Grandes feitos: Campeão da Copa Sul-Americana (2018), Campeão da Copa do Brasil (2019), Campeão da Copa Levain/Conmebol (2019) e Bicampeão do Campeonato Paranaense (2018 e 2019). Conquistou o primeiro grande título internacional da história do clube.
Time-base: Santos; Jonathan (Khellven / Madson); Thiago Heleno (Robson Bambu), Léo Pereira (Paulo André) e Renan Lodi (Márcio Azevedo); Lucho González (Wellington) e Bruno Guimarães (Camacho); Marcelo Cirino (Rony), Raphael Veiga (Bruno Nazário / Léo Cittadini) e Nikão (Éderson / Marcinho / Braian Romero); Pablo (Bérgson / Marco Ruben / Thonny Anderson). Técnico: Tiago Nunes.
“O Retorno do Furacão”
Por Guilherme Diniz
Depois de tomar para si o título do Campeonato Brasileiro de 2001, aquele Furacão queria mais. Pensava grande. Queria ganhar força e levar seus ventos para além. Queria dominar o continente. Nada mais justo para um clube que vinha de uma verdadeira revolução, que culminou com a construção do então mais moderno estádio do país, a Arena da Baixada. A chance veio em 2005, mas ruiu diante do São Paulo. Aquele revés abalou bastante. E, em 2011, os ventos esmaeceram de vez com a queda para a Série B do Brasileirão. Mas veio a volta por cima com o retorno já no ano seguinte e, em 2013, um 3º lugar na Série A e o vice-campeonato da Copa do Brasil. Foi então que, em 2018, o rubro-negro promoveu uma nova revolução. Mudou de escudo (!). Mudou de nome (!!). Mudou sua identidade. E os ventos retornaram com tudo, causando estragos ainda maiores que em 2001.
A sonhada glória continental veio com todos os ingredientes de drama (jogo difícil, prorrogação e vitória nos pênaltis). E, no ano seguinte, a primeira conquista da Copa do Brasil aconteceu, curiosamente, onde o sonho da América de 2005 começou a ruir: no estádio Beira-Rio. A diferença era que do outro lado estava o dono da casa, o Internacional. E, mesmo diante de quase toda torcida contra, barulho e clima hostil, o Furacão arrasou aquela terra. Venceu. E tornou o Athletico o mais glorioso clube do Paraná, deixando o rival Coritiba sem rumo. Foram anos mágicos. Anos de revelações. De novos ídolos. Da metamorfose do Atlético ao Athletico. É hora de relembrar.
Uma nova retomada
Desde 2011 que o Athletico (na época Atlético) vivia altos e baixos que tornavam a vida de seu torcedor um verdadeiro “furacão de emoções”. Em 2011, ano no qual começaram as obras de modernização e finalização da Arena da Baixada, o time caiu para a Série B do Brasileiro. Após superar o purgatório da Segundona, vieram os “quases” de 2013 no Brasileirão (3º lugar) e na Copa do Brasil (vice-campeonato). Em 2014, a Arena da Baixada se consolidou de vez como um dos principais do país após receber quatro jogos da Copa do Mundo de 2014 – Irã 0x0 Nigéria, Austrália 0x3 Espanha, Equador 2×1 Honduras e Argélia 1×1 Rússia.
Em 2015, o estádio foi o primeiro da América Latina com teto retrátil, e, em 2016, o primeiro estádio do Brasil com gramado sintético aprovado pela FIFA. Só que, nesse período, o clube voltou a passar por maus bocados quando teve que disputar o chamado “Torneio da Morte” do Campeonato Paranaense de 2015 para escapar do rebaixamento, enquanto no Brasileirão a equipe terminou apenas na 10ª colocação. Em 2016, o time reconquistou o Campeonato Paranaense, terminou em 6º o Brasileirão e, em 2017, foi vice no Estadual e 11º no Brasileirão.
Com mais baixos do que altos, o rubro-negro entrou em 2018 pensando grande. Com a manutenção de parte do elenco – a principal baixa foi o goleiro Weverton, negociado junto ao Palmeiras – o Furacão trouxe novos nomes como o meia Raphael Veiga e o zagueiro Léo Pereira e conseguiu renovar o vínculo com o experiente meio-campista Lucho González. Quem também chegou foi Tiago Nunes, técnico que vinha de um notável trabalho no Veranópolis, quando levou o clube às quartas de final do Campeonato Gaúcho de 2017. A princípio, o treinador teria como missão comandar o elenco sub-19 do Furacão, mas o ofício era de imensa responsabilidade, afinal, o rubro-negro iria disputar exatamente com esse time o Campeonato Paranaense, enquanto o principal, comandado na época por Fernando Diniz, teria no radar o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana.
Tiago Nunes sabia que um bom trabalho no Estadual iria definir seu futuro no clube e possivelmente alçá-lo ao time principal caso Fernando Diniz não conseguisse bons resultados. Em entrevista ao site esportesul.com, Nunes comentou sobre aquele desafio.
“A maior contribuição que eu posso dar é acelerar o processo de maturação dos atletas que chegam ao profissional. O objetivo é passar um pouco da ‘bagagem’, da demanda que o futebol profissional pede, para que possamos encurtar o mais rápido possível o espaço entre o jogador da Formação e o jogador que serve o elenco principal”.
Com passagens por 22 clubes e muita experiência em categorias de base, Nunes era o nome certo para fazer a ponte entre os jovens e o elenco profissional. Com nomes promissores como Renan Lodi, Bruno Guimarães, entre outros, a chance de título no Estadual era enorme. E de todos eles brilharem no time principal, idem.
A taça e as “subidas”
O Furacão, de fato, sobrou no Estadual e foi campeão sem grandes problemas. Na chamada Primeira Taça, o time foi líder de seu grupo e avançou às semifinais, mas caiu nos pênaltis diante do Rio Branco. Na Segunda Taça, mais uma vez o rubro-negro foi líder de sua chave e, nas semifinais, goleou o Maringá por 5 a 0. Na final, o triunfo por 1 a 0 sobre o Londrina garantiu a vaga do time da Baixada na decisão contra o rival Coritiba. Na ida, no Couto Pereira, derrota por 1 a 0 – a única em toda a competição. Na volta, em casa, o Furacão se impôs, e, com gols de Bruno Guimarães e Éderson, venceu por 2 a 0 e selou a conquista estadual. Falando em Éderson, o atacante marcou 9 gols e se tornou o artilheiro do campeonato.
O que chamou a atenção ao longo do torneio foi a maneira como o Furacão jogou. Com um futebol muito envolvente, rápido e prolífico – os 7 a 1 sobre o Rio Branco e os 5 a 0 sobre o Maringá foram os pontos altos do ataque rubro-negro – a Piazada deu várias alternativas para o elenco profissional – que naquela metade de 2018 precisava mesmo de ajuda. Sob o comando de Fernando Diniz, o Furacão vinha muito mal no Brasileirão – era o vice-lanterna da competição em junho – e sofrendo demais na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana. Na copa nacional, o Furacão havia despachado Caxias, Tubarão, Ceará e São Paulo na etapas iniciais, mas sem convencer, pois empatou sem gols com o Caxias; venceu o Tubarão por 5 a 4; empatou os dois jogos com o Ceará e só levou a vaga nos pênaltis e superou o São Paulo com vitória por 2 a 1 e empate em 2 a 2. E, no primeiro jogo das oitavas de final, em casa, havia perdido para o Cruzeiro por 2 a 1.
