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Esquadrão Imortal – Paysandu 2001-2003

Paysandu 2001-2003
O time de 2002. Em pé: Marcão, Pedro Paulo, Róbson, Sérgio, Sandro Goiano, Gino e Luiz Fernando. Agachados: Vélber, Albertinho, Vandick, Luís Carlos Trindade, Rato, Souza, Rogerinho, Marcos, Vanderson, Jóbson e Jajá.
 

 

Grandes feitos: Campeão da Copa dos Campeões (2002), Campeão do Campeonato Brasileiro da Série B (2001), Campeão da Copa Norte (2002), Bicampeão do Campeonato Paraense (2001 e 2002) e Primeiro clube da Região Norte do Brasil a disputar uma Copa Libertadores da América, em 2003.

Time-base: Marcão (Júlio César / Ronaldo); Marcos (Valentim / Rodrigo), Gino (Tinho), Sérgio (Jorginho) e Luiz Fernando (Lino); Sandro Goiano, Rogerinho (Vanderson), Jóbson (Luís Carlos Trindade / Lecheva) e Vélber (Magnum); Jajá (Zé Augusto / Róbson) e Vandick (Albertinho / Valdomiro / Iarley / Balão). Técnicos: Givanildo Oliveira (2001-2002), Hélio dos Anjos (2002) e Darío Pereyra (2003).

 

 

“O temível Papão da Curuzu (e da Bombonera também!)”

 

Por Guilherme Diniz

 

Na Travessa Curuzu, no bairro Marco, em Belém-PA, existe um estádio chamado Leônidas Sodré de Castro, mais conhecido como Estádio da Curuzu. Lá é a casa de um clube que desde 1965 começou a pavimentar um caminho de grandes façanhas: o Paysandu. Naquele ano, o bicolor derrotou o Peñarol-URU de Pedro Rocha, Spencer, Joya e companhia por 3 a 0, em uma das maiores zebras do futebol sul-americano na época. Bicampeão continental em 1960/1961 e campeão do mundo em 1961, o clube uruguaio seria ainda tricampeão da América e novamente campeão do mundo em 1966. A façanha, testemunhada por milhares de pessoas no alçapão da Curuzu, virou até marchinha em um hino não-oficial do clube paraense nos dizeres “O nosso time joga pra valer, até o Peñarol veio aqui pra padecer”. Décadas depois, na virada do século, o Paysandu voltou a escrever uma grande história. Aliás, histórias.

O Papão conquistou o acesso à elite do futebol nacional em 2001, e, já em 2002, venceu a Copa dos Campeões enfrentando titãs do futebol brasileiro, eliminando o Palmeiras, na semifinal, e vencendo o copeiro Cruzeiro na decisão. O título deu uma vaga aos paraenses na Libertadores de 2003 e fez do clube o primeiro – e até hoje único – do Norte do Brasil a disputar uma Copa Libertadores em toda a história. Muitos pensaram que os bicolores iriam apenas passear e cair na fase de grupos. Mas eles se classificaram em primeiro lugar (invictos), golearam o tradicional Cerro Porteño em plena cidade de Assunção por 6 a 2 e toparam com o Boca Juniors de Carlos Bianchi nas oitavas de final. E, em La Bombonera, o Papão abocanhou o temido estádio xeneize e venceu por 1 a 0. A vaga acabou escapando, mas aquele Paysandu de 2001-2003 se transformou no mais vencedor e competitivo esquadrão da mais que centenária história do clube de Belém. É hora de relembrar os feitos e a soberania do alviceleste da Curuzu.

 

Em busca da elite

Gino (à dir.), defensor do Paysandu em 2001. Foto: Raimundo Paccó / O Liberal.

 

 

Campeão estadual em 2000 após vencer o Castanhal na decisão, o Paysandu repetiu a dose em 2001 com o bicampeonato em grande estilo: vitória por 4 a 0 sobre o Remo (gols de Albertinho, duas vezes, André Duarte e Gino) no primeiro jogo da final em pleno estádio Baenão, a casa do Leão – foi a terceira goleada pra cima do rival em um período de sete meses, pois o Paysandu havia goleado por 4 a 0 também no Baenão, em fevereiro, e fez 4 a 1 em dezembro de 2000. O empate sem gols no segundo jogo deu o título ao Papão, com 14 vitórias, quatro empates, duas derrotas, 46 gols marcados (melhor ataque) e 11 gols sofridos (melhor defesa) em 20 jogos, aproveitamento de quase 77%. A conquista serviu para amenizar a perda do caneco na Copa Norte daquele ano para o São Raimundo-AM, que venceu o Paysandu em Manaus por 1 a 0 na partida decisiva com um gol a dois minutos do fim. Foi um revés dolorido que virou combustível não só para o título estadual, mas também para o time iniciar com boas perspectivas o Campeonato Brasileiro da Série B daquele ano.

Perda do título da Copa Norte de 2001 fez o Paysandu buscar força e dar a volta por cima.

 

 

Com Givanildo Oliveira no comando técnico e jogadores que cresciam bastante de produção como o jovem meio-campista Vanderson, o atacante Vandick e o meia Jóbson (dono de poderosos chutes de fora da área), o Paysandu era uma equipe muito competitiva, com um meio de campo marcador (destaque para Sandro Goiano, que ainda era conhecido apenas como Sandro) e um ataque veloz. A Série B teria 28 clubes divididos em dois grupos. Os quatro melhores de cada grupo, após turno e returno, garantiam vaga nas quartas de final e os vencedores se enfrentariam em um quadrangular todos contra todos, com os dois primeiros garantidos na primeira divisão. A chave do Papão não era nada fácil e tinha equipes como Náutico, Ceará, os rivais Remo e Tuna Luso, Fortaleza, América-RN e São Raimundo-AM, algoz do primeiro semestre de 2001 e adversário do Papão logo na estreia, em Manaus. Ainda mordido, o Paysandu arrancou um empate em 1 a 1 com um jogador a menos e começou bem a disputa.

Givanildo Oliveira, o “Rei do Acesso”, técnico do Paysandu naquela era de ouro. Foto: Igor de Melo.

