Por Guilherme Diniz
Nome: Olympiastadion München
Localização: Munique, Alemanha
Inauguração: 26 de maio de 1972
Partida Inaugural: Alemanha 4×1 URSS, 26 de maio de 1972
Primeiro gol: Gerd Müller, da Alemanha, no jogo Alemanha 4×1 URSS em 26 de maio de 1972
Proprietário: Cidade de Munique / Concessão ao Olympiapark München GmbH
Capacidade: 63.118 pessoas
Visto de qualquer ângulo, ele é uma verdadeira obra de arte. E é mesmo, na mais pura essência. Por décadas, foi o principal estádio de Munique e um dos mais icônicos não só da Alemanha, mas do mundo. Diferente de muitos estádios, ele é leve, incorporado à natureza. Remete à mais nobre escola da engenharia e às ideias do genial Frei Otto. E, quando foi erguido, futebolistas e atletas fizeram questão de eternizar aquele estádio com gols, lances mágicos e conquistas inesquecíveis. O Estádio Olímpico de Munique, também conhecido como Olympiastadion de Munique, é, sem dúvida, um dos mais belos estádios do planeta e presente em grandes momentos do esporte.
Foi construído para ser a sede principal dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972 e, em 1974, abrigou cinco jogos da Copa do Mundo, incluindo a final que consagrou a seleção alemã de Sepp Maier, Beckenbauer, Gerd Müller e companhia como bicampeã mundial. Nos anos seguintes, o estádio foi a casa do super Bayern tricampeão europeu, de três finais de Liga dos Campeões da UEFA e da Eurocopa de 1988, quando a Holanda levantou seu primeiro troféu com direito a um gol antológico de Van Basten. Com a construção da Allianz Arena, o Olympiastadion deixou de ser protagonista na cidade, mas é imbatível perto de seu vizinho em história e grandes jogos. É hora de relembrar.
Sumário
Ícone olímpico
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A cidade de Munique já planejava a construção de um estádio desde os anos 1910, conforme o futebol aumentava sua popularidade. A vontade aumentou principalmente após a construção do Estádio Olímpico de Berlim, que se transformou no maior do país e tomou o protagonismo para si. Quando parecia que o projeto ia sair do papel, a eclosão da Segunda Guerra Mundial adiou por mais um tempo tal sonho. Após a Guerra e a conquista da Alemanha na Copa do Mundo de 1954, o futebol virou uma febre no país e milhares de torcedores lotaram os estádios, incluindo os de Munique, com destaque para o Grünwalder Stadion, que comportava 50 mil espectadores após sua reconstrução no pós-guerra. Com o sucesso do TSV 1860 na época, o Grünwalder Stadion começou a ficar pequeno e o debate sobre um novo estádio entrou na pauta novamente, ainda mais pelo fato de a cidade da Baviera ser a única em meados dos anos 1960 a ter dois clubes na Bundesliga – o TSV 1860 e o Bayern. E o pontapé inicial para tal obra começou em 1965, quando Munique oficializou sua candidatura para os Jogos Olímpicos de 1972, cuja principal obra seria exatamente um estádio olímpico e um amplo complexo esportivo.
O governo alemão iniciou um projeto grandioso para transformar a cidade em um centro esportivo de classe mundial. O estádio foi planejado como parte do Olympiapark, um complexo que abrigaria diversas instalações olímpicas. Quando foi lançado o concurso para ver qual equipe de arquitetos e engenheiros iria realizar o projeto, cogitava-se um estádio para 100 mil pessoas, mas logo o plano foi reduzido para pouco mais de 70 mil. Em 1966, Munique foi oficialmente escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional como sede dos Jogos, derrotando as concorrentes Detroit (EUA), Madri (ESP) e Montreal (CAN).
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Após várias etapas, a equipe comandada pelo arquiteto Günter Behnisch e o engenheiro Frei Otto venceu a disputa e a dupla projetou um estádio revolucionário, com uma cobertura de vidro e aço cuja inspiração seria os Alpes bávaros. Essa estrutura, leve e transparente, tinha como objetivo simbolizar uma nova Alemanha, aberta e democrática, em contraste com os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, realizados sob o regime nazista e cujas obras tinham aparência mais pesada, sólida e imponente. Frei Otto foi, sem dúvida, o grande responsável pelo Olympiastadion. O engenheiro aprendeu ao longo de sua carreira a ver as estruturas de outra maneira. Formas naturais e orgânicas representavam o ideal para a arquitetura. Segundo ele, elas permitiam edificações leves, baratas e democráticas, podendo ser até temporárias, cedendo uma condição que permitia ousar sem o risco de destruir caso não funcionasse como imaginado.
