Nascimento: 12 de Abril de 1941, em Barking, Inglaterra. Faleceu em 24 de Fevereiro de 1993 em Wandsworth, Inglaterra.
Posição: Zagueir(aço!)o
Clubes: West Ham United-ING (1958-1974), Fulham-ING (1974-1977), San Antonio Thunder-EUA (1976), Seattle Sounders-EUA (1978) e Herning Fremad-DIN (1978).
Principais títulos por clubes: 1 Recopa da UEFA (1964-1965), 1 Copa da Inglaterra (1964) e 1 International Soccer League (1963) pelo West Ham United.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo (1966) pela Inglaterra.
Principais títulos individuais:
Jogador do Ano da FWA: 1963-1964
Jogador do Ano do West Ham: 1960-1961, 1962-1963, 1967-1968 e 1969-1970
Personalidade Esportiva do Ano da BBC: 1966
Membro do Hall da Fama do Futebol Inglês: 2002
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Inglaterra do Imortais: 2020
“Gentleman da bola”
Por Guilherme Diniz
Clássico, impecável, sublime e eterno. O único homem a levantar uma Copa do Mundo pela seleção de futebol da Inglaterra foi, acima de tudo, um mito do esporte. E um cavalheiro. Robert Frederick Chelsea Moore, mais conhecido como Bobby Moore, foi um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial e o maior nome do futebol inglês em todos os tempos. Simplesmente perfeito nos desarmes, na antecipação e em saber o que um habilidoso atacante ou meia ia fazer, Bobby Moore era o maior dos dramas para qualquer adversário, e a certeza de eficiência e nobreza na grande área para a torcida a favor. Foi capitão do English Team nas Copas de 1966 e 1970 e entrou para a história por suas atuações em ambos os mundiais, ainda mais depois da partida contra a histórica seleção brasileira em 1970, quando Pelé disse que Moore era o maior defensor que ele já havia enfrentado. E com certeza foi. É impossível não se lembrar da atuação de gala do capitão naquele jogo, principalmente no emblemático lance em que desarmou com uma precisão impressionante o craque brasileiro Jairzinho. Certa vez, o técnico do Celtic, Jock Stein, disse que “deveria haver uma lei contra Bobby Moore, pois ele sabe o que vai acontecer 20 minutos antes de todo mundo”. E como sabia. Moore foi e é um ídolo da Inglaterra e do West Ham. O Imortais relembra agora a carreira do maior mestre inglês de todos os tempos no futebol.
Sob a benção de Allison
Natural da zona leste londrina, o jovem Bobby Moore começou a carreira de futebolista aos 15 anos, nas equipes de base do West Ham United. Talentoso desde cedo, o jogador subiu para o time profissional apenas dois anos depois de seu início no clube para substituir seu mentor no time inglês, o ex-jogador Malcolm Allison, que havia encerrado de maneira precoce sua carreira por conta da tuberculose e iniciado trabalhos de técnico e de apoio às jovens promessas, entre elas, Bobby Moore, que herdou a camisa 6 de Allison. Habilidoso, sério e muito eficiente, Moore logo assumiu a titularidade e não saiu mais da equipe. Era o início para o sucesso.
Prodígio
Em 1960, Moore já era um jogador fundamental no esquema do West Ham por sua capacidade de antecipação de jogadas, o que evitava o desgaste e disparos em velocidade, além de ir bem no jogo aéreo. Na mesma temporada, foi convocado pela primeira vez para a seleção inglesa sub-23. Em 1962, pouco antes da Copa do Mundo do Chile, fez sua primeira partida pela seleção principal, na goleada de 4 a 0 sobre o México. Sua atuação de gala não deixou dúvidas no técnico inglês, que convocou o garoto para o Mundial. Na Copa, Moore ajudou a Inglaterra a chegar até as quartas de final, quando foi eliminada ao perder por 3 a 1 para o Brasil. A participação em um Mundial com tão pouca idade foi crucial para formar ainda mais rápido o craque Moore.
Capitão e líder
Bobby Moore tinha apenas 22 anos quando se tornou capitão pela primeira vez da seleção, em 1963, na vitória por 4 a 2 contra a Tchecoslováquia. No mesmo ano, ajudou o West Ham a conquistar a International League Soccer, extinto torneio organizado pelos americanos que tinha a presença de equipes da Europa, Ásia, América do Sul, Canadá e México. Em 1964, a temporada seria ainda mais marcante para Moore. Ele assumiu de vez a braçadeira de capitão da seleção e só deixaria o posto quase uma década depois, em sua despedida do English Team. No West Ham, ele conquistou seu primeiro título nacional: a Copa da Inglaterra, quando o time seguiu invicto até a decisão de Wembley contra o Preston North End. Na campanha, o ponto alto foi a vitória por 3 a 1 sobre o Manchester United. Na final, os Hammers derrotaram de virada o Preston por 3 a 2 e ficaram com o caneco, que garantiu o lugar do time na segunda maior competição europeia da época: a Recopa da UEFA. Moore venceu, também em 1964, o título de jogador do ano pela Associação dos Cronistas Esportivos e ainda superou uma batalha contra um câncer.
