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Craque Imortal – Zagallo

Nascimento: 09 de agosto de 1931, em Maceió, Alagoas, Brasil. Faleceu em 05 de janeiro de 2024, no Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Posição: Ponta-esquerda

Clubes: América-RJ-BRA (1948-1949), Flamengo-BRA (1950-1958) e Botafogo-BRA (1958-1965).

Principais títulos por clubes: 3 Campeonatos Cariocas (1953, 1954 e 1955) pelo Flamengo.

2 Torneios Rio-SP (1962 e 1964), 2 Campeonatos Cariocas (1961 e 1962), 1 Torneio Internacional de Paris (1963) e 1 Torneio Pentagonal do México (1962) pelo Botafogo.

Principais títulos por seleção: 2 Copas do Mundo da FIFA (1958 e 1962) pelo Brasil.

Principais títulos individuais:

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA de 1962

Eleito para o Hall da Fama do Futebol Brasileiro

Ordem ao Mérito da FIFA: 1992

Eleito para o Time dos Sonhos do Botafogo do Imortais: 2022

 

 

“O Ve13o Lobo”

Por Guilherme Diniz

Maracanã, 16 de julho de 1950. Cerca de 200 mil pessoas lotavam o gigante de concreto para o jogo decisivo da Copa do Mundo. Brasil e Uruguai em campo. Também em campo, mas na patrulha da Polícia do Exército, um alagoano vestia verde oliva, capacete, botina entre outros acessórios. Ali, em um dos grandes momentos da história do futebol, ele foi testemunha ocular do Maracanazo (leia mais clicando aqui). Na época, ele já se arriscava no futebol. E queria fazer do esporte o seu ganha-pão. Mas será que aquela fatídica derrota não iria abalar a vontade do recruta? De jeito nenhum. Oito anos depois, aquele mesmo alagoano estava na Suécia, no estádio Råsunda, disputando a final da Copa do Mundo de 1958. Ele era o camisa 7. O “Formiguinha” do time. O homem que cobria os espaços de Nilton Santos quando o lateral se mandava para o ataque. O homem que passava, driblava, desarmava. O ponta moderno, revolucionário, à frente de seu tempo. E que ainda marcava gols, como o que ele fez naquela goleada de 5 a 2 sobre os suecos que garantiu a ele seu primeiro título mundial.

A tristeza de 1950 estava sepultada. Quatro anos depois, lá estava o Formiguinha em outra Copa, dessa vez no Chile. Foi dele o primeiríssimo gol do Brasil, na estreia, contra o México. E lá estava ele em outra final. Titularíssimo, mais uma vez pintou e bordou na conquista do bicampeonato. Ele gostou tanto, mas tanto de Copas, que pendurou as chuteiras três anos depois e virou técnico. Em 1970, lá estava o alagoano em outro Mundial, comandando a melhor seleção brasileira da história. Um a um, os adversários foram derrotados. E, na decisão, a goleada de 4 a 1 sobre a Itália deu a posse definitiva da Jules Rimet ao Brasil. E, indiretamente, ao próprio técnico daquela seleção, bicampeão como jogador, primeiro a ser campeão como jogador e técnico, legítimo tricampeão.

Mário Jorge Lobo Zagallo foi tudo isso. Fez tudo isso. E muito mais. Foi um dos mais emblemáticos jogadores da história do futebol, ícone dos anos 50 e 60, ídolo do Flamengo, ídolo do Botafogo, ídolo brasileiro. Zagallo quebrou paradigmas ao se tornar um ponta-esquerda que atacava e defendia com a mesma precisão, cobrindo espaços, ajudando os companheiros no ataque, com enorme inteligência tática. Multicampeão por onde passou, sempre se apegou não só ao talento, mas também à superstição, usando o número 13 para explicar ou se basear no que acontecia em sua carreira. É hora de relembrar.

