Nascimento: 21 de abril de 1955, em Belo Horizonte (MG), Brasil.
Posições: Volante / Meia
Clubes: Atlético Mineiro-BRA (1972-1973, 1974-1983 e 1997), Nacional do Amazonas-BRA (1973-1974), Roma-ITA (1983-1986), Sampdoria-ITA (1986-1992), São Paulo-BRA (1992-1993 e 1995-1996), Cruzeiro-BRA (1994), Lousano Paulista-BRA (1995) e América Mineiro-BRA (1996).
Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Amazonense (1974) pelo Nacional-AM.
6 Campeonatos Mineiros (1976, 1978, 1979, 1980, 1981 e 1982) pelo Atlético Mineiro.
2 Copas da Itália (1983-1984 e 1985-1986) pela Roma.
1 Recopa da UEFA (1989-1990), 1 Campeonato Italiano (1990-1991), 2 Copas da Itália (1987-1988 e 1988-1989) e 1 Supercopa da Itália (1991) pela Sampdoria.
2 Mundiais Interclubes (1992 e 1993), 1 Copa Libertadores da América (1993), 1 Supercopa da Libertadores (1993), 1 Recopa Sul-Americana (1993) e 1 Campeonato Paulista (1992) pelo São Paulo.
1 Campeonato Mineiro (1994) pelo Cruzeiro.
Principais títulos individuais:
Bola de Ouro da revista Placar: 1977 e 1980
Bola de Prata da revista Placar: 1976, 1977 e 1980
MVP do Mundial Interclubes: 1993
Eleito para o Hall da Fama da Roma: 2016
Eleito para o Time dos Sonhos do São Paulo do Imortais: 2021
Eleito para o Time dos Sonhos do Atlético-MG do Imortais: 2021
“O Patrão da Bola”
Por Guilherme Diniz
Quando a bola chegava aos pés daquele jogador de passadas largas e jeito desengonçado, muitos pensavam que em instantes ele iria perder a posse da redonda. Só que a dúvida caía por terra com os dribles, os lançamentos de longa distância, a categoria e os gols feitos e dados por um volante que também podia atuar perfeitamente como meia. Com tanta categoria e talento, ele integrou alguns dos maiores esquadrões do século XX. Primeiro, o Atlético-MG multicampeão mineiro e vice-campeão brasileiro em 1977 e 1980. Depois, a artística seleção brasileira da Copa de 1982. Foi também estrela da Roma bicampeã da Copa da Itália e que por pouco não venceu a Liga dos Campeões da UEFA de 1983-1984.
Virou lenda na Sampdoria campeã de quase tudo no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 e imortal do São Paulo bicampeão mundial em 1992 e 1993. Com um fôlego invejável e muita vitalidade, jogou até os 42 anos. E se consagrou como um dos maiores meio-campistas não só do futebol brasileiro, mas do futebol mundial. Antônio Carlos Cerezo, mais conhecido como Toninho Cerezo, é uma daquelas lendas que dispensam comentários e que revolucionou as equipes que jogou com um futebol único, diferente, imprevisível e surpreendente. Carismático, descontraído e sempre com seu jeito mineiro de ser, Cerezo foi um craque multifuncional, querido por várias torcidas e exemplo de longevidade e amor ao futebol. É hora de relembrar.
Sumário
Dos palcos aos gramados
A personalidade divertida de Toninho Cerezo começou a ser moldada ainda na infância, embora ele tivesse motivos para ser totalmente o oposto de uma pessoa alegre e companheira. O pai de Cerezo era muito famoso em Belo Horizonte como o palhaço Moleza, que fazia a alegria das crianças e dos adultos nos circos da periferia da cidade e também na extinta TV Itacolomi. Ainda criança, Cerezo acompanhava o pai em várias apresentações e fazia uma ponte como o palhaço Dureza até os 8 anos. A mãe de Toninho, Helena Robattini Cerezo, também atuava no entretenimento como atriz de TV, cinema e circo. Só que a vida de Cerezo e sua família mudou repentinamente quando seu pai faleceu vítima de câncer quando o pequeno Toninho tinha apenas 8 anos. Embora fosse famoso, o palhaço Moleza não fez riqueza e deixou para a esposa apenas um barraco no bairro Esplanada e uma pensão de 40 cruzeiros. Dona Helena fez o que pôde para criar Toninho e seus irmãos por meio de suas apresentações e Cerezo ajudou a mãe em diversos momentos.