Inspirado em elementos como bolhas e até teias de aranha, Otto viu a forma de membranas sustentadas por estruturas leves metálicas e se transformou no grande mestre das coberturas tensionadas. A construção começou em 1968 e durou quatro anos. O estádio foi feito com concreto armado e contou com um teto suspenso inovador, composto por cabos de aço e placas de acrílico, garantindo luminosidade natural e uma estética futurista, que conduzia o torcedor até o estádio de maneira icônica e rara no mundo. Foi o primeiro estádio com teto retrátil e uma inspiração para dezenas de arenas décadas depois.
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Com arquibancadas largas e amplas, porém distantes do gramado, o Olympiastadion não proporcionava uma boa visão do campo e dificultava ao público transmitir energia para os jogadores, mas compensava com seu visual deslumbrante por dentro e, principalmente, por fora. As obras do complexo olímpico custaram 1.35 bilhões de marcos, sendo 137 milhões apenas no estádio e outros 170,6 milhões no teto retrátil. Cerca de 5 mil trabalhadores atuaram na construção do estádio. Ao contrário de outros estádios da época no país, o Olympiastadion de Munique utilizou centenas de estruturas pré-fabricadas, o que ajudou na rapidez e no fluxo da obra.
A ideia do comitê era que o estádio servisse para revitalizar a cidade e melhorar a reputação de Munique no pós-guerra. A inauguração aconteceu na primavera de 1972, com 80 mil pessoas, na vitória da seleção da Alemanha sobre a URSS por 4 a 1, no primeiro jogo da Nationalelf em Munique desde 1940. Tempo depois, em junho de 1972, o Bayern realizou seu primeiro jogo no Olympiastadion, ao golear o Schalke 04 por 5 a 1, na última e decisiva rodada do Campeonato Alemão, e garantir o título em uma campanha histórica com 101 gols marcados, 40 deles anotados por Gerd Müller, um dos maiores artilheiros da história do futebol e autor, também, do primeiro gol do estádio. Já nas Olimpíadas, o Olympiastadion recebeu as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, as provas de atletismo e partidas de futebol, em especial a decisão da medalha de ouro, quando a lendária Polônia venceu a Hungria por 2 a 1 e ficou com o Ouro, com dois gols de Deyna, artilheiro daquela edição dos Jogos com 9 gols.
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No mesmo ano de 1972, o Estádio Olímpico de Munique foi palco fictício de uma cômica partida entre “filósofos alemães” contra “filósofos gregos”. O “jogo” foi uma apresentação do grupo de comédia britânico Monty Python, no qual atores representaram diversos ícones como Schopenhauer, Schelling, Nietzsche, Karl Marx, Aristóteles, Sócrates, Arquimedes, Platão entre outros. Até o jogador Franz Beckenbauer fez uma pontinha, jogando no lado germânico. Quando a bola deveria rolar, ela na verdade ficou parada durante 89 minutos, enquanto todos ficavam pensando, discutindo, enfim, filosofando, além de os atores protagonizarem anedotas muito engraçadas com estilos e frases icônicas dos filósofos em campo. A cena cômica só acabou no último minuto, quando os gregos deram o pontapé inicial e Sócrates marcou o gol da vitória. A partida, na verdade, foi filmada no estádio Grünwalder e teve como imagens de fundo e apoio o Olympiastadion. O “árbitro” da partida foi o chinês Confúcio. Veja abaixo:
Palco da Copa e do Bayern
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O Olympiastadion se tornou rapidamente um dos principais estádios do país após os Jogos e virou um verdadeiro centro esportivo não só de Munique, mas da Alemanha. E ele confirmou tal condição dois anos depois, na Copa do Mundo da FIFA de 1974. O estádio foi palco de cinco partidas; três válidas pelo Grupo 4 – Itália 3×1 Haiti, Polônia 7×0 Haiti e Argentina 4×1 Haiti -, a decisão do terceiro lugar entre Polônia e Brasil (vencida pelos poloneses por 1 a 0) e a grande final entre Alemanha e Holanda, jogo que teve mais de 75 mil pessoas e a lendária Laranja Mecânica abrindo o placar com um minuto de jogo, em gol de pênalti anotado por Neeskens. Aos 25’, Paul Breitner, também de pênalti, empatou e, aos 43’, Gerd Müller virou o jogo para selar a vitória alemã ainda no primeiro tempo.
O título confirmou uma era histórica do futebol alemão e inspirou um dos grandes fornecedores de matéria-prima para aquela seleção: o Bayern München, que iniciou exatamente naquele ano de 1974 uma dinastia na Liga dos Campeões da UEFA (na época chamada de Copa dos Campeões) ao vencer o torneio por três vezes seguidas. Os bávaros realizaram grandes jogos no Olympiastadion e criaram uma simbiose gigantesca com o local, onde emendaram 26 vitórias seguidas entre as temporadas 1971-1972 e 1972-1973, recorde até hoje na Bundesliga. Destaque também para as torcidas, com a mais fanática do Bayern se concentrando na curva sul e a curva norte virando a “casa” da torcida do TSV 1860, que também utilizava o Olympiastadion, embora não tanto quanto o rival.