 

 

Nas rodadas seguintes, nada de derrotas. O time venceu CRB (1 a 0), ABC (2 a 1), Sergipe (3 a 0), Remo (3 a 1), Nacional-AM (2 a 1) e Fortaleza (2 a 0), e empatou com Sampaio Corrêa (2 a 2), Náutico (1 a 1), Ceará (1 a 1), América-RN (1 a 1) e Tuna Luso (2 a 2). A primeira derrota só aconteceu na 12ª rodada, a penúltima do turno, nos 3 a 2 para a Anapolina, fora de casa. Com a força da torcida na Curuzu nos jogos em casa, o Paysandu seguiu embalado no segundo turno e acumulou mais boas vitórias, incluindo um 2 a 1 no Náutico, 2 a 0 na Tuna Luso, 4 a 1 no América-RN, 2 a 1 na Anapolina e 1 a 0 no São Raimundo. Com 47 pontos, 12 vitórias, 11 empates e três derrotas em 26 jogos, o Paysandu garantiu a vaga na segunda fase em primeiro lugar, à frente de Ceará, Náutico e CRB.

 

Bicampeão!

 

Nas quartas de final, o time paraense empatou sem gols com o União São João tanto o duelo de ida, em Araras, quanto a volta, em Belém, e se classificou para o quadrangular final graças à melhor campanha. Para provar que não estava jogando com o regulamento, o Papão mostrou autoridade nos jogos decisivos. O primeiro desafio foi contra o Avaí, na Ressacada. Vandick abriu 2 a 0, mas os catarinenses viraram para 3 a 2. Aos 45’, Vandick fez mais um e garantiu um ponto importante ao Papão. No jogo seguinte, em casa, contra o Caxias, empate sem gols. No terceiro duelo, de novo em Santa Catarina, o adversário era o Figueirense. Zé Augusto abriu o placar para o Paysandu, mas outra vez o bicolor levou a virada – 3 a 1. Só que Vandick estava infernal e marcou dois gols no segundo tempo que garantiram mais um empate em 3 a 3 e outro ponto fora de casa. Naquele jogo, o técnico Givanildo foi decisivo ao mexer com o lado emocional dos atletas, estimulando os jogadores a buscarem o empate na etapa complementar.

Em Belém, o Paysandu fez 3 a 0 no Figueira e assumiu a liderança do quadrangular. Precisando de três pontos para garantir o acesso com uma rodada de antecedência, o Papão visitou o Caxias e abriu 3 a 0 no primeiro tempo. No entanto, um gol dos grenás nos acréscimos e mais três no segundo tempo decretaram a vitória gaúcha por 4 a 3. Perder daquela maneira poderia despertar a fúria em muita torcida. Mas os fanáticos pelo Papão mostraram um apoio incondicional e recepcionaram os atletas na volta à Belém com faixas, cartazes e carreata pelas ruas da cidade. Era tudo pelo título!

Jornal destaca a virada do Caxias pra cima do Papão.

 

 

Na última rodada, diante do Avaí, bastava um empate em casa para o acesso. Mas o Paysandu fez mais. Com a força da torcida na Curuzu lotada (15.010 torcedores), goleada bicolor por 4 a 0, com dois gols de Vandick, um de Gino e outro de Zé Augusto, resultado que colocou o Papão na Série A de 2002 e deu ainda o segundo título brasileiro da Série B ao clube do Pará, exatos 10 anos depois do primeiro lá em 1991. O Paysandu perdeu apenas quatro dos 34 jogos que disputou, embora tenha empatado mais (16 jogos) do que vencido (14 jogos). Os bicolores tiveram o segundo melhor ataque da competição com 60 gols, atrás apenas do vice-campeão Figueirense, que anotou 61. Vandick, com 14 gols, foi o vice-artilheiro e a grande referência do setor ofensivo do Papão.

Vandick, o homem-gol do Papão.

 

 

O título fez justiça ao bom elenco do clube, comandado com pulso firme por Givanildo Oliveira, que soube mesclar bem os jogadores para evitar cansaços e contusões em um torneio tão longo e complicado como a Série B. Com isso, vários jogadores tiveram espaço e contribuíram de diferentes maneiras. No gol, Marcão teve destaque e conseguiu atuar em várias partidas no lugar de Júlio César. Na zaga, Sérgio e Gino eram titulares absolutos e foram os únicos intocáveis do time ao lado do volante Sandro Goiano. No meio, Vanderson, o veterano Rogerinho – campeão da Série B de 1991 pelo Paysandu! – Lecheva, Luis Carlos Trindade e Jóbson foram os articulares e criadores das jogadas para os atacantes Vandick, Zé Augusto e Albertinho. Depois de seis anos, o Paysandu estava de volta à elite. E não queria sair dela tão cedo.

 

Para ser o Rei do Norte

Rogerinho e Gino com as taças dos Campeonatos Brasileiros da Série B de 1991 e 2001.

 

 

Entre janeiro e abril de 2002, o Paysandu disputou a última edição da Copa Norte, criada em 1997 e que garantia uma vaga na Copa dos Campeões daquele ano, esta que dava ao campeão uma vaga na Copa Libertadores de 2003. A missão do clube bicolor era acabar com a hegemonia do São Raimundo-AM, tricampeão consecutivo e algoz do Papão em 2001. Com a mesma base do ano anterior e o reforço do atacante Valdomiro, o time da Curuzu não teve dificuldades na primeira fase e venceu o Independente-AP por 1 a 0, fora de casa, empatou em 1 a 1 com o Remo, venceu o São José-AP por 2 a 1, em casa, massacrou o Independente-AP por 7 a 1, em casa, e empatou sem gols com Remo e São José-AP.

Classificado em primeiro lugar no Grupo B, o bicolor avançou para a segunda fase. Em seu grupo, o Paysandu venceu o Moto Club-MA por 2 a 1, em casa, perdeu para o Remo depois de muito tempo por 1 a 0, em casa, goleou o River-PI por 4 a 0, fora, perdeu para o Moto Club-MA, fora, por 2 a 1, deu o troco no rival vencendo por 2 a 1 no Baenão, e bateu de novo o River-PI por 3 a 1, dessa vez em casa, resultado que colocou o Papão em mais uma final.

Sandro Goiano, um dos xerifes do meio de campo do Papão.

