Data: 12 de julho de 1998
O que estava em jogo: o título da Copa do Mundo da FIFA de 1998.
Local: Stade de France, Saint-Denis, França.
Juiz: Said Belqola (Marrocos)
Público: 75.000 pessoas
Os Times:
Brasil: Taffarel; Cafu, Aldair, Júnior Baiano e Roberto Carlos; César Sampaio (Edmundo, aos 28’ do 2º T), Dunga, Rivaldo e Leonardo (Denílson, intervalo); Bebeto e Ronaldo. Técnico: Mário Zagallo.
França: Barthez; Thuram, Lebouef, Desailly e Lizarazu; Deschamps, Karembeu (Boghossian, aos 12’ do 2º T) e Petit; Zidane e Djorkaeff (Vieira, aos 29’ do 2º T); Guivarc’h (Dugarry, aos 21’ do 2º T). Técnico: Aimé Jacquet.
Placar: Brasil 0x3 França (Gols: Zidane-FRA, aos 27’ e aos 45’+1’ do 1º T; Petit-FRA, aos 45’+3’ do 2º T).
Cartão Vermelho: Desailly-FRA, aos 23’ do 2º T.
“Allez, Les Bleus: Un… Deux… Trois… Zéro!”
Por Guilherme Diniz
Para o amante do futebol, era a final dos sonhos. De um lado, a anfitriã França, melhor defesa da Copa, com craques em todos os setores do campo, jovens aptos a decidir e torcida toda a seu favor. Do outro, o Brasil – badalado e então campeão mundial -, que se não tinha uma zaga lá muito confiável, era dono do melhor ataque com 14 gols, não havia deixado de balançar as redes em nenhum jogo, contava com um goleiro iluminado, laterais fantásticos, Dunga e Rivaldo vivendo grandes fases e o melhor jogador do mundo no ataque: Ronaldo. Mais de 75 mil pessoas lotaram o Stade de France com a promessa de um jogaço épico, com gols, jogadas plásticas e emoção. Imagine Ronaldo encarando o The Rock Desailly? Imagine Dunga x Zidane? Bem, tudo ficou mesmo na imaginação… Quando a bola rolou, o que se viu foi um jogo de um time só. A França, com uma autoridade impressionante, abriu 2 a 0 já no primeiro tempo em duas jogadas idênticas e aproveitando o grande ponto fraco da seleção brasileira: a jogada aérea. Já havia sido assim na frenética semifinal contra a Holanda, quando Taffarel e as traves tiveram que salvar o Brasil das cabeçadas incessantes de Kluivert. E os erros se repetiram contra a Dinamarca, nas quartas, e Noruega, na fase de grupos.
Na segunda etapa, a França só teve que controlar o jogo e esperar uma oportunidade para fechar a conta com Petit, nos acréscimos, para decretar o elástico e impensável 3 a 0 que deu à França o primeiro título mundial e ao Brasil uma de suas maiores derrotas em Copas. Foi uma surpresa até mesmo para os franceses um placar como aquele em plena final. Para os brasileiros, o revés foi intragável, tido como injusta, “jogo comprado” e roteiro para contos, como o popular “se soubesse a verdade, você ficaria enojado”. Acontece que o Brasil perdeu aquele jogo bem antes. E a França era muito melhor. É hora de relembrar.
Sumário
Pré-jogo
A “final dos sonhos” entre Brasil e França acabou consumada não só pelo talento das duas seleções, mas também por uma pequena “artimanha” do comitê organizador. Em uma entrevista à rádio France Bleu revelada em maio de 2018, Michel Platini, ex-jogador e copresidente do comitê organizador da Copa em 1998, disse que dias antes do sorteio dos grupos, ficou decidido que o Brasil (atual campeão) ficaria posicionado no Grupo A e a anfitriã França no Grupo C – o que faria com que se encontrassem apenas em uma hipotética final caso avançassem em primeiro em suas chaves. O comitê justificou que a seleção detentora do título e a anfitriã poderiam ter o privilégio de escolher as cidades onde iriam atuar naquela primeira etapa da Copa. Tal “manobra” foi utilizada também em 2002 e 2006, mas as finais dos sonhos não aconteceram por causa das eliminações da campeã França em 2002 (já na fase de grupos) e do Brasil e da Alemanha em 2006 (quartas e semifinal, respectivamente).
