Nascimento: 20 de julho de 1956, em Dizangue, Camarões.
Posição: Goleiro
Clubes: Canon Yaoundé-CAM (1974-1975 e 1976-1982), Tonnerre Yaoundé-CAM (1975-1976), Espanyol-ESP (1982-1990), Sabadell-ESP (1991-1993), Centre d’Esports l’Hospitalet-ESP (1994) e Bolívar-BOL (1994-1997).
Principais títulos por clubes: 5 Campeonatos Camaroneses (1974, 1977, 1979, 1980 e 1982) e 2 Ligas dos Campeões da CAF (1978 e 1980) pelo Canon Yaoundé.
2 Campeonatos Bolivianos (1996 e 1997) pelo Bolívar.
Principal título por seleção: 1 Copa Africana de Nações (1984) por Camarões.
Principais títulos individuais:
Jogador Africano do Ano: 1979 e 1982
Eleito para o Time do Ano de La Liga: 1982-1983, 1985-1986 e 1988-1989
Eleito para o Time dos Sonhos da África do Século XX: 1998
Eleito para o Time dos Sonhos da África pela IFFHS: 2021
“Lendário Tommy”
Por Guilherme Diniz
O goleiro italiano Gigi Buffon entrou para a história como um dos maiores de todos os tempos. Venceu inúmeros títulos, foi campeão do mundo pela Itália em 2006, realizou defesas impressionantes e foi ídolo de gerações. Mas, antes de começar a jogar futebol, ele teve uma inspiração que o contagiou durante a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Naquele Mundial, a seleção de Camarões fez uma campanha espetacular e se tornou a primeira seleção da África a alcançar uma fase de quartas de final de Copa. E, entre as estrelas daquela equipe, um goleiro se notabilizou com saídas arrojadas do gol, defesas marcantes, reflexos apurados, confiança e imposição: Thomas N’Kono, o camisa 1 que foi simplesmente a referência para Buffon e tido como maior goleiro africano do século XX.
Multicampeão pelo Canon Yaoundé, N’Kono já havia disputado a Copa do Mundo de 1982 quando foi contratado pelo Espanyol-ESP naquele mesmo ano, e abriu as portas para vários jogadores do continente em solo espanhol. Na Catalunha, o goleiro foi absoluto na meta do clube alviazul e alcançou um histórico vice-campeonato da Copa da UEFA em 1987-1988, além de ser eleito por três vezes o melhor goleiro do Campeonato Espanhol. É hora de relembrar a carreira do lendário Tommy.
Sumário
Estrela em Yaoundé
N’Kono nasceu em Dizangue, uma pequena província litorânea de Camarões, e desde pequeno gostou de futebol. Após dar seus primeiros passos no esporte jogando em clubes locais do país, o jovem começou a chamar atenção por sua agilidade, reflexos impressionantes e liderança em campo. Após jogar um tempo no Éclair Douala, N’Kono foi contratado pelo Canon Yaoundé, um dos clubes mais renomados do país, em 1974, quando tinha 18 anos. Rapidamente, N’Kono conseguiu a vaga de titular e virou um dos principais jogadores da equipe.
Os primeiros títulos vieram já em 1974 e 1977, anos nos quais o Canon foi campeão camaronês. Após um breve período no Tonnerre, o goleiro retornou ao Canon em 1976, mesmo ano em que, com apenas 20 anos, N’Kono foi convocado para a seleção de Camarões. Em abril de 2021, o jogador comentou sobre seu início no futebol.
“Comecei com 16 anos na Segunda Divisão e rapidamente passei para o Canon Yaoundé. Os campos eram de terra, e eu jogava de calção. Lá, entre 1973 e 1975, tive a oportunidade de conviver com o ex-goleiro iugoslavo Vladimir Beara, que havia vindo ao país como treinador nacional. Pela primeira vez na minha carreira, um profissional me mostrou a importância do aspecto técnico para os goleiros. Ele construiu um muro com números onde eu tinha que chutar a bola e aprimorar a precisão dos chutes conforme os números que ele ia gritando. Depois, eu precisava tentar agarrar o rebote. Ele me ensinou a aperfeiçoar o soco na bola, a segurar a bola com uma mão e a coordenar o jogo aéreo.” – Thomas N’Kono, em entrevista ao El Confidencial (ESP), abril de 2021.
