Grandes feitos: Campeão da Copa Libertadores da América (2016), Campeão do Campeonato Colombiano (2017-Apertura), Campeão da Copa Colômbia (2016), Campeão da Superliga da Colômbia (2016), Campeão da Recopa Sul-Americana (2017), Vencedor do Prêmio Fair Play da FIFA (2016) e Vice-campeão da Copa Sul-Americana (2016).
Time-base: Armani; Bocanegra, Davinson Sánchez (Aguilar / Nájera), Alexis Henríquez e Farid Díaz; Mejía (Arias) e Alejandro Guerra (Pérez / Bernal); Berrío (Ibargüen), Macnelly Torres e Marlos Moreno (Copete); Borja (Luiz Carlos Ruiz / Ibarbo / Dayro Moreno). Técnico: Reinaldo Rueda.
“Verdolagas Imortais”
Por Guilherme Diniz
As memórias da conquista continental de 1989 sempre apareciam na mente do torcedor do Atlético Nacional. As loucuras de Higuita, os gols de Usuriaga, a classe do meio de campo comandado por Pérez, Álvarez e García, um timaço sob o comando de Francisco Maturana que foi base da seleção colombiana. Só que, dia após dia, ano após ano, as lembranças ficavam mais antigas, as fotos, mais velhas. Novas gerações nasciam e sonhavam com o time alviverde campeão da América. Houve uma chance em 1995, mas o Grêmio de Jardel e Paulo Nunes não deixou. Outras duas chances apareceram em 2002 e em 2014, ambas na Copa Sul-Americana, mas San Lorenzo e River Plate, respectivamente, impediram uma taça inédita. Até que, em 2016, já com um time que se mostrava competitivo há algum tempo, eis que o sonho virou realidade. Depois de mais de duas décadas, o Atanasio Girardot virou o caldeirão da América. A casa de um campeão incontestável, demolidor, que derrubou todos os que pisaram o gramado de Medellín.
Com uma das melhores campanhas da história – e uma defesa que levou apenas seis gols em 14 jogos (!) -, o Atlético Nacional levantou a Libertadores de 2016 de maneira categórica, derrubando pelo caminho Peñarol, Huracán, Rosario Central e São Paulo até derrotar o surpreendente Independiente Del Valle na final. Além do título, o esquadrão verdolaga entrou para a história com uma atitude louvável ao abdicar da disputa do título da Copa Sul-Americana após a tragédia da Chapecoense e prestar homenagens emocionantes, comoventes, imortais. É hora de relembrar uma das maiores histórias dos anos 2010.
Sumário
Ajustes de detalhes
Após o período de ouro do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando formou seu lendário esquadrão multicampeão, o Atlético Nacional quis mudar a sua imagem, sempre associada ao Cartel de Medellín. Em 1996, quando foi adquirido pela Organização Ardila Lülle, de Carlos Ardila Lülle, dono de um conglomerado que inclui a famosa empresa de refrigerantes Postobón, o Atlético Nacional passou a ter uma organização mais profissional e estabilidade financeira, sem acúmulo de dívidas nem excessos em contratações. Porém, tal condição não significou sucesso no futebol, pois o clube não figurou entre os melhores do continente por muito tempo. Só em 2002 que a primeira chance de ouro apareceu, mas a derrota na final da Copa Sul-Americana para o San Lorenzo – com direito a um revés de 4 a 0 em plena Medellín – foi um balde de água fria nos colombianos, que passaram mais de uma década sem sucessos continentais, embora tenham vencido regularmente campeonatos nacionais entre 2007 e 2014.
Sob o comando de Juan Carlos Osório, entre maio de 2012 e maio de 2015, o Atlético Nacional voltou a sonhar alto, fez grandes campanhas nacionais e alcançou o vice-campeonato da Copa Sul-Americana de 2014 baseado em um estilo de jogo ofensivo e com foco nas categorias de base e em contratações certeiras. Em 2015, diante do insucesso na Libertadores e alguns atritos, Osório deixou o clube e a diretoria apostou em Reinaldo Rueda, experiente técnico com passagens pelas seleções da Colômbia, do Equador e de Honduras.
