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Esquadrão Imortal – Everton 1983-1985

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Em pé: Mountfield, Gray, Steven, Sharp, Sheedy e Van Den Hauwe. Agachados: Stevens, Southall, Ratcliffe, Bracewell e Reid.
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Em pé: Mountfield, Gray, Steven, Sharp, Sheedy e Van Den Hauwe. Agachados: Stevens, Southall, Ratcliffe, Bracewell e Reid. Foto: Getty Images.
 

Grandes feitos: Campeão Invicto da Recopa da UEFA (1984-1985), Campeão do Campeonato Inglês (1984-1985), Campeão da Copa da Inglaterra (1983-1984) e Bicampeão da Supercopa da Inglaterra (1984 e 1985). Conquistou o primeiro título continental da história do clube.

Time-base: Southall; Gary Stevens, Ratcliffe, Mountfield (Alan Harper) e Van Den Hauwe (John Bailey); Peter Reid, Bracewell (Richardson), Trevor Steven (Alan Irvine) e Kevin Sheedy (Adrian Heath); Graeme Sharp (Wilkinson) e Andy Gray (Gary Lineker). Técnico: Howard Kendall.

 

“Toffees of Europe”

Por Guilherme Diniz

Após o título do Campeonato Inglês de 1969-1970 e da Supercopa da Inglaterra de 1970, o Everton entrou em um profundo jejum de conquistas. Por mais de uma década, os Toffees acumularam decepções e ainda tiveram o desprazer em ver o rival Liverpool emendar taças e mais taças tanto em casa quanto na Europa, em especial na Copa dos Campeões, na qual venceu quatro troféus entre 1977 e 1984. Os fanáticos torcedores de um dos clubes mais antigos do país já temiam que aquele jejum alcançasse o vivido entre os anos 1930 e 1960, o maior até então. Mas, a partir de 1983, a equipe azul conseguiu acabar com a seca sob o comando do técnico Howard Kendall, curiosamente ex-jogador dos Toffees e presente na equipe campeã inglesa de 1970.

Com ele e um elenco de grandes talentos, o Everton foi campeão da Copa da Inglaterra em 1983-1984, levantou duas Supercopas da Inglaterra (uma delas sobre o rival Liverpool), o Campeonato Inglês – com enormes 13 pontos de vantagem sobre o rival vermelho – e a Recopa da UEFA, primeiro e até hoje único troféu continental do clube em sua história. Na campanha, a equipe despachou pelo caminho rivais complicados e o poderoso Bayern München-ALE, nas semifinais, comandado por Udo Lattek e com nomes como Pfaff, Augenthaler, Dieter Höeness, Lothar Matthäus e Rummenigge. Aqueles títulos simbolizaram um dos mais vertiginosos períodos do clube, que teve o grande e arrojado goleiro Southall, o ídolo e capitão Ratcliffe, o faz-tudo Kevin Sheedy, os homens de frente Sharp e Gray e ainda a presença efêmera, porém marcante, do lendário artilheiro Gary Lineker. É hora de relembrar as façanhas do maior esquadrão da história do Everton.

O retorno de Kendall

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Jogador de sucesso do Everton, Kendall retornou no começo dos anos 1980. Foto: Arquivo / Everton FC
 

Meio-campista do Everton entre 1966 e 1974, Howard Kendall já pensava na aposentadoria quando retornou ao clube do Goodison Park em 1981 com a função de jogador-treinador, após uma passagem pelo Blackburn Rovers nos mesmos moldes. Com muita identificação pelos Toffees, Kendall queria devolver os tempos de glórias ao clube, que não levantava o Campeonato Inglês desde 1970, quando ele mesmo estava no time campeão. Porém, a trajetória de Kendall como jogador durou quatro jogos, pois ele decidiu rapidamente exercer apenas a função de técnico já na metade da temporada 1981-1982. Com mais tempo para observar o mercado e o elenco, ele percebeu que o time precisava de reforços e trouxe novos nomes, incluindo três que seriam lendas inabaláveis dos azuis: o goleiro Neville Southall, do modesto Bury FC, o ponta Trevor Steven e o meio-campista Peter Reid, este dois já em 1983. Além disso, ele garimpou jovens das categorias de base e os incorporou ao elenco principal. Em sua primeira temporada completa, Kendall conseguiu terminar o Campeonato Inglês na 8ª colocação, subindo para o 7º lugar na época seguinte.

A equipe ainda não demonstrava força para brigar por títulos, mas já jogava melhor do que o time comandado por Gordon Lee, predecessor de Kendall. Na temporada 1983-1984, o Everton venceu apenas seis dos 21 jogos iniciais do Campeonato Inglês e uma enorme pressão começou pelas bandas do Goodison Park para a demissão do treinador, com faixas de protesto e baixa procura por ingressos nos jogos em casa. A diretoria foi paciente, deu mais uma chance a Kendall e contratou o atacante Andy Gray, ex-Wolves, em novembro de 1983, por cerca de 250 mil libras.

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Sheedy, grande nome ofensivo do Everton.
 

Perto da zona de rebaixamento, o Everton precisava de uma resposta rápida e a melhor maneira encontrada por Kendall foi na rodada de abertura da Copa da Inglaterra, fora de casa, contra o Stoke City. Cerca de 10 mil torcedores viajaram até o Victoria Ground e surpreenderam a comissão técnica do Everton. Kendall aproveitou aquela mobilização e, durante a preleção nos vestiários, abriu as janelas para que os jogadores pudessem ouvir os cânticos e os fãs indo até as portarias do estádio. Nesse momento, o treinador disse: 

“Esse é o seu time falando. Não decepcionem esses fãs”. 

