Grandes feitos: Tricampeão do Campeonato Argentino (1987-1988, 1990-1991 e 1992-Clausura) e Vice-campeão da Copa Libertadores da América (1988 e 1992).
Time-base: Scoponi; Llop (Basualdo / Fullana), Gamboa (Theiler) e Pochettino (Rossi); Berti (Darío Franco), Berizzo (Jorge Pautasso), Martino e Saldaña (Roberto Sensini); Zamora (Dezotti / Almirón / Ruffini), Domizzi (Batistuta / Lunari / Víctor Ramos) e Mendoza (Balbo / Alfaro). Técnicos: José Yudica (1987-1990) e Marcelo Bielsa (1990-1992).
“The Golden Boys: o melhor Newell´s de todos os tempos”
Por Guilherme Diniz
Após perder um título nacional para o maior rival por causa de uma diferença de apenas um ponto, os rubro-negros de Rosário queriam dar a volta por cima e encerrar de vez um jejum que já durava mais de uma década. E, com um elenco formado nas categorias de base, brilhante com a bola nos pés, efetivo no quesito gols e extremamente sólido, o Newell´s Old Boys levantou um Campeonato Argentino com sobras, muitos louros e o ineditismo de ser o primeiro em solo portenho a levar uma taça nacional só com crias da casa. A partir dali, o clube não parou mais. Vieram reforços, uma final de Libertadores (perdida para o Nacional-URU), um novo “loco” técnico, mais dois títulos nacionais (um deles em plena La Bombonera em uma histórica final contra um favorito Boca) e outra final de Libertadores, dessa vez perdida para o mágico São Paulo de Telê e Raí.
Mas o fato é que aquele Newell´s de 1987 até 1992 foi, sem dúvida alguma, o maior esquadrão já formado pelas bandas do El Coloso del Parque e que encantou a Argentina e a América com um futebol que aliava eficiência tática e técnica nas mesmas proporções. Com Marcelo Bielsa no comando, os leprosos saíram da figuração do futebol portenho para almejar um protagonismo inédito em todos os territórios. Era terrível jogar contra Martino, Llop, Gamboa, Saldaña, Berizzo, Mendoza e tantos outros jogadores que passaram por Rosário naquela época. Teve até um novato chamado Gabriel Batistuta que brincou um pouquinho com a camisa vermelha e preta. Se ele tivesse permanecido por mais tempo, é possível imaginar os estragos ainda maiores que o time rubro-negro teria feito. É hora de relembrar.
O recomeço espelhado nos “Juniors”
Após ser campeão do Metropolitano de 1974, o Newell´s Old Boys teve que amargar anos difíceis, sem títulos e com duas decepções seguidas no começo da segunda metade dos anos 80. Primeiro, em 1985-1986, veio o tropeço inexplicável na Liguilla Pré-Libertadores, um minitorneio que dava ao campeão uma vaga na Copa Libertadores. A equipe passou bem pelas quartas e semifinais e venceu o Boca Juniors no primeiro jogo da decisão por 2 a 0. Mas, na partida derradeira, uma derrota por 4 a 1 sepultou as esperanças de voltar ao cenário internacional. Na temporada 1986-1987, os leprosos – o estranho apelido vem do início do século XX, quando os jogadores do clube foram convidados a participar de um encontro beneficente em prol dos enfermos do “Mal de Hansen”, mais conhecido como “lepra”, no Hospital Carrasco. O rival do clube, o Rosario Central, também foi convidado, mas acabou não indo. Com isso, os rubro-negros começaram a ser chamados pejorativamente de “leprosos”, enquanto que os azuis e amarelos foram tachados como “canallas”. Os apelidos ficaram e resistem até hoje entre os hinchas dos clubes e em toda sociedade esportiva argentina – fizeram uma boa campanha e ostentaram o maior número de vitórias do campeonato, mas o título acabou ficando com o Rosario Central, que terminou um ponto à frente dos rubro-negros (49 a 48).
