Por Leandro Stein
Qual o objetivo básico de um jogo de futebol? Marcar gols, certo? Você pode até pensar que estamos tentando tirar sarro da sua cara, mas, acredite, o óbvio foi ignorado no dia 27 de janeiro de 1994. Pelo menos da maneira como todos estão acostumados. Bastou um regulamento esdrúxulo para que a partida entre Barbados e Granada fosse virada do avesso. No fim do jogo, as duas seleções ainda queriam balançar as redes. Mas não as da meta adversária.
A maluquice toda começa nos quartel general da Concacaf, durante a organização da Copa Caribenha de 1994. Para aumentar a atratividade da competição, os dirigentes resolveram inovar nas regras: não existiriam empates. Todas as partidas que terminassem com o placar igualado iriam para a prorrogação. E, para alimentar ainda mais os ímpetos ofensivos, o gol de ouro valeria o dobro na tabela. O tiro que parecia certeiro, contudo, saiu pela culatra.
Barbados e Granada se enfrentariam na última rodada do Grupo 1 – que já tinha Porto Rico eliminado – brigando pela única vaga na segunda fase. Para avançar, os barbadianos precisavam vencer por pelo menos dois gols de diferença. Em situações normais, daria para se dizer que os granadinos tinham o regulamento debaixo dos braços. Mas não com a invencionice da Concacaf.
Barbados começou a partida fazendo sua parte. Jogando em casa, o time abriu 2 a 0 no placar. Porém, aos 38 minutos do segundo tempo, Granada conseguiu reduzir a diferença para 2 a 1, em resultado suficiente a sua classificação. Pouco tempo para os anfitriões fazerem o gol que lhes faltava? Não quando se conhecia as regras do campeonato. A três minutos do fim, um defensor e o goleiro barbadiano começaram a tabelar estranhamente na própria área. E eis que o beque enche o pé contra as próprias redes (veja o vídeo abaixo). Loucura? Pura lucidez.
O zagueiro percebera que o empate por 2 a 2 era tão útil para Barbados quanto a vitória por 3 a 1. Afinal, a igualdade no placar garantiria mais 30 minutos de prorrogação. E, se sua equipe marcasse o gol de ouro, que valia o dobro, venceria o jogo por 4 a 2. O suficiente para alcançar a classificação.
O gol contra foi a chave para que Granada também desse conta do que estava acontecendo. E os minutos finais daquela decisão foram insanos. Os granadinos precisavam de apenas um gol, contra ou a favor, já que a vitória ou a derrota por 3 a 2 os beneficiava igualmente. Enquanto isso, os barbadianos tinham o árduo trabalho de defender as duas metas, evitar o tento de qualquer maneira. Conseguiram, levando a partida para o tempo extra, como queriam.
“Eu me senti trapaceado. A pessoa que veio com essas regras devia ir para um hospício. O jogo nunca deveria ter sido disputado, com tantos jogadores correndo confusos em campo. Nossos atletas nunca sabiam a direção na qual atacar, a do nosso gol ou a do gol adversário. No futebol, supostamente você tem que marcar contra o oponente para vencer, não para ele”, declarou na época James Clarkson, técnico de Granada.
A partir da prorrogação, o jogo voltou ao normal. O gol a favor beneficiaria a equipe que o fizesse. E justamente Barbados foi quem saiu vitorioso, marcando o gol de ouro que garantia o 4 a 2 no placar. Logo na fase seguinte, a prorrogação foi abolida. E os barbadianos foram sumariamente eliminados – curiosamente, empatando dois de seus três compromissos. O campeão daquela Copa Caribenha foi Trinidad e Tobago. Que nem de longe merece tanto espaço na história quanto Barbados e Granada, os protagonistas de um jogo prejudicial à sanidade mental.
Em 1998, outra vez o desejo pelo gol contra
Apesar do resultado inusitado, esta não foi a única vez em que dois times buscaram os gols contra. Caso parecido aconteceu na Copa Tigre de 1998. Tailândia e Indonésia já tinham se classificado para as semifinais, mas quem vencesse o jogo enfrentaria o favorito Vietnã. Então, nos minutos finais, quando o placar apontava 2 a 2, os dois times passaram a tentar balançar as próprias redes. Indonésios atacavam a própria meta, enquanto tailandeses a defendiam.
O ‘gol da derrota’ saiu nos acréscimos. O defensor indonésio Mursyid Effendi dominou a bola em sua área e, contra, fez o tento que deu a vitória à Tailândia por 3 a 2. Mas, no fim das contas, a justiça foi feita. Os dois países foram eliminados nas semifinais, tiveram que pagar multa de US$ 40 mil pela atitude antidesportiva e Effendi foi banido do esporte pelo resto da vida.
Este texto foi publicado pelo magnífico site Trivela e cedido ao Imortais. Se você gosta de textos bem escritos e é apaixonado por futebol, ler o Trivela é quase uma obrigação. Acesse o site https://trivela.com.br/ e siga o portal no Facebook (https://www.facebook.com/sitetrivela/) e no Twitter (https://twitter.com/trivela).
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.
Que loucura kk, no jogo da copa caribenha, estava no regulamento(!!?) e os times queriam avançar então vá lá.. Mas no Tailândia X Indonésia, perder pra fugir estando classificado não dá, merecida a punição