A frase entusiasmou os jogadores do Everton, que entraram em campo focados em busca da vitória. E ela veio: 2 a 0, em gols de Andy Gray e Alan Irvine. Começaria ali a reviravolta na história do clube.

O embalo rumo a Wembley

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Jogos contra o Liverpool foram verdadeiros eventos no futebol inglês nos anos 1980.
 

A classificação serviu como combustível para o Everton não perder mais em janeiro nem até a primeira quinzena de fevereiro de 1984. A equipe venceu quatro e empatou três dos sete jogos no período pelo Campeonato Inglês – incluindo um 1 a 1 contra o Liverpool, em casa – e eliminou o Gillingham após três jogos pela Copa da Inglaterra. No primeiro jogo, em casa, empate sem gols. No segundo, fora, outro 0 a 0, garantido graças à enorme atuação do goleiraço Southall, que evitou um gol certo de Tony Cascarino cara a cara nos minutos finais do tempo extra da partida. Só no terceiro jogo que o Everton, enfim, venceu, mesmo jogando na casa do adversário: 3 a 0, com dois gols de Sheedy e um de Heath.

Na rodada seguinte do torneio eliminatório nacional, os azuis despacharam o Shrewsbury Town, em casa, com uma vitória por 3 a 0 – gols de Irvine, Reid e Griffin (contra). Paralelo à disputa da Copa da Inglaterra, o Everton ainda seguia firme na Copa da Liga Inglesa, na qual carimbou a vaga na decisão após eliminar o forte Aston Villa da época – campeão europeu em 1982 – na semifinal após vitória em casa por 2 a 0 – gols de Sheedy e Richardson – e derrota por apenas 1 a 0 no Villa Park. Já em março, no Campeonato Inglês, os Toffees perderam a sequência invicta de oito jogos com o revés para o Nottingham Forest, fora, por 1 a 0, mas emendaram mais cinco jogos sem perder que ajudaram a afastar de vez qualquer possibilidade de rebaixamento. De quebra, ainda colocou o time na disputa por uma vaga nas competições europeias.

Em abril, o Everton perderia apenas dois jogos no Campeonato Inglês, ficou mais seis sem perder e terminou a competição na 7ª colocação, na zona de classificados da Copa da UEFA. De volta à Copa da Inglaterra, os Toffees eliminaram o Notts County, fora de casa, por 2 a 1 – gols de Richardson e Gray – e tiveram pela frente o Southampton na semifinal, em campo neutro, no Highbury, antiga casa do Arsenal, em Londres. Mais uma vez o goleiro Southall foi decisivo ao realizar defesas sensacionais – quatro delas impressionantes, uma delas com a ponta dos dedos em chute de Danny Wallace, no segundo tempo – e que comprovaram a alcunha de um dos melhores em atividade no país na época. A partida foi dramática, digna de semifinal, mas terminou sem gols após 90 minutos. 

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Southall sempre fechando o gol.
 
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Gol de Heath levou ao delírio a torcida. Foto: Colorsport / Rex Shutterstock
 
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Na prorrogação, o gol teimava em não sair, mas o Everton dominava as ações do meio de campo e não deixava o Southampton aparecer no ataque. Até que, aos 117’, Agboola colocou a mão na bola perto da grande área dos alvirrubros e o árbitro marcou a infração. Peter Reid foi para a cobrança da falta, próximo à área da torcida dos Toffees. Ele cruzou, Gray escorou e a bola sobrou para Heath cabecear sozinho, sem chances para o goleiro: 1 a 0. Explosão do lado azul! Ensandecidos, os torcedores invadiram o gramado e foram celebrar com Heath e todos os jogadores do Everton. Highbury não tinha cercas nem grandes proteções, por isso, foi muito fácil para os torcedores entrarem em campo, ainda mais com a pacificidade da polícia. 

Após a ordem voltar, os três minutos seguintes de jogo foram de muito barulho, cânticos e festa no lado azul. Atordoado, o Southampton nada pôde fazer e a vaga na final era do Everton. Ao apito do árbitro, mais uma vez os fãs invadiram o gramado e Highbury virou Goodison Park! Em um mês, os Toffees garantiram vaga na final da Copa da Inglaterra e na Copa da Liga Inglesa. Eram duas chances para acabar com o jejum de mais de uma década sem títulos.

Primeiro, a decepção

Em 25 de março, o Everton foi a Wembley para enfrentar o rival Liverpool na decisão da Copa da Liga Inglesa. Com mais de 100 mil pessoas na Catedral do Futebol, o Derby de Merseyside foi equilibrado, com o Liverpool tendo algumas chances a mais, mas foi o Everton que poderia ter vencido se um pênalti claro de Alan Hansen, que colocou a mão na bola dentro da área, fosse marcado. O placar ficou mesmo 0 a 0 e um replay foi marcado para três dias depois, em Maine Road, Manchester, onde Souness fez o único gol do jogo e garantiu a vitória por 1 a 0 e o título aos Reds, que seriam campeões da Europa e da Inglaterra naquele ano, fechando uma era espetacular. Mas não era tempo de reclamar. Ainda havia outra chance para os Toffees serem campeões.

Depois, a redenção! Everton campeão!