 

 

E, de novo, o adversário era o São Raimundo. Mas o Paysandu não repetiu os erros do ano anterior e conseguiu a desforra. Na ida, no Vivaldão, vitória por 1 a 0 – gol de Zé Augusto. E, na volta, vitória por 3 a 0 na Curuzu lotada e grande atuação de Lecheva, autor de dois gols, com outro de Sandro Goiano. O título inédito veio após 14 jogos, nove vitórias, três empates e apenas duas derrotas, 27 gols marcados (quase dois gols por jogo) e nove sofridos. Lecheva foi o artilheiro com nove gols.

A vaga garantida na Copa dos Campeões fez o Paysandu voltar suas atenções para o Campeonato Paraense. No turno, em 14 jogos, os bicolores venceram dez e empataram quatro, com 32 gols marcados e nove sofridos. Foi durante o torneio que o clube participou da reinauguração do estádio do Mangueirão, remodelado após dois anos de obras. O jogo da reabertura do estádio foi um empate em 2 a 2 entre o Papão e o Remo. Nas semifinais do Paraense, o Paysandu fez 6 a 1 na Ananindeua no duelo de ida e 1 a 0 na volta. Na decisão, contra a Tuna Luso, vitórias por 3 a 1 e 3 a 0 (ambas as partidas disputadas no Mangueirão) e título invicto para o Papão, que venceu 14 e empatou quatro dos 18 jogos que disputou.

O Mangueirão, reinaugurado para grandes façanhas do Papão a partir de 2002.

 

 

Campeão paraense pela 40ª vez em sua história, o Paysandu sacramentou o tricampeonato consecutivo e teve a honra de ser o primeiro campeão do novo Mangueirão (para ira dos torcedores do Remo…). Soberano no Norte, o Paysandu queria alçar vôos ainda mais altos. Quem sabe pela América…

 

Campeão dos campeões!

Vandick, o artilheiro das decisões.

 

 

Em julho de 2002, o Paysandu iniciou a disputa da última edição da Copa dos Campeões (que garantia ao vencedor uma vaga na Copa Libertadores), competição criada em 2000 que seria extinta pelo fato de o Campeonato Brasileiro ser disputado por pontos corridos a partir de 2003 e, com isso, abrir mais vagas à competição continental sem a necessidade de um torneio extra. Além do Papão, estavam no páreo Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, São Caetano, Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Athletico Paranaense, Atlético Mineiro, Grêmio, Bahia, Vitória, Náutico e Goiás. Era um torneio de respeito, praticamente uma mini Copa do Brasil e um atalho extremamente atraente para a Liberta. Por isso, a disputa sempre rendeu grandes jogos, como a decisão de 2001 entre Flamengo e São Paulo, que teve um 5 a 3 para os cariocas no jogo de ida e vitória paulista por 3 a 2 na volta, com título rubro-negro graças ao saldo de gols.

O time campeão dos campeões: entrosamento e força no meio de campo foram as principais armas do Papão de 2002.

 

 

O torneio era disputado longe do eixo Rio-SP, com jogos nas regiões Norte e Nordeste. Esse critério acabou beneficiando o Paysandu, que disputaria suas primeiras partidas no Mangueirão e poderia manter essa condição de “mandante” caso terminasse no primeiro lugar em seu grupo. Com o reforço do atacante Jajá (campeão gaúcho em 2000 pelo Caxias), o Paysandu estava no Grupo A, ao lado de Corinthians, Fluminense e Náutico. O clima na estreia do Papão, em 03 de julho, contra o Corinthians, era de festa total pelo fato de ser o primeiro torneio realizado no país após a Copa do Mundo de 2002, vencida pelo Brasil três dias antes no inesquecível 2 a 0 sobre a Alemanha. Com um gol de Albertinho, o Papão empatou em 1 a 1 com o Timão. Na sequência, empate sem gols com o Fluminense e vitória por 3 a 2 contra o Náutico (gols de Marcos, Vandick e Jóbson), resultado que classificou o Papão em primeiro lugar com cinco pontos.

O goleirão Marcos perdeu sua invencibilidade diante do Papão.

 

 

Com a chance de jogar em casa até o fim da competição, o Paysandu foi com tudo em busca da final. Nas quartas, encarou o Bahia (que tinha no ataque um certo Robgol…) e venceu por 2 a 1, gols de Jajá e Jóbson, e Robgol descontando para o tricolor. Classificado, o clube paraense teve outro adversário de peso pela frente: o Palmeiras, do goleiro pentacampeão Marcos. O Verdão abriu o placar com Nenê, em lindo chute no ângulo do gol bicolor. No começo do segundo tempo, Vandick, sempre decisivo, empatou e acabou com a invencibilidade de quase 400 minutos do goleiro Marcos. Aos 23’, Luiz Fernando cobrou falta e Trindade, de cabeça, virou para o Papão. Já nos acréscimos, Albertinho deixou o dele e sacramentou a vaga na final do time paraense.

 

Veja os gols e a festa da torcida no lotado Mangueirão:

O último desafio foi contra o Cruzeiro, que ainda não tinha o esquadrão que seria campeão da Tríplice Coroa no ano seguinte, mas contava com bons jogadores como Maicon, Cris, Luisão, Ricardinho, Augusto Recife, Jorge Wagner e Fábio Júnior. O time mineiro conseguiu reverter uma parte da vantagem do Papão na final e evitou que os dois jogos fossem realizados no Mangueirão. Com isso, o primeiro aconteceu em Belém e o segundo no Castelão, em Fortaleza. Diante de mais de 53 mil pessoas em casa, o Paysandu tentou construir um bom resultado no duelo de ida para jogar pelo empate na volta. Porém, o Cruzeiro estragou as pretensões do time paraense ao abrir o placar logo aos 14’ do primeiro tempo, com Fábio Júnior. Sandro Goiano empatou minutos depois, mas o time mineiro fez o segundo na etapa complementar e venceu por 2 a 1.