Entre um trabalho e outro, o garoto não escondia sua vontade de jogar futebol e chutava bolas de jornal, meias e qualquer material nos campinhos do bairro ou no Ferroviário da Esplanada. Em uma das partidas pelo clube, Cerezo foi visto por Zé das Camisas, olheiro que levou o jovem ao Atlético-MG em 1973. Para ganhar experiência, o jovem foi emprestado ao Nacional de Manaus e foi lá que Cerezo teve um exponencial aumento de salário (10 vezes) e conseguiu, enfim, ajudar de maneira considerável as despesas de casa. Ele pegava um pouco para se manter na capital amazonense e enviava cerca de 85% do que ganhava para sua mãe. Ali, Cerezo percebeu que não poderia largar aquela vida. E que seu palco seria outro: o gramado.
O multifuncional
Atuando no meio de campo, Cerezo provocava incertezas quando pegava na bola pelo jeito desengonçado e a maneira como corria. Só que o “coxa-bamba”, como também ficou conhecido, surpreendia com sua visão de jogo, seus passes longos certeiros e um fôlego fora do comum para ir ao ataque e voltar rapidamente para ajudar na marcação, além de dribles secos nos adversários e ousados chapéus. Além disso, ele conseguia criar jogadas e atacar sem deixar espaços na zaga, parecendo ter mais braços e pernas que todo mundo. Sob o comando do ex-técnico atleticano Barbatana, Cerezo foi um dos destaques do Nacional campeão amazonense de 1974 e que conseguiu avançar até a segunda fase do Campeonato Brasileiro da Série A.
Jogando muito, o jovem retornou em 1975 ao Atlético e encantou o técnico Telê Santana, que viu naquele magricela um talento ímpar e capacidade magnífica de marcação, criação e dinamismo. Cerezo era o “multifuncional”, um jogador que podia ser encaixado em qualquer posição do meio de campo. E era assim que ele mesmo gostava de atuar, pois só jogava no meio por saber que “ia tocar constantemente na bola”, por isso, gostava de estar sempre perto da redonda para centralizar as jogadas.
Cerezo assumiu a titularidade do Atlético de maneira instantânea, ainda mais depois da saída de Vanderlei Paiva para o América de São José do Rio Preto. No mesmo ano, foi convocado para a seleção e, em 1976, venceu seu primeiro título pelo Galo – o Campeonato Mineiro, sendo um dos grandes heróis da conquista. Jogando ao lado de craques como Paulo Isidoro, Marcelo Oliveira e Reinaldo, Toninho foi um dos principais destaques do time e faturou naquele ano de 1976 sua primeira Bola de Prata como melhor volante do Brasileirão. O Galo não foi campeão brasileiro – terminou na 3ª colocação – mas a temporada mostrou que o time alvinegro seria um dos mais competitivos do país naquele final de década. E foi mesmo.
Em 1977, a equipe deu show e chegou invicta à final do Brasileirão, com destaque para o artilheiro Reinaldo, autor de impressionantes 28 gols em 18 jogos, média de 1,55 gol por jogo! Boa parte desses gols, claro, originados graças aos passes e lançamentos de Cerezo, que jogou demais naquele ano e venceu, além da Bola de Prata, a Bola de Ouro de melhor jogador da competição. No entanto, o Atlético acabou com o vice-campeonato brasileiro invicto (!) ao perder nos pênaltis a decisão para o São Paulo de Rubens Minelli dentro do Mineirão com mais de 102 mil pessoas. Toninho foi um dos três batedores do Galo que chutou para fora. De nada adiantou a campanha de 21 jogos, 14 vitórias e quatro empates. Graças ao “genial” regulamento, o Galo teve apenas a vantagem de fazer a decisão em casa, não podendo nem ao menos empatar para ser campeão.