Caneco europeu
Na temporada 1964-1965, o West Ham de Moore fez bonito na Recopa. A equipe passou pelo Gent, da Bélgica, na primeira fase, eliminou o Sparta Praha Sokolovo (RCH) e o Lausanne Sports (SUI). Nas semifinais, o time inglês venceu o Real Zaragoza (ESP) por 2 a 1, em casa, e segurou o empate em 1 a 1 na Espanha. Na decisão, o West Ham teve a vantagem de jogar no mítico Wembley contra o 1860 München (ALE). Em casa, Moore e seu time não tiveram dificuldades para vencer o time alemão por 2 a 0, com dois gols de Alan Sealey. O West Ham fazia história e conquistava seu primeiro título internacional, e igualava o feito do Tottenham de 1963 como mais um clube inglês campeão da Recopa. Moore vencia seu primeiro grande torneio e se consagrava de vez como um dos grandes jogadores do futebol mundial. Era a taça que ele precisava para ir embalado para a Copa do Mundo de 1966, que seria realizada pela primeira vez na Inglaterra.
A grande chance de Moore
Capitão da Inglaterra na Copa em que a seleção tinha a honra de disputar em casa, Moore quase não teve esse privilégio pouco antes do Mundial. Insatisfeito no West Ham, ele queria sair do time e entrou em litígio com clube, ficando sem contrato. Coube ao técnico da Inglaterra, Alf Ramsey, intervir no caso para garantir a presença do capitão na Copa. Garantido, Moore pôde mostrar para o mundo de maneira plena todas as suas qualidades. No primeiro jogo da Inglaterra no Grupo 1 da Copa, houve empate em 0 a 0 com o Uruguai. Na sequência, vitórias sobre México e França pelo mesmo placar: 2 a 0. Nessas partidas, o forte esquema defensivo do time inglês e as atuações de Charlton, Hunt e Moore foram cruciais para o sucesso do esquadrão, que aliava perfeição técnica na defesa e a eficiência cirúrgica no ataque. Líderes, os ingleses avançaram as quartas de final para encarar a Argentina.
Rivais batidos
Os ingleses ainda não eram inimigos mortais da Argentina quando ambos os países se enfrentaram nas quartas de final da Copa de 1966 (a Guerra das Malvinas ocorreria apenas na década de 80). Em um jogo muito disputado e tenso no estádio Wembley, os ingleses venceram os argentinos por 1 a 0, gol de Hurst. O jogo ficou marcado pela polêmica expulsão do argentino Antonio Rattín por “indisciplina e pelo olhar controverso” como disse o árbitro alemão Rudolf Kreitlein, mesmo não sabendo nada de espanhol. O argentino ficou mais de 10 minutos em campo exigindo uma explicação e até um intérprete antes de ser retirado do gramado. Mas o caso gerou um fato positivo: a FIFA decidiria a partir de então a instituir cartões em jogos oficiais.
Duelo de gigantes
A Inglaterra teve um páreo duríssimo pela frente nas semifinais da Copa: a seleção de Portugal, do mítico atacante Eusébio, que se tornaria o artilheiro daquele mundial com 9 gols e se consagraria como um dos maiores jogadores portugueses de todos os tempos (para muitos ele é o maior). A Inglaterra sabia da qualidade de Eusébio e do adversário em si e tratou de marcar devidamente os principais nomes portugueses. A tática deu certo e Bobby Charlton abriu o placar aos 30´do primeiro tempo. Na segunda etapa, o craque inglês marcou mais um faltando 10 minutos para o fim do jogo. Eusébio, sempre ele, conseguiu descontar para Portugal, de pênalti, dois minutos depois, mas já era tarde. A Inglaterra venceu por 2 a 1, Moore segurou tudo lá atrás e a equipe se garantiu pela primeira vez na final de uma Copa do Mundo, em casa. O adversário seria a poderosa Alemanha.