Para tentar a volta por cima e provar que a campanha do vice não havia sido em vão, o clube contratou o técnico José Yudica, que vinha de um trabalho fantástico no comando do Argentinos Juniors, campeão da Copa Libertadores da América no ano de 1985 (leia mais clicando aqui). Yudica havia montado uma equipe coesa na defesa, criativa com a bola nos pés e perigosíssima no ataque, além de tocar a bola com elegância e qualidade a ponto de dar um sufoco danado à Juventus-ITA de Platini e Laudrup na decisão do Mundial Interclubes de 1985. Yudica chegou à Rosário e pegou um elenco jovem, com todos os jogadores formados nas categorias de base do próprio Newell´s e reforçado por três atacantes que também eram crias rubro-negras: Roque Alfaro, Víctor Ramos e Sergio Almirón. Com a mais pura essência clubista e jogadores identificados com o Newell´s, os leprosos tinham desde o início da temporada fortes chances de brigar pelo título. Com nomes como Scoponi, Sensini, Martino, Llop e Rossi, a equipe aliava muita técnica e força no meio de campo e velocidade no ataque. A partir de agosto de 1987, a torcida poderia esperar grandes apresentações dos novos (e nada velhos!) garotos de Rosário.
Bola no pé e liderança na mão
Após duas goleadas (5 a 1 no Vélez, fora de casa, e 4 a 1 no Deportivo Armenio, em casa) e um tropeço no clássico de Rosário (derrota por 1 a 0 para os canallas), o Newell´s começou a embalar no campeonato nacional a partir da 7ª rodada, quando bateu o Unión (2 a 0, em casa) e permaneceu seis rodadas sem perder, com direito a uma goleada de 5 a 1 sobre o Boca Juniors em plena La Bombonera. Em novembro, após ser derrotado por 1 a 0 para o San Lorenzo, fora, o time rubro-negro voltou a ser imbatível e venceu o Racing de Córdoba por 2 a 0 (em casa), empatou em 2 a 2 com o Gimnasia y Esgrima (fora), venceu o Argentinos Juniors por 2 a 0 (em casa), empatou sem gols com o Independiente (fora), bateu o Instituto de Córdoba por 3 a 0 (em casa), venceu o River Plate, fora, por 2 a 1, e derrotou o Deportivo Español, fora, por 2 a 1.
Jogando de maneira inteligente e com um futebol muito envolvente, o Newell´s já era apontado como franco favorito ao título pela maneira incisiva como atuava tanto dentro como fora de casa. Tal dominância ficou mais explícita no segundo turno, quando o time devolveu o 1 a 0 sobre o Rosario, em fevereiro de 1988, goleou o Boca por 4 a 0, em casa, bateu no Racing, em casa, por 3 a 1, e fez 2 a 1 no Argentinos Juniors fora de casa. Nesse meio tempo, os leprosos empataram algumas vezes e viram sua defesa levar pouquíssimos gols, culpa, também, do goleiro Scoponi, que mostrava enorme segurança na meta e reflexos apuradíssimos. Sensini, Martino e Llop eram outros jogadores que esbanjavam qualidade nos desarmes, na marcação, nas puxadas de contra-ataque e na visão de jogo. Lá na frente, Alfaro era o homem gol e garantia a eficiência do setor (ele foi o artilheiro do time com 13 gols). Nadando de braçadas na liderança, o time contava os minutos para ver o título consolidado. E ele viria com duas rodadas de antecedência.
Campeões para a história
No dia 21 de maio de 1988, o Newell´s lotou seu estádio para o duelo contra o Independiente, do veterano Bochini. Uma vitória dos rubro-negros somada a um tropeço do San Lorenzo daria o título ao clube de Rosário. E, para não ter que se importar com os outros, os leprosos abriram 3 a 0 já no primeiro tempo com dois gols de Rossi e um de Alfaro. Na segunda etapa, Alfaro, Almirón e Balbo ampliaram e decretaram a goleada de 6 a 1 sobre os rojos. No duelo do San Lorenzo, o River vencia por 3 a 2 e dava a taça de bandeja aos rubro-negros. Com a festa já tomando conta das arquibancadas, a torcida invadiu o gramado e nem deixou o cronômetro chegar aos 45 minutos. O Newell´s, depois de 14 anos, era campeão argentino.
Nas duas rodadas seguintes, empate sem gols contra o Instituto e vitória por 2 a 0 sobre o River, em casa, para coroar de vez uma campanha incontestável, única e histórica: 38 jogos, 21 vitórias, 13 empates, quatro derrotas, 68 gols marcados (melhor ataque) e 22 gols sofridos (melhor defesa), além de seis vitórias (três de goleada), três empates e apenas uma derrota contra os chamados “grandes” do país. De quebra, aquela foi a primeira vez que um time sagrou-se campeão argentino utilizando apenas jogadores formados em suas próprias categorias de base, um feito formidável e raríssimo de se ver no futebol mundial (algo semelhante aconteceu lá nos anos 60, com o Celtic-ESC, como o Imortais já relembrou aqui). Soberano em casa, aquele time queria alçar voos ainda maiores. De preferência, por todo continente sul-americano.