Estudioso, Rueda percebeu o grande elenco que o Atlético Nacional tinha e tratou de manter a ofensividade, mas com melhorias no setor defensivo. E foi assim que ele conduziu os verdolagas ao título incontestável do Campeonato Colombiano de 2015, que selou a vaga na Libertadores de 2016. Na primeira fase, campanha irrepreensível com 14 vitórias, três empates e três derrotas em 20 jogos, além de 33 gols marcados e apenas sete sofridos. No mata-mata, a equipe de Medellín despachou Deportivo Cali (0 a 0 e 3 a 1), o rival Independiente Medellín (0 a 1 e 2 a 0) e Junior Barranquilla na decisão após triunfo nos pênaltis por 3 a 2, em campanha na qual os destaques foram o meio-campista Yimmi Chará e o atacante Jefferson Duque, artilheiro do torneio com 15 gols em 24 jogos.
Multicampeão nacional, o Atlético queria ir mais longe na temporada 2016. E a diretoria traçou a Libertadores como principal objetivo. Mesmo com as saídas de Chará e Duque, o clube manteve boa parte dos destaques de 2015, como o elogiado setor defensivo, que tinha as estrelas Armani, goleiro argentino ídolo dos verdolagas, os laterais Bocanegra e Farid Díaz, e os zagueiros Henríquez, Davinson Sánchez, e os meio-campistas Alejandro Guerra, Alexander Mejía, Orlando Berrío e o talentoso ponta-esquerda Marlos Moreno, cria das bases. Ao longo do ano, o clube iria contratar nomes como o atacante Miguel Borja e o meio-campista Ibargüen, reforçando ainda mais o plantel em busca do sonho continental e para conseguir disputar as tantas competições do extenso calendário.
Foco na América
O ano começou com o título da Superliga da Colômbia de 2016, que reuniu os campeões do Apertura (Deportivo Cali) e Finalización (Atlético) de 2015. No jogo de ida, em Cali, o Atlético venceu por 2 a 0, os dois gols de Jonathan Copete, um dos principais nomes ofensivos da equipe na época. Na volta, em um Atanasio Girardot tomado por mais de 42 mil pessoas, os verdolagas enfiaram 3 a 0 no Deportivo (gols de Torres, Sebastián Pérez e Luis Carlos Ruiz), e encheram o torcedor de esperança. Afinal, o time jogava bem, demonstrava uma qualidade impressionante na zaga e era objetivo no ataque, com muita verticalização. Além do troféu, o Atlético Nacional ganhou o direito de disputar a Copa Sul-Americana de 2016.
Em fevereiro, o clube conheceu seus adversários na Copa Libertadores e sabia que o caminho não seria nada fácil: Peñarol-URU, Huracán-ARG e Sporting Cristal-PER. Mas, jogando fora de casa, os colombianos venceram a partida de estreia, contra o Huracán, por 2 a 0, gols de Moreno e Berrío. No duelo seguinte, contra o Sporting, em casa, mais uma vitória categórica – 3 a 0, gols de Sánchez, Copete e Moreno – e, contra o Peñarol, em casa, vitória por 2 a 0 – gols de Bocanegra e Moreno, resultados que encaminharam a vaga nas oitavas. No returno do grupo, em pleno Centenário, o Atlético goleou o Peñarol por 4 a 0 – gols de Copete, Bocanegra, Berrío e Ruiz – e carimbou a vaga nas oitavas de final. Na 5ª rodada, a equipe viajou até o Peru e venceu o Sporting Cristal por 1 a 0 (gol de Ibarbo) e terminou sua caminhada na fase de grupos em casa, com empate em 0 a 0 contra o Huracán.