 

A ligação uterina com a seleção

Com a camisa do América-RJ, seu primeiro clube. Foto: Arquivo / Lance.

 

Um ainda bebê Zagallo chegou ao Rio de Janeiro no começo de 1932, aos oito meses de idade, quando seu pai decidiu deixar Alagoas para tentar a sorte na cidade fluminense. A família se alojou na Tijuca, Zona Norte do Rio, onde os pais iriam zelar muito pela educação dele e do irmão, Fernando. Zagallo iniciou seus estudos e mostrou que era um garoto exemplar, sempre com ótimas notas, além da aptidão para os esportes, em especial o futebol. Nas ruas ou no terreno do Derby Club (onde seria construído o Maracanã), Zagallo mostrava muita habilidade e fôlego, tudo às escondidas, longe dos olhos do pai, Aroldo.

No final dos anos 40, Zagallo parou de jogar escondido do pai e deixou bem claro que queria seguir no futebol. No entanto, seu Aroldo queria que o filho fizesse um curso de Contabilidade para ajudá-lo na fábrica de tecidos da família. Ele fez e se formou, mas o irmão, Fernando, ajudou a convencer o pai de que Zagallo deveria fazer o que ele gostava e se sentia bem, mesmo o futebol não tendo mais o “charme” das três primeiras décadas no Rio. Como era sócio do América-RJ, foi no próprio clube que Zagallo iniciou sua carreira, nas divisões amadoras, além de arrumar tempo para jogar vôlei entre uma pelada e outra. Muito magro, o jovem quase nunca ganhava uma dividida, mas compensava a falta de massa muscular com muita velocidade, deslocamentos rápidos e notável inteligência tática. Em 1949, o jovem venceu seu primeiro título: o Campeonato de Amadores do Rio de Janeiro.

Em 1950, Zagallo passou em um teste no Flamengo e começou sua trajetória na Gávea no mesmo período em que iniciou o serviço militar. Ele dividia os compromissos no batalhão com os afazeres no futebol. Alguns meses se passaram até que, em julho, ele foi escalado para compor a Polícia do Exército do Quartel da Barão de Mesquita, que iria trabalhar na guarda do Maracanã na partida final da Copa do Mundo daquele ano. O duelo seria entre Brasil e Uruguai. Empate ou vitória dava o título aos anfitriões. A Celeste só seria campeã em caso de vitória. O que de fato aconteceu.

Começaria ali, justamente no fatídico Maracanazo, a história de vida entre Zagallo e a Seleção Brasileira. Por mais que o Brasil tivesse perdido, o jovem sabia que vestir aquela camisa era seu sonho. E não era por acaso que ele estava no gramado do Maraca justamente naquele dia. Significava alguma coisa. Zagallo seria um dos responsáveis pelo primeiro título mundial do Brasil. Não ali, no colosso de concreto. Mas oito anos, 10.703 km de distância e alguns títulos no meio do caminho depois.

 

Virando craque

Foto: Revista Esporte Ilustrado, Setembro de 1955.

 

Zagallo ganhou as primeiras chances no time profissional do Flamengo curiosamente sob o comando de Flávio Costa, o técnico do Brasil naquela final de 1950. Em 1953, quando ele saiu, o jovem pensou que perderia seu espaço no clube. Ledo engano. O novo treinador rubro-negro, Fleitas Solich, seria um verdadeiro marco na carreira do jogador. O paraguaio fez questão de dar oportunidade justamente aos mais jovens e utilizar a base deixada por Costa. Entre os atletas que lá estavam, Dida, Evaristo de Macedo e Babá iriam compor, ao lado de Zagallo, a espinha dorsal do ataque flamenguista que ficaria conhecido como “rolo compressor”.

O Flamengo de 1954. Em pé: Garcia, Pavão, Tomires, Jadir, Dequinha e Jordan. Agachados: Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Zagallo. Foto: Tardes de Pacaembu / museudosesportes.blogspot.com.br.