Um honroso vice
Na Libertadores de 1988, o Newell´s entrou com a mesma base do time campeão nacional e ainda com aparições de um jovem talento chamado Gabriel Batistuta, que já havia atuado em alguns jogos do Campeonato Argentino e demonstrava enorme talento na hora de concluir a gol e também pelo apetite em chutar de qualquer maneira. No grupo 2, ao lado do compatriota San Lorenzo e dos equatorianos Barcelona e Filanbanco, o Newell´s venceu dois jogos (1 a 0 no Filanbanco e 3 a 0 no Barcelona, ambos em casa) e empatou os outros quatro duelos, conseguindo a classificação em primeiro lugar da chave com a vitória por 1 a 0 no duelo desempate contra o San Lorenzo.
Na fase seguinte, a equipe teve que encarar a altitude de La Paz contra o Bolívar e perdeu por apenas 1 a 0, devolvendo o placar em Rosário. Na decisão por pênaltis, vitória por 3 a 2 e classificação para as quartas de final. Nela, a equipe encarou o Nacional-URU, empatou em 1 a 1 em casa e perdeu por 2 a 1 no Uruguai, dando adeus à competição. Certo? Errado! O regulamento (?) da época acabou classificando o time argentino por ter sido o “melhor perdedor da terceira fase”, algo impressionante e um exemplo (hahaha) de como organizar um torneio continental…
Ressuscitado, o time fez valer a ajudinha da “organizadora” Conmebol e eliminou o rival San Lorenzo com uma vitória por 1 a 0, em casa, e um triunfo por 2 a 1, fora, para delírio da fanática torcida rubro-negra. Na grande decisão, os leprosos voltaram a enfrentar o Nacional e tinham a chance de uma revanche e de entrar para o grupo dos campeões da América. No primeiro duelo, em Rosário, Yudica mandou a campo um trio de ataque formado por Batistuta, Almirón e Alfaro na esperança de furar a retranca uruguaia comandada pelo tarimbado zagueiro Hugo De León.
O jogo foi disputado e tenso, mas o reserva Jorge Gabrich conseguiu, no segundo tempo, marcar o único gol do jogo e que deu a vitória por 1 a 0 aos argentinos. Na volta, no estádio Centenário, o Nacional se impôs, marcou Batistuta sem dó e venceu por 3 a 0, resultado que deu o tricampeonato continental ao tricolor de Montevidéu. Embora tenha amargado o vice, o clube deixou sua torcida bastante feliz pela competitividade demonstrada ao longo daquela temporada.
Llega “el loco”
Após mais duas temporadas sob o comando de Yudica, o Newell´s não conseguiu o bicampeonato nacional e fez mudanças em seu corpo técnico já em 1990. O clube contratou o ex-jogador Marcelo Bielsa, que só tinha como experiência como treinador uma passagem pelo time da Universidade de Buenos Aires, mas a total identificação com o clube de Rosário, que morava em seu coração desde menino. Logo quando chegou, Bielsa reformulou a maneira de jogar do time e tinha a missão de armar um time já sem Batistuta, Sensini, Theiler, Pautasso, Víctor Ramos e vários outros jogadores para não correr risco de rebaixamento (o clube havia sido apenas o 12º colocado nas temporadas 1988-1989 e 1989-1990). Notório mestre em pincelar talentos nas categorias de base, Bielsa incorporou ao elenco Ruffini e Domizi, além de dar mais espaço aos laterais Saldaña e Berizzo e aos zagueiros Pochettino e Gamboa. Com os sempre presentes Martino, Llop e Scoponi, o Newell´s voltava a ter um elenco equilibrado e que seria lapidado ao extremo por Bielsa.
Nos treinamentos, El Loco (apelido que sempre o acompanhou por ser compenetrado no trabalho e pelo estilo verborrágico e cheio de entusiasmo) fazia questão de seus comandados pressionarem bastante a saída de bola dos rivais e buscar o gol a todo instante, além de alternar posições a fim de confundir os adversários e dar mais dinamismo ao futebol praticado. Com isso, jogadores como Saldaña e Llop, por exemplo, não jogariam apenas na lateral e no meio de campo. Eles também seriam capazes de atuar em posições diferentes e até em lados diferentes, como nas vezes em que Saldaña, destro, atuou na esquerda como lateral e até como meio-campista, e Llop jogou mais pela direita como um zagueiro que podia atuar mais aberto, como um lateral, e aparecia no meio para ajudar no ataque.