Choque épico
O jogo entre Inglaterra e Alemanha se tornaria para sempre um clássico do futebol mundial depois da final da Copa do Mundo de 1966. Mais de 95 mil pessoas lotaram o estádio Wembley para ver de perto duas possibilidades: a coroação da mais brilhante geração de craques da Inglaterra, com Moore, Charlton, Hunt, Banks e Hurst ou o bicampeonato de uma ótima Alemanha, que revelava naquele mundial a joia excepcional chamada Franz Beckenbauer. A Inglaterra jogava num estilo de jogo forte e ofensivo, no que hoje podemos chamar de 4-3-3. Já a Alemanha apostava no 4-2-4 que se tornou mundialmente famoso com o Brasil de 1958. Com equipes tão ofensivas e brilhantes, a final só poderia resultar em uma coisa: muitos gols. Mas também haveria espaço para a polêmica.
A Alemanha abriu o placar aos 12´do primeiro tempo com Haller, deixando o estádio Wembley em choque. Mas o susto não durou muito, pois quatro minutos depois Hurst empatou o jogo. No segundo tempo, Peters virou para a Inglaterra. Mas, faltando um minuto para o fim da partida, a Alemanha conseguiu chegar ao empate na primeira polêmica do jogo. Após uma cobrança de falta, Weber escorou o chute e colocou a bola para dentro do gol de Gordon Banks: 2 a 2. Os ingleses reclamaram demais com o árbitro suíço Gottfried Dienst pelo possível toque de mão do jogador alemão. Dienst ignorou o “chororô” inglês e apitou o final do jogo. A Copa seria decidida na prorrogação.
A maior das polêmicas, o título inglês e a consagração do capitão
Na prorrogação, a Inglaterra mostrou mais poder de decisão e partiu pra cima dos alemães. Depois de muito martelar, eis que aconteceu o lance mais comentado por décadas quando o assunto era Copa do Mundo. O atacante Hurst partiu para o ataque e chutou forte. A bola bateu no travessão e quicou sobre a linha, saindo do gol. O árbitro não estava certo se a bola entrara ou não, por isso, consultou seu assistente, Tofik Bakhramov, que disse ter sido gol. Depois de um momento de indecisão e pelo fato de ambos não falarem claramente a mesma língua, o juiz decidiu por validar o gol. Os ingleses comemoraram muito, mas a própria torcida não sabia (muito menos os milhões de espectadores pelo mundo) se aquela bola havia entrado ou não. Tempo depois, análises mostraram que a bola não cruzou a linha do gol e que a bola estava a 6 cm longe de passar completamente a linha.
Porém, para acabar com qualquer dúvida, Hurst marcou mais um gol no minuto final da prorrogação e decretou o 4 a 2 para a Inglaterra, escrevendo seu nome na história como primeiro e único jogador a marcar 3 gols em uma final de Copa. Era o estopim: a Inglaterra era campeã do mundo. A torcida invadiu o gramado ensandecida de felicidade. Os ingleses, enfim, podiam receber a cobiçada Taça Jules Rimet das mãos da Rainha e fazer a festa em casa. Era um momento mágico para Bobby Moore, que tinha a honra de ser o primeiro inglês capitão e campeão do mundo. O zagueiro se imortalizava de vez como um dos maiores craques da história e um dos mais autênticos. O então técnico da Inglaterra, Alf Ramsey, assim descreveu Moore após a conquista:
“Ele é o meu capitão, o meu líder, o meu braço direito. Ele era a alma e o coração do time. Um jogador de cabeça fria, calculista, a quem eu podia confiar a minha vida. Ele era o profissional supremo, o melhor com quem já trabalhei. Sem ele, a Inglaterra nunca teria vencido a Copa do Mundo.” – Alf Ramsey.
O mundo conhecia a classe do soberano líder do English Team.
Estrela mundial
O sucesso na Copa fez de Bobby Moore um jogador mundialmente conhecido. Ele passou a ter mais respeito no meio futebolístico, passou a aparecer mais na mídia e se tornou intocável no English Team. No final de 1966, o craque atuou em sua 50ª partida pela seleção na vitória por 5 a 1 sobre País de Gales. Ele seguiu como capitão no West Ham, mas sem conseguir títulos. Como a Inglaterra já estava classificada para a Copa de 1970, por ser a campeã, a equipe não precisou disputar as eliminatórias. Porém, a equipe disputou uma série de amistosos, incluindo alguns na América do Sul, que acabaram gerando a maior polêmica na carreira de Moore.
O caso “Bogotá Bracelet”
Pouco antes da Copa do Mundo do México em 1970, Moore sofreu um profundo abalo ao ser acusado de roubo. O caso ocorreu na passagem da seleção inglesa pela Colômbia, para um amistoso contra o selecionado local. O zagueiro foi injustamente acusado pelo roubo de uma pulseira em uma joalheria no saguão do hotel onde a seleção inglesa estava hospedada. O jogador chegou até a ser preso e temeu por sua carreira. O fato abalou a todos, mas logo se viu que ele havia sido vítima de um complô elaborado por uma quadrilha de Bogotá. Tempo depois, as acusações foram retiradas e Moore foi liberado para disputar aquela que seria sua última Copa.