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Foto: Colorsport / Rex Shutterstock
 

A segunda decisão do Everton foi a Copa da Inglaterra, em 19 de maio de 1984, em um Wembley novamente tomado por mais de 100 mil pessoas. O rival da equipe de Merseyside foi o Watford, do habilidoso John Barnes e do temido Les Taylor. O Everton, pelo momento que vivia e pela ansiedade em pôr fim ao jejum, era o favorito, ainda mais com o quinteto Adrian Heath, Graeme Sharp, Andy Gray, Richardson e Trevor Steven funcionando muito bem juntos. Quando a bola rolou, o Watford dominou a primeira meia hora de jogo e teve boas chances, duas delas com John Barnes, que cabeceou uma bola à queima roupa defendida por Southall e, tempo depois, ficou cara a cara, mas chutou rasteiro e acabou bloqueado.

Após esses sustos, o Everton passou a ter mais a bola sob seu domínio, principalmente com a dupla Reid e Steven, essenciais naquele sistema ofensivo dos Toffees. Foi então que, aos 38’, Richardson apareceu na ponta-esquerda e cruzou. A zaga do Watford afastou e Gary Stevens tentou chutar de primeira na sobra, mesmo prensado por um jogador rival. A bola foi para a área e encontrou pelo caminho Graeme Sharp, que, do jeito que dominou, já chutou. A bola bateu no pé da trave e entrou, deslocando completamente o goleiro Steve Sherwood. Os jogadores do Watford reclamaram impedimento, mas o replay da transmissão comprovou que Sharp estava na linha. Everton na frente!

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Foto: Colosport / Rex Shutterstock
 

No segundo tempo, o Watford teve outra boa chance de empatar, mas pecou na finalização. E, aos 51’, Steven mais uma vez foi decisivo ao cruzar da direita e Andy Gray aproveitar a falha do goleiro para cabecear e fazer o segundo: 2 a 0. O lance foi polêmico por alguns verem falta do camisa 10 em Sherwood, mas o goleirão não conseguiu segurar e Gray testou firme para o gol. Com a vantagem, o Everton soube administrar bem o placar e conseguiu o sonhado título da Copa da Inglaterra, o primeiro caneco nacional após 14 anos!

O célebre jornalista Frank McGhee ressaltou a conquista dos Toffees: “Será lembrado com alegria por aqueles que amam o Everton, como o dia em que este grande clube emergiu novamente das sombras sombrias lançadas por seus vizinhos conquistadores (em referência ao Liverpool).” O técnico Kendall também comentou sobre o título e disse que aquilo era só o começo. 

“O que eu realmente quero é que o Everton seja o melhor. O que eu realmente quero ganhar é o campeonato (inglês). A FA Cup é incrível para os torcedores e jogadores, mas para mim é apenas o começo. Ela nos dá um grande troféu. Nos coloca em Wembley contra o Liverpool novamente na Charity Shield (Supercopa da Inglaterra). Mas, acima de tudo, nos leva para a Europa (a FA Cup dava uma vaga na Recopa da UEFA, segunda competição mais importante do continente na época), onde sempre deveríamos estar.”

Na volta para casa, mais de 500 mil pessoas tomaram as ruas de Liverpool para celebrar a conquista do Everton, em uma festa azul que há anos não era vista em Merseyside, tomado pelo vermelho ao longo das últimas oito temporadas.

Reforços e revanche

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Na final da Supercopa, Everton derrotou o rival ao aproveitar uma bobeada do goleiro.
 

Para a temporada 1984-1985, o técnico Kendall conseguiu manter a base do time e só trouxe dois reforços pontuais: para o meio de campo, Paul Bracewell, adquirido por 425 mil libras do Sunderland. E, para a lateral-esquerda, o belga Pat Van Den Hauwe, ex-Birmingham City, por 100 mil libras. Com tais contratações, o Everton iria jogar naquela temporada com Southall no gol, Gary Stevens e Van Den Hauwe nas laterais, Mountfield e Ratcliffe no miolo de zaga, Reid e Bracewell mais centralizados no meio de campo e Trevor Steven e Kevin Sheedy pelas pontas. No ataque, Graeme Sharp e Andy Gray formariam o ataque principal. A única baixa sentida foi de Alan Irvine, muito importante na campanha do título da Copa da Inglaterra, negociado junto ao Crystal Palace.

O primeiro teste daquele time foi a final da Supercopa da Inglaterra, de novo em Wembley, contra o rival Liverpool. Favorito, o time vermelho queria aumentar a freguesia do rival, mas quem sorriu naquela tarde foi o lado azul. No começo da segunda etapa, Graeme Sharp ficou cara a cara com o goleiro Grobbelaar e tentou driblá-lo, mas a bola foi bloqueada na linha por Alan Hansen. Porém, a redonda ricocheteou direto nas canelas de Grobbelaar e voltou para o fundo da rede. O árbitro assinalou gol-contra do camisa 1, justamente o herói do título europeu dos Reds em 1984 na disputa de pênaltis contra a Roma. O placar permaneceu inalterado e o título ficou com o Everton, que teve sua revanche pelo revés da Copa da Liga Inglesa e um combustível essencial para uma temporada longa e muito difícil.