Ele também queria ver seu time praticando um futebol limpo, sem faltas duras. El Loco odiava o jogo violento e sempre tratava seus atletas com o máximo de respeito e com muita seriedade. Com o tempo, o time foi ganhando qualidade e a maturidade necessária para brigar pelo título do Campeonato Argentino da temporada de 1990-1991, que teria um novo estilo de disputa: dois turnos, com os campeões de cada um realizando a grande final, dividida em dois jogos. O foco de Bielsa seria o Apertura, em 1990, para que o Clausura, em 1991, servisse como preparativo para a decisão e também como treino de luxo para melhorar ainda mais o time e corrigir os erros que pudessem aparecer.
À espera da final
Assim como no ano de seu último título nacional, o Newell´s iniciou a temporada com altos e baixos. Os rubro-negros estrearam com vitória sobre o Platense (1 a 0, em casa), empataram na sequência com o Argentinos Juniors (0 a 0, fora), perderam para o Huracán (2 a 1, em casa), venceram o Unión (3 a 1, fora), bateram Independiente (1 a 0, em casa) e Chaco For Ever (5 a 1, fora) e perderam para o River, em casa, por 1 a 0. No duelo seguinte, em 8 de outubro, os leprosos tinham um clássico contra o Rosario Central em pleno Gigante de Arroyito, local que não via uma vitória do Newell´s desde 1980. Os azuis e amarelos, donos da casa, eram líderes, estavam invictos e tinham um certo favoritismo para o confronto. Mas Bielsa fez daquele jogo um exemplo claro do que seu time era capaz. Desde o primeiro minuto, o Newell´s sufocou o rival em seu próprio campo, foi pleno nos desarmes e na marcação e correu o tempo todo. Como prêmio, o Newell´s venceu por 4 a 3 e só sofreu gols de bola parada. Com a redonda em jogo, só deu rubro-negro, que calou o estádio rival e encerrou um jejum de uma década.
A partir dali, os leprosos não perderam mais e foram campeões do turno com 11 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, com 30 gols marcados (melhor ataque) e 13 gols sofridos (melhor defesa, ao lado do River Plate). No returno, a equipe tirou o pé e foi apenas a 8ª colocada, com o Boca Juniors na liderança. Com isso, a decisão do Campeonato Argentino de 1990-1991 teria xeneizes e leprosos duelando pelo caneco, com o primeiro duelo em Rosário e o segundo em La Bombonera. Seria preciso um bom e elástico placar na ida para que os rubro-negros pudessem ir ao alçapão boquense com mais tranquilidade, ainda mais pela boa fase vivida pelo rival, que tinha vencido o returno sem perder um jogo sequer, mas não teria Batistuta e Latorre, convocados para a Seleção Argentina que disputava a Copa América.
Newell´s épico
No dia 06 de julho, o Newell´s recebeu o Boca em Rosário e venceu por apenas 1 a 0, gol de Berizzo, resultado que não foi muito comemorado para a partida de volta, no dia 09 de julho, em uma La Bombonera simplesmente lotada com mais de 40 mil torcedores xeneizes e pouco mais de 4 mil torcedores rubro-negros na Bandeja Sur Visitante do estádio. Por causa da chuva, o gramado quase não existia e a lama predominava, resultando num jogo cheio de jogadas ríspidas e sem grandes lances. Segurando o 0 a 0 de todas as maneiras, o Newell´s resistiu até o finalzinho do segundo tempo, quando Reinoso, aos 36´, marcou o gol da vitória do Boca que levou o duelo para a prorrogação. Nela, nada de gols e a decisão foi para os temidos pênaltis.
Com a torcida toda a seu favor, o Boca confiava na pressão psicológica que seu estádio poderia impor ao rival para ficar com a taça. Mas o Newell´s estava blindado pela força e entusiasmo de Bielsa e pelo iluminado goleiro Scoponi, que já havia feito uma porção de ótimas defesas no tempo normal e tinha convicção de que iria manter a boa fase também na disputa da marca da cal. Graciani e Claudio Rodríguez caíram nas garras do goleirão rubro-negro e o Newell´s venceu por 3 a 1, conquistando um título nacional histórico em plena La Bombonera, que serviu de palco para uma festa sem precedentes dos leprosos, que permaneceram no estádio mesmo quando as luzes já estavam apagadas. Além do título, o Newell´s ganhou, também, uma vaga na Copa Libertadores de 1992.