A decisão ficou para Fortaleza, longe da torcida, mas nem por isso o Papão se abateu. Mesmo levando o primeiro gol aos 9’ (de novo Fábio Júnior), o time paraense virou em dez minutos com Vandick, o artilheiro das decisões. Cris, aos 39’, empatou, mas Vandick nem deixou a Raposa comemorar e marcou seu terceiro gol no jogo: 3 a 2. No comecinho do segundo tempo, Fábio Júnior fez mais um para os azuis, e Jóbson, aos 12’, deixou o Paysandu na frente mais uma vez: 4 a 3. O jogo era alucinante e o técnico Givanildo Oliveira decidiu reforçar mais a marcação para evitar o empate dos mineiros, colocando Vanderson na vaga de Jajá para cozinhar o tempo restante. Com os times empatados em 5 a 5 no agregado, a decisão foi para os pênaltis. Nela, a frieza dos paraenses foi determinante para um momento histórico. O Paysandu acertou todos os seus chutes, enquanto Ricardinho e Vânder chutaram no travessão e Jussiê parou no goleiro Marcão. O placar de 3 a 0 sacramentou o título do Paysandu, sem dúvidas o maior já conquistado pelo clube na história e também o mais importante do futebol do Norte do Brasil.

 

Veja os gols:

A festa do campeão dos campeões! Foto: Acervo / O Liberal.

 

 

Além da taça, o Papão conseguiu a surreal vaga na Copa Libertadores de 2003, a primeira de um clube do Norte em toda a história. O Paysandu venceu quatro jogos, empatou dois e perdeu um, marcou 14 gols (melhor ataque) e sofreu 10. Vandick, com cinco gols, foi o artilheiro do time na competição, um gol a menos do que o artilheiro Fábio Júnior, do Cruzeiro. Lecheva, um dos principais nomes do time, comentou sobre a conquista ao site oficial do Paysandu.

 

“O Paysandu, no início da competição, não tinha 1% de expectativa dos demais, a não ser do nosso próprio grupo, que confiava muito que poderíamos ir longe, sim. É claro que não vamos falar que esperávamos ser campeões, mas a gente acreditava muito em fazer um grande papel. No decorrer da competição, começamos a acreditar que a conquista do título era possível e foi o que acabou acontecendo. Esse título é o maior do futebol paraense até hoje”. 

 

No segundo semestre, o Papão perdeu o técnico Givanildo Oliveira, que pediu demissão por conta da má campanha do time no Brasileirão – ele conseguiu apenas seis pontos em oito jogos. Hélio dos Anjos assumiu, tirou o time da zona de rebaixamento, mas ainda sim os bicolores terminaram apenas na 20ª colocação, bem próximos do descenso. O clima não era dos melhores naquele final de temporada principalmente por conta do último jogo da equipe, contra o Internacional, em Belém, pelo fato de alguns jogadores terem feito corpo mole para o Colorado vencer e escapar de um possível rebaixamento, já que o Paysandu não tinha chance de cair naquela última rodada – o Inter acabou mesmo vencendo por 2 a 0. Esse assunto foi revelado pelo próprio presidente do clube na época, Artur Tourinho, em entrevista ao globoesporte.com.

 

“Suspeito, sim, que quatro jogadores do Paysandu se venderam. Provas eu não tenho, e, tampouco, citarei nomes, mas suspeito que isso tenha acontecido naquela partida contra o Inter em Belém, no dia 17 de novembro de 2002. Tive informações de fontes seguras que os jogadores estiveram reunidos com os empresários durante um almoço. Mas digo: ninguém do Inter me ligou.

Por conta disso, no dia seguinte, fui conversar com um de nossos patrocinadores e consegui um valor de R$ 50 mil para premiar os atletas pela vitória. Juntei aos 50 mil reais mais 20 do caixa do próprio Paysandu, e, duas horas antes da partida, fui ao vestiário e comuniquei o ‘bicho’ em caso de vitória. […]

Eu desci antes do fim do jogo, pois estava muito nervoso. No vestiário, fui para cima do primeiro que encontrei, mas o Hélio dos Anjos (então treinador do Paysandu) me segurou. Depois disso, o desentendimento foi geral nos vestiários, mas bastava assistir ao taipe e perceber”. – Artur Tourinho, em entrevista ao globoesporte.com, 22 de novembro de 2011. Leia mais clicando aqui.

 

Embora tenha encerrado de maneira polêmica a temporada, o Paysandu mostrou força em casa nos 13 jogos que disputou no Brasileirão ao vencer oito, empatar um e perder quatro. De fato, após três troféus em 2002, o elenco estava com a cabeça já em 2003. E um adendo: nenhum clube no Brasil gritou mais “é campeão!” do que o Paysandu em 2002. Só o Papão venceu três títulos naquela temporada: Copa Norte, Campeonato Paraense e Copa dos Campeões, além da vaga na Libertadores!

 

Reforços e o caminho da América

Robgol…

 

 
… E Iarley (à esq.), reforços do Papão para 2003.

 

 

A linha de frente do Paysandu foi renovada para 2003 com as chegadas dos atacantes Robgol e Iarley, que iriam compor o novo trio ofensivo do time ao lado de Vélber, substituindo Zé Augusto, Vandick e Albertinho. A zaga também ganhou os aportes de Jorginho e Tinho, e o goleiro Ronaldo assumiria a vaga no lugar de Marcão. Mas a principal mudança aconteceu no comando técnico: o uruguaio Darío Pereyra, ex-zagueiro que virou ídolo no São Paulo dos anos 1980, foi contratado para assumir o Papão naquele início de temporada. Com sua experiência internacional, Pereyra aprovou o elenco e viu um time bastante competitivo que conseguiu manter a base vencedora do ano anterior e ainda se reforçar em setores pontuais.

Com foco total na Libertadores, o Paysandu acabou tropeçando no Campeonato Paraense e não conseguiu alcançar a final. Na primeira fase, o time até foi líder com seis vitórias e um empate em sete jogos, mas terminou na terceira colocação a segunda fase por conta da derrota para o Águia de Marabá por 1 a 0 e o empate em 1 a 1 com a Tuna Luso. A vitória por 2 a 0 sobre o rival Remo (dois gols de Robgol) não foi suficiente para classificar o Papão. No entanto, na Libertadores, a história foi outra.

Robgol em ação contra o Sporting Cristal-PER. Foto: Enrique Cuneo/El Comercio de Peru).

