copa, foi um dos maiores destaques no ataque da equipe com grandes atuações, gols e passes precisos. Sas foi eleito para o All-Star Team do mundial e confirmou sua ótima fase na carreira na época. Disputou 40 jogos pela seleção e marcou dois gols, ambos na Copa de 2002.

Arif Erdem: jogou 14 anos no Galatasaray a faturou diversos títulos. Pela seleção, foi muito importante durante as Eliminatórias com gols decisivos, mas perdeu espaço na Copa. Disputou 60 jogos com a camisa vermelha e branca e anotou 11 gols.

Okan Yilmaz: atacante que teve destaque durante a disputa da Copa das Confederações de 2003. Marcou três gols no torneio, mas saiu marcado por ter perdido um pênalti na semifinal contra a França que poderia mudar o panorama do jogo. A equipe turca perdeu por 3 a 2 e teve que disputar outro terceiro lugar.

Hakan Sükür: goleador, com um faro de gol absurdo e letal em jogadas aéreas graças aos seus 1,91m, Hakan Sükur foi o próprio “demônio” do infernal Galatasaray entre 1995 e 2000. Foi por três vezes consecutivas artilheiro do Campeonato Turco pelo clube e a referência máxima do time no ataque. Na Copa da UEFA de 1999-2000, marcou gol em todos os jogos da campanha até a final, e deixou o seu na disputa de pênaltis contra o Arsenal. Foi um ídolo histórico em Istambul e é também o maior artilheiro da história da seleção turca com 51 gols em 112 jogos. Porém, tudo isso parece ter sido esquecido por ele próprio durante a Copa de 2002, afinal, o atacante não foi nem sombra do que havia feito no Galatasaray e foi praticamente uma peça nula no ataque da equipe durante toda a competição. O capitão não marcou gols e podia ter mudado a trajetória da equipe caso estivesse inspirado na partida contra o Brasil, na semifinal. Somente na disputa do terceiro lugar que Sükür acordou e brilhou, marcando um gol com apenas 11 segundos e participando dos outros dois. Uma decepção, mas que não diminui a importância do jogador na história do futebol turco.

Tuncay Sanli: atacante, Sanli também teve papel importante na campanha turca na Copa das Confederações de 2003, quando marcou três gols e ganhou a Bola de Prata da competição. Disputou 80 jogos pela seleção e marcou 22 gols.

Senol Günes (Técnico): foi o grande mestre que levou a Turquia aos incríveis terceiro lugares na Copa do Mundo de 2002 e na Copa das Confederações de 2003. Armando uma equipe muito forte na marcação, compacta e muito equilibrada, o treinador marcou seu nome na história com muito trabalho e talento ao despachar os rivais pelo caminho e engrossar demais a vida do Brasil tanto na primeira fase quanto na semifinal do mundial. Após o sucesso à frente da seleção turca, Günes foi eleito o técnico do ano da UEFA em 2002.

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Comentários encerrados

4 Comentários

  1. Ainda há uns dias pesquisei pelo Man Utd de Cristiano Ronaldo e hoje pesquiso pela Turquia de Rustu,Sukur,Mansiz etc e venho aqui dar novamente!
    Tinha grandes jogadores, dava gosto ver jogar, ainda há poucos dias revi o Portugal – Turquia 2-0 para o Euro 2000 e hoje soube do estado de saúde de Rustu e quis relembrar esta óptima selecção. Cont de bom trabalho 🙂

    • Muito triste saber que atualmente o Hakan Şükür trabalha como uber nos EUA por causa de problemas políticos que ele se envolveu. O homem do gol mais rápido das Copas e herói de uma nação hoje é um exilado. Quando puder escreva um texto sobre essa lenda turca.

  2. Sem dúvida alguma, eles deram muito trabalho para o Brasil na estréia da Copa de 2002. Foi talvez o jogo mais difícil do Brasil (ao lado de Brasil x Inglaterra), pois provavelmente o time do Brasil não esperava tanta dificuldade contra a Turquia. Era um time muito bom, com excelentes jogadores.

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