Com 16 pontos, cinco vitórias, um empate, 12 gols marcados e NENHUM gol sofrido, o Atlético Nacional teve a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores de 2016. O time colombiano simplesmente sobrou naquela etapa da competição, jogou muito, marcou golaços e demonstrou que era um dos fortes candidatos ao título. Mesmo com o foco na Libertadores, a equipe verdolaga foi bem na primeira fase do Campeonato Colombiano – Apertura. Os alviverdes terminaram na segunda colocação, um ponto atrás do rival Independiente Medellín, e só foram eliminados na semifinal diante do Junior, nos pênaltis, após dois empates. Vale lembrar que a realização da Copa América Centenário, em junho, prejudicou demais o time verdolaga, afinal, o Apertura não foi paralizado durante a Copa e o Atlético teve que jogar os jogos decisivos sem seis jogadores: Bonilla, Aguilar, Farid Díaz, Pérez e Moreno (convocados para a seleção colombiana) e Guerra (convocado para a seleção da Venezuela).
Emoções e vaga na semifinal!
Nas oitavas, o Atlético encarou mais uma vez o Huracán, que teve a pior campanha da fase de grupos. Na ida, na Argentina, empate sem gols que garantiu o 8º jogo seguido do Atlético sem levar gols em uma Libertadores, um recorde até hoje. A série começou curiosamente com uma eliminação, na Libertadores de 2015, no triunfo por 1 a 0 sobre o Emelec, insuficiente para reverter a derrota por 2 a 0 na ida das oitavas daquele ano, até os seis jogos da fase de grupos mais a ida das oitavas de 2016. Em todos os oito jogos, o goleiro Armani foi o titular, somando 763 minutos sem levar gols! A série caiu na partida de volta, mas ninguém ligou, pois o Atlético venceu o Huracán em casa por 4 a 2 – dois gols de Guerra, ambos golaços, um de Ibarbo e outro de Copete – e se classificou para as quartas de final.
O rival seguinte foi o Rosario Central-ARG, do experiente goleiro Sosa, do zagueiro Pinola, do meio-campista Lo Celso e do atacante Marco Rúben. O time argentino era muito forte e provou isso no duelo de ida, em Córdoba, quando Montoya aproveitou uma rara bobeada da zaga colombiana e chutou por cobertura para fazer 1 a 0 e impor ao Atlético sua primeira derrota na Libertadores. Na volta, a torcida colombiana fez uma festa espetacular no Atanasio Girardot e mais de 44 mil pessoas transformaram a casa verdolaga em um caldeirão típico de Libertadores.
Porém, logo aos 9’, Marco Rúben fez de pênalti o primeiro do Rosario, aumentando para 2 a 0 a vantagem argentina no placar agregado. O Atlético Nacional teria que buscar todas as forças, invocar todos os heróis do passado e toda a mística possível para reverter o resultado – vale lembrar que na época ainda valia o gol fora, por isso, os colombianos tinham que marcar três gols e não levar nenhum àquela altura. O time de Rueda foi pra cima e, nos acréscimos do primeiro tempo, Berrío fez grande jogada pela direita, cruzou rasteiro e Torres deixou sua marca para empatar.
O segundo tempo pegou fogo e o Atlético seguiu no ataque, sufocando o Rosario, que jogava no contra-ataque. Até que, aos 5’, Moreno invadiu a área e tocou no meio para Guerra virar: 2 a 1. O Atlético seguiu no ataque, os zagueiros viraram atacantes, mas a bola teimava em não entrar. Nos acréscimos, aos 49’, Ibargüen foi invadindo a área meio que aos trancos e barrancos, perdeu o ângulo do chute e cruzou de canhota, que não era sua melhor perna. A bola subiu demais, mas desceu… A redonda encontrou Henríquez, que cabeceou, a bola sobrou para Berrío, que se esticou todo e fuzilou o goleiro Sosa para explodir o Atanasio Girardot e classificar de maneira espetacular o Atlético Nacional: 3 a 1.
Na comemoração, os jogadores colombianos provocaram os argentinos, em especial o goleiro Sosa, que fez muita cera ao longo do jogo, causando uma enorme confusão. Nas arquibancadas, a torcida fez uma festa digna de título e alguns até invadiram o gramado. Berrío e Lo Celso foram expulsos e o jogo terminou com o esquadrão verdolaga na semifinal. Faltava pouco para o sonho da Glória Eterna. Mas o rival seguinte seria um titã: o São Paulo.