Em 1978, aconteceu seu primeiro grande momento com o título da Liga dos Campeões da África, conquistada após vitória por 2 a 0 sobre o Hafia, da Guiné, que havia vencido a competição do ano anterior. Jogando muito, N’Kono venceu mais um título nacional em 1979 e, naquele mesmo ano, se tornou o primeiro goleiro a vencer o prêmio de Melhor Jogador Africano do Ano, façanha que credenciou o camisa 1 como um dos melhores jogadores camaroneses de sua geração. Em 1980, venceu outra Liga dos Campeões da África com o Canon, em finais eletrizantes contra o AS Bilima, do Zaire (atual RD do Congo). No primeiro jogo, em casa, empate em 2 a 2. Na volta, em Kinshasa, os camaroneses venceram por 3 a 0 – dois gols de Onguéné e um de Abega – e celebraram mais uma conquista continental.
A primeira Copa e ida à Espanha
No começo dos anos 1980, N’Kono já estava consagrado como o principal goleiro do país e foi um dos talismãs para Camarões conseguir, pela primeira vez, uma vaga em uma Copa do Mundo da FIFA. A equipe africana disputou as Eliminatórias e superou pelo caminho Malawi, Zimbábue, Zaire – este eliminado com um 6 a 1, com show de Roger Milla e Mbida – e Marrocos. Camarões e Argélia conseguiram as vagas africanas para o Mundial e os Leões tinham na época uma seleção muito bem entrosada que tinha como destaques o goleiro N’Kono, o atacante Roger Milla, o centroavante Onguéné, o meia Mbida e o zagueiro Aoudou.
Na Copa, disputada em solo espanhol, Camarões se tornou uma das sensações do torneio. Apesar de não avançar além da fase de grupos, a seleção permaneceu invicta, graças, em grande parte, às atuações heroicas de N’Kono, capitão dos leões naquele Mundial. Na estreia, os africanos empataram sem gols contra o Peru. Depois, a equipe empatou também sem gols contra a forte Polônia de Zmuda, Boniek e Lato. E, no último jogo do grupo, empate em 1 a 1 contra a futura campeã Itália.
“Visto em perspectiva, acho que, se tivéssemos tido mais experiência no aspecto competitivo, poderíamos ter avançado. Tínhamos uma equipe com muito talento e força para chegar à segunda fase, mas não conseguimos. Realmente acredito que a eliminação foi decidida antes, contra o Peru e a Polônia. Anularam um gol válido contra os sul-americanos. Contra os poloneses… Assisti ao segundo tempo, e fomos muito superiores, mas não marcamos”, comentou N’Kono, ao El Confidencial (ESP).
O fato é que a performance do camisa 1 na Copa de 1982 ajudou a colocar o futebol africano no mapa global. Ele também foi um dos pilares do time que venceu a Copa Africana de Nações de 1984, título que fez Camarões se consolidar como uma potência do futebol no continente. Mas, antes, o Espanyol-ESP ficou encantado com as atuações do goleiro no Mundial de 1982 e contratou o camaronês logo após a Copa. Embora estivesse em um país com uma língua totalmente diferente e costumes ainda mais, N’Kono se integrou ao time e mostrou personalidade com os desafios que teria pela frente.
“Lembro-me do primeiro clássico que joguei, contra o Barcelona. Perguntaram-me: ‘Você vai jogar diante de 100 mil pessoas, não vai ficar com medo?’. Eu blefei e respondi: ‘Medo? Não, de jeito nenhum. Estou acostumado, já joguei diante de 120 mil na África’. No começo, eu não prestava atenção a nada, nem ao adversário. Estava focado apenas em fazer uma boa partida e me impor. Só isso. Depois, lembro de ir ao (Santiago) Bernabéu e perceber o respeito que tinham por mim.” – comentou N’Kono, ao El Confidencial (ESP)
Absoluto e o vice na Copa da UEFA
Mesmo jogando em uma época na qual os goleiros africanos raramente eram reconhecidos fora de seus continentes, N’Kono conquistou o respeito da elite do futebol europeu. Sua performance consistente e estilo carismático de jogo o tornaram um dos jogadores africanos mais respeitados no esporte. Ele jogou pelo clube catalão por mais de uma década, acumulando mais de 300 partidas. No Espanyol, N’Kono se tornou uma lenda, admirado não apenas por sua habilidade, mas também por sua longevidade e profissionalismo. Títulos nunca foram o forte do clube, mas, com N’Kono, a equipe pôde sonhar. Principalmente na temporada 1987-1988, ano em que o Espanyol fez uma brilhante Copa da UEFA e alcançou a final.