Do susto à liderança

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Foto: B Gomer / Getty Images
 

Depois do título, o Everton enfrentou o Tottenham na primeira rodada do Campeonato Inglês, em casa. Com quase 36 mil pessoas no Goodison Park, a equipe de Kendall foi goleada por 4 a 1 e deixou o torcedor temeroso. Na sequência, revés por 2 a 1 para o West Bromwich, fora, e primeira vitória na terceira rodada, no 1 a 0 contra o Chelsea, em Londres. O triunfo fez com que o time de Kendall voltasse aos trilhos e os Toffees conseguiram mais cinco jogos sem perder – incluindo uma vitória por 5 a 4 contra o Watford, fora de casa – até o revés para o Arsenal (1 a 0), fora, em outubro. Na rodada seguinte, o Everton venceu por 2 a 1 o Aston Villa, em casa, e teve que ir até Anfield encara o rival Liverpool. Desde 1978 que o time azul não vencia o rival em um jogo de campeonato. E desde 1970 que não conseguia vencer em Anfield Road. “O Liverpool teve um começo ruim de temporada”, explicou o goleiro Neville Southall em sua autobiografia The Binman Chronicles. “Mas, embora nós – como equipe – soubéssemos que éramos tão bons quanto eles, para os torcedores ainda havia um tabu. Eles eram o nosso inimigo mortal.”

Os jogadores sabiam que vencer ali iria mudar a maneira como todos viam o Everton. Por mais que a equipe tivesse vencido a Copa da Inglaterra e a Supercopa, o Liverpool ainda era a maior força, o time a ser batido, o tricampeão inglês consecutivo que queria o tetra. Só que o Everton foi um gigante dentro da Fortaleza Vermelha e Sharp, com um golaço de fora da área, fez o 1 a 0 que decretou a vitória azul dentro de Anfield e o topo da tabela aos Toffees, que provaram naquele dia que eram, sim, candidatos ao título. Veja o golaço:

Na comemoração do gol, mais uma vez torcedores do Everton invadiram o gramado para celebrar com os jogadores, cenas muito comuns na época e com os estádios sem as normas de segurança que existem hoje em dia. “Todos se lembram do garoto de cabelo ruivo (Frank Willmitt) e óculos que perdeu completamente o controle e correu para o campo, agitando os braços sem rumo no ar”, relembrou Sharp tempo depois. Tal jovem virou até um símbolo (e pin de mochila!) para os torcedores, que o apelidaram de “The Windmill Man” (algo como o homem moinho de vento).

“Vencê-los em Anfield nos deu muita autoconfiança. Já éramos um grupo de jogadores confiantes e sabíamos que éramos candidatos, mas aquele dia confirmou isso para nós. O equilíbrio de poder em Merseyside havia mudado para o nosso lado, e o resto do país agora sabia disso.” Graeme Sharp, em entrevista ao The Guardian (UK), 16 de outubro de 2020.

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O “Windmill Man”
 

No jogo seguinte, em casa, o Everton aplicou uma goleada histórica de 5 a 0 sobre o Manchester United, com dois gols de Sheedy, um de Heath, um de Stevens e outro de Sharp, triunfo seguido de mais três vitórias: 3 a 0 no Leicester City (em casa), 1 a 0 no West Ham (fora) e 4 a 0 no Stoke City (em casa). Após tropeçar no Norwich City, fora, e empatar dois jogos no começo de dezembro, os Toffees golearam o Nottingham Forest por 5 a 0 em casa e, após um tropeço diante do Chelsea, em casa, iriam permanecer 18 jogos sem perder, com 16 vitórias e dois empates, sendo 10 vitórias seguidas! A liderança era cada vez mais tranquila e os rivais ficavam mais e mais distantes. O título inglês, após 15 anos, já era uma realidade.

Reis da Inglaterra!

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Foto: David Cannon / Getty Images
 

Foi exatamente a série de 10 vitórias seguidas que garantiu por antecipação o título inglês ao Everton. A taça foi consolidada com cinco rodadas de antecedência, na vitória por 2 a 0 sobre o QPR, gols de Mountfield e Sharp. Os azuis ainda venceram o West Ham, em casa, por 3 a 0, perderam para o Nottingham Forest, fora, por 1 a 0, derrotaram o Liverpool mais uma vez, dessa vez no Goodison Park com 51 mil pessoas, por 1 a 0, e perderam os dois jogos finais já com um time praticamente reserva. 

Em longos 42 jogos, o Everton venceu 28, empatou seis e perdeu apenas oito. Foram 88 gols marcados (melhor ataque) e 43 gols sofridos, além de 90 pontos conquistados, 13 de diferença para o Liverpool, vice-campeão, e Tottenham, 3º colocado. Sharp, com 21 gols, foi o artilheiro dos azuis na competição, apenas três gols a menos do que os artilheiros Gary Lineker, do Leicester, e Kerry Dixon, do Chelsea, ambos com 24 gols.

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Foto: Liverpool Echo
 

Em paralelo à disputa do Campeonato Inglês, o Everton ainda teve pela frente as copas nacionais. Na Copa da Liga Inglesa, a equipe alcançou a 4ª fase, na qual foi eliminada diante do Grimsby Town ainda em novembro de 1984. Já na Copa da Inglaterra, os Toffees despacharam pelo caminho Leeds United, Doncaster Rovers, Telford United, Ipswich Town e Luton Town até alcançarem a decisão, em Wembley, contra o Manchester United. Mas, diante da quantidade de jogos da temporada e por terem disputado uma certa final três dias antes, acabaram perdendo por 1 a 0 e ficaram com o vice, além de perderem a chance do Double. Mas você deve estar se perguntando: qual final eles disputaram antes da FA Cup? Oras, a Recopa da UEFA!

A saga europeia

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Gray comemora: atacante viveu grande fase no Everton.
 