 

Nos treinamentos com Solich, Zagallo foi o ótimo aluno de sempre e ouviu do professor que ele deveria caprichar sempre nos cruzamentos, fosse objetivo em campo e jogasse para o time. O Formiguinha, como ficaria conhecido por correr o campo todo, entendeu o recado e decidiu mudar seu estilo de jogo. Meia-esquerda, ele percebeu que a concorrência no setor era grande no Flamengo. Por isso, acabou se deslocando para a ponta-esquerda para atuar de uma maneira diferente, voltando para ajudar na marcação do meio de campo e até cobrindo espaços deixados por um lateral mais ofensivo. Esse papel foi decisivo para o brilho no jogo daquele Flamengo, ainda mais pelo fato de ele raramente cometer faltas – ele ganhou um prêmio tempo depois por ter ficado 10 anos sem uma única expulsão! Foi uma revolução que Zagallo promoveu naqueles anos 50 e que ele tornaria conhecida no mundo inteiro cinco anos depois.

Já em 1953, o Flamengo venceu o Campeonato Carioca com sobras, título que iniciou a epopeia do tricampeonato consecutivo do rubro-negro, o segundo de sua história. Entre as campanhas, a de maior destaque para Zagallo foi a de 1954, quando ele mostrou faro artilheiro e marcou oito gols. Além de ser soberano no estado do Rio, o Flamengo deu show, também, enfrentando adversários internacionais em amistosos e competições pelo mundo. Foi um período de ouro do clube e que ajudou demais a expandir o nome do Mengo no futebol. Foi naquela época, também, que Zagallo passou a mostrar seu lado supersticioso. No dia 13 de janeiro de 1953, ele se casou com Alcina, devota de Santo Antônio, cuja data é celebrada também no dia 13, mas no mês de junho. Por causa dessas coincidências, ele sempre iria se apegar ao número. E, em 1958, ano de Copa, havia mais um motivo para isso: a soma 5 + 8 era 13. Bom sinal…

 

As convocações e a primeira Copa

Já consagrado no Flamengo como um dos principais jogadores do Brasil, faltava a Zagallo uma chance na seleção brasileira. E, enfim, ela veio no dia 04 de maio de 1958, quando ele atuou na goleada de 5 a 1 sobre o Paraguai pela Taça Oswaldo Cruz e marcou dois gols. Foi uma estreia e tanto que provou ao técnico Vicente Feola que ele deveria ter um lugar no time. Naquele dia, o Brasil jogou com Gylmar; De Sordi, Bellini, Zózimo e Oreco; Dino Sani e Didi; Joel, Dida, Vavá e Zagallo. Três dias depois, Zagallo jogou mais uma partida do Brasil na competição (0 a 0, de novo com o Paraguai) e acabou machucando o tornozelo esquerdo, fato que gerou preocupação ao craque, que já tinha algumas desvantagens diante dos concorrentes para a posição, Pepe e Canhoteiro. Ele não podia perder uma chance sequer e uma lesão àquela altura seria desastrosa.

Felizmente, não foi nada grave e ele estava em campo no dia 14 de maio, na goleada de 4 a 0 sobre a Bulgária. O jogador seguiu entre os preferidos de Feola e ganhou sua vaga para o Mundial da Suécia no lugar de Canhoteiro. Mais do que isso: ele ganhou a titularidade graças a uma lesão de Pepe, do Santos, e teria a grande chance da carreira para mostrar seu talento. O fato é que Zagallo era mais completo do que os concorrentes por correr 100 metros, e não 50, como ele mesmo afirmava. Enquanto Pepe e Canhoteiro apenas iam e atacavam, Zagallo podia ir e voltar, para ajudar na marcação. Essa qualidade ímpar pesou na escolha do técnico Feola, que queria um jogador assim para seu esquema 4-2-4 que poderia virar um 4-3-3 com o recuo do ponta ao meio de campo.