 

 

O grupo dos paraenses era complicado e tinha clubes tradicionais do futebol sul-americano: Universidad Católica-CHI (vice-campeã continental em 1993), Sporting Cristal-PER (vice-campeão em 1997) e Cerro Porteño-PAR. A estreia foi contra os peruanos do Sporting, em Lima, e deu Papão: 2 a 0, gols de Robgol e Sandro Goiano. No jogo seguinte, em casa, contra o Cerro Porteño, a trave castigou o bicolor (foram três chutes no poste do time brasileiro) e o placar não saiu do zero. A volta por cima aconteceu de novo em casa, no triunfo por 3 a 1 sobre a Universidad Católica (dois gols de Robgol e um de Vélber). Na quarta rodada, a vitória por 2 a 1 sobre o Sporting, em casa, (gols de Robgol e Jorginho) classificou o Paysandu com duas rodadas de antecipação às oitavas de final. De quebra, foi o primeiro entre os brasileiros garantido na segunda fase!

Vélber, autor de dois gols na goleada sobre o Cerro Porteño-PAR.

 

 

Sem deixar o rendimento cair, o Paysandu deu show no 5º jogo: goleada de 6 a 2 sobre o Cerro Porteño em plena cidade de Assunção! Foram dois gols de cada um dos três matadores ofensivos do Papão: Robgol, Vélber e Iarley. A liderança já estava garantida para o clube paraense, que conseguiu mais um ponto na última rodada no empate em 1 a 1 com a Universidad Católica, fora de casa (gol de Sandro Goiano). Foram quatro vitórias e dois empates em seis jogos, além de 14 gols marcados e cinco sofridos. Robgol foi o artilheiro com seis gols.

Um fato importante é que o elenco bicolor começava a sofrer por conta do cansaço das viagens, que aumentavam por causa do início do Brasileirão. Entre 27 de março e 20 de abril, por exemplo, a equipe jogou sete jogos em diferentes localidades: Paraguai, Chile, Goiânia, Belém, São Paulo e Campinas. Nesse período, pelo Brasileirão, o Papão oscilou bastante: empatou com o Goiás em 2 a 2 fora de casa, perdeu para o Vitória em casa (2 a 1), venceu o então campeão brasileiro Santos por 2 a 1 no Mangueirão (dois gols de Vélber), perdeu para o Corinthians fora de casa por 6 a 1 e empatou um jogo maluco com a Ponte Preta fora de casa em 4 a 4 (dois gols de Vélber, um de Robgol e um de Jorginho).

Em abril, os classificados para as oitavas de final da Libertadores estavam definidos. Como líder de seu grupo, o Paysandu esperava um adversário mais ameno vindo do Grupo 7. Mas, contra todos os prognósticos, o segundo colocado foi o Boca Juniors-ARG, bicampeão continental em 2000 e 2001 e treinado por Carlos Bianchi, o “mago das Américas”. Enfrentar o Boca em uma Liberta já era um pesadelo para os clubes brasileiros – a fama de carrasco iria aumentar ainda mais a partir daquele ano. E, quando o jogo era em La Bombonera, pior ainda. Só Santos, em 1963, e Cruzeiro, em 1994, haviam vencido o Boca em seu alçapão. E, levando em consideração que o Paysandu era um desconhecido para a imprensa argentina, o favoritismo aumentou ainda mais. Diziam até que o time argentino iria vencer de goleada o duelo de ida.

O time em La Bombonera. Em pé: Tinho, José Silvério (Médico) Ronaldo, Jorginho, Luiz Fernando, Rodrigo e Vanilton Zambrotti (Prep. Físico). Agachados: Lecheva, Vélber, Iarley, Vanderson, Róbson e Sandro Goiano.

 

 

Antes da partida, os jogadores brasileiros foram inclusive ao museu do Boca e visitaram as dependências do estádio, como verdadeiros turistas, enquanto pouco mais de 100 torcedores do Papão viajaram até a Argentina para apoiar o time. O técnico Darío Pereyra trabalhou bastante na preleção o lado psicológico dos jogadores, passando tranquilidade aos atletas e focando na raça e no controle da bola nos 90 minutos. Seria um desafio imenso para o clube brasileiro.

 

Papão da Bombonera

Na noite do dia 24 de abril de 2003, o Paysandu entrou em La Bombonera diante de uma pressão psicológica gigantesca. Em campo, eles teriam que encarar um adversário copeiro, mítico e quase invencível jogando em casa. Mas os jogadores brasileiros pareciam não se importar com tudo aquilo. Eles entraram primeiro que o Boca e ostentavam um semblante sério, concentrado e frio. O Boca entrou, a torcida enlouqueceu, mas o Paysandu continuou lá, na dele, ignorando por completo aqueles argentinos. A bola rolou e foi o Papão que se arriscou pela primeira vez no ataque. O time brasileiro deixava claro que não seria presa fácil e que o Boca não teria a liberdade habitual de criar chances de gol.

Iarley era a principal arma do time pela esquerda com dribles, arrancadas e chutes venenosos. Um desses chutes fez Abbondanzieri trabalhar já aos 17´, que espalmou uma bola que tinha como destino o gol. Tempo depois, o jogo começou a ganhar mais drama com as expulsões do artilheiro Robgol e do lateral Clemente Rodríguez, em lance polêmico e contestável. A partir dali, eram 10 jogadores para cada lado. O time brasileiro ficou ainda mais compacto, marcando muito e tirando todas as bolas de perto da área. Sandro, Lecheva, Jorginho e o goleiro Ronaldo jogavam muito lá atrás e anulavam as investidas de Schelotto, Delgado e Battaglia. Nos contra-ataques, Iarley era o perigo, sempre amparado pelo veloz Vélber e por Vanderson. Ao apito do árbitro, o placar em 0 a 0 era tudo o que o Papão queria.

Clemente Rodríguez e Robgol são expulsos no primeiro tempo.

 

 

Logo aos 10’ do segundo tempo, Vanderson acertou uma cotovelada no atacante Schelotto e foi expulso de campo. O Papão tinha apenas nove jogadores e mais de meia hora de jogo pela frente. Num campo tão grande, seria dificílimo segurar o ímpeto do Boca com um homem a mais. Mas o Paysandu foi valente. Mesmo com pressão e os habitais chuveirinhos do time argentino, o esquadrão alviceleste tirava todas e neutralizava os perigos. Foi então que, aos 23’, o imponderável aconteceu. Após uma saída errada da zaga, Moreno, do Boca, ia ficar cara a cara com o goleiro Ronaldo, mas o zagueiro Jorginho conseguiu recuperar a bola de maneira espetacular e aliviar o perigo.