O Campeonato Inglês foi conquistado com méritos incontestáveis e tratado como prioridade máxima pelo técnico Kendall, mas a Recopa da UEFA também tinha um peso enorme para as pretensões dos Toffees. Era a segunda competição mais importante do continente na época e ver o rival Liverpool levantar mais uma Copa dos Campeões em 1984 obviamente mexeu com o orgulho dos azuis. E a trajetória da equipe começou diante do University College Dublin-IRL: empate em 0 a 0, fora de casa, e vitória por 1 a 0 em casa (gol de Sharp). Nas oitavas de final, os ingleses tiveram pela frente o Inter Bratislava-TCH e venceram os dois jogos: 1 a 0, fora (gol de Bracewell) e 3 a 0, em casa (gols de Sharp, Sheedy e Heath).

Nas quartas, o adversário foi o Fortuna Sittard-HOL, que conseguiu a vaga como vice-campeão da Copa da Holanda de 1983-1984, já que o Feyenoord foi campeão holandês e da Copa da Holanda. Como o clube de Roterdã ganhou a vaga na Copa dos Campeões e na Recopa, cedeu automaticamente sua vaga na Recopa ao Fortuna. No primeiro jogo, no Goodison Park, o Everton venceu por 3 a 0 em grande atuação de Gray, autor dos três gols do jogo. Na partida seguinte, na Holanda, Sharp e Reid fizeram os tentos da vitória por 2 a 0 que colocou os ingleses na semifinal. E o desafio era imenso: enfrentar o Bayern München de Pfaff, Augenthaler, Dieter Höeness, Lothar Matthäus e Rummenigge.

Toffees of Europe!

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Gary Stevens finaliza diante do Bayern. Foto: ANL Shutterstock
 

Com vários craques de seleção e Rummenigge no auge da forma, principalmente após o desempenho na Copa do Mundo de 1982, o Bayern era o favorito diante do Everton naquela semifinal europeia. Os bávaros queriam retomar o caminho das conquistas continentais após o tricampeonato de 1974-1976 na Copa dos Campeões e vencer a Recopa era uma maneira de voltar ao protagonismo continental. No primeiro jogo, no belo Olympiastadion de Munique, o Everton teve sua sólida defesa testada pelo forte time alemão e resistiu bravamente diante de 67 mil pessoas. O entrosamento da zaga e o desempenho do goleirão Southall foram impecáveis e justificaram o 7º jogo seguido sem levar gols do Everton na competição europeia. O placar de 0 a 0 deu a vantagem de vencer por qualquer placar a volta que a final estava garantida!

Quase 50 mil pessoas lotaram Goodison Park para o duelo decisivo entre Everton e Bayern, no dia 24 de abril de 1985. As coisas não começaram bem para os Toffees quando, aos 38’ do primeiro tempo, Dieter Höeness abriu o placar para o Bayern. No entanto, a equipe da casa não se abateu e conseguiu o empate logo aos 3’ do segundo tempo, em cabeçada de Graeme Sharp, decisivo como sempre. Dominando as ações, o Everton conseguiu a virada aos 73’, com o artilheiro Gray. Com a torcida embalando o time e gritando sem parar, os Toffees corresponderam a todo aquele entusiasmo com o terceiro gol.

Após Kevin Sheedy fazer um belo passe para Andy Gray, os Toffees ficaram em um 2 contra 1 no campo defensivo do Bayern. Gray, então, deu um passe de primeira para o meio do campo, onde Trevor Steven usou sua velocidade para superar o último defensor e marcar o terceiro e último gol da partida para os Toffees. Aliás, um lindo gol, em jogada bem trabalhada e que foi a síntese do bom futebol daquele timaço. O Everton havia derrubado os gigantes alemães por 3 a 1 e avançava para a final da Recopa Europeia!

A decisão da Recopa aconteceu no estádio De Kuip, em Roterdã-HOL, com quase 40 mil pessoas. O Everton teve pela frente o Rapid Wien-AUT, que havia despachado pelo caminho Besiktas-TUR, Celtic-ESC, Dynamo Dresden-ALE e Dynamo Moscou-URSS. Os austríacos tinham como armas o artilheiro Hans Krankl e o veterano Antonín Panenka, herói do título europeu da Tchecoslováquia em 1976. Desde o início, o time azul dominou o rival e pressionou bastante em busca do gol. 

Após um primeiro tempo com o zero no placar, os Toffees aproveitaram um vacilo da zaga dos austríacos para abrir o placar, aos 58’, com Andy Gray. O segundo gol saiu aos 73’, após escanteio cobrado da direita em que a bola passou por todo mundo e sobrou para Steven, na pequena área, completar: 2 a 0. Krankl descontou aos 85’ e deixou a partida tensa, mas Sheedy, apenas dois minutos depois, completou uma bela triangulação no ataque que começou lá de trás, em chutão do goleiro Southall, e fechou a conta: 3 a 1. Everton campeão da Europa! 

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Os campeões da Europa.
 
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O goleiro Southall ergue o troféu.
 
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Kevin Ratcliffe, Andy Gray e Graeme Sharp com o troféu da Recopa. Foto: Liverpool Echo.
 

Foi a coroação de uma temporada inesquecível para qualquer torcedor dos Toffees, afinal, vencer um campeonato nacional e uma Recopa da UEFA era uma façanha rara e para poucos. Até aquele ano, apenas Dynamo de Kiev (1975), Milan (1968), Magdeburg (1974) e Juventus (1984) haviam vencido seus respectivos campeonatos nacionais e a Recopa da UEFA na mesma temporada. O Everton foi campeão invicto da Recopa de 1984-1985 com 9 jogos, 7 vitórias, 2 empates, 16 gols marcados e míseros dois gols sofridos. O clube ainda acumulou uma série de 28 jogos de invencibilidade de dezembro de 1984 até maio de 1985.