O reforço talismã e a vaga na final
Com a pausa de um mês da Libertadores por conta da Copa América Centenário, o Atlético Nacional buscou reforços para a sequência da temporada e para suprir a saída de alguns jogadores, entre eles Copete, negociado junto ao Santos, e Ibarbo, que foi jogar no Panathinaikos. E, no começo de junho, o clube colombiano trouxe o atacante Miguel Borja, ex-Cortuluá. Ninguém conhecia o jogador e Rueda apostou na nova contratação para o duelo diante do São Paulo, no Morumbi, na partida de ida da semifinal da Libertadores.
Mais de 67 mil pessoas lotaram o templo tricolor, local onde jamais o Atlético Nacional havia saído com uma vitória. Com muita inteligência e bem postado na defesa, o time colombiano conseguiu neutralizar as principais jogadas do São Paulo, que apostava no artilheiro Calleri e nas jogadas pelo alto. Sem qualquer efeito e ainda com um jogador a menos – Maicon foi expulso no segundo tempo -, o time brasileiro via o 0 a 0 como péssimo resultado para a partida de volta, no caldeirão colombiano. Só que tudo foi por água abaixo para o tricolor quando o Atlético engatilhou uma boa jogada de toques rápidos até Borja, aos 37’ da etapa final, fazer 1 a 0. Minutos depois, outra linda jogada de ataque, toque de calcanhar e finalização de Borja, que fez seu segundo gol no jogo e deixou os verdolagas com os dois pés na decisão!
Na volta, Calleri até abriu o placar para o São Paulo com menos de 10 minutos, como manda a cartilha da virada, mas Borja aproveitou falha de Lugano, saiu em disparada pela esquerda e chutou para empatar cinco minutos depois. No segundo tempo, aos 32’, Borja, de pênalti, virou, fechou o placar em 2 a 1 e classificou o Atlético para a final! Mais talismã, impossível! O técnico Rueda comentou na época sobre o desempenho do atacante:
“Borja já mostrou que está encaixado e tenho certeza de que vai evoluir ainda mais. Ele tem um potencial enorme para crescer, estávamos observando o jogador há algum tempo”.
Depois de 21 anos, o Atlético Nacional estava em mais uma final de Libertadores. Era a chance de ouro de comprovar a boa fase do time e de conquistar um troféu que não vinha desde 1989. O adversário seria o surpreendente Independiente Del Valle, do Equador, que havia eliminado pelo caminho o River Plate de Gallardo, o Pumas-MEX e o Boca Juniors com vitória em plena La Bombonera. Ou seja, não seria nada fácil.
Campeões Eternos!
Dono da melhor campanha, o time colombiano teve o privilégio de decidir em casa a Libertadores de 2016. Por isso, um empate no primeiro jogo seria um bom resultado. E, com gol de Berrío, aos 35’, os colombianos abriram o placar e conseguiram manter a vitória magra até os 41’ do segundo tempo, até que Mina empatou e deixou a decisão aberta para a volta. No Atanasio Girardot, 48 454 pessoas fizeram uma festa impressionante que embalou os jogadores do Atlético Nacional rumo ao bicampeonato. E, logo aos 8’, Borja, o talismã, fez o único gol do jogo e do título: 1 a 0. Depois de 27 anos, o clube verdolaga era campeão da América! E um campeão mais do que justo pela campanha irrepreensível que fez: 14 jogos, 10 vitórias, três empates, uma derrota, 25 gols marcados e apenas seis sofridos, totalizando 33 pontos.
Foi uma das melhores campanhas da história do torneio e o melhor desempenho defensivo de um campeão na era moderna da competição. Com cinco gols em apenas quatro jogos, Borja foi o artilheiro da equipe, enquanto Marlos Moreno foi o maior assistente com 4 passes para gols. O meia Alejandro Guerra foi eleito o melhor jogador da competição.
Título nacional e o maior Fair Play possível
No segundo semestre, o Atlético Nacional voltou suas atenções para os torneios nacionais e a Copa Sul-Americana, conseguindo disputar de maneira plena ambos mesmo com várias baixas no elenco principal. No Finalización, a equipe liderou com folga a primeira fase com 37 pontos, 9 vitórias, 10 empates e apenas uma derrota em 20 jogos, além de emendar uma série de 15 partidas sem perder. No mata-mata, os verdolagas eliminaram o Millonarios, mas acabaram derrotados pelo Santa Fe na semifinal. A volta por cima veio na Copa Colômbia, quando a equipe de Rueda despachou Real Cartagena, Patriotas e Santa Fe até alcançar a decisão. Nela, o time venceu o Junior tanto na ida (2 a 1) quanto na volta (1 a 0) e faturou o título, que teve Miguel Borja como artilheiro do torneio com 8 gols.