No Grupo A, o Brasil passou por Escócia (2 a 1) e Marrocos (3 a 0) sem sustos e, mesmo com a derrota para a Noruega no último jogo (2 a 1), avançou em primeiro lugar. Nas oitavas, o time canarinho goleou o Chile (4 a 1), venceu a Dinamarca nas quartas de final por 3 a 2 e eliminou a Holanda na semifinal em um dos jogos mais eletrizantes da história dos Mundiais – para muitos, o melhor da Copa de 1998. Após um primeiro tempo morno, o Brasil começou com tudo e abriu o placar com Ronaldo no primeiro minuto, ao seu estilo. Dali em diante, o Fenômeno provou em cada lance, cada disparada, porque era o melhor do mundo.
Ele só não fez mais uns três gols porque a Holanda tinha Davids e Frank de Boer, que jogaram absurdamente bem naquele dia. A dupla teve um trabalho imensurável para conter aquela máquina vestindo a camisa 9 do Brasil. Ronaldo estava com apetite, queria gols e mais gols. Ele “só” tinha marcado quatro até aquele jogo. Pouco, ele pensava. Mas a Holanda também era um perigo em suas jogadas pelas laterais, principalmente pela direita, aproveitando a ausência de Cafu, suspenso, e jogando nas costas do ineficaz Zé Carlos.
A todo momento, chuveirinhos e mais chuveirinhos chegavam na área brasileira e quase todos ficavam com Kluivert, em fase esplendorosa e um dos maiores cabeceadores da história do futebol holandês. Felizmente, Taffarel estava iluminado e conseguia vencer o duelo particular com o atacante. Mas, quando tudo parecia caminhar para uma vitória brasileira, Kluivert, enfim, acertou uma cabeçada certeira e empatou o jogo faltando pouco para o fim: 1 a 1. Prorrogação. E com o “Gol de Ouro”. Outra vez o jogo pegou fogo, com chances para ambos os lados e muita, muita emoção. A bola não entrou e a decisão foi para os pênaltis. Nela, brilhou Taffarel, que defendeu as cobranças de Ronald de Boer e Cocu e garantiu a classificação do Brasil, melhor ataque da Copa com 14 gols em seis jogos, para a final.
Do outro lado, a França passou sem sustos pela primeira fase com três vitórias em três jogos: 3 a 0 na África do Sul, 4 a 0 na Arábia Saudita e 2 a 1 na Dinamarca. Nas oitavas, os Bleus tiveram que suar muito para vencer o Paraguai de Gamarra por 1 a 0 com um Gol de Ouro anotado pelo zagueiro Laurent Blanc e, nas quartas, não saíram do zero com a Itália, vencendo apenas nos pênaltis por 4 a 3. Na semifinal, a sensação da Copa, a Croácia de Suker, abriu o placar, mas Lilian Thuram fez uma de suas maiores partidas pela seleção na carreira e marcou os dois gols da vitória de virada por 2 a 1 que colocou a França, melhor defesa do Mundial com apenas dois gols sofridos em seis jogos, na decisão de uma Copa do Mundo pela primeira vez.
Com isso, Brasil e França estavam onde todos sonhavam no dia 12 de julho de 1998: no Stade de France, para a final da Copa do Mundo. Todos aguardavam um jogaço. Imagine Ronaldo aprontando para cima de Desailly, Deschamps e companhia? Rivaldo infernizando Karembeu? Taffarel defendendo os chutes de Djorkaeff e Zidane? Enfim, a expectativa era gigantesca. Mas tudo começou a mudar de figura quando a escalação inicial do Brasil apareceu com o nome de Edmundo no ataque. Ele ao lado de Bebeto (!). Sim, Ronaldo estava fora. Como assim? O que havia acontecido? Algo que até hoje gera polêmica e teorias da conspiração.
Às 14h03 daquela tarde, Ronaldo perdeu a consciência ao sofrer uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada, que acabou difundida como convulsão na mídia para facilitar o entendimento. Ele tremeu com violência, sua musculatura enrijeceu, ele babou, mudou de cor, se transfigurou. Roberto Carlos, companheiro de quarto do jogador, rapidamente foi pedir ajuda e encontrou Edmundo, que chamou o Dr. Lídio Toledo. Ele avaliou o jogador e percebeu a convulsão. Na sequência, o médico Joaquim da Mata também avaliou o jogador e pediram para todos que estavam ali no quarto saíssem para que Ronaldo pudesse descansar.