Ídolo cometa

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Lineker pelo Everton. Foto: PA Photos.
 

A temporada 1985-1986 foi atípica para o Everton e para os clubes ingleses. É que a UEFA proibiu a participação de equipes inglesas em competições continentais por tempo indeterminado como consequência da Tragédia de Heysel, na qual torcedores do Liverpool foram responsáveis pela morte de 39 torcedores da Juventus antes da final da Copa dos Campeões de 1984-1985. A UEFA só iria permitir o retorno dos clubes da terra da Rainha às suas competições em 1990-1991, enquanto o Liverpool só poderia disputar novamente os torneios da entidade a partir de 1991-1992, totalizando cinco anos de punição para todos os clubes e seis anos para os Reds.

Esse fato acabou prejudicando demais o Everton, que não pôde disputar a Copa dos Campeões nem a Supercopa da UEFA (que seria contra o rival Liverpool!) e perdeu uma enorme chance de brigar pelo título, principalmente após a contratação de Gary Lineker, principal artilheiro do país e estrela do Leicester City, adquirido por 800 mil libras pelos Toffees. Vestindo mais uma camisa azul e branca na carreira, Lineker viveu meses intensos e cheios de brilho pelo clube de Liverpool. O craque marcou 40 gols em 57 jogos, sendo 30 gols em 41 jogos no Campeonato Inglês de 1985-1986, no qual ele foi artilheiro. 

Além disso, Lineker anotou três hat-tricks: na vitória por 4 a 1 sobre o Birmingham City, nos 4 a 0 sobre o Manchester City e nos 6 a 1 sobre o Southampton. Tantos gols, no entanto, não ajudaram o Everton a conquistar o bicampeonato nacional e a equipe acabou na segunda posição com apenas dois pontos a menos que o campeão, o rival Liverpool. Vale lembrar que os Toffees ficaram em boa parte da temporada sem o goleiro Southall, que sofreu uma séria lesão nos ligamentos do joelho e foi substituído por Bobby Mimms.

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Lineker e o técnico Kendall.
 
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Falando em rival, o time vermelho foi a pedra na chuteira do Everton naquela temporada, pois além de vencer o título nacional sobre o clube azul, os Reds faturaram a Copa da Inglaterra com uma vitória por 3 a 1, de virada, na final de Wembley. Lineker até abriu o placar para o Everton, aos 27´do primeiro tempo, mas a força do esquadrão de Grobbelaar, Alan Hansen, Kenny Dalglish e Ian Rush falou mais alto e o Liverpool virou no segundo tempo com dois gols de Rush e um de Craig Johnston. O alento veio na Supercopa da Inglaterra, conquistada pelos azuis com vitória por 2 a 0 sobre o Manchester United.

Em maio de 1986, rumores davam como certa a transferência de Lineker para o Barcelona-ESP, o que seria oficializado tempo depois. A saída de Lineker deixou a torcida do Everton bastante triste pelo fato de o atacante ter ficado tão pouco tempo em Merseyside. Mesmo assim, Lineker afirmou anos depois que aquele Everton de Gary Stevens, Kevin Ratcliffe, Peter Reid, Trevor Steven e Paul Bracewell foi o melhor time que ele jogou, tanto pela qualidade dos jogadores quanto pelo profissionalismo que ele presenciou na equipe.

Novo troféu e o fim

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Mesmo sem Lineker, o Everton manteve a competitividade em alta e conquistou outro título do Campeonato Inglês, com 86 pontos (9 a mais do que o rival Liverpool, vice), 26 vitórias, oito empates, oito derrotas, 76 gols marcados (melhor ataque) e 31 gols sofridos (melhor defesa). Porém, a ausência nas competições europeias prejudicava bastante o time azul, que não tinha forças para contratar novos jogadores nem estímulos para que eles pudessem jogar no país, que ainda não tinha um campeonato tão prestigiado quanto o italiano na época, por exemplo, que contava com várias estrelas de diferentes países. 

O técnico Kendall acabou se transferindo para o Athletic Bilbao e o Everton só voltaria a levantar títulos em 1995, quando venceu a Copa da Inglaterra e a Supercopa da Inglaterra. O esquadrão do Everton de 1983-1985 merecia um peso maior na história não fosse a punição da UEFA. Ele tinha condições totais de vencer pelo menos uma Copa dos Campeões com a manutenção da base, de Lineker (que não iria para o Barça se o Everton estivesse disputando a Velhinha Orelhuda) e de Kendall. O mais irônico disso tudo é que o Everton não disputou a competição naquela época por “culpa” do rival Liverpool…

Desde então, o clube não conseguiu mais figurar no pelotão de elite do futebol inglês e é um mero esboço do que já foi um dia. Enquanto novos tempos de ouro não voltam, a torcida fica nas lembranças do timaço que venceu títulos históricos, que conseguiu enfrentar o rival de igual para igual e marcar época como o maior esquadrão dos Toffees em todos os tempos. Simplesmente imortal.