Na Copa Sul-Americana, os verdolagas não tiveram dificuldades para eliminar os rivais e chegaram à final invictos. Na primeira fase, passaram pelo Deportivo Municipal-PER com 6 a 0 no agregado. Na segunda fase, 2 a 1 no agregado sobre o Bolívar-BOL. Nas oitavas, 3 a 1 no Sol de América-PAR e, nas quartas, empate fora de casa em 1 a 1 com o Coritiba-BRA e vitória por 3 a 1 em casa, com três gols de Ibargüen. Na semifinal, empate em 1 a 1 com o Cerro Porteño-PAR, fora, e empate sem gols em casa, resultado que garantiu a classificação graças ao critério de gols marcados fora.
O rival dos colombianos seria a Chapecoense-BRA, sensação do torneio, com o duelo de ida na Colômbia e a volta no Brasil. Mas, na noite do dia 28 de novembro de 2016 – madrugada do dia 29 de novembro, no horário de Brasília – um acidente chocou o mundo. Às 21h58 (hora da Colômbia, 2h58, hora de Brasília), o avião que levava a delegação do time brasileiro, sendo 77 pessoas, 22 jogadores, 14 pessoas da comissão técnica, 9 dirigentes, 21 jornalistas, 2 convidados e 9 tripulantes, caiu no Cerro Gordo, em La Unión. Apenas seis pessoas sobreviveram: a comissária Ximena Suárez, os jogadores Alan Ruschel, Neto e Jakson Follmann, o jornalista Rafael Henzel e o técnico de voo Erwin Tumiri.
Como não poderia deixar de ser, a final da Copa Sul-Americana foi cancelada. E, num gesto de profunda solidariedade, o Atlético Nacional enviou um comunicado à Conmebol para que ela entregasse o troféu de campeão à Chapecoense. Veja a nota:
“Por estarmos muito preocupados com a parte humana, pensamos no aspecto competitivo e queremos publicar este comunicado onde o Atlético Nacional pede à CONMEBOL que o título da Copa Sul-Americana seja entregue ao Chapecoense como homenagem à sua grande perda e em homenagem póstuma às vítimas do acidente fatal que deixou o esporte em luto. De nossa parte, e para sempre, Chapecoense: Campeão da Copa Sul-Americana de 2016”
O pedido foi atendido prontamente pela entidade, que oficializou a Chapecoense como campeã da Copa Sul-Americana de 2016. Mais do que isso, o clube colombiano lotou seu estádio no dia 30 de novembro em uma homenagem simplesmente estonteante, algo impressionante e comovente, em uma gigantesca vigília exatamente no dia em que a primeira partida da final deveria acontecer. Algo emocionante, que transcendeu o esporte. Esse gesto fez do Atlético Nacional um clube querido em solo brasileiro e fez com que a FIFA desse aos colombianos o Prêmio Fair Play de 2016. Leia mais clicando aqui.
Melancolia no Mundial e volta por cima
No aguardado Mundial de Clubes de 2016, o Atlético Nacional viajou ao Japão com a esperança de disputar a decisão contra o favorito Real Madrid. Porém, os colombianos, extremamente apáticos, perderam de 3 a 0 para o anfitrião Kashima Antlers e deram adeus ao sonho. O técnico Rueda comentou sobre o revés.
“O placar adverso nos desorganizou, e nós acabamos nos precipitando, quando sempre nos caracterizamos pela busca ao gol adversário de forma organizada. Com o 1 a 0 adverso, acredito que poderíamos virar o placar. […] Acho que criamos tantas chances de forma tão fácil que tivemos um excesso de confiança. Não tivemos a eficiência necessária para jogos diante de equipes tão fechado e disciplinadas como o Kashima”.
