Data: 17 de junho de 1970
O que estava em jogo: uma vaga na final da Copa do Mundo da FIFA de 1970.
Local: Estádio Jalisco, Guadalajara, México
Público: 51.261
Árbitro: José María Ortiz de Mendibil (ESP)
Brasil: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Pelé e Tostão. Técnico: Mário Zagallo.
Uruguai: Mazurkiewicz; Ubiñas, Ancheta, Matosas e Mujica; Montero Castillo, Cortés e Maneiro (Espárrago, aos 32’ do 2º); Cubilla, Fontes e Morales. Técnico: Eduardo Hohberg.
Placar: Brasil 3×1 Uruguai. Gols: Cubilla-URU, aos 19’ e Clodoaldo-BRA, aos 44’ do 1ºT; Jairzinho-BRA, aos 31’ e Rivellino-BRA, aos 44’ do 2ºT.
“Chega de fantasma!”
Por Leandro Stein e Guilherme Diniz
Exatos 20 anos depois do (então) maior pesadelo da história da seleção brasileira, o Maracanazo, eis que o Uruguai aparecia pelo caminho do time canarinho em outra Copa do Mundo. Era semifinal. Faltava pouco, muito pouco, para o Brasil disputar a decisão e lutar pela posse definitiva da Taça Jules Rimet, a mesma que a equipe havia levantado duas vezes, assim como o Uruguai. O clássico sul-americano em terras mexicanas foi o assunto daquela semana no Mundial. A memória da Copa de 1950 estava viva em Guadalajara. As histórias da vitória uruguaia em um Maracanã com 200 mil pessoas permearam toda a cobertura da imprensa às vésperas daquele novo Brasil x Uruguai. Só que, por mais que existisse o fantasma, o terror, o cenário era diferente. Bem diferente.
Não havia do lado celeste um Varela, um Schiaffino, um Rodríguez Andrade, um Ghiggia. Era um time bom, mas longe daquele de 1950. E, do outro lado, a superioridade do timaço de Zagallo estava bastante clara no papel e em campo. Quando a bola rolou, houve mesmo uma tensão no gol inicial da Celeste, mas o Brasil mostrou sangue frio, futebol em estado puro, e virou para 3 a 1 em um jogo que ficou marcado não só pelos gols e pela atuação coletiva da seleção, mas também pelos lances plásticos protagonizados por Pelé, que quase deixou sua marca duas vezes, uma delas com um drible de corpo espetacular em que a bola não entrou por causa de um tufo de grama. Mas nem precisou. A vaga na final era brasileira. A Jules Rimet estava próxima. E aquele fantasma, enterrado de vez. É hora de relembrar.
Sumário
Pré-jogo
Na véspera do Brasil x Uruguai de 1970, o Maracanazo era revivido à flor da pele pela imprensa. Diversos personagens da partida decisiva de 1950 falavam sobre suas lembranças e sobre o que representaria uma vitória brasileira no México. O Jornal dos Sports realizou uma série de entrevistas com os jogadores da Copa de 1950 sobre o Brasil x Uruguai de 1970. Barbosa indicava segurança na classificação:
“O Brasil deve vencer bem o Uruguai. Nossa seleção atingiu quase a perfeição e pode mesmo arrasar nosso adversário. A defesa vem se firmando a cada jogo, o meio-campo é um dos melhores do mundo e o ataque dá show em cima de show toda vez que joga. Quero ver a seleção uruguaia parar nosso time. Eu só lamento não poder estar no campo para gozar de perto nosso sucesso. O Brasil está com toda a pinta de campeão e o que é mais importante: ninguém está com confiança exagerada. Isso é muito bom”.
Uma das maiores vítimas das críticas no Maracanazo, Bigode falava sobre a oportunidade de dar a volta por cima contra a Celeste, embora pregasse cuidado: “Os uruguaios enganam muito. Em 50 eles tinham um time aparentemente fraco. Nós vínhamos de goleadas como de 7 a 1 contra a Suécia e 6 a 1 na Espanha, todos já consideravam a vitória como certa. Mas o time do Uruguai nos venceu e nossa seleção foi considerada como sem garra. Agora é o momento da forra. Esperamos muito, mas a oportunidade chegou”.
Grande talento no meio-campo do Brasil de 1950, Danilo não escondia o ressentimento pelo passado: “Esta rapaziada vai lavar a nossa alma. Em 50 perdemos um título mundial aqui no Maracanã, num jogo que até hoje está atravessado na nossa garganta. Seremos vingados por esses garotos. A seleção de Pelé, Jair, Gérson, Rivellino e Tostão vai ser a vingadora. Os uruguaios sentirão na carne a forra, que desta vez será para valer. Sentirão o mesmo que nós sentimos. Pena que o jogo não seja em Montevidéu. A derrota naquele dia foi para nós como se tivéssemos perdido um parente. Hoje, estou certo que este parente vai ressuscitar na alegria do povo. O pior foi depois da Copa. Quase parei de jogar. Entrava em campo e era acusado de ter me vendido aos uruguaios. Foi triste”.
Do outro lado, curiosamente, Alcides Ghiggia estava no Brasil durante a véspera da semifinal contra o Uruguai. Comemorava-se o aniversário de 20 anos da inauguração do Maracanã e o carrasco de 1950 foi homenageado no estádio – encontrando-se com Barbosa. Ao Jornal do Brasil, apostava nos brasileiros em 1970: “O ataque brasileiro é muito bom. O Uruguai não joga para vencer, mas sim para não levar gols. Dessa maneira, nenhuma equipe de futebol, principalmente uma seleção, poderá pensar em levantar um campeonato. Nosso ataque é tão fraco que chega a ser ridículo. No Uruguai, muita gente acredita que os jogadores ao vestirem a Celeste se superam e viram leões em campo. Não tenho a mesma opinião. O que realmente ocorre é que há jogadores que se apresentam melhor quando a torcida está do outro lado. Jogam como se estivessem com raiva. É por isso que os uruguaios acreditam na Celeste”.
Zizinho, o craque de 1950, era colunista do Jornal dos Sports em 1970. Antes da semifinal, escreveu um grande texto na última página do periódico para resgatar suas memórias e falar sobre o Maracanazo.
“São passados 20 anos da última partida Brasil x Uruguai em uma Copa do Mundo, muito embora as duas seleções tenham se defrontado em outras competições várias vezes. Eu ainda me lembro muito bem do jogo de que participei em 1950, quando perdemos em tarde dramática a final da Copa, que na oportunidade voltava a ser disputada após a interrupção ditada pela Grande Guerra”.
“De lá para cá, o Brasil ganhou duas Copas e decepcionou em outras duas, mas a derrota de 50 ficou gravada na mente do povo brasileiro e muito mais marcada ficou no coração daqueles que participaram da desastrosa final. Sei que, se eu viver 100 anos, jamais conseguirei esquecer aquele desastre, mas se pudesse conseguir isso seria por alguns momentos apenas, pois sempre aparece alguém para indagar, apesar dos 20 anos passados, como perdemos o jogo. Assim, creio, será por toda a vida dos que jogaram naquela tarde. Cheguei à conclusão, para mim muito triste, que esta derrota do Brasil será contada de geração a geração, por maior que sejam as glórias do nosso futebol”, complementava.
Quem também participou daquele pré-jogo foi Garrincha, bicampeão com a seleção em 1958 e 1962. O craque mandou um telegrama para a concentração da seleção brasileira. A mensagem, endereçada ao técnico Zagallo, era bem direta: “Confiante no tri. Pau neles. Felicitações aos colegas e abraços”. O telegrama foi colocado no quadro de avisos do hotel. Segundo o Jornal dos Sports, Mané estava em Roma com a cantora Elza Soares, sua esposa.
Para pensar em sua estratégia ao jogo contra o Uruguai, Zagallo recebeu informações valiosas de Aymoré e Zezé Moreira, seus antecessores no comando da Seleção. Comandante de Zagallo no título de 1962, Aymoré assistiu ao jogo da Celeste contra a União Soviética. Já Zezé havia trabalhado com parte dos atletas uruguaios, enquanto dirigia o Nacional. Ao Jornal dos Sports, Zagallo falou sobre a preparação: “Conheço os uruguaios, sei do que são capazes e, por mais que isso desagrade à torcida, temos que jogar como se estivéssemos disputando uma partida de xadrez, com muito cálculo e paciência”.
Zagallo pôde repetir a escalação da estreia pela primeira vez desde então. Gérson e Rivellino seguiam em boas condições físicas, recuperados de suas lesões, assim como Everaldo retornava à lateral esquerda após superar um problema no tornozelo. Seria a mesma formação que se consagraria dias depois, na decisão. O Uruguai, por sua vez, havia apenas blefado com o possível retorno de Pedro Rocha. O capitão não estava à disposição, machucado. A Celeste contava com o ótimo goleiro Ladislao Mazurkiewicz e a firme linha de zaga liderada pelo líbero Roberto Matosas. Repetia-se o time que eliminara a União Soviética nas quartas de final, com Julio Morales voltando de lesão e servindo de referência na frente. Víctor Espárrago, herói da classificação anterior, de novo começava no banco.
Mas a tensão tomaria conta do Estádio Jalisco, num desafio aos nervos dos brasileiros. Os uruguaios, mordidos pela mudança do local do jogo pela Fifa, iriam iniciar o duelo tentando desestabilizar os rivais. Queriam ganhar na força e na mente. Mas, nos 90 minutos, o jogo seria outro. Passaria quem tinha mais bola.
Primeiro tempo – Do susto ao alívio
Os primeiros minutos no Jalisco guardaram uma partida não tão intensa, em que os cuidados redobrados dos times ficavam evidentes. O Brasil tentou chegar firme nas primeiras divididas e conseguiu neutralizar o Uruguai. Um carrinho de Everaldo, com os dois pés na bola, representava essa postura. Já na frente, quem aparecia desde já era Jairzinho. O Furacão da Copa não se intimidava com a rispidez dos marcadores uruguaios e partia para cima. Acompanhado por Carlos Alberto Torres, suas arrancadas pela ponta direita foram o principal escape do Brasil durante os movimentos iniciais. Já começava ali o embate particular com o lateral Juan Mujica, que deu uma pancada no camisa 7 logo aos cinco minutos.
Porém, não demorou para que o Brasil perdesse sua concentração na partida. A equipe errava bastante suas saídas de bola e não conseguia chegar à área uruguaia. Faltava mais aproximação entre os jogadores, encaixotados pela marcação celeste. O Uruguai tinha uma segurança tremenda no miolo de zaga, com Atilio Ancheta e Matosas, mas também fazia um trabalho abnegado de marcação logo com seus meio-campistas e atacantes – em especial Julio Montero Castillo, ativo no rodízio de faltas, e Dagoberto Fontes, que tomaria uma cotovelada de Pelé em “retribuição pelas pancadas” no segundo tempo. Esse cerco possibilitaria a primeira chance, em passe defeituoso de Clodoaldo. Ildo Maneiro arriscou, mas Félix segurou.
A torcida apoiava o Brasil, o que estava claro pelos gritos. E alguns jogadores tentavam se desvencilhar da rigidez imposta pela defesa do Uruguai. Tostão se movimentava bastante, enquanto Rivellino recuava para auxiliar na armação. Outros craques não conseguiam aparecer tanto, sobretudo pelas perseguições individuais a Gérson e Pelé. Durante os primeiros minutos, o ataque se via anulado, o que também encheu a Celeste de confiança. Fontes e Julio César Cortés já tinham ameaçado, até o primeiro gol sair aos 19 minutos.
Se as críticas à defesa do Brasil eram constantes naquela Copa, o tento de Luis Cubilla justificava tanta insegurança. Foi o lance mais bobo possível, com uma sucessão de erros. Brito entregou o presente a Morales na intermediária e deixou a linha de zaga exposta. Piazza ficou no meio do caminho e Cubilla passou às suas costas, para receber o lançamento. O veterano chutou fraco, mas o posicionamento de Félix era ainda pior e o goleiro só viu a bola mansa cruzar a pequena área, antes de entrar no canto oposto. O autor do gol, aliás, era quem mais incomodava. Por um lado ou por outro, Cubilla sempre carimbava os ataques. O camisa 7 girava sobre a bola, limpava os passes e desconcentrava os marcadores. O lance não era por acaso.
O Uruguai cresceu com o gol e passou a se impor no campo de ataque. Brito evitou o segundo ao travar Maneiro de forma providencial dentro da área. O Brasil recuava, com seus homens de frente retraindo para buscar a transição que não acontecia. Os brasileiros limitavam suas ameaças às bolas paradas. Carlos Alberto foi desarmado em cobrança de falta ensaiada e, logo depois, Pelé reclamou de uma pancada na barriga. Entrar na mentalidade uruguaia não ajudava em nada, ainda mais quando o árbitro era bastante conivente com os charruas. Haveria mesmo uma reclamação de pênalti sobre Pelé, por uma entrada por baixo de Castillo, mas nada que convencesse o espanhol José María Ortiz de Mendibil.
Aos poucos, alguns jogadores do Brasil que não vinham bem começaram a melhorar, como Clodoaldo. O volante seria necessário à reação, com Gérson enclausurado entre as linhas uruguaias. Seria do camisa 5 a primeira finalização brasileira na partida, apenas aos 27 minutos, em chute de longe que seguiu para fora. Só então a Seleção passou a dar sinal de vida. Quase sempre as jogadas se iniciavam com Jairzinho, caçado pelos adversários. As aproximações da área se tornaram mais frequentes, ainda que o Uruguai contivesse as infiltrações, com seus jogadores bastante recuados.
Rivellino exigiu a primeira defesa de Mazurkiewicz numa cobrança de falta fechada, antes de Jairzinho sair em ótimas condições, após uma troca de passes envolvente, mas adiantar demais a bola. Por volta dos 40 minutos, as tabelinhas passaram a funcionar. E foi este o caminho para o empate do Brasil, nos descontos do primeiro tempo. Tostão fez um excelente trabalho ao abrir pela esquerda e gerar os espaços na zaga uruguaia. Num ataque rápido, Clodoaldo tabelou com o camisa 9 e correu para a área, recebendo a enfiada magistral por trás do marcador. O meio-campista, então, bateu de primeira e acertou um lindo chute de peito de pé no canto oposto de Mazurkiewicz, que não achou nada.
Antes que o apito do intervalo soasse, outro lance demonstrava a mudança de espírito do Brasil, quando o franzino Tostão ganhou no ombro de Matosas e desequilibrou o caudilho celeste na força. O Uruguai já buscava gastar o tempo desde a primeira etapa, mas veria seu plano de jogo ruir com o empate.
Segundo tempo – A revanche
O Brasil voltou mais aceso para o segundo tempo e parecia, enfim, acreditar que sua qualidade superior prevaleceria. “Culpa” do técnico Zagallo, que deu um “esporro danado”, segundo o próprio, nos jogadores para que mudassem a atitude dentro do jogo. O primeiro lance de perigo veio após uma batida fechada de Jairzinho, salva por Mazurkiewicz. Os brasileiros faziam a bola correr mais e, assim, tentavam cansar os oponentes.
Pelé protagonizava uma atuação particular até então. Com a marcação dobrada muitas vezes, tinha dificuldades para se apresentar. Entrou de vez na partida no início daquela segunda etapa, alternando jogadas arrojadas e erros inacreditáveis. Uma arrancada desde o campo de defesa só pôde ser parada com falta no limite da grande área. Apesar da reclamação de pênalti, o árbitro anotou apenas a punição fora e o Rei isolou, numa cobrança horrível. Mas, depois que Mazurkiewicz bateu mal o tiro de meta, quase o craque fez num chute de primeira do meio da rua. Sorte do arqueiro que ele se recuperou a tempo e pegou o tiro sem dar rebote.
Por causa da capacidade defensiva do Uruguai, o Brasil não conseguia imprimir o ritmo demolidor de outras partidas. Faltava espaço. Mas era um momento relativamente confortável à equipe de Zagallo, já que os rivais mal construíam no ataque, limitados a uma aparição de Cubilla ou outra de Morales. A Seleção era bem mais perigosa quando chegava à frente, embora priorizasse certa cautela, visando não se expor demais e não se cansar. A linha defensiva canarinho protegia-se com solidez, em especial Everaldo na esquerda. Mesmo que a Celeste em certos momentos tivesse até mais a posse de bola, isso não abalava a confiança brasileira de que logo o resultado viria. E veio aos 31 minutos, com a virada.
Numa Copa em que é bastante lembrado pelos lances mágicos que não viraram gol, Pelé se saiu até melhor quando simplificou o jogo e prendeu a marcação em si, para que os companheiros decidissem. Foi o que aconteceu no lance, outro contragolpe fulminante. O Rei recebeu o passe de Jairzinho e deu um toquinho sutil de lado, abrindo o caminho a Tostão. O atacante acertou mais uma enfiada cirúrgica, conectando a disparada de Jair. O Furacão ultrapassou Matosas na corrida, antes de bater rasteiro. O Uruguai estava nas cordas e a única forma que conseguia mostrar força era na base da porrada, sem economizar nas enxadadas ainda frequentes.
Mais tímido na semifinal, Gérson melhorou no segundo tempo quando recuou. Exigiu uma ótima intervenção de Mazurkiewicz em chute de longe. Enquanto isso, Clodoaldo ganhava liberdade para avançar e orquestrava os ótimos minutos da Seleção. O Brasil só não poderia perder a cabeça, e isso quase aconteceu num lance desnecessário aos 38’. Jairzinho resolveu revidar em Mujica e acertou as costas do lateral, fora do lance. Houve confusão e até mesmo Zagallo entrou em campo, pedindo para que seus comandados mantivessem a concentração.
A esperança do Uruguai, desgastado fisicamente, se concentrava nos cruzamentos. Os charruas forçavam as bolas altas em direção a Félix e o goleiro, mesmo disputando no corpo com os atacantes, se saía bem para neutralizar os perigos. O camisa 1 pegou um tiro de longe de Cortés, antes de se tornar realmente decisivo aos 43’. No único chuveirinho uruguaio que deu certo, Cubilla apareceu totalmente livre na pequena área. Cabeceou buscando à queima-roupa, mas Félix voou para realizar uma defesa determinante.
Do quase empate, o Brasil selou a vitória graças a mais um contra-ataque. De novo Pelé serviu de coadjuvante, puxando até a entrada da área e esperando a aproximação de Rivellino. O camisa 11 bateu de primeira, em canhotaço no contrapé de Mazurkiewicz. E, mesmo que o relógio marcasse 44 minutos, restou um pouquinho de tempo para um último lance espetacular.
Pelé recebeu a bola da esquerda, de Tostão, e Mazurkiewicz saiu do gol para tentar pegá-la, mas eis que ele viu o brasileiro chegando como um foguete. Sem saber o que fazer, ele vê o Rei passar por ele sem tocar na bola, num drible de corpo sensacional. Goleiro batido, Pelé chutou para o gol, mas um pedaço de grama raspado pela chuteira do uruguaio Ancheta, que corria desesperadamente em direção ao gol, tirou a bola, que foi pra fora. Ia ser um gol esplendoroso. Mas, quiseram os deuses do futebol que a obra prima ficasse apenas no “quase”…
Se aquela partida da Seleção não foi avassaladora, pelas próprias dificuldades impostas pelo adversário, a equipe se refez dos sustos e construiu jogadas preciosas para possibilitar o triunfo. A vaga na final, incontestavelmente, era do esquadrão.
“Passamos por maus momentos nos primeiros 25 minutos, porque os jogadores erraram muitos passes. O gol uruguaio, inesperado sob todos os aspectos, também os desnorteou um pouco. Foi um período de estudo do adversário. O passar dos minutos e o calor da partida fizeram com que todo o time subisse de produção, a tempo de conseguir o empate no primeiro tempo. A vitória do Brasil foi de todos os setores, especialmente mantendo a tranquilidade e o bom preparo físico”, disse Zagallo, ao Jornal dos Sports.
Complementava ao Jornal do Brasil: “Já ao final do primeiro tempo, os jogadores uruguaios davam prova de cansaço. Comentei isso com os jogadores no vestiário e pedi a todos para jogarem com calma e serenidade, não aceitando provocações nem revidando pontapés desleais, porque daria para ganharmos o jogo. E foi o que fizemos. Os uruguaios só jogam para não sofrer gols. Se marcam algum, como aconteceu, é por obra do acaso. Agora vamos para a final. O time vai ser o mesmo de hoje”.
O Brasil estava em sua terceira final nas últimas quatro Copas. Faltava apenas um desafio, um passo para o tricampeonato. E, depois de vencer um rival tão emblemático, ninguém naquele grupo duvidava que o título era mais do que possível e merecido. O fantasma de 1950 estava exorcizado.
Pós-jogo: o que aconteceu depois?
Brasil: o adversário do time canarinho na final foi a Itália, também bicampeã mundial e que havia despachado a Alemanha no Jogo do Século. E, no dia 21 de junho de 1970, em um estádio Azteca tomado por mais de 100 mil pessoas, a seleção não tomou conhecimento dos italianos e exibiu um futebol vistoso, alegre, preciso, rápido, elegante, lindo. A equipe de Zagallo goleou por 4 a 1 e assegurou a posse definitiva da Jules Rimet. Relembre clicando aqui!
Uruguai: a Celeste disputou o terceiro lugar contra a Alemanha e acabou perdendo por 1 a 0, terminando sua trajetória no México na 4ª posição. A partir dali, a equipe entrou em uma crise sem precedentes e só voltaria a desempenhar um bom papel em Copas no ano de 2010, quando alcançou uma nova fase semifinal graças à Lugano, Godín, Suárez, Cavani e Forlán, mas acabou eliminada pela Holanda. Quatro anos depois, em 2014, a Celeste voltou ao Brasil para a disputa de mais um Mundial e até sonhou com o tri no Maracanã. Porém, os uruguaios acabaram eliminados pela Colômbia de James Rodríguez, nas oitavas de final. E adivinhe onde? No Maracanã…
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