Os personagens:

Southall: durante 16 anos, o torcedor do Everton se acostumou a ver seu time levar poucos gols e sempre ter certeza de que milagres seriam vistos no Goodison Park ou em qualquer estádio do país e do continente. Com muita coragem, reflexos apurados, confiança e ótima colocação, Southall se consagrou como maior goleiro da história do Everton e um dos melhores que já disputou o Campeonato Inglês. O galês virou um estandarte defensivo dos Toffees e um símbolo daquela era de ouro. “Big Nev”, como ficou conhecido, fez um punhado de defesas espetaculares nas caminhadas de títulos do Everton naqueles anos 1980. A ausência dele na temporada 1985-1986 explicou muito o fato de o clube não ter conseguido o bicampeonato nacional, ainda mais com Lineker em campo. Southall disputou 751 jogos pelos Toffees – recorde na história do clube – e venceu vários prêmios individuais na carreira. Ele brilhou também pela seleção do País de Gales, pela qual disputou 92 partidas.

Gary Stevens: tido como melhor lateral-direito da história do Everton, Gary Stevens foi revelado em 1981 pelo técnico Kendall, que viu o talento do jovem na proteção à zaga, nos desarmes e também no apoio ao ataque, além de demonstrar fôlego e muita raça em busca da bola. Titular absoluto, fez grandes jogos e foi essencial nas conquistas do clube entre 1981 e 1986. Deixou o Everton em 1988 para jogar no Rangers-ESC.

Ratcliffe: outra cria das bases do clube, Ratcliffe pavimentou seu caminho na zaga azul com personalidade, enorme senso de colocação e desarmes precisos, além de ser muito eficiente no jogo aéreo e também poder jogar na lateral-esquerda. Com apenas 23 anos, foi nomeado capitão do time, em 1983, e liderou a equipe naquela era de ouro. Muito forte fisicamente, não aliviava nas divididas e era um zagueiro temido pelos atacantes rivais – às vezes, chegava forte demais, o que causava críticas dos oponentes. O galês é o 5º jogador que mais vestiu a camisa dos Toffees – 493 jogos.

Mountfield: contratado junto ao Tranmere Rovers em 1982, o zagueiro encaixou perfeitamente no esquema tático do técnico Kendall e formou uma dupla de zaga memorável ao lado de Ratcliffe. Defensor imponente, ótimo no jogo aéreo e marcador implacável, disputou 154 jogos pelo clube entre 1982 e 1988 e conquistou seis títulos pelos Toffees. Sua melhor temporada foi em 1984-1985, quando registrou incríveis 14 gols marcados – ele marcou 19 com a camisa azul.

Alan Harper: jogador muito inteligente taticamente e capaz de jogar nas duas laterais, na zaga e no meio de campo, jogou de 1983 até 1988 nos Toffees, mas dificilmente conseguiu cravar seu lugar no time titular talvez por causa da versatilidade e por ser um importante coringa ao longo das temporadas. Muito regular, dificilmente errava e era muito focado nas funções que o técnico Kendall lhe passava.

Van Den Hauwe: o belga, que depois se naturalizou galês por conta de sua família ser britânica, chegou em 1984 ao Everton e rapidamente conseguiu espaço no time titular graças ao porte físico e à eficiência na marcação, além do enorme senso de competitividade que levava os torcedores ao delírio no Goodison Park – ele ganhou o apelido de “Psycho Pat”. Van Den Hauwe disputou 201 jogos e marcou três gols pelos azuis na carreira e virou uma lenda no clube.

John Bailey: o defensor jogou de 1979 até 1986 no Everton e registrou 222 jogos com a camisa azul. Lateral-esquerdo, foi titular no começo daquela era de ouro até perder espaço para Van Den Hauwe.

Peter Reid: com uma enorme visão de jogo, o meio-campista de 26 anos tornou-se uma peça-chave no coração do time mais vitorioso da história do Everton. Com um fôlego impressionante, Reid foi praticamente indispensável à medida que o Everton conquistava os títulos e disputava jogos ao longo daquela década de 1980. Muito talentoso, dava passes precisos, distribuía bem o jogo e criava oportunidades únicas para contra-ataques. Foram 285 jogos e 13 gols com a camisa azul. Em 1985, ganhou o prêmio da PFA de melhor jogador do ano do futebol inglês. Seu companheiro Ratcliffe o definiu assim certa vez: “ele era um vencedor, um líder e um sonho para se jogar junto. Ele fazia tudo parecer fácil e deixava tudo ainda mais simples para os outros jogadores”.

Bracewell: o meio-campista chegou em 1984 ao Everton e formou uma grande dupla ao lado de Reid na proteção e contenção. Vindo do Sunderland, rapidamente se estabeleceu como titular absoluto. Seu estilo de jogo era de um meio-campista combativo, com grande resistência física e inteligência tática. Após os títulos entre 1984 e 1986, Bracewell sofreu uma grave lesão no tornozelo ne temporada 1986-1987 que prejudicou sua continuidade no time. Embora tenha retornado após um longo período de recuperação – só em 1988 -, nunca conseguiu recuperar totalmente o nível que o tornara indispensável. Foram 145 jogos e 10 gols pelos Toffees entre 1984 e 1989.

Richardson: outra cria do Everton, o meio-campista jogou de 1980 até 1986 no clube azul e, mesmo com a forte concorrência no setor, fez bons jogos e foi titular em várias ocasiões. Versátil, podia jogar mais recuado, como volante, ou mesmo mais avançado.