Na disputa pelo terceiro lugar, a equipe empatou em 2 a 2 com o América-MEX e venceu os mexicanos nos pênaltis por 4 a 3, garantindo o bronze. No balanço geral de 2016, o Atlético Nacional disputou 84 jogos, venceu 44, empatou 28, perdeu 12, marcou 145 gols e sofreu 72.
Em 2017, os verdolagas fizeram bonito no Campeonato Colombiano-Apertura e ficaram com o título após uma campanha mágica na primeira fase – 19 jogos seguidos sem perder, com 15 vitórias e quatro empates em 20 jogos – e triunfos sobre Jaguares (quartas), Millonarios (semis) e Deportivo Cali (final) no mata-mata. Na decisão, inclusive, os comandados de Rueda golearam o Deportivo por 5 a 1 na finalíssima, em casa, em outra festa memorável para o torcedor. Na Recopa Sul-Americana, o Atlético enfrentou a Chapecoense, em encontro repleto de homenagens. Na ida, a Chape venceu por 2 a 1. Na volta, no estádio Atanasio Girardot, mais homenagens e vitória dos colombianos por 4 a 1 – dois gols de Ibargüen e dois de Dayro Moreno -, resultado que deu o título ao alviverde de Medellín.
A decepção foi na Libertadores, na qual os verdolagas foram eliminados ainda na fase de grupos, ficando na lanterna, atrás de Botafogo-BRA, Barcelona-EQU e Estudiantes-ARG. Já sem vários atletas de 2016 e sem a competitividade de antes, a equipe foi perdendo o brilho e 2017 foi mesmo o último ano de ouro do clube. Reinaldo Rueda comandou o Atlético até junho e foi substituído por Juan Manuel Lillo, que não conseguiu repetir os feitos de seu predecessor.
Emoldurados para sempre
Os feitos de 2016 e 2017 colocaram o Atlético Nacional ainda mais no topo do futebol colombiano e entre os titãs do futebol sul-americano. Muitos dizem até que o time de 2016 conseguiu os maiores feitos da história do clube em uma só temporada, superando o lendário esquadrão de 1989. A torcida verdolaga espera que o clube volte a brigar por títulos de peso em breve. Enquanto isso não acontece, ficam as memórias de Armani, Bocanegra, Henríquez, Davinson Sánchez, Guerra, Torres, Berrío, Marlos Moreno, Copete, Ibargüen, Borja e Rueda, nomes que estão cravados na história do Atlético Nacional e ajudaram a tornar o esquadrão 2016-2017 imortal.
Os personagens:
Armani: goleiro argentino com mais títulos na história do futebol – 23 taças – Franco Armani é um emblema do Atlético Nacional, ídolo incontestável e em um patamar maior até mesmo do que de Higuita. Jogou de 2010 até 2017 com a camisa alviverde e realizou partidas memoráveis, daquelas de leyenda. Sempre bem colocado e com reflexos apuradíssimos, acumulou 249 jogos pelo clube, sendo 105 deles sem levar gols. Foram 13 títulos pelo Atlético Nacional na carreira. Em 2017, retornou ao futebol argentino, onde virou ídolo no River Plate.
Bocanegra: lateral-direito muito bom no apoio ao ataque e em chutes de longa distância, chegou em 2013 ao alviverde de Medellín e rapidamente virou titular. Marcava muitos gols decisivos e viveu seu melhor ano principalmente em 2016, quando anotou 12 gols em 43 partidas na temporada, sendo dois gols na campanha do título da Libertadores. Entre 2013 e 2019, disputou 261 jogos e marcou 23 gols.
Davinson Sánchez: foi uma das revelações da Libertadores de 2016 com uma regularidade impressionante para os seus 19 anos. Cria das bases, foi ganhando espaço no time a partir de 2013, além de integrar as seleções de base da Colômbia. Fez uma Libertadores impecável e formou uma elogiada dupla de zaga ao lado de Henríquez, entrosamento fundamental para o baixíssimo número de gols sofridos naquele ano. Veloz e preciso na marcação, foi sem dúvida um dos principais nomes daquele time campeão. Como não poderia deixar de ser, foi jogar na Europa já em 2016 e permaneceu uma temporada como titular do Ajax até se transferir para o Tottenham em 2017, onde segue até hoje.