Três horas depois, o jogador foi levado para a Clinique des Lilas, em Paris, para fazer uma bateria de exames. Enquanto era examinado, poucos acreditavam que ele tinha condições de jogo. E ele na verdade nem deveria ser escalado. As primeiras horas após uma crise como essa, segundo os médicos, são as mais perigosas. A pessoa entra num estado de letargia, fica sonolenta, morosa, sem noção do que está passando ou fazendo.
Zagallo não foi comunicado do ocorrido. Só depois. E, enquanto ainda não se tinha uma notícia atualizada e com menos de duas horas para o início do jogo, Edmundo foi escalado. Mas, tempo depois, o técnico recebeu o comunicado dos médicos Lídio Toledo e Joaquim da Mata de que Ronaldo tinha condições de disputar a decisão pelo fato de os exames não acusarem nada. Ainda na clínica, Ronaldo mostrava ansiedade e disse aos médicos que queria jogar e até prometeu marcar um gol. Faltando apenas uma hora para a partida, Ronaldo chegou ao estádio e encontrou Zagallo. O técnico conversou com o atacante e mudou a escalação. Zagallo disse:
“O melhor jogador do mundo pede para jogar, os médicos liberam, vou fazer o quê? Escalei.”
Mas o que pouca gente percebeu era que o Brasil já tinha perdido a Copa ali. Os médicos acabaram pressionados em escalar o jogador muito por causa da expectativa e dos patrocinadores envolvidos. Eles ficaram com o receio de serem culpados em barrar o “melhor do mundo” justo na final. Em caso de derrota do Brasil, a culpa cairia no colo deles. Se fosse qualquer outro jogador, não jogaria. Mas era Ronaldo. “O” cara. Lídio Toledo comentou o episódio:
“Veja minha situação: Ronaldinho diz que está bom e o médico veta. O time perde. No dia seguinte, o jogador declara que estava bem e que fulano-de-tal o barrou. Vou ter que mudar de país. Vou para o Pólo Norte virar esquimó!”. – Lídio Toledo, em entrevista ao repórter Luís Estevam Pereira e publicada no Especial de 35 anos da revista Placar, novembro de 2005.
Mas tudo aquilo foi provavelmente uma consequência de tudo o que Ronaldo passou na França. O excesso de responsabilidade jogado em cima dele, bem como o enorme contingente de pessoas na cola do atacante abalaram emocionalmente o jogador. Com 21 anos, tudo aquilo foi demais para o jovem, que não demonstrava o mesmo carisma e alegria dos tempos de Cruzeiro, PSV, Barcelona e Internazionale. Ele tinha na maioria das vezes o semblante tenso, de uma pessoa com enorme responsabilidade e tido como salvador da pátria, rei.
Na entrada das equipes no gramado, era visível que Ronaldo não estava bem. Ele entrou de cabeça baixa, com os companheiros tentando animá-lo. César Sampaio chegou a dizer que “a todo momento os jogadores olhavam para ele pensando que ele teria uma crise de novo”. Sem nada a ver com isso, a França foi com o que tinha de melhor e sabendo o que fazer para vencer o Brasil: brecar os laterais Cafu e Roberto Carlos, como o técnico Aimé Jacquet havia percebido no duelo entre as duas seleções em 1997, no Torneio da França, que terminou empatado em 1 a 1. Jacquet sabia que o Brasil usava muito a força e talento de seus laterais para construir jogadas de ataque. Por isso, em seu 4-3-2-1, dois volantes teriam a missão de brecar os laterais brasileiros: Karembeu em Roberto Carlos, com a pontual ajuda de Thuram, e Petit na cola de Cafu, com o aporte de Lizarazu. Os meias também teriam funções defensivas e iriam cobrir os espaços. Ou seja, a tática francesa estava toda armada e pensada. Se já seria difícil para o Brasil vencer assim, que dirá com o emocional de todo o grupo abalado?