Trevor Steven: com 299 jogos e 60 gols pelos Toffees, o ponta-direita foi um dos mais habilidosos e importantes jogadores da história do Everton e, com apenas 19 anos, entrou direto para o time titular para não sair mais. Com um notável entrosamento ao lado de Gary Stevens, Trevor combinava técnica, velocidade e faro de gol. Viveu grande fase exatamente no auge daquele time e brilhou na conquista do Campeonato Inglês de 1985 e da Recopa da UEFA do mesmo ano, na qual deixou sua marca no duelo contra o Bayern e na final diante do Rapid.

Alan Irvine: o atacante jogou de 1981 até 1984 no Everton e foi muito importante na caminhada rumo ao título da Copa da Inglaterra de 1983-1984, quando balançou as redes em jogos decisivos antes da final. Acabou deixando o clube para jogar no Crystal Palace.

Kevin Sheedy: o ponta-esquerda irlandês chegou em 1982 ao Everton e permaneceu até 1992 no clube de Merseyside. Especialista em bolas paradas, marcou verdadeiras obras-primas em cobranças de falta e foi um dos jogadores mais decisivos do Everton naquela época, incluindo na final da Recopa da UEFA. Disputou 368 jogos e marcou 97 gols pelos Toffees.

Adrian Heath: com 308 jogos e 94 gols, o atacante foi outro a se destacar na equipe e demonstrou isso logo em sua primeira temporada completa, 1983-1984, quando marcou 18 gols e foi o artilheiro da equipe no Campeonato Inglês. Vivendo grande fase, sofreu uma grave lesão na temporada 1984-1985 que acabou tirando o jogador das partidas finais tanto do Campeonato Inglês quanto da Recopa. Após se recuperar, seguiu firme na equipe e manteve uma boa média de gols até deixar o clube, em 1989, para jogar no Espanyol.

Graeme Sharp: o atacante escocês de 1,85m é o 2º maior artilheiro da história do Everton com 160 gols em 447 jogos, atrás apenas do lendário Dixie Dean e seus 383 gols em 433 jogos nos anos 1920 e 1930. Muito identificado com os torcedores e autor de gols épicos – como o que acabou com o jejum de vitórias em Anfield diante do Liverpool -, Sharp formou parcerias memoráveis no ataque do Everton, especialmente com Andy Gray e depois com Gary Lineker. Ele era um atacante forte fisicamente, bom no jogo aéreo e com grande instinto goleador, além de ter bom domínio de bola e um chute poderoso de fora da área.

Paul Wilkinson: o atacante chegou para compor o elenco em 1985 e permaneceu até 1987 nos Toffees. Marcou alguns gols importantes (um deles no Liverpool) e foi uma boa alternativa para a rodagem do elenco. Anotou 12 gols em 32 jogos na época 1986-1987.

Andy Gray: o escocês jogou apenas duas temporadas no Everton, mas o suficiente para escrever seu nome na história com gols decisivos, sendo um na final da Copa da Inglaterra, contra o Watford, e outro diante do Rapid Wien, na decisão da Recopa. Foram 22 gols em 68 jogos.

Gary Lineker: um dos maiores e mais talentosos atacantes da história do futebol inglês, Lineker jogou apenas uma temporada no Everton, mas registrou uma média de gols fenomenal e manteve a equipe na disputa até a última rodada contra o Liverpool pelo título inglês. Habilidoso, inteligentíssimo e um gentleman, Lineker foi um ídolo efêmero dos Toffees e até hoje os torcedores imaginam como teria sido a participação do clube em uma hipotética Copa dos Campeões com ele em campo. Certamente a Velhinha Orelhuda estaria reluzente na galeria de troféus dos azuis… Leia mais sobre ele clicando aqui!

Howard Kendall (Técnico): após brilhar como jogador, Kendall conseguiu se transformar no melhor e mais vitorioso técnico da história do Everton. Garimpando talentos nas categorias de base, contratando jogadores certeiros e criando um padrão de jogo competitivo, o treinador superou o início ruim e as críticas para criar um esquadrão campeão, que jogava bonito e que conseguiu derrubar o rival em sua época mais lendária. Sua equipe era bem organizada, taticamente disciplinada, possuía um meio-campo muito forte, com jogadores de alta intensidade e qualidade técnica. Os ataques eram rápidos, explorando pontas e centroavantes fortes no jogo aéreo. Já a defesa era sólida, comandada, claro, por um dos melhores goleiros da época, Neville Southall. Kendall comandou o Everton de 1981 até 1987, acumulou 338 jogos, 183 vitórias, 78 empates e 77 derrotas. Ele ainda dirigiu o time em outras duas oportunidades, mas sem o brilho de antes. 

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3 Comentários

  1. Um bom texto do Imortais! O Everton sempre teve tradição na Inglaterra e quis fazer história na Europa! Porém, ainda acho triste a história desse esquadrão porque, pelo que tudo aponta, a saga dos Toffees da Europa podia ter sido estendida se não fosse o que aconteceu na Bélgica (tinha que ser culpa do rival Liverpool?!). Mas foi um Everton imortal!

    Imortais, vou terminar o comentário com uma sugestão: acho que o goleiraço do time, Neville Southall poderia ganhar um espaço entre os craques imortais no futuro! Abraço!

  2. Meu nome Everton mas sou united.incrivel esse time do Everton heim ganharam até na Europa e incomodaram mesmo o rival.embalados e com o Gary Lineker poderiam fazer estragos na champions de 86 pois se o steua Romênia ganhou dava pra chegar.desyaque pro goleiro southall um banks gales e o técnico Kendall que sem nenhum medalhão extra classe formou um conjunto fortíssimo e entrou pra história.

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