Na Copa Sul-Americana a situação ainda era tranquila, pois a equipe havia eliminado o Newell’s Old Boys-ARG com vitória por 3 a 0 na ida e derrota por 2 a 1 na volta. Precisando reagir urgentemente para evitar um novo rebaixamento, o Athletico demitiu Fernando Diniz após um pífio aproveitamento de 38% – em 21 jogos foram cinco vitórias, sete empates e nove derrotas. Sem opções no mercado e temendo uma demora na adaptação de um novo treinador, a diretoria decidiu promover de maneira interina o técnico Tiago Nunes, que chegou com o moral elevado pelo título estadual e com o respaldo dos jogadores que ele comandou e que já estavam no time profissional como Renan Lodi, Léo Pereira e Bruno Guimarães.
O primeiro jogo de Nunes no comando do Furacão foi uma fogueira: contra o Cruzeiro, no Mineirão, no duelo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil. O rubro-negro dificultou as coisas para a Raposa e empatou em 1 a 1, mas o revés no primeiro jogo acabou eliminando o time da competição. Os dois jogos seguintes foram contra o Inter (empate em 2 a 2, em casa) e Cruzeiro (derrota por 2 a 1, fora), pelo Brasileirão. Mas, nos nove jogos seguintes, os paranaenses não iriam mais perder, provavelmente a consequência da conversa inicial que o treinador teve com o elenco.
“Eu lembro de uma fala com os atletas, que foi no primeiro vídeo próximo da estreia contra o Cruzeiro, no Mineirão. Eu falei: ‘Hoje a gente tem 54% de chances de ser rebaixados’. E perguntei se na viagem da sexta-feira alguém entraria em um avião que teria 54% de chances de cair. Os caras ficaram meio assustados e falaram que jamais. Esse era o nosso cenário, porque parecia que não ia acontecer, que a gente ia se recuperar. Começamos ‘a nos fechar’ e entendemos que teríamos que trabalhar muito para dar certo.” – Tiago Nunes, em entrevista ao site oficial do Athletico, 16 de outubro de 2019.
A sequência começou na vitória por 2 a 0 sobre o Peñarol-URU, em casa, no duelo de ida da segunda fase da Copa Sul-Americana, com gols de Marcelo Cirino e Pablo. A equipe ainda venceu o Vitória por 4 a 0, em casa, pelo Brasileirão, e empatou sem gols com o Corinthians, fora, também pela competição nacional. Até que, no dia 07 de agosto, o Furacão foi até Montevidéu e devastou o Peñarol com um inesquecível 4 a 1. Léo Pereira abriu o placar logo aos 7’. Marcinho, no começo da segunda etapa, fez 2 a 0. Cristian Rodríguez descontou, mas Nikão fez 3 a 1 e Bruno Guimarães, nos acréscimos, fechou a goleada. O destaque do jogo foi o atacante Pablo, com sua pouco usual camisa 5 – ele gostava de vestir a 92, mas na competição da Conmebol teve que usar outro número -, que abriu espaços na zaga rival, criou várias oportunidades e deu os passes para os gols de Marcinho e Nikão.
Classificado, o Athletico voltou suas atenções para o Brasileirão e foco total na saída da zona de rebaixamento. E os paranaenses conseguiram com um empate (0 a 0 com o Ceará) e quatro vitórias seguidas em casa: 3 a 0 no Flamengo, 2 a 1 no Grêmio, 1 a 0 no Vasco e 2 a 0 no Bahia. A equipe acabou perdendo um pouco o rumo com três derrotas seguidas, mas voltou a vencer na rodada 25 (3 a 1 no Fluminense) e afastou de vez o risco de queda.
De volta à Copa Sul-Americana, o Furacão encarou o Caracas-VEN e não teve dificuldades para vencer por 2 a 0 fora de casa (dois gols de Raphael Veiga) e 2 a 1 em casa (gols de Marcelo Cirino e Renan Lodi). Naquele final de setembro e ao longo de outubro, o time ainda venceu o rival Paraná (3 a 0) e somou mais cinco vitórias e um empate no Brasileirão, com destaque para os 4 a 0 sobre Sport e outro 4 a 0, sobre o América-MG. Nas quartas de final da Sul-Americana, o Furacão encarou o Bahia e venceu o duelo de ida em Salvador por 1 a 0, gol de Pablo. Na volta, em Curitiba, o jogo foi muito nervoso e teve o troco do Bahia, que venceu por 1 a 0 e levou o jogo para a disputa de pênaltis. E foi no momento decisivo que brilhou a estrela do goleiro Santos, que defendeu o chute de Vinícius, viu Zé Rafael isolar e o Athletico venceu por 4 a 1, com 100% de aproveitamento nos chutes de Jonathan, Raphael Veiga, Lucho González e Pablo. O sonho da primeira glória continental estava cada vez mais perto.
Os bons sinais, como em 2001
Um torcedor rubro-negro mais atento começou a perceber semelhanças entre a campanha do time na Sul-Americana e a desempenhada no título brasileiro de 2001. E eram bons presságios. Em 2001, o Furacão enfrentou dois tricolores antes da final: São Paulo e Fluminense. E, em 2018, outra vez teve dois tricolores pelo caminho: o Bahia, despachado nas quartas, e o Fluminense, mesmo rival da semifinal do Brasileirão de 2001. No primeiro jogo, em Curitiba, quase 30 mil pessoas transformaram a Arena em um caldeirão para empurrar o Furacão em busca da vitória diante dos cariocas. O Athletico teve bom controle do jogo desde o início graças a escalação ofensiva armada pelo técnico Tiago Nunes: Santos; Jonathan, Thiago Heleno, Léo Pereira e Renan Lodi; Bruno Guimarães e Lucho González; Raphael Veiga; Nikão e Marcelo Cirino; Pablo.
O primeiro gol saiu aos 18’, quando Renan Lodi aproveitou um rebote na entrada da área e chutou para fazer 1 a 0. Na segunda etapa, Rony entrou no lugar de Marcelo Cirino e colocou mais fogo no jogo ao criar ainda mais chances de gol. Na primeira, o atacante deixou com Pablo e o camisa 5 mandou a bola no travessão. Mas, na segunda, quatro minutos depois, Renan Lodi cruzou na cabeça de Rony, que testou firme para o fundo do gol: 2 a 0.