Brigando por tudo
No começo da temporada de 1992, Bielsa organizou o calendário para disputar com autoridade tanto o Campeonato Argentino como a Copa Libertadores. Com bons jogadores no time titular e suplentes que davam conta do recado, El Loco queria ganhar tudo e não tinha receio algum do cansaço ou estresse que as competições poderiam causar ao seu time, que já havia alcançado um estado de maturidade exemplar e ganhava elogios diversos por toda Argentina. Era fato que o Newell´s tinha o melhor time do país e também que praticava o melhor e mais dinâmico futebol. Em fevereiro, a equipe estreou com vitória no Clausura ao fazer 2 a 0 no Quilmes, em casa. Três dias depois, aconteceu a estreia dos leprosos na Liberta, contra o San Lorenzo, e o resultado foi catastrófico: 6 a 0 para los cuervos, que se vingaram do revés nas semifinais da competição continental de 1988. Bielsa soube amenizar os estragos daquela derrota rapidamente e fez seus jogadores se concentrarem para o decorrer da temporada.
No começo de março, a equipe venceu o clássico de Rosário por 1 a 0 e jogou panos quentes em uma possível crise. Na Liberta, os rubro-negros emendaram duas vitórias contra Coquimbo Unido-CHI (3 a 0, em casa) e Colo-Colo-CHI (3 a 1, em casa), além de empatar em 1 a 1 com a Universidad Católica-CHI, fora de casa. Nos jogos seguintes, mais duas vitórias (1 a 0 no San Lorenzo, fora, e 2 a 1 no Coquimbo, fora) e dois empates (1 a 1 com o Colo-Colo, fora, e 0 a 0 com a Universidad, em casa), resultados que classificaram os leprosos em primeiro lugar no grupo 1 com quatro vitórias, três empates e apenas uma derrota em oito jogos (vale lembrar que o grupo do time de Rosário foi o único com cinco times. Todos os outros tinham quatro equipes).
No mata-mata, o Newell´s eliminou o Defensor-URU, nas oitavas, com um empate em 1 a 1, fora, e vitória por 1 a 0, em casa. Nas quartas de final, mais um encontro contra o San Lorenzo, que estava engasgado na garganta dos leprosos. E, no primeiro duelo, Pochettino, duas vezes, Zamora e Llop decretaram a goleada de 4 a 0 sobre os cuervos que praticamente selou a classificação para a semifinal. Na volta, o empate em 1 a 1 foi o suficiente para eliminar o San Lorenzo em outro mata-mata continental.
Enquanto isso, no Clausura, o time rubro-negro não tinha rivais e permanecia invicto com 14 jogos sem derrotas, incluindo um histórico 5 a 0 sobre o River Plate em plena Buenos Aires. Só em 06 de junho que a equipe perdeu a primeira (e única) partida no torneio nacional – 1 a 0, para o Estudiantes, fora de casa. Faltavam apenas quatro rodadas para o final e o caneco estava cada vez mais próximo. Mas, antes de levantar o tri na Argentina, ainda restavam compromissos cruciais na Libertadores.
Pênaltis: glória e decepção
Na semifinal continental, contra o América de Cali-COL, o Newell´s só empatou o primeiro jogo, em casa, em 1 a 1, e foi para a Colômbia precisando da vitória por qualquer placar. A equipe fez 1 a 0, com Pochettino, mas os diablos empataram e forçaram a disputa de pênaltis. Na marca da cal, as equipes fizeram um jogo à parte e precisaram de 26 cobranças para definir o finalista. Scoponi, assim como no duelo contra o Boca, foi o herói ao defender os chutes de Bermúdez e Maturana, marcou o seu e selou o placar de 11 a 10 para os leprosos. Outra vez o Newell´s estava em uma decisão continental. E, ao contrário de 1988, por méritos e sem ajudas de regulamentos falhos. No auge da forma, a equipe tinha certeza de que o momento de ser campeão da América havia chegado. Mas, para azar dos rubro-negros, eles teriam que topar de frente com um esquadrão simplesmente estonteante: o São Paulo-BRA de Raí, Cafu, Müller, Palhinha, Zetti e o técnico Telê Santana (leia mais clicando aqui).
No primeiro jogo, em casa, o Newell´s mostrou que era um adversário duríssimo para o campeão brasileiro da época e deu trabalho para o goleiro Zetti. O tricolor também teve suas chances, mas foi o time argentino quem riu por último ao fazer 1 a 0 após Berizzo converter o pênalti cometido por Ronaldão, que colocou a mão na bola dentro da área, aos 39´do primeiro tempo.
