
Nascimento: 14 de Fevereiro de 1951, em Armthorpe, Doncaster, Inglaterra.
Posições: Atacante e Meia
Clubes: Scunthorpe United-ING (1968-1971), Liverpool-ING (1971-1977), Hamburgo-ALE (1977-1980), Southampton-ING (1980-1982), Newcastle United-ING (1982-1984) e Blacktown City-AUS (1985).
Principais títulos por clubes: 1 Liga dos Campeões da UEFA (1976-1977), 2 Copas da UEFA (1972-1973 e 1975-1976), 3 Campeonatos Ingleses (1972-1973, 1975-1976 e 1976-1977), 1 Copa da Inglaterra (1973-1974) e 2 Supercopas da Inglaterra (1974 e 1976) pelo Liverpool.
1 Campeonato Alemão (1978-1979) pelo Hamburgo.
Principais títulos individuais:
Ballon d’Or: 1978 e 1979
Eleito para o Time do Ano na Bundesliga pela Kicker: 1977-1978, 1978-1979 e 1979-1980
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês: 2002
8º Jogador na lista dos 100 maiores craques da história do Liverpool: 2008
Futebolista do Ano pela FWA: 1975-1976
Jogador do Ano pela PFA: 1981-1982
Onze d’Argent: 1976 e 1980
Onze d’Or: 1977 e 1979
FIFA 100: 2004
Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times: 1999
“King Kev”
Por Guilherme Diniz
Ele foi um dos mais talentosos atacantes do futebol europeu nos anos 1970 e ídolo de diferentes torcidas. Grande finalizador, rápido e muito técnico, era ainda muito bom nas jogadas aéreas (mesmo não sendo tão alto), abria espaços na zaga e deixava os companheiros na cara do gol com seus passes precisos e corridas imparáveis. Foi rei no Liverpool, onde ajudou o clube a vencer 9 títulos de 1971 até 1977, entre eles 2 Copas da UEFA – nas quais ele marcou dois gols no primeiro jogo da final de 1973 e um gol em cada jogo da final de 1976 – e a primeira Liga dos Campeões dos Reds, com direito a quatro gols na campanha do título. Depois, brilhou no Hamburgo, pelo qual levantou uma Bundesliga e ajudou a equipe a alcançar a final da Liga dos Campeões de 1980, além de chacoalhar o futebol inglês ao se transferir para o Southampton logo depois. Vencedor de dois Ballon d’Or, em 1978 e 1979, Joseph Kevin Keegan, ou simplesmente Kevin Keegan, marcou época com gols, títulos e uma fama enorme no futebol dos anos 1970 e 1980. É hora de relembrar.
Sumário
Início modesto

Nascido na pequenina Armthorpe, cidade com pouco mais de 15 mil habitantes em West Riding of Yorkshire, Kevin Keegan cresceu ao lado da irmã Mary, mais velha, e Michael, seu irmão mais novo. Sua família era amante do Newcastle United, mas o primeiro clube de coração do garoto foi o Doncaster Rovers, que tinha o atacante Alick Jeffrey, ídolo de Keegan em sua juventude. Apaixonado por futebol muito por causa de seu pai e seu tio, responsáveis por darem ao jovem o primeiro par de chuteiras e a primeira bola, Keegan tentou a sorte no futebol no Coventry City, mas acabou de fora da lista final de escolhidos na peneira que realizou. Tempo depois, seu pai conseguiu um teste no Doncaster Rovers, mas, quando Keegan chegou, descobriu que tinha a informação errada – o teste seria mais cedo naquele dia e em um lugar diferente (!).
Praticante de vários esportes no colégio, entre eles rúgbi, críquete e até boxe, Keegan desenvolveu desde cedo um físico muito bom e de resistência, a ponto de, aos 15 anos, completar com seus amigos uma corrida de 50 milhas de Nottingham até Doncaster. Anos depois, Keegan afirmou que essa corrida o preparou física e psicologicamente para qualquer corrida que ele tivesse que fazer em futuros treinos de pré-temporada ou partidas de futebol. Nessa mesma época, perto de completar 16 anos e já trabalhando, o jovem disputava partidas de futebol nos tempos livres e, certa vez, foi convidado a jogar na equipe do Peglers Works, da empresa britânica fabricante de válvulas e outros produtos de engenharia. Mas sua chance no futebol profissional surgiu quando ele jogava futebol no Lonsdale Hotel, em uma partida contra o Woodfield Social, em 1966. Keegan foi marcado por um jogador mais velho chamado Bob Nellis, que ficou tão impressionado com a habilidade de Keegan que lhe ofereceu um teste no Scunthorpe United, da Quarta Divisão inglesa. Esse teste levaria o técnico do Scunthorpe, Ron Ashman, a oferecer a Keegan seu primeiro contrato no futebol profissional.
Quase aposentadoria