O placar deu a vantagem do empate ao Furacão no duelo da volta, no Maracanã. E muita tranquilidade para focar no Brasileiro, pois a partida de volta seria apenas no final do mês. Nesse intervalo, o rubro-negro engatou mais uma série invicta (que seguiria até o fim do ano) com três vitórias (2 a 0 no Cruzeiro, 1 a 0 no Corinthians e 2 a 1 no Vitória) e dois empates (1 a 1 com o Vasco e 2 a 2 com o Ceará). Antes da partida contra o Flu pela Sul-Americana, os atletas do Athletico foram surpreendidos pela torcida do tricolor, que soltou fogos de artifício nas proximidades do hotel onde os jogadores estavam hospedados, algo que mexeu com o brio dos rubro-negros.
“Dessa questão de torcida, vivemos uma situação nessa madrugada. Os torcedores soltaram foguetes e eu pensei ‘puxa, essa hora’. Acordou o time todo, quebraram a janela do massagista (Bolinha) e isso só nos incentivou. Sabíamos também que eles iam jogar pressionados (por causa dos salários atrasados, clima hostil entre diretoria e jogadores e pressão do rebaixamento) e quando se joga pressionado, a perna pesa mais. Sabíamos que íamos encontrar esse cenário”. – Nikão, meia-atacante do Athletico, em entrevista ao globoesporte.com, 29 de novembro de 2018.
E o Furacão precisou de apenas quatro minutos para despachar de vez o rival. Após uma roubada de bola, Marcelo Cirino cruzou e Nikão fez 1 a 0. Desesperado, o Flu abusou dos chuveirinhos em busca dos gols que precisava, mas não levou perigo algum ao gol do goleiro Santos. Na segunda etapa, o golpe de misericórdia do Furacão veio em contra-ataque engatilhado por Nikão, que tocou na esquerda para Marcelo Cirino e este tocou no meio para Bruno Guimarães fazer 2 a 0 e fechar a conta. O Athletico estava na final da Copa Sul-Americana pela primeira vez! E, após vencer o Flamengo por 2 a 1 fora de casa na última rodada do Brasileirão, teve a tranquilidade que precisava para focar apenas na final. O time terminou a competição nacional na 7ª colocação com 57 pontos. O salto sob o comando de Tiago Nunes foi espetacular: saiu da 19° posição com 9 pontos na 12° rodada para a 7° colocação com 57 pontos na 38ª rodada!
Sorte pra que te quero e o surgimento do Athletico
O rubro-negro teve pela frente na final da Copa Sul-Americana o Junior-COL, que vinha embalado após eliminar na semifinal o compatriota Independiente Santa Fe com duas vitórias (2 a 0 e 1 a 0). A partida de ida foi em Barranquilla, em um Estádio Metropolitano tomado por quase 40 mil pessoas. Jogando com a mesma formação que derrotou o Fluminense, o time paranaense atuou mais recuado na primeira etapa e conseguiu neutralizar as principais chegadas dos colombianos. Mas, no segundo tempo, o esquadrão do técnico Nunes começou com tudo e Pablo, que não balançava as redes há oito jogos, recebeu de Nikão, invadiu a área e fuzilou o goleiro Viera para abrir o placar: 1 a 0. Só que os brasileiros nem tiveram tempo de comemorar, pois dois minutos depois a zaga deu bobeira e Yony González empatou o jogo.
Aos 26’, Rony fez pênalti em Germán Gutiérrez e gelou o torcedor rubro-negro. Na cobrança, o zagueiro Rafa Pérez chutou forte, alto, e a bola explodiu no travessão do goleiro Santos! Que sorte! Tempo depois, aos 38’, o Furacão teve grande chance com Bruno Guimarães após jogada trabalhada de pé em pé, mas o volante demorou demais para chutar. No fim, o placar em 1 a 1 ficou de bom tamanho para os paranaenses. Uma vitória simples daria o título diante da torcida, com promessa de casa cheia na Arena da Baixada.
Um dia antes da final, porém, a diretoria rubro-negra divulgou uma notícia bombástica: o Atlético iria mudar de nome, de escudo e de identidade. Oi? Como assim? Antes de uma das partidas mais importantes da história do clube!? Bem, não foi tão repentino assim, pois tais mudanças entrariam em vigor só a partir de 2019. A fim de resgatar o passado e seu primeiro nome lá de 1924, o clube se chamaria Club Athletico Paranaense, com o “h” após o “t”, assim como nos anos 1940. O escudo e a camisa também mudariam, enquanto as cores vermelho e preto seguiriam intactas.
O presidente do Conselho Deliberativo, Mário Celso Petraglia, comentou que aquela mudança era, também, para tornar o Athletico único e sem nomes parecidos com outros clubes. “Dentro da nossa nova identidade, a nossa proposta também é resgatar o passado. Começamos com Club Athletico. Temos também que assumir que o Atlético é o Atlético Mineiro”, disse Petraglia à época. Muita gente não gostou das mudanças, mas o torcedor supersticioso poderia ficar tranquilo, pois o “velho Atlético” entraria em campo no dia 12 de dezembro de 2018 para seu último jogo. E seria o mais importante de sua história.
A glória inédita no caldeirão
A Arena da Baixada estava simplesmente borbulhando na noite da final. A torcida registrou exatamente naquele jogo o maior público da história do estádio desde sua reformulação: 40.263 pessoas. Era um belíssimo caldeirão tingido de vermelho e preto. Pulsante. De dar medo. A Arena simplesmente ganhou vida e remeteu aos tempos de 2001. Um resgate ao passado, à imponência do clube em casa e o ar de quase imbatível jogando por ali. Não havia outro resultado. O Furacão tinha que ser campeão. Acabar de vez com a angústia de não ter títulos continentais. Ser o primeiro do estado do Paraná a ostentar em sua galeria uma grande glória internacional. Mas quebrar escritas nunca é fácil. Sempre tem drama. Sempre tem percalços. E a final foi exatamente assim.
Tiago Nunes armou sua equipe para pressionar o Junior desde o início e foi premiado logo aos 26’, quando o artilheiro Pablo tabelou com Raphael Veiga e chutou na saída do goleiro Viera para levar ao delírio a Arena: 1 a 0. O título estava muito perto! Mas o Junior era um adversário complicado. E tinha Téo Gutiérrez, campeão da Sul-Americana pelo River Plate em 2014. O colombiano subiu mais alto do que a zaga rubro-negra, empatou o jogo aos 12’ e fez com que o Junior tomasse conta da partida.
Yony, Luis Díaz e Téo Gutiérrez estiveram muito perto de marcar o gol da virada, mas o goleiro Santos fez boas defesas. Os minutos foram passando e o Furacão perdendo peças importantes por causa de lesões, como Lucho González e Pablo. Após o apito final, o jogo foi para a prorrogação. E, nela, mais drama. Logo no comecinho da segunda etapa, o goleiro Santos derrubou Yony dentro da área e o árbitro marcou pênalti. Barrera foi para a cobrança e, acredite, chutou para fora! Assim como no duelo de ida, o Junior perdeu outro pênalti!