Choque de divindades
Na Copa de 1970, a Inglaterra era uma das favoritas ao título e esteve no grupo 3, ao lado de Romênia, Tchecoslováquia e Brasil. Os ingleses estrearam com vitória por 1 a 0 sobre os romenos, com gol de Hurst. Na partida seguinte, um dos duelos mais esperados, contra o Brasil. O jogo foi extremamente equilibrado e ficou marcado como a partida mais emblemática da carreira de Bobby Moore, que teve uma atuação digna de rei, embora o rei (Pelé) estivesse do outro lado… Moore jogou demais, não deu chances para os rivais e ainda efetuou um desarme em Jairzinho que entrou para a história como um dos mais brilhantes e perfeitos de todos os tempos.
O Brasil venceu por um magro 1 a 0 no jogo mais difícil do time canarinho em busca do tri, mas a atuação de Moore foi só elogio, até mesmo de Pelé, que enalteceu o craque inglês como o mais brilhante defensor que ele já havia enfrentado. A partida ficou marcada, também, pela cena em que Moore e Pelé trocaram as camisas, num encontro épico de dois mitos do esporte. A Inglaterra conseguiu a classificação para as quartas de final da Copa, mas foi eliminada pela Alemanha ao perder por 3 a 2 naquela que foi a última partida de Bobby Moore em uma Copa do Mundo.
Recordes no West Ham e na seleção
Moore seguiu no West Ham até o ano de 1974 e quebrou o recorde de aparições com a camisa azul e grená do time inglês: 646 jogos. Apenas na década de 80 a façanha foi superada pelos jogadores Frank Lampard Sr (pai do craque Frank Lampard) e Billy Bonds. Pela seleção, o craque jogou até 1973, quando a equipe fracassou nas eliminatórias para a Copa de 1974. Moore atuou em 108 partidas, recorde que foi superado posteriormente pelo meia David Beckham (115) e o goleiro Peter Shilton (125).
Depois de deixar o West Ham (que aposentou sua camisa 6), Moore jogou três anos no Fulham, sem conquistar títulos. Veterano, aproveitou as férias de 1976 para jogar nos Estados Unidos, a exemplo de outras personalidades naquela década como Beckenbauer, Pelé e Carlos Alberto Torres. O jogador seguiu em atuações esporádicas até 1978, quando decidiu, enfim, pendurar as chuteiras.
Patrimônio inglês
Depois de encerrar a carreira, Bobby Moore tentou, sem sucesso, a carreira de técnico e também em empreendimentos. Manteve a relação com o futebol apenas por meio de textos para jornais e comentários para rádios e TVs. No final da década de 80 sua saúde começou a piorar e o craque não resistiu a um câncer no intestino, que tirou a sua vida em fevereiro de 1993. Terminava ali a história do maior ídolo do futebol inglês de todos os tempos, a referência máxima em classe e estilo no futebol e o ícone maior quando o assunto é zagueiro. A melhor maneira de descrever Bobby Moore é por meio da dedicatória escrita por Jeff Powell, colunista do jornal Daily Mail e amigo do jogador, cravada na estátua de Moore em frente ao estádio Wembley:
“Jogador impecável. Defensor majestoso. Herói imortal de 1966. Primeiro inglês a levantar o troféu da Copa do Mundo. Filho favorito da Zona Leste de Londres. O maior ídolo do West Ham United. Patrimônio nacional. Mestre de Wembley. Dono do jogo. Extraordinário capitão. O maior cavalheiro de todos os tempos.” – Jeff Powell.
O Imortais reverencia as palavras de Powell, sábias, impecáveis, diretas e perfeitas, como foi o futebol e o jeito de ser de Bobby Moore. Um craque imortal.
Leia mais sobre o West Ham dos anos 1960 clicando aqui.
Leia mais sobre a Inglaterra de 1966 clicando aqui.
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Bobby Moore é o maior zagueiro da história. Quem você imagina que formaria uma trindade de maiores defensores da história ao lado dele?
Boa pergunta, Gabriel! Olha, acredito que os dois nomes certos para essa trindade seriam Franco Baresi e Franz Beckenbauer. Mas temos ainda Domingos da Guia, Scirea, José Nasazzi, Frank de Boer, Figueroa e Gamarra!
E tem uns Nutella que diz que nessa época os defensores eram todos ruins!!!!vê se pode
Franz Beckenbauer e Bobby Moore são os melhores de todos os tempos!!!!