A primeira Copa e consolidação
Em 1978, Cerezo foi convocado para a disputa de sua primeira Copa do Mundo na carreira. Mesmo com suas notáveis características ofensivas, o craque acabou “preso” no sistema do técnico Cláudio Coutinho e não conseguiu esbanjar o mesmo dinamismo apresentado no Atlético. Toninho jogou as três partidas da primeira fase, mas foi substituído em duas (contra a Suécia, aos 35’ do segundo tempo, e contra a Áustria, aos 26’ do segundo tempo). Na segunda fase, jogou contra o Peru (vitória por 3 a 0), acabou de fora da partida diante da anfitriã Argentina (empate em 0 a 0) por causa de um desconforto no adutor, retornou na vitória contra a Polônia (3 a 1) e na disputa pelo terceiro lugar contra a Itália (vitória por 2 a 1). No fim, a Argentina acabou campeã, enquanto o Brasil deixou o Mundial invicto.
Cerezo tratou rapidamente de esquecer a decepção na Copa com mais atuações de gala pelo Atlético. Com a chegada de Éder Aleixo, o alvinegro ficou ainda mais forte e terminou com o vice-campeonato brasileiro de 1980, em uma eletrizante e polêmica final contra o Flamengo de Zico. Se o título nacional escapava, o Galo não tinha rivais em Minas e foi campeão estadual de 1978 até 1983 sem dar chance alguma ao rival Cruzeiro. Em 1980, Cerezo venceu mais uma Bola de Prata e outra Bola de Ouro como melhor jogador da competição, provando a todos que vivia uma fase espetacular e sendo o jogador que fazia da maneira mais perfeita a transição rápida da defesa ao ataque, além de ter um poder de desarme fabuloso. E, quando Cerezo partia para o ataque, ninguém o alcançava. Tinindo, o craque estava mais do que pronto para outra Copa do Mundo, em 1982.
O fatídico Mundial
Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. Este foi o meio de campo dos sonhos que o Brasil conseguiu formar na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Um quarteto simplesmente sublime que Telê Santana deu total liberdade para praticar um futebol que encantou a todos no Mundial. Na primeira fase, vitórias sobre URSS (2 a 1), Escócia (4 a 1) e Nova Zelândia (4 a 0) – e um acachapante triunfo por 3 a 1 sobre a Argentina, este já na segunda fase. Em todas as vitórias brasileiras, o público espanhol se encantou com o futebol cheio de classe, vigor, toques inteligentes e gols magníficos do esquadrão canarinho. Cerezo fazia uma parceria impecável com seus companheiros e esbanjava a técnica que todos conheciam e o futebol primoroso que apresentava há anos pelo Atlético.
Depois da vitória sobre a Argentina, o Brasil enfrentou a Itália e só precisava do empate para avançar à semifinal. Só que o jogo começou a favor dos italianos, que fizeram 1 a 0 com pouco menos de cinco minutos. O Brasil respondeu aos 12’, em lindo gol de Sócrates. Mas, aos 25’, aconteceu o lance que marcou por muito tempo a carreira de Cerezo. O volante estava no meio de campo, com a bola dominada, e só precisava efetuar um passe simples para que uma possível jogada de ataque fosse construída. Mas Cerezo errou, Paolo Rossi saiu em disparada como um foguete e fuzilou Waldir Peres: 2 a 1. A Itália estava novamente na frente. Naquele instante, diz a lenda que Cerezo ameaçou chorar, mas levou uma “sacudida” do lateral Júnior para não se abater.