Vale lembrar que, naquele mesmo ano de 1958, Zagallo se tornou o primeiro jogador brasileiro a ter passe livre. Inteligente e astuto com negócios, ele não admitia ficar preso a um clube como todos os atletas da época e chegou a receber menos do que vários outros jogadores do Flamengo só para ter esse direito. A manobra deu certo e ele comprou seu passe por 100 mil cruzeiros, o que possibilitou sua ida ao Botafogo, que comprou o passe do ponta por três milhões de cruzeiros!

 

A revolução para o mundo ver

Antes de a Copa começar, Zagallo viu em um contratempo outro fator simbólico para acreditar em um triunfo do Brasil. Como não eram permitidas substituições na época, caso o goleiro Gylmar se machucasse em alguma partida um dos dois jogadores de linha da equipe teria a missão de ir para o gol: Pelé ou Zagallo. Por isso, em um treinamento, ele e Pelé estavam no gol para defender chutes quando Bellini mandou um petardo contra Zagallo e a bola acabou rasgando o dedo indicador da mão esquerda do jogador – na época, a bola era tão pesada que poderia causar isso, caro leitor (a)! Adivinhe quantos pontos ele levou? 13 pontos! Isso mesmo! Era um bom sinal do que estava por vir…

Zagallo (à dir.) vai comemorar junto com Pelé e Altafini o gol do Brasil sobre País de Gales. Foto: Getty Images.

 

No Grupo 4 da Copa, ao lado de Áustria, Inglaterra e URSS, o Brasil superou seus rivais e se classificou bem para a fase final. Zagallo conseguiu sua vaga no time titular e não saiu mais da equipe. Rápido e incansável, ele foi um dos principais jogadores do esquema do técnico Feola. No papel, aquele Brasil era escalado no 4-2-4, mas Zagallo promoveu o nascimento do 4-3-3 – que seria amplamente utilizado no futebol holandês, por exemplo – quando recuava para o meio de campo e ajudava na marcação. Era o “jogador de 100 metros” em ação! E o caminho livre para Nilton Santos, exímio lateral-esquerdo e com vocação ofensiva, esbanjar seu talento sem se preocupar com a defesa. Prova disso foi na estreia, contra a Áustria, quando Nilton partiu pro ataque e Zagallo disse: “Vai, Nilton, que eu fico na sua”. Ele foi e fez um dos gols do Brasil na vitória por 3 a 0…

O Brasil de 1958: Perceba como Zagallo voltava ao meio de campo e formava o 4-3-3.

 

Nas quartas, o Brasil despachou País de Gales (1 a 0) e, nas semis, pegou a poderosa França de Kopa e o artilheiro Fontaine. Foi um jogaço que terminou com vitória brasileira por 5 a 2, com três gols de um imparável Pelé. Zagallo também fez o seu aos 32’, num chute que bateu no travessão e voltou ao campo, mas o juiz não viu e mandou seguir o lance. O Formiguinha não se abateu, pois, na grande final contra Suécia, dona da casa, ele teria a chance da desforra.

Zagallo em ação na Copa. Foto: Arquivo / Ag. O Globo.

 

Zagallo na decisão contra a Suécia. Foto: Arquivo / Lance.

 

No dia 29 de junho de 1958, o Brasil entrou de azul em campo para encarar a Suécia. Para um supersticioso Zagallo, será que era sinal de mau agouro? E, com o primeiro gol sueco logo aos 4’ de jogo, será que realmente era um péssimo dia para a seleção? Não! Tudo começou a mudar quando Zagallo salvou em cima da linha um chute de Skoglund e evitou o segundo gol sueco quando o placar estava empatado em 1 a 1. Foi um lance que pouca gente se lembra, mas que poderia mudar a história do jogo. A “defesa” do Formiguinha embalou o Brasil, que virou com Pelé, ampliou com Vavá e chegou ao quarto gol justamente com Zagallo, quando o camisa 7 ganhou uma dividida com Borjesson e chutou por baixo do goleiro Svensson.