Jogar no Scunthorpe foi uma experiência e tanto para Keegan. O clube não tinha campo de futebol para treinar nem redes de gol e se virava em um campo de rúgbi em Quibell Park. A equipe também não tinha dinheiro para pagar um motorista de ônibus e, com isso, Keegan e outros jogadores tinham que se revezar para dirigir o veículo em dias de jogos fora de casa! Dedicado, o jovem treinava muito semanalmente e vencia todas as provas de corrida, além de ficar à frente dos companheiros nas corridas em volta do campo. Essa competitividade ao extremo traria boas recepções de seus técnicos, mas também problemas com alguns colegas de time, que viam um exagero do jogador em ser o primeiro sempre, principalmente em um simples treino de corrida.
Keegan fez sua estreia no time profissional aos 17 anos, em 1968, e disputou 29 jogos em sua temporada de debute. Na época 1969-1970, disputou 54 jogos e marcou 9 gols, atuando mais como um meio-campista pela direita e não como atacante de ofício. Era um número baixo de gols pela quantidade de jogos, mas o time não ajudava muito… Por causa do baixo salário, Keegan tinha que realizar trabalhos paralelos à vida de futebolista, como colocador de placas na Scunthorpe Steelworks.
Na temporada 1970-1971, Keegan anotou 11 gols em 52 jogos, mas ele percebia que permanecer mais tempo ali, já perto de completar 20 anos, seria um problema se quisesse almejar algum clube da elite inglesa. Algumas propostas vinham, mas nenhuma se concretizava. Em determinado momento, Keegan cogitou até a se retirar do futebol e conseguir um emprego em tempo integral em alguma fábrica, pois precisava pensar em seu futuro. Mas tudo iria mudar graças a uma lenda: Bill Shankly.
A chegada em Anfield

Em 1971, Geoff Twentyman, um dos principais nomes da comissão técnica do Liverpool, percebeu o talento de Kevin Keegan e levou informações ao treinador dos Reds na época, o lendário Bill Shankly, que começava a montar um time para que novos tempos de glórias chegassem ao clube de Anfield. Shankly confiava muito em Twentyman e o Liverpool fez uma proposta oficial ao Scunthorpe United, que aceitou. Em Liverpool, Shankly ofereceu 45 libras por semana ao jovem, que queria 50 libras. Após muita conversa, Keegan foi negociado por 33 mil libras e ele seria a “inspiração do novo time”, segundo o próprio Shankly, que criou uma sintonia enorme com o craque naquela trajetória e dedicaria um capítulo inteiro em sua biografia a Kevin Keegan anos depois. Antes dele, o treinador trouxe o galês John Toshack, atacante com boa presença de área e nas jogadas aéreas, Alec Lindsay, defensor, e lapidou das categorias de base o ponta Steve Heighway (que passou rapidamente pelo Skelmersdale United) e o volante Brian Hall.
Keegan foi abraçado pela torcida do Liverpool e rapidamente se adaptou ao clube de Anfield. Shankly não quis deixar ele “engessado” como meia e deu liberdade para o jogador se movimentar e “flutuar”, atuando pela meia-direita, ponta e ataque. Esse jeito de jogar foi essencial para Keegan melhorar suas técnicas de passe, lançamentos, dribles e, claro, aumentar o número de gols. Ele não era um atacante fixo, mas sim um atleta que municiava os companheiros e sabia explorar as fragilidades dos oponentes com sua rara inteligência tática e enorme visão de jogo. Criativo e com enorme impulsão, começou a marcar vários gols de cabeça mesmo com 1,73m de altura.