Dois minutos depois, o Athletico respondeu com Bérgson, mas Viera fez uma defesaça com a ponta dos dedos. A torcida estava aflita. Era muito sofrimento. Mas é o que dissemos: a primeira glória internacional sempre é difícil. Todos os clubes brasileiros campeões da América sofreram em suas primeiras conquistas. Não seria diferente com o Furacão. O empate persistiu e a decisão foi para os pênaltis. Era para completar mesmo o “furacão de emoções” daquela noite!
O Junior foi quem começou e acertou seu primeiro chute, com Narváez. O lateral Jonathan bateu o primeiro do rubro-negro e fez. Fuentes foi para a segunda cobrança e mandou na trave! Era mesmo sorte de campeão! Raphael Veiga fez o segundo do Furacão, enquanto Rafael Pérez empatou. Bérgson deixou o time da casa na frente e Téo Gutiérrez mandou pra fora o chute seguinte do Junior. Se Renan Lodi fizesse, o Athletico era campeão. Só que o lateral bateu para fora… Lembre-se: ninguém disse que ia ser fácil! O goleiro Viera deu esperança ao Junior fazendo o terceiro gol, mas a bola do título estava com o Athletico. Thiago Heleno bateu, fez, e sacramentou o título inédito e histórico! O Atlético Paranaense “saía de cena” como campeão continental. E deixava a América para a festa sem fim do Athletico Paranaense. Foi ainda o primeiro grande título conquistado na nova Arena da Baixada.
Presente na Copa Sul-Americana desde a fase inicial, o Athletico foi um campeão legítimo e incontestável: em 12 jogos, foram oito vitórias, dois empates, duas derrotas, 21 gols marcados (melhor ataque) e sete gols sofridos. Pablo, com cinco gols, foi o artilheiro do torneio. O técnico Tiago Nunes comentou sobre a conquista e destacou que disputar o Estadual com o time de juniores foi essencial para dar fôlego à maratona de jogos do segundo semestre.
“Momento especial, dia maravilhoso. O primeiro título internacional do clube. Mas não precisava ser tão sofrido, podia ter sido com mais tranquilidade. O ar de dramaticidade que teve o jogo desgastou todo mundo mentalmente, emocionalmente. Nesta quinta (14 de dezembro de 2018) estamos fisicamente derrubados. Estamos em fase de recuperação, mas muito felizes. […] Faz diferença. Os atletas que não jogaram o estadual, tiveram uma média entre 40 e 50 partidas no ano. Uma média quase como na Europa. Teve uma sobrecarga de jogos na reta final, pelo acúmulo das competições, mas o índice de lesões foi baixíssimo. Isso muito pelo tempo de preparação que se teve no início do ano.
Foram quase três meses com poucos jogos. Um jogo a cada 15, 10 dias. O trabalho de preparação, de base, foi muito bem feito. Além de usar o estadual para revelar grandes jogadores jovens para a equipe principal. Tivemos jogadores que jogaram comigo o estadual e que vieram a ser titulares, como o Renan Lodi, o Léo Pereira. É um caminho para as equipes que têm muitas competições”. – Tiago Nunes, técnico, em entrevista publicada no site do Zero Hora, 13 de dezembro de 2018. Leia mais aqui.
Em 2018, Tiago Nunes comandou o Furacão em 37 partidas e obteve 68,5% de aproveitamento. Foram 21 vitórias, nove empates e sete derrotas, 62 gols marcados e 28 sofridos. O título continental colocou o Athletico de vez entre os principais clubes do Brasil no século XXI e coroou uma série de bons trabalhos de gestão e profissionalismo desde a virada do milênio. O clube vinha de grandes campanhas no Brasileirão de 2004, na Libertadores de 2005 e na Copa do Brasil de 2013, além de ter vencido de maneira categórica grandes clubes do país durante esse período, mas a ausência de um título de expressão pesava bastante quando se separava o “joio do trigo”. Muita gente ainda não levava a sério aquele rubro-negro. Pensava que ele vivia de devaneios ao mandar juniores no estadual, instalar gramado sintético em sua Arena, de “vontade de ser grande”. Acontece que ele era, sim, grande. E provou isso de vez com o título da Copa Sul-Americana.
Manutenção, reforços e novos focos
A temporada de 2019 seria bem cheia para o Furacão. Além dos torneios tradicionais do calendário, o time iria disputar a Recopa Sul-Americana, a Copa Libertadores e a Copa Levain/Conmebol – antiga Copa Suruga, contra o campeão da Liga Japonesa. Para dar conta do excesso de jogos, a diretoria manteve boa parte do elenco e trouxe novos nomes por empréstimo, entre eles os meias Camacho (que já estava no elenco e teve o vínculo de empréstimo renovado) e Thonny Anderson, e os atacantes argentinos Braian Romero e Marco Ruben. O meio-campista Léo Cittadini também foi outro reforço para a temporada. Por outro lado, o atacante Pablo acabou negociado junto ao São Paulo por 6 milhões de euros.
Assim como nas temporadas anteriores, o Athletico disputou o Estadual com o time de juniores e faturou o bicampeonato após derrotar o rival Coritiba na final da Segunda Taça e vencer o Toledo na decisão por 6 a 5 nos pênaltis (após vitória por 1 a 0 no tempo regulamentar. O primeiro jogo foi 1 a 0 para o Toledo). Bérgson e Marquinho, com seis gols cada, foram os destaques do Furacão no torneio. Ainda no primeiro semestre, o time disputou a Copa Libertadores e caiu em um grupo bastante complicado ao lado de Boca Juniors-ARG, Tolima-COL e Jorge Wilstermann-BOL. A estreia foi contra o Tolima, fora de casa, com derrota por 1 a 0. Na sequência, três jogos em casa e o dever de vencer todos para pelo menos garantir o segundo lugar. E o Furacão mostrou aos adversários a força de seu caldeirão. A primeira vítima foi o Jorge Wilstermann, que levou de 4 a 0, gols de Marco Ruben, Tomás Andrade, Renan Lodi e Bruno Guimarães.
A segunda vítima foi o temido Boca Juniors, que simplesmente não viu a cor da bola. Só viu a camisa 9 de Marco Ruben correndo para lá e para cá. O argentino marcou os três gols (!) do jogo e fez história. “Tenho certeza que esta noite será lembrada por muitos e muitos anos como uma noite mágica para o futebol paranaense e para o futebol brasileiro. Comentava com os atletas que todo mundo, quando inicia no futebol, tenta buscar esses momentos mágicos. Hoje, conseguimos fazer algo extraordinário”, comentou Tiago Nunes na coletiva após a partida.
A última vítima foi o Tolima, que perdeu por 1 a 0 (gol de Bruno Guimarães). Nos dois jogos finais do grupo, o Athletico perdeu para o Jorge Wilstermann (3 a 2, fora) e Boca (2 a 1, fora), mas se classificou em segundo lugar com nove pontos. E, no sorteio dos duelos das oitavas de final, o time paranaense teve pela frente o Boca Juniors mais uma vez. E, ao contrário da primeira fase, o time não conseguiu repetir a boa atuação contra os xeneizes e perdeu em casa por 1 a 0. Para piorar, nos acréscimos do segundo tempo, o atacante Marco Ruben, carrasco do Boca no histórico 3 a 0, perdeu um pênalti… (vá entender…). Na volta, o Boca venceu por 2 a 0 e eliminou o rubro-negro.