Primeiro tempo – Zidane…
Em menos de cinco minutos, a França chegou duas vezes com perigo ao gol do Brasil, mas desperdiçou ambas as chances com Guivarc’h, centroavante que pouco produziu naquele Mundial – Jacquet deveria ter optado por Henry ou Trezeguet, jovens e (muito) mais talentosos. A primeira, aos 30 segundos, o camisa 9 protegeu a bola da chegada de Júnior Baiano e chutou de meia-bicicleta, mas a bola bateu na rede pelo lado de fora. E, aos 3’, Zidane tocou por entre as pernas de Aldair até a redonda chegar a Guivarc’h, que chutou fraco para defesa de Taffarel. Aos 6’ e aos 10’, Djorkaeff teve duas chances, uma de cabeça e outra em cobrança de falta, mas sem perigo. O Brasil nada fazia. Ficava preso à marcação francesa e ao ímpeto que os volantes Bleus tinham com a bola nos pés. Quando não precisavam brecar Roberto Carlos e Cafu, Karembeu e Petit iam com a bola à frente, como meias, deixando o Brasil acuado e com seis jogadores franceses em seu campo. Zidane, quando pegava a bola, era perigo constante com seus toques rápidos de primeira e muita movimentação, assim como o time francês, elétrico, ávido, intenso.
No lado ofensivo, o Brasil só chegou aos 20’, quando Roberto Carlos tentou o cruzamento, mas a bola bateu na rede pelo lado de fora. Um minuto depois, Ronaldo apareceu em jogada individual pela esquerda e cruzou fechado. A bola ia para Bebeto, mas Barthez defendeu. Tais lances acordaram brevemente o Brasil, que apareceu mais uma vez aos 23’, em cobrança de escanteio batida por Leonardo, mas a cabeçada pelo centro de Rivaldo foi parar nas mãos de Barthez. Aos 26’, Roberto Carlos tentou evitar a saída, mas a bola foi para escanteio. A cobrança veio e Leonardo, de 1,77m, ficou incumbido de marcar Zidane, de 1,85m. Péssima escolha… O francês subiu obviamente mais alto que o brasileiro e cabeceou forte, parecendo até um chute pro gol, e marcou seu primeiro tento naquela Copa: 1 a 0.
Contestado no início da campanha francesa após ser expulso na fase de grupos e ficar dois jogos suspenso, o camisa 10 renascia no momento em que mais a França precisava dele. O craque vibrou com raiva, como um desabafo aos contestadores. E, de novo, o Brasil levava um gol em jogada aérea… Pouco depois, aos 30’, lançamento para a área e Ronaldo tentou o domínio, mas Barthez saiu do gol e deu um soco na bola. Na disputa, o goleiro se chocou com o atacante brasileiro, que desabou no chão e aumentou a tensão dos brasileiros dentro e fora de campo. A imagem foi forte, mas Ronaldo seguiu em campo.
O gol manteve a França no ataque e a bola passava cada vez mais pelos pés de Zidane, maestro, dono do jogo. Aos 35’, Djorkaeff tentou jogada individual, passou por Júnior Baiano e chutou rasteiro, mas Taffarel defendeu. Aos 39’, Bebeto cabeceou fraco e Barthez defendeu. O troco veio aos 41’, quando Karembeu chutou de fora da área, a bola desviou em Júnior Baiano e sobrou para Petit, que bateu forte, a bola desviou em Júnior Baiano e raspou a trave direita de Taffarel. Três minutos depois, outra jogada de perigo da França e Taffarel fez uma grande defesa após Guivarc’h aparecer sozinho na grande área e chutar fraco. O Brasil tinha muita sorte com a escolha de Jacquet por Guivarc’h… Fosse Henry, o jogo estaria uns 3 a 0.
Mas, se a França não tinha um bom centroavante, tinha um camisa 10 fora de série. Já nos acréscimos, os Bleus ganharam escanteio pelo lado esquerdo. Ao contrário da jogada do primeiro gol, era Dunga quem estava na cola de Zidane. O capitão brasileiro teria ficado furioso com a falha de marcação e disse que iria tomar conta do maestro francês. Só que Zizou apareceu de novo como um foguete e testou sem chance alguma para marcar 2 a 0. Era um baile da França. Um nó tático. O Brasil ainda teve uma falta da intermediária a seu favor, mas o chute de Roberto Carlos não levou perigo. Ao apito do árbitro, a Copa do Mundo era da França. E não havia esperança alguma de reação por parte do Brasil.