Shankly também inspirou Keegan a jogar tudo o que sabia e usava algumas táticas para isso. O treinador costumava aumentar a confiança de seus jogadores anunciando que um adversário importante não estava em forma. Quando Keegan estava prestes a jogar contra Bobby Moore pela primeira vez, Shankly lhe disse que Moore havia “ficado em uma boate e estava de ressaca”. Depois, com Keegan tendo tido uma atuação excepcional contra o igualmente excepcional Moore, Shankly lhe disse que Moore havia sido brilhante naquele dia e que Keegan jamais jogaria contra alguém melhor. Com essas pequenas histórias, ele aliviava a tensão de seus atletas e eles jogavam bem e sem receio dos oponentes mais experientes ou em melhor fase.
Em sua primeira temporada, Keegan marcou 11 gols em 42 jogos e, logo na estreia, contra o Nottingham Forest, em 14 de agosto de 1971, precisou de apenas 12 minutos para marcar seu primeiro gol com a camisa dos Reds. Na temporada seguinte, em 1972-1973, Keegan foi crucial para garantir dois títulos ao Liverpool. Primeiro, o Campeonato Inglês, no qual o craque marcou 13 gols em 41 jogos, um deles no confronto direto contra o Leeds United. Depois, na Copa da UEFA, competição na qual Keegan marcou 4 gols em 11 jogos, sendo dois na primeira partida da final diante do forte Borussia Mönchengladbach-ALE, quando o Liverpool venceu por 3 a 0 em Anfield e, mesmo perdendo por 2 a 0 na Alemanha, ficou com seu primeiro troféu continental. Foram 22 gols em 64 jogos naquela temporada, além de Keegan ganhar suas primeiras convocações para a seleção inglesa, que, mesmo com ele, não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo de 1974.
Estrela e artilheiro das decisões

Na temporada 1973-1974, Keegan virou ídolo de vez da torcida com novos jogos marcantes, em especial na trajetória da Copa da Inglaterra vencida pelos Reds diante do Newcastle United, na final em Wembley vista por 100 mil pessoas. Keegan marcou 6 gols em 9 jogos, dois deles na final, o primeiro, em belo voleio, e o que fechou o placar em 3 a 0 diante dos alvinegros. Foi um jogaço dos Reds, que poderiam ter vencido por 5, 6 a 0 tamanha a superioridade do time de Shankly. Keegan disse que com 100.000 pessoas presentes, os cânticos ininterruptos de ambos os grupos de torcedores e os milhões assistindo pela televisão, “esse jogo foi o mais próximo de uma experiência psicodélica não induzida por drogas que ele poderia chegar”. Aquela foi a última temporada de Bill Shankly no comando dos Reds – Bob Paisley assumiu o Liverpool a partir de 1974-1975.


Tempo depois, o craque voltou a Wembley na final da Supercopa da Inglaterra de 1974 diante do Leeds United, mas foi expulso aos 60’ após uma confusão que começou um pouco antes, quando ele levou um soco de Johnny Giles (que nem cartão levou!) e, na sequência, sofreu uma entrada com os dois pés do mesmo Giles. Diante da reação indignada de Keegan, Billy Bremner, zagueiro do Leeds, desafiou Keegan, que então explodiu e socou Bremner. Bremner revidou, e ambos foram expulsos. O Liverpool empatou em 1 a 1 e venceu nos pênaltis por 6 a 5, ficando com o troféu. Apesar disso, os jogadores fizeram as pazes e permaneceram colegas nos anos seguintes.
Após uma temporada sem troféus em 1974-1975, Kevin Keegan e seu Liverpool recuperaram os troféus na temporada 1975-1976. No Campeonato Inglês, os Reds foram campeões com um ponto de vantagem sobre o Queens Park Rangers e gol de Keegan na vitória que selou o título, na última rodada, nos 3 a 1 sobre os Wolves. O craque marcou 12 gols em 41 jogos na campanha e brilhou ao lado de John Toshack, Ray Kennedy e Jimmy Case. A equipe inglesa levantou também o bicampeonato da Copa da UEFA, após vencer o Club Brugge-BEL no primeiro jogo da final, em casa, por 3 a 2 (um gol de Keegan) e empatar em 1 a 1 na Bélgica, com outro gol de Keegan, decisivo ao extremo. Para coroar um ano mágico, Keegan virou capitão da seleção da Inglaterra sob o comando do técnico Don Revie e exerceu tal função em 31 jogos dali em diante.
Rei da Europa e o adeus ao Liverpool