“Encontramos um time com um grupo forte que já jogava junto há quase seis anos. Depois chegaram ‘Pichi’ Alonso, Ernesto Valverde, Santi Urquiaga, José Javier Zubilaga, ‘El Pipiolo’ Sebastián Losada… Eles nos deram o impulso necessário para formar uma equipe histórica e sólida. Na temporada seguinte, foi um ano difícil porque não existiam rotações e – quase – sempre jogávamos os mesmos, mas na Copa da UEFA fizemos um grande torneio. Eliminamos todos os adversários difíceis que cruzaram nosso caminho.”
Sob o comando do técnico Javier Clemente, os catalães superaram o Borussia Möinchengladbach-ALE (5 a 1 no agregado) e logo na sequência o Milan-ITA, que já era comandado por Arrigo Sacchi e tinha nomes como Galli, Tassotti, Maldini, Baresi, Donadoni, Ancelotti e Gullit! Os espanhóis venceram o duelo na Itália por 2 a 0 e N’Kono ganhou o apelido de “Diabo Negro” da imprensa italiana tamanha sua atuação naquele jogo. Na volta, o 0 a 0 classificou o Espanyol.
“A partida estava programada para às 15:00, um horário ao qual eles estavam acostumados a jogar e nós não. Pois bem, era preciso se adaptar. Às 10:00 da manhã, estávamos comendo espaguete. Aquilo era uma cena curiosa. Mas deu certo. Eu me sentia imparável. Foi um daqueles dias em que tudo dá certo e é impossível que alguém marque um gol contra você. O atacante Paolo Pietro Virdis teve uma tarde amarga; defendi dois ou três lances cara a cara com ele. Depois, ele ficava me olhando o tempo todo, fazendo gestos com a cabeça como se não entendesse nada. E eu estava voando.” – N’Kono, em entrevista ao El Confidencial (ESP).
Após o épico contra o Milan, o Espanyol despachou a Internazionale-ITA (2 a 1 no agregado), o TJ Vítkovice-TCH (2 a 0 no agregado) e o Brugge-BEL (3 a 2 no agregado). Foi uma campanha espetacular e que ficou ainda mais evidenciada após a vitória por 3 a 0 no duelo de ida da final, contra o Bayer Leverkusen-ALE. Os espanhóis poderiam até perder por dois gols de diferença na volta, na Alemanha, que ainda sim o título continental era deles. Mas o Bayer venceu por 3 a 0, com o gol derradeiro anotado pela lenda asiática Cha Bum-kun. O placar levou o jogo para a prorrogação e, depois, para os pênaltis. Na marca da cal, o Bayer venceu por 3 a 2, N’Kono defendeu um pênalti, mas o Espanyol errou três chutes e o título ficou com os alemães.
“Eu sabia, dentro de mim, que ia defender pelo menos um (pênalti). E consegui. Disse aos meus companheiros que precisávamos ter calma para marcar os nossos, mas… Já é coisa do passado, por mais que tenha doído. Lembro que, depois da final, me perdi em uma floresta. Estava tão irritado que não conseguia encontrar nosso ônibus, e havia tantos que acabei me perdendo. Confesso que nunca consegui assistir a esse jogo novamente. Esse e o das quartas de final da Itália-1990 contra a Inglaterra são os únicos dois que não consegui assistir de novo.” – N’Kono, em entrevista ao El Confidencial (ESP).
Consagração na Itália
Aquela derrota na final da Copa da UEFA foi o mais perto que N’Kono chegou de um título pelo Espanyol. Ele seguiria no clube até 1992, mas não levantou nenhuma taça. No período, ajudou Camarões a se classificar para mais uma Copa do Mundo, em 1990, na Itália. E foi na bota que N’Kono e seus companheiros fizeram história ao conduzirem a seleção africana até uma inédita etapa de quartas de final. O impacto daquela seleção foi enorme, principalmente porque eles venceram logo na estreia a então campeã do mundo Argentina por 1 a 0.
Antes daquele jogo histórico, o técnico de Camarões, Valery Nepomnyashchy, cogitou escalar o goleiro Bell no lugar de N’Kono, mas mudou de ideia e o craque foi a campo. N’Kono comentou como Camarões conseguiu neutralizar a Argentina.