Ainda teve mais um gol da Suécia e outro do Brasil, de Pelé, que completou uma jogada, adivinhe, de Zagallo. O Brasil era campeão mundial de futebol pela primeira vez em sua história, o primeiro país a vencer uma Copa fora de seu continente. O tal complexo de vira-lata estava exterminado. Na comemoração, Zagallo e Pelé eram os mais emocionados e renderam fotos históricas da festa do time em campo. 5+8=13. Realmente, aquele ano era mesmo de Zagallo….

 

Susto na estreia e engrenagem de outro esquadrão

Valorizado após a Copa, Zagallo foi com as melhores expectativas para seu novo clube, o Botafogo. Vale lembrar que o Velho Lobo não queria sair do Flamengo, mas sofreu com a lentidão da diretoria rubro-negra para chegar a um bom acordo. Ele falou sobre esse caso:

 

“Eu não queria sair do Flamengo. O Fleitas Solich (técnico) e o diretor Fadel vieram até minha casa, conversaram comigo. Me lembro até hoje as palavras que disse: ‘eu não estou querendo sair, eu já tinha proposto a vocês que eu dava o meu passe em troca de um emprego na Caixa Econômica’, que era a minha garantia de futuro. ‘Eu estou jogando, mas estou pensando sempre em frente e até hoje vocês não me ouviram’. Aí veio a Portuguesa me oferecendo 3 milhões, o Palmeiras oferecendo 5 milhões, e eu acabei aceitando ir ao Botafogo por 3 milhões. Por quê? Porque o Botafogo era um time bom, além disso minha mulher era professora e ela ia perder todas as aulas dela se eu fosse para São Paulo.” Zagallo, em entrevista a Jayme Pimenta Valente Filho no livro ‘Mário Jorge Lobo Zagallo: Entre o Sagrado e o Profano, uma história de vida’, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal, 2006.

No Botafogo, Zagallo encontrou vários craques do time de 1958 e que também fariam parte da seleção que disputaria a Copa de 1962. Ao lado de Didi, Garrincha, Nilton Santos, Amarildo (além de Quarentinha e companhia), o Formiguinha compôs um dos mais lendários esquadrões brasileiros de todos os tempos. Antes de começar a brilhar, porém, veio um susto: na quinta partida pelo Fogão, justo um clássico contra o Flamengo, o ponta-esquerda sofreu uma pancada violenta no joelho e ficou quase nove meses sem jogar. Nesse período, ele teve que ficar com a perna engessada, fazer bastante fisioterapia e até ouvir dos médicos que “não voltaria a jogar futebol”.

Mas Zagallo foi persistente, fez exercícios em casa, no Botafogo, ao lado do preparador físico Paulo Amaral, na piscina, na praia, tudo para provar aos médicos que ele podia, sim, voltar a jogar. E voltou. Humilde, pediu para iniciar sua volta em 1959, na reta final do Campeonato Carioca de Aspirantes. Ele, um campeão do mundo, não se importou em jogar ao lado de jovens como se ainda quisesse ser profissional. Ele já era um. E um dos raros, dos humildes, que não havia deixado a fama subir à cabeça. Com sua categoria e experiência, Zagallo ajudou a molecada a vencer o torneio e entrou de vez nas graças da torcida.

Garrincha, Édson, Quarentinha, Amarildo e Zagallo: uma das linhas de frente do Botafogo nos anos 60…

 

Com a camisa alvinegra, Zagallo mostrou o futebol eficiente da Copa, esbanjou talento e ajudou o Botafogo a vencer um bicampeonato carioca em 1961 e 1962, dois Torneios Rio-SP e vários troféus internacionais. O Botafogo se transformou em um dos poucos times do Brasil capaz de duelar com o Santos de Pelé. Mesmo já veterano naqueles anos 60, Zagallo tinha uma inteligência tática impressionante, algo que dava a ele muita vantagem sobre qualquer jogador que ousasse em duelar com ele no time alvinegro.