Aquela foi a segunda derrota dolorida da equipe para um time argentino no ano. Meses antes, o time havia perdido a final da Recopa Sul-Americana para o poderoso River Plate de Gallardo após vencer em casa por 1 a 0 e perder por 3 a 0 no Monumental. A queda de rendimento naqueles jogos decisivos deixou um ar de preocupação no torcedor. Ainda mais depois de Renan Lodi confirmar sua saída do clube na metade do ano, enfraquecendo bastante o setor esquerdo. Era preciso uma recuperação rápida para que um ano cercado de expectativas terminasse precocemente e de maneira melancólica.
A caminhada na Copa do Brasil e título no Japão
Durante os duelos da Libertadores, o Athletico teve compromissos pela Copa do Brasil a partir das oitavas de final. O primeiro adversário foi o Fortaleza, que vivia grande fase sob o comando técnico de um antigo algoz do Furacão: Rogério Ceni. Mas o rubro-negro conseguiu uma saborosa classificação após empatar sem gols na capital cearense e vencer na Arena da Baixada – onde Rogério jamais venceu quando era goleiro do São Paulo – por 1 a 0, gol de Marco Ruben. Na sequência, o Furacão encarou o Flamengo, que ainda iniciava seu período sob o comando de Jorge Jesus. No primeiro jogo, em Curitiba, Léo Pereira confirmou a grande fase de zagueiro-artilheiro e abriu o placar para o Furacão aos 5’ do segundo tempo. Quinze minutos depois, Gabriel Barbosa empatou e deixou o confronto totalmente aberto para a volta, no Maracanã.
Diante de quase 70 mil pessoas, o Athletico segurou a pressão no primeiro tempo e levou um gol no começo da segunda etapa, mas equilibrou as coisas, tomou a bola para si e empatou com sua arma mais letal: o contra-ataque. Aos 31’, Bruno Nazário encontrou Rony e deu um passe sensacional para o atacante sair em disparada, invadir a área e chutar pro fundo do gol: 1 a 1. A virada quase veio de novo com Rony, em chute de fora da área, mas o placar seguiu empatado e levou a disputa para os pênaltis. Na marca da cal, o goleiro Santos defendeu as (péssimas) cobranças de Diego e Éverton Ribeiro, Vitinho chutou na lua e o placar de 3 a 1 garantiu o Athletico nas semifinais! Na comemoração, muita festa, imitação de Gabigol e gestos do “cheirinho”, clássica zoação dos rivais para com o rubro-negro carioca.
No mês seguinte à vitória sobre o Fla, o Athletico viajou até o Japão para a disputa da Copa Suruga, na época chamada de Copa Levain/Conmebol, contra o campeão da liga japonesa de 2018, o Shonan Bellmare. Sem grandes dificuldades, o time brasileiro goleou por 4 a 0 (gols de Marcelo Cirino, Rony, Thonny Anderson e Braian Romero) e faturou o primeiro título intercontinental de sua história, além de uma premiação de 900 mil dólares.
Ainda disputando o primeiro turno do Brasileirão, o Furacão continuou priorizando a Copa do Brasil pelo fato de o torneio terminar já em setembro. Com isso, o rubro-negro teria quase três meses para se recuperar no torneio nacional, no qual estava na 11ª posição. O adversário nas semifinais da copa nacional foi o Grêmio de Renato Gaúcho, equipe que sempre impunha dificuldades aos seus adversários em competições de mata-mata na época. No primeiro duelo, em Porto Alegre, o Athletico não conseguiu encaixar seus contra-ataques e perdeu por 2 a 0. Seria preciso pelo menos devolver o placar na volta, em Curitiba, para levar a decisão da vaga aos pênaltis.
E, com a experiência dos jogos de 2018 e daquele mesmo ano de 2019, o Athletico se impôs desde o primeiro minuto para vencer. Bruno Guimarães e Rony mais uma vez se destacaram e foram os protagonistas das jogadas ofensivas do time rubro-negro. Aos 16’, Rony cruzou, Bruno Guimarães recebeu no meio, chutou forte e a bola explodiu no travessão. No rebote, Nikão aproveitou e fez 1 a 0. Aos 3’ do segundo tempo, mais uma vez Rony cruzou da esquerda para a área e Marco Ruben subiu para ampliar: 2 a 0.
O placar seguiu inalterado e a vaga na final foi decidida nos pênaltis. Os jogadores de ambas as equipes foram convertendo seus chutes perfeitamente até Pepê partir para o último tiro do Grêmio e ver Santos defender seu chute. Assim como no duelo contra o Flamengo, o goleirão garantiu a vaga do Furacão! O rival seria outro gaúcho: o Internacional.
A jogada para a eternidade e o título
Quase 40 mil pessoas encheram a Arena da Baixada para o primeiro jogo da final. Abusando dos chutes de fora da área e da intensidade de Rony e Léo Cittadini, o Athletico foi melhor desde o início e não deu muitas chances ao Inter, que quando teve a bola em seus pés pecou demais na pontaria. O goleiro colorado Marcelo Lomba impediu boas chances do Furacão, mas não conseguiu fazer nada no chute de Bruno Guimarães, aos 12’ do segundo tempo, que garantiu a vitória por 1 a 0 e a vantagem do empate para o duelo da volta, no Beira-Rio, estádio que não trazia boas lembranças ao rubro-negro por causa da Libertadores de 2005. Mas aquele era o momento do Athletico. Era o time mais embalado. Mais entrosado. Com os melhores jogadores. E iluminado.
A torcida do Inter fez uma imponente festa no Beira-Rio, mas o Colorado não conseguiu traduzir a maior posse de bola em jogadas realmente eficazes. Até que, aos 24’, o Athletico trocou passes no campo de ataque e abriu o placar com participação direta de seus talentosos homens de frente. Rony avançou em velocidade e tocou para Marco Ruben, que percebeu a chegada de Léo Cittadini pelo meio e tocou. O camisa 18 recebeu, dominou dentro da área e chutou na saída do goleiro: 1 a 0. Um prêmio a uma equipe destemida e que sabia se impor sob qualquer circunstância com um raro equilíbrio entre eficiência defensiva e poder de fogo ofensivo.