A carreira de Kevin Keegan vivia o auge naquela segunda metade dos anos 1970. E o topo foi alcançado na época 1976-1977. Ele foi o principal artilheiro do Liverpool na temporada pela primeira vez na carreira – 20 gols em 57 jogos, sendo 12 gols na campanha do título do Campeonato Inglês -, venceu outra Supercopa da Inglaterra e foi o expoente do primeiro título da Liga dos Campeões da UEFA (na época chamada de Copa dos Campeões da Europa) do Liverpool. Foram quatro gols na trajetória eliminatória que colocou o Liverpool na decisão contra um velho conhecido: o Borussia Mönchengladbach, mesmo rival da final da Copa da UEFA de 1973. E, de novo, deu Liverpool: 3 a 1, com Keegan sofrendo o pênalti convertido por Phil Neal, aos 82’, que fechou o placar e esfriou uma reação dos alemães no final da partida.
Campeão de praticamente tudo e consagrado, Kevin Keegan queria novos desafios naquele ano de 1977. E a diretoria do Liverpool recebeu uma notícia terrível logo após seu primeiro título na Liga dos Campeões da UEFA: Kevin Keegan, seu grande astro ofensivo, queria deixar Anfield. O jogador inglês desejava atuar em outra liga e tinha como objetivo vestir a camisa de algum clube espanhol. Com isso, o Liverpool começou a buscar no mercado algum jogador que tivesse as mesmas características de Keegan. Nesse período, não vieram as ofertas que o atacante esperava e o desejo de jogar na Espanha não se materializou. Só perto do final da janela de transferências que o Hamburgo-ALE apareceu com 500 mil libras e levou o atacante para a Alemanha, na maior negociação envolvendo um jogador inglês na história na época.
A torcida do Liverpool se sentiu traída com a saída de Keegan, mas os títulos daquela temporada amenizaram um pouco o adeus do craque, que deixou Anfield após 323 jogos, 100 gols e mais de 70 assistências. O próprio craque nunca escondeu o amor que sentiu jogando pelos Reds.
“A única coisa que temi em minha carreira era perder um gol aberto na frente do Kop (a tradicional arquibancada de Anfield Road). Eu morreria se isso acontecesse. Quando começam a cantar “You’ll Never Walk Alone”, meus olhos começam a lacrimejar. Houve momentos em que cheguei a chorar enquanto jogava”.
Bola de Ouro e campeão alemão

Quis o destino que já em 1977 Kevin Keegan reencontrasse seu ex-clube na final da Supercopa da UEFA. Antes das finais (na época, ainda eram dois jogos), Keegan comentou que “o Hamburgo estava começando a entrar em forma, o Liverpool, por outro lado, está cansado física e mentalmente. As pessoas não percebem que são apenas humanas. Eu provavelmente teria perdido a vantagem se tivesse ficado”. Bem, na verdade, ele só teria vantagens. Com um esquadrão formado por nomes como Ray Clemence, Phil Neal, Joey Jones, Phil Thompson, Emlyn Hughes, Ian Callaghan, Terry McDermott, Ray Kennedy, Steve Heighway, David Johnson, David Fairclough e Alan Hansen, o Liverpool se transformou no maior time da Europa naquela virada de década e empilhou troféus como nunca antes em sua história.
E tudo começou de maneira emblemática: uma goleada de 6 a 0 sobre o Hamburgo de Kevin Keegan (!) no segundo jogo da final da Supercopa da UEFA (o primeiro jogo, na Alemanha, terminou empatado em 1 a 1). E o sexto gol foi anotado por Kenny Dalglish, exatamente o craque contratado pelos Reds para substituir Keegan. Aquela derrota veio em um momento complicado de Keegan no Hamburgo, pois o craque não se enturmou com seus companheiros e chegou a ser suspenso por vários jogos por causa de uma expulsão.