“Reforçamos a defesa e nos entregamos ao contra-ataque. Quando Maradona tinha a bola, íamos como leões para cima dele. A marcação que fizemos foi bem intensa, para ser honesto. Ele não conseguiu superar essa situação, e terminamos com dois jogadores expulsos. O tornozelo dele parecia uma bola de tênis. O que aconteceu com Omam-Biyik (autor do gol) foi parte do destino. Dormíamos juntos, e eu dizia de brincadeira para ele descansar, porque marcaria o gol da vitória. E no final, aconteceu”.
Camarões derrotou a Romênia de Hagi por 2 a 1 na sequência (dois gols de Milla) e, no último jogo, perdeu de 4 a 0 para a URSS. Nas oitavas, a equipe africana enfrentou a Colômbia de Valderrama e Rincón e venceu por 2 a 1, com mais dois gols de Milla. Nas quartas, Camarões enfrentou a Inglaterra de Lineker e, após 2 a 2 no tempo regulamentar, acabou levando um gol na prorrogação e foi eliminada. Leia mais clicando aqui!
O ídolo de Buffon
Apesar da eliminação, N’Kono saiu como um dos destaques daquela Copa do Mundo. E um garoto observou atentamente o camaronês durante o Mundial: Gigi Buffon, que nunca escondeu que viu em N’Kono a inspiração que precisava para seguir carreira como goleiro. O italiano ficou deslumbrado com o estilo de jogo do camaronês e como ele saía do gol, socando a bola para longe de sua área, e fez dele um herói a ser seguido. Buffon mencionou N’Kono em uma carta publicada por ele ao Player’s Tribune, em 2019.
Sim, você tinha 12 anos.
A Copa do Mundo de 1990 foi na Itália, sim.
A primeira partida foi Argentina x Camarões no San Siro, sim.
Mas onde você estava durante a primeira partida? Feche seus olhos. Você estava em sua sala, sozinho. Por que não havia amigos com você, como sempre? Você não lembra. Sua avó estava na cozinha fazendo o almoço. E estava tão quente naquele dia que ela fechou todas as janelas para deixar a sala mais fresca. Estava completamente escuro, exceto pelo brilho amarelo da televisão.
O que você vê?
Você vê aquele nome estranho. Camarões.
Você não sabe onde fica Camarões. Você nem sabia que um lugar como aquele existia antes disso. Claro, você conhece a Argentina e Maradona, mas há algo mágico nos jogadores de Camarões. Estava tão quente debaixo daquele sol, mas o goleiro deles ainda estava usando o uniforme completo. Longas calças pretas. Longa camiseta verde com gola rosa. A maneira como ele se move, a maneira como levanta a cabeça, o fantástico bigode. Ele cativa seu coração de uma maneira inexplicável.
Ele é o cara mais legal que você já viu.
O comentarista diz que o nome dele é Thomas N’Kono.
E, então, mágica.
Há um escanteio para a Argentina, e Thomas corre em direção à aglomeração e soca a bola 30 metros no ar. É naquele momento que você descobre o que quer fazer da vida.
Você não quer simplesmente ser um goleiro.
Você quer ser aquele tipo de goleiro.
Quer ser selvagem, corajoso, livre.
Minuto a minuto, vendo a partida, você se torna quem você é. Sua vida está sendo escrita. Camarões marca, e você fica tão nervoso torcendo para eles segurarem o resultado que, fisicamente, não aguenta mais. Levanta-se do sofá. Passa o segundo tempo inteiro andando em volta da televisão. Quando Camarões tem um segundo homem expulso, não aguenta mais ouvir.
Nos últimos cinco minutos, agacha-se atrás da televisão, com o som desligado.
De vez em quando, dá uma olhada para ver o que está acontecendo e depois recua.
Finalmente, você espia, e os jogadores de Camarões estão comemorando. Você corre em direção à rua. Duas outras crianças do bairro fazem a mesma coisa. Todos estão gritando. “Você viu Camarões? Você viu Camarões?”.
Naquele dia, nasce um fogo dentro de você. Camarões é um lugar que existe. Thomas N’Kono é um homem que existe. Você mostrará ao mundo inteiro que Buffon existe.
É por isso que você virou um jogador de futebol. Não por dinheiro e fama. Por causa da arte e do estilo daquele homem Thomas N’Kono. Por causa da alma dele.
Além da admiração por N’Kono, Buffon ainda batizou seu filho, Thomas, com o nome do camaronês! Uma prova máxima da importância do craque africano no futebol.