Segundo tempo – Paredão azul e golpe de misericórdia
Precisando de um milagre, Zagallo trocou Leonardo por Denílson no intervalo e imaginou um Brasil mais ofensivo e rápido para tentar ao menos um gol nos primeiros 10 minutos. Com isso, o time canarinho ficou mais no setor defensivo dos Bleus, mas a retaguarda dos anfitriões provou porque era a melhor da Copa. Com desarmes pontuais e muita marcação, a França não deixou o Brasil chegar ao gol. E, quando o time sul-americano conseguia um chute, Barthez estava sempre bem posicionado para defender, como aos 11’, em chute forte de Ronaldo. E, quando o arqueiro não segurava, Desailly aparecia para interceptar, como aos 15’, quando The Rock desviou um chute perigoso de Bebeto.
Aos 23’, Desailly fez falta em Cafu e levou o segundo amarelo, ocasionando a expulsão do defensor francês. No entanto, a diferença numérica em nada beneficiou o Brasil, que continuou a pecar nas finalizações e não criou nenhuma chance de gol nos 10 minutos seguintes – nem mesmo com a entrada de Edmundo no lugar de César Sampaio, aos 28’. A França reforçou o meio de campo com a entrada de Patrick Vieira no lugar de Djorkaeff, aos 29’, e o sistema defensivo ficou mais “blindado”. Aos 37’, Dugarry (que entrara no lugar de Guivarc’h) teve uma chance, mas chutou torto e a bola foi para fora.
Ainda mais abatido, o Brasil entrou nos 40’ já derrotado. E, nos acréscimos, após um escanteio sem perigo do Brasil, Dugarry conduziu a bola e iniciou o contra-ataque mortal para selar o título. O atacante tocou na esquerda para Vieira, que lançou Petit em velocidade. O meio-campista invadiu a área e tocou na saída de Taffarel para colocar a bola no fundo do gol do Stade de France: 3 a 0. A França era campeã do mundo pela primeira vez e aplicava o placar mais elástico em uma final de Copa desde os 4 a 1 do Brasil na final da Copa de 1970, no México. Foi, até aquele dia, a maior derrota do Brasil em Copas.
O título consagrou uma geração de futebolistas que começou a despontar no começo da década, no título europeu do Olympique de Marselha, e que deu a volta por cima após a não-classificação da França para a Copa de 1994. Foi a Copa que fez de Zidane um dos maiores nomes da história dos Mundiais e o primeiro a anotar dois gols em uma final de Copa desde o argentino Kempes, na decisão de 1978. Os três gols no duelo contra o Brasil deram à França o melhor ataque do torneio com 15 gols em sete jogos, além da melhor defesa, com apenas dois sofridos.
Após a partida, Zagallo, muito abatido, comentou sobre o desempenho da seleção no jogo durante a coletiva de imprensa reproduzida no jornal Folha de S. Paulo de 13 de julho de 1998:
“Eu estava torcendo para o primeiro tempo acabar. Hoje tivemos um trauma grande, por causa do Ronaldo”. Não era para o Ronaldo ter jogado. Demos a escalação sem ele. Houve grande abatimento psicológico. A equipe estava presa, amarrada. Ronaldo não iria jogar. Demos a escalação sem ele. […] Depois, ele pediu para jogar. Disse ‘eu quero’. Ele estava buscando a artilharia, poderia ter uma luz durante o jogo.”
O fato é que a Copa de 1998 ficou com a melhor e mais equilibrada seleção. Um time forte, que jogou de igual para igual com todos os adversários e que, se não tinha alguém apto para resolver na escalação inicial, contava com talentos no banco de reservas prontos para dar conta do recado. Com isso, perguntar sobre a final de 1998 a um francês traz até hoje um verso da música de Ricky Martin para aquele mundial, La Copa De La Vida, cujo refrão foi devidamente modificado pelos franceses:
“Un, dos, tres! Ole, ole, ole!
Un, deux, trois… Zéro! Ale, Ale, Ale!”
Pós-jogo: o que aconteceu depois?
Brasil: perder de maneira tão categórica uma final de Copa doeu no orgulho do brasileiro, que jamais digeriu aquele revés. Além disso, uma teoria da conspiração foi criada e divulgada por alguns veículos da imprensa dizendo que a Copa de 1998 teria sido “vendida” para que o Brasil vencesse a de 2002. A lenda foi beneficiada pela falta de informação e amadorismo da CBF, a falta de explicação sobre o que aconteceu com Ronaldo na época e os tempos precários de internet. Em 1998, , chegaram a hackear o site da CBF com a publicação do que “aconteceu”, o famoso “O escândalo que todo mundo suspeitava. Se as pessoas soubessem o que aconteceu, ficariam enojadas”, no que foi uma das primeiras fake news da história da web e repassada para centenas de milhares de pessoas por e-mail. Tal texto foi adaptado ao longo dos anos para explicar derrotas acachapantes, como a maior do Brasil em Copas, o 7 a 1 diante da Alemanha em 2014.