O Inter empatou ainda no primeiro tempo, com Nico López, e foi para o tudo ou nada no segundo tempo com as mexidas do técnico Odair Hellmann, que colocou Rafael Sóbis, Nonato e Guilherme Parede. Os suplentes pouco fizeram e o jogo seguiu empatado, resultado que favorecia o Athletico. Só que o Furacão queria mais. Não era time de se acomodar no campo de defesa. E, já nos acréscimos, Marcelo Cirino saiu em direção ao ataque pela esquerda sem ninguém do Furacão perto dele. Segundos depois chegaram dois colorados para tentar roubar-lhe a bola. O camisa 10 protegeu, evitou a saída pela lateral, e, num lapso de genialidade, deu um toque de letra por entre as pernas de Edenílson, escapando de uma vez dele e de Rafael Sóbis. A dupla ficou estatelada por ali e nem sequer foi atrás do meia athleticano. Cirino seguiu, deu um drible em Lindoso e cruzou. A zaga não cortou e Rony apareceu para liquidar de vez a partida e dar o título inédito ao Athletico de maneira espetacular: 2 a 1. Que golaço! Que lance! Sem dúvida um dos gols mais incríveis da história da Copa do Brasil.
Ao apito do árbitro, a festa foi rubro-negra no Beira-Rio! Athletico campeão! Em oito jogos, foram quatro vitórias, três empates, uma derrota, oito gols marcados e cinco sofridos. O segundo título de peso em dois anos fechou um ciclo histórico do Furacão. Coroou de vez o trabalho de Tiago Nunes e os jovens que ele ajudou a amadurecer. O torcedor viu a história ser escrita diante dos seus olhos de maneira única. Após tantos anos de decepções e quases, o clube alcançou um patamar incrível que muitos clubes mais do que centenários jamais alcançaram.
Na coletiva pós-jogo, o técnico Tiago Nunes tratou de alfinetar a imprensa gaúcha e o pouco caso que fizeram de seu time.
“Tem uma coisa que a gente não controla que é a situação geográfica, que não estamos no eixo. Hoje, todo mundo tem opinião e faz questão de externá-la. Tem muita gente afirmando muita coisa sem nunca ter passado pelo vestiário. Sei que não partiu nada do Odair. A imprensa aqui dava o Internacional como campeão e com facilidade. As pessoas não perceberam que passamos pelo Flamengo e que viramos contra o Grêmio. Serve de alerta para todo mundo”. – Tiago Nunes, em coletiva de imprensa, reproduzida no globoesporte.com, 19 de setembro de 2019.
Para comprovar ainda mais seu poder de fogo naquela temporada, o Athletico fez um ótimo segundo turno do Brasileirão e terminou na 5ª posição, sendo que nos últimos 13 jogos o rubro-negro não perdeu, com oito vitórias e cinco empates, além de ter sido o vice-líder do returno, atrás apenas do campeão Flamengo (único que venceu o Athletico naquela etapa do torneio). Em 38 jogos, o Athletico venceu 18, empatou 10, perdeu 10, marcou 51 gols e sofreu 32 (2ª melhor defesa). Se o time não tivesse tantos compromissos no primeiro semestre, poderia com certeza ter brigado pelo título.
O melhor Furacão da história (por enquanto!)
A conquista da Copa do Brasil simbolizou mesmo um fim de ciclo daquele Furacão. A equipe perdeu nomes importantes para a temporada 2020 como Léo Pereira, Bruno Guimarães, Rony, Marcelo Cirino, Marco Ruben e o técnico Tiago Nunes. Com tantos desfalques, foi difícil manter a competitividade e o time só venceu o Campeonato Paranaense, caindo precocemente na Copa do Brasil (oitavas de final), na Libertadores (oitavas de final) e perdendo a Supercopa do Brasil para o Flamengo por 3 a 0. No entanto, os feitos de 2018 e 2019 são perpétuos e consagraram o mais glorioso e competitivo Athletico Paranaense da história, um esquadrão que alçou de vez o clube no rol dos gigantes do futebol brasileiro neste século XXI, deixou o rival Coritiba definitivamente há milhas e milhas de distância no quesito grandes títulos e acabou com o desdém que muitos ainda tinham com o rubro-negro.
Considerando a organização e capacidade de se reinventar, o clube dá sinais de que terá constantemente equipes brigando por títulos (como neste ano de 2021, quando o Athletico buscará o bicampeonato da Copa Sul-Americana). Em toda competição, os adversários olharão com muito mais atenção. E reforços serão feitos nos estádios em que ele jogar. Afinal, todo cuidado com Furacão é pouco…
Os personagens:
Santos: herói nos mais diversos jogos e extremamente frio, o goleiro já é um dos maiores ídolos do Athletico e símbolo desse período de glórias. Presente no clube desde 2011, virou titular absoluto após a saída de Weverton e provou com suas atuações que o torcedor não iria sentir saudades do antigo camisa 1. Fez partidas memoráveis em todas as campanhas vencedores do Athletico e foi premiado em 2021 com a convocação para a seleção olímpica do Brasil, pela qual venceu a Medalha de Ouro nos Jogos de Tóquio. Com mais de 200 jogos pelo clube, está no rol de imortais do Furacão.
Jonathan: absoluto na lateral-direita do Furacão desde 2017 e com passagens pelo Cruzeiro e pela Inter de Milão, o experiente Jonathan foi um dos mais regulares atletas do Furacão na temporada de 2018 graças aos bons passes e investidas ao ataque, contribuindo para o estilo de jogo proposto por Tiago Nunes. Em 2019, sofreu com lesões e não teve a mesma sequência de partidas da temporada anterior, atuando em 20 jogos.
Khellven: o jovem se destacou na conquista do Paranaense de 2019 e ganhou espaço no time titular graças às lesões de Jonathan. Com personalidade e boa consciência tática, disputou os três jogos finais do Furacão na Copa do Brasil: a vitória sobre o Grêmio, nas semis, e as decisões contra o Internacional.
Madson: com as lesões de Jonathan, conseguiu espaço no time titular e atuou em 32 jogos na temporada de 2019, sendo 27 no Brasileirão. Foi bem no apoio ao ataque e também nas saídas de bola. Deixou o clube em 2020 para jogar no Santos.
Thiago Heleno: outro jogador com imensa simpatia da torcida, o General Heleno chegou em 2015 ao Furacão e já no ano seguinte foi decisivo na conquista do Campeonato Paranaense ao marcar um dos gols da vitória sobre o rival Coritiba por 3 a 0. Ano após ano, foi consolidando sua posição na zaga, fazendo grandes parcerias ao lado de Paulo André, e, posteriormente, Léo Pereira. Forte e com boa presença de área, atuou como um verdadeiro xerife no setor defensivo do time de Tiago Nunes. Foi dele o gol decisivo na disputa de pênaltis contra o Junior que garantiu o título continental de 2018. Em 2019, perdeu boa parte dos jogos no segundo semestre por ser pego em um exame antidoping que encontrou a substância higenamina – utilizada em suplementos -, proibida pela Conmebol. Thiago Heleno já tem mais de 230 jogos com a camisa rubro-negra.
Robson Bambu: cria do Santos, foi contratado em 2019 pelo Athletico e fez 23 jogos pelo rubro-negro naquela temporada. Foi um dos destaques do título paranaense e promovido ao elenco principal pelo técnico Tiago Nunes. Com a suspensão de Thiago Heleno nas finais da Copa do Brasil, Bambu atuou como titular ao lado de Léo Pereira e foi muito bem tanto no jogo da Arena quanto no Beira-Rio. Em 2020, foi negociado junto ao Nice-FRA.