Ele sabia que não tinha um chute potente ou força física para divididas, mas ninguém se deslocava como ele e nem tinha a importância tática dele. Por isso, Zagallo era um dos titulares do time, além de ser inteligente, também, fora de campo, sabendo trabalhar muito bem nos negócios e na parte burocrática de seus contratos – ele ganhava mais do que o craque do time, Garrincha. Multicampeão pelo Fogão, Zagallo se consolidou como um dos maiores jogadores de seu tempo. E tal condição seria lapidada ainda mais em 1962, ano de mais uma Copa do Mundo.

 

Formiguinha como nunca no bicampeonato!

O Brasil que foi ao Chile tentar o bi da Copa do Mundo era praticamente o mesmo de 1958, com algumas mudanças pontuais e bem experiente. Zagallo estava lá, na ponta-esquerda, ao lado de Garrincha, Pelé e Vavá. E, já na estreia, foi do craque o primeiro gol do Brasil na Copa, ao cabecear uma bola cruzada por Pelé. O time canarinho venceu por 2 a 0. No duelo seguinte, o empate em 0 a 0 com a Tchecoslováquia ficou marcado pela contusão de Pelé, que só fez número durante parte do primeiro tempo e em todo segundo tempo. Zagallo teve que jogar na meia, na ponta e no meio de campo, cobrindo os espaços deixados pelo Rei, que só fazia número (ainda não eram permitidas substituições).

Na partida seguinte, outra vez Zagallo se desdobrou como nunca pelo campo, correndo, marcando e tentando conter o time da Espanha, que abriu o placar no primeiro tempo, com Adelardo. O prêmio veio na segunda etapa, quando Zagallo recebeu um lançamento de Zito, correu pela esquerda e cruzou da linha de fundo para Amarildo, o substituto de Pelé e super entrosado com o Velho Lobo no Botafogo, mandar a bola pro fundo do gol. O mesmo Amarildo fez 2 a 1 e classificou o Brasil para a fase seguinte.

Nas quartas, contra a Inglaterra, Zagallo jogou colado a Nilton Santos e deu muita proteção ao lateral brasileiro, que conseguiu fazer valer suas investidas pela esquerda. Mas quem gastou a bola foi Garrincha, autor de dois gols na vitória por 3 a 1. Na semifinal, contra os anfitriões chilenos, Zagallo teve ainda mais trabalho para trabalhar no ataque e conter os avanços do ataque rival. Correndo e correndo, o brasileiro foi mais uma vez decisivo.

No comecinho do jogo, ele cruzou na medida, a bola rebateu em Vavá e sobrou para Garrincha, de perna esquerda, fazer 1 a 0. Tempo depois, escanteio batido por Zagallo e Garrincha, de cabeça, fez 2 a 0.  O Chile reagiu e fez seu gol, mas o Brasil fez 3 a 1 na segunda etapa. Sanchez, de pênalti, diminuiu de novo, mas o time canarinho se garantiu na final após Zagallo cruzar da esquerda e Vavá fazer o gol da vitória por 4 a 2. Foi uma das maiores atuações do Formiguinha em Copas. E uma partida que fez jus ao apelido.

Na final, o Brasil reencontrou a Tchecoslováquia e, mesmo após levar o primeiro gol, teve experiência e talento para chegar aos 3 a 1 e se consagrar bicampeão do mundo. Dessa vez, Zagallo não fez gol como em 1958, mas cobrou o lateral que originou o gol de empate, apenas dois minutos após o gol rival. Para coroar a atuação do brasileiro naquela Copa, ele foi eleito pela FIFA ao All-Star team do Mundial. Um reconhecimento ao bicampeão, ao jogador mais importante taticamente para aquele esquadrão.