Últimos anos e aposentadoria
Após a Copa de 1990, N’Kono foi perdendo espaço no Espanyol por conta da contratação do goleiro Vicente Biurrun. Em 1992, ele deixou o clube e jogou por equipes de menor expressão da Espanha. Em 1994, já com 38 anos, foi convocado para sua terceira Copa do Mundo na carreira, mas não entrou em campo nos três jogos de Camarões no Mundial dos EUA. Bell foi o titular nas duas primeiras partidas e Songo’o na derradeira. Os Leões foram eliminados com duas derrotas e um empate. N’Kono deixou Camarões com 63 partidas disputadas entre 1975 e 1994.
Em 1994, N’Kono foi jogar no Bolívar e conseguiu reconquistar, depois de muito tempo, títulos por um clube. Foram duas ligas nacionais em 1996 e 1997 e bons jogos pelos celestes. Em 1997, se aposentou dos gramados e continuou envolvido no futebol, dedicando-se à formação de novos talentos e ao trabalho como treinador de goleiros. Ele trabalhou principalmente no Espanyol, ajudando a moldar uma nova geração de guarda-metas, e sua influência fora de campo é tão significativa quanto sua carreira dentro das quatro linhas.
Em 2000, foi um dos destaques da comissão técnica da Camarões na conquista do Ouro Olímpico, além de estar presente nos títulos da Copa Africana de Nações de 2000 e 2002. N’Knono foi fundamental para a revelação do goleiro Kameni, que brilhou na reta final das Olimpíadas de 2000. Em 2002, inclusive, aconteceu uma situação pitoresca com N’Kono. Antes de a bola rolar no duelo entre Camarões e o anfitrião Mali, na semifinal da Copa Africana de Nações, Thomas N’Kono foi preso e algemado acusado de borrifar “poções de magia negra” no gramado (!). A polícia malinesa alegou que encontrou com N’Kono um amuleto utilizado em rituais de magia e, por isso, decidiu prendê-lo.
Tempo depois, ele foi liberado e voltou aos vestiários do time, mas acabou suspenso do futebol por um ano. Além disso, houve muita discussão e tensão que quase suspendeu a partida. Bem, se N’Kono fez magia ou não, tal artimanha ajudou. Quando a bola rolou, Camarões venceu Mali por 3 a 0, com dois gols de Olembé e um de Foé, e se classificou para mais uma final! Ele comentou sobre esse caso tempo depois.
“Tudo começou no dia anterior à partida. Não nos deixavam entrar no campo. Às seis horas, já estava escuro, e eles diziam que não podíamos treinar. Encharcaram o campo, mas dissemos que íamos treinar mesmo assim. A desculpa foi que o responsável pela iluminação já tinha ido embora. No final, treinamos como pudemos, com o campo encharcado. No dia seguinte, mais problemas. Eu e o primeiro treinador, Wilfred Schaffer, fomos inspecionar o gramado.
De repente, saem dois policiais, depois quatro, depois seis e, por fim, oito. Eles nos agarram pelo pescoço, me jogam no chão, me colocam algemas, dizendo que eu escondi um objeto de magia negra no gol, e nossos jogadores ficam sabendo disso. No final, me libertaram, e eu disse aos nossos meninos que a melhor forma de me vingar seria vencer o jogo. Eles saíram e, aos 30 minutos, já estávamos 3-0 à frente. Diziam que eu era um bruxo e que, quando eu entrava, o time não perdia.”
O fato é que Thomas N’Kono é amplamente reconhecido como um embaixador do futebol africano. Sua trajetória abriu portas para que jogadores do continente fossem mais respeitados e valorizados no cenário global. Em Camarões, ele é uma figura lendária, representando o orgulho nacional e o espírito de superação. Seu impacto transcende o futebol, sendo um exemplo de como o talento e a determinação podem superar barreiras culturais e históricas. Um craque imortal.
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Parabéns pelo texto, Imortais! Já tinha ouvido falar de Thomas N’Kono e aqui pude ver o quanto ele foi histórico para o futebol, seja aonde ele atuou, principalmente pelo Espanyol! Também achei lindo ver o quanto ele inspirou Buffon, que foi um baita goleiro! Realmente, o italiano tinha motivo para ver o camaronês como herói e batizou seu filho com o nome dele!
Mandou bem, Imortais! Thomas realmente foi craque imortal! E um verdadeiro Leão Indomável no gol! Abraço e Feliz 2025!
Obrigado,Miguel! Ótimo 2025 para você! 🙂