Léo Pereira: cria do Athletico, o zagueiro atuou em todas as equipes de base e sempre foi tido como um dos mais promissores do elenco. Após ser emprestado para outros clubes entre 2015 e 2017, retornou em definitivo para virar titular principalmente a partir de 2018, deixando o experiente Paulo André no banco. Com muita força no jogo aéreo, foi uma alternativa tanto em jogadas pelo alto defensivamente quanto ofensivamente. Em 2018, marcou seis gols em 41 jogos e viveu a temporada mais prolífica da carreira. Em 2020, acabou negociado junto ao Flamengo. Foram 115 jogos e nove gols pelo Athletico.
Paulo André: o veterano já tinha uma passagem de sucesso no Athletico entre 2005 e 2006, quando foi um dos mais regulares zagueiros do país. Após passar por vários clubes, retornou em 2016 para encerrar a carreira no rubro-negro. Fez alguns jogos como titular em 2018, mas perdeu a posição para Léo Pereira principalmente na reta final da temporada. Se aposentou em 2019 e virou diretor do clube. Disputou 181 jogos e marcou 12 gols pelo Athletico na carreira.
Renan Lodi: outra cria de sucesso do Athletico, Renan Lodi foi um verdadeiro furacão pela lateral-esquerda do time na temporada 2018. Com apoio constante ao ataque, boa visão de jogo, passes e cruzamentos precisos e chutes poderosos, Lodi passou a ser chamado também para a seleção brasileira e virou ídolo na Baixada. Tanto sucesso acabou despertanto o interesse do Atlético de Madrid, que contratou o jogador em 2019 por 20 milhões de euros, a maior venda da história do rubro-negro. Em 2018, o atleta foi um dos recordistas em jogos pelo clube na temporada com 48 partidas, três gols e seis assistências.
Márcio Azevedo: com passagem pelo rubro-negro entre 2008 e 2010, o lateral retornou em 2018 e virou titular a partir de 2019, após a saída de Renan Lodi. Não apoiava tanto quanto seu predecessor, mas cumpriu bem seu papel defensivamente e na parte tática.
Lucho González: El Comandante foi sem dúvida um dos símbolos dessa era de ouro do Athletico com sua visão de jogo, experiência e passes precisos. Pé quente e um dos atletas mais laureados do futebol com 29 títulos, Lucho foi fundamental na conquista da Copa Sul-Americana de 2018 atuando nos 12 jogos da equipe, e, como capitão, teve a honra de erguer o troféu na Arena da Baixada. Seguiu jogando até maio de 2021, quando se aposentou aos 40 anos, após 164 jogos e 10 gols pelo Furacão.
Wellington: o volante foi outro jogador fundamental na conquista da Sul-Americana de 2018, a segunda de sua carreira (ele foi campeão em 2012 pelo São Paulo). Após uma passagem pelo Vasco, Wellington desembarcou em Curitiba em 2018 e fez grandes jogos, com destaque para seu poder de marcação e desarmes. Em 2019, seguiu em boa fase e fez uma parceria memorável com Bruno Guimarães e Léo Cittadini. Com a suspensão de Thiago Heleno na reta final da temporada, virou um dos capitães do time e ergueu a Copa do Brasil.
Bruno Guimarães: revelado pelo Audax, Bruno Guimarães chegou ao Athletico em 2017 e rapidamente ganhou espaço no time profissional graças ao técnico Tiago Nunes, que percebeu o virtuoso futebol do meio-campista. Com visão de jogo estupenda, passes precisos, intensidade no ataque e também na cobertura, o jogador foi uma estrela do Athletico naqueles anos mágicos e ganhou o apelido de Bruxo Guimarães por tudo o que fazia com a bola nos pés. Em 2018, foi o atleta que mais jogou pelo time (58 jogos e cinco gols marcados) e seguiu em alto nível em 2019, anotando gols decisivos – como o da vitória sobre o Inter no primeiro jogo da final da Copa do Brasil – e fazendo partidas irrepreensíveis.
O volante passou a ser convocado frequentemente para a seleção brasileira e ajudou a equipe a se classificar para os Jogos Olímpicos de Tóquio, além de ser eleito o melhor jogador do Pré-Olímpico. Nos Jogos, foi titular e comandou o meio de campo do Brasil que derrotou a Espanha por 2 a 1 e venceu o Ouro. Em 2020, Bruno Guimarães foi vendido ao Lyon-FRA por 20 milhões de euros. Ele é um dos maiores talentos do futebol brasileiro na atualidade. Guimarães disputou 105 jogos pelo Athletico, marcou 10 gols e conquistou quatro títulos.
Camacho: o meia chegou em 2018 e atuou em 29 partidas na temporada, em especial no Brasileirão. Não foi titular absoluto, mas realizou alguns bons jogos auxiliando o setor ofensivo mais pelo meio. Em 2019, teve sua estadia no Furacão prejudicada por conta do doping que o tirou dos gramados em boa parte do segundo semestre devido ao uso da mesma substância que causou a suspensão de Thiago Heleno – higenamina.
Marcelo Cirino: cria do Furacão, Cirino começou a jogar pelo clube em 2009, mas não teve muitas chances e acabou emprestado a outros clubes. Retornou em 2012 e ajudou o rubro-negro a subir para a Série A marcando 16 gols. Seguiu em boa fase e foi a revelação do futebol brasileiro de 2013, ano do vice da Copa do Brasil. Se o atacante perdeu a chance do título naquele ano, ele conseguiu a glória em 2019 com juros e show: foi dele a jogada espetacular que resultou no gol de Rony na partida de volta da final contra o Internacional. Cirino disputou 46 jogos e marcou 10 gols na temporada de 2019, e, somando todas as suas passagens pelo Furacão, possui 225 jogos, 52 gols e 24 assistências.
Rony: o endiabrado ponta-esquerda paraense foi a personificação do “furacão” naqueles anos de 2018 e 2019. Mesmo sem ser titular absoluto naquele primeiro ano de Tiago Nunes como técnico, o jogador colocava fogo no jogo quando entrava por conta da velocidade, passes e chutes de fora da área. Rony disputou 23 jogos em 2018 e marcou um gol na campanha do título da Sul-Americana. Mas seu grande ano foi em 2019, quando virou titular absoluto e participou de 49 jogos (ele foi o campeão em partidas pelo rubro-negro), marcou nove gols (um deles o do título da Copa do Brasil, sobre o Inter) e deu 11 assistências. Em 2020, acabou indo para o Palmeiras.
Raphael Veiga: revelado pelo rival Coritiba, o meia foi contratado pelo Palmeiras em 2017 e acabou emprestado ao Athletico em 2018 para ser titular, atuando na criação de jogadas de ataque e marcando gols decisivos – foram nove em 48 jogos, além de oito assistências. Fez um trio memorável ao lado de Marcelo Cirino e Nikão. Na conquista da Sul-Americana, Veiga disputou 10 jogos, marcou dois gols e deu duas assistências.