Cerezo seguiu ávido e participou de maneira plena do gol de empate do Brasil. Após receber de Júnior, Falcão dominou a bola e percebeu a marcação de três italianos. No mesmo instante, Cerezo passou em disparada por trás de Falcão e atraiu a marcação adversária para a direita. Falcão notou a artimanha do companheiro e viu o espaço deixado pela zaga. O Rei de Roma ajeitou para o lado oposto, chutou forte e deixou tudo igual: 2 a 2. Só que a Itália ainda marcou mais um gol – o terceiro de Paolo Rossi – e o placar de 3 a 2 classificou os italianos. Era o fim de uma das mais brilhantes seleções da história, que não conseguiu levantar uma Copa assim como a Hungria de 1954 e a Holanda de 1974, também fabulosas, também encantadoras, mas que sucumbiram nas respectivas finais. E o início de contestações da imprensa para com Cerezo, um dos “culpados” pela eliminação. Só que o Brasil perdeu por uma série de fatores e não somente por um erro – leia mais clicando aqui. Cerezo sofreu muito com aquilo, mas com o tempo foi relevando e jamais deixou aquilo interferir em seu desempenho profissional.
“E depois eu chego agora, olho pra trás, isso é o futebol, gente. A gente quer se amargurar… Eu não vou me amargurar, ficar sentido. Joguei numa baita Seleção. Os caras eram os melhores jogadores da época. A maioria, depois, todos nós viajamos, saímos. Fomos jogar. Jogamos. A gente sabia fazer o quê? Jogar futebol. E jogamos um futebol limpo, de toque de bola, dentro de uma mentalidade com o treinador que tinha que era de jogar. Não ganhou… Porque a gente quer ganhar, todo mundo quer ganhar. Mas isso é o esporte, não tem jeito.” – Toninho Cerezo, em entrevista ao SporTV, 18 de abril de 2017.
A ressurreição
Curiosamente, foi no futebol italiano que Toninho Cerezo deu a volta por cima. Já em 1983, o craque aceitou deixar o Atlético e foi jogar na Roma por cerca de 10 milhões de dólares, valor recorde na época. Na Itália, Cerezo ganharia o apelido de Pluto pelo jeitão de jogar e reeditou a parceria com Falcão no meio de campo da Loba. Aliás, o Rei de Roma foi uma figura importante na ida de Cerezo e ajudou o companheiro a se integrar no elenco. Amigos, ficaram ainda mais ligados por toda a vida. Naquele processo, Cerezo teve uma história bem curiosa.
“O Atlético não queria me pagar os 15% da transferência, então eles me deram 3 ternos para “chegar bonito” na apresentação. Só que eles me deram ternos invernais e eu cheguei em agosto! Estava um calor dos infernos! Eu suava que nem um condenado!” – Toninho Cerezo, em entrevista ao programa Bem, Amigos!, do canal SporTV, julho de 2021.
Outra curiosidade do craque é que ele chegava ao treino da Roma algumas vezes de bicicleta porque não suportava o trânsito da capital italiana. Alguns diretores estranharam aquilo e até ficaram com dó, pensando que ele não tinha dinheiro para comprar um carro! Anedotas à parte, Cerezo venceu duas Copas da Itália com direito a gol dele tanto no primeiro jogo da final de 1984, contra o Hellas Verona, quanto na final de 1986, quando fez o gol do título no triunfo por 2 a 0 sobre a Sampdoria. Em alto nível, Cerezo tinha chance de disputar a Copa do Mundo de 1986, mas o craque sofreu uma lesão às vésperas do Mundial e acabou de fora. No entanto, se a comissão tivesse esperado, ele poderia ter jogado, pois se recuperou rapidamente e seguiu atuando pela Roma. A única decepção em seus tempos na Cidade Eterna foi a derrota na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1983-1984 para o Liverpool em pleno estádio Olímpico.
Foi pela Roma que Cerezo teve outra história curiosa: em uma partida contra o Feyenoord-HOL, em amistoso empatado em 1 a 1 disputado no mês de agosto de 1983, o craque percebeu que tinha dificuldades para marcar um jogador rápido e inteligentíssimo, mas que não era tão jovem assim. Cerezo não conseguia dar seus botes precisos nem roubar a bola como estava acostumado. Ao final do primeiro tempo, o tal jogador foi conversar com Cerezo e falou em espanhol: “que coisa boa que você veio pra Roma, Cerezo. Essa nova geração de jogadores te admira demais aqui”. Quando Cerezo percebeu, o jogador era simplesmente Johan Cruyff, com 36 anos, que jogava no clube de Roterdã na época e se preparava para se aposentar! “P****, esse cara é o Cruyff, baralho! Vou dar bote p**** nenhuma”, disse Cerezo em entrevista ao UOL Esporte em março de 2021.