Nesse período, ele decidiu estudar alemão para conseguir se comunicar e ser bem aceito tanto nos vestiários quanto pelo torcedor. Pela seleção, outra frustração, pois o English Team de novo não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo e viu o Mundial da Argentina pela TV. A única boa notícia em 1978 veio no final do ano, quando o inglês venceu o prêmio Ballon d’Or da revista France Football como melhor futebolista da Europa, deixando para trás nomes como Hans Krankl, Rob Rensenbrink, Roberto Bettega e Paolo Rossi.
Em 1978-1979, enfim, Keegan se encaixou no time do Hamburgo e anotou 17 gols em 34 jogos na campanha do título da Bundesliga dos Dinossauros. Com uma metodologia de treinamento rígida imposta pelo técnico Branko Zebec, Keegan jogou muito e foi crucial para a grande campanha da equipe naquela temporada. Cobiçado por Juventus, Real Madrid e Washington Diplomats (EUA), Keegan não quis mudar de clube na época e fez questão de cumprir seu contrato com o clube alemão. Em 1979, o craque venceu de novo o prêmio Ballon d’Or, sendo apenas o 4º atleta na história a conquistar o prêmio duas vezes seguidas, repetindo o feito de Alfredo Di Stéfano, Franz Beckenbauer e Johan Cruyff. “Só” isso.
Vice na Europa e retorno à Inglaterra

Já nas graças da torcida do Hamburgo, que o apelidou de Mighty Mouse, em alusão a um popular desenho animado da época, Kevin Keegan foi um dos craques que ajudaram os Dinossauros a alcançarem a final da Liga dos Campeões da UEFA pela primeira vez, na temporada 1979-1980. No primeiro desafio, o time alemão despachou o Valur-ISL com um 5 a 1 no agregado e na sequência derrotou o Dinamo Tbilisi-URSS tanto em casa (3 a 1, com um gol de Keegan) quanto fora (3 a 2, com mais um gol de Keegan). Nas quartas de final, o Hamburgo enfrentou o perigoso Hadjuk Split-IUG e venceu por um magro 1 a 0 em casa e perdeu por 3 a 2 na volta, mas o critério do gol qualificado classificou os alemães, que tiveram pela frente nas semifinais o Real Madrid-ESP, sempre imponente em sua competição preferida.
No primeiro jogo, com mais de 121 mil pessoas no Santiago Bernabéu, Santillana fez dois gols e os merengues venceram por 2 a 0. Precisando de pelo menos três gols na volta, o Hamburgo tinha que fazer um jogo perfeito em casa. E fez: goleou o Real por 5 a 1, em atuação coletiva espetacular dos Dinossauros, com Keegan incluso, claro. O inglês não marcou, mas foi essencial para a enorme vitória atraindo a marcação merengue e abrindo espaços para Hrubesch e companhia devastarem a zaga madrilena. Na final, porém, o Hamburgo acabou derrotado pelo Nottingham Forest de Brian Clough por 1 a 0 e perdeu a chance do título inédito, que só viria em 1983.
Em fevereiro de 1980, antes mesmo do fim da temporada, Kevin Keegan surpreendeu mais uma vez o mundo do futebol ao ser anunciado pelo modesto Southampton, que pagou a taxa de 420 mil libras do contrato de Keegan. Lawrie McMenemy, técnico dos Saints na época, foi quem anunciou o astro em uma conferência de imprensa que pegou todos desprevenidos. A saída de Keegan do Hamburgo foi muito por causa dos rígidos métodos de treinamento e preparação física impostos pelo técnico Branko Zebec. Vale lembrar que Keegan continuou jogando normalmente pelo Hamburgo até o final da temporada 1979-1980, disputou a Eurocopa pela Inglaterra (o English Team caiu na fase de grupos) e só depois foi para o Southampton.