Finais europeias, shows e a consagração da Holanda
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Após a dinastia do Bayern, o Olímpico de Munique recebeu pela primeira vez uma final de Liga dos Campeões da UEFA em 1979, quando o surpreendente Nottingham Forest-ING de Brian Clough derrotou o Malmö-SUE por 1 a 0 e ficou com o título continental em partida vista por 58.500 pessoas. Um fato já bastante perceptível na época era sobre as condições dos torcedores no Olympiastadion em dias frios. Por conta de sua estrutura e pelo fato de do teto não cobrir todo o estádio, quem se aventurava na área descoberta no inverno sentia muito frio por causa dos fortes ventos que atingiam aquela área. Com isso, era comum, em jogos mais vazios, os torcedores ficarem na parte coberta e a descoberta ficar sem ninguém.
Em 1982, o estádio passou a receber shows musicais e os primeiros a se apresentarem foram os ingleses da banda The Rolling Stones. Depois deles, dezenas e dezenas de artistas se apresentaram no Olympiastadion tais como Bruce Springsteen, Pink Floyd, Michael Jackson, Tina Turner, Prince, Genesis, U2, Guns N’ Roses, Sting, Elton John, Celine Dion, AC/DC, Bon Jovi entre outros. O estádio recebeu também provas de motociclismo, na categoria Speedway, em 1989.
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Em 1988, outro grande evento teve como palco o Olympiastadion: a Eurocopa da UEFA. Foram duas partidas: o duelo Alemanha 2×0 Espanha, na fase de grupos, e a final entre Holanda e URSS, que terminou com vitória laranja por 2 a 0, em gols de Ruud Gullit, aos 32’ do primeiro tempo, e Van Basten, no começo da segunda etapa. Quer dizer, não foi um gol. Foi uma obra de arte, daquelas para ver e rever. O craque recebeu um cruzamento e, de primeira, acertou um chute espetacular que não deu chance alguma ao goleirão Dasayev. Foi a melhor maneira possível para dar ao país o sonhado grande título que havia escapado naquele mesmo gramado, só que na Copa de 1974.
Em 1993, foi a vez do Olympique de Marselha fazer a festa em Munique ao vencer o Milan por 1 a 0 e celebrar o primeiro título de Liga dos Campeões da UEFA conquistado por um clube francês. Quatro anos depois, em 1997, o Borussia Dortmund levantou sua primeira UCL também no Olympiastadion, ao derrotar a favorita Juventus por 3 a 1.
Vareio inglês e perda do protagonismo
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Palco de grandes momentos da seleção alemã, o Olympiastadion acabou entrando para a história da Nationalelf por vias tortas em 2001. Em partida válida pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002, a equipe da casa enfrentou a Inglaterra e foi atropelada por 5 a 1. Isso mesmo. CINCO. Um passeio apoteótico do English Team de Owen, Beckham, Gerrard, Ferdinand, Scholes e Campbell sobre a tão temida Nationalelf. Foi a maior derrota da Alemanha em casa em uma partida oficial na história. E um triunfo que virou até música e serviu para vingar todos os revezes de anos e anos que os ingleses sofreram. Curiosamente, aquela foi a última partida da Alemanha jogando no Olympiastadion, que já sofria na época com as contestações sobre sua usabilidade e conforto se comparado com outros estádios da Alemanha e da Europa, além das exigências cada vez mais rígidas da FIFA.
Ele seguia vivo por conta de seu peso histórico, mas já estava em pauta a construção de outro estádio na cidade, principalmente com a chegada da Copa do Mundo da FIFA de 2006. E, a partir de 2003, começou a ser erguida em Munique a Allianz Arena, que assumiu o posto de principal estádio da cidade e foi uma das sedes do Mundial e também casa do Bayern e do TSV 1860. Sem os grandes clubes da cidade nem a seleção, o Olympiastadion deixou de ser protagonista, mas segue como um ponto turístico e espaço para eventos esportivos e culturais. Em 2012, o estádio sediou inclusive a final da Liga dos Campeões da UEFA feminina, na qual o Lyon venceu o Frankfurt por 2 a 0 e levantou mais uma taça para sua coleção.
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Sua arquitetura ainda é considerada uma referência mundial e o estádio simboliza a inovação e modernidade que marcaram os Jogos Olímpicos de 1972. Atualmente, o estádio é usado para competições de atletismo, eventos musicais e outras atividades esportivas. O Olympiapark ao redor do estádio continua sendo um local popular para turistas e moradores de Munique, mantendo vivo o legado desse marco arquitetônico e esportivo.
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