Em 1986, Cerezo trocou a Roma pela Sampdoria e escreveu mais capítulos inesquecíveis em sua carreira. Sob o comando do técnico Vujadin Boskov, a equipe de Gênova explorava muito a velocidade de seus meias e atacantes e o talento de Cerezo, que surgia como um elemento surpresa no ataque, além de seus habituais lançamentos precisos. Jogando ao lado de Mancini, Vialli, Mannini, Vierchowod e companhia, Cerezo virou um ídolo instantâneo, construiu novas amizades, aperfeiçoou ainda mais sua capacidade de preencher os vazios do campo e aparecer de surpresa no ataque e provou logo de cara que tinha estrela ao vencer a Copa da Itália de 1987-1988. Na temporada seguinte, marcou um dos gols da goleada de 4 a 0 sobre o Napoli de Maradona na decisão da Copa da Itália de 1988-1989, garantindo o bicampeonato consecutivo. Mas o auge aconteceu na virada da década, quando Cerezo ajudou a Sampdoria a vencer seu primeiro Scudetto em 1990-1991 e a Recopa da UEFA de 1990-1991.
Na temporada 1991-1992, a Samp disputou sua primeira Liga dos Campeões da UEFA e chegou até a final da competição. Porém, a equipe italiana não resistiu ao forte Barcelona de Johan Cruyff e foi derrotada por 1 a 0, gol de Ronald Koeman. Mas ainda naquele ano, Cerezo teria a chance de se vingar do Barça em outra final: no Mundial Interclubes.
O “vovô” bicampeão mundial
No segundo semestre de 1992, Cerezo foi contratado pelo São Paulo como principal reforço para a disputa do Mundial. Foi o reencontro de Toninho com o técnico Telê Santana, que ganhou um jogador ímpar para que seu esquadrão ficasse ainda melhor do que o time campeão da Libertadores em cima do Newell’s Old Boys. Experiente e com uma enorme bagagem, Cerezo estava ainda melhor no posicionamento, na marcação e na visão de jogo. Seu fôlego de garoto ainda permanecia o mesmo e ele nem de longe aparentava os 37 anos que ostentava na época. O craque conhecia os atalhos do campo e dava passes preciosos, além de marcar seus golzinhos em subidas ao ataque. Telê era fã do futebol do jogador e apostava nele um pouco mais solto pelo meio, Pintado mais recuado dando combate, Raí e Cafu avançados na criação e Palhinha e Müller como atacantes.
Dito e feito, Cerezo foi uma das engrenagens do tricolor no Japão e ajudou a equipe a derrotar o Barcelona por 2 a 1, de virada, e conquistar o título mundial. No ano seguinte, o craque seguiu em alto nível, foi campeão da Libertadores e voltou ao Japão para a disputa de mais um Mundial, dessa vez contra o poderoso Milan. E Cerezo jogou ainda mais do que na decisão de 1992. O craque deu passes sensacionais, fez invertidas de jogo, deu dribles, marcou muito e ainda fez um gol na épica vitória por 3 a 2. Era o volante artilheiro aparecendo de novo em uma final! Para coroar a atuação mágica, Cerezo venceu o prêmio de Melhor Jogador da final e ganhou um carro da patrocinadora! O craque foi um líder do grupo após a saída de Raí para o Paris Saint-Germain e esbanjou tanta confiança que levou uma garrafa de champanhe para o vestiário com a certeza de que ela iria ser aberta após a partida.
“Estávamos mais determinados por causa do sabor da conquista anterior (em 1992). O Cerezo foi importante para superarmos a ausência do Raí, e estava tão confiante que, ainda no vestiário, antes do jogo, levou uma garrafa de champanhe e deixou lá, com a promessa de que iríamos comemorar.” – Zetti, goleiro do São Paulo em 1993, em entrevista ao globoesporte.com, 12 de dezembro de 2008.