Jogando ao lado de Alan Ball, Phil Boyer, Mick Channon e Charlie George, Keegan foi um dos artífices do ataque dos Saints e ajudou a equipe a terminar na 6ª colocação o Campeonato Inglês. Na temporada seguinte, Keegan foi o artilheiro do time e do Campeonato Inglês com 26 gols, além de ter sido eleito o melhor jogador da temporada. Apesar disso, o Southampton terminou apenas na 7ª posição, mas teve o 3º melhor ataque do torneio com 72 gols. Keegan marcou 30 gols em 48 jogos na temporada 1981-1982, a mais prolífica de sua carreira. Ainda em 1982, ele disputou, enfim, sua primeira Copa do Mundo pela Inglaterra, mas não foi como ele esperava: entrou em apenas uma partida, vindo do banco, por causa de uma persistente dor nas costas que o tirou do time titular. O English Team caiu precocemente e ele se despediu naquele mesmo ano da seleção após 63 jogos e 21 gols.
Últimos anos e aposentadoria

Kevin Keegan decidiu encerrar sua trajetória no Southampton em 1982 para jogar no Newcastle United e cumprir um antigo sonho de sua família, que queria vê-lo com a camisa dos Magpies, mesmo com o clube amargando a segunda divisão. Pois Keegan se tornou rei de novo e marcou seu primeiro gol contra o Queens Park Rangers, logo em sua estreia. Depois de marcar, Keegan fez algo que nunca havia feito antes: ele se jogou na multidão para mostrar aos torcedores que era um deles. O craque explicou à imprensa que “queria ficar lá para sempre…”. Keegan tinha medo de decepcionar os torcedores, dizendo constantemente a si mesmo: “Você não pode decepcioná-los”.
Keegan marcou 21 gols em 37 jogos em sua primeira temporada e mais 27 gols em 41 jogos na temporada 1983-1984, campanha esta que fez o time alvinegro subir para a elite do futebol inglês. Em 1984, Keegan decidiu se aposentar, decisão que anunciou no dia de seu aniversário, em 14 de fevereiro daquele ano. Keegan sentiu que sua carreira estava encerrada após um jogo válido pela Copa da Inglaterra, um mês antes, em uma partida curiosamente contra o Liverpool, em Anfield Road. Nesse jogo, Keegan foi lançado em direção ao gol após um passe que o deixou cara a cara com o goleiro Bruce Grobbelaar. Ele pensou que aquele era o momento de colocar o Newcastle em vantagem por 1 a 0 diante de milhares de torcedores atrás do gol.
Antes que pudesse finalizar, Keegan foi interceptado por Mark Lawrenson, que o alcançou e roubou a bola dele pela lateral. Nesse exato momento, Keegan percebeu que havia perdido o ritmo. No final do jogo, um frustrado Keegan, enquanto aplaudia os torcedores, decidiu que esta seria sua última temporada como jogador de futebol. Se quisesse continuar jogando, Keegan teria que recuar muito e mudar seu estilo de jogo, o que ele não queria. Por isso, a decisão de se aposentar. O último jogo oficial do craque foi em uma vitória por 3 a 1 sobre o Brighton, com um gol do craque. Seu último jogo acabou sendo um amistoso diante do Liverpool, no qual ele deixou o gramado de helicóptero, como uma estrela de cinema.

Após se aposentar, Keegan disputou dois jogos simbólicos pelo Blacktown City, da Austrália, e permaneceu quase oito anos longe do esporte até virar treinador do Newcastle, em 1992, onde adotou um estilo ofensivo e empolgante, levou o time da segunda divisão para a elite do futebol inglês e, sob sua liderança, o Newcastle quase conquistou a Premier League em 1995–96, terminando como vice-campeão em uma das corridas pelo título mais emocionantes da história.
Além do Newcastle, Keegan treinou também o Fulham, o Manchester City e a seleção da Inglaterra (entre 1999-2000), embora sua passagem pela equipe nacional tenha sido mais conturbada e menos vitoriosa. Seu último ano como técnico foi em 2008, quando se retirou de vez. Carismático, apaixonado pelo futebol e sempre movido pela emoção, Kevin Keegan é lembrado como um dos grandes nomes do esporte. Sua trajetória é símbolo de dedicação, coragem e amor ao jogo, dentro e fora dos gramados. Um craque imortal.
Números de destaque:
Disputou 323 jogos e marcou 100 gols e deu 72 assistências pelo Liverpool.
Disputou 113 jogos e marcou 40 gols pelo Hamburgo.
Disputou 80 jogos e marcou 42 gols pelo Southampton.
Disputou 85 jogos e marcou 49 gols pelo Newcastle United.
Disputou 63 jogos e marcou 21 gols pela seleção da Inglaterra.
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