Bruno Nazário: sofreu demais com as lesões no joelho e desfalcou o Athletico no segundo semestre de 2018 e em parte da temporada de 2019. No entanto, quando jogou, foi muito bem no setor ofensivo com seus passes e muita movimentação. Contra o Flamengo, na Copa do Brasil, foi dele o passe para o gol de Rony que empatou o duelo no Maracanã e levou a decisão da vaga para os pênaltis.
Léo Cittadini: contratado em 2019, o volante deu ainda mais opções ao técnico Nunes por não só ajudar na marcação, mas também aparecer na frente e ajudar o ataque. Tal característica ajudou o Athletico a vencer a Copa do Brasil naquele ano graças a um gol do camisa 18 no segundo jogo. Sua grande atuação naquele jogo fez dele um ídolo instantâneo da torcida, que o apelidou de CittaDeus e “Kaká da Deep Web”, em alusão à sua semelhança com o meia Melhor do Mundo em 2007.
Nikão: em todas as escalações de jogos decisivos do Athletico, lá estava ele. E, se você perguntar a qualquer torcedor sobre grandes ídolos do Furacão, com certeza ele estará na lista. Nikão é um símbolo dessa era de ouro e um dos jogadores mais regulares e presentes do elenco. Em 2018, o atacante disputou 50 jogos, marcou seis gols e deu oito assistências. No ano seguinte, foram 42 jogos, seis gols e quatro assistências. Com excelente visão de jogo e capaz de atuar mais recuado, ajudando na marcação, Nikão ganhou o carinho da torcida e marcou seu nome no clube. Ele segue no Furacão até hoje e já tem quase 300 jogos pelo rubro-negro.
Éderson: o atacante brilhou na conquista do Paranaense de 2018 e foi um dos artilheiros com 9 gols em 16 jogos, mas não teve tantas chances na sequência da temporada.
Marcinho: foi utilizado constantemente no ataque pelo técnico Nunes na temporada de 2018 e atuou em 42 jogos, marcando cinco gols, um deles na campanha do título da Copa Sul-Americana. Sem espaço, deixou o Athletico já em 2019.
Braian Romero: o argentino chegou em 2019 para ser uma das alternativas de ataque do time, mas não chegou a ser titular absoluto. Brilhou na conquista da Copa Levain/Conmebol com um dos gols na goleada de 4 a 0 sobre os japoneses, mas em 16 jogos no Brasileirão fez apenas dois gols. Acabou retornando ao futebol argentino em 2020.
Pablo: com 18 gols em 51 jogos na temporada de 2018 e a artilharia da competição com cinco gols – dois deles na final – Pablo foi essencial naquele ano não só com os tentos decisivos, mas também sua presença de área e o lado garçom para os gols de Cirino, Raphael Veiga e Nikão. Cria do Athletico, Pablo começou no rubro-negro lá em 2011 e acabou emprestado a vários clubes até encontrar seu melhor futebol no Furacão. Deixou a equipe em 2019 para jogar no São Paulo. Pablo disputou 148 partidas e marcou 33 gols pelo rubro-negro. Durante a conquista continental de 2018, o atacante utilizou a camisa 5 em homenagem ao seu pai, que vestiu esse número nos tempos de jogador.
Bérgson: o atacante chegou em 2018 e atuou em 27 jogos na temporada, com cinco gols. Esteve em seis jogos na Copa Sul-Americana e converteu seu pênalti na decisão contra o Junior. Deixou o Furacão em 2019 para jogar no Ceará.
Marco Ruben: com 51 jogos e 13 gols, o argentino foi o artilheiro do Athletico em 2019 e teve uma atuação memorável nos 3 a 0 sobre o Boca na fase de grupos da Libertadores. Uma pena que justo contra o próprio Boca ele tenha desperdiçado o pênalti que poderia dar sobrevida ao Furacão para o duelo de volta, em Buenos Aires. Passado o desgosto, Ruben seguiu jogando bem e ajudou o Athletico a vencer a Copa do Brasil com dois gols e uma assistência em oito jogos. O atacante voltou à Argentina em 2020.
Thonny Anderson: o meia chegou em 2019 para compor o elenco e disputou a maioria dos seus 27 jogos no Brasileirão. No entanto, o jovem foi fundamental na conquista da Copa Levain/Conmebol com um gol e uma assistência na vitória por 4 a 0. Em janeiro de 2020, acabou indo para o RB Bragantino.
Tiago Nunes (Técnico): o elenco do Athletico 2018-2019 foi um dos mais completos e talentosos do futebol brasileiro no período e isso se refletiu nos títulos. Mas tudo isso só foi possível graças ao talento e capacidade técnica de Tiago Nunes no comando do Furacão. Em um curto espaço de tempo, o treinador tirou o Athletico da zona de rebaixamento do Brasileirão e o colocou na parte de cima da tabela com uma arrancada impressionante. Mais do que isso, soube administrar seus jogadores em cada jogo e criar um time competitivo, aguerrido e que sabia muito bem o que fazer com a bola e sem ela.
Na Copa Sul-Americana, venceu com autoridade o Peñarol, derrotou um embalado Bahia num misto de técnica e garra, venceu sem complicações o Flu e superou o Junior com características de um time copeiro. No ano seguinte, reinventou o time após as saídas de Pablo e Renan Lodi e provou que o conjunto era mais importante do que um ou outro talento individual, superando vários obstáculos para ficar com a Copa do Brasil e a Copa Levain/Conmebol. Tiago Nunes é o técnico mais vencedor da história do Athletico. Em 2018, ele comandou o Furacão em 55 jogos (contando as partidas do Paranaense), vencendo 32 partidas, empatando 15 e perdendo apenas oito, com 93 gols marcados e 37 sofridos. Em 2019, foram 49 jogos, com 22 vitórias, 10 empates e 17 derrotas, além de 68 gols marcados e 48 sofridos.
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Grande matéria. Apesar do Athletico PR sempre ter presença entre os grandes nos campeonatos, as duas conquistas (Copa do Brasil e Copa Sul Americana) colocaram o time em um patamar grandioso. E neste ano tem chance de repetir a dose na duas competições!!! Grande Athletico, que possa colocar seu nome sempre mais forte na história do futebol brasileiro.
Caso o Athletico Paranaense venha a Sul Americana e a Copa do Brasil deste ano de 2021, esse texto merece ser atualizado. Afinal, varios jogadores desse oerioso glorioso prosseguem no clube como Santos, Nikão, Thiago Heleno e etc… caso venca as duas competições deste ano, deverá ser Athletico-PR 2018-2021. Mas vamos aguardar para ver o que irá acontecer
Belo Texto do Furação, eu sei talvez seja improvável mais poderia fazer um Seleção Imortal do Egito tricampeão africano? ia ser muito bom:)