Na partida de volta, no Morumbi, o Newell´s foi a campo com o que tinha de melhor para tentar segurar o empate que lhe convinha e a pressão das mais de 100 mil pessoas que entupiram o estádio tricolor – isso porque muita gente ainda ficou do lado de fora. O filme lembrava muito o duelo de 1991 contra o Boca, na decisão do Campeonato Argentino. Bielsa via a repetição de vários elementos, só não queria uma nova e tensa decisão por pênaltis. Os times fizeram um jogo quente, com bolas na trave e muita pressão dos brasileiros, que exploraram a velocidade e o toque de bola diante de um adversário que dificultava as ações com a marcação pressão exercida por todos os seus homens. Após aguentar a primeira etapa, o Newell´s cometeu pênalti em Macedo, aos 20´ do segundo tempo, que foi convertido por Raí. O 1 a 0 levaria o duelo para as penalidades e o goleiro Scoponi trabalhou bastante para segurar o placar.
Ao apito do árbitro, todos os torcedores rubro-negros tinham a convicção que Scoponi seria o herói e o Newell´s calaria o Morumbi como havia calado La Bombonera. Mas, daquela vez, a sorte estava com o São Paulo, que venceu por 3 a 2 após Zetti defender o chute derradeiro de Gamboa. Era o fim do sonho do inédito título continental. Mas Bielsa ainda daria uma alegria à torcida naquele primeiro semestre.
Tricampeões e o adeus ao Loco
Após o vice na Liberta, o Newell´s buscou ânimo para seguir em busca do título argentino. No dia 21 de junho, a equipe foi até a casa do San Lorenzo e aplicou 3 a 0 nos “fregueses”, resultado que embalou a equipe novamente. Nas partidas seguintes, vitória por 2 a 0 sobre o Talleres, em casa, e empate sem gols com o Argentinos Juniors, também em casa. No último jogo, o empate em 1 a 1 com o Platense, fora de casa, selou o terceiro título nacional da equipe num intervalo de seis anos, com 11 vitórias, sete empates, uma derrota, 27 gols marcados e apenas oito sofridos (melhor defesa). Após a conquista, o Newell´s se despediu de seu técnico, que foi seguir carreira no futebol mexicano e virar um dos mais respeitados treinadores do mundo. Sem El Loco, o clube entrou em decadência e só voltaria a brilhar depois de mais de uma década, em 2004, com o título do Clausura como presente atrasado pelo centenário do clube, comemorado em 2003.
Desde então, a torcida leprosa reconhece que aquele período do Newell´s foi, sem dúvida, o melhor e mais glorioso de toda a história do clube. Muito mais que os títulos conquistados, a equipe alcançou um nível fantástico, foi respeitada em todos os cantos do continente e, principalmente, em seu país. Os grandes foram surrados sem dó dentro de suas próprias casas, triunfos épicos foram celebrados sem moderação e ídolos venerados eternamente. Durante seis anos, os leprosos dominaram a Argentina. E, por pouco, não foram os reis da América. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Scoponi: maior e mais querido goleiro da história do clube, Scoponi esteve presente como titular em todos aqueles anos dourados. Começou no clube em 1982 e permaneceu até 1994, tornando-se o segundo com mais jogos pelo clube na história (407 partidas). Dono de reflexos apurados e muito bom em cobranças de pênaltis, fez milagres várias vezes e foi crucial para o grande desempenho do Newell´s naquele período. Esteve no grupo argentino que disputou a Copa do Mundo de 1994.
Llop: um dos polivalentes do sistema defensivo do Newell´s, Llop foi outro ídolo histórico do clube pela eficiência de seu jogo e pela entrega em campo. Técnico com a bola nos pés e ótimo na marcação, o meio-campista era fundamental para o dinamismo do time em campo e também como peça flexível nos vários esquemas do técnico Bielsa. Llop disputou 399 jogos com a camisa rubro-negra e ainda marcou gols importantíssimos nas campanhas dos títulos nacionais.
Basualdo: com 307 jogos, é outro presente na lista dos que mais vestiram a camisa do Newell´s na história. Lateral-direito eficiente, foi titular no time campeão argentino de 1987-1988. Jogou de 1982 até 1988 no clube até se transferir para o River Plate. Pela seleção, foi campeão das Copas Américas de 1991 e 1993.
Fullana: defensor, podia atuar como zagueiro ou lateral, mas não foi titular absoluto. Atuou em algumas partidas do título nacional de 1990-1991, incluindo a decisão contra o Boca.