Aguilar: zagueiro bom no jogo aéreo, foi um dos mais utilizados do elenco ao longo de 2016 pelo técnico Rueda. Disputou 31 jogos na temporada e permaneceu até 2018, quando se transferiu para o Santos-BRA.
Nájera: defensor muito identificado com o Atlético, vestiu a camisa alviverde de 2012 até 2017, acumulando 216 jogos e 11 gols. Firme na marcação, às vezes exagerava um pouco na dose, o que resultava em alguns cartões amarelos.
Alexis Henríquez: fez carreira no Once Caldas, pelo qual venceu a Copa Libertadores de 2004. E, 12 anos depois, repetiu a dose com a camisa do Atlético Nacional, dessa vez como titular e capitão. Com 1,93m de altura, se impunha pelo porte físico e na marcação, além de se posicionar muito bem. Foi escolhido para o time ideal da Libertadores de 2016 e jogou no clube verdolaga de 2012 até 2019, quando se aposentou. Foram 326 jogos e oito gols com a camisa alviverde.
Farid Díaz: lateral-esquerdo experiente e com presença cativa na seleção colombiana – pela qual disputou a Copa do Mundo de 2018 – Farid Díaz não ia tanto ao ataque como Bocanegra e ajudava mais o setor defensivo para liberar os meio-campistas, em especial Alejandro Guerra. Jogou de 2012 até 2017 pelos verdolagas até se tranferir para o Olimpia-PAR.
Mejía: após uma boa passagem pelo clube entre 2012 e 2014, Mejía retornou após seis meses no futebol mexicano e jogou por empréstimo até metade de 2016, ajudando o Atlético Nacional a vencer o Finalización de 2015 e a Libertadores de 2016.
Arias: outro meio-campista de muita qualidade na marcação e nos passes, jogou de 2013 até 2018 no clube verdolaga, acumulando quase 200 jogos. Ganhou 10 troféus pelo alviverde.
Alejandro Guerra: melhor jogador da Libertadores de 2016, o venezuelano de fato fez grandes jogos naquela temporada e se destacava não só pela visão de jogo, mas também pelos passes, lançamentos e gols – foram três na Libertadores. Acabou sofrendo com as contusões no segundo semestre, mas se recuperou. Em 2017, se transferiu para o Palmeiras, mas não repetiu o mesmo futebol.
Pérez: cria das bases, o volante também brilhou naquele time, em especial na Libertadores. Depois de quase 200 jogos com a camisa verdolaga, foi transferido ao Boca Juniors no segundo semestre de 2016.
Bernal: o meio-campista se destacou no Santa Fe e, em 2012, foi jogar no Atlético Nacional, permanecendo até 2017. Não foi titular na campanha da Libertadores, mas entrou bem quando exigido. Foram 209 jogos e 12 gols pelos verdolagas entre 2012 e 2017.
Berrío: meia/atacante de velocidade impressionante, era uma das válvulas de escape do time e importante arma ofensiva na caminhada do título continental. Ganhou o apelido de La Pantera por sua força e agilidade. O melhor ano de sua carreira foi mesmo em 2016, quando participou de 54 jogos, marcou 17 gols e deu 16 assistências – ao lado de Borja, Berrío foi o artilheiro do time no ano. Em 2017, foi jogar no Flamengo.
Ibargüen: atacante que não era titular absoluto, mas que entrava regularmente e contribuiu com 10 gols na temporada de 2016, além de seis assistências.
Macnelly Torres: anotou 11 gols na temporada de 2016 e foi outro jogador de destaque do meio de campo da equipe. Ajudava na marcação e também na criação, abrindo espaços e aparecendo com perigo na frente. Com várias passagens pelo Atlético na carreira, criou uma importante identificação com a torcida e marcou seu nome no clube. Foram 229 jogos, 34 gols e 52 assistências pelos verdolagas nas idas e vindas de 2011 até 2018.
