Por Guilherme Diniz
Este é o 10º maior clássico do mundo de uma lista especial do Imortais. Confira a relação completa clicando aqui!
A rixa: os alviverdes são de Atenas, nascidos na classe média alta da capital grega. Os alvirrubros vêm de Pireu, região portuária, de classe trabalhadora e humilde. A diferença de classes criou a animosidade entre ambos.
Quando começou: em 1º de junho de 1930, na goleada do Panathinaikos sobre o rival por 8 a 2
Maior Artilheiro: Dimitris Saravakos-GRE (Panathinaikos): 16 gols
Quem mais venceu: Olympiacos – 87 vitórias (até maio / 2024). O Panathinaikos venceu 56. Foram 77 empates.
Maiores goleadas: Panathinaikos 8×2 Olympiacos, 1º de junho de 1930
Olympiacos 6×1 Panathinaikos, 16 de fevereiro de 1936
Panathinaikos 1×6 Olympiacos, 13 de novembro de 1932
Atenas, 1930. Antes de um duelo entre Panathinaikos e Olympiacos, os alvirrubros, certos da vitória, levam caixões de madeira ao estádio simbolizando o funeral do time da capital. Em campo, uma devastação de gols alviverdes: 8 a 2. Igualmente devastados, os torcedores do Olympiacos não pensaram duas vezes sobre qual destino dar aos caixões cuidadosamente confeccionados para aquela ocasião: desmantelaram as pranchas de madeira e partiram para cima dos torcedores rivais. Acredite: foi assim, com brincadeira, goleada e selvageria, que começou a tensa rivalidade entre os maiores clubes da Grécia. De lá para cá, os confrontos sempre foram repletos de momentos controversos, muita catimba, torcidas em ponto de explosão e a famigerada guerra de classes entre ricos e pobres. A origem humilde do Olympiacos e seu rápido sucesso atraiu fãs de todo país e foi a principal forma de manifestar o descontentamento com as condições sociais e políticas em contraponto à classe média alta de Atenas. Para acirrar ainda mais essa rivalidade, os clubes construíram ao longo das décadas uma rivalidade refletida também em outros esportes, principalmente basquete (onde a briga é ainda maior do que no futebol!) e vôlei.
Após o título nacional de 1930, o Panathinaikos (fundado em 1908) viu o mais novo rival (fundado em 1925) celebrar sua primeira taça já em 1931. A equipe do Pireu conseguiu superar o time de Atenas em número de títulos e possui mais que o dobro de ligas nacionais (44) que os alviverdes (20). Em copas, o Olympiacos também leva vantagem – 27 a 18. No entanto, o Panathinaikos tem soberania quando o assunto é boas campanhas em competições europeias: eles são os únicos gregos a possuir uma disputa de final de Liga dos Campeões da UEFA no currículo, na temporada 1970-1971, quando acabaram sucumbindo diante do forte Ajax de Cruyff. Além daquela histórica campanha, os alviverdes alcançaram também duas semifinais, em 1985 e 1996.
A intensa rivalidade sempre deu muito trabalho à polícia. Antes dos jogos, é comum torcedores levarem ao estádio bombas, sinalizadores e foguetes. Isso sem contar as brigas e emboscadas que já vitimaram dezenas de pessoas. O clássico é, sem dúvida, um dos mais perigosos para se assistir em toda a Europa e forçou até a mudança de regras da Copa da Grécia. Eis os motivos: na final de 1962, o jogo entre os inimigos eternos teve que ser cancelado por causa do clima hostil criado pelas torcidas e também pelos jogadores – o primeiro tempo teve 66 minutos e três cartões vermelhos! Os torcedores jogaram vários objetos no gramado, o gol não saiu e, para piorar, os times pareciam contentes com o empate e a possibilidade de um novo jogo para faturar mais dinheiro, afinal, não havia disputa de pênaltis. O árbitro da partida encerrou o duelo antes de acabar a prorrogação e a federação de futebol do país decidiu não remarcar um novo jogo nem dar o título a ninguém.
Dois anos depois, as torcidas invadiram o gramado de um novo duelo de copa, dessa vez na semifinal, só para forçar mais uma partida. No entanto, a federação excluiu ambos e deu o título ao AEK, classificado para a final. Depois desses dois casos, as finais das copas passaram a ser decididas, em caso de empate no tempo normal e prorrogação, na moedinha… Só em 1970 que os pênaltis, enfim, se consolidaram como desempate final. A propósito: só uma vez o campeão saiu na moedinha. E foi num clássico entre a dupla, com triunfo do Panathinaikos após empate em 1 a 1, quando o ídolo e capitão Mimis Domazos escolheu o lado certo da moeda e deu a taça ao seu time, que dominou o futebol grego naqueles anos 60, em resposta ao predomínio alvirrubro nos anos 50.
Nas décadas seguintes, o Olympiacos assumiu o protagonismo do clássico e do próprio futebol grego, principalmente nos anos 90, 2000 e 2010, colecionando taças nacionais e abrindo uma larga vantagem sobre o rival histórico. Nesse período, porém, os casos de selvageria cresceram ainda mais e, em 2007, causaram a morte de Mihalis Filopoulos, 22 anos, torcedor do Panathinaikos, em Paiania (11 km de Atenas), numa emboscada de hooligans do Olympiacos na mesma semana em que aconteceu na cidade um jogo de vôlei entre os dois times. Ambos os times possuem suas “torcidas” violentas e frequentemente elas dão o ar da graça nos clássicos. Tanto é que a imprensa mais espera brigas e novos “shows” dos hooligans do que o futebol em si. Desde 2004, torcedores visitantes não entram nas casas de cada equipe.
Mas isso não evita problemas como o ocorrido em 2015, quando o presidente do Olympiacos na época, Vagelis Marinakis, tentou caminhar no gramado antes do jogo e a torcida do Panathinaikos começou a alvejá-lo com sinalizadores. Disso para a tentativa de acertar os jogadores alvirrubros foi um pulo. A partida atrasou mais de 15 minutos e durante o jogo mais casos de violência foram registrados (um jogador do Olympiacos foi atingido no ombro por fogos e o técnico do time quase foi acertado por uma cadeira arremessada pela torcida). Isso foi a “represália” dos alviverdes por causa de um clássico de 2014, quando o presidente do Panathinaikos foi atingido por um objeto arremessado por torcedores e jogadores da equipe alvejados por sinalizadores. Isso sem contar partidas adiadas ou com problemas em 2009, 2012…
Embora a rivalidade tenha nascido num clássico embate de ricos contra pobres, a queda brusca na economia grega fez com que as torcidas de ambos os clubes sofressem uma mudança radical e, hoje, são bastante heterogêneas, abrangendo todas as classes sociais. Ambos são do povo grego. Mas, infelizmente, parte desse povo não sabe conviver em paz nem curtir de maneira sadia uma rivalidade tão longeva.
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