Os times em campo: o Boca não tinha um centroavante de ofício nem um maestro como Riquelme para construir jogadas. Melhor para o Papão, que foi com uma proposta defensiva e de contra-ataque e venceu o jogo.

 

 

O Papão foi trabalhando a bola como se jogasse em casa uma partida do Campeonato Paraense. De toque em toque, a bola chegou a Sandro, que esperou a passagem de Iarley na esquerda e tocou para o atacante. Com toda sua habilidade, Iarley se livrou dos dois marcadores argentinos à sua frente e chutou no canto, sem chances para o goleiro Abbondanzieri: 1 a 0. A Bombonera emudeceu por alguns segundos e o lado celeste e branco de Belém enlouqueceu! Com nove em campo, o Papão abria o placar. O gol chocou os argentinos, que tinham pouco tempo para tentar a virada. Tevez, Schelotto, Moreno, Delgado, todos se lançaram ao ataque, mas o Paysandu tratou de ficar fechadinho, marcando como se não houvesse amanhã. Mesmo com seu time atrás do placar, a torcida do Boca dava um show à parte cantando e empurrando os jogadores argentinos. Mas os xeneizes não corresponderam em campo. Placar final: Boca Juniors 0x1 Paysandu. Leia mais sobre esse jogo clicando aqui!

Estava escrita uma das mais incríveis histórias do Paysandu Sport Club. Fora de casa, em La Bombonera, contra um adversário cheio de tradição e apenas nove jogadores, o Papão conseguiu uma vitória emblemática. Os torcedores saíram às ruas de Belém para celebrar aquela façanha épica como se fosse um título. A repercussão foi enorme e tida como uma grande zebra mesmo com a boa fase do time naquela Libertadores.

Iarley corre pro abraço: vitória do Papão!

 

 

Três dias depois, ainda em transe pela vitória impressionante, o Paysandu enfrentou o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro e deu show com uma goleada de 5 a 2 pra cima do tricolor. Só Robgol fez três gols em apenas oito minutos! O primeiro saiu aos 25’, quando o artilheiro fez de cabeça após cruzamento de Luiz Fernando. Aos 27’, Lecheva cruzou da direita e Robgol fez mais um de cabeça. Aos 33’, Robgol recebeu dentro da área e fuzilou Rogério Ceni. Reinaldo diminuiu aos 13’ do segundo tempo para o São Paulo, mas Lecheva, aos 19’, e Iarley, em belo chute colocado, fizeram 5 a 1. Luís Fabiano ainda diminuiu, aos 41’, mas era tarde. Foram dias mágicos para o Paysandu. Duas vitórias sobre grandes clubes do futebol sul-americano e mundial. Será que não havia limite para aquele esquadrão?

 

Inexperiência e o fim

Podendo até empatar o duelo de volta contra o Boca, o Paysandu encheu o Mangueirão – mais de 60 mil pessoas! – certo de que iria conseguir a classificação para as quartas de final. Mesmo com as ausências de Robgol e Vanderson, expulsos na Argentina, havia esperança de um bom resultado. Só que os paraenses não contavam com a atuação de gala de Guillermo Schelotto e a experiência dos argentinos na Libertadores, principalmente atuando fora de casa. O ataque xeneize jogou muito, a zaga do Papão falhou demais e Darío Pereyra errou na escalação optando por jogadores jovens ao invés de reforçar a marcação e o sistema defensivo. Ao invés de escalar Zé Augusto e Rogerinho, experientes e fortes, preferiu o jovem Bruno no lugar de Vanderson e Vandick no lugar de Robgol. Resultado? O Boca venceu por 4 a 2, com três gols de Schelotto, no melhor jogo da carreira do atacante segundo o próprio. O sonho da América estava acabado. O Boca seguiu a passos largos rumo a mais um título continental, vencido sobre outro clube brasileiro, o Santos.

Após o revés, Darío Pereyra deixou o comando do time e Iarley foi curiosamente contratado pelo Boca Juniors (!). O Paysandu ainda venceu o super time do Cruzeiro daquele ano por 3 a 0 em julho (dois de Robgol e um de Magnum, na mais elástica derrota do esquadrão de Alex na temporada), mas o bicolor perdeu oito pontos por escalar dois jogadores de maneira irregular no Brasileirão e amargou a 22ª colocação no torneio, uma acima do rebaixamento. Após mais um ano na Série A, o Paysandu acabou caindo em 2005 e não voltou mais, passando por vários problemas, novos rebaixamentos (incluindo para a Série C) e muitas idas e vindas.

Robgol, artilheiro de 2003 do Paysandu, comemora um de seus três gols na goleada de 5 a 2 sobre o São Paulo.

 

 

O fato é que o Paysandu de 2001-2003 foi o mais vencedor e competitivo time já montado pelo clube bicolor em todos os tempos e jamais igualado ou superado por qualquer clube do Norte do Brasil. Uma equipe que honrou o Pará com façanhas históricas e que conseguiu uma vitória digna de filme contra um titã do futebol mundial. Até hoje aquele Papão é assunto em conversas e prosas pelas ruas de Belém. E orgulho para uma das torcidas mais fanáticas do país.

 

Os personagens:

Marcão: após sofrer com lesões e até um dedo quebrado em seu início no Papão, o goleiro conseguiu se recuperar, ganhou a titularidade na reta final da Série B de 2001 e virou titular ao longo de 2002. Foi decisivo nas conquistas daquele ano, principalmente na Copa dos Campeões, defendendo um dos pênaltis na decisão contra o Cruzeiro.

Júlio César: titular no começo dos trabalhos do técnico Givanildo, defendeu a meta do Paysandu em boa parte da Série B de 2001 até perder a vaga para Marcão.

Ronaldo: teve três passagens pelo Paysandu, sendo a mais longa de 1999 até 2007, mas ficou marcado mesmo pela temporada de 2003, quando assumiu a meta titular e garantiu a grande campanha do clube na Libertadores com boas defesas, principalmente no duelo contra o Boca em La Bombonera. Após se aposentar, virou membro da comissão técnica do Papão.