Gamboa: foi o grande zagueirão do time rubro-negro de 1986 até 1993, atuando como titular em praticamente todos os grandes momentos do time a partir da década de 90. Firme no jogo aéreo e nos desarmes, não brincava em serviço e era um dos jogadores mais utilizados pelo técnico Bielsa. Disputou mais de 100 partidas pelo clube e esteve na Seleção Argentina campeã da Copa América de 1991.
Theiler: foi o capitão do histórico time campeão argentino de 1988, aquele formado apenas por crias da casa. Era alto, técnico e elegante com a bola nos pés, sendo capaz de sair jogando desde sua área sem sofrer problemas com os atacantes rivais. Jogou no clube de 1983 até 1989 e marcou cerca de 17 gols em 240 jogos pelo Newell´s.
Pochettino: o zagueiro debutou no Newell´s com apenas 16 anos e mostrou desde cedo que era muito eficiente e figura de presença marcante, também, no ataque, onde marcava vários gols de cabeça. Foi lapidado por Bielsa e virou titular absoluto do time com partidas muito boas, segurança com a bola nos pés e qualidade nos desarmes e na antecipação. Ganhou algumas chances com a Seleção Argentina a partir de 1998 e foi convocado para a Copa de 2002. Após brilhar no Newell´s, fez carreira no futebol europeu, onde jogou no Espanyol-ESP, PSG-FRA entre outros.
Rossi: foi um dos volantes do time campeão nacional em 1988. Tinha muita qualidade com a bola nos pés e aparecia no ataque para concluir a gol ou dar várias assistências para os companheiros. Foi ídolo da torcida.
Berti: começou na equipe justamente quando Bielsa estava perto de ir embora, mas ainda sim contribuiu bem com boas partidas no meio de campo. Jogou de 1992 até 1995 até se transferir para o Atlas, do México.
Darío Franco: defensor, jogou de 1987 até 1991 no Newell´s e esteve no time que foi campeão nacional em 1988. Não foi titular absoluto, mas cumpriu seu papel.
Berizzo: podia atuar como zagueiro, lateral ou volante sempre com a mesma qualidade e eficiência na marcação e, sobretudo, nas divididas. Raçudo, era um dos mais queridos pela torcida e arma contra equipes complicadas e atacantes habilidosos. Jogou de 1988 até 1993 na equipe.
Jorge Pautasso: com 276 jogos disputados, Pautasso é outro na lista dos que mais vestiram a camisa do Newell´s na história. Defensor, foi titular em várias partidas até perder a titularidade com a chegada de Bielsa.
Martino: é simplesmente uma lenda no clube rubro-negro e dono do recorde de jogos disputados com a camisa do clube na história: 509 jogos. Capitão na era Bielsa e dono do meio de campo, Tata Martino virou lenda com uma regularidade impressionante e ótimas partidas por mais de dez anos. Jogou no clube de 1980 até 1990, de 1991 até 1994 e em 1995. Só não teve mais chances na Seleção Argentina por não ser o preferido de Bilardo, nos anos 80, e por Redondo ter aparecido nos anos 90.
Saldaña: outro recordista em jogos pelo clube (292 partidas), Julio Saldaña foi polivalente no Newell´s por vários anos e atuou como lateral-direito, lateral-esquerdo e meio-campista. Com notável vocação ofensiva, foi uma grande arma para contra-ataques e jogadas de linha de fundo. Cheio de fôlego e muito rápido, foi um dos principais jogadores do time no período. Brilhou de 1989 até 1993 com a camisa rubro-negra.
Roberto Sensini: foi um dos principais defensores e volantes do futebol argentino na virada dos anos 80 para os anos 90 e uma das principais revelações do Newell´s na história. Técnico, com ampla visão de jogo e com ótimo conhecimento tático, foi titular absoluto do time na campanha do título nacional de 1988. Pela Seleção, disputou 60 partidas entre 1987 e 2000. Brilhou no futebol europeu, em especial no grande Parma-ITA da década de 90.
Zamora: teve três passagens pelo Newell´s e esteve presente nas conquistas nacionais de 1991 e 1992. Meia ofensivo, podia atuar aberto pela direita ou até mais centralizado.
Dezotti: o atacante deixou o clube já na temporada de 1988 e perdeu a chance de brilhar nos anos seguintes. Rápido e muito habilidoso, foi revelado pelo próprio Newell´s e foi jogar no futebol italiano. Foi convocado para a Copa de 1990.
Almirón: é um dos maiores artilheiros do Newell´s com 62 gols no futebol nacional e foi um dos destaques do time campeão de 1988. Atuava mais aberto na área e levava bastante perigo para as zagas rivais. É o 6º na lista dos que mais vestiram a camisa rubro-negra com 297 jogos.