Para não alimentar tais devaneios, não publicaremos tal artigo. Mas, se quiser, basta procurar na internet que você facilmente encontrará a pérola, que cita o Brasil como sede da Copa de 2002 (o que não aconteceu), envolvimento da Nike, pagamento de milhões de dólares aos jogadores e outras maluquices. Lendas à parte, é de se pensar como teria sido aquela final com Ronaldo inteiro. Ou mesmo Romário ao lado dele. Ou mesmo Romário no banco para poder entrar no lugar do camisa 9. Como não existe máquina do tempo, o placar foi aquele mesmo. Quatro anos depois, o Brasil deu a volta por cima e, com Ronaldo em boa forma e inteiro, conquistou a Copa de 2002 com dois gols do craque na final contra a Alemanha. Leia mais clicando aqui!
França: vencer a primeira Copa abriu caminho para a seleção francesa alcançar o patamar de uma das maiores do mundo do futebol. Em 2000, o time venceu a Eurocopa e repetiu o feito da Alemanha de 1972-1974, que também venceu Euro e Copa do Mundo em sequência. Na Copa de 2002, porém, o time sentiu a ausência de Zidane (contundido) e foi eliminado já na fase de grupos. Em 2006, a equipe voltou a fazer uma boa Copa do Mundo com vários remanescentes do título de 1998 e… Zidane. Com a braçadeira de capitão, o craque foi um dos responsáveis pela ida dos Bleus até a final. Pelo caminho, a equipe reencontrou o Brasil e voltou a ser carrasco: vitória por 1 a 0, gol de Henry, após cobrança de falta cobrada por Zidane, que fez o que quis naquele jogo e deu até chapéu em Ronaldo. O francês, ao lado de Ghiggia, Paolo Rossi e o time da Alemanha de 2014, faz parte do grupo de maiores carrascos do Brasil em Copas.
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Só não saiu um 7 a 1 nessa partida porque os atacantes eram os péssimos Guivarc’h e Dugarry, ao invés dos excelentes Henry e Trezeguet.
E foi tão armado para que a França fosse campeã que jogador francês foi expulso (e, corrigindo: Não foi o primeiro jogador a ser expulso numa final de Copa. Na final da Copa de 1990, Monzón e Dezotti foram expulsos). E mesmo com um a mais, não só a seleção brasileira não fez gols como ainda levou mais um, mostrando que, se do meio para frente o time era ótimo, do meio para trás, era uma tragédia.
Bem lembrado sobre as expulsões, Ângelo! Já corrigimos! Obrigado! 🙂
Essa história de convulsão não cola. Se fosse realmente uma convulsão, o Ronaldo não poderia jogar, a pessoa ficaria incapaz por muito tempo com risco de acontecer outra vez. Não se escala que não está em condições físico-mentais 100%. Pelo que li no livro Guia Politicamente Correto da história do Futebol, o Ronaldo teve uma crise nervosa e ficou incapacitado, isso afetou os demais jogadores devido à desorganização dentro do elenco, evidente durante toda a Copa.
A vitória da França foi justa por ter o melhor time. Ponto. Abraços ao Guilherme e a toda equipe do Imortais.
Ler texto sobre esse jogo foi dolorido, mas a vitória da França foi indiscutível e o Imortais, claro, não tem culpa nenhuma daquilo e fez um belo trabalho ao colocá-lo nos Jogos Eternos.
Foi o castigo para a Canarinho que foi punida com a teimosia do Zagallo. E a consagração dos Bleus, que entraram de vez na galeria dos titãs do futebol. No entanto, tem que ser lembradas a França de Kopa / Fontaine e a de Platini que, na minha opinião, pavimentaram o caminho para o brilho da equipe de Zidane e cia.
Claro que essa derrota ficou parecendo “nada de mais” perto do Mineiraço. Abraço, Imortais!
Faço minhas as suas palavras com relação ao trabalho do Imortais. Inclusive, acho até que demorou muito para que tivesse um texto sobre essa partida.