 

A lenda que originou outra e entrou para a história

Zagallo não segurou o choro após a final de 1962. Foto: Arquivo / O Globo.

 

Após a Copa, Zagallo seguiu no Botafogo, faturou mais algumas taças e foi convocado para a seleção até 1964, quando disputou seu último jogo com a amarelinha na vitória por 4 a 1 sobre Portugal, no Maracanã, o mesmo que fez nascer no craque a paixão pela seleção. Foram 36 jogos e seis gols marcados pelo Brasil – além de 12 jogos em Copas, dois títulos conquistados e nenhuma derrota. Um ano depois, aos 34 anos, ele percebeu que vinha perdendo espaço no Botafogo com a chegada de jovens promissores e disputou seu último jogo pelo alvinegro, um empate em 1 a 1 com o América no dia 07 de novembro de 1965, em General Severiano.

Logo depois de pendurar as chuteiras, Zagallo aceitou um convite para dirigir o time de juniores do Botafogo e iniciou uma nova era na carreira: a de treinador. Em pouco tempo, foi para os profissionais e comandou um esquadrão fortíssimo, que também foi multicampeão. Em 1970, adivinhe, lá estava Zagallo em outra Copa, dessa vez como técnico do Brasil. E ele foi campeão. Tricampeão. O primeiro ser humano a conquistar uma Copa como técnico e também como jogador. Os anos se passaram e ele continuou sua carreira de treinador, ganhou inúmeras homenagens e participou de diversos eventos sobre o esporte em todo mundo. Sua carreira como técnico foi amplamente difundida e conhecida, e é relembrada aqui no Imortais.

Zagallo foi tetra como coordenador técnico da Seleção.

 

Levantou a Copa América do “vocês vão ter que me engolir”

 

Comandou o Brasil na Copa de 1998.

 

E provou, dentro e fora de campo, que tinha estrela, sorte, talento e competência.

 

O fato é que, até hoje, revistas, sites, jornais e emissoras de TV quase nunca falaram ou deram a devida importância para a carreira do jogador Zagallo. Sempre martelaram na trajetória do Velho Lobo fora das quatro linhas, mas se esqueceram que tudo o que ele sabia veio do conhecimento de causa e do trabalho de vida que começou lá em 1950, com o jovem que sonhava em ser jogador de futebol e viu de farda seu país perder em casa uma final de Copa do Mundo.

Com o Formiguinha multicampeão pelo Flamengo. Com o revolucionário que embasbacou os europeus na Copa de 1958 ao recuar e transformar o 4-2-4 no 4-3-3. Com o campeão do mundo que aceitou jogar no time de aspirantes para voltar à boa forma e fazer do Botafogo um dos maiores times do mundo. Com o experiente jogador que correu mais do que qualquer um na Copa de 1962, venceu o título e foi eleito um dos melhores do torneio. Com o homem predestinado, nascido para servir a seleção brasileira. Servir o futebol. Um legítimo imortal.

A propósito: Zagalo Imortal (sem um “l”, como ele foi mais conhecido nas décadas passadas até usar o “l” duplo de sua certidão de nascimento) tem 13 letras…

 

Números de destaque:

 

Disputou 205 jogos e marcou 29 gols pelo Flamengo.

Disputou 300 jogos e marcou 22 gols pelo Botafogo.

 

Leia mais sobre os esquadrões que tiveram Zagallo clicando nos links abaixo!

Flamengo anos 50

Brasil 1958-1962

Botafogo anos 60

 


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Comentários encerrados

3 Comentários

  1. Estava esperando esse há muito tempo. Como é rica a trajetória do Velho Lobo, especialmente em inteligência! E dizem que astutas são as raposas…

    A propósito, além de ser dia 13 é também mês de Copa, do seu primeiro amor.

Seleções Imortais – Hungria 1950-1954

Técnico Imortal – Zagallo