Ruffini: atacante, viveu seu melhor momento na campanha do título nacional de 1991, quando marcou vários e decisivos gols.
Domizi: ficou pouco no Newell´s, de 1991 até 1992, e atuou como meia, atacante e centroavante. Após a Libertadores, foi jogar no futebol mexicano.
Batistuta: o craque ficou muito pouco no Newell´s, mas marcou seus gols e cativou a torcida no período em que vestiu a camisa rubro-negra. Foi uma pena ele não ter seguido nos anos 90, pois o clube com certeza teria tido sorte melhor na Libertadores. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Lunari: atuava mais no meio de campo e, às vezes, avançado pela ponta. Jogou de 1991 até 1992 na equipe e foi titular em grande parte da Libertadores e da campanha do título nacional de 1992. Depois disso, foi jogar no futebol chileno e peregrinou por vários clubes da América do Sul e Central.
Víctor Ramos: é o maior artilheiro da história do Newell´s com 104 gols marcados. Fez uma parceria inesquecível com Almirón e Alfaro no título de 1988 e fez história com boa presença de área, oportunismo e velocidade. Para a alegria da torcida, Ramos marcou seu gol de número 100 justamente num clássico contra o Rosario Central, em 1989. E o Newell´s venceu por 5 a 3.
Mendoza: já bastante rodado no futebol sul-americano e até europeu, o atacante paraguaio chegou ao Newell´s em 1991 e permaneceu até 1995. Não brilhou como a torcida esperava, mas fez boas partidas na campanha do título nacional de 1992 e na Libertadores do mesmo ano.
Balbo: outro atacante que foi embora justo no início da época boa. Iniciou a carreira no clube em 1984 e ficou até 1988, perdendo a chance de integrar o melhor Newell´s da história. Bom no jogo aéreo, Balbo fez carreira no futebol italiano, onde brilhou pela Udinese e pela Roma. Integrou os elencos argentinos nas Copas de 1990, 1994 (esta como titular) e 1998.
Alfaro: é o 4º maior artilheiro do Newell´s com 73 gols marcados em 287 jogos. Revelado pelo clube, em 1975, ficou até 1980 e foi jogar em várias equipes, incluindo o River Plate, pelo qual foi campeão da Copa Libertadores de 1986. No retorno ao Newell´s, em 1987, ajudou o ataque da equipe a ser o mais prolífico do campeonato nacional e foi campeão argentino. Rápido e habilidoso, atuava centralizado e também aberto pela esquerda.
José Yudica e Marcelo Bielsa (Técnicos): a dupla fez história com os títulos que conquistou e pela maneira como construíram seus times. Yudica adotou as mesmas táticas dos tempos de Argentinos Juniors e fez o Newell´s jogar com a bola passada de pé em pé e sempre pensando em marcar gols e mais gols. Já Bielsa foi revolucionário ao dar um dinamismo pouco comum no futebol argentino aos leprosos e fazer do time o mais competitivo do país de 1990 até 1992. Sua importância foi tão grande para o clube que em 2009 o estádio El Coloso del Parque passou a ser chamado oficialmente de Estádio Marcelo Bielsa, uma homenagem imortal ao mais imortal dos técnicos da história do clube rubro-negro.
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Jogos mais dificieis que o SP Fez em Libertadores , esse Newell´s era a Base a seleção Argentina que foi bi campeã da Copa America 91 , 93 , Os jogos contra os clubes argentinos em libertadores são sempre complicados e tensos , SP tendo equipe muito superior e ter jogado melhor que o NOB, por pouco nao perdi a libertadores diante do morumbi lotado , como aconteceu em 1994 , aonde tinha tb uma equipe muito superior a equipe do Velez ..
Acompanhei de perto aquela final de 92 contra o meu tricolor mas não sabia que o Newell’s tinha marcado época na Argentina naqueles anos .
Belo texto !
Este grande time do Newell´s foi um dos maiores adversários rumo ao topo que o tricolor jamais combateu.
Bela e justa homenagem!
Umas Sugestões de Craques Imortais:Mario Kempes e José Manuel Moreno
Sugestões anotadas, Bruno! Abs!
Obrigado por imortalizar um clube Argentino ! Sou muito fã do Futebol Porteño,gostaria de ver mais equipes da Argentina imortalizadas…
Valeu Imortais!!! Esse time fez o meu Tricolor suar muito para ganhar a Libertadores de 92!!! Eu acho que esse Newell’s é muito melhor que o Boca Juniors de 2012, quando o Curintia ganhou sua primeira Libertadores.