Marlos Moreno: o jovem de 20 anos encantou até Pep Guardiola na época e virou titular quase que instantaneamente do Atlético Nacional assim que subiu aos profissionais, entre 2014 e 2015. Muito técnico, foi uma das principais armas ofensivas da equipe de Rueda e acabou negociado ao Manchester City logo após a Libertadores por pouco mais de 5 milhões de euros.
Copete: era um dos principais nomes do ataque do time até a chegada de Borja. Fez gols decisivos e acabou se transferindo para o Santos na pausa da Copa América Centenário. Entre 2014 e 2016, o atacante disputou 91 jogos e marcou 26 gols. Jogava muito pelo lado esquerdo, setor mais ofensivo daquele Atlético Nacional.
Borja: o terror dos tricolores chegou como um verdadeiro meteoro naquela metade de 2016. Virado para a lua, o atacante marcou gols nos dos jogos da semifinal contra o São Paulo e ainda o gol do título sul-americano na decisão contra o Independiente Del Valle. Seguiu em alta naquela temporada e virou o artilheiro do time com 17 gols em 27 jogos, além de ganhar o prêmio de Melhor Jogador da América do Sul em 2016. No ano seguinte, foi negociado ao Palmeiras, onde alternou bons e maus momentos.
Luiz Carlos Ruiz: com quase 1,90m de altura, era muito bom nas jogadas aéreas e foi uma das referências do time principalmente no título colombiano de 2015. Com a chegada de Borja, perdeu espaço e foi jogar no Sport, até retornar em 2017. Faturou cinco títulos pelos verdolagas, entre eles a Libertadores de 2016 e a Recopa de 2017.
Ibarbo: de passadas largas e imposição física, o atacante ficou apenas seis meses no time naquele ano, pois chegou emprestado do Cagliari, dono de seu passe. Marcou dois gols em 8 jogos na Libertadores, deixando sua contribuição para o título.
Dayro Moreno: campeão da Libertadores de 2004 pelo Once Caldas, o experiente atacante chegou em 2017 para reforçar o ataque do Atlético Nacional para as várias competições da temporada. E não decepcionou. Com o faro de gol apurado, foi o artilheiro máximo do time em 2017 com 33 gols em 48 jogos, além de ter marcado dois gols na goleada por 4 a 1 sobre a Chapecoense na final da Recopa. Um deles, com apenas um minuto, foi inclusive o mais rápido da história da competição. Em 2017, Dayro Moreno foi o artilheiro do Apertura de com 14 gols, da Copa Colômbia, com 4 gols, e do Finalización, com 11 gols. Embora fosse um notável goleador, deixou o clube em 2018 por indisciplina. Em 90 jogos disputados entre 2017 e 2018, Dayro Moreno marcou 57 gols pelos verdolagas.
Reinaldo Rueda (Técnico): Melhor treinador da América do Sul em 2016, Rueda marcou seu nome como um dos maiores técnicos da história do Atlético Nacional pelos títulos e por ter construído um esquadrão altamente competitivo, forte no ataque e seguro na defesa. Mesmo sofrendo com várias baixas no elenco ao longo dos anos, foi remodelando o time de maneira inteligente e abocanhou 6 títulos. Seu único ponto negativo foi o péssimo desempenho no Mundial de Clubes, pois o time poderia ter jogado melhor na semifinal e ter feito a decisão com o Real Madrid. No mais, seu Atlético foi um dos melhores times da América na última década. Entre 2015 e 2017, Rueda comandou os verdolagas em 147 jogos, venceu 85, empatou 39, perdeu 23, marcou 239 gols e sofreu 94, um ótimo aproveitamento de 66,7%.
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Muito bom, Imortais! Esse era um esquadrão que eu queria ver aqui no site! O Atlético Nacional sempre foi um dos times mais loucos pela América e o clube que melhor mostra que a Colômbia tem força no mundo futebolístico. Foi muito legal ver esse despertar verdolaga e os títulos conquistados em 2016 e 2017!
A parte triste do texto foi, claro, a tragédia da Chapecoense! Foi muito bonito e comovente a homenagem que a torcida verdolaga fez em Medellín! Um eterno obrigado (ou gracias) ao Atlético Nacional, que fez coisa de time imortal, dentro e fora de campo!