Marcos: lateral-direito do time campeão da Copa dos Campeões de 2002, apoiava bem o ataque e viveu grande fase naquele ano. Arriscava chutes de fora da área e era uma alternativa para as jogadas ofensivas. Muito querido pela torcida.

Valentim: jogou de 2001 até 2002 no Paysandu e foi titular em vários jogos no período. Atuava como lateral-direito e também aparecia no ataque. Tinha muita raça e ajudava na marcação. Deixou o clube em 2003 para jogar no Botafogo-SP, e, depois, no Paraná.

Rodrigo: com passagens pelo Corinthians, Vitória e Bayer-ALE, chegou em 2003 e virou titular da lateral-direita do time na Libertadores. Técnico, podia jogar também como meia-direita. Ficou no Papão até 2004.

Gino: um dos principais jogadores daquele time e capitão do Paysandu, o zagueiro foi ídolo do clube e intocável no esquema tático do Papão naquela época. Além de liderar a zaga, aparecia em jogadas aéreas e arriscava chutes em cobranças de faltas. Foi assim que marcou um dos gols na vitória que selou a classificação e o título da Série B de 2001 do bicolor.

Tinho: jogou de 2002 até 2004 no Paysandu e foi uma das opções para a zaga. Teve uma boa sequência em 2003, principalmente na Libertadores, quando fez uma boa dupla ao lado de Jorginho. Por opção tática do técnico Darío Pereyra, não jogou o duelo de volta contra o Boca. Tempo depois, Tinho revelou que o técnico errou em não escalá-lo naquele jogo. Talvez a história tivesse sido outra.

Sérgio: o zagueiro teve duas passagens pelo Paysandu, de 1998 até 1999 e 2001 até 2003 e foi outro dos mais regulares do elenco. Alto e de passadas largas, ia bem no jogo aéreo e fez uma ótima dupla com Gino entre 2001 e 2002.

Jorginho: irmão mais velho do também zagueiro Júnior Baiano (titular da seleção brasileira na Copa de 1998), Jorginho fez dupla com Tinho na campanha da Libertadores e se destacou pela regularidade, experiência (tinha 37 anos) e também por aparecer no ataque para ajudar o sistema ofensivo – ele marcou oito gols na temporada de 2003.

Luiz Fernando: lateral-esquerdo titular dos grandes títulos de 2002, foi contratado no final de 2001 após bons jogos pelo Avaí. Jogou três temporadas e foi um dos mais utilizados pelos técnicos do Papão no período, além de ter convertido o pênalti que sacramentou o título mais importante da história do Paysandu, a Copa do Campeões de 2002.

Lino: lateral-esquerdo do time campeão da Série B de 2001, fez bons jogos naquele ano, mas perdeu espaço com a chegada de Luiz Fernando. Com isso, foi jogar no Fortaleza já em 2002.

Sandro Goiano: volante raçudo, marcador e que ainda aparecia no ataque como elemento surpresa, Sandro foi outro grande ídolo da torcida e marcou seu nome na história do Paysandu pelos grandes jogos com a camisa bicolor. Jogou de 2000 até 2005 no Papão e foi capitão do time na campanha da Liberta em 2003. Fez história, também, pelo Grêmio.

Rogerinho: volante muito identificado com o Paysandu, teve duas passagens vitoriosas pelo Papão, entre 1989 e 1994 e 1999 e 2004. Eficiente na marcação e nos passes, foi um dos principais jogadores nas conquistas de 2001 e de 2002. Após pendurar as chuteiras, aos 42 anos, virou comandante das categorias de base do Papão.

Vanderson: jovem, chegou em 2001 e aos poucos foi ganhando espaço no time titular com muita força na marcação e raça. Titular em 2003 ao lado de Sandro, acabou prejudicando o time com sua expulsão no duelo com o Boca e fez muita falta no duelo de volta, no Mangueirão. Deixou a equipe em 2004, retornando em 2005 e em 2011.

Jóbson: outro jogador muito querido pela torcida, o meio-campista marcava golaços e era exímio batedor de faltas. Podia atuar tanto mais avançado como também um pouco mais recuado. Jogou de 1997 até 2000 e retornou em 2002 ao Papão, com destaque para essa segunda passagem, marcada pelos títulos e atuações inesquecíveis na Copa dos Campeões, quando marcou o gol da vitória sobre o Cruzeiro que levou o jogo para os pênaltis – na marca da cal, converteu sua cobrança. Com 48 gols, é o 6º maior artilheiro do Paysandu no século XXI.

Luís Carlos Trindade: com passagens pelos rivais Tuna Luso e Remo, foi no Paysandu que o meio-campista se destacou graças ao futebol combativo e eficiente na marcação. Foi um dos principais nomes na campanha da Série B de 2001 e nos títulos do primeiro semestre de 2002.

Lecheva: com seis títulos pelo Paysandu entre 2001 e 2005, incluindo as glórias de 2001 e 2002, é outro ídolo da torcida que se identificou bastante com o bicolor. O meia foi crucial para o caneco da Copa Norte de 2002 com três gols na final e a artilharia do torneio. Após pendurar as chuteiras, virou técnico do Paysandu entre 2012 e 2013.

Vélber: meia habilidoso e com o faro goleador apurado, chegou em 2002 no Paysandu, mas viveu sua melhor fase em 2003, quando se tornou o vice-artilheiro do time na temporada com 19 gols, sendo 14 no Brasileirão e três na Libertadores. Mostrou um notável entrosamento com Robgol e Iarley no esquema tático do técnico Darío Pereyra. Chamou a atenção do São Paulo e foi para o tricolor em 2004. No entanto, não jogou bem e começou a perambular por vários clubes sem repetir seus dois grandes anos pelo Papão.

Magnum: jovem meia que fez bons jogos na campanha do título da Série B, Magnum anotou cinco gols na trajetória vencedora. Tinha bom toque de bola e seguiu no time até 2003, quando foi jogar no Vitória. Teve uma passagem pelo Santos tempo depois e conquistou o Paulistão de 2006.

Jajá: chegou após brilhar pelo Caxias campeão gaúcho de 2000, mas não correspondeu com a camisa do Paysandu. Teve um bom momento apenas no duelo contra o Bahia, na Copa dos Campeões, quando fez um gol e cavou o pênalti que resultou na vitória por 2 a 1.