Mais um título e aposentadoria
Em 1994, perto dos 40 anos, Cerezo voltou ao futebol mineiro para uma curta estadia no Cruzeiro, onde chegou com certa desconfiança da torcida azul por conta de seu passado no rival Atlético – ele só foi para a Raposa por não gostar do presidente do Galo na época e por ser dono do próprio passe, além de ter alguns amigos no clube azul. No entanto, Cerezo mostrou profissionalismo e ajudou a Raposa a conquistar o Campeonato Mineiro de maneira invicta, com 17 vitórias e cinco empates em 22 jogos. O meio-campista foi um dos principais garçons de um moleque que gastava a bola com a camisa azul na época: um tal de Ronaldo…
Meses depois, já sem o Fenômeno, o Cruzeiro perdeu força ofensiva e fez um péssimo Campeonato Brasileiro. Flertando com o rebaixamento, a Raposa só se salvou na penúltima rodada graças a uma vitória de virada sobre o União São João por 3 a 2, com o gol do triunfo anotado por Cerezo, que comentou no já citado programa Bem, Amigos! que ficou na dúvida se fazia ou não o gol.
“Quando a bola veio eu não sabia se cabeceava pra fora ou pra dentro, porque os atleticanos iriam me matar se fosse gol! Mas a bola entrou e eles ficaram doidos comigo rsrsrs”
Após a estadia no Cruzeiro, Cerezo passou brevemente pelo São Paulo, pelo Lousano Paulista, pelo América e encerrou a carreira de vez em 1997, aos 42 anos, pelo Atlético, pelo qual conquistou a Copa Centenário de BH, torneio que reuniu equipes do Brasil e também do exterior como Milan-ITA, Benfica-POR e Olimpia-PAR. O último jogo de Cerezo foi o empate em 2 a 2 contra o Milan-ITA, no Mineirão, e o craque, vestindo a camisa 100, foi ovacionado pela torcida. Aquele foi o jogo de número 400 de Cerezo pelo Atlético.
Vencedor e Imortal
Após pendurar as chuteiras, Toninho Cerezo virou treinador e teve uma passagem marcante pelo Vitória-BA, levando o rubro-negro até a semifinal do Brasileirão de 1999. Ele ainda passou pelo Galo, Guarani e Sport, mas brilhou mesmo no Kashima Antlers-JAP, pelo qual venceu cinco títulos: dois Campeonatos Japoneses, duas Copas da Liga Japonesas e uma Copa do Imperador entre 2000 e 2005, além de uma Copa Suruga em 2013 diante do São Paulo. Em 2008, venceu um Campeonato dos Emirados Árabes Unidos pelo Al-Shabab-EAU. O último trabalho de Cerezo como treinador foi em 2015, no Kashima, e desde então espera uma nova oportunidade.
Sempre sorridente e brincalhão, Cerezo é figura fácil em programas de TV e entrevistas, além de ser homenageado vez ou outra pelos clubes que jogou. Multivencedor, craque e presente em esquadrões memoráveis, o meio-campista é considerado até hoje um dos maiores de todos os tempos. Motivos nunca faltaram. Futebol, idem. No meio de campo, ele era o Patrão da Bola. E virou imortal do futebol.
Números de destaque:
Disputou 400 jogos e marcou 53 gols pelo Atlético.
Disputou 104 jogos e marcou 25 gols pela Roma.
Disputou 216 jogos e marcou 25 gols pela Sampdoria.
Disputou 72 jogos e marcou 7 gols pelo São Paulo.
Disputou 57 jogos e marcou 5 gols pela Seleção Brasileira.
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Texto incrível sobre o Toninho Cerezo. Por favor, no próximo craque imortal eu gostaria de ver o Arjen Robben, que se aposentou recentemente neste ano de 2021.
Sou cruzeirense, quando joguei na cabeça da área minha inspiração sempre era Cerezo, adorava os passes e o fôlego de menino, voluntarioso mas extremamente inteligente, grande Cerezo.