Zé Augusto: ao lado de Vandick e também Albertinho, foi um dos principais atacantes daquele início de trajetória vitoriosa do Paysandu e se consagrou como o maior artilheiro do Papão no século XXI com 90 gols. Jogou por 17 anos no Papão e marcou seu nome com gols decisivos e muito respeito ao clube. Compensava a pouca técnica com muita vontade e bom posicionamento.

Róbson: se alguém pensava em Paysandu naquele ano de 2003, a primeira imagem que vinha na cabeça era de Robgol, o artilheiro, a referência. O atacante chegou para se transformar em pouco tempo em ídolo da torcida e um dos maiores goleadores do clube neste século. Foram 28 gols em 2003, sendo 15 na Série A do Brasileiro e seis na Libertadores. Após uma breve ida ao futebol japonês, voltou ao Paysandu em 2005 e foi vice-artilheiro do Brasileirão com 21 gols (embora seu feito não tenha evitado a queda do Papão para a Série B). Robgol anotou 82 gols com a camisa bicolor e é um dos 15 maiores artilheiros do clube em todos os tempos.

Vandick: ficou notabilizado como o “artilheiro das decisões”, como você percebeu ao longo deste texto. O atacante crescia quando mais o Paysandu precisava e foi crucial para o título da Série B de 2001 e para as taças do primeiro semestre de 2002, em especial a Copa dos Campeões, quando marcou três gols na vitória por 4 a 3 sobre o Cruzeiro. Perdeu espaço em 2003 após as chegadas de Robgol e Iarley e encerrou a carreira naquele mesmo ano. Marcou 36 gols pelo Papão entre 2001 e 2003. Ídolo eterno da torcida bicolor.

Albertinho: outro grande artilheiro do Paysandu, anotou 41 gols com a camisa bicolor entre 1999 e 2003 – é o 7º maior artilheiro do século XXI do Papão. Fez uma notável dupla com Zé Augusto e participou ativamente das glórias conquistadas em 2001 e 2002. Virou xodó da torcida por crescer nos clássicos. Em um contra a Tuna Luso, na Série B de 2001, o atacante marcou um gol, e, na comemoração, tirou a camisa e a colocou na mascote do Remo, pois o jogo aconteceu no estádio Baenão. A torcida foi ao delírio e Albertinho cravou seu nome na história do clube.

Valdomiro: chegou em 2002 ao Paysandu e foi um dos artilheiros do time no Campeonato Paraense com nove gols, ao lado de Jóbson. Deixou o clube em 2003 para jogar no rival Remo.

Iarley: passou como um furacão pelo Paysandu em 2003. Chegou com desconfiança da torcida, mas mostrou serviço logo de cara com jogos espetaculares pela Libertadores, em especial a épica vitória em La Bombonera. Rápido, habilidoso e com ótima visão de jogo, marcava gols (foram 12 com a camisa bicolor) e também municiava os companheiros de ataque. Suas atuações pelo Papão foram tão grandes que ele acabou contratado pelo Boca Juniors já no segundo semestre de 2003 e teve tempo de ser campeão argentino e também do mundo, na decisão contra o super Milan-ITA, em dezembro, no Japão. Em 2005, foi para o Internacional, onde venceu já em 2006 seu segundo Mundial, dessa vez sobre o Barcelona-ESP, com passe do próprio Iarley para o lendário gol de Adriano Gabiru.

Balão: atacante muito rápido, marcou época no futebol paraense por vestir a camisa tanto do Paysandu quanto do Remo. Não teve muitas oportunidades entre 2002 e 2003 por causa da concorrência no ataque, mas conseguiu se destacar nos anos seguintes. Jogou de 2002 até 2009 no Papão e anotou 55 gols com a camisa bicolor – é o 5º maior artilheiro do clube neste século.

Givanildo Oliveira, Hélio dos Anjos e Darío Pereyra (Técnicos): Givanildo foi o responsável direto pela montagem e consagração desse Paysandu imortal. Com muita união, disciplina e força no conjunto, conseguiu transformar o Papão em um time competitivo capaz de enfrentar qualquer adversário do futebol brasileiro entre 2001 e 2002. Após sua saída, Hélio dos Anjos manteve o time na elite e Darío Pereyra fez história com a boa campanha na Liberta e a vitória sobre o Boca. No entanto, o uruguaio errou nas escolhas do segundo jogo e também no excesso de mudanças no time titular, algo que prejudicou o rendimento da equipe no início do Brasileiro e no Paraense.

 

Conquistas foram imortalizadas na época acima do escudo do clube.
 

 

Hoje, as estrelas prateadas simbolizam os Campeonatos Brasileiros da Série B de 1991 e 2001, enquanto a estrela dourada lembra a Copa dos Campeões de 2002.
 

 

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Comentários encerrados

6 Comentários

  1. Esperei anos por esse post sobre o lendário Paysandu de 2001-2003, artigo simplesmente genial como todos os textos deste blog, parabéns pelo incrível trabalho.

  2. Ótimo texto do blog, como sempre. Acho que se o Paysandu tivesse eliminado o Boca daquela Libertadores, seria um sério candidato a chegar na final, já que enfrentaria dois adversários “sacos de pancada” (Cobreloa e América de Cali, que levou 5 do Santos em casa) daquela edição. Mas o futebol tem dessas, e não tira o mérito da incrível vitória na Bombonera e o fato de ser uma pedra no sapato dos times “grandes”.

    Aproveitando, gostaria de fazer duas sugestões de esquadrões para serem lembrados: o Paulista de Jundiaí campeão da Copa do Brasil em 2005 e o Flamengo campeão brasileiro de 2009 (pelos contornos épicos da conquista). Continuem com o bom trabalho!

  3. Belo texto, Imortais! Parabéns!

    O Paysandu foi um verdadeiro Papão de títulos nesse tempo e o que ele fez contra o Boca na Bombonera foi incrível. É muito difícil falar de histórias de clubes da Região Norte do Brasil. Parabéns de novo e que venham mais esquadrões imortais! Abraço!

Craque Imortal – Roberto Baggio

